Você está na página 1de 7

BALANÇO SOBRE A REFORMA AGRÁRIA

BRASILEIRA NAS DUAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Vanilde F. de Souza Esquerdo


e Sonia M. P. P. Bergamasco

RESUMO

A reforma agrária possibilita a desconcentração fundiária aumentando a expectativa em relação à realização da re-
e dá oportunidade aos trabalhadores rurais desenvolverem forma agrária. Verifica-se que houve avanços na política de
seus projetos de vida, resgatando a dignidade de uma po- assentamentos rurais, contudo a estrutura fundiária do país
pulação historicamente excluída. A conquista da terra pos- permaneceu inalterada. Nos dois últimos anos (2011 e 2012)
sui significados que vão desde o resgate à cidadania até a o número de famílias assentadas, bem como o número de
melhoria da condição de vida pela aquisição de bens, pro- assentamentos implantados, foram os piores desde 2006. A
dutos e serviços. Percebe-se que no Brasil ainda há uma prioridade do atual governo é a erradicação da pobreza ex-
forte concentração fundiária. Nesse sentido, esse trabalho trema, nesse sentido a reforma agrária torna-se uma política
teve por objetivo analisar o processo de reforma agrária essencial para contribuir para tal prioridade, uma vez que
brasileira durante as duas últimas décadas. Nesse período com a distribuição da propriedade da terra, diminui-se tam-
o país teve três governantes, dois deles eleitos com o apoio bém a concentração de renda.
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),

presenta-se um balanço larização fundiária, em detrimento da palmente na área social, durante os


da política de reforma desapropriação de áreas. dois mandatos do governo do presiden-
agrária brasileira du- O segundo deles, o te Lula a estrutura agrária brasileira
rante as duas últimas décadas. O moti- presidente Luis Inácio Lula da Silva permaneceu altamente concentrada.
vo da escolha desse tema se deve pela (2003-2010), foi eleito com o apoio dos O governo da presiden-
sua atualidade mas, sobretudo, porque movimentos sociais ligados à questão ta Dilma Roussef, iniciado em 2011,
durante esse período o Brasil foi go- agrária no Brasil. Com a eleição do trouxe grande expectativa na realiza-
vernado por três diferentes presidentes. presidente Lula criou-se a expectativa ção da reforma agrária no país, uma
O primeiro deles governou o país por da realização de uma efetiva política vez que o seu discurso está fortemente
dois mandatos (Fernando Henrique de reforma agrária. Foi lançado o II vinculado à erradicação da pobreza ex-
Cardoso (1995-2002 ) tinha um discur- Plano Nacional de Reforma Agrária (II trema e à criação de oportunidades
so voltado ao neoliberalismo e marcou PNRA), cujo compromisso era realizar para todos. No Brasil, a maior parte da
a política de reforma agrária no Brasil efetivamente a reforma agrária no Bra- população pobre encontra-se no meio
através da compra de terras e da regu- sil. Porém, apesar dos avanços, princi- rural, nesse sentido, a reforma agrária

Palavras chave / Assentamentos Rurais / Pobreza Rural / Políticas Fundiárias / Reforma Agrária /
Recebido: 19/03/2013. Modificado: 13/08/2013. Aceito: 26/08/2013.

Vanilde F. de Souza Esquerdo. Engenheira Agronôma, Universidade Estadual Paulista Júlio de


Mesquita Filho (UNESP), Brasil. Mestrado e Doutorado em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável, Universidade Es-
tadual de Campinas (UNICAMP), Brasil. Pesquisadora e pós-doutoranda, UNICAMP, Brasil. Endereço: Av. Cândido Rondon, 501
- Barão Geraldo 13083-875 - Campinas/SP, Brasil. e-mail: vanilde@yahoo.com
Sonia M. P. P. Bergamasco. Engenheira Agronôma, Universidade de São Paulo (USP), Brasil.
Mestrado em Extensão Rural, Universidade Federal de Viçosa, Brasil. Doutorado em Agronomia, UNESP, Brasil. Especialização
em Extensão Rural para o Desenvolvimento Socioeconômico, Agricultural University-Wageningen, Alemanha, e pós-doutorado na
École de Hautes Études en Sciences Sociales, França. Professora UNICAMP, Brasil.

