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Introdução........................................................................................p. 4
Capítulo I -– Agronegócio, modernização e desnacionalização no campo
Brasil, o país do latifúndio e da pobreza no campo..........................p. 6
A contrarreforma agrária dos governos petistas..............................p. 6
O agronegócio no Brasil e a modernização da agricultura................p.8
A modernização capitalista no campo..............................................p. 8
O Brasil como fornecedor de alimentos, energia e
matérias-primas para o mundo ....................................................... p. 9
O agronegócio subjuga a agricultura familiar...................................p. 11
Domínio estrangeiro no campo brasileiro........................................p. 12
Capítulo II - Governo Dilma apadrinha o agronegócio via BNDES....................... p. 13
O setor sucroalcooleiro no Brasil e em São Paulo............................p.15
O que está por trás da crise das usinas na safra 2011/2012?...........p.17
Os donos da cana: o domínio multinacional do setor........................p.19
Os principais grupos e seu faturamento.............................................p. 21
A exploração dos trabalhadores e do povo:
cana não traz desenvolvimento social ................................................p. 23
As dívidas seculares dos usineiros da cana com o Brasil....................p. 24
A “crise” da citricultura brasileira e o oligopólio multinacional.........p. 28
Capítulo III - Por uma campanha nacional em defesa da reforma agrária,
do assalariado rural e dos pequenos produtores!............................... p.30
1
Apresentação
Este texto é produto da discussão entre a Federação dos Empregados Rurais
Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP) e a Central Sindical e Popular (CSP-
Conlutas), com apoio e participação importante do Instituto Latino-Americano de
Estudos Socioeconômicos (ILAESE). Pretende-se dar subsídio para uma melhor
compreensão da real situação do campo brasileiro e, com isso, municiar as organizações
de trabalhadores do campo e também da cidade, para reforçar a luta da classe
trabalhadora em defesa de uma verdadeira Reforma Agrária no país, que privilegie a
produção de alimentos para todo o povo brasileiro e os interesses dos trabalhadores do
campo, preservando o meio ambiente.
Pretende-se com este texto ajudar a que se dissemine esta discussão em todas as
dimensões da vida da sociedade brasileira. Nas fábricas e em todos os locais de trabalho
e moradia, nas escolas, universidades, nos parlamentos e nas casas legislativas, nas
igrejas e um longo etcetera. É preciso criar um debate crítico na sociedade para que
possamos reunir força para pressionar os governantes a promoverem uma profunda
mudança, uma verdadeira inversão de valores nas políticas para o campo aplicadas hoje
no país.
Vivemos-se em um dos países mais privilegiados do mundo em termos de potencial e
capacidade de produção de alimentos. Existem terras boas e em grande quantidade, e
água e clima favoráveisl, o que permitiria ao Brasil produzir não só alimentos não só
para todo o povo brasileiro, como também para ajudar a alimentar irmãos de outros
países. No entanto, atualmente contam-se aos milhões o número de pessoas que não tem
como que se alimentar digna e diariamente. Importa-se feijão da China, e os preços dos
alimentos são “acusados” (corretamente, aliás) de alimentar a inflação; enquanto as
terras férteis - ao invés de serem utilizadas para produzir mais alimentos, e assim baixar
os preços -são utilizadas para produzir soja (exportada para a Europa para servir como
ração de gado) ou açúcar e etanol nas grandes usinas de São Paulo, Minas Gerais e do
Nordeste!
Os Trabalhadores Sem-Terra continuam a vagar aos milhões pelo país, vivendo em
acampamentos em beira de estrada em busca de um pedaço de terra onde possam
trabalhar e produzir alimentos1. Já o assalariado agrícola, que trabalha para as grandes
empresas do agronegócio, é submetido a uma exploração extrema, com baixos salários e
condições de trabalho absolutamente precárias. A situação dos Sem-Terra contrasta com
a imensidão de terras (boa parte griladas, poisem sua maioria eram terras públicas que
1
Cerca de 70% dos alimentos consumidos no país vêm da pequena produção.
2
foram griladas) concentradas nas mãos dos latifundiários e das grandes empresas do
agronegócio. A miséria em que vive o empregado rural contrasta com a imensa riqueza
acumulada pelos donos das empresas onde trabalham; controladas, em sua maioria, por
grandes grupos capitalistas estrangeiros.
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situação que se vivencia na atualidade; e a partir da qualpara sepoderemos avançar na
construção de uma outra realidade no campo brasileiro. Uma luta que venha somar-se às
demais que se travam nopor todo o país, contra toda forma de exploração e de opressão,
por uma sociedade justa, igualitária e socialista.
