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Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED
Departamento de Geografia
Laboratório de Geologia e Mineralogia
Laboratório de Geoprocessamento – GEOLAB

Relatório Final

Monitoramento do Deslizamento

Área: Costa de Cima, Distrito de Pântano do Sul –


Florianópolis/SC

a ser apresentado:

Defesa Civil e

Comunidade da Costa de Cima.

Julho de 2009
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Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED
Departamento de Geografia
Laboratório de Geologia e Mineralogia
Laboratório de Geoprocessamento – GEOLAB

Relatório Final dos trabalhos realizados na área da


Costa de Cima – Distrito de Pântano do Sul –
Florianópolis/SC

apresentado a

Defesa Civil Municipal e

Comunidade da Costa de Cima

Objeto:

Em atendimento à solicitação da comunidade da Costa de Cima, foi


realizada vistoria ao local onde ocorreu movimentação da encosta
baixa do Morro da Boa Vista colocando em risco os moradores da
Servidão Caminho dos Cafezais, na localidade da Costa de Cima,
Distrito de Pântano do Sul, Florianópolis/SC.

Na segunda visita à área, foi discutida, juntamente com a Defesa


Civil, a possibilidade do desenvolvimento de monitoramento do local
para melhor subsidiar as decisões sobre o uso futuro da área atingida
pelo processo geológico.

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Ocorrência:

Entre os dias de 22 e 23 de novembro de 2008, após fortes chuvas


registradas em Florianópolis, que totalizaram em 24 horas 160,1 mm
(DIAS, 2009), parte da encosta do morro da Boa Vista rompeu e
deslocou-se,configurando um deslizamento do tipo rotacional.

A fissura com cerca de 130 metros de extensão, inicia na baixa


encosta, em cota aproximada de 35 metros. O deslocamento
provocou abatimento, na vertical, de até 60 centímetros, ao longo de
via de acesso privado (propriedade Engenho dos Serras),
pavimentada com lajotas (Figura 01).

Figura 01. Vista parcial da área atingida pelo deslizamento. Autor:


Marimon, 2008.

Em alguns pontos, a abertura da fissura ocorre por simples ruptura


no terreno e pode chegar a um afastamento de 10 a 15 centímetros.
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O deslocamento de massa, situado na baixa encosta, repercutiu a
jusante, atingindo a cota de 15 m, onde situa-se via pública
denominada de Servidão Caminho dos Cafezais, com rompimento de
muro de contenção, nos fundos da casa de no.175, e colocando sob
ameaça, diversas casas da redondeza, cerca de 20 residências.

Características físicas do local:

O Morro da Boa Vista atinge na área até 350 metros de altitude e


constitui o divisor de águas entre o Pântano da Sul e o Parque
Municipal da Lagoa do Peri.

As partes altas da topografia são localmente dominadas pelas rochas


do embasamento cristalino, sob o qual se estrutura o domínio
geomorfológico de morrarias, onde se desenvolvem morros côncavo-
convexos isolados ou configurando pequenas serras. Nas partes
baixas dominam os depósitos mais jovens que constituem a planície
quaternária, formada por planícies recentes até o limite da linha de
costa atual. Neste distrito do sul da ilha, ao longo da linha de praia,
se situam as comunidades de Pântano do Sul e Açores.

No local da ocorrência, observa-se contato por falhamento do Granito


Ilha, da Suíte Intrusiva Pedras Grandes (granito róseo granular), com
o Riolito Cambirela, localmente representado por rochas
subvulcânicas (Zanini et al., 1997), ver Figura 02. Ocorre ainda a
presença de dique de diabásio posicionado no contato entre as duas
unidades.

As rochas plutônicas são isotrópicas, grosseiras, de coloração rosada


e resultam em alteração que mantém os grãos de quartzo
preservados, gerando material alterado do tipo saibro. O riolito

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hipoabissal, que ocorre em patamar de mais baixa altitude,
desenvolve solos argilosos espessos, explorados, até a década de 70,
para extração de argilas e fabricação de telhas e tijolos pelas olarias.