AUG 2013, VOL. 38 Nº 08 0378-1844/13/08/563-07 $ 3.00/0 563


realizada através da desconcentração governo assegurar a importância da todas as formas de acesso à terra, se-
fundiária e da criação de assentamen- desapropriação, enquanto instrumento jam assentamentos implantados via
tos rurais não se configura apenas para se conseguir novas terras requeri- programa tradicional de reforma agrá-
como uma política social, mas possui das para cumprir as metas para o as- ria em terras obtidas, sobretudo, por
também um caráter de política econô- sentamento de famílias, o governo desapropriações e arrecadação de ter-
mica, demonstrando-se um importante FHC propôs uma nova forma de aqui- ras, ou por meio da compra direta de
instrumento para o desenvolvimento sição de terras, denominada reforma terras, através do Banco da Terra e do
(Sachs, 2004). agrária de mercado (Anjos y Caldas, Crédito Fundiário (Ferreira y Silveira,
A luta pela terra no 2003). Dentro dessa perspectiva, em 2003).
Brasil é uma constante desde os tem- 1997 foi implantado, com apoio finan- O que se percebeu na
pos de seu descobrimento, ganhando ceiro do Banco Mundial, o Programa política agrária desse governo foi,
conotações diferenciadas ao longo dos Cédula da Terra em cinco estados bra- comparando os dois mandatos, a dimi-
anos. Diante da importância que a re- sileiros (Ceará, Maranhão, Pernambu- nuição na quantidade total de terras
forma agrária possui para contribuir co, Bahia e Minas Gerais), previsto disponibilizadas para a realização de
com o desenvolvimento de um país, para três anos de duração. novos assentamentos. A Tabela I de-
este texto traz subsídios para um apro- Entre o período de monstra que essa queda é mais acentu-
fundamento das ref lexões sobre a rela- 1995 a 1998 o governo do presidente ada para obtenção de terras por meio
ção reforma agrária e desenvolvimento. FHC assentou sob diferentes formas de processos de arrecadação e de desa-
(desapropriação, arrecadação, regulari- propriação. Por outro lado, houve o au-
Balanço da Reforma Agrária do zação fundiária, etc.) 284.228 famílias, mento no volume de terras por meio
Governo do Presidente Fernando em uma área total de 12,8×10 6 ha, dis- da compra direta, cuja classificação no
Henrique Cardoso (1995-2002) tribuídas por 2.428 projetos de assenta- Cadastro do SIPRA/INCRA (Sistema
mento (Ferreira y Silveira, 2003). Ape- de Informação de Projetos de Reforma/
A constituição dos as- sar do expressivo número de famílias Instituto Nacional de Colonização e
sentamentos rurais resulta das lutas e assentadas, comparados com os gover- Reforma Agrária) aparece como ‘reco-
pressões dos trabalhadores rurais sem nos anteriores, a política econômica do nhecimento’, demonstrando a mudança
terra. Por meio das ações dos trabalha- governo FHC teve seus efeitos perver- na prioridade da política agrária do
dores rurais pode-se compreender as sos, sendo que dois milhões de postos governo FHC. Desta forma, percebe-se
formas de resistência aos processos de de trabalho foram perdidos no campo que ao invés da utilização de terras
expropriação, de expulsão e de exclu- entre 1995 e 1996, e mais, o número desapropriadas para a realização de
são. A extensão da luta pela terra é de propriedades caiu, principalmente uma efetiva reforma agrária, o instru-
conhecida através das diversas mani- as pequenas propriedades de até 10ha, mento utilizado passou a ser priorita-
festações cotidianas dos sem-terras, consolidando a tendência de concentra- riamente a compra de terras e a regu-
que vai desde o trabalho de base às ção fundiária do país (Carvalho, 2001). larização fundiária (De Souza, 2006).
ocupações de terra; dos acampamentos No início do segundo
e dos protestos com ocupações de pré- mandato do governo de FHC foi divul- A política de Reforma Agrária
dios públicos às intermináveis negocia- gado o que se denominou de ‘Nova durante o Governo do Presidente Luis
ções com o governo; do assentamento Reforma Agrária’, que consistia numa Inácio Lula da Silva (2003-2010)
à demanda por política agrícola, na iniciativa, amplamente divulgada na
formação da consciência de outros di- grande imprensa, cujas propostas eram A mudança de governo
reitos básicos, como educação, saúde consideradas modernas em sua concep- em 2003 despertou novas esperanças
etc (Fernandes, 2000). ção e objetivos, os quais, de acordo em relação à questão agrária no Brasil,
Em função da abertura com seus idealizadores, apresentava pois a eleição do presidente Luis Iná-
política e da maior atuação dos movi- um novo desenho institucional capaz cio Lula da Silva contou com o apoio
mentos sociais, a reforma agrária foi de articular todas as instâncias do po- de vários movimentos sociais, entre
um tema mais presente na agenda polí- der público na promoção do ‘novo eles o MST (Movimento dos Trabalha-
tica do governo de Fernando Henrique mundo rural’. Como conseqüência des- dores Rurais Sem Terra). Dessa forma,
Cardoso (FHC), em meados da década sas propostas algumas ações foram es- em novembro de 2003 o governo fede-
de 1990. Porém, as restrições orçamen- tabelecidas, entre elas a extinção do ral lançou o II Plano Nacional de Re-
tárias fizeram com que seus resultados Programa de Crédito Especial para a forma Agrária (II PNRA), apresentado
fossem bastante limitados (Kageyama Reforma Agrária (PROCERA) e a cria- durante a Conferência da Terra, em
et al., 2011). ção do Banco da Terra. Com tal medi- Brasília. O II PNRA tem como princí-
O programa de gover- da, a reforma agrária de mercado ga- pio geral a “inclusão de uma significa-
no do candidato à presidência FHC re- nhou força até o final deste governo. tiva parcela da pirâmide social na eco-
conhecia a necessidade de haver mu- No segundo mandato nomia agrária, regida por um novo
danças no campo, e considerava a re- do governo FHC registra-se o redire- marco de regulação dos mercados agrí-
forma agrária uma importante política cionamento do aparato institucional no colas, de sorte a garantir crescimento
para resolver problemas como o da se- sentido de fundir as políticas de refor- da renda, do emprego e da produção
gurança alimentar, os conf litos agrá- ma agrária com as políticas de fortale- desse setor.” (MDA/INCRA/II PNRA,
rios e o fortalecimento da agricultura cimento da agricultura familiar em ge- 2003, p. 18)
familiar. O conceito que a reforma ral (Kageyama et al., 2011). As metas do II PNRA
agrária tinha no programa resumia-se a Entre os anos de 1999 simbolizavam a realização do maior
ações fundiárias mais agressivas quan- e 2002 o governo FHC assentou plano de reforma agrária da história do
do comparadas aos governos anterio- 139.585 famílias, em 2.672 projetos de país, expressando seu compromisso com
res, mas não havia a menor pretensão assentamentos, em uma área total de uma reforma agrária massiva ao estabe-
de mudança estrutural. Apesar deste 9,2×10 6 ha. Aqui também estão inclusas lecer como meta assentar 400.000 novas

