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Lenine estudando a situação da Rússia no fim do século XIX, percebeu que o capitalismo
se desenvolvia de forma desigual, tendo forma intensa no "centro" e extensa na sua
periferia: assim se estrutura a indústria.
Observa-se essa mesma lógica no que tange ao espaço, como ocorreu no decorrer do
capitalismo nas três primeiras décadas do século XX, quando ocorria a concentração em
Londres simultaneamente ao empobrecimento de áreas industriais antigas. Sob a ótica
desses desequilíbrios espaciais, os autores progressistas do pós-guerra questionam os
modelos de equilíbrio neoclássico. Enquanto a maior parte dos países encontram-se
apoiando a teoria dos polos de desenvolvimento, os países anglo-saxões se deitaram sobre
a teoria de base-exportação.
Definição do Polo de crescimento: Indústria motriz com elevado dinamismo, refletido nas
altas taxas de crescimento e que têm influência de impulsão sobre uma certa quantidade de
indústrias ou empresas.
As inovações têm um papel central, as quais, sendo bem difundidas, marcam a atmosfera
de uma marca; sendo assim, a indústria motriz não é a mesma em todas as épocas. No
século XX a indústria-chave foi a indústria da energia.
Segundo Perroux, toda estrutura articulada tem indústrias que constituem pontos
privilegiados de aplicação de força ou dinamismo de crescimento. Essas indústrias foram
denominadas de "indústrias industrializantes" por Destanne de Bernis, visto que contribuem
decisivamente no desenvolvimento.
A DIMENSÃO GEOGRÁFICA
Perroux considera o polo como resultante do efeito de certas indústrias motrizes, e a essa
dimensão industrial o autor atribui também a dimensão espacial, pois admite que um
aglomerado urbano importante também pode ter essa característica. Nesse caso,
aumentam: necessidades de habitação, transporte, serviços, e as rendas elevam-se,
surgem empreendedores e mão de obra qualificadas.
Esse cenário, para Perroux, difere do que é visto no meio agrícola.
O autor, no entanto, observa que o Polo pode ser levado ao declínio devido à diversos
fatores como mudanças técnicas, questões políticas, mudanças de correntes de
transportes.
Esses processos são de responsabilidade do Estado, o qual deve administrar e planejar, no
intuito de diminuir seus impactos.
INSTRUMENTO DE POLÍTICA
Na metade da década de 50, o governo francês adotou uma política que descentralizasse a
indústria, que desestimulava a implantação de novas empresas na metrópole e estimulava
em regiões “periféricas”. Contudo, acabou tendo uma dispersão de recursos devido ao mal
planejamento. Em 1958, Perroux criticou essa política, a favor de concentrar os meios nos
centros escolhidos. A partir de 1963, a política francesa adotou a teoria da polarização, a
qual acabou sendo adotada em escala quase planetária. Na França, essa política também
teve dimensão urbana, com a estratégia das “Metrópoles de Equilíbrio”, que foi
desenvolvida para diminuir a concentração na região-capital na estrutura urbana francesa.
Com essa estratégia, foram escolhidas oito aglomerações urbanas que receberam grandes
investimentos em infra-estrutura.
A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA
O Brasil é um claro exemplo de desenvolvimento desigual, é um país de dimensões
continentais muito diverso e conta com uma história de difícil ocupação no seu território, e
uma industrialização retardatária e, por muito tempo, restringida.
A partir do fim da década de 1940, começou um intenso debate sobre o atraso econômico
das regiões periféricas, o que resultou em uma grande produção de conhecimento sobre o
Nordeste e a Amazônia. Foram diversos estudos sobre, por exemplo, os recursos naturais,
papel do planejamento para desenvolver a região, sobre os desequilíbrios regionais e
potencialidades. O principal estudo foi feito por Celso Furtado, chamado Relatório GTND,
que faz um diagnóstico da economia nordestina.
A possibilidade de aplicar essa teoria no Brasil só foi analisada a partir do Ipea, órgão do
ministério do planejamento, junto com o IBGE, nos anos de 1965/66. Esse estudo foi feito
com base na metodologia empregada na França e resultou no Plano Decenal realizado em
1967.
No Brasil:
Os trinta anos gloriosos do pós-guerra foram bem sustentados pelo Estado
keynesiano, em que a industrialização brasileira teve um apoio crucial do Estado, e por isso
o planejamento desempenhou no país um papel ímpar se comparado com outros países de
terceiro mundo. Furtado, no seu livro A fantasia organizada mostra que no governo Vargas
houve uma ação que foi crucial para a sobrevivência da Cepal, que defendia a
industrialização como saída econômica e caminho de afirmação nacional para os países da
América Latina, e o emprego do planejamento. Esses estiveram na agenda do Estado
brasileiro até o início do decênio de 80.
No plano regional, as regiões-problema foram destaque. A grosso modo, pode-se
dizer que o Brasil se baseou em grandes unidades produtivas e na intervenção do Estado
central até 1980, e a partir de então, começou a haver um declínio da experiência brasileira.
Os aspectos mais relevantes de tal são:
a) Questão do Estado: O desmonte do estado keynesiano que começou lento
em meados dos anos 80, foi acelerando. Para encontrar saídas para a
acumulação, houveram pressões externas que se combinaram com
interesses dos capitais internos. Nesse meio tempo, extinguiram o ministério
do interior, duas superintendências e a Serse. A Sudam e a Sudene por
pouco não foram extintas, mas sarney manteve um completo descaso com a
Sudene e o Nordeste.
b) Outro ponto é o da constituição de 1988, que instituiu diversas medidas
descentralizadoras, atribuindo para os planos estadual e municipal o
planejamento sem nenhum recurso que os preparasse para tal
responsabilidade. Ocasionou em uma corrida desenfreada, assim como visto
em outros países (França, por exemplo), gerando a chamada “guerra fiscal”,
onde propostas eram feitas para atrair novos investidores a qualquer custo.
c) Por último, Fernando Henrique Cardoso ensaiou retornar ao tratamento da
questão regional. Introduziu o Orçamento plurianual em 1996/99, projeto que
buscava integrar as regiões brasileiras na área de transportes. Tal projeto
deveria consolidar os chamados eixos de desenvolvimento, para uma
intervenção mais coordenada e menos dispersa. A nova política faz uma
tábula rasa das macrorregiões, mas não faz uma nova regionalização do
país. Eram ao todo 9 eixos, visavam reduzir as disparidades regionais, mas,
no fundo, destinavam maiores parcelas para áreas mais favorecidas do país.
Outra crítica a essa política é pelo fato de estar mais voltada para a
exportação do que para o mercado interno.