José Maria de Almeida,
São Paulo, setembro de 2014
O Brasil é o segundo país com maior concentração de terras do mundo. Perde apenas
para o Paraguai. Além disso, estima-se que cerca de 5 milhões de camponeses pobres
não tenham acesso à terra. A população rural do Brasil é de 30 milhões de pessoas e
mais da metade é composta de pobres e de miseráveis. A renda média do trabalhador
rural é de 80% do salário-mínimo3.
São quase três milhões de famílias de camponeses 4 que estão na pobreza absoluta, com
renda familiar mensal de meio salário-mínimo. Contando seis pessoas por família, tem-
se um contingente de 18 milhões de pobres no campo5.
4
A Contrarreforma agrária dos governos petistas
Havia muita esperança do povo brasileiro de que o PT no governo garantiria justiça no
campo, distribuindo terra e oferecendo condições para plantar e colher aos milhões de
pobres ruraisdo campo. Porém, Lula e Dilma continuaram a obra de Fernando Henrique
Cardoso, privilegiando o grande agronegócio, moderno, latifundiário e multinacional
em detrimento dos milhões de Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Observe o gráfico.
Nos últimos dez anos, não houve avanços em termos de reforma agrária. Nos últimos dez
anos, se ampliou a concentração da propriedade da terra. E pior, concentrou-se inclusive
nas mãos de empresas de fora da agricultura e do capital estrangeiro. O governo Dilma
não conseguiu nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão acampadas,
algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por tanto, o governo
Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do agronegócio, que produz,
ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e aumenta a pobreza no campo7.
Por ser um setor-chave na economia brasileira tem sido a prioridade dos governos
petistas: ostenta crescimento com índices chineses nos últimos 10 anos. A colheita de
grãos da safra 2012/2013 foi um recorde, cerca de 186 milhões de toneladas, segundo as
estimativas da CONAB. E 2014 promete ser melhor. O rendimento da produção
agropecuária, principal setor do agronegócio, saltou de R$ 182 bilhões, em 2003, para
R$ 394 bilhões, em 2013. Um crescimento de 10,5% ao ano desde a chegada do PT ao
governo federal8.
7
Entrevista com João Pedro Stédile concedida ao jornal ABCD MAIOR em 13 de dezembro de 2012.
8
Fonte: ABIA 2013.
5
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (ABIA), o faturamento
do setor cresceu 12% em 2012 e 12% em 2013. Portanto, as grandes empresas do setor
estão ganhando rios de dinheiro. Conforme a Revista Exame, Maiores e Melhores 2014,
em 2013 as 400 maiores empresas do agronegócio somaram um faturamento de R$ 536
bilhões e lucros de R$ 10 bilhões, um crescimento de 43% frente ao ano de 2012.
A onda neoliberal que varreu o mundo no final do século passado transformou o Brasil.
Em 20 anos o país foi se ”especializando” na extração e na produção de produtos
primários enquanto a China se convertia na “fábrica” do mundo. A participação do
Brasil no comércio mundial representa apenas 1% do total. Mas em contrapartida o país
já representa 7% do comércio mundial de alimentos. O Brasil já é o segundo maior
exportador de alimentos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos; e também
conta com a maior área disponível para a expansão da atividade agrícola, conforme a
ONU.
6
taxa de mais de 2% ao ano, marca superior à verificada em países como: a China (1,8%),
a Índia e a Argentina (1,5%), os Estados Unidos e o Canadá (0,8%).
Cada vez se torna mais difícil produzir estes itens porque os custos da terra e da
produção são altíssimos, determinados em uma competição com grandes multinacionais
que têm todo o crédito do mundo. Assim, vê-se aumentar vão aumentando as
importações de produtos da cesta básica do brasileiro, comcomprados base ema preços
deo mercado internacional. Com a perda da soberania nacional, perde-se a soberania
alimentar.
Ao mesmo tempo eEm 2013, em relação ao volume de terras cultiváveis, a produção da
cana-de-açúcar ocupou 10,5 milhões de hectares (15%) enquanto a de soja ocupou 27
milhões de hectares (55% do total).