564 AUG 2013, VOL. 38 Nº 08


TABELA I mílias foram assentadas em terras de-
FORMAS DE OBTENÇÃO DE TERRAS PARA A REFORMA AGRÁRIA NO sapropriadas por interesse social. A
BRASIL maior parte das famílias foi assentada
em assentamentos já existentes ou, em
Formas de obtenção de terras 1995-1998 1999-2002 assentamentos implantados em terras
para a reforma agrária ha % ha % públicas ou, ainda, em assentamentos
Arrecadação 2.663.981,18 20,83 1.261.781,62 13,66 já existentes em terras públicas.
Desapropriação 6.922.525,51 54,13 3.319.679,19 35,94 Para Sauer y Souza
Reconhecimento 340.041,26 2,66 2.868.042,51 31,05 (2008), durante o primeiro mandato do
Demais formas / Diversas 2.862.376,57 22,38 1.787.352,64 19,35 governo do Partido dos Trabalhadores
Brasil 12.788.924,52 100,00 9.236.855,96 100,00 (2003-2006), “a questão agrária deixou
Fonte: MDA/INCRA/SD/Sipra (Cadastro atualizado até 20/12/2002) apud Ferreira y Silveira de ser tratada como caso de polícia.
(2003). Por outro lado, o governo avançou
muito pouco no que tange à democrati-
zação do acesso à terra por meio do
famílias no período 2003-2006 e a re- assistência técnica, construção de mo- assentamento de famílias em projetos
gularização fundiária de 100.000 pro- radias, cisternas no semi-árido, obras de reforma agrária”. (Sauer y Souza,
priedades. Entretanto, para 2003 o Mi- de infra-estrutura básica e de preserva- 2008, p. 79).
nistério do Desenvolvimento Agrário ção ambiental (MDA/INCRA, 2005). Para esses autores, foi
(MDA) dispunha de R$ 462×10 6, o que Embora o governo co- inegável o ‘rebaixamento’ do programa
seriam suficientes para o assentamento memore sua política de reforma agrá- agrário do governo Lula em compara-
de, no máximo, 22.000 famílias, núme- ria, o MST não analisa esses dados da ção com o que haviam sido as campa-
ro muito abaixo da meta proposta até mesma forma. Para esse Movimento o nhas eleitorais do PT desde 1989: a re-
março de 2004, que era o assentamento governo Lula tem sido melhor do que forma agrária deixou de ser “uma polí-
de 60.000 famílias. De acordo com o todo o período do governo FHC, po- tica pública central e estratégica, pas-
ex-ministro do MDA, Miguel Rossetto, rém do ponto de vista dos acordos fir- sando a figurar como ação de governo
seria necessário, no mínimo, R$ 1×10 9 mados, o governo ficou aquém das ex- importante para o campo brasileiro,
para cumprir a meta deste ano (De pectativas dos trabalhadores rurais, em equiparada a outras como a reativação
Souza, 2006). especial na implantação de assenta- do Proálcool. De bandeira política para
Entre janeiro e dezem- mentos para os que estavam acampa- combater os males do latifúndio, a re-
bro de 2004 o INCRA assentou 81.254 dos por mais de três anos (Fernandes, forma agrária transformou-se em medi-
famílias. Somando-se o desempenho de 2006). da de geração de emprego, soberania
2003, onde o governo federal conse- De acordo com Fernan- alimentar, combate à pobreza e conso-
guiu assentar 36.301 famílias, ao todo des (2006), das 36.031 famílias assen- lidação da agricultura familiar” (Sauer
este governo assentou 117.555 famílias tadas em 2003, 24% foram assentadas y Souza, p. 78-79).
em dois anos, alcançando 81% da meta em terras desapropriadas ou compradas A aquisição de áreas
de 145 mil famílias, estabelecida para e 76% em lotes de assentamentos já pelo INCRA ocorre por meio de desa-
esse período (60.000 em 2003 e 85.000 existentes. No ano 2004, o governo propriação, compra direta para implan-
em 2004) pelo II PNRA (MDA/IN- Lula assentou 81.254 famílias, sendo tação de assentamentos de trabalhado-
CRA, 2005). 32% assentadas em terras desapropria- res rurais ou por meios não onerosos,
Seg u ndo Fer nandes das ou compradas e 68% em lotes de como a destinação de terras públicas e
(2006) além do assentamento de novas assentamentos que já existiam. Em o reconhecimento de territórios (IN-
famílias, o governo federal atendeu 2005, o número de famílias assentadas CRA, 2010).
305.126 famílias assentadas com servi- chegou a 127,000; no entanto, 21% fo- Na Tabela II são apre-
ços de assistência técnica e extensão ram assentadas em terras desapropria- sentados dados sobre a implantação de
rural nos projetos de assentamentos. das ou compradas e 24% em lotes de projetos de assentamentos (PAs) no
Para garantir a qualidade na reforma assentamentos já existentes, 39% em Brasil durante o período de 2003 a
agrária, conseguiu-se duplicar os valo- assentamentos realizados em terras pú- 2009. Nesse período foram implantados
res investidos por família, que de R$ blicas e 16% em assentamentos já exis- 3.346 projetos de assentamentos, numa
7.700 em 2003, passaram para R$ tentes em terras públicas. O autor con- área de 46,6×10 6 ha, sendo que a região
16.000 em 2004, abrangendo recursos clui que durante os três primeiros anos nordeste foi a que mais teve PAs im-
para elaboração de projetos produtivos, do governo Lula, apenas 25% das fa- plantados, totalizando 47,37% (1.585

Tabela II
Implantação de projetos de assentamentos rurais 2003-2009
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Região
Nº ha Nº ha Nº ha Nº ha Nº ha Nº ha Nº ha
Norte 71 4.064.573 61 3.627.519 220 12.041.372 306 8.348.815 75 5.115.370 110 3.778.726 85 4.138.237
Nordeste 151 248.876 293 781.441 430 968.002 259 784.341 177 271.213 156 257.622 119 279.455
Centro-Oeste 69 266.707 54 173.215 102 274.024 55 142.142 77 357.325 20 41.337 45 145.679
Sudeste 20 19.629 32 47.021 98 176.676 38 38.977 37 63.118 21 20.619 39 43.835
Sul 10 7.488 18 50.793 24 27.073 20 19.992 25 12.894 22 20.089 9 8.999
TOTAL 321 4.607.273 458 4.679.989 874 13.487.147 678 9.334.267 391 5.819.920 327 4.118.393 297 4.616.205
Fonte: MDA/INCRA (2010). (Cadastro atualizado até março 2010).

