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Apresentação
I - Da Forma
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formulação e a aprovação da referida lei municipal. A Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho, internalizada pelo ordenamento jurídico brasileiro por meio
do Decreto 5.051/2004 e atualmente em vigor nos termos do Decreto 10.088/2019,
orienta os processos de Consulta Livre Prévia e Informada junto aos povos indígenas e
será retomada abaixo.
II - Do Conteúdo
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“os terrenos reservados são os que, banhados pelas correntes navegáveis, fora do
alcance das marés, vão até a distância de 15m para a parte de terra, contados desde o
ponto médio das enchentes ordinárias” – nesse aspecto, o Código de Águas manteve as
determinações da Lei nº 1.507/1867.
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razão da falta de uma política de controle sobre a onda crescente de ocupações
irregulares, prevalecendo a tese do fato consumado, os limites do referido parque foram
revistos, e estas áreas excluídas.
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Figura 1: Aterro sobre vegetação de área úmida para abertura de nova rua (seta) na
região da Praia do Sonho.
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O Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001) preconiza no seu artigo 4º, entre
outros instrumentos, o planejamento municipal, dando ênfase ao Plano Diretor e,
consequentemente, à disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo,
devendo está ser disciplinada via zoneamento ambiental. Como a Macrozona Turística
instituída pela Lei nº 4.847/2020 incide sobre área ambientalmente frágil e com trechos
sujeitos a inundação periódica, o zoneamento ambiental mostra-se como instrumento
prévio essencial para o adequado trabalho de planejamento municipal. Todavia, não
houve elaboração do zoneamento ambiental. Assim, como consequência do
macrozoneamento disposto na lei nº 4.847/2020, todo o necessário processo de
planejamento municipal, necessário para a efetivação das normas ambientais e
urbanísticas, resta comprometido.
Importante lembrar que, dado as características peculiares da vegetação fixadora
de dunas, das baixadas úmidas periodicamente alagadas e dos manguezais, muitas
destas áreas são classificadas como vegetação primária, recebendo proteção especial da
Lei nº 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica). Além disso, o Estatuto da Cidade, em seu
artigo 42-B, determina que os Municípios que pretendam ampliar o seu perímetro
urbano após a data de publicação desta Lei deverão elaborar projeto específico que
contenha, no mínimo, dentre outros requisitos, a "II - delimitação dos trechos com
restrições à urbanização e dos trechos sujeitos a controle especial em função de ameaça
de desastres naturais" e, "VI - definição de diretrizes e instrumentos específicos para
proteção ambiental e do patrimônio histórico e cultural". A observância destes
requisitos mostra-se de relevante importância no caso da Baixada do Massiambu, e
como determinação legal não poderia ser negligenciado pelo Município – no entanto, a
edição do referido Decreto Municipal, distancia-se desse padrão de legalidade.
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narrada tende a agravar-se, pois, sobre a região, projetam-se demandas por habitação,
decorrentes do excedente populacional gerado pelo crescimento urbano dos balneários
Pinheira, Sonho, Guarda do Embaú e Passagem do Massiambu.
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promovem uma baixa capacidade de diluição dos efluentes em suas águas sob baixa
precipitação, comprometendo a qualidade da água (Cabral e Fonseca, 2019;
https://doi.org/10.1016/j.ecss.2019.05.010). Ou seja, existe uma suscetibilidade natural
do sistema às pressões antrópicas, como a poluição por efluentes domésticos e
industriais, o que é comum nas bacias hidrográficas costeiras da região
(http://tede.ufsc.br/teses/PPCA0019-D.pdf).
Além desses requisitos mínimos, a melhor doutrina sobre o tema defende que
todo o processo deve ser amplamente documentado, livre de qualquer pressão, seja
econômica, física ou moral, que deve ser realizado de maneira prévia, de boa-fé, e com
o objetivo sincero de se chegar a um acordo ou consentimento, mas sempre com
informações verdadeiras, completas, de fácil compreensão e adequada às circunstâncias
(SHIRAISHI, 2013, p. 8).