Figura 02. Recorte do mapa geológico da ilha de Santa Catarina com a


área de trabalho indicada. Escala do original: 1:100.000. Legenda da área
de estudo no mapa: yph: granito ilha e ycv: riolito cambirela. Fonte: Zanini
et al., 1997.

Os argilominerais dominantes nos solos são as esmectitas, que tem


por principal característica a expansividade, e quando em contato
com a água, absorvem-na em sua estrutura e por excesso podem até
provocar a perda da estruturação natural do mineral e,
consequentemente, influenciar na desestabilização dos solos.

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Foi observada, em corte exposto no acesso privado, a presença de
colúvio antigo que apresenta nítido desenvolvimento de perfil de solo
(Figura 03). O deslizamento em questão ocorreu neste tipo de
material. O colúvio é formado pelo acúmulo de material proveniente
das partes mais altas da encosta superior do morro da Boa Vista, e é
constituído por blocos de rochas riolíticas e graníticas envoltos em
material mais fino e de variada granulometria (seixos, areias, siltes e
argilas).

Figura 03. Colúvio consolidado em corte exposto na estrada de acesso do


Engenho dos Serras. A ruptura do terreno aparece ao fundo. Autor: Simas,
2009.

A estrada privada construída na propriedade do Engenho dos Serras


foi planejada de forma a escoar as águas superficiais através de meia
canaletas e caixas de dissipação de energia, prevenindo, desta forma,
a infiltração excessiva das águas de superfície ao sub-solo e também
o desencadeamento de processos erosivos.
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A baixa encosta que recebeu o deslocamento da massa deslocada foi
alvo da extração de argilas até os anos 70, e apresenta vários
matacões e blocos soltos em superfície, que por si só colocam em
risco as casas que se situam em sua base, em especial a casa de nº
79, posicionada à esquerda na Servidão do Caminho dos Cafezais
(descrição adiante no texto).

A cobertura vegetal da área é variada, tanto em densidade como em


espécies vegetais, e será objeto de levantamento específico,
apresentado em anexo no final do relatório.

Metodologia:

No local da ocorrência foi inicialmente realizada vistoria para a


constatação da ocorrência e, posteriormente, foi estruturado um
plano de monitoramento do local, com medições de parâmetros
fundamentais para determinação das características do movimento de
massa. Foram monitorados os seguintes parâmetros: precipitação
diária, movimentação das fendas, e inclinação de cercas e postes. O
monitoramento da área teve como objetivo subsidiar as decisões
sobre a segurança da área, dando suporte a Defesa Civil e a
comunidade da Costa de Cima, diretamente envolvida, sobre a
interdição do local e, posteriormente, o retorno as moradias e, ainda,
levantar dados locais para a recuperação da área atingida.

O desenvolvimento dos trabalhos utilizou os procedimentos e


equipamentos relacionados abaixo:

1 – bases cartográficas, fotografias aéreas e mapeamentos temáticos.


Os estudos e reconhecimentos iniciais foram baseados em mapas do
IBGE e fotografias aéreas coloridas em escala 1:8.000, ano 2001 e

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1:15.000, ano 2002. A base cartográfica utilizada para plotagem dos
dados preliminares é do IPUF em escala 1:2.000, ano 2002.

2 – mapeamento de detalhe com apoio de GPS de navegação Etrex


Legend e de precisão GPS Hiper Lite Plus - Topcon. O levantamento
com GPS de precisão foi realizado pela equipe do Geolab, e teve
como objetivo testar o uso desse equipamento para monitoramento
de detalhe do movimentos de massa. O equipamento utilizado
permite precisão horizontal de 3 mm + 0,5 ppm e vertical de 5 mm +
1.4 ppm para levantamentos estáticos e rápido-estáticos e horizontal
de 10 mm + 1.5 ppm e vertical de 20 mm + 1.5 ppm para
levantamentos cinemáticos e RTK. Em todos os pontos de
monitoramento foram determinadas as coordenadas geográficas com
apoio do GPS de navegação e de precisão. O mapeamento de detalhe
contou também com apoio de fotografias aéreas, base cartográfica e
trabalhos de campo. (Figura 04).

