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Índice

Introdução ......................................................................................................................................... 1
Desenvolvimento ................................................................................................................................ 2
CAPÍTULO I ..................................................................................................................................... 2
Disposições gerais .............................................................................................................................. 2
A participação e monitoria dos intervenientes no processo da delimitação comunitária ................ 5
A da delimitação utilizada ................................................................................................................. 6
Parcerias ............................................................................................................................................ 8
Resultados alcançados ....................................................................................................................... 8
O impacto........................................................................................................................................... 9
Comunidade local .............................................................................................................................. 9
Lições aprendidas ............................................................................................................................ 10
Constrangimentos ............................................................................................................................ 11
Posição sobre o artigo 35, do Regulamento da Lei de Terras ......................................................... 12
Conclusão......................................................................................................................................... 15
Referências Bibliográficas ............................................................................................................... 16
Introdução
Este trabalho tem como objecto de abortar o seguinte tema como: A nova lei de terra em
Moçambique surgiu em 1997 e desde então um número significativo de comunidades rurais
reforçou o seu direito de uso e aproveitamento da terra. Este é uma vitória, um marco social e
histórico, digno de registo e apreciação, jamais visto na história contemporânea, desde a
Conferência de Berlim onde o continente africano foi divido para melhor ocupar e governar.

Apesar deste progresso em Moçambique, o desenvolvimento rural não tem sido um processo
pacífico. O conceito actual, tem atribuído o papel de liderança ao sector privado que tem ocupado
lugares-chave na agricultura empresarial de escala, onde se apoia a economia rural. Camponeses,
comunidades locais e a população rural em geral são vistos como fornecedores de mão-de-obra e
parceiro para ter acesso à terra, recursos naturais e excedente da produção agrícola. O trabalho está
estruturado nas seguintes formas: Índice, Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e Referências
Bibliográficos.

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Desenvolvimento
LEI DE TERRAS Lei no 19/97 De 1 de Outubro

Como meio universal de criação de riqueza e do bem estar social, o uso e aproveitamento da terra
é direito de todo o povo moçambicano.

O desafio que o país enfrenta para o desenolvimento, bem como a experiência na aplicação da Lei
6/79, de 3 de Julho, Lei de Terras, mostram a necessidade da sua revisão, de forma a adequá-la à
nova conjuntura política, económica e social e garantir o acesso e a segurança de posse de terra,
tanto dos camponeses moçambicanos, como dos investidores nacionais e estrangeiros.

Pretende-se, assim, incentivar o uso e aproveitamento da terra, de modo a que esse recurso, o mais
importante de que o país dispõe, seja valorizado e contribua para o desenvolvimento da economia
nacional.

Nestes termos e ao abrigo do preceituado no no 1 do artigo 135 da Constituição, a Assembleia da


República determina:

CAPÍTULO I
Disposições gerais
ARTIGO 1

(Definições)

Para efeitos da presente Lei, entende-se por:

1. Comunidade local: agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa circunscriação

territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de interesses comuns através
da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestas, sítios
de importância cultural, pastagens, fontes de água e áreas de expansão.

2. Direito de uso aproveitamento da terra: direito que as pessoas singulares ou colectivas e as


comunidades locais adquirem sobre a terra, com as exigências e limitações da presente Lei.
3. Domínio público: áreas destinadas à satisfação do inetresse público.
4. Exploração florestal: actividade de exploração da terra visando responder às necessidades
do agregado familiar, utlizando predominantemente a capacidade de trabalho do mesmo.