AUG 2013, VOL. 38 Nº 08 565


PAs). Percebe-se através da Tabela II antigos e reassentamentos de atingidos tonomia para sobreviver com dignidade
que o número de PAs implantados em por barragens. sustentável.
2009 em todas as regiões foi bem infe- Além disso, no segun-
c) fortalecimento da agricultura fami-
rior se comparado aos anos anteriores, do mandato não houve a elaboração do
liar através de 1) incremento do crédi-
principalmente na região Sul. III Plano Nacional de Reforma Agrá-
to rural do PRONAF; 2) criação da Lei
Durante o ano de 2010 ria, o que poderia melhorar o número
11.326/2006, definindo a agricultura
foram implantados apenas 205 projetos de assentamentos no país. Assim, hou-
familiar; 3) estabelecimento do Progra-
de assentamentos em todo o país, ve um descompromisso do governo em
ma de Aquisição de Alimentos (PAA),
numa área de 1,7×10 6 ha. Tal fato de- realizar a reforma agrária, passando a
que adquire produtos da agricultura fa-
monstra que no ano eleitoral pouco se adotar uma política de contra-reforma
miliar para o atendimento de popula-
fez pela reforma agrária, sendo que os agrária.
ções em situação de insegurança ali-
objetivos do governo ficaram concen- Foram grandes as ex-
mentar; 4) estabelecimento do Progra-
trados em outros assuntos estratégicos, pectativas sobre o governo Lula no que
ma Nacional de Alimentação Escolar
como por exemplo, a sucessão presi- diz respeito à realização da reforma
através da Lei 11.947/2009, que deter-
dencial. Em números gerais, havia até agrária, pois esse governo contou com
mina a utilização de, no mínimo, 30%
2010 no Brasil 8.763 assentamentos o apoio de vários movimentos sociais,
dos recursos repassados pelo Fundo
criados, abrigando 924.000 famílias as- entre eles o MST, sendo dessa forma
Nacional de Desenvolvimento da Edu-
sentadas, numa área total de considerado como um governo popular.
cação (FNDE) para alimentação esco-
85,8×10 6 ha (INCRA, 2010). Além disso, o ex-presidente Lula deu
Ao fazer o balanço da lar, na compra de produtos da agricul-
declaração de que a realizaria com
reforma agrária em 2010, a Comissão tura familiar e do empreendedor fami-
uma ‘canetada’. Porém, ao final de
Pastoral da Terra (CPT) concluiu que liar rural ou de suas organizações,
dois mandatos (2003-2006 e 2007-
esse ano foi o pior para a reforma priorizando os assentamentos de refor-
2010), ou seja oito anos, viu-se que a
agrária brasileira, pois os desafios e ma agrária, as comunidades tradicio-
reforma agrária, entendida enquanto
impasses históricos da reforma agrária nais indígenas e comunidades quilom-
uma política de transformação da es-
ainda perpetuam. Em 2010, houve a re- bolas; 5) formulação da Política Nacio-
trutura agrária, fazendo cumprir a fun-
dução de 44% do número de famílias nal de Assistência Técnica e Extensão
ção social da terra não foi realizada.
assentadas, com relação a 2009, além Rural (PNATER); e 6) criação da Lei
Esse fato torna-se mais real quando se
da redução de 72% no número de hec- 12.188/2010, a Lei de ATER, que insti-
verifica a forte estabilidade do índice
tares destinados à reforma agrária. Um tui a PNATER e o Programa Nacional
de Gini no Brasil, sendo que em 1975
fator importante para a queda nos nú- de ATER (PRONATER);
era de 0,855; em 1985 foi de 0,858; em
meros foi a ineficiência do INCRA de- 1995/96 de 0,857; e em 2006 foi 0,856. d) criação do programa Fome Zero;
vido, principalmente, ao seu orçamento De acordo com Sampaio y Garcia Fi-
ter sido reduzido em quase a metade e) criação do Sistema Nacional de Se-
lho (s/d, p. 1) “é preciso ver a reforma
em relação a 2009. Dessa forma, pode- gurança Alimentar e Nutricional (SI-
agrária como uma decisão política do
-se dizer que os números deste último SAN), por meio da Lei 11.346/2006,
estado para solucionar uma “questão
ano do governo Lula indicam que a re- com vistas a assegurar o direito do ser
agrária”, que entrava o desenvolvimen-
forma agrária mais uma vez não teve humano à alimentação adequada;
to da Nação”.
prioridade para o governo federal. A Assim, encerrado o pe- f ) fortalecimento e reestruturação da
reforma agrária que deveria ser enten- ríodo com o final do segundo mandato Companhia Nacional de Abastecimento
dida enquanto um projeto de nação e do presidente Lula, percebeu-se que (CONAB), tornando-se um órgão im-
de desenvolvimento sustentável se houve resultados claros na formação de portante para a comercialização de
transformou num precário programa de consumidores, contudo o mesmo não produtos oriundos da agricultura fami-
assentamentos, em nível muito aquém ocorreu na formação de cidadãos. liar;
das reais demandas dos homens e mu- Imensos são os desafios para que a
lheres do campo (CPT, 2011). g) fortalecimento do Programa Nacio-
migração que houve entre as classes
Porém, para o INCRA nal de Educação na Reforma Agrária
sociais não seja provisória. O fato po-
a política agrária brasileira melhorou (PRONERA), oferecendo cursos de
sitivo de poder consumir é apenas uma
muito nos últimos anos, uma vez que a educação básica (alfabetização e ensi-
parte da cidadania, que somente se
área incorporada ao programa de refor- nos fundamental e médio), técnicos
consolida por meio do acesso ao co-
ma agrária saltou de 21,1×10 6 ha de ter- profissionalizantes de nível médio e
nhecimento, à educação, à terra, às
ras obtidos entre 1995 e 2002 para cursos superiores e de especialização;
condições de nela produzir (CPT,
48,3×10 6 ha entre 2003 e 2010, signifi- 2011). h) combate ao trabalho escravo.
cando um aumento de 129%. Durante O governo Lula priori-
os dois mandatos do governo Lula o i) criação, em 2003, do Programa Luz
zou ações importantes, como:
número de famílias beneficiadas tam- para Todos, cujo objetivo é acabar com
bém aumentou totalizando 614.093 fa- a exclusão elétrica no país.
a) distribuição de renda através do
mílias assentadas. Bolsa Família, que é um programa de
Na avaliação de Ario- Esses são apenas al-
transferência direta de renda com con-
valdo Umbelino de Oliveira, da Uni- guns exemplos de ações bem sucedidas
dicionalidades, em benefício de famí-
versidade de São Paulo, os dados da durante o governo Lula no período de
lias que se encontram em situação de
reforma agrária do governo Lula não 2003 a 2010. Porém, quando se trata
pobreza e de extrema pobreza;
correspondem à realidade porque eles de reforma agrária no governo Lula há
somaram como assentamentos novos b) aumento na geração de emprego, muitas críticas em função deste gover-
áreas de regularização fundiária, áreas promovendo políticas de inclusão pro- no ter se dedicado em realizar ‘medi-
de reconhecimento de assentamentos dutiva que proporcionem a todos a au- das compensatórias’ em detrimento de

