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Brasil
“Talvez nenhum outro país tenha experimentado uma expansão mais dramática da
agroecologia do que o Brasil”, afirmam Altieri e Toledo (p. 589). Além de seu rápido avanço, a
expansão agroecológica brasileira se distingue por seu caráter simultaneamente ativista e
institucional. Discussões sobre agroecologia aparecem no meio acadêmico do país desde os anos
1980, com destaque para o trabalho dos agronômos José Antonio Lutzenberger (1926-2002) e Anna
Maria Primavesi (1920-2020). Em 1983, surge a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura
Alternativa (AS-PTA), que, de acordo com os autores, desempenhou um papel importante na
disseminação de informações agroecológicas entre ONGs, organizações de agricultores e estudantes
de agricultura em todo o país.
Nas décadas seguintes, ainda segundo Altieri e Toledo, os avanços da agroecologia no Brasil
estiveram ligados a três processos principais: 1) à formação de uma nova geração de agroecologistas
brasileiros, muitos dos quais se tornaram professores e pesquisadores em universidades públicas e
centros de pesquisa e extensão; 2) à reorientação do movimento da agricultura familiar para a
agroecologia; e 3) à chegada de agroecologistas a cargos-chave dos governos estaduais e federal.
Esses processos resultaram na implementação de centenas iniciativas agroecológicas pelo país.
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UnB | CDS | PPGCDS2098 | Heloisa Brenha Ribeiro | Matrícula 231118880
Cuba
O sistema alimentar cubano vem passando por um processo de transformação em resposta à
crise que se instalou no país com o fim da União Soviética. Essa crise, marcada pelo embargo
comercial dos EUA e pelo colapso das importações de petróleo, agroquímicos e maquinaria agrícola
do bloco soviético, limitou a capacidade de Cuba de importar alimentos e materiais necessários para
a agricultura convencional. O país voltou-se então para a autossuficiência, e o movimento
agroecológico cresceu vigorosamente. Parte significativa das cerca de 100.000 famílias de pequenos
agricultores idependentes de Cuba hoje fazem parte do movimento Campesino a Campesino (CAC).
Elas introduziram métodos de diversificação agroecológica e de agricultura urbana no sistema
alimentar cubano, e vem produzindo atualmente muito mais alimentos por hectare do que os
sistemas industriais da ilha. Da experiência cubana, Altieri e Toledo ressaltam que a
agroecologia, tal como é promovida pelo movimento Campesino a Campesino, tem se revelado
“a forma mais eficiente, barata e estável de produzir alimentos por unidade de terra, insumos e
mão de obra” (p. 601).
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América Central
De um intercâmbio entre camponeses guatelmatecas e mexicanos no fim dos anos 1980,
nasce o movimento Campesino a Campesino, que floresceria nas décadas seguintes no sul do
México e na América Central, regiões há muito deflagradas por conflitos armados. Um elemento-
chave na metodologia do CAC é o papel do promotor campesino (promotor camponês): um
agricultor que, após introduzir com sucesso uma nova tecnologia de produção, passa estimular outros
agricultores a testar sua experiência. Desenrola-se, assim, um processo autônomo de difusão do
conhecimento agroecológico, que dispensa a presença de pesquisadores ou extensionistas. Estima-se
que cerca de 10.000 famílias na Nicarágua, em Honduras e na Guatemala hoje pratiquem o método
CAC, multiplicando com ele seus rendimentos – em até 4 vezes, de acordo com alguns casos
documentados.
Andes
A região andina do Peru, do Equador e da Bolívia constitui um cenário privilegiado para o
desenvolvimento da agroecologia, dada a presença de um enorme campesinato de origem indígena,
altamente resistente e mobilizado politicamente, inclusive em defesa do legado agrícola pré-
hispânico. Nas últimas décadas, essas populações encontraram na agroecologia um novo paradigma
para sua agricultura nativa. Operando por meio de redes descentralizadas de comunidades,
cooperativas e associações de agricultores, e recentemente vêm crescendo, com o apoio da sociedade
civil, elas vêm estabelecendo um diálogo crescente com pesquisadores, técnicos, ONGs, instituições
acadêmicas e redes de consumidores urbanos. Essas parcerias propiciam uma troca intensa de
conhecimentos, e vêm se desdobrando em diversos projetos (de agroecologia, de conservação da
natureza etc.), bem como em pressão política sobre os governos, em favor das populações indígenas
e camponesas desses países.
México
A Revolução Mexicana (1910-1917) deu origem à primeira reforma agrária do continente,
deixando nas mãos de comunidades camponesas e indígenas grande parte das terras, florestas e dos
recursos genéticos nativos do México. Alcaçaram-se, assim, dois imensos avanços no país: a
recampezinação do meio rural (resultado do desmantelamento do latifúndio e da revalorização da
pequena propriedade agrícola, de 9-25 hectares) e a reinvenção da matriz mesoamericana (que
garantiu aos povos indígenas acesso à terra, por meio do reconhecimento de seus territórios
ancestrais).
Com isso, a agroecologia no México não se reduz à agricultura mas envolve sistemas
socioecológicos de gestão dos recursos naturais, incluindo as florestas, a recuperação de terras
degradadas e a conservação da agrobiodiversidade. Numerosas comunidades que recuperaram
controle sobre suas terras florestais estão empenhadas na produção de uma variedade de
produtos madeireiros e não madeireiros, por exemplo. É também digna de nota a imensa
produção de café do país, que é em sua maior parte feita por povos indígenas que mantêm
agroflorestas complexas, diferindo drasticamente das plantações industriais (subsidiadas por
agroquímicos e propensas à erosão do solo). Grande parte desses produtores é filiada a cooperativas
organizadas regional e nacionalmente, fazendo do México um dos maiores exportadores de café
orgânico certificado do mundo.
Considerações finais
Para Altieri e Toledo, “a promoção de um paradigma agroecológico baseado na revitalização
de pequenas propriedades e processos sociais que valorizam o envolvimento e o empoderamento das
comunidades é a única opção viável para atender às necessidades alimentares”, na América Latina,
“nesta era de aumento dos preços do petróleo e de mudanças climáticas globais” (p. 589). Os autores
apontam que, contrariando as previsões acadêmicas de desaparecimento do campesinato, os
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Referências:
MST. 3 elementos chave sobre Educação em Agroecologia do Dicionário Agroecologia e Educação.
mst.org.br, 6 mai.2022. Disponível em: <https://mst.org.br/2022/05/06/3-elementos-chave-sobre-
educacao-em-agroecologia-do-dicionario-agroecologia-e-educacao/>. Acesso em 13 jul.2023.
SILVA, Priscilla Gomes da. A incorporação da agroecologia pelo MST: reflexões sobre o novo discurso e
experiência prática. 2011. 177f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2011. Disponível em: <https://app.uff.br/riuff/handle/1/16339>. Acesso em 13
jul.2023.
VIA CAMPESINA BRASIL. Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Camponeses, das
Camponesas e de Outras Pessoas que Trabalham em Áreas Rurais. Tradução e Revisão: Rafael
Bastos, Tairí Felipe Zambenedetti, Tchenna Maso, Marina dos Santos e Marciano Toledo. Secretaria
da Via Campesina Brasil, 2021. Disponível em:
<https://mab.org.br/wp-content/uploads/2021/02/DECLARA%C3%87%C3%83O-DOS-DIREITOS-
DOS-CAMPONESES-E-DAS-CAMPONESAS-.pdf>. Acesso em 13 jul.2023.