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5. Licença especial: documento que autoriza a realização de quaisquer atividades económicas
nas zonas de protecção otal ou parcial.
6. Mapa de uso da terra: carta que mostra toda a ocupação da terra, incluindo a localização da
actividade humana e os recursos naturais existentes numa determinada área.
7. Ocupação: forma de aquisição de direito de uso e aproveitamento da terra por pessoas
singulares nacionais que, de boa fé, estejam a utilizar a terra há pelo menos dez anos, ou
pelas comunidades locais.
8. Pessoa colectiva nacional: qualquer sociedade ou instituição constituída e registada nos
termos da legislação moçambicana com sede na República de Moçambique, cujo capital
social pertença, pelo menos em cinquenta por cento a cidadãos nacionais, sociedadese ou
instituições moçambicanas, privadas ou públicas.
9. Pessoa colectiva estrangeira: qualquer sociedade ou instituição constituída nos termos de
legislação moçambicana ou estrangeira, cujo capital social seja detido em mais de
cinquenta por cento por cidadãos, sociedades ou instituições estrangeiras.
10. Pessoa singular nacional: qualquer cidadão de nacionalidade moçambicana.
11. Pessoa singular estrangeira: qualquer pessoa singular cuja nacionalidade não seja
moçambicana.
12. Plano de exploração: documento apresentado pelo requerente do pedido de uso e
aproveitamento da terra, descrevendo o conjunto das actividades, trabalhos e construções
que se compromete a realizar, de acordo com determinadocalendário.
13. Plano de uso da terra: documento aprovado pelo Conselho de Ministros, que visa fornecer,
de modo integrado, orientações para o desenvolvimento geral e sectorial de determinada
área geográfica.
14. Plano de urbanização: documento que estabelece a organização de perímetros urbanos, a
sua concepção e forma, parâmentros de ocupação, destino das construções, valores
patrimoniais a proteger, locais destinados à instalação de equipamento, espaços livres e o
traço esquemático da rede viária e das infra-estruturas principais.
15. Propriedade da terra: direito exclusivo do Estado, consagrado na constituição da República
de Moçambique, integrando, para além de todos os direitos do proprietário, a faculdade de
determinar as condições do uso e aproveitamento por pessoas singulares ou colectivas.

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16. Requerente: pessoa singular ou colectiva que solicita, por escrito, autorização para uso e
aproveitamento da terra ao abrigo da presente Lei.
17. Titular: pessoa singular ou colectiva que o direito de uso e aproveitamento da terra.

ORAM é uma organização de carácter associativo que congrega camponeses e pessoas


comprometidas com a causa camponesa, cuja razão de ser é a defesa dos direitos e interesses dos
mesmos, cujo seu objectivo geral é Fortalecer o protagonismo dos camponeses e a sua capacidade
de promover estratégias de posse e uso sustentáveis da terra e dos recursos naturais e a missão se
define em Defender os direitos e interesses dos camponeses, contribuindo para o desenvolvimento
associativo e comunitário, com vista a assegurar a posse e o uso.

O processo de titulação do direito de uso e aproveitamento da terra inclui parecer das autoridades
administrativas locais, precedido de consultas às comunidades, para efeitos de confirmação de que
a área está livre e não tem ocupantes. Lei de Terras 19/97, Cap. II, Artigo 13, Nr. 3.2.

Áreas de intervenção e da Sensibilização

sobre os direitos das comunidades locais definidos na legislação da terra, florestas e fauna bravia
e ambiente e sobre a importância das delimitações/demarcações no Cadastro Nacional de Terras;

Lobby e advocacia;

Delimitação/demarcação das áreas comunitárias;

Elaboração de plano de uso de terras e recursos naturais comunitários (está é uma nova área
temática de intervenção);

Mediação de conflitos de terra e recursos naturais;

Promoção do associativismo e de cooperativas de camponeses.

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A participação e monitoria dos intervenientes no processo da delimitação comunitária
Os pedidos das delimitações comunitárias são manifestados pelas próprias comunidades às
autoridades governamentais e a delimitação comunitária efectuada, de acordo com o Anexo
Técnico do Regulamento da Lei de Terras que orienta o processo das delimitações comunitárias.
Este é um processo complexo que exige rigor na participação, controlo e monitoria de todos os
intervenientes nomeadamente, as comunidades locais (líderes tradicionais, religiosos, autoridades
governamentais locais, redes de trabalho existentes, instituições consuetudinárias e outros actores).
Todos devem estar envolvidos na identificação e na tomada da decisão sobre a prioridade das
acções a serem levadas a cabo Desde o início do processo da delimitação, as comunidades locais,
autoridades governamentais, redes de trabalho existentes, instituições consuetudinárias e outros
actores têm estado fortemente envolvidos nas sessões de planeamento, na definição e decisão de
meios prioritários/ou recursos a serem envolvidos nas actividades a serem levadas a cabo. E isto
oferece uma grande oportunidade a todos os actores para desempenharem um papel importante na
troca de experiências, discussão dos assuntos, definição de prioridades, negociações e tomada de
decisão nos acordos com todos os intervenientes.

