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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

CELSO HERCULANO MACARINGUE


DÉRCIO JOSÉ SALATO
FILOMENA DA SILVA JOÃO
JOÃO BERNARDO ALFAICA
RICHAD ANTÓNIO MANUEL
ZITO AUGUSTO OFINAR

Trabalho 1.

Quelimane

2024
CELSO HERCULANO MACARINGUE
DÉRCIO JOSÉ SALATO
FILOMENA DA SILVA JOÃO
JOÃO BERNARDO ALFAICA
RICHAD ANTÓNIO MANUEL
ZITO AUGUSTO OFINAR

Trabalho 1.

Trabalho em grupo submetido à Faculdade de Letras


e Humanidades - Universidade Licungo, Curso de
Licenciatura em Direito, como requisito para a
avaliação na disciplina de Direito Mineiro.

Docente: Prof. Doutora Celestina Moniz

Quelimane

2024
Trabalho I

1. Contextualize o Direito Mineiro, no mundo e em Moçambique.


Antes da Revolução Francesa, o Direito tinha uma divisão fragmentada em interesses
particulares, em suas classes, em sua matéria e em seus territórios. É fácil de compreender as
dificuldades e os conflitos resultantes dessa coexistência de sistemas normativos, dando lugar
a abusos e fraudes.
Não obstante suas íntimas relações com vários ramos do direito público e do direito
privado, pois recorre aos princípios do direito constitucional, do direito civil e,
principalmente, do direito administrativo, o certo é que o direito das minas, hoje em dia, pode
ser encarado como constituído e estruturado por um conjunto de princípios e normas que lhe
conferem características especiais, de independência e autonomia.
Neste sentido, afirma Galardoni que o direito das minas constitui o sistema orgânico
das disciplinas jurídicas que regulam a propriedade do subsolo e as actividades de exploração
das energias que lhe são inerentes1.
Há que se concordar que os princípios que regem a propriedade das jazidas e minas e
regulam as actividades de sua exploração e aproveitamento económico e industrial interessam
particularmente à administração pública, pois que lhe cabe a tarefa de incentivá-las,
discipliná-las e fiscalizá-las.
O direito mineiro em Moçambique é anterior ao período pós-independência, e com
fortes ligações, nos seus primórdios, ao direito de terras, porquanto eram nas disposições
sobre esta matéria em que se aportavam aspectos inerentes ao direito mineiro. Somente em
1986, com a aprovação da Lei de Minas (Lei n.º 2/1986, de 16 de Abril), é que começam a
surgir as primeiras indicações de previsão legal de matéria inerente ao direito mineiro, muito
por conta da pressão das instituições de Bretton Woods, no sentido de Moçambique mudar a
orientação da sua política económica e social.
No preâmbulo da Lei de Minas de 1986, destaca-se a preocupação do governo com a
contribuição que este sector daria ao Estado, principalmente no aumento de receitas via
exportação, na contribuição do Orçamento do Estado e no aprovisionamento de matérias-
primas à indústria nacional. A legislação define quatro formas de títulos mineiros,
nomeadamente: a) a licença de prospecção e pesquisa e b) as concessões mineiras, que são
destinadas para explorações mais complexas e atribuídas na sequencia de um contrato; c) o

1
Guimarães Menegale, Direito Administrativo e Ciência da Administração, 2' ed., vol. 3, pág. 273.
alvará de pedreira destinada a exploração de recursos minerais para a construção; e o d)
certificado mineiro atribuído para operações de pequena escala.
A Lei de Minas de 1986 reservava, em si, uma forte defesa aos interesses do Estado,
de tal modo que, nos termos do artigo 7.º da Lei em referência,
Quando o aproveitamento de determinados recursos minerais for considerado
de especial interesse para a economia nacional ou para o desenvolvimento da
região em que se situem, o Conselho de Ministro poderá determinar que a
atribuição de licença ou concessão para esses recursos minerais ou para os
mesmos recursos em certas áreas, fique reservada exclusivamente para
entidades estatais ou entidades a estas associadas