3 – mapeamento dos aspectos florísticos do local. O mapeamento foi


realizado pelo biólogo, aluno do curso de Mestrado Profissional em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Sócio-Ambiental da
UDESC, biol. Pedro Henrique Simas. O relatório intitulado “Análise da
Paisagem e do Uso e Ocupação do Solo em Área de Risco Passível de
Dano Ambiental Irreversível na Localidade da Costa de Cima, Distrito
de Pântano do Sul, Ilha de Santa Catarina (Florianópolis, SC)”, e está
apresentado em anexo. Objetivo: reconhecer as características da
flora local, caracterizar o estágio sucessional da vegetação e a
importância na estabilidade da encosta sob investigação.

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Figura 4. Mapa de detalhe do movimento de massa da Costa de Cima


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4 – monitoramento da ruptura e da movimentação do terreno. Foram
instalados estacas (piquetes) a montante e jusante da fissura
principal ( em pares A e B), em três locais distintos, com o objetivo
de acompanhar a movimentação do maciço. Nestes pontos foram
realizadas medidas pontuais com trena métrica. Foram considerados
erros de leitura com variações de até 2 mm.

Também foram selecionados pontos de medição em elementos


verticais (postes, moirões de cerca, muros) para monitorar a
inclinação destes elementos e com isso a movimentação
tridimensional do deslizamento. As medições foram realizadas
utilizando o clinômetro da bússola, marca Brunton. As medições
mostraram erros de leitura de +/- 1°. Foram selecionados pontos-
chave dentro da área movimentada, e também fora da área do
deslizamento (ver Tabela 1 e Figura 4). Objetivo: acompanhar a
movimentação do maciço nas diferentes dimensões do espaço.

5 – monitoramento das chuvas localmente. Foi instalado um


pluviômetro de leitura manual. As leituras foram realizadas
diariamente às 7 horas da manhã. O pluviômetro foi instalado a 1,5
m da superfície do solo, em local plano e distante de interferência de
vegetação. Objetivo: acompanhar os índices pluviométricos no local,
a fim de permitir o estabelecimento da relação entre a movimentação
dos solos e a precipitação.

6 – observações “in locu”. Durante as visitas ao local para a


realização das medições, foram feitas observações do local atingido,
visando detectar modificações ao longo da fissura, nas casas
envolvidas e suas proximidades. Pontos de surgências de água
subterrânea foram observados na base da massa movimentada e
posicionados na planta de detalhe (Figura 04).

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TABELA 1. Pontos de monitoramento, área da Costa de Cima.

Localização
Nº Ponto Tipo Registro fotográfico
X Y
1A-1B 744590 6926535 1

2A – 2B 744558 6926549 1

3A – 3B 744540 6926576 1

B1 744593 6926535 2

B2A e B2B 744617 6926568 3

B3A e B3B 744609 6926596 3

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B4A e B4B 744595 6929592 3

B5A e B5B 744545 6926632 3

B6A e B6B 744539 6926602 3

B7 744543 6926607 4

B8A e B8B 744555 692603 5

B9 744592 6926593 4

Obs: 1 – estaca; 2 – cano; 3 – poste; 4 – muro; 5 - outro

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Resultados:

Monitoramento da precipitação

As medições das chuvas locais e diárias são apresentadas na Figura


05. Observa-se a irregularidade diária das precipitações, como
esperado, mas chamam a atenção os totais mensais dos meses
monitorados que totalizaram: 189,9 mm em dezembro, que é parcial
(início da medição no dia 05/12); 270,6 mm em janeiro; 160,3 mm
em fevereiro; e, em março somou 200,3 mm até o dia 19/03.

Precipitação acumulada 24 h -
Período: Dezembro 2008 a Março 2009
140

120
100

80

60

40

20
mm

0
5/12/08
9/12/08
13/12/08
17/12/08
21/12/08
25/12/08
29/12/08
2/1/09
6/1/09
10/1/09
14/1/09
18/1/09
22/1/09
26/1/09
30/1/09
3/2/09
7/2/09
11/2/09
15/2/09
19/2/09
23/2/09
27/2/09
3/3/09
7/3/09
11/3/09
15/3/09
19/3/09

Figura 05. Distribuição das precipitações diárias na localidade do Engenho


dos Serras, Costa de Cima, Distrito de Pântano do Sul, Florianópolis/SC.