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De acordo com Aylwin (2013), o procedimento de consulta, para atender os
objetivos anteriores, deve ser precedido de uma consulta sobre a própria consulta,
momento em que possa ser elaborado um planejamento, com procedimentos adequados,
com pactuação de prazos em diálogo com as comunidades respeitando seus
procedimentos internos de deliberação e com mecanismos que garantam e incentivem a
participação, dispondo, inclusive de ferramentas e assistências necessárias, sob pena de
ilegalidade e anulação das medidas tomadas.
Uma vez que se percebe que, ao definirmos a cidade, definimos a nós mesmos
e ao outro, conclui-se que tal definição deve advir de escolhas conscientes
feitas pelas pessoas. Considera-se que o direito à cidade deve ser restituído às
pessoas, principalmente às minorias constantemente ameaçadas, exploradas e
exterminadas.
Vale, portanto, ponderar sobre a participação que vem sendo efetivada quanto
ao planejamento urbano nos municípios brasileiros. Em especial, analisar a
participação dirigida aos povos indígenas e comunidades tradicionais que
vivem nas cidades, que são grupos vulneráveis, vem historicamente sofrendo o
desapossamento de suas terras e são possuidores de identidades e direitos
próprios.
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também que seja garantido o acesso de qualquer interessado e a publicidade
dos documentos e informações produzidas.
(SHIRAISHI, 2013, p. 6)
Fica evidente, a partir da análise dos anexos da Lei nº 4.847, que vários
dispositivos das Leis no 10.257/01 e no 12.651/12, bem como da própria Constituição
Federal, foram negligenciados com as alterações legislativas que são objeto deste
documento. No seu Art. 4o, a referida Lei Federal no 12.651/12 considera Área de
Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas:
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
...
Já a Resolução CONAMA no 303/02, em seu Art. 3o, diz que constitui Área de
Preservação Permanente a área situada:
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IX - nas restingas:
a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar
máxima;
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recuperação de áreas degradadas e daquelas não passíveis de recuperação. Ainda, a
mesma Lei determina que, para fins da regularização fundiária de interesse específico,
ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, será mantida faixa não edificável com
largura mínima de 15 (quinze) metros de cada lado, não abrindo, porém, a
possibilidade de novas ocupações. A Lei nº 4.847, de 03 de agosto de 2020 não
menciona qualquer projeto de regularização fundiária e sequer observa o limite
mínimo de 15 metros em diversos trechos do macrozoneamento.
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Figura 2: Efeitos da erosão costeira; primeira foto mostrando margem do rio da Madre
e a última mostrando mesma área após ressaca.
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qualquer elemento que justifique a indicação de “utilidade pública” para as citadas
intervenções.
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Figura 3: Registros de aterramento de áreas úmidas (na primeira foto com uso de trator
da Prefeitura de Palhoça) e de supressão de dunas (Praia do Sonho).
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Na sequência apresentamos alguns casos para enumerar, de modo
exemplificativo, alguns conflitos gerados pela proposta de Macrozoneamento da Lei
Municipal nº 4.847/2020 com a legislação federal:
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Figura 5. Ponta do Papagaio indicando as áreas de propriedade da União e espaço da
ACP 5004264-32.2015.4.04.7200/SC.
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Figura 6: Placa indicativa da Ação Civil Pública.
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Figura 7: Edificações e instalação de infraestrutura sobre dunas na Ponta do Papagaio.
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Figura 8: APP de curso d’água (Anexo I)
Figura 9: Pinheira (Anexo I), APP de curso d’água interrompida (seta).
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Figura 10: Dois trechos de um mesmo curso d’água na Pinheira; na primeira foto
trecho com APP, na segunda o curso desprovido de APP no macrozoneamento.