O exercício da actividade mineira sofria bastantes restrições, já que, nos termos


previstos no artigo 64 do Regulamento da Lei de Minas, aprovado pelo Decreto n.º 13/87, de
24 de Fevereiro, os detentores dos títulos de licença e concessão mineira devem exercer essa
actividade de forma a afectar o menos possível os direitos de utentes ou ocupantes da terra
situadas dentro das áreas sujeitas àqueles títulos mineiros. E, ainda, em caso de prejuízos
decorrentes da actividade mineira, ou a transferência dos utentes ou ocupantes da terra,
impunha-se, no artigo 67.º do Regulamento retro mencionado, a obrigação do titular
indemnizar os prejudicados e/ou os deslocados.
Com as transformações sociais, politicas e económicas, foi aprovada a nova Lei de
Minas (Lei n.º 14/2002, de 26 de Junho), na qual, entre outros, introduz, no n.º 1 do artigo 5.º,
mais duas formas de exploração mineira, nomeadamente a licença de reconhecimento e a
senha mineira.
A Lei de Minas de 2002, privilegia a exploração mineira nas formas de concessão
mineira e certificado mineiro. Os seus titulares têm o direito de usar e ocupar a terra e realizar
as actividades em regime de exclusividade.
Com o advento da reforma legislativa, ocorrida em 2014, foi aprovada a nova Lei de
Minas (Lei n.º 20/2014, de 18 de Agosto), denotando-se uma maior preocupação do Estado
com as famílias atingidas pelas actividades mineiras, sendo visível a preocupação com as
questões relacionadas com as dimensões sociais, económicas e culturais que afectam as
famílias atingidas por esses projectos.
Na Lei n.º 20/2014, de 18 de Agosto, assegura-se que para garantir que os direitos
dos expropriados das terras onde hajam sido atribuídas licenças de exploração mineira sejam
garantidos a justa indemnização, devendo constar num memorando de entendimento entre o
governo, a empresa e as comunidades atingidas, pressupondo, nos termos do artigo 31.º da
Lei em referência, o seguinte:
a) Reassentamento em habitações condignas pelo titular da concessão, em melhores
condições que as anteriores;
b) Pagamento do valor das benfeitorias nos termos da Lei de Terras e outra legislação
aplicável;
c) Apoio ao desenvolvimento das actividades de que depende a vida e a segurança
alimentar e nutricional dos abrangidos;
d) Preservação do património histórico, cultural e simbólico das famílias e das
comunidades em modalidades a serem acordadas pelas partes.

2. Descreva o Direito Mineiro na evolução constitucional moçambicana


O Direito Mineiro moçambicano ganhou as suas raízes logo na Constituição da
República Popular, de 1975. Veja-se, logo, no artigo 6.º daquela Constituição, ao determinar-
se que o Estado baseia-se principalmente na força criadora do povo e nos recursos
económicos do Pais, concedendo um apoio total à produção agrícola, promovendo o
aproveitamento adequado das empresas de produção e procedendo à exploração dos recursos
naturais. Fica assente aqui, que ao Estado é que procedia, directamente, a exploração dos
recursos naturais, entres eles os recursos minerais.
Aliás, não de estranhar que a mesma Constituição de 1975 preveja, no n.º 1 do artigo
8.º, que a terra e os recursos naturais existentes no solo e subsolo sejam propriedade do
Estado e que compete a esse Estado determinar as formas do seu uso e aproveitamento. O
artigo 9.º da Constituição em referência assevera ainda mais os interesses do Estado quanto a
exploração dos recursos minerais, ao dispor que compete a este promover a planificação da
economia, visando garantir o aproveitamento correcto das riquezas do País e a sua utilização
em benefício do povo.
Assim, na Constituição de 1975, mais do receber a protecção do Estado, a utilização
dos recursos naturais visava gerar benefícios para o povo, cuja responsabilidade pelo seu
desenvolvimento e expansão era partilhada por todos, conforme se extrai do disposto no n.º 2
do artigo 10.º da retro mencionada Constituição.
Por seu turno, a Constituição de 1990 veio reforçar o domínio público dos recursos
naturais existentes no solo e subsolo, conforme o n.º 1 do artigo 35.º. Nesta Constituição, o
Estado, conforme estabelecido no artigo 36.º, promove o conhecimento, a inventariação e a
valorização dos recursos naturais, continuando a determinar as condições do seu uso e
aproveitamento com salvaguarda aos interesses nacionais.
Embora a terra seja propriedade do Estado, o Estado consagra o direito de uso e
aproveitamento da terra como direito de todos os cidadãos (n.ºs 1 e 3 do artigo 46 da
Constituição de 1990), reconhecendo os direitos adquiridos por herança ou ocupação (artigo
48.º da Constituição de 1990).
Já na Constituição da República de Moçambique de 2004, revista em 2018, para
além de se asseverar que os recursos do solo e subsolo são propriedade do Estado, bem como
que este promove o conhecimento, a inventariação e a valorização dos recursos naturais
(artigo 102.º), acresce-se, na alínea h) do n.º 2 do artigo 98.º, que as jazidas minerais são bens
de domínio público do Estado.
No que se refere a exploração dos recursos naturais, estabelece o artigo 108.º da
CRM de 2004, que o Estado garante o investimento estrangeiro em todo território nacional,
com ressalva das áreas destinadas à propriedade ou exploração exclusiva do Estado.
As condições de uso e aproveitamento de terra (artigo 110.º da CRM de 2004), bem
como os direitos adquiridos por herança ou ocupação (artigo 111.º) prevalecem os mesmos
previstos na Constituição de 1990.