Os números apontam que os totais precipitados durante a estação de


verão foram acima das médias para este período, determinando a
prevalência de condições de excesso de umidade.

O gráfico ainda aponta a ocorrência de pelo menos 3 momentos,


durante o período monitorado, em que as precipitações diárias foram
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próximas de 100mm ou superior, caracterizando chuvas intensas,
que normalmente são associadas a movimentos de massa. Vale
lembrar que o deslizamento objeto deste estudo foi desencadeado
logo após chuvas concentradas que totalizaram em Florianópolis um
valor de 160,1 mm (Epagri, 2009).

Monitoramento da movimentação ao longo da fissura

Ao analisar as medidas de deslocamento das estacas, que foram


posicionadas no terreno uma de cada lado da fissura, observa-se que
inicialmente as estacas se movimentaram ampliando os
comprimentos, o que indica uma expansão do maciço de solos. Nas
primeiras duas semanas de monitoramento, independente dos totais
precipitados após novembro de 2008, foi detectado afastamento
máximo de 0,004 m (Figura 06).

Precipitação local X medição da movimentação do maciço

140,0 0,516
precipitação acumulada 24 h 0,515
120,0 1A-1B
0,515
100,0 0,514
0,514
80,0
mm

cm

0,513
60,0
0,513

40,0 0,512
0,512
20,0
0,511
0,0 0,511
2/12/08

6/12/08

9/12/08

12/12/08

15/12/08

18/12/08

21/12/08

24/12/08

27/12/08

30/12/08

2/1/09

5/1/09

8/1/09

11/1/09

14/1/09

17/1/09

20/1/09

23/1/09

26/1/09

29/1/09

1/2/09

4/2/09

7/2/09

10/2/09

13/2/09

Figura 06. Distribuição da precipitação e a movimentação da massa de


solos através do monitoramento da movimentação de estacas, instaladas ao
longo da ruptura do terreno.

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Observa-se também na Figura 06 que no dia 16 de dezembro houve
uma forte chuva, 124,5 mm, e que não teve como reflexo a
movimentação dos blocos ao longo da fissura. Após esta data, as
medidas evidenciam uma contração do maciço de solos, com lento e
gradual retorno as medidas iniciais. Este comportamento é
condizente a presença de esmectitas nos solos locais.

Deve-se enfatizar que a observação apresentada acima não indica a


estabilidade do terreno. Este dado aponta situação inversa, onde o
terreno foi rompido e se movimenta ao longo da fratura para frente e
para trás, conforme o estado de encharcamento dos solos,
evidenciando sua instabilidade.

As medições realizadas ao longo da ruptura em três pontos são


apresentadas na Tabela 02.

Tabela 02. Dados do monitoramento das estacas (piquetes).

Estaca Afastamento Observações Gráfico


(par) máximo (m)
0,003 0,520

0,515
metro

0,510

1A – 1B - 0,505 1A – 1B

0,500
5/12/2008

12/12/2008

19/12/2008

26/12/2008

2/1/2009

9/1/2009

16/1/2009

23/1/2009

30/1/2009

6/2/2009

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0,004 1,010

1,005

metro
1,000

2A – 2B Estacas 0,995

0,005 reposicionadas 2A – 2B
0,990
após 06/01/09

5/12/2008

12/12/2008

19/12/2008

26/12/2008

2/1/2009

9/1/2009

16/1/2009

23/1/2009

30/1/2009

6/2/2009
0,004 0,720

0,715

metro
0,710

3A – 3B 0,004 Estacas 0,705


3A – 3B
reposicionadas 0,700

5/12/2008

12/12/2008

19/12/2008

26/12/2008

2/1/2009

9/1/2009

16/1/2009

23/1/2009

30/1/2009

6/2/2009
após 28/01/09

OBS: para acessar os dados consulte a Tabela A do Anexo 1.