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Na região da Guarda do Embaú (figura 11), os problemas são similares, porém
agravados pela condição do rio da Madre, curso d’água com largura próxima dos 100
metros em muitos trechos, e que, pelo efeito das ressacas, tem impactado diretamente as
ocupações irregulares instaladas na sua margem, conforme ilustrado na figura 2.
Destaca-se ainda que o rio da Madre é considerado, segundo critérios da Resolução
CONAMA no 357/2005, como de classe "especial", e está localizado na confluência de
três unidades de conservação da natureza: o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro; a
Área de Proteção Ambiental (APA) do Entorno Costeiro e a APA da Baleia Franca,
integradas a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
Figura 12: Imagem da região da Guarda do Embaú indicando LPM (azul) e LTM
(vermelho).
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Figura 13: curso d’água na Guarda do Embaú que não teve sua faixa de proteção de 30
metros mantida no macrozoneamento.
Figura 14: Imagem das edificações implantadas na faixa de APP de curso d’água na
Guarda do Embaú.
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Figura 15: Edificações nas margens do curso d’água na Guarda do Embaú.
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Na região da Passagem do Massiambu, encontramos também incongruências
inexplicáveis no Macrozoneamento, com supressão de faixas de APP na foz do rio
Massiambu e em trecho de um de seus afluentes (figura 16 setas) e em porções de
manguezal (figura 17), considerado pela legislação federal como APP em toda sua
extensão.
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Figura 17: Manguezal na Passagem do Massiambu.
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Oceano Atlântico), BR 101, cursos d’água (somente alguns estão presentes) e
massas d’água, a contiguidade espacial com outras áreas zoneadas ou não
zoneadas (como a Passagem do Massiambu, representada como um vazio em
branco, por exemplo), limites municipais;
Chama a atenção que as áreas zoneadas como ZT2, previstas para ocupar
terrenos com baixa e média suscetibilidade à inundação não façam distinção entre os
critérios urbanísticos previstos levando em consideração a Carta de Suscetibilidade.
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http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-Territorial/Prevencao-de-Desastres/Cartas-de-Suscetibilidad
e-a-Movimentos-Gravitacionais-de-Massa-e-Inundacoes---Santa-Catarina-5087.html
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https://geoportal.cprm.gov.br/desastres/
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A taxa de ocupação prevista (50%) em terrenos com suscetibilidade natural à
inundação pode induzir ao agravamento do problema, causando riscos e danos aos
moradores, bem como ônus ao Poder Público, na medida em que o aumento do
problema tende a criar demanda por obras de infraestrutura para o seu equacionamento
– salientamos ainda que taxa de ocupação é diferente de taxa de impermeabilização.
Desse modo, o morador poderia ocupar o terreno respeitando as normas urbanísticas,
mas concretando parte do seu terreno, levando a uma piora nas condições de
permeabilidade do solo.
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Figura 18: Suscetibilidade à inundação no Bairro Pinheira: Fonte: CPRM, 2015.
Fragmento extraído da Carta de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa
e Inundações – município de Palhoça (escala 1:50.000), disponível em:
http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/15148.
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Figura 19: Zoneamento no bairro Pinheira. Fonte: Prefeitura Municipal de Palhoça,
2020. Fragmento extraído do Anexo I - Zoneamento Região I. Disponível em:
http://www1.palhoca.sc.gov.br/macrozonaturistica/AnexoI.Lei4923.2020.Alterado.Mac
rozonaTuristicacomemendaCamara-Regiao1.pdf
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Comercial ZC (taxa de ocupação máxima entre 50% a 80%), ZTE (taxa de ocupação
máxima de 30%), e ZT2 (taxa de ocupação máxima de 50%).
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Figura 21: Zoneamento no bairro Guarda do Embaú. Fonte: Prefeitura Municipal de
Palhoça, 2020. Fragmento extraído do Anexo III - Zoneamento Região III. Sem escala.