O método utilizado pela ORAM nas delimitações das terras comunitárias, baseado no Manual de
delimitação de terras comunitárias, aprovado pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento
Rural em 1999, encoraja a participação de todos os grupos das comunidades locais e os programas
de trabalho são concebidos de modo a focalizar o aumento da consciência das mulheres nas
questões relacionadas com os seus direitos à terra e recursos naturais. Na constituição dos G9s, a
representação feminina mínima é de 30%, o que dá maior espaço às mulheres na discussão e
tomada de decisões sobre a integração dos seus interesses relacionados à terra e recursos naturais
nos planos de desenvolvimento comunitários.

Depois das sessões de planeamento, os dados de monitoria e as informações são avaliadas e o


feedback é regularmente dado a todos os intervenientes e beneficiários do projecto. E também se
usa um método participativo onde os membros das comunidades, autoridades locais, redes e outros
intervenientes no processo contribuem com as suas opiniões sobre o progresso do projecto
(realizações, lições aprendidas, constrangimentos e desafios).

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A da delimitação utilizada
Desde a introdução da actual Lei de Terra em Moçambique a ORAM desenvolveu, testou e
implementou uma metodologia de trabalho com as comunidades locais que consiste na
sensibilização sobre os direitos das comunidades locais definidos na legislação da terra, florestas
e fauna bravia e ambiente e sobre a importância das delimitações/demarcações no Cadastro
Nacional de Terras.

A sensibilização é um tipo de educação cívica sobre os direitos dos camponeses do sector familiar
sobre terra e recursos naturais é parte inicial do processo da delimitação que envolve a participação
activa dos líderes comunitários, residentes das comunidades-alvo e comunidades vizinhas na
identificação e descrição dos limites das áreas, onde eles residem ou ocupam há mais de 10 anos,
e são fonte de produção e sobrevivência. Além dos direitos das comunidades locais sobre a terra,
a sensibilização tem também focalizado o impacto da prática do cultivo insustentável tais como
derrube de árvores, queimadas descontroladas, desflorestamento e a exploração descontrolada dos
recursos naturais.

Depois da sensibilização segue-se a fase do mapeamento do perímetro da comunidade, em consulta


com os residentes mais antigos, comunidades vizinhas e autoridades locais. De seguida faz-se a
constituição e aprovação ou reconhecimento oficial da estrutura da comunidade que é constituída
por nove membros (G9s) compostos por mulheres e homens, entre “anciãos” e jovens, que assinam
em nome da comunidade local. Este órgão também serve como ponto focal de diálogo e
disseminação de aspectos de uso da terra e dos recursos naturais dentro da comunidade e de
contacto com o governo, concessionários e outros actores de desenvolvimento.

Terminada a fase de sensibilização, segue-se para a fase de diagnóstico rural participativo (DPR).
Aqui são também registadas as potencialidades da comunidade em termos de recursos naturais
disponíveis e as formas de utilização e gestão, o historial e a organização social. Todos os membros
da comunidade são envolvidos neste exercício; eles são formados em grupos de mulheres, homens
e jovens. Cada grupo esboça o mapa da comunidade procurando reflectir na medida do possível
todas as características da sua área. Os mapas dos grupos são discutidos e traduzidos num único
mapa da comunidade com os interesses dos seus membros e características reflectidas. A seguir
faz-se o registo das coordenadas com ajuda do GPS. Disputas de limites de comunidades e de
interesse podem e levantam-se em forma de conflitos e são resolvidas.