Monitoramento da movimentação do maciço por inclinação de


postes e muros

Os pontos B1, B4 A e B, B6 A e B, B7 e B8 A e B, B9 situam-se


dentro da área afetada pelo deslizamento. Os pontos B2 A e B, B3 A
e B, B5 A e B situam-se fora da área diretamente afetada. Todos os
pontos aparecem no mapa da Figura 04. Os pontos B1, B7 e B9
referem-se a elementos de medição como canos e muros. Os pontos
que contam com informações A e B, indicam que foram realizadas
leituras a 90º, uma da outra, determinada pela característica do
objeto monitorado. As medições de inclinação destes objetos estão
apresentadas no Anexo B. As Figuras 07 e 08 mostram as medições
realizadas e foram agrupadas conforme os agrupamentos descritos
anteriormente.

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medição da inclinação
dentro da área em movimento
90,0
88,0
86,0
graus

84,0
82,0
80,0
78,0
76,0

B4A B4B B6A B6B B7 B8A B8B B9

Figura 07. Medição da inclinação de elementos dentro da área do


deslizamento.

Observa-se que os resultados apresentados situam-se dentro da


medição de erro do instrumento de leitura (+/- 1º) indicando, desta
forma, que não houve movimentação significativa da massa
deslocada.
Os dados dos monitores fora da área de deslocamento (Figura 08)
apresentam uma oscilação menor que os elementos acompanhados
dentro da área da massa deslocada, mas mantém-se dentro dos
limites do erro de leitura.

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Medição da inclinação de estacas
fora da área do movimento
90,0
88,0
86,0
graus

84,0
82,0
80,0
78,0
76,0

B2A B2B B3A B3B B5A B5B

Figura 08. Medição da inclinação de elementos fora da área do


deslizamento.

Dentre os objetos acompanhados destacam-se os canos de água para


irrigação (B1) da propriedade que foram deformados pelo
deslizamento do terreno.

Medição da deformação dos canos de água


50,0

49,0

48,0
graus

47,0
y = 0,0359x - 1382,1
46,0 R2 = 0,3928

45,0
B1

44,0
4/12/2008

11/12/2008

18/12/2008

25/12/2008

1/1/2009

8/1/2009

15/1/2009

22/1/2009

29/1/2009

5/2/2009

12/2/2009

Figura 09. Medições da deformação dos canos de água (ponto B1) e


fotografia do ponto B1 no local. Autor: Marimon, 2008.

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As medições do ponto B1 indicam que este ponto foi movimentado
durante o período monitorado (Figura 09). A linha de tendência
evidencia que houve um incremento na angulação média na
deformação durante o período.

Casas em situação de risco

As principais casas atingidas ou que estão em exposição a evidente


risco direto são:

Casa nº 79 (proprietário Sr. Marcos): edificação em alvenaria, dois


pavimentos, de cor laranja, não apresenta rachaduras recentes. A
casa está localizada na base da encosta, num corte do talude. Nos
fundos da residência há um muro de pedras, e acima deste, se
encontra a encosta instável, com blocos soltos e plantação de
bananeiras.

Figura 10. Encosta com blocos soltos e bananeiras. Autor: Marimon, dez
2008.
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Neste local (casa nº 79) existem blocos arredondados e soltos com
diâmetro de até 0,5 m² (Figura 10), que evidentemente colocam a
residência exposta ao risco adicional determinado pela possibilidade
de rolamento destes blocos.

Casa nº 175 (proprietária Sra. Fátima): edificação em alvenaria, com


um pavimento, de cor rosa. O muro dos fundos da residência sofreu
arqueamento causado pelo evento em questão (Figura 11 e 12). A
casa, a seguir do muro, não apresenta rachaduras recentes.

Figura 11. Fundos da casa n° 175, com arqueamento de muro. Pontos de


surgência de água subterrânea na base do muro. Autor: Simas, jan 2009.

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Figura 12. Fundos da casa n° 175. Observa-se arqueamento de muro,


inclinação de antena e postes de roupas. Autor: Marimon, dez 2008.

