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ISSN 1980-5772

eISSN 2177-4307
DOI: 10.5654/actageo2013.0003.0001 ACTA Geográfica, Boa Vista, Ed. Esp. Geografia Agrária, 2013. p.13-32

GLOBALIZAÇÃO, AGRICULTURA E URBANIZAÇÃO NO BRASIL


Globalization, agriculture and urbanization in Brazil
Globalisation, agriculture et urbanisation au Brèsil

Denise Eliasi
Universidade Estadual do Ceará - Brasil

RESUMO
A reestruturação econômica que caracteriza o período histórico atual atinge também a agropecuária e resulta na
difusão do agronegócio globalizado no Brasil. Tais processos estão no âmago da explicação de muitas novas
dinâmicas socioespaciais e são responsáveis pela reestruturação do espaço agrícola, urbano e regional em várias
partes do país. Como resultado, poderíamos destacar: o aumento da densidade técnica-científica-informacional
no espaço agrícola; nova distribuição de funções produtivas pelo território; difusão de especializações
produtivas; intensificação da divisão social e territorial do trabalho; novas relações campo-cidade; intensificação
da urbanização da sociedade e do território; reestruturação urbana e da cidade etc.. O principal objetivo do
presente texto é colocar para o debate alguns dos principais temas e processos que estão na base da análise das
novas formas de uso e ocupação do território brasileiro a partir da difusão agronegócio globalizado,
considerando que essa é um dos principais vetores de (re)produção do espaço do país.
Palavras-chave: agronegócio globalizado; relações campo-cidade; regiões produtivas do agronegócio; Brasil.

ABSTRACT
The economic restructuring that characterizes the current historical period also affects the agricultural sector and
results in diffusion of globalized agribusiness in Brazil. Such processes are at the heart of the explanation of
many new Socio-spatial dynamics and are responsible for restructuring the agricultural area, urban and regional
in various parts of the country. As a result, we could highlight: the increase of the density-technical-scientific
informational in agriculture space; new distribution of productive functions by territory; diffusion of productive
specializations; intensification of social and territorial division relations work; new relations field-city;
intensification of urbanization of society and of the territory; urban and city redevelopment etc. The main
objective of this text is to put for debate some of the main themes and processes that are at the basis of the
analysis of new forms of use and occupation of the Brazilian territory from the globalized diffusion of
agribusiness, considering that this is one of the main vectors of (re)production of space in the country.
Keywords: globalized agribusiness; countryside-city relationship; productive regions of agribusiness ; Brazil.

RÉSUMÉ
La restructuration économique qui caractérise la période historique actuelle touche aussi l’élevage ce qui résulte
dans la diffusion de l’agrobusiness mondialisé au Brésil. De tels processus sont au cœur de l’explication de
beaucoup de nouvelles dynamiques socio-spatiales et sont responsables pour la restructuration de l’espace
agricole, urbain et régional dans de nombreuses parties du pays. Comme résultat, nous pourrions mettre en
relief: l’augmentation de la densité technico-scientifique-informationnelle dans l’espace agricole; une nouvelle
distribution de fonctions productives sur le territoire; une diffusion de spécialisations productives; une
intensification de la division social et territoriale du travail; de nouvelles relations ville-campagne; une
intensification de l’urbanisation de la société et du territoire; une restructuration urbaine et de la ville etc.
L’objectif principal de ce texte est de débattre quelques-uns des principaux thèmes et processus qui sont à la base
de l’analyse des nouvelles formules de l’utilisation de l’occupation du territoire brésilien à partir de la diffusion
de l’agrobusiness mondialisé, en considérant que celui-ci est l’un des principaux vecteurs de la (re)production de
l’espace du pays.
Mots-clés: l’agrobusiness mondialisé; relations ville-campagne; régions productives de l’agrobusiness; Brésil.

INTRODUÇÃO economia, no espaço, na dinâmica demográfica,


Sob a égide da revolução tecnológica, dá-se a culminando numa nova repartição dos
inserção do Brasil na lógica da globalização instrumentos de trabalho, do emprego e dos
econômica. Os diversos setores econômicos homens no território do país, denotando uma
passam por reestruturação produtiva desde a nova economia política da urbanização e das
década de 1960, incluída a atividade cidades brasileiras.
agropecuária. Os reflexos fazem-se sentir na
actageo.ufrr.br Enviado em setembro/2013 – Aceito em novembro/2013
Globalização, agricultura e urbanização no Brasil
Denise Elias

Com a expansão dos sistemas de objetos e produção e distribuição globalizadas,


dos sistemas de ação (SANTOS, 1996) voltados a direcionando-se, cada vez mais, para atender à
dotar o território de fluidez para os crescente demanda do mercado urbano interno
investimentos produtivos, os fatores locacionais e à produção de commodities para exportação,
clássicos são redimensionados. Ocorre, então, seja in natura ou passando por algum tipo de
uma verdadeira dispersão espacial da produção, transformação industrial, aumentando seu valor
acirrando a divisão social e territorial do agregado.
trabalho e as trocas intersetoriais, resultando Verificaram-se profundas transformações no
uma nova geografia econômica (CAMPOLINA, seu processo produtivo. Os sistemas de ação e
2000) e uma nova organização espacial. Entre os os sistemas de objetos (SANTOS, 1996)
principais vetores da reorganização do território associados a agropecuária se reestruturaram
brasileiro, destacam-se a descentralização mediante incremento da utilização de ciência,
industrial; a guerra dos lugares pelos tecnologia, informação e diferentes capitais.
investimentos produtivos; as especializações Resultou, entre outros, na exacerbação da
produtivas do território; a difusão dos novos apropriação capitalista da agricultura, com
agentes econômicos e a reestruturação significativo incremento da agricultura
produtiva da agropecuária. O presente artigo empresarial, apoiada em um modelo técnico,
privilegia as reflexões sobre o processo de econômico e social de produção globalizada,
reestruturação produtiva da agropecuária. O oferecendo novas possibilidades para a 14
tema é bastante complexo e será apresentado acumulação ampliada do capital, ao qual
calcado nas pesquisas que realizamos nos chamaremos aqui de agronegócio globalizado.
últimos anos. Esse tem referência planetária e recebe
influência das mesmas leis que regem os outros
AGRICULTURA: ENTRE A ORDEM aspectos da produção econômica no período
GLOBAL E A ORDEM LOCAL histórico atual, incluindo a competitividade,
O Brasil é, na América Latina, um dos países característica das atividades de caráter
que mais reorganizou sua atividade planetário, o que só faz aprofundar a difusão
agropecuária desde meados do século XX. O desse modelo de produção1.
tamanho continental de seu território, aliado a Vale destacar que, embora a agricultura
existência de grandes propriedades e de um empresarial se desenvolva no país desde o
parque industrial em expansão foram fatores período colonial, sob o comando do comércio
favoráveis ao caleidoscópio de transformações em grande escala, somente cinco séculos mais
que se processaram no setor. tarde apresenta mudanças radicais. Isto se deve
Desde então, a reestruturação produtiva da ao fato de a revolução tecnológica também ter
agricultura brasileira se realizou abalizada na atingido essa atividade, que passa a incorporar
racionalidade do atual sistema temporal, tendo os principais paradigmas da produção e do
seu funcionamento regulado pelas relações de