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certificados de Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) seja entregue à comunidade

Depois das actividades de campo, a ORAM prepara o dossier completo de pedido da delimitação
formulado pela comunidade e encaminha-o para os Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro
(SPGC) para ser autorizado. Dependendo da dimensão da área da comunidade e sobretudo com a
alteração do Artigo 35 do Regulamento da Lei de Terra, o pedido pode ser autorizado pelo
Governador da Província ou pelo Ministro de Agricultura ou ainda pelo Conselho de Ministros.
Uma vez autorizado o pedido, é emitido o respectivo certificado de (DUAT) que é de seguida
entregue à Comunidade numa cerimónia na qual tomam parte SPCG, governo do distrito,
autoridades locais, a ORAM, parceiros, líderes e membros da comunidade em causa.

As comunidades rurais, reconhecem e definem o processo de sensibilização e delimitação de terras


comunitárias, como uma nova forma de libertação e gestão própria dos seus recursos com o olhar
fito no desenvolvimento local usando os seus próprios recursos.

CAPÍTULO III

(Direito de uso e aproveitamento da terra)

ARTIGO 10

(Sujeitos nacionais)

1. Podem ser sujeitos do direito de uso e aproveitamento da terra as pessoas nacionais, colectivas
e singulares, homens e mulheres, bem como as comunidades locais.

2. As pessoas singulares ou colectivas nacionais podem obter o direito de uso e aproveitamento da


terra, individualmente ou em conjunto com outras pessoas singulares ou colectivas, sob a forma
de co-titularidade.

3. O direito de uso e aproveitamento da terra das comunidades locais obedece aos princípios de
co-titularidade, parar todos os efeitos desta Lei

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Parcerias
O processo de delimitação, propicia a participação das comunidades de forma organizada no
processo de parcerias comunitárias. São poucas as que foram alcançadas até ao momento, aliás o
registo das mesmas e inexistente, porém podemos mencionar algumas existentes que criaram
alguma mais valia para as comunidades delimitadas. A partilha do recurso terra para pasto e
floresta para combustível lenhoso com alguns investidores está dando resultados positivos nas
comunidades Trepano e Mucelo Novo no Distrito de Nicoadala, apenas para dar alguns exemplos.
A criação de cooperativas de produtores de arroz na Zambezia e Nampula proporcionou a parcerias
de fornecimento regular do produto em lojas e supermercados nas grandes cidades. E outros
poucos exemplos podem ser verificados algumas zonas do País. Porém, a falta de acordos práticos
justos e juridicamente aceites entre as comunidades e investidores ainda é um desafio permanente
que mina o desenvolvimento sustentável das mesmas comunidades".

Resultados alcançados
Em geral, as comunidades delimitadas conhecem os seus direitos definidos na legislação da terra,
florestas e fauna bravia, ambiente entre outras. Também têm conhecimentos dos benefícios que
obtêm a partir do uso e aproveitamento da terra e dos outros recursos naturais, particularmente as
florestas e turismo. Elas podem desenvolver projectos agrícolas, explorar as árvores manualmente
para fabricar e vender carvão e tábuas nas carpintarias que estão emergindo em pequenas empresas
podem também colher mel através de colmeias melhoradas em associações. Elas podem também
praticar olaria a partir das reservas de argila. Igualmente, podem estabelecer parcerias para facilitar
a comercialização dos seus produtos agrícolas. Nesta área elas ainda precisam de ter o domínio
das técnicas de produção melhorados e dos esquemas de comercialização onde o valor
acrescentado retorna a favor do produtor.

Na área da delimitação comunitária, ao total, a ORAM apoia a delimitação de 191 comunidades


locais, equivalente a 4.078.156,15 hectares, reforçando deste modo os direitos de 860.956
camponeses, incluindo mulheres, homens, crianças e velhos. Nas comunidades delimitadas, os
camponeses conhecem seus direitos e são capazes de se defender de qualquer ocupação ilegal ou
forçada de outras pessoas externas. Grande parte destas comunidades têm as suas áreas registadas

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no Cadastro Nacional de Terra, mas algumas ainda não estão registadas, por causa da alteração do
Artigo 35 do Regulamento da Lei de Terra.