9
http://www.carosamigos.com.br/index.php/economia-2/4186-as-multinacionais-que-controlam-o-agronegocio
7
Em 2006, segundo o último Censo Agropecuário, existiam no Brasil 4,4 milhões de
pequenas propriedades rurais com menos de 100 hectares, sendotendo a maioria delas
com menos de 10 hectares. Este total está subdividido da seguinte forma: sete de cada
10dez pequenos proprietários são pobres ou miseráveis, com renda mensal abaixo do
salário mínimo. Três de cada 10dez são de “classe média”, com renda média mensal de
aproximadamente R$ 3 mil, e sobrevivem produzindo ou arrendando terras para o
agronegócio.
Nesta situação de pobreza, sem ajuda do governo e com crédito limitado, dependendo
dos atravessadores e das grandes redes de supermercado para comercializar seus
produtos, é impossível competir com o grande agronegócio multinacional. O
agronegócio desarticula a agricultura camponesa e subordina a pequena propriedade,
obrigando-a a trabalhar para os ricos. Generaliza-se o arrendamento de terra do pequeno
proprietário ao grande agronegócio, prendendo o camponês ao capitalista, através do
endividamento e da dependência, pela falta de alternativas. Por isso, a área ocupada
pelas pequenas propriedades não para de cair: diminuiu de 9,9 milhões de hectares para
7,7 milhões de hectares entre 1985 e 2006, uma; área equivalente a 200 mil
propriedades de 10 hectares.
Somente a cultura da soja ocupa uma área de lavoura três vezes maior que toda a área
ocupada por 2,4 milhões de famílias camponesas, que possuem propriedades com menos
de 10 hectares. No entanto, a agricultura familiar, ainda de acordo com o censo de 2006,
produziu cerca de 70% dos alimentos consumidos no país, empregando 74% dos
trabalhadores rurais. Na agricultura camponesa, em cada 100 hectares, trabalham 15
pessoas. No agronegócio, a cada 100 hectares gera-se emprego para apenas duas pessoas.
Porém, com alto grau de mecanização, insumos agrícolas, crédito farto e terra à vontade,
o agronegócio pode alcançar uma produção de 1000 toneladas por operário enquanto a
pequena produção familiar, sem crédito nem insumos e com pouca terra, muitas vezes
alcança uma produção de 1 tonelada por pessoa10.
O crédito para a agricultura familiar é de cerca de 10%, enquanto o agronegócio fica com
90% dos financiamentos, informasegundo informe do próprio Banco Central. Assim, é
impossível concorrer. É completamente desleal. Esta é a fonte da quebra e da
subordinação da pequena propriedade em aodetrimento do agronegócio multinacional.
De pouco adianta distribuir terra para o camponês pobre se isto não fizer parte de um
plano global que conectea todo o complexo agroindustrial com a produção camponesa.
A produção para o autoconsumo é a reprodução da miséria. Por isso,É por esta razão
que o projeto de Reforma Agrária baseado apenas na distribuição de terra aos
Trabalhadores Rurais Sem-Terra está em crise o projeto de Reforma Agrária baseado na
distribuição de terra aos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.
8
brasileiro ou a pequena produção camponesa se subordinará ao agronegócio;, fenômeno
que já está ocorrendo. Por isso, não se pode analisar osa agricultuoraes familiares como
um grupo homogêneao. Ao contrário, dentre estes, os camponeses pobres se alinharão
com os assalariados rurais e os operários da cidade para lutar contra a burguesia,
enquanto um setor de pequenos proprietários se passará para o lado do agronegócio,
como já ficou patente na batalha do Código Florestal Brasileiro, em que boa parte dos
pequenos produtores do Rio Grande do Sul estava com o agronegócio.
O capital nacional, que era dono de 90% dos negócios, ou se tornou um sócio
minoritário no negócio ou se converteu em mero gerente do capital multinacional. Isto
se passou com grandes nomes da agricultura e do comércio, como as famílias: Biagi,
Junqueira e Rezende Barbosa, ou Abílio Diniz.
9
empresas são de capital nacional e mesmo estlas já contam com capital internacional na
sua carteira, como é o caso da ETH Bioenergia e da BRFoods.
“Ganhando as eleições, vou levantar as dívidas dos usineiros no Banco do Brasil e vou desapropriar
as terras deles para fazer assentamentos11.” 12
11
Ver a edição do jornal Gazeta Mercantil de 1º de Setembro de 1998, p. A10.
12
Ver a edição do jornal Gazeta Mercantil de 1º de Setembro de 1998, p. A10.
10
"Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do agronegócio neste
país, estão virando heróis nacionais e mundiais13.”14
13
Presidente Lula chama usineiros de heróis - da Folha Online - 20/03/2007 - 20h08.