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consumo globalizados, em consonância com as mediante amplo emprego de máquinas


transformações gerais do restante da sociedade. (tratores, colheitadeiras, arados etc.), insumos
Outra característica marcante da difusão do químicos (agrotóxicos, adubos, fertilizantes etc.)
agronegócio globalizado é seu funcionamento e biotecnológicos (sementes geneticamente
totalmente regulado pela economia de mercado, modificadas, novas variedades etc.) fornecidos
em razão das demandas urbanas e industriais, pela atividade industrial, com notáveis
em grande parte voltado para à exportação. Sua metamorfoses na divisão social e territorial do
produção destina-se prioritariamente à geração trabalho agropecuário.
de commodities (soja, café, suco de laranja, entre Num primeiro momento dessa
outros); para a geração de combustíveis reestruturação, os insumos e maquinário
renováveis, cujo caso mais emblemático é o da utilizados eram na sua grande parte
produção de álcool combustível a partir da importados, uma vez que o Brasil não fabricava
cana-de-açúcar2; para a produção de matérias- tais produtos5. Com a difusão desse conjunto de
primas para vários ramos agroindustriais3 ou inovações, o agronegócio tornou-se
ainda ao mercado de produtos agrícolas in crescentemente dependente do processo
natura, como é o caso das frutas tropicais científico-técnico de base industrial. Nesse
(melão, manga, mamão, banana, entre outras). sentido, um dos principais signos da atividade
A impossibilidade de controle do processo no Brasil é uma crescente interdependência com
produtivo da agropecuária, com uma estrutura os demais setores da economia. As relações com 15
dependente dos fatores naturais (clima, relevo, o setor industrial merecem destaque, por
solo, temperatura, topografia etc.) e do ciclo propiciarem o desenvolvimento de muitos
biológico das plantas e dos animais, sempre ramos industriais, notadamente dos que
representou um limite para a acumulação fornecem os insumos e bens de capital para a
ampliada no setor, uma vez que o tempo de agropecuária6, assim como das indústrias que
produção é comumente superior ao tempo de processam os produtos agropecuários, com
trabalho4. Neste contexto, a aplicação dos destaque para as indústrias de alimentos.
procedimentos e métodos científicos para a Um outro momento das mudanças na
realização da agropecuária, com vistas ao agropecuária se concretiza quando as grandes
aumento de produtividade e à redução de corporações se apropriam da produção
custos, visa o aperfeiçoou e expansão de seu agropecuária brasileira. Configura-se, então,
processo produtivo, imprimindo complexas ampla implantação de indústrias, muitas delas
inovações às forças produtivas do setor, multinacionais, dos ramos fornecedores de
configurando novos sistemas técnicos agrícolas insumos modernos para a agropecuária, assim
(ELIAS, 1996). Esses abriram muitas como dos ramos transformadores dos produtos
possibilidades para a realização da mais-valia agropecuários, com a instalação de indústrias,
mundializada, Verificou-se, então, a que assumem o comando das transformações no
reestruturação produtiva da agropecuária setor.

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Caracteriza-se uma nova organização produção podendo estar localizada em um


econômica e social da agropecuária, que lugar ou região, em um ou vários países. Como
acompanha a unificação da economia pelo consequência, temos a intensificação das trocas
movimento do capital industrial e financeiro. intersetoriais, da especialização da produção e
Ocorre mediante a substituição da economia das especializações do território.
natural por atividades agrícolas integradas à Estas interdependências favorecem ainda
indústria, pela intensificação da divisão do outros processos, quais sejam, os de integração
trabalho e das trocas intersetoriais e com a de capitais a partir da centralização de capitais
especialização da produção agropecuária industriais, bancários, agrários etc., expansão de
(SILVA, 1996 e 1999). sociedades anônimas, cooperativas agrícolas,
A dinâmica da agropecuária passa, então, a empresas integradas verticalmente
ser determinada pelo desenvolvimento do que (agroindustriais ou agrocomerciais), assim como
alguns autores (SORJ, 1980; MULLER, 1989; a organização de conglomerados empresariais
MAZZALI, 2000) chamaram de complexos por meio de fusões, organização de holdings,
agroindustriais (CAIs), de sistemas cartéis e trustes (DELGADO, 1985), com atuação
agroindustriais (SAGs) (FARINA; direta no agronegócio globalizado. Tais
ZYLBERSZTAIN, 1998), outros ainda de redes processos alçam inúmeras empresas inerentes
agroindustriais (SILVEIRA, 2005; ELIAS, 2008) ao setor ao circuito superior da economia
e, muito embora tais noções não sejam urbana (SANTOS, 1979), no momento que os 16
necessariamente sinônimos, têm muitos pontos interesses das grandes corporações se
de interseção. apropriam da produção agropecuária.
As redes agroindustriais associam todas as A adoção de novos sistemas técnicos
atividades e empresas inerentes ao agronegócio agrícolas minimizou a anterior vantagem
globalizado: empresas agropecuárias, indústrias representada pela produção localizada nos
de sementes selecionadas, de insumos químicos melhores solos, nas topografias mais adequadas,
e implementos mecânicos, laboratórios de entre outros. Além disso, aumentou a
pesquisa biotecnológica, prestadores de possibilidade de aproveitamento dos solos
serviços, agroindústrias, empresas de menos férteis e de ocupação intensiva de
distribuição comercial, de pesquisa espaços agrícolas muitas vezes até então
agropecuária, de marketing, de fast-food, de desprezados para tal atividade, relativizando-se
logística, cadeias de supermercados etc. Para as questões locacionais clássicas, antes
conseguirmos compreender seus respectivos imprescindíveis. Isso significa dizer que muitas
funcionamentos, faz-se necessário estudos de novas áreas passam a ser de interesse do capital
caráter multiescalar e intersetorial. do agronegócio globalizado. Adaptando Santos
Independente da noção utilizada, o (1993) para o caso presente, poderíamos dizer
importante a destacar é a extrema divisão social que o capital do agronegócio passa a ocupar um
e territorial do trabalho, com cada etapa da amplo exército de lugares de reserva.