A extensão das áreas comunitárias para a delimitação das mesmas é definida de acordo com o
número 1 do artigo 1, capítulo 1 da legislação sobre terras. Qualquer outra interpretação ou de
certificados de Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT) seja entregue à comunidade.

O impacto
O impacto é evidente nas condições de vida das comunidades rurais. Há indicação de melhoria das
condições de vida dos camponeses apesar notar-se que as 20% das taxas de florestas que retornam
às comunidades terem a tendência de criar pequenas elites em detrimento da maioria e ainda notar-
se que alguns membros do governo local têm interferido na gestão e obtenção destes fundos. As
estatísticas gerais concernente ao índice de pobreza, taxa de mortalidade são reportadas como
estando a melhorar significativamente, apesar da elevada taxa de infecção do HIV com influência
para a redução da taxa de esperança de vida em Moçambique.

A segurança alimentar e o rendimento familiar também se estabilizaram na maioria das


comunidades delimitadas devido a introdução de culturas de rendimento como o gergelim e o
girassol. Como a segurança de vida é a questão principal, os membros destas comunidades estão a
usar as suas terras livremente e não têm medo de perde-las a qualquer momento. As mulheres e
outros grupos marginalizados estão a desenvolver a auto-estima e auto-confiança no acesso seguro
às suas terras e recursos naturais. Eles estão a aumentar os seus campos de cultivo, o que lhes dá
mais oportunidades de aumentar a sua segurança alimentar e o rendimento familiar. Tanto que
estas (mulheres) já são aceites pelos homens para fazerem parte dos conselhos consultivos assim
como de gestão dos recursos naturais assumindo postos de responsabilidade.

Comunidade local
agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa circunscrição territorial de nível de
localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de interesses comuns através da protecção de áreas
habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio, florestais, sítios de importância
cultural, pastagens, fontes de água e áreas de expansão.

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ARTIGO 24

(Comunidades locais)

1. Nas áreas rurais, as comunidades locais participam:

a) na gestão dos recursos naturais;

b) na resolução dos conflitos;

c) no processo de titulação, conforme o estabelecido no no 3 do artigo 13 da

presente Lei;

d) No exercício das competências referidas nas alíneas a) e b) do no 1 do presente

artigo, as comunidades locais utilizam, entre outras, as normas e práticas costumeiras.

Lições aprendidas
Quando as comunidades locais assumem como donos de um processo de desenvolvimento local,
elas identificam-se com ele, participam activamente e responsabilizam-se pela execução dos
projectos concernentes.

As sensibilizações comunitárias e a delimitação das suas áreas fazem parte do processo de


desenvolvimento comunitário e, portanto, abrem espaços para o aumento das capacidades dos
camponeses do sector familiar sobre os seus direitos definidos na legislação da terra e recursos
naturais, criando condições de parcerias em seu benefício.

Para assegurar a gestão mais activa e participativa no processo de desenvolvimento comunitário


local, os projectos precisam de ser levados a cabo colocando as comunidades rurais a apropriarem-
se deles e a assumirem como donos e condutores do processo.

Quanto mais aumenta a consciência das autoridades governamentais sobre a defesa dos direitos
dos camponeses definidos na legislação, aumentará mais o seu cometimento e compromisso no
registo das áreas comunitárias, na monitoria e acompanhamento do processo de desenvolvimento
rural.

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Precisamos de explorar na sua plenitude a legislação sobre terras, pois esta ainda oferece
alternativas viáveis e inclusivas para o desenvolvimento rural, além de que cria um amplo campo
de parceria entre os investidores e comunidades rurais.

Mas, infelizmente, ainda alguns membros do governo se mostram menos receptivos a este
processo, enquanto outros compartilham com os esforços da ORAM e de outros parceiros no
reforço da segurança do direito da posse, uso e aproveitamento da terra e recursos costumeiros.