566 AUG 2013, VOL. 38 Nº 08


uma efetiva distribuição de terras. Tabela III
Apesar de algumas medidas terem sido Área (ha) e projetos de assentamentos implantados
transformadas em políticas públicas no Brasil em 2011 e 2012
permanentes, através de decretos assi- 2011 2012 Total
nados pelo ex-presidente, outras ações
podem ser extintas de uma hora para a Projetos Área (ha) Projetos Área (ha) Projetos Área (ha)
outra. 109 1.902.884 117 322.314 226 2.225.198

A Política de Reforma Agrária no Fonte: Adaptado de DT/Gab-Monitoria - Sipra em 24/07/2012. (INCRA, 2012).
Governo da Presidenta Dilma Roussef
(2011 até hoje)
ser colocada como uma das ações prin- pessoas, como saúde, educação, infor-
Percebe-se que há por cipais, pois sem mexer na estrutura mação, comunicação, etc. (Wanderley,
parte dos movimentos sociais, em es- fundiária altamente concentrada do 2011)
pecial o MST, pela CPT e por estudio- país, a possibilidade de acabar com a De Janvry y Sadoulet
sos da questão agrária no Brasil uma pobreza é muito pequena, uma vez que (2002), citado por Leite y Ávila (2007),
visão diferente sobre os objetivos da muitas dessas terras são utilizadas relacionam a reforma agrária com ou-
reforma agrária que o país deve adotar, como reserva de especulação e empre- tras formas de redução da pobreza.
além de haver o questionamento sobre gadas por transnacionais para gerar o Para os autores, a migração somente
os resultados da reforma agrária defen- lucro (Agência Brasil, 2011). Isto signi- desloca a pobreza rural para as cida-
didos pelo Governo Federal. Em virtu- fica que sem alterar a estrutura fundi- des, e os programas de transferência
de dessas diferentes visões há dúvidas ária não se altera também a renda, tão de renda, mesmo sendo facilmente ad-
sobre a possibilidade do governo da concentrada quanto a terra. ministráveis, não resolvem a questão
presidenta Dilma Roussef, do Partido “Muitas políticas bus- estrutural, principalmente em países
dos Trabalhadores, realizar a reforma cam compensar problemas causados com grande incidência de pobreza. As-
agrária no país. sobre as camadas de excluídos pelas sim, a reforma agrária e a pluriativida-
Em seu discurso de dinâmicas econômicas em geral, por de (propriedades rurais voltadas tam-
posse a atual presidenta Dilma afirmou exemplo, via transferência de renda, bém para atividades não agrícolas) são
que a prioridade das ações do governo condicionada ou não. No entanto, as vistas como políticas que poderiam re-
federal será para a erradicação da po- famílias não podem permanecer indefi- duzir expressivamente este problema.
breza extrema no país: “A luta mais nidamente na dependência desse tipo Torna-se importante ao
obstinada do meu governo será pela de auxílio. Apenas políticas universais atual governo a realização da reforma
erradicação da pobreza extrema e a combinando diversos instrumentos pos- agrária, enquanto um conjunto de medi-
criação de oportunidades para todos.” sibilitam um efetivo enfrentamento da das estratégicas de eliminação da con-
(Roussef, 2011). Contudo, nesse discur- pobreza e, mesmo, a erradicação da centração da propriedade da terra, ten-
so não houve nenhuma menção à refor- extrema pobreza.” (Maluf y Mattei, do como aliadas as políticas públicas já
ma agrária enquanto política capaz de 2011, p. 22). implementadas como o Programa Na-
contribuir para erradicação da pobreza. Sendo a erradicação da cional de Alimentação Escolar (PNAE),
Por esse fato, acredita- pobreza a prioridade do governo Dil- o PAA, o Luz para Todos, o PRONE-
-se que o governo Dilma dará conti- ma, não há dúvidas quanto ao espaço RA, o Pronater, entre outros. Ape-
nuidade às ações sociais implantadas do enfrentamento da pobreza rural nas a ação conjunta da reforma agrária
pelo governo Lula sem adentrar especi- (ambiente onde se observam os mais com as positivas experiências de políti-
ficamente na reforma agrária, uma vez altos índices de incidência da pobreza cas públicas instaladas é que se poderá
que: “A expectativa é que se possa, no brasileira) na estratégia para o cumpri- de fato erradicar a pobreza.
governo Dilma, avançar mais na refor- mento de tal fim. Nesse sentido, “um
ma agrária, embora os indícios iniciais No Brasil, segundo importante condicionante para o su-
sejam de que o tema está fora de pau- Wanderley (2011), a existência da po- cesso de reformas agrárias é aliar a
ta. Tanto no período eleitoral quanto breza (em muitos casos, da miséria distribuição de terras a um conjunto
no pós-eleitoral [mesmo no discurso de profunda) é resultado do próprio mode- de políticas que garantam a competiti-
posse], o tema da reforma agrária não lo de desenvolvimento implantado, que vidade dos seus beneficiários, o que
foi tratado. Historicamente, aliás, nós apoiou: a concentração fundiária que não ocorreu na maioria dos casos na
podemos afirmar que não temos um expropria, a tecnologia que desempre- América Latina. Nas reformas peruana
programa de reforma agrária. O que ga, as relações de trabalho que degra- e boliviana, os beneficiários não tive-
temos tido, ao longo da história brasi- dam o trabalhador e a urbanização que ram acesso a estas políticas, enquanto
leira, são programas de assentamento esvazia o campo. no caso mexicano, houve redução nos
porque a estrutura fundiária brasileira Nessa lógica a reforma investimentos públicos. No Chile, a
continua inalterada, ou seja, grandes agrária não pode ser excluída do deba- falta de acesso ao crédito levou parte
propriedades, alta concentração fundiá- te sobre o combate à pobreza, princi- do público atendido a vender suas ter-
ria, grandes investimentos no agrone- palmente quando se refere à pobreza ras. Uma importante lição seria, por-
gócio como forma de exportação de no campo, pois qualquer que se adote, tanto, a necessidade de se adotar polí-
commodities para equilibrar a balança a pobreza no campo é resultado da ca- ticas de desenvolvimento rural e regio-
de pagamentos.” (Agência Brasil, En- rência, ou acesso restrito e insuficien- nal, no sentido também de fomentar,
trevista Gilmar Mauro, 2011). te, dos recursos produtivos, principal- ou pelo menos não inibir, as ativida-
Porém quando se fala mente a terra e a água, bem como os des não-agrícolas correlacionadas aos
em erradicação da pobreza extrema ne- bens e serviços fundamentais que ga- assentamentos rurais” (Leite y Ávila,
cessariamente a reforma agrária deve rantam o bem estar e cidadania das 2007, p. 14).