Disponível em:
http://www1.palhoca.sc.gov.br/macrozonaturistica/AnexoIII.Lei4923.2020.Alterado.Ma
crozonaTuristicacomemendaCamara-Regiao3.pdf
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Figura 23: Zoneamento no bairro Morretes (Fonte: Lauro Narciso, 2020). Montagem
realizada a partir dos arquivos do zoneamento e sobreposição com imagem de satélite.
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Figura 24: Suscetibilidade à inundação no bairro Passagem do Massiambu (Fonte:
CPRM, 2015). Fragmento extraído da Carta de Suscetibilidade a Movimentos
Gravitacionais de Massa e Inundações – município de Palhoça (escala 1:50.000).
Disponível em: http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/15148.
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Figura 25: Zoneamento no bairro Passagem do Massiambu (Fonte: Prefeitura
Municipal de Palhoça, 2020). Fragmento extraído do Anexo IV - Zoneamento Região
IV. Disponível em:
http://www1.palhoca.sc.gov.br/macrozonaturistica/AnexoIV.MacrozonaTuristicaComE
mendaCamara-Regiao4.pdf
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processos geológicos ou hidrológicos correlatos deverá conter:
(...) II - mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência
de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou
processos geológicos ou hidrológicos correlatos; (...)IV -
medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e à
mitigação de impactos de desastres; e (...)VI - identificação e
diretrizes para a preservação e ocupação das áreas verdes
municipais, quando for o caso, com vistas à redução da
impermeabilização das cidades.
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respectivamente, amplificando o alagamento nas áreas já suscetíveis e a erosão do solo
arenoso, promovendo a perda de bens materiais e de vidas humanas.
Figura 26: Projeção de áreas potencialmente afetadas com futura elevação do nível do
mar.
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Fauna da Baixada do Massiambu
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esta pequena ave permaneça fora da lista de espécies extintas na natureza. Outra espécie
que merece especial atenção é o gato-do-mato-pequeno (Leopardus guttulus) ,
ameaçado de extinção em âmbito nacional e internacional. Esta espécie tem o estado de
Santa Catarina como área de maior importância em toda sua distribuição. Além deste
importante aspecto, a presença do gato-do-mato-pequeno na restinga da Baixada do
Massiambu é igualmente relevante pois ocupa formações estruturalmente heterogêneas
e desempenha suas atribuições funcionais/ecológicas praticamente sem competidores
neste lugar, o que configura um verdadeiro ‘laboratório’ para estudos que abordam a
relação competitiva intra e interespecífica entre carnívoros e suas presas.
Considerando as informações contidas em estudos publicados, são registradas
pelo menos cinco espécies de mamíferos ameaçados de extinção, três aves, três anfíbios
e um réptil com ocorrência confirmada para Baixada do Massiambu. Com exceção de
algumas espécies, a maioria ocupa as formações de restinga de forma indistinta, não
havendo o uso exclusivo de determinado micro-habitat.
Cabe ressaltar que tais grupos da fauna ainda carecem de estudos mais
aprofundados para se ter um levantamento de espécies satisfatório. É bastante razoável
afirmar que o número de espécies ameaçadas de extinção seja ainda maior,
especialmente se contabilizados outros grupos, como invertebrados terrestres, voadores
e aquáticos e peixes, que podem ser considerados grupos subamostrados, praticamente
desconhecidos para restinga da Baixada do Massiambu.
CONCLUSÕES
Atenciosamente
REFERÊNCIAS
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Cabral, A., Fonseca, A., 2019. Coupled effects of anthropogenic nutrient sources and
meteo-oceanographic events in the trophic state of a subtropical estuarine system.
Estuar. Coast. Shelf Sci. 225, 106228. https://doi.org/10.1016/j.ecss.2019.05.010.
Grimm, A.M., Tedeschi, R.G., 2009. ENSO and extreme rainfall events in South
America. J. Clim. 22, 1589–1609. https://doi.org/10.1175/2008JCLI2429.1.
Kopp et al. (2014). Probabilistic 21st and 22nd century sea-level projections at a global
network of tide-gauge sites. Earth’s Future, 2(8), 383-406.
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