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Devemos ser cuidadosos com as análises aumentando a proporção da natureza social


que consideram que a agropecuária deixou de sobre a natural.
ser uma esperança ao sabor da natureza para se Reforçam-se as determinações exógenas ao
converter numa certeza sob o comando do lugar de produção, especialmente no tocante aos
capital. Mas não há dúvida quanto às mercados comumente mais longínquos e
reestruturações ocorridas, uma vez que parte da competitivos. Fato semelhante ocorre em
agropecuária brasileira passou a ser um relação aos preços, comandados pelas principais
empreendimento totalmente associado à bolsas de mercadorias do mundo, sobre os quais
racionalidade do período técnico-científico- não há controle local. Da mesma forma,
informacional (SANTOS, 1993, 1994, 1996), com aumentam as distâncias entre os agricultores e
algumas possibilidades semelhantes às dos os centros de decisão e de pesquisa, reforçando
demais setores econômicos para a aplicação de a fragmentação do território e as diferenças
capital e para a obtenção de alta lucratividade, entre o que Santos (1993) chamou de lugares do
tornando-se mais competitiva e permitindo fazer e lugares do mandar.
maior valorização dos capitais nela investidos7. Tudo isto tem profundos impactos sobre os
Entre os resultados teríamos à multiplicação espaços agrícolas, que passam, desde então, por
dos espaços da produção e das trocas agrícolas um processo acelerado de reorganização,
globalizadas e a indução dos espaços agrícolas à mostrando-se extremamente abertos à expansão
inúmeras transformações, uma vez que se da tecnosfera e da psicoesfera (SANTOS, 1994, 17
mostram extremamente suscetíveis de aceitação 1996, 2000) inerentes ao agronegócio
do capital do agronegócio. Poderíamos citar as globalizado. Organizam-se verdadeiros sistemas
intensas mudanças nas formas de uso e técnicos (de eletrificação, de armazenagem, de
ocupação do solo, com aumento da irrigação, de transportes, de telecomunicações
monocultura, em substituição à produção de etc.) voltados para o objetivo de dotar o espaço
alimentos. agrícola de fluidez para as empresas
Quando do início da aceleração hegemônicas do setor. Isto induz à mecanização
contemporânea (SANTOS, 1996), o campo dos espaços agrícolas e onde a atividade
brasileiro era um espaço com menos agropecuária se dá baseada nos princípios do
rugosidades (SANTOS, 1985) e com agronegócio globalizado é visível a expansão do
flexibilidade muito superior à apresentada pelas meio técnico-científico-informacional, revelando
cidades, repletas de capitais mortos, mostrando- o dinamismo da produção do espaço resultante
se um dos lócus de introdução dos capitais da reestruturação produtiva da agropecuária.
industriais e financeiros. Desta forma, nas áreas Outra mudança advinda é a radical
onde se expande o agronegócio, o meio natural mudança dos hábitos alimentares da população.
e o meio técnico são rapidamente substituídos Em pouco mais de duas décadas, sustentada
pelo meio técnico-científico-informacional pelas grandes corporações do sistema alimentar
(SANTOS, 1985, 1988, 1993, 1996 e 2000), produzindo muitas novas mercadorias de alto

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valor agregado, difunde-se um padrão ampliada do capital no setor. A modernização


estandardizado de consumo alimentar, violando desta atividade foi fortemente induzida pelo
identidades locais baseadas em saberes e fazeres amparo do Estado que, na verdade, atuou como
historicamente construídos. Com isso, uma maestro das transformações necessárias para a
parcela cada vez maior dos produtos globalização da produção agrícola, que
agropecuários sofre beneficiamento industrial culminaram na organização de uma atividade
antes de chegar à mesa da população, com circuitos espaciais de produção e círculos
multiplicando-se a quantidade de: alimentos de cooperação (SANTOS, 1996) também
semiprontos, congelados, enlatados, produtos globalizados, expandindo o número de fixos no
derivados de leite (queijos, iogurtes, margarinas campo e construindo inúmeros novos sistemas
etc.), do açúcar, maioneses, bebidas lácteas, de fluxos, visando permitir o escoamento,
molhos, óleo de soja, produtos diet, light, armazenamento etc. da produção8.
desnatados, bebidas isotônicas, refrigerantes, O Estado funcionou como motor das
legumes pré-cozidos, frutas desidratadas etc., mudanças através da criação de inúmeras
com grande impacto na saúde da população, políticas públicas para viabilizar a
assim como no aumento do preço dos transformação da agricultura, especialmente a
alimentos. partir de meados da década de 1960. As esferas
Essas novas mercadorias passam a ocupar as de regulação federal se tornaram cada vez mais
prateleiras das grandes redes de onipresentes no setor, atuando através de 18
supermercados, transformados nos principais políticas econômicas gerais e de estratégias de
centros de comercialização varejistas dos crescimento agrícola (através da política
produtos alimentares industrializados, econômica externa, política monetária, política
induzindo novos hábitos de consumo que de controle de preços agrícolas), assim como
buscam homogeneizar o padrão de consumo através de políticas explícitas de fomento
alimentar. Outras atividades econômicas agrícola (com a política de financiamento rural,
associadas aos serviços se desenvolvem e a política tecnológica e política fundiária),
ajudam a reforçar o novo padrão de consumo tentando abranger todos os níveis envolvidos
alimentar, tais como redes de fast-foods (Pizza com a modernização do setor (DELGADO,
Hut, McDonald’s, Burger King, KFC etc.), de 1985).
serviços de catering para hotéis e linhas aéreas As políticas agrícolas federais abrangeram
etc. desde o nível ministerial até o de secretarias,
Historicamente o público e o privado estão especialmente da agricultura, planejamento e
sempre muito imbricados, notadamente em economia, e aparecem claramente nos Planos
benefício do segundo. Dessa forma, o Estado Nacionais de Desenvolvimento (PNDs), que
brasileiro foi um dos principais agentes de nortearam grande parte das mudanças
transformação da agropecuária, adequando a econômicas e sociais do país durante as décadas
produção e o território com vistas à reprodução de ditadura militar (VASCONCELLOS, 1991).

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O Estatuto da Terra e o Estatuto do econômicas, criou o Sistema Nacional de