14
Presidente Lula chama usineiros de heróis - da Folha Online - 20/03/2007 - 20h08.
15
Fonte: TSE.
11
Este peso econômico do setor terminaacaba influenciando as decisões políticas. Em 30
de março de 2012 foi aprovado umo projeto de lei 687/2011, por influência do
governador Geraldo Alckmin, que regularizou as propriedades de até 450 hectares no
Pontal do Paranapanema. Tal decisão transferiu a maior parte das terras da região aos
usineiros, que ocuparam terras do Estado e agora foram beneficiados. Trata-se deÉ uma
grande transferência de muita renda para os ricos, pois o hectare está valendo uma
fortunamuito valorizado no Estado. O governador Nnão forami tão rápidos para garantir
terra para 4 mil famílias que se encontram nos acampamentos existentes à beira das
estradas do Pontal do Paranapanema.
Quando há Se fosse uma ocupação de terra ou urbana, como foi o caso do Pinheirinho
em São José dos Campos, a PM seriaé usada para “cumprir a lei” e expulsar os
trabalhadores. QMas quandto se trata de grandes usineiros, muda-se a lei para
legalizarregularizar a situação desses grileiros, que ocuparam ilegalmente terras do
Estado.
De acordo com uma pesquisa16, nas cidades paulistas em que mais se desenvolveu o
agronegócio entre 1990 e 2008 verificou-se um aumento da pobreza e o acirramento da
luta de classes. Por isso, a luta no campo nunca parou durante todo este período no
Estado de São Paulo: entre 1988 e 2009 ocorreram 1.312 ocupações de terra com 193
mil famílias. Os usineiros buscam desarticular a luta no campo cooptando os pequenos
agricultores e assentados para produzir cana-de-açúcar para eles e desta forma
desarticular a luta de classes, dividindo os camponeses e assalariados agrícolas.
Além disso, o avanço da cana vai deixando um rastro de mortes e mutilações noem seu
caminho. Entre 2004 e 2007, morreram 21 trabalhadores na região de Ribeirão Preto - ,
São Paulo, por excesso de esforço durante o corte da cana. A vida útil de um cortador de
cana varia de 10 a 15 anos, semelhante à dos escravos negros no período escravocrata.17.
O censo agropecuário de 2006 mostrou que o avanço do agronegócio paulista
expulsou cerca de 440 mil pequenos agricultores de suas terras no Estado de São
Paulo, já que o censo de 1985 indicava a existência de 1.357.113 pequenas
propriedades e identificou apenas 914.954 em 1995. O ataque aos pequenos agricultores
está diretamente ligado ao aumento dos lucros do agronegócio, já queO o setor
16
Estudo aponta crescimento da pobreza com avanço do agronegócio em SP - ;matéria publicada em 27 de
setembro de 2012 no Valor Econômico.
17
http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/07/art1-2008-2.pdf
12
sucroalcooleiro utiliza 72 mil pequenos produtores na produção de cana-de-açúcar como
forma de baratear os custos de produção.
Junto com a concentração da terra nas mãos dos usineiros, a mecanização das lavouras
de cana está originando a acabando com perda de milhões de postos de trabalho dos
assalariados agrícolas. Estima-se que a mecanização da colheita já alcançachega a 75%
em São Paulo e nas usinas das multinacionais já há 100% de mecanização. Em menos
de 20 anos houve um salto espetacular na mecanização do plantio e da colheita da
cana, expulsandoresultando na expulsão de 180 mil cortadores de cana. Uma
máquina pode colher até 1.000 toneladas de cana por dia, podendo substituir uma
centena de trabalhadores.
Esta desaceleração da economia vai impulsionar a quebra das usinas endividadas, assim
como a concentração da terra nas mãos dos usineiros e a mecanização do plantio e da
colheita da cana, gerando desemprego em massa. No período de bonança no setor, que
18
Uma referência às altas taxas de crescimento da economia chinesa nas últimas décadas (N. do E.).
13
veiodurou de 2006 a 2010, foram abertas 87 novas usinas. Desde 2011 já fecharam 44 e
há ameaças de se fecharemfechamento de mais 60 usinas no próximo período.
Somente em 2010, o BNDES forneceu R$7,4 bilhões para aliviar o setor,; e durante os
oito anos do governo Lula, o total de empréstimos obtidos pelos usineiros chegou a
R$28,2 bilhões. A grande choradeira que a qual estamos escutandoos usineiros estão
fazendo tem como objetivo de evitar o pagamento de suasas dívidas milionárias destes
usineiros, conseguindo o perdão do BNDES, o que vem ocorrendo desde a ditadura
militar e foi manteve-semantido nos governos do PT.