Constrangimentos
Desde a alteração do Artigo 35 do Regulamento da Lei de Terra em outubro de 2007, o processo
de delimitação das comunidades locais encontra-se estagnado com muitas comunidades à espera
de certificados oficiosos de direito de uso e aproveitamento da terra. Por outras palavras, nenhuma
comunidade local recebeu certificado de uso e aproveitamento da terra, desde a alteração do Artigo
35. Esta situação não só retardou o processo das delimitações comunitárias, como também está a
pôr em causa a sustentabilidade do direito legal das comunidades locais e a comprometer o
crescimento económico das comunidades rurais. Neste contexto, também está a pôr em causa as
metas especificas de cada projecto o que complica o relacionamento e o cumprimento a prazo entre
as ONGs e os financiadores, pois o certificado é a prova viva das metas alcançadas (o processo
final).

Como constrangimento neste processo, nota-se um novo tipo de conflitos como o de Tensão no
relacionamento entre a comunidade representada pelo Conselho de gestão dos RN e os privados
resultante das consultas mal conduzidas pois são restringidas a um grupo específico que giram a
volta da pessoa do régulo ou do governo local.

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Posição sobre o artigo 35, do Regulamento da Lei de Terras
Com a entrada em vigor da Lei de Terras, a Lei no 19/97, de 1 de outubro, as Comunidades Locais
passaram a ser tratadas como entidades jurídicas a quem lhes foi reconhecido o direito “natural”
que elas têm sobre as terras comunitárias. Com efeito, sendo a comunidade local um dado
sociológico anterior ao surgimento do Estado, era lógico que a elas lhe fosse reconhecido o direito
que elas ocupam enquanto um aglomerado de pessoas que, de forma homogênea, apresentam
interesses comuns sobre a respectiva terra comunitária.

É assim que a Lei de Terras determina que as comunidades locais adquirem o direito de uso e
aproveitamento da terra (DUAT) por ocupação. O significado jurídico da aquisição do DUAT por
ocupação é que a atribuição deste direito às comunidades locais é feita directamente por lei e não
por via de intermediação de nenhum acto administrativo a praticar pela Administração Pública.

Portanto, com a aprovação da Lei de Terras em 1997, as comunidades locais adquiriram


automaticamente e por via legislativa o DUAT, ou seja, e seguindo de perto o pensamento do Prof.
José Oliveira Ascensão, o DUAT das comunidades locais sobre a terra é uma posição jurídica
absoluta, na medida em que ela independemente de qualquer relação jurídica; resultando tal
posição de simples aplicação directa da lei aos pressupostos de facto nela fixados com a
consequente combinação legal de reconhecimento do DUAT comunitário.

Com o objectivo fundamental de evitar conflitos de terra e de facilitar a própria administração da


terra, bem como o desenvolvimento local, a Lei criou a figura de Delimitação das Áreas
Comunitárias, que culmina com a emissão e o registo do título do DUAT das comunidades locais.
Juridicamente, a Delimitação das Áreas Comunitárias é um processo declarativo de um direito já
existente. Por outras palavras, quando a Administração Pública delimita uma área comunitária não
está a atribuir nenhum direito à comunidade local, pois este direito já foi atribuído por lei. Limita-
se a administração a declarar para todos os efeitos jurídicos a existência do DUAT sobre uma
determinada área, ou conforme escreve Maria Conceição Quadros, “O despacho do Governador
da Província não é de autorização, mas apenas de reconhecimento do direito, já que este é adquirido
por efeito da ocupação”.

É por isso que, no meu entender, a alteração feita ao artigo 35 do Regulamento da Lei de Terras,
bem como a Circular no 009/DNTF/09, de 16 de Outubro de 2007, restringem o direito

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comunitário atribuído por acto normativo de valor superior, violando desse modo o princípio da
hierarquia das leis.