Os elementos apontados, como o arqueamento do muro e surgência


de água subterrânea na base do muro, são indicativos da base da
superfície do deslizamento. Abaixo desta superfície (base do muro)
não há evidências de movimentação do terreno.

Casa nº 221 (proprietário Sr. Roberto): edificação em alvenaria, dois


pavimentos, de cor branca. Essa edificação está situada sobre a
massa em deslocamento. As rachaduras (no piso da calçada em
frente à porta de entrada e na escada exterior nos fundos) foram
ampliando durante o período de estudo da área. Inicialmente não
eram evidentes, mas posteriormente foi observado o descolamento
dos pisos das varandas (principalmente na área de serviços,
localizada na lateral esquerda e fundos), com abertura de fendas
entre a casa e a referida varanda (Figura 13).

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Figura 13. Varanda da entrada da casa n° 221, com abatimento do piso.


Autor: Marimon, fev 2009.

Figura 14. Fundos da casa n° 221, onde ocorre afastamento crescente


entre a casa e o piso da varanda. Autor: Marimon, jan 2009.

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A partir de junho de 2009, foi evidenciado o aparecimento de
rachadura na parede sobre a porta de entrada (Figura 15). No
terreno em frente a casa, foram observadas fissura de pequena
extensão, e deformações com abaulamentos no terreno.

Figura 15. Rachaduras na parede da porta de entrada. Autor: Marimon, jun


2009.

Outros trabalhos realizados na área:

Levantamento Geofísico por Eletroresistividade

Levantamento geofísico foi realizado pela empresa GeoEnvi, por


contratação da Defesa Civil do município, a fim de verificar as
condições indicativas de novos riscos de deslizamentos no local.

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Os resultados obtidos apontam uma espessura de solo coluvionar até
atingir a rocha, com cerca de 13 metros. O solo apresentou condições
de saturação e o estudo permitiu individualizar solo residual
desenvolvido sobre rocha granítica e solo coluvionar (GeoEnvi, 2009).

Conclusões:

O deslizamento rotacional ocorrido em 23 de novembro de 2008 foi


monitorado durante o período compreendido desde dezembro de
2008 a junho de 2009. O maciço constituído por solos e blocos de
rochas mostrou comportamento condizente com a presença
dominante em sua constituição de argilominerais do tipo esmectitas.
A expansão e contração observadas durante o monitoramento são
compatíveis com a presença deste mineral.

O movimento de massa se ajustou nos primeiros dias, não tendo sido


medidos deslocamentos maiores que poucos milímetros, durante o
período acompanhado pelo monitoramento, mesmo tendo ocorrido
chuvas intensas de até 124,1 mm após a ocorrência do deslizamento.
Embora o deslocamento de massa tenha estacionado durante o
período da realização do monitoramento não é possível dizer que
atingiu estabilidade. O rompimento do equilíbrio da encosta com a
ocorrência do deslizamento rotacional coloca-a como área vulnerável
a prosseguir deslocando-se, sempre que as condições que
propiciaram o desencadeamento inicial forem atingidas.

A presença de vários pontos de surgências alinhados e posicionados


na mesma cota da base do deslizamento indicam uma espessura
entre 15 a 20 metros da massa deslocada, como também
constatado nos estudos de geofísica.

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A presença de vegetação nativa em estágio inicial de recuperação,
associado a flora exótica, não contribuem com o equilíbrio da
encosta deslocada, mas podem ter ajudado a que o deslizamento
não tenha atingido maiores proporções, pela estruturação das raízes
ao longo do maciço.

Na vistoria inicial, realizada no local em dezembro de 2008, foi


observado que nenhuma das casas apresentava fissuras e rachaduras
em paredes e fundações. Já a partir do mês de janeiro de 2009 ficou
evidente que a casa de nº 221, última casa a esquerda na Servidão
Caminho dos Cafezais, apresentou abatimento do piso da varanda de
entrada e separação entre a casa e o piso da varanda (nos fundos).
Mais recentemente, em junho de 2009, foi observada rachadura na
parede sobre a porta de entrada, evidenciando que está ocorrendo
movimentação e acomodação do terreno deslocado, colocando a
casa de nº 221 em evidente risco.