AUG 2013, VOL. 38 Nº 08 567


Ao se fazer um balanço ficou foi a manutenção da desigualdade, postos de saúde, percebe-se que as fa-
sobre os dois primeiros anos (2011 e da concentração da terra e dos perfis mílias assentadas acreditam que suas
2012) de governo da presidenta Dilma de propriedade” (Nakatani et al., 2012, vidas melhoraram depois que entraram
verifica-se que a reforma agrária foi ex- p. 235). nos assentamentos, uma vez que pos-
cluída das estratégias para a erradica- Apesar do Brasil ainda suem a sua própria moradia, conseguem
ção da pobreza no país. No primeiro não ter realizado uma efetiva reforma colocar seus filhos na escola e podem,
ano deste governo, de acordo com da- agrária e sim uma política de assenta- ao menos, produzir para o seu próprio
dos do Incra, foram assentadas no mentos rurais, a perspectiva quanto ao sustento. Nesse sentido, a reforma agrá-
país 22.021 famílias e no segundo o nú- atual governo, cujo objetivo central de ria vem reafirmar ser uma política de
mero de famílias assentadas somou sua política está no combate à pobre- inclusão social.
23.075, tratando-se do menor índice re- za, era que se houvesse a sensibilida-
gistrado nos últimos 17 anos. Essa de para enxergar a reforma agrária Referências
constatação é reafirmada ao serem ana- como fundamental para cumprir tal
lisados os números de projetos de as- objetivo. A reforma agrária, apesar Agência Brasil (2011) Estrutura fundiária
sentamentos criados no primeiro ano dos limites das políticas públicas no brasileira continua inalterada. Entrevista
Gilmar Mauro, fevereiro 2011. www.mst.
deste governo (109 projetos), verifican- meio rural, aponta para a perspectiva org.br/node/11286 (Cons. 24/05/2011).
do-se que desde 1994 não havia um nú- do homem do campo ter seu próprio
Anjos FSd, Caldas NV (2003) A reforma
mero tão baixo. No segundo ano deste local de moradia, ter seus filhos estu- agrária na contramão: a controvertida ex-
governo a quantidade de projetos im- dando, trabalhar na sua própria terra, periência do Banco da Terra. Anais XLI
plantados também ficou aquém do espe- produzindo alimentos e gerando renda Congr. Brás. Economia e Sociologia Ru-
rado, somando apenas 117 projetos de para a família. Neste sentido, a refor- ral. 27-30/07/2003. Juiz de Fora, Brasil.
assentamentos. A extensão de terras de- ma agrária contribui para a erradica- CD-Rom.
dicadas aos projetos de assentamentos ção da pobreza. Antuniassi MHR, Aubrée M, Chonchol MEF-
de (1993) De sitiante a assentado: trajetó-
rurais nos primeiros dois anos do go- rias e estratégias de famílias rurais. São
verno Dilma também contou com nú- Considerações Finais Paulo em Perspectiva 7(3): 125-132.
meros bastante inferiores aos anos ante- Bergamasco SMPP, Norder LAC (1996) O que
riores (Tabela III). Ao fazer um balanço são assentamentos rurais? Vol. 1. Brasi-
O Incra faz uma aná- das duas últimas décadas sobre a refor- liense. São Paulo, Brasil 87 pp.
lise diferente sobre os dados. Para esse ma agrária brasileira, registra-se que Bergamasco SMPP, Blanc-Pamard C, Chon-
Instituto um dos fatores que explica a houve um incremento no número de as- chol ME (1997) Por um Atlas dos Assen-
diminuição no número de assentamen- sentamentos rurais e, conseqüentemen- tamentos Brasileiros: Espaços de Pesqui-
sa. Vol. 1. DL/Brasil. Rio de Janeiro,
tos no país é a queda na demanda, ha- te, da população assentada no Brasil, Brasil. 51 pp.
vendo hoje um número menor de famí- embora não se possa ainda constatar
Carvalho FJJde (2001) Política Agrária do Go-
lias acampadas comparado ao governo um reordenamento fundiário importan- verno FHC: desenvolvimento rural e a