As dívidas do setor pularam de US$ 7 bilhões em 2006 para US$ 25 bilhões em 2011,
conforme a revista Exame, ocasionando fusões e aquisições e uma diminuição dos
investimentos no setor, o que provocouprovocando a queda da produção de: cana,
açúcar e etanol.
A venda de etanol, que em 2008 e 2009 havia superado a venda de gasolina no Brasil,
começou a cair e a boa remuneração do açúcar no mercado internacional levou as usinas
a priorizarem a produção de açúcar em detrimento do etanol.
Fonte: Conab, UNICA e ANP
19
A “rolagem” é a prática de adiar o pagamento de uma dívida através da troca dos títulos vencidos da
dívida inicial por títulos novos, com um prazo de pagamento maior. Geralmente é feita através do
entrega de novas garantias ou de maiores dividendos aos credores (N. do E.).
20
Derivativos são instrumentos financeiros, negociados nas bolsas de valores, que derivam de outras matrizes; são
expectativas de concretização de um negócio no mercado futuro.
14
Isto levou o Brasil a importar 1 bilhão de litros de etanol dos EUA, pela primeira vez,
em 2011. Para um setor que era a redenção do país e apontava empara ser o maior
produtor de energia “limpa” do planeta esse revés foi um duro golpe. Também levou a
uma queda forte na safra de 2011/2012, em todos os seus pressupostos, menos no
crescimento da área de cana plantada21. Em 2013 já tivemos uma recuperação da
produção de cana, etanol e açúcar, superando os recordes de 2010. Um estudo do Itaú
BBA indica também que houve um crescimento de 10% em 2014 nesse setor.
Fonte: UNICA, ALCOPAR, BIOSUL, SIAMIG, SINDALCOOL, SIFAEG, SINDAAF, SUDES e MAPA.
A decisão das usinas produzirem cana para exportação ao invés de etanol custou muito
caro ao povo brasileiro, já que se foiviu obrigado a importar US$ 4,5 bilhões de
gasolina em 2011 e 2012.
Doze grupos estão em ótima situação e devem absorver as empresas em crise. Está se
formando uno setor um oligopólio no setor.
21
Relatório final da safra 2011/2012 - Região Centro-Sul – ÚNICA, maio- 2012.
15
setoraumentaram ainda mais sua dominação no setor, compassando a uma capacidade
de moagem de 184 milhões de toneladas de cana.
2005/2006 2
0
1
0/
2
01
1
Os grandes grupos transnacionais são os verdadeiros ganhadores deste jogo. Por isso, há
o choro de um setor falido que podetenta ganhar do governo o perdão de suasas dívidas
e ser comprado por multinacionais, sem pagar os direitos dos trabalhadores. Ou seja, na
perda, quer ganhar de todos os lados.
16
DiMaio Ahmad), Abengoa (Espanha), Adecoagro (do grupo Soros, EUA/Argentina),
ADM (EUA), BrazilEthanol (EUA), British Petroleum (Inglaterra), Bunge (EUA),
Cargill Inc (EUA), Clean Energy (Inglaterra), Glencore (Suíça), InfinityBio-Energy
(Inglaterra e outros, controlado pelo Bertin), Louis Dreyfus (França), Mitsubishi
(Japão), Mitsui (Japão), NobleGroup (China), ShreeRenukaSugars (Índia), Sojitz
Corporation (Japão), Sucden (França), Kuok (China), Tereos (França) e Umoe
(Noruega).
A ETH, joint venture da japonesa Sojitz e grupo Odebrecht e que conta com o
BNDES como sócio com 16% das ações, apresentou um prejuízo de R$ 793 milhões na
safra encerrada em 31 de março de 2012. Porém, este prejuízo é contábil, pois joga
como custo todas as aquisições de usinas que tem feito.É interessante analisar dados
desta empresa já que reproduz o que acontece em todas:
“O setor está em fase de reestruturação, e as pequenas empresas estão dando lugar a grandes corporações,
que investem em greenfield22 na mecanização, gerando mais e melhores empregos. Por nos instalarmos
em novas localidades, recebemos incentivos fiscais de alguns estados para a implantação de usinas dentro
de suas fronteiras. No ano safra 2010-2011, a ETH recebeu R$ 1,5 bilhão em forma de incentivos fiscais,
divididos entre seis unidades23”.