Durante os trabalhos de campo foi observada, na área de encosta


deslocada atrás das casas envolvidas no processo, a ocorrência de
diversos blocos de rocha soltos e em estado de equilíbrio
precário, colocando as moradias em risco a rolamento de blocos e
indicando a necessidade de mapeamento específico para identifica-
los.

As evidências apresentadas pelos estudos realizados são indicativas


da necessidade de recuperação geotécnica da área, a fim de
garantir segurança e tranqüilidade aos moradores da comunidade
atingida.

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REFERÊNCIAS

DIAS, M.A.F.S. (ed.). As chuvas de novembro de 2008 em Santa


Catarina: um estudo de caso visando à melhoria do monitoramento e
da previsão de eventos extremos. São Paulo, Florianópolis: Inpe,
Inmet, Epagri, 2009. (disponível no site:
www.catastrofesnaturais.sc.gov.br)

GEOENVI. Levantamento geofísico por eletroresistividade e imagens


geoelétricas 2D. Florianópolis: GeoEnvi Geologia e Meio Ambiente
LTDA, 2009 (Relatório técnico).

SIMAS, P. Análise da Paisagem e do Uso e Ocupação do Solo em Área


de Risco Passível de Dano Ambiental Irreversível na Localidade da
Costa de Cima, Distrito de Pântano do Sul, Ilha de Santa Catarina
(Florianópolis, SC). Florianópolis: MPPT/UDESC, 2009. (Relatório
técnico, inédito).

ZANINI, L.F.P. et al. (org) Programa de Levantamentos Geológicos


Básicos do Brasil, Folhas Florianópolis e Lagoa, SG. 22 Z-D-V/IV,
Estado de Santa Catarina: escala 1:100.000. Brasília: DNPM/CPRM,
1997.

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Florianópolis, 06 de julho de 2009.

Maria Paula Casagrande Marimon Luiz Henrique Fragoas Pimenta


Geóloga, Dra. Geociências Geógrafo, Msc. Engenharia
Professora do Dep. de Geografia Ambiental
CREA nº 12765/SC Professor do Dep. de Geografia
CREA nº 53836-2/SC

Pedro Henrique Simas Flavio Boscatto


Biólogo, Mestrando do MPPT Mestre em Gestão Territorial
Técnico em Geomensura
CREA 075003-4/SC

Ana Carolina Vicenzi Franco


Bolsista de IC -Formanda do Curso
de Geografia UDESC

Colaboração técnica: visitaram a área a engenheira civil Regina


Davison e Rachel Magnano e colaboraram nas discussões das
soluções a serem encaminhadas;
Alunos do Curso de Geografia da UDESC dos laboratórios de
Geoprocessamento – GEOLAB participaram dos trabalhos de campo
do levantamento

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ANEXOS

ANEXO 1 -– Dados de monitoramento:


Tabela A. Monitoramento de estacas (piquetes)
Tabela B. Monitoramento de canos, postes e muros
Tabela C – Monitoramento da precipitação diária

ANEXO 2 - Estudo técnico-científico


“Análise da Paisagem e do Uso e Ocupação do Solo em Área de
Risco Passível de Dano Ambiental Irreversível na Localidade
da Costa de Cima, Distrito de Pântano do Sul, Ilha de Santa
Catarina (Florianópolis, SC)”, por Pedro Henrique Simas.