Trabalhador Rural, promulgados na década de Crédito Rural (SNCR), na década de 1960.
1960, estão entre as primeiras grandes ações Apoiado em um forte sistema institucional
reguladoras federais. O primeiro estabelecendo bancário, público e privado, que substituiu as
uma política fundiária favorável à manutenção fontes usuárias tradicionais ligadas ao capital
da propriedade particular do solo rural e o comercial, o Estado subsidiou a compra de
segundo legislando as relações de trabalho no máquinas e equipamentos; insumos químicos;
campo e estendendo para os trabalhadores sementes melhoradas; custeou a produção;
agrícolas os direitos trabalhistas urbanos. garantiu os preços mínimos; promoveu a
Ambos foram determinantes para as eletrificação rural; construiu armazéns e silos
transformações dos elementos técnicos e sociais para estocar a produção; subsidiou a
da estrutura agrária. exportação; isentou de impostos as indústrias
A política tecnológica do Estado brasileiro nascentes associadas à agricultura moderna;
voltada para a atividade agrícola foi igualmente promoveu o seguro agrícola etc.
fundamental ao processo de difusão de O carro chefe da política financeira
inovações. Através do Ministério da Agricultura empreendida pelo Estado foi o próprio Banco
e de uma série de órgãos e instituições a ele do Brasil, que na década de 1970, no período
ligados, interferiu decisivamente para a mais intenso de atuação do SNCR, chegou a ser
modernização do setor no país. Com a criação, o maior financiador agrícola do mundo 19
no início da década de 1970, da Empresa capitalista (BURBACH; FLYNN, 1982, p. 163)10.
Brasileira de Assistência Técnica e Extensão O crédito rural federal consumiu uma parcela
Rural (Embrater) e a Empresa Brasileira de muito importante de todo o capital destinado ao
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Estado crédito no país11. Considerando que uma das
organizou o primeiro sistema de pesquisa e características da política financeira era a de
extensão rural de âmbito nacional associado à oferecer o crédito agrícola a juros negativos12, o
agropecuária. Em poucos anos, montou uma Estado acabou transferindo para o setor agrícola
extensa quantidade de estações de pesquisas parte da mais-valia por ele controlada,
experimentais espalhadas pelo território onerando o setor público como um todo e
nacional, que resultaram em extraordinárias contribuindo, dessa forma, para o crescimento
inovações científico-técnicas, constituindo um do déficit do governo federal, que culminou
dos alicerces da reestruturação produtiva da num grande processo inflacionário e numa
agropecuária9. recessão que explodiram nos primeiros anos da
Mas, o pilar central da atuação do Estado década de 1980. Podemos concluir, então, que a
brasileiro para a reestruturação dessa atividade reestruturação da agricultura brasileira foi
foi mesmo sua política financeira e fiscal. Dado socialmente excludente, pelo fato de só ter
o grande montante de capital necessário para vingado com o amparo financeiro e com a
viabilizar a adoção das inovações técnicas e

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regulação geral do Estado, mas com pesado intensificação do valor de troca em detrimento
ônus à maior parte da sociedade. do valor de uso, contrariando ainda mais as
aspirações pela Reforma Agrária, que se
AS RELAÇÕES DE TRABALHO AGRÍCOLA mercantilizou na última década (com a
A terra é o meio de produção fundamental substituição da desapropriação pela compra da
da agricultura e não é suscetível de ser terra).
multiplicado ao livre arbítrio do homem, como Mas, não é somente o aumento do latifúndio
o são outros fatores de produção. Isso significa que caracteriza o campo no Brasil. Devemos
dizer que a forma de sua distribuição e também lembrar a significativa nucleação de
apropriação é determinante para as relações de muitos estabelecimentos agrícolas que não
produção que se estabelecem no setor. Assim, a foram incorporados pelos grandes, muitas vezes
propriedade privada da terra constitui o inviabilizando a própria manutenção da
elemento fundamental que separa os subsistência da família na propriedade. Entre os
trabalhadores dos meios de produção na impactos desastrosos destacaríamos: uma
agricultura. No Brasil, desde 1850, a significativa desarticulação de parte
propriedade privada da terra está garantida por significativa da pequena agricultura, que passa
lei, com a promulgação da Lei de Terras. Da a ter cada vez mais dificuldades de existir com
mesma forma, a concentração fundiária é outro todas as pressões advindas de tais processos.
dos principais traços estruturantes da sociedade Por outro lado, os pequenos agricultores que 20
brasileira, uma vez que uma grande parte da não detinham a propriedade da terra (meeiros,
terra agrícola está sob o domínio de uma parcela parceiros, pequenos arrendatários, entre outros),
pequena de proprietários (pessoas físicas e são expulsos do campo, culminando na
jurídicas). territorialização do capital no campo e na
Tais processos foram ainda mais acirrados monopolização do espaço agrário (OLIVEIRA,
nas últimas décadas e são fundamentais para 2004).
compreendermos vários dos aspectos da Teríamos, assim, o acirramento das relações
realidade brasileira, seja no campo ou na cidade. de trabalho mercantilizadas no campo, com o
No que tange a estrutura fundiária, segundo avanço do trabalho assalariado, aumentando a
Oliveira e Stédile (2004, p.93), um dos principais proporção do trabalho agrícola enquanto uma
líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem mercadoria. Esse trabalhador agrícola é aquele
Terra (MST), com a difusão do agronegócio, que, no geral, já foi totalmente expropriado dos
houve o desaparecimento de cerca de um meios de produção e tem no campo o seu lugar
milhão de propriedades com menos de 100 de trabalho e na cidade o seu lugar de
hectares, majoritariamente com menos de 10 residência, sendo o deslocamento diário cidade-
hectares. Agrava-se, assim, a histórica campo-cidade parte de seu cotidiano.
concentração fundiária e impõe-se uma nova Essa realidade se traduz, entre outros, na
dinâmica ao mercado de terras, com forte formação de um mercado de trabalho agrícola

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formal, da mesma forma que no surgimento de compreender como vêm se dando as mudanças
uma nova categoria associada à agropecuária, a nas relações de produção, já que a flexibilidade
qual Santos (1988) chamou de agrícola não que rege o atual padrão produtivo rebate de
rural. Na opinião de Andrade (1979), desde a forma inconteste no modo de organizar e gerir o
intensificação do capitalismo no campo, esse trabalho.
processo, ao qual ele denomina de Diante desse novo quadro no mundo do
proletarização do trabalhador rural, está entre trabalho, compreender a evolução do mercado
os fatos mais marcantes do meio rural brasileiro. de trabalho formal no setor da agropecuária
Mas, entre os trabalhadores agrícolas ajuda a melhor compreender a realidade agrária
assalariados, deve-se distinguir aquele que brasileira do presente, pois o surgimento de
detém apenas sua própria força de trabalho, que uma classe de trabalhadores assalariados no
inicialmente foi chamado de bóia-fria campo representa a materialização do
(D’INCÃO, 1981), residente na cidade, que se movimento do capital. Em outras palavras, a
desloca diariamente da cidade para o campo, dinâmica do mercado de trabalho agrícola segue
sobretudo nas épocas de safra, daquele que no rastro das alterações produtivas e se reflete,
ainda possui um pequeno lote de terra, na qual assim, em profundas modificações no âmbito
reside e trabalha com os demais membros da socioeconômico.
família. Esses, normalmente pequenos Para podermos realizar a leitura do processo
agricultores, como não conseguem garantir a de formação do mercado de trabalho 21
sobrevivência da família unicamente pelo agropecuário formal no Brasil citamos os dados
produto do trabalho no seu lote de terra, são e as informações disponibilizados pelo
obrigados a se assalariar em determinados Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),
períodos do ano, especialmente nas empresas através da Relação Anual de Informações
agrícolas mais dinâmicas, durante as safras dos Sociais (RAIS) e do Cadastro Geral dos
principais produtos agrícolas. Assim, a presença Empregados e Desempregados (CAGED)13. Tais
do trabalhador assalariado não somente dados nos possibilitam ter um retrato da
representa a expulsão dos que não detêm a magnitude da evolução das relações de trabalho
propriedade da terra, como também inclui capitalistas no setor objeto da nossa análise.
muitos pequenos proprietários, meeiros, A mão-de-obra formal na agropecuária
parceiros, entre outros. brasileira vem apresentando ritmo de evolução
O Brasil registra rápido crescimento de um bastante acelerado. No intervalo total
mercado de trabalho formal no setor considerado para análise, 1985 a 2010, o número
agropecuário, especialmente a partir dos anos de empregos formais cresceu cerca de quatro
1980, abarcando contingente crescente do total vezes, ao passar de 333.468 para
de trabalhadores associados ao setor. Dessa 1.409.597empregos, denotando um aumento
forma, o estudo do mercado de trabalho superior a um milhão de empregos no período,
agrícola formal pode nos ajudar a melhor