Houve uma retomada dos lucros das 40 maiores empresas do agronegócio brasileiro em
2013, que alcançou quase R$ 10 bilhões, 43% mais que em 2012.
22
Geralmente qualificados no mercado financeiro como investimentos em projetos ainda inconsistentes, que
podem, inclusive, vir a ser de ordem puramente especulativa.
23
Balanço 2011 da ETH Bioenergia. p. 19
17
A exploração dos trabalhadores e do povo: cana não traz
desenvolvimento social
O setor é composto por cerca de 400 indústrias, 70 mil fornecedores de cana, quase 1
milhão de trabalhadores diretos e áreas de canaviais que se espalham por 15 milhões
de hectares no Brasil.
Para cada emprego direto são utilizados dois trabalhadores em regime temporário para o
plantio e colheita da cana. Cada colheitadeira substitui 120 cortadores de cana e
emprega entre oito e 10 trabalhadores no corte mecanizado. Entre 2007 e 2010 houve
uma queda de 21% do pessoal ocupado de forma temporária no corte da cana. Em 2011
foram reduzidos a 170 mil trabalhadores.
24
Dados fornecidos pelo estudo: Monopólio da produção do etanol no Brasil: A fusão Cosan-Shell.Carlos Vinicius
Xavier, Fábio T. Pitta e Maria Luisa Mendonça. Outubro, 2011
18
Em 2008 foi constatado, em uma fiscalização do MTE: “falta de água potável nos
locais de trabalho, falta de equipamento de proteção individual, falta de lugar propício
para alimentação, ausência de banheiros na lavoura, entre outros”. Outros casos de
irregularidades também foram constatados:são: trabalhadores sem registro em carteira,
sem dias de folga, e contrataçõesão irregulares por meio de “gatos”25.
"A comparação de holerites permite aferir que a terceirização dá-se com precarização, eis
que os salários dos trabalhadores registrados pela empresa terceirizada correspondem, em
média, a apenas 63% do salário pago pela Raízen", demonstra o procurador26.
“O montante de recursos aplicados pelo Proálcool, desde sua criação, foi de US$ 10,5
bilhões, sendo US$ 5,9 bilhões (56%) financiados por recursos públicos e o restante
oriundos dos próprios empresários”. (Ricci, 1994:64).
25
“Gatos” são agenciadores de mão de obra rural temporária, responsáveis por obter trabalhadores,
transportá-los até a lavoura e controlar seu trabalho. Graças à intermediação dos “gatos”, as grandes
empresas evitam de contratar diretamente os trabalhadores rurais, se livrando dos encargos
trabalhistas e outras responsabilidades (N. do E.).
26
A ação foi protocolada na 3ª Vara do Trabalho de Araraquara e aguarda julgamento (Jornal de Araraquara,
21/4/12)
19
Mais adiante diz que:
“Com base nos dados e indicações disponíveis, pode-se estimar que o montante de
subsídios explícitos e implícitos nos financiamentos setoriais aos tradicionais e novos
produtores de cana de açúcar e de álcool, no período de 1975 a 1989, tenha chegado a
US$ 500 milhões anuais.”
Com o fechamento do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) se perdoou uma dívida dos
usineiros que correspondia a US$ 2,4 bilhões. DepoisMais adiante, o professor
complementa dizendo que
Há também as renegociações e perdões das dívidas antigas, realizadas pelo governo Lula.
No jornal Folha de São Paulo de 28 de maio de 2008, no caderno de economia (p. B1),
consta a matéria: “Pacote do governo envolve R$ 75 bi em dívidas que podem ser
renegociadas ou abatidas com desconto de até 80%.”E no jornal O Estado de São Paulo
de 17 de abril de 2009 consta a seguinte matéria: “Dívida das usinas é de R$ 40 bi”,
sendo que R$ 28 bilhões eram dos usineiros paulistas.
20
201327.Depois de tudo isso, esse dinheiro vai direto para o grande usineiro
multinacional e não diminuirá o preço dos produtos.
O governo federal também pretende renegociourenegociar as dívidas de 500 mil
produtores rurais, cujo valor chega a R$ 11,5 bilhões, através da lei 12.788/12, de
janeiro de 2012. As dívidas serão descontadas entre 33% a 70% do valor das
dívidas. Assim, o governo busca aliviar a situação de endividamento de parte das
empresas do setor, como podemos vervisualiza-se no gráfico abaixo.