do presidente Lula. De acordo com esse te. Mas, mesmo assim, os assentamen- Nova Reforma Agrária. Em Leite S (Org.)
Instituto há atualmente no Brasil cerca tos tornaram-se parte importante da re- Políticas Públicas e Agricultura no Bra-
de 150.000 famílias acampadas, número alidade rural brasileira. sil. Vol. 1. Ed. da UFRGS. Porto Alegre,
inferior ao das décadas de 1980 e 1990. A reforma agrária foi Brasil. pp. 193-223.
O fato é que ao olhar prometida em diversos governos, porém CPT (2011) 2010 foi o pior ano para a refor-
ma agrária. Jornal da CPT Comissão Pas-
os números referentes à reforma agrá- nenhum outro como o governo do ex- toral da Terra, janeiro 2011. www.mst.org.
ria, o governo Dilma registrou em sua -presidente Lula causou tanta expectati- br/2010 -foi-o-pior-ano-para-a-Reforma-
biografia uma marca, qual seja, o pior va em torno dessa questão. Ao final de -Agraria-afirma-CPT. (Cons. 24/04/2011).
desempenho desde o governo Cardoso oito anos de governo o que se viu foi a De Janvry A, Sadoulet E (2002). Land reform
na execução da reforma agrária no Bra- realização de uma política de assenta- in Latin American: ten lessons toward a
sil. Historicamente, através de governos mentos rurais e ‘políticas compensató- contemporary agenda. Em World Bank’s
autoritários e militares, ou por governos rias’ deixando a reforma agrária num Latin American Land Policy Workshop.
Pachuca, Mexico.
democráticos, a estrutura fundiária no segundo plano.
De Souza VF (2006) Assentar, Acampar e Or-
Brasil pouco foi alterada nos últimos 50 A prioridade do atual ganizar: Relações Sociais Constitutivas
anos (Nakatani et al., 2012). governo é erradicar a pobreza, para tan- de Capital Social em Assentamentos Ru-
“Após o fim da ditadu- to contará com a ação integrada de di- rais no Pontal do Paranapanema. Tese.
ra militar e a “democratização” da cena versos ministérios, atuando nas áreas Universidade Estadual de Campinas, Bra-
política nacional em 1985, seria de se econômica, social, ambiental. Atuará sil. 199 pp.
esperar que as forças populares e com dando ênfase nas políticas de transfe- Fernandes BM (2000) A questão agrária no
projetos sociais mais equitativos ocu- rência de renda, como uma medida limiar do século XXI. Anais 15º Encontro
Nacional de Geografia Agrária. 02-
passem espaços de decisões e viabili- imediata de retirada da população da 05/12/2011. Goiânia, Brasil. CD-Rom.
zassem a reforma. Em certa medida, condição de miséria, sem esquecer, no Fernandes BM (2006) Enumerando a reforma
essa foi a tentativa no Plano Nacional entanto, de outras medidas complemen- agrária. www.mst.org.br (Cons. 29/01/2006).
de Reforma Agrária de 1985 e na Cons- tares à erradicação da pobreza. Ferreira B, Silveira FG (2003) A reforma
tituição Federal de 1988. Entretanto, Pode-se concluir que a agrária e o Pronaf nos anos FHC (1995-
com a subsequente adesão ao modelo reforma agrária é uma política essencial 2002). Anais XLI Congr. Brás. Economia
neoliberal e a correlata erosão da cida- para ajudar na erradicação da pobreza, e Sociologia Rural. 27-30/07/2003. Juiz
dania, o que vimos foi justamente o pois com a real distribuição de terras, de Fora, Brasil. CD-Rom.
contrário: apesar do aumento da por- diminui-se também a concentração de INCRA (2010) Pesquisa confirma que reforma
agrária é um instrumento de combate à po-
centagem de terra cultivável disponível, renda. Apesar de haver precariedade em breza. Jornal. Ano 1, Nº 2. Dezembro. Publi-
de 26,7% do território nacional para muitos assentamentos já instalados cação Especial do Instituto Nacional de Colo-
31,3% entre 1980 e 2010, o que se veri- como falta de estradas adequadas, de nização e Reforma Agrária. Brasil.