Com efeito a exigência de que as comunidades locais devem passar a requerer a delimitação das
áreas comunitárias, instruindo o seu pedido acompanhado de um “documento contendo os
objectivos para os quais as comunidades locais pretendem com tais áreas” é manifestamente ilegal,
na medida é que os objectivos para que existe uma comunidade local já se encontram estabelecidos
pela Lei de Terras, no artigo 1. “a comunidade local...visa a salvaguarda dos interesses comuns
através da protecção das áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam cultivadas ou em pousio,
florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de água e áreas de expansão”.

Por isso, a lei já fixou os objectivos visados pela comunidade local e a delimitação da terra
comunitária não pode exigir a existência de um documento que indique os objectivos da
comunidade, pois ela não pode ter outros senões os definidos por lei. E mais, a sujeição do processo
de delimitação das áreas comunitárias ao formalismo processual semelhante ao da autorização,
quanto à matéria de competências, em resultado da al. d) do artigo 35 do Regulamento da Lei de
Terras, em função extensão das áreas onera e torna mais difícil o exercício do direito de
delimitação das terras comunitárias. Na verdade, dizer que a comunidade local deve apresentar
documento contendo objectivos, está-se a exigir um plano de exploração da terra comunitária e daí
pode inferir-se que se a comunidade não cumprir tal plano corre o risco de perder a terra
comunitária. E isso é um contrassenso.

O procedimento de delimitação das terras comunitárias é um mecanismo criado para fortalecer a


segurança jurídica das terras comunitárias, bem como facilitar o formalismo processual de
titulação das terras comunitárias. Com a revisão do artigo 35 da Lei de Terras, ao qual se
acrescentou a al. d), passou a ser mais difícil às comunidades locais procederem ao reconhecimento
das áreas comunitárias. Em termos práticos, passou-se a dizer que na maioria dos casos, o pedido
de delimitação da terra comunitária de uma comunidade no interior do país deve passar a ser
decidido pelo Conselho de Ministros, sabido quão carregada é a agenda deste órgão governativo.

É prova disso o facto de que antes da entrada em vigor daquela alteração, estatisticamente a ORAM
conseguia delimitar várias terras comunitárias e após a entrada em vigor da al. d) do artigo 35 do
Regulamento da Lei de Terras não foram delimitadas. Estes dados mostram como as opções legais

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mais recentes põem em causa o dever de colaboração da Administração com os particulares, a que
se refere o artigo 8 do Decreto no 30/2001, de 15 de outubro.

Conforme o Conselho Constitucional já teve ocasião de pronunciar-se, a actividade


regulamentadora não pode inovar, introduzir aspectos não contidos no instrumento jurídico
regulamentado ou mesmo trazer conteúdos que restringem os direitos estabelecidos no instrumento
a regulamentar.

No caso em apreço, o artigo 35 da Lei de Terras, com a sua nova redacção, e sobretudo a Circular
no 009/DNTF/2007, de 27 de Outubro, contrariam o espírito da Lei de Terras, por tornar mais
difícil o exercício do direito de delimitação, bem como por tornar mais periclitante a situação
jurídica das comunidades locais, violando desse modo o princípio da legalidade das normas
jurídicas

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Conclusão
Chegando este conclusão, conclui-se que um dos maiores obstáculo criado pela alteração do Artigo
35 do Regulamento da Lei da terra, a ORAM em parceria com os Serviços Provinciais de Florestas
e Fauna Bravia e Cadastro, tem estado a tentar desenvolver uma metodologia de preparação de
planos de uso de terras comunitárias orientando as comunidades locais a desenharem os mapas
indicando áreas para habitação, infra-estruturas, machambas, reflorestamento e outros projectos
de investimento, etc. É importante salientar que os planos de Uso de terra não devem ser condição
para a obtenção do certificado de uso e aproveitamento da terra, mas sim como um complemento
depois da delimitação comunitária por forma a dar contributo ao Estado na gestão de terras
comunitárias.

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Referências Bibliográficas
• LEI DE TERRAS Lei no 19/97 De 1 de Outubro
• Documento de apresentação na reunião nacional sobre delimitação de terras comunitárias
Maputo, março de 2010

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