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logo, uma variação percentual de cerca de 322 % a expansão do trabalho assalariado e a


(TABELA 1)14. reprodução das relações camponesas.
Assim, em todo o Brasil existem algumas
Anos Números absolutos situações a conviver lado a lado, em especial o
1985 333.469 desenvolvimento do trabalho assalariado e do
1995 998.652 camponês. Dessa forma, embora contundentes
2005 1.310.320 as evidências quanto à expansão do mercado de

2010 1.409.597 trabalho agropecuário formal, é na

TABELA 1 – Brasil. Estoque de Empregos Formais complexidade do desenvolvimento desigual e


na Agropecuária.
combinado que encontramos também o
Fonte: MTE/RAIS. Dados organizados por Juscelino
Bezerra. sustentáculo das relações de produção não
capitalistas no campo. Estes dados revelam
Para a análise dos impactos do atual
algumas das contradições trazidas pela própria
processo de reestruturação produtiva sobre o
difusão do capitalismo no agrário brasileiro.
trabalho agrícola, não podemos esquecer, como
Da mesma forma, como o agronegócio
diz Santos (1988), o fato de que as mudanças
globalizado utiliza grande contingente de mão-
operadas no espaço raramente eliminam de uma
de-obra especializada, em todas as áreas nas
vez os traços materiais do passado, obrigando a
quais ele se difunde, os processos são
considerar as fases respectivas de instalação de
dominados pelo circuito superior do 22
novos instrumentos de trabalho e de criação de
agronegócio (ELIAS, 2003) e é possível observar
novas relações de trabalho, já que em cada fase,
o acirramento da divisão social do trabalho no
as relações sociais de produção não são da
setor. O mercado de trabalho agrícola já se
mesma natureza.
mostra hierarquizado e apresenta em uma de
Engana-se, dessa forma, quem imagina ter
suas pontas o trabalhador extremamente
cessado a expansão das formas não capitalistas
especializado. Estes são profissionais de origem
no campo. Tais formas, contraditoriamente,
e vivência urbanas, que passam a ser os
continuam se reproduzindo. Apesar da
assalariados permanentes (engenheiro
expansão do mercado de trabalho agrícola
geneticista, técnico agrícola, veterinário,
formal, materialização do acirramento da
administrador agrícola, agrônomo, especialista
divisão social do trabalho no setor, esta convive
em sementes etc.) dos setores associados ao
com as antigas características ligadas às formas
agronegócio, com elevada composição orgânica
clássicas de relações de trabalho. Neste ponto, é
do capital.
importante lembrar as contribuições de Oliveira
A intensa difusão de capital, tecnologia e
(1997) e Martins (1990), segundo os quais, o
informação na atividade agropecuária
desenvolvimento do capitalismo no campo é
aumentou a divisão das tarefas e funções
contraditório, pois cria relações dialéticas entre
produtivas e administrativas. Paralelamente,
processou-se uma alteração qualitativa e

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Globalização, agricultura e urbanização no Brasil
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quantitativa de antigas funções, com 2006, 2008, 2011, 2013) segundo a qual é possível
importantes transformações no mercado de identificar várias áreas e municípios brasileiros
trabalho agrícola. Portanto, de um lado, existe, o cuja intensificação da urbanização se deve
trabalhador agrícola sem qualificação, diretamente à consecução e à expansão do
temporário na sua grande maioria, e de outro o agronegócio globalizado. Da mesma forma, que
trabalhador especializado, permanente, que a difusão desse setor no Brasil resulta na
atende às demandas prementes do agronegócio fragmentação do espaço agrícola, em face do seu
globalizado. caráter espacialmente seletivo, paralelamente a
Tudo isto promove decisivas transformações processos de regionalização.
no espaço agrícola, nas formas de trabalho Tudo isto culmina na (re)organização do
agrícola e no incremento da urbanização da espaço agrícola, com o acirramento da divisão
sociedade e do território. Essa realidade ajudou social e territorial do trabalho e com o
a promover um dos traços mais marcantes da incremento da urbanização da sociedade e do
sociedade brasileira. Nas décadas de 1960, 1970 território. Entre outros, porque entre as
e 1980, verifica-se um intenso processo de êxodo características atuais deste segmento econômico
rural (migração campo-cidade), quando está sua forte integração aos circuitos da
milhares de pequenos agricultores deixam o economia urbana, desenvolvendo-se uma
campo e passam a residir nas periferias das extensa gama de novas relações, de diferentes
grandes cidades, num primeiro momento, e, em tipos e complexidades, entre o espaço agrícola 23
décadas mais recentes, também das cidades racionalizado e o espaço urbano próximo. Estas
pequenas ou de porte médio nas áreas nas quais se dão atreladas às demandas produtivas de
o agronegócio se difunde. Essas cidades serviços e produtos especializados por parte das
conhecem também processos migratórios até empresas relacionadas às redes agroindustriais.
então pouco comuns no país, quais sejam, o de Dessa forma, o agronegócio globalizado
mão-de-obra especializada para atender aos desempenha um papel fundamental para a
reclamos das produções modernas, entre as intensificação da urbanização e para o
quais do agronegócio globalizado, comumente crescimento de cidades locais e médias,
oriundo de cidades maiores para cidades fortalecendo-as em termos demográficos e
menores. Tais dinâmicas demográficas estão econômicos. Nestas cidades se realiza parte da
entre as principais temas se quisermos materialização das condições gerais de
compreender parte da urbanização recente no reprodução do capital do agronegócio
país. globalizado, quando passam a exercer novas
funções e a compor importantes nós e pontos
URBANIZAÇÃO E NOVAS das redes agroindustriais, a partir das quais
REGIONALIZAÇÕES fornecem parte da mão-de-obra, dos recursos
A principal questão discutida nesse item diz financeiros, dos insumos químicos, das
respeito à tese por nós defendida (ELIAS, 1996, máquinas agrícolas, da assistência técnica