3. Identificar os instrumentos legais de protecção de direitos das comunidades das zonas


de exploração mineira à luz da legislação interna.
 Constituição da República de 2004 (revista em 2018): artigo 90.º e artigo 117.º.
 Lei de Minas (Lei n.º 20/2014, de 18 de Agosto): n.º 2 do artigo 12.º, artigo 30.º,
artigo 31.º, n.ºs 1 e 2 do artigo 32.º.
 Lei do Ambiente (Lei n.º 20/97, de 1 de Outubro): artigo 4.º, artigo 8.º, artigo 9.º,
artigo 15.º, artigo 16.º, n.º 1 do artigo 18.º, artigo 23.º, artigo 25.º, artigo 26.º, artigo
27.º e artigo 30.º.
 Decreto n.º 26/2004, de 20 de Agosto, Aprova o Regulamento Ambiental para a
actividade Mineira.
 Decreto nº 62/2006, de 26 de Dezembro de 2006, aprova o Regulamento da Lei de
Minas e seus anexos.
 Decreto n⁰ 31/2012, de 08 de agosto. Aprova o Regulamento sobre Reassentamento
Resultante de Actividades Económicas.
 Decreto nº 31/2015, de 31 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de Minas e
seus anexos.
4. A abundância dos recursos naturais, gera grandes expectativas de que sua exploração
responsável, possa servir para melhorar os serviços sociais de saúde, educação,
segurança, assim como as infra-estruturas, tais como escolas, hospitais, estradas, pontes,
habitações, entre outros, principalmente nas zonas de exploração.
a) Comente a afirmação, tendo em conta a problemática de observância dos direitos das
comunidades nas zonas de reassentamento.
Mais do que as expectativas geradas, é o facto de ter previsão legal que parte das
receitas da exploração dos recursos naturais devem beneficiar as comunidades locais, quer
através de construção de escolas, postos de saúda, estradas e outras infra-estruturas que
fundamentem a responsabilidade social dos exploradores desses recursos.
De igual modo, era expectável que o reassentamento das comunidades em áreas
distintas daquelas em que se encontrem propiciasse não só a construção de infra-estruturas
sociais, como também a construção de habitações para essas mesmas comunidades. Contudo,
o que assistimos é que, uma vez indemnizadas, não há qualquer preocupação no cumprimento
dos direitos dessas comunidades, ficando muitas vezes reféns da sua própria sorte.
O Regulamento sobre Reassentamento Resultante de Actividades Económicas,
aprovado pelo Decreto n⁰ 31/2012, de 08 de agosto, por exemplo, define como objectivo
central o desenvolvimento socioeconómico do país, negando-se às famílias, em nome do
desenvolvimento económico, a possibilidade de escolher se aceita ou não o processo de
reassentamento e as condições que considerem melhores para si neste processo. Os interesses
económicos do Estado, neste caso, parecem estar acima de outros valores, como é o caso da
manutenção e preservação da cultura que estas comunidades reassentadas terão criado nas
suas zonas de origem.
O processo de reassentamento, nos termos definidos no respectivo Regulamento,
impossibilita a participação das famílias atingidas e os membros da sociedade civil de
participarem da respectiva Comissão Técnica de Reassentamento, conforme a composição
prevista no artigo 6 do Regulamento retro mencionado. São convidados, no entanto,
indivíduos de reconhecido mérito, mas não representam, na essência, os interesses da
comunidade reassentada.

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