568 AUG 2013, VOL. 38 Nº 08


INCRA (2012) Área Incorporada ao Programa de MDA/INCRA (2003) II Plano Nacional de Re- Sachs I (2004) Desenvolvimento: Includente, Sus-
Reforma Agrária. http://www.incra.gov.br/in- forma Agrária. Paz, Produção e Qualida- tentável e Sustentado. Garamond. Rio de Ja-
dex.php/reforma-agraria-2/questao-agraria/nu- de de Vida no Meio Rural. Instituto Nacio- neiro, Brasil. 151 pp.
meros-da reforma-agraria. (Cons. 02/02/2013). nal de Colonização e Reforma Agrária / Sampaio PA, Garcia Filho DP (s/d) Reforma agrá-
Kageyama A, Bergamasco SMPP, Oliveira JTAde Ministério do Desenvolvimento Agrário. ria e projeto de construção nacional. www.
(2011) Assentados e familiares no Censo Brasil. nead.gov.br/portal/nead/arquivos/download/
Agropecuário de 2006. Retratos de Assenta- MDA/INCRA (2005) Relatório de Gestão arquivo_55.pdf?file (Cons. 24/04/2011).
mentos 1: 31-74. Exercício de 2004. Instituto Nacional de Sauer S, Souza MR (2008) Movimentos sociais na
Colonização e Reforma Agrária / Ministé-
Leite SP, Ávila RV (2007) Reforma agrária e de- luta pela terra: conflitos no campo e disputas
rio do Desenvolvimento Agrário. Brasil.
senvolvimento na América Latina: rompendo políticas. Em Ferrante VLB, Whitaker DCA.
com o reducionismo das abordagens economi- Nakatani P, Faleiros RN, Vargas NC (2012) (Orgs.) Reforma Agrária e Desenvolvimento -
cistas. Rev. Econ. Sociol. Rural 45: 777-805. Histórico e os limites da reforma agrária Desafios e Rumos da Política de Assentamen-
na contemporaneidade brasileira. Serviço tos Rurais. MDA, Brasília; Uniara, São Pau-
Maluf R, Mattei L (2011) Elementos para
Social & Sociedade. Nº110 (Apr./Jun). São lo, Brasil. pp.53-87.
construção de uma agenda de políticas Paulo, Brasil. pp. 213-240.
públicas para o enfrentamento da pobreza Wanderley MNB (2011) Alcances e limites das po-
rural. Em Miranda C, Tiburcio B (Orgs.) Romeiro A et al. (Orgs.) (1994) Reforma Agrá- líticas de desenvolvimento rural para o comba-
Pobreza Rural: concepções, determinan- ria: Produção, Emprego e Renda. Vozes/ te a pobreza. Em Miranda C, Tiburcio B
tes e proposições para a construção de IBASE/FAO. Rio de Janeiro, Brasil. 280 pp. (Orgs.) Pobreza Rural: concepções, determi-
uma agenda de políticas públicas. Edição Roussef D (2011) Discurso de Posse www1.fo- nantes e proposições para a construção de
Especial Série Desenvolvimento Rural lha.uol.com.br/poder/853564-leia-integra- uma agenda de políticas públicas. Edição Es-
Sustentável. Vol. 1. IICA. Brasília, Brasil. -do-discurso-de-posse-de-dilma-rousseff- pecial Série Desenvolvimento Rural Sustentá-
pp. 15-26. -no-congresso.shtml. (Cons. 24/04/2011). vel. Vol. 1. IICA. Brasília, Brasil. pp. 105-107.

OUTCOME OF THE AGRARIAN REFORM IN BRAZIL DURING THE LAST TWO DECADES
Vanilde F. de Souza Esquerdo and Sonia M. P. P. Bergamasco
SUMMARY

The agrarian reform allows for land redistribution and gi- Rural Landless Workers Movement, increasing the expectations
ves rural workers the opportunity to develop their life projects, in relation to the fulfillment of the agrarian reform. The advan-
rescuing the dignity of a historically excluded population. The ces in the policies of rural settlements are notable; however,
conquest of the land carries significances that span from the the structure of large-land estates remains unaltered. In the
rescue of citizenship to the improvement of living conditions last two years (2011 and 2012) the number of settled families,
due to the acquisition of goods, products and services. It is as well as the number of settlements accomplished, were the
pointed out that in Brazil there still exists a marked concen- worst since 2006. The priority of the current government is the
tration of large-landed estates. In this sense, this work had the eradication of extreme poverty and, in this sense, the agrarian
objective of analyzing the Brazilian agrarian reform process reform becomes an essential policy to contribute to such goal,
during the last two decades. In this period the country had since with the distribution of the property of the land also dimi-
three Presidents, two of them elected with the support of the nishes the concentration of wealth.

Balance sobre La reforma agraria brasilera en las dos últimas décadas


Vanilde F. de Souza Esquerdo y Sonia M. P. P. Bergamasco
RESUMEN

La reforma agraria posibilita la desconcentración de las tier- del Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST),
ras y le da oportunidad a los trabajadores rurales para que de- aumentando a expectativa en relación a la realización de la re-
sarrollen sus proyectos de vida, rescatando la dignidad de una forma agraria. Son notados los avances en la política de asen-
población historicamente excluida. La conquista de la tierra tamientos rurales, sin embargo la estructura de latifundios del
posee significados que van desde el rescate de la ciudadanía país permaneció inalterada. En los dos últimos años (2011 y
hasta la mejora de la condición de vida por la adquisición de 2012) el número de familias asentadas, así como el número de
bienes, productos y servicios. Se observa que en Brasil todavía asentamientos implantados, fueron los peores desde 2006. La
hay una fuerte concentración latifundiaria. En ese sentido, este prioridad del actual gobierno es la erradicación de la pobreza
trabajo tuvo por objetivo analizar el proceso de reforma agra- extrema, en este sentido la reforma agraria se convierte en una
ria brasilera durante las dos últimas décadas. En ese período política esencial para contribuir con ese proyecto, una vez que
el país tuvo tres gobernantes, dos de ellos electos con el apoyo con la distribución de la propiedad de la tierra, se disminuye
también la concentración de la riqueza.

AUG 2013, VOL. 38 Nº 08 569

Você também pode gostar