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Globalização, agricultura e urbanização no Brasil
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agropecuária etc, dinamizando a economia território torna-se cada vez mais rígido, mais
urbana e a reorganização urbano-regional. rugoso, o que explica em parte a interiorização
Quanto mais dinâmico o agronegócio, da urbanização, promovida, entre outros, pelas
quanto mais globalizados os seus circuitos novas relações estabelecidas entre o campo e as
espaciais da produção e seus círculos de cidades, desencadeadas pelas novas demandas
cooperação, maiores e mais complexas se por parte do agronegócio, de produtos e
tornam as relações entre os espaços agrícolas e serviços especializados, incrementando o
os espaços urbanos inseridos em regiões consumo produtivo agrícola (ELIAS, 1996;
agrícolas. Assim, a difusão do agronegócio ELIAS; PEQUENO, 2010).
globalizado explica, em parte, a expansão do Em todas as áreas de expansão do
meio técnico-científico-informacional e a agronegócio globalizado é visível o crescimento
urbanização em diferentes áreas do país. Tais da urbanização e de aglomerados urbanos,
fatos corroboram para que a urbanização assim como a criação de novos municípios.
brasileira deixasse de ser apenas litorânea e se Comumente, algumas cidades que poderiam ser
interiorizasse, desencadeando incomensurável classificadas como cidades locais ou mesmo de
número de transformações nas áreas antes não porte médio têm forte ligação com alguma
consideradas para produções mais intensivas, produção agrícola e/ou agroindustrial,
tais como partes das regiões Nordeste e Norte. compondo exemplos de desenvolvimento
Uma vez que os agentes hegemônicos urbano associado ao agronegócio. As 24
atuantes no agronegócio globalizado têm o características do crescimento dessas cidades
poder de impor especializações produtivas ao são visivelmente associadas à demanda da
território, paralelamente à intensificação do produção agrícola e agroindustrial globalizadas.
capitalismo no campo, processou-se um Tal situação se dá, principalmente, porque o
crescimento de áreas urbanizadas, porquanto, agronegócio tem o poder de impor
entre outras coisas, a gestão deste agronegócio especializações territoriais cada vez mais
necessita da sociabilidade e dos espaços profundas. As demandas das produções
urbanos. Isto explica em parte a reestruturação agrícolas e agroindustriais intensivas têm o
do território e a organização de um novo poder de adaptar as cidades próximas às suas
sistema urbano brasileiro, muito mais complexo principais demandas, em virtude de fornecerem
do que há trinta ou quarenta anos. a grande maioria dos aportes técnicos,
Em virtude de se organizar para atender às financeiros, jurídicos, de mão-de-obra e de todos
demandas das principais redes agroindustriais, os demais produtos e serviços necessários à sua
novos fixos artificiais se sobrepõem à natureza, realização. Quanto mais intensiva e globalizada
reelaborando permanentemente o espaço agrícola, a agropecuária, mais urbana se torna a sua
ampliando a complexidade dos seus sistemas de gestão, dinamizando o terciário e,
objetos. O resultado é uma total remodelação consequentemente, a economia urbana. Isto
desses espaços, hoje muito mais complexos. O

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evidencia que a gestão do agronegócio revolução do consumo, esta última erigida sob
globalizado é urbana. os auspícios do consumo de massa, que impõe
As casas de comércio de implementos numerosas necessidades aparentemente
agrícolas, sementes, grãos, fertilizantes; os naturais associadas à existência individual e das
escritórios de marketing, de consultoria famílias.
contábil; os centros de pesquisa biotecnológica; Os elementos estruturantes do incremento
as empresas de assistência técnica, de destas relações podem ser encontrados também,
transportes; os serviços do especialista em como já citamos, na forma de apropriação
engenharia genética, veterinária, administração, privada da terra, resultando na expropriação de
meteorologia, agronomia, economia, pequenos agricultores e na expulsão dos que
administração pública, entre tantas outras não detêm a propriedade da terra, uma vez que
coisas, disseminam-se por todas as áreas de muitos passam a residir nas cidades.
difusão do agronegócio globalizado. Isto faz Concomitantemente a uma verdadeira
crescer a urbanização, o número e o tamanho revolução tecnológica da produção
das cidades nas áreas de difusão do agropecuária e agroindustrial e às
agronegócio. transformações nas relações de trabalho,
Com isso, a reestruturação da agropecuária ocorreu uma revolução demográfica e urbana,
não apenas ampliou e reorganizou a produção marcada por intenso crescimento populacional,
material, agrícola e industrial, como foi particularmente urbano. Dessa forma, o Brasil 25
determinante para a expansão quantitativa e tem apresentado acelerado processo de
qualitativa da produção não-material, urbanização e notável crescimento urbano.
aumentando a terciarização, especialmente Desde a década de 1980, concomitantemente
considerando os ramos associados ao circuito à macrourbanização e à metropolização,
superior da economia (SANTOS, 1979) nas áreas difundem-se e crescem também as cidades
de realização do agronegócio globalizado. médias e locais, tornando muito mais densa a
O resultado é uma grande metamorfose e rede urbana, uma vez que aumentam tanto os
crescimento da economia urbana das cidades fatores de dispersão, quanto os de concentração.
próximas das produções agropecuárias ou Entre os resultados temos uma significativa
agroindustriais intensivas, paralelamente ao remodelação do território e uma organização de
desenvolvimento de um novo patamar das novo sistema urbano, com a multiplicação de
relações entre campo e cidade, perceptível pelos pequenas e médias cidades, assim como novas
diferentes circuitos espaciais de produção e regionalizações. Processa-se, em última
círculos de cooperação estabelecidos entre esses instância, a produção de regiões especializadas
dois espaços, os quais se mostram cada vez mais e corporativas concernentes ao agronegócio
indissociáveis. globalizado (ELIAS, 2006, 2011, 2012, 2013;
O crescimento da produção não-material ELIAS; PEQUENO, 2010).
deve-se ainda ao crescimento populacional e à