UmaTrata-se de uma situação complicada, em que a dívida supera em três vezes o lucro
operacional em 2012. Note-se que as cinco melhores empresas têm lucro superior às
dívidas enquanto as cinco piores empresas têm dívidas sete vezes superiormaiores
aoque seu lucro operacional anual. Isto é, tem situação falimentar. Porém, uma análise
mais apurada mostra que o lucro operacional das empresas (margem EBITDA 28) foi de
30% do faturamento, sendo que as grandes tiveram um lucro operacional de 42% do
faturamento. Isto significa que os trabalhadores estão produzindo bem na usina,
porém,mas que as dívidas financeiras e os gastos com apostas especulativas estão
quebrando as empresas.
Resumindo a análise das firmas do setor, realizado pelo Itaú BBA, chegamos ao
seguinte quadro conclui-se que:
a) Grupos que estão ótimos: 12 grandes grupos com pleno acesso ao capital, com
capacidade de moagem de 232 milhões de toneladas de cana, representando 36%
das usinas do Centro-Sul do país.
b) Grupos que estão muito bem: 30 empresas nacionais com excelente
performancedesempenho operacional e endividamento adequado, com
capacidade de moagem de 185 milhões de toneladas de cana, representando 29%
das usinas do Centro–Sul.
c) Grupos em recuperação e muito endividados: 26 grupos, com capacidade de
moagem de 105 milhões de toneladas de cana, representado 16% das usinas do
Centro-Sul.
d) Grupos em situação falimentar: altamente endividados que vão ser comprados
ou vão fechar. Representam 18% das usinas do Centro-Sul.
27
Extraído de: http://www2.planalto.gov.br/imprensa/noticias-de-governo/governo-anuncia-medidas-de-incentivo-
para-setor-sucroalcooleiro-e-industria-quimica
28
Da sigla em inglês: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, que corresponde em português
a: Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
21
Ou seja, 35% dos grupos do setor sucroalcooleiro do Centro Sul estão “mal das pernas”,
sendo que dois em cada 10 grupos estão falidos e vão ser engolidos pelos grupos em
melhor situação financeira.
Todo o parque sucroalcooleiro custou muito ao povo brasileiro. Sua estatização sob
controle dos trabalhadores rurais e do povo só pagaria a grande dívida social que os
usineiros têm com o país.
Quem está provocando esta crise é um oligopólio de três empresas multinacionais que
dominam o setor: a Cutrale (fornecedora da Coca-Cola mundial), a Louis Dreyfus e a
Citrosuco (união do grupo holandês Fischer com a Votorantim).
EssasAs indústrias estão deixando de comprar a laranja dos produtores e passando elas
mesmas passaram a produzir metade das suas necessidades. Com isso, pressionam o
preço do produto para baixo, quebrando os pequenos produtores de laranja. O custo de
uma caixa de laranja de 40 quilos é de cerca de R$ 12,00. Porém, a indústria oferece
apenas R$ 7,00, sendo que o preço no supermercado atinge cerca de R$ 20,00.
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A expectativa da CONAB para a safra de 2013/2014 é deque tenhahaverá um
excedente de 6 milhões de caixas de 40 quilos de laranja que não serão compradas.
O que significa deixar laranja apodrecendo no pé, para que não baixe o preço do
produto. É a expressão da barbárie da produção capitalista. São três grandes
multinacionais determinando que se estrague alimento para manter o preço internacional
alto, enquanto milhões de brasileiros não podem consumir suco de laranja. Na safra de
2011/2012, 10% da laranja produzida se perdeu.
Destaca-se também que estas três empresas são responsáveis por mais de 90% do
mercado da laranja. Este cartel é responsável pela expulsão dos pequenos produtores do
setor. Também é responsável prelopelo brasileiro quase não consumir suco de laranja, já
que prefere exportar suco para os Estados Unidos e para a Europa por uma preço maior,
enquanto despeja refrigerante – preferencialmente Coca-Cola - na mesa dos brasileiros.
Além de forçar a saída de pequenos produtores, um estudo do IEA, aponta que foram
fechadosessas empresas fecharam em torno de 25 mil postos de trabalho em São Paulo.
Essas empresas tampouco respeitam os direitos trabalhistas. A Cutrale foi processada
pelo MPT por realizar descontos salariaisl abusivos, por demitir uma funcionária
grávida, por atrasar o pagamento de salários etc. A Cutrale, ainda, está sendo processada
por utilizar mão de obra terceirizadaa terceirização de mão-de-obra na colheita da
laranja, comatravés de falsas cooperativas, para flexibilizar os direitos trabalhistas,
reduzindo salários e, sonegando encargos.