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Tudo isso fez da urbanização um fenômeno A nosso ver, a utilização desse recorte
bastante complexo, dada a multiplicidade de espacial baseado nas RPAs para o estudo do
variáveis que nela passam a interferir, como, território nacional pode auxiliar a melhor
por exemplo, a modernização agropecuária entender a divisão territorial do trabalho hoje
associada ao setor industrial, com a consequente vigente no país, pois leva em conta o impacto da
especialização dessas produções; o crescimento reestruturação econômica e territorial das
da produção não-material seja associado ao últimas décadas, mais especialmente a
consumo produtivo agrícola ou ao consumo reestruturação produtiva da agropecuária e a
consumptivo; o aumento da quantidade e da organização das redes agroindustriais. Portanto,
qualidade de trabalho intelectual; o intenso considera a base da organização de uma parte
processo de êxodo rural; a existência do agrícola significativa do território brasileiro atual,
não-rural; a migração descendente etc. É resultado tanto da herança histórica como das
inviável, assim, considerar apenas as antigas metamorfoses do presente, marcado pela
relações campo-cidade, assim como as relações velocidade das inovações.
hierárquicas clássicas da rede urbana e das Como o agronegócio globalizado se realiza
divisões regionais. totalmente a partir da dialética entre a ordem
Visando explicar a dinâmica da urbanização global e a ordem local, as RPAs estão conectadas
brasileira atual, na qual crescem não só as diretamente aos centros de poder e consumo em
metrópoles, mas também as cidades pequenas e nível mundial e, assim, as escalas locais e 26
as cidades de porte médio, alguns utilizam a regionais articulam-se permanentemente com a
noção de involução metropolitana (SANTOS, internacional e o território organiza-se com base
1993). Outros preferem usar a noção de em imposições do mercado, comandado por
urbanização difusa; outros, de urbanização grandes empresas nacionais e multinacionais.
dispersa etc. Mas, o importante é destacar que é Desse modo, nas RPAs temos novos espaços
impossível continuar simplesmente dividindo o de fluxos rápidos inerentes às redes
Brasil da forma clássica, entre urbano e rural. agroindustriais, nas quais as verticalidades têm
Pensando na reestruturação produtiva da predominância sobre as horizontalidades15.
agropecuária e na formação das redes Mas, em contrapartida, as horizontalidades são
agroindustriais, pensamos que uma divisão que extremamente difundidas, como evidenciado
possa ser mais palatável para compreender a pela expansão das atividades econômicas, pelo
realidade presente, seja capturando os novos aumento da população e do mercado de
processos de regionalização que se dão trabalho, pela chegada dos novos agentes
associados a tais dinâmicas, formando o que econômicos representativos das atividades
temos chamado de Regiões Produtivas do modernas etc16.
Agronegócio - RPA (ELIAS, 2006, 2011, 2012,
2013).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS médio ou cidades menores, faz-se necessário o


De acordo com o exposto, a partir dos estudo não só da reestruturação produtiva da
processos advindos com a difusão do agropecuária e da formação das redes
agronegócio globalizado, teríamos a agroindustriais, mas também das inúmeras
possibilidade de melhor compreender o Brasil novas relações entre o campo e a cidade, assim
do presente, incluso as novas tendências de como de reestruturação da cidade do
urbanização e de regionalização. Da mesma agronegócio (ELIAS, 1996, 2006, 2012)17.
forma que, com o que estamos chamando de Para a análise da reestruturação urbana e da
Região produtiva do agronegócio teríamos um cidade nas Regiões produtivas do agronegócio é
recorte espacial para análise de algumas das fundamental considerar: a especialização
mudanças ocorridas no território brasileiro, funcional da cidade e incremento da economia
aumentando nossa capacidade de interpretá-lo e urbana; o crescimento do consumo produtivo
de melhor reconhece-lo. Uma vez que a agrícola (comércios e serviços especializados
globalização só se realiza com a fragmentação para o agronegócio); a gestão urbana do
do território, a Região produtiva do agronegócio agronegócio; a formação de novas
ganha força como uma das possibilidades para horizontalidades e incremento das relações
percepção de tais processos. campo-cidade a partir dos circuitos espaciais de
Na nossa ótica, a escolha de conduzir as produção e círculos de cooperação de
análises a partir das Regiões produtivas do commodities agrícolas ou importante produto 27
agronegócio propicia melhor conhecer as agrícola ou agroindustrial; o aumento das
dinâmicas da reestruturação produtiva da verticalidades inerentes às produções agrícolas e
agropecuária e da organização das redes agroindustriais hegemônicas; o aumento dos
agroindustriais; da reestruturação urbana e das fluxos diários (de matéria-prima, de
cidades (SPOSITO, 2007) que se processam nas trabalhadores, de capital, de tecnologia, de
áreas de difusão do capitalismo no campo e, ao informação etc.) entre alguns dos espaços
mesmo tempo, compará-las entre si; avaliar os urbanos não metropolitanos pertencentes às
diferentes níveis de determinações decorrentes Regiões produtivas do agronegócio; o
da atuação de novos agentes econômicos crescimento da urbanização; a diminuição da
associados ao agronegócio, através das novas população rural; o crescimento da categoria do
regionalizações e da urbanização corporativa trabalhador agrícola não rural; o aumento da
(SANTOS, 1993) inerentes ao agronegócio centralidade urbana no âmbito da Região
(ELIAS, 1996). produtiva do agronegócio; o reforço das
Para melhor compreender as Regiões grandes empresas associadas às redes
produtivas do agronegócio, verdadeiros agroindustriais como importantes agentes
híbridos formados por espaços agrícolas produtores e gestores do espaço agrícola,
altamente racionalizados somados a espaços urbano e regional; o crescimento e renovação da
urbanos não metropolitanos, cidades de porte materialidade do espaço urbano; a

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reestruturação do centro das cidades; a 1 Naturalmente, a agricultura brasileira é


formação de novas centralidades mediante bastante diversificada e não é composta
instalação de novos agentes econômicos e de somente pelo agronegócio. Há diversos sujeitos
grandes equipamentos urbanos (shopping sociais a ela envolvidos, entre as quais a
centers, hipermercados, locais para feiras e agricultura camponesa, cuja produção é voltada
eventos etc.); o aprofundamento da para o próprio consumo ou à produção simples
urbanização corporativa e o aprofundamento de mercadorias, o que por si só já expõe um
das desigualdades socioespaciais. quadro de contradições existentes no agrário
Dessa forma, compreender toda sorte de brasileiro. Mas, o objetivo nesse texto é analisar
fluxos implicados nas RPAs, notadamente por o agronegócio globalizado, considerando seu
meio das categorias de análise basilares peso determinante para inúmeros processos de
representadas pelos circuitos espaciais de transformações socioespacias no país.
produção e dos círculos de cooperação,
2 O cultivo da cana-de-açúcar marca a formação
sobretudo os associados ao circuito superior da
socioespacial brasileira desde o século XVI e
economia do agronegócio globalizado, é um
esteve associada à produção de açúcar,
exercício de análise. Tal exercício permite, de
principalmente. Desde meados da década de
um lado, a síntese das estratégias de ação e
1970, tal produção cresceu sobremaneira a partir
processos inerentes às principais empresas
da criação de uma política pública federal, o
associadas aos conglomerados atuantes no 28
Proálcool (Programa Nacional do Álcool),
agronegócio e, de outro lado, a dinâmica do
quando o governo federal passa a incentivar os
território resultante dessas estratégias, ou seja,
usineiros a canalizarem a produção de cana
das novas especializações territoriais
para a fabricação de álcool combustível. Foram
produtivas, evidenciando como se processam as
criadas muitas linhas especiais de crédito para
dinâmicas territoriais inerentes ao setor. Logo, o
viabilizar a instalação das destilarias, sejam
estudo das Regiões produtivas do agronegócio
anexas, vinculadas às usinas de açúcar, sejam
compõe um dos caminhos possíveis de
autônomas, unidades industriais independentes
interpretação da (re)produção do espaço de
das usinas e especializadas na produção de
numerosas áreas no Brasil que têm em seu
álcool. Tais medidas foram responsáveis para
âmago a difusão do agronegócio globalizado e a
que, em cerca de uma década, o Brasil se
organização das redes agroindustriais.
tornasse um grande produtor de álcool
combustível. Da mesma forma, o programa foi,
NOTAS
no mundo, um dos mais bem sucedidos no que
i Geógrafa; Doutora em Geografia Humana pela
tange a produção de um combustível renovável.
Universidade de São Paulo (USP); Professora da
Na última década, o setor sucroalcooleiro do
Universidade Estadual do Ceará (UECE).
país passa por novas e significativas
E-mail: deniselias@uol.com.br
transformações, com características bem