29
Segundo a legislação brasileira, a formação de cartel é crime, e pode ser punida com uma multa que
varia entre 1 a 30% de seu faturamento bruto no ano anterior ao processo (N. do E.).
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CHEGA DE PRIVILÉGIO AO LATIFÚNDIO E AO AGRONEGÓCIO
MULTINACIONAL!Chega de privilégio ao latifúndio e ao agronegócio
multinacional!
É preciso formar uma nova geração de lutadores, que entenda a natureza das
transformações ocorridas no campo brasileiro, no espírito da luta de classes, da
soberania nacional em ruptura com o domínio das multinacionais e pela transformação
social.
O balanço dos últimos 20 anos de luta pela Reforma Agrária demonstrou que só
rompendo com o modo de produção capitalista se conseguirá mudar o modelo do
agronegócio. Nenhum governo ou empresário promoverá esta mudança radical no
campo brasileiro. A Reforma Agrária e o fim da fome no país só serão possíveis como
resultado de uma luta que unifique os assalariados rurais, os pequenos produtores rurais
e os trabalhadores da cidade.
O balanço dos últimos 12 anos demonstrou que não se conseguirá romper com o
agronegócio sem romper com o governo de Frente Popular, que consolidou, financiou e
protegeu o novo modelo agroindustrial no país em oposição ààs custas da Reforma
Agrária.
Por isso,
- Fim da tTerceirização na cContratação de mão- de- obra rural por parte de Uusinas e
dDestilarias e/ou companhias agrícolas anexas;
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- Fim do Ssistema de Mmetas, adotando-se um sistema/cronograma de participação dos
trabalhadores nos lucros das empresas;
- Que rompa sua união com os usineiros e obrigue o agronegócio a respeitar o operário
agrícola, o pequeno produtor, a natureza e a soberania nacionais;
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produzir alimentos sadios, sem agrotóxicos, para a população 30. Indicar-se-á aoPela
indicação ao governo das usinas inadimplentes, devedoras do fisco e com pendências
trabalhistas e exigirápor sua estatização pelo Governo Federal.
- Que estatize o cartel da laranja (Cutrale, Louis Dreyfus e Citrosuco), dentro do plano
global de Reforma Agrária e de garantia de alimentos baratos para a população pobre.
Que garanta a compra antecipada de toda a produção dos pequenos produtores de
laranja.
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da estatização do agronegócio, funcionando sob controle dos operários agrícolas,
- e a pequena produção camponesa, organizada em cooperativas. É preciso
começar resgatando o saber do campo e a experiência secular do povo;
- A terra não pode ser alienada nem arrendada, nem passada de herança, pois
será um bem público;
- As definições das formas do usufruto da terra, como o tamanho dos lotes, por
exemplo, serão decididas por congressos de operários agrícolas e pequenos
produtores locais e suas organizações;
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6. Suspender o pagamento dos juros e amortização da dívida interna com os
grandes bancos para financiar a Reforma Agrária. Hoje o país gasta cerca de
R$ 900 bilhões com especuladores e banqueiros, para rolar a dívida interna
pública, que está exaurindo toda a riqueza do Brasil. A maior parte dos títulos
desta dívida está nas mãos de grandes bancos internacionais e nacionais. Toda
esta riqueza deve ser revertida para o desenvolvimento do Brasil e dos
trabalhadores, em ruptura com o imperialismo e a burguesia nacional.
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CONTRACAPA VERSO
Sugestões de excertos
(...)
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“Ganhando as eleições, vou levantar as dívidas dos usineiros no Banco do Brasil e vou
desapropriar as terras deles para fazer assentamentos.”
"Os usineiros de cana, que há dez anos eram tidos como se fossem os bandidos do
agronegócio neste país, estão virando heróis nacionais e mundiais”
(...) “O açúcar e o álcool no Brasil estão banhados de sangue, suor e morte”, afirma a
pesquisadora Maria Cristina Gonzaga, da Fundacentro, um órgão do Ministério do
Trabalho. Os relatos de câimbra generalizada no corpo, seguida de morte, em razão de
esforço excessivo no trabalho, causou pelo menos 21 mortes nos canaviais paulistas
entre as safras de 2004 e 2007, segundo denúncias do Serviço Pastoral do Migrante em
Guariba.
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