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distintas do período do Proálcool, sendo a 1959, com a instalação de uma multinacional


entrada de multinacionais e a concentração do fabricante de tratores (AMATO NETO, 1985).
setor entre as mais marcantes, especialmente
6 Produzem os meios de produção para a
considerando que, até então, o setor era
agropecuária e dirigem tecnologicamente as
dominado por empresas nacionais, que
transformações da base técnica do setor,
dominavam, inclusive, a pesquisa tecnológica
composta por indústrias químicas que
do setor agrícola e agroindustrial do ramo. Para
produzem insumos (adubos, fertilizantes,
analisar o processo recente de difusão do setor
corretivos, inseticidas, germicidas etc),
podem ser vistos inúmeros trabalhos
mecânicas (tratores, implementos agrícolas,
produzidos na última década. Poderíamos citar
colheitadeiras), de produtos farmacêuticos e
Bernardes; Silva; Arruzzo, 2013.
veterinários (rações para animais, produtos
3 Indústrias de transformação cuja matéria- veterinários etc), entre outros.
prima principal provém das atividades
7 Cabe destacar que não estamos defendendo
agropecuárias, tais como indústrias de
nenhum determinismo tecnológico, nem tão
alimentos (beneficiamento, moagem, torrefação;
pouco exaltando a tecnologia como a solução
preparação de refeições, conservas; abate de
para todos os problemas da natureza e muito
animais; resfriamento e preparação de leite e
menos como sendo capaz de substitui-la, mas
laticínios; fabricação e refino de açúcar;
apenas estamos querendo chamar a atenção 29
fabricação de balas e caramelos; fabricação de
para questões que mostrem as características da
massas alimentares etc.), bebidas etc.
reestruturação produtiva da agropecuária e,
4 Oliveira (1985, p. 38) enfatiza que o saber nesse sentido, que a adoção de procedimentos e
científico e técnico é introduzido na produção métodos científicos à produção agropecuária de
agropecuária voltado "para reduzir e eliminar as fato foi capaz de transformar a estrutura
descontinuidades na aplicação de capital e os produtiva e, assim, econômica e social do setor.
tempos mortos; promover a uniformidade do
8 Vale destacar que a bancada ruralista,
desembolso do capital ao longo do ano;
defensora do agronegócio e ela própria
aumentar a frequência de retorno do capital
composta por deputados e senadores com
num dado período; intensificar o processo
vários tipos de atividades inerentes ao setor, é
produtivo de forma a eliminar a ociosidade e
uma das maiores e mais atuantes no Congresso
depreciação pelo não uso do capital fixo; e
Nacional.
ampliar a potencialidade das economias de
escala, via especialização e divisão de trabalho". 9 A Embrapa, ligada ao Ministério da
Agricultura, é uma das mais importantes
5 A implantação da primeira grande indústria de
instituições de pesquisa agropecuária do
bens de produção para a agropecuária dá-se em
mundo. Exporta tecnologia para vários países

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da América Latina, África, Ásia e até para 14 Mesmo não considerando que a expansão do
Austrália e EUA. São cerca de 50 centros de trabalho agrícola deva ser comemorado, é
pesquisa, núcleos e unidades espalhados por mister destacar a importância dessa
praticamente todos os Estados do país. formalização num país onde, em pleno século
XXI, ainda seja comum a velada exploração
10 Em 1980, o volume total de financiamento foi
pura da mais-valia absoluta de muitos
90 vezes superior ao de 1970 em termos
trabalhadores em condições análogas à
nominais e quase quatro vezes em termos reais,
escravidão, em algumas atividades da
crescendo a uma taxa real de 17,5 % ao ano
agricultura brasileira.
(FIGUEIREDO, 1984, p. 15).
15 Sobre verticalidades e horizontalidades ver
11 Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas,
Santos (1996).
se ao montante de crédito rural somarmos os
subsídios fiscais ao setor, a criação de 16 Segundo Santos (1993, p. 115) "[...] o território
infraestrutura, entre outros, teríamos quase 50 nacional da modernidade é objeto de dois tipos
% da Receita Nacional do ano de 1977 de recorte. De um lado, recriam-se subespaços
(CORADINI; FREDERICQ, 1982, p. 50). mediante nova regionalização, que tanto pode
ser o fato de produções homogêneas que
12 Em 1976, o crédito oficial para a agricultura
colonizam e definem uma fração do espaço com
foi oferecido a uma taxa de juros de 15 % ao ano 30
base em uma mesma atividade ou de uma
e, em casos de projetos especiais como
combinação de atividades, como pode provir de
Polocentro, Procal, Pronazem, de 15 a 0 %,
relações necessárias entre o núcleo e o seu
numa economia onde a inflação foi de 46 %
entorno imediato. Em ambos esses casos, a área
(SORJ, 1980, p. 86).
resultante é contínua. É a nova forma do velho
13 O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) fenômeno de região. [...] Neste caso, onde o

do Brasil, através do Programa de Disseminação espaço é contínuo, trata-se de um recorte

de Estatística do Trabalho (PDET), divulga horizontal do espaço total. [...] As tarefas

anualmente os dados da Relação Anual de técnicas predominam, ligadas, direta ou

Informações Sociais (RAIS) e mensalmente o indiretamente, ao processo direto de produção.

Cadastro Geral de Empregados e Nesse sentido, diremos que a região deixa de ser

Desempregados (CAGED). As bases do MTE produto de solidariedade orgânica localmente

são extremamente importantes para o estudo do tecida, para tornar-se resultado de solidariedade

mercado de trabalho formal no Brasil, pois organizacional”.

abrange cerca de 97% do contingente de


17 Cidade do agronegócio é uma noção com a
estabelecimentos e trabalhadores do circuito
qual temos trabalhado nos últimos anos e que
formal (com carteira assinada).
quer destacar as cidades inseridas nas Regiões
produtivas do agronegócio, cujas funções

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Globalização, agricultura e urbanização no Brasil
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inerentes ao agronegócio são hegemônicas sobre Espaço e energia. Mudanças no paradigma


sucroenergético. Rio de Janeiro: Lamparina
as demais funções que a mesma exerce. É a
editora, 2013. p. 49-73.
cidade na qual se realiza parte importante das
ELIAS, Denise. “Les Territoires de
condições gerais para a reprodução ampliada do L´Agrobusiness au Brésil”. Confins (Paris), n. 15,
capital do agronegócio. Sobre o assunto pode 2012.

ser visto em Elias (1996 e 2006). ELIAS, Denise. Agronegócio e novas


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