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ANEXO 1.
Tabela A. Monitoramento de Estacas (piquetes)

Distância (m)

Estacas 2/12/08 04/12/08 5/12/08 8/12/08 10/12/08 15/12/08 17/12/08 18/12/08 23/12/08
1A – 1B 0,513 0,514 0,514 0,515 0,515 0,515 0,514 0,513 0,513
2A – 2B 1,003 1,004 1,006 1,007 1,007 1,005 1,003 1,000 0,970
3A – 3B 0,710 0,711 0,712 0,714 0,714 0,713 0,713 0,713 0,710
Distância (m)

Estacas 6/1/09 13/1/09 15/1/09 23/1/09* 28/1/09 5/2/09 10/2/09 8/4/09


1A – 1B 0,513 0,514 0,514 0,513 0,513 0,512 0,513 0,515
2A – 2B 0,994 0,997 0,997 0,996 0,995 0,996 0,997 0,992
3A – 3B 0,711 0,711 0,712 0,711 0,681 0,681 0,684 0,685

Obs: O ponto 2A-2B foi resituado: nova medida – 0,994 em 06/01/09.


O ponto 3A-3B foi resituado: nova medida - 0,681 em 28/01/09.
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Tabela B. Monitoramento de canos, postes e muros

Nível medido
Pont
2008 2009 Observações/ localização
o 4/12 08/12 10/12 15/12 18/12 23/12 6/1 13/1 15/1 23/1 28/1 5/2 8/4

B1 46,5° 88,5º 44,5° 46º 48º 48º 49º 47º 49,5º 48,5º 48º 48º 48,5° Canos irrigação dobrados
B2A 88° 88º 87,2° 88,5º 88,2º 89º 88º 88º - 88º 88º 88,5º 88° Cerca na base da área
B2B - 86,5º 90° 88,5º 87,8º 88º 87,5º 88º - 88,5º 89º 88º 89° = 90º
B3A 86,5° 86º 87° 86º 87º 86º 86,5º 87º - 86,5º 87,5º 86,5º 87° Cerca na base da área
B3B 86,5° 78º 87° 86,5º 86,5º 86,5º 86º 86º - 87º 86,5º 86º 87,5° = 90º
B4A Muro fundo da casa rosa, nº
77,5° 89º 77,5° 78º 78,5º 78º 78º 77,5º - 78º 78º 78º 78° 175, poste roupa
B4B 88,5° 88º 89° 90º 89º 90º 90º 89,5º - 89º 89,5º 89º 89,5° = 90º
B5A 88° 88º 88,5° 85º 88,5º 88º 87,5º 88º 88º 88º 87,5º 88º 88° Cerca lateral casa nº 121 –
B5B 88° 83,5º 88,5° 88,5º 88,5º 88º 88º 87,5º 88º 88º 88º 88º 88° = 90º
B6A 81° 87º 81° 83,5º 84º 84º 84º 83º 83º 81,5º 81,5º 83,5º 83° Cerca lateral casa nº121 –
B6B 86,5° 84,5º 86,5° 86,5º 86º 87º 83º 86,5º 87º 87º 86,5º 87º 86,5° = 90º
B7 83,5° 87,5º 86° 86º 85º 85,5º 87,5º 86º 86º 84º - 84,5º 83,5° Muro fundo casa nº121
B8A 87° 84,5º 87,5° 87,5º - 87,5º 86º 87º 86º 87º 87º 87,5º 87° Estaca muro fundo casa nº121
B8B 85° 85º 85,5° 85º - 85º 85º 85º 85º 84,5º 85º 84,5º 85° = 90º
B9 - 86° 85° - 84º 85,5º 85° 85º - 85º 85,5º 85º 85° Muro fundo casa rosa, nº 175

Obs: os pontos B1, B4 A e B, B6 A e B, B7 e B8 A e B, B9 situam- se dentro da área afetada pelo deslizamento;


os demais, B2A, B2B, B3A, B3B, situam-se fora da área diretamente afetada.

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Tabela C.
Monitoramento da Precipitação Diária

Precipitação Precipitação
Data acumulada Data acumulada
leitura 24 h leitura 24 h
2/12/08 14/1/09 0,0
4/12/08 15/1/09 0,0
5/12/08 0,0 16/1/09 10,5
6/12/08 1,4 17/1/09 2,3
7/12/08 0,0 18/1/09 32,2
8/12/08 0,0 19/1/09 0,0
9/12/08 0,2 20/1/09 20,0
10/12/08 1,3 21/1/09 2,6
11/12/08 2,7 22/1/09 0,0
12/12/08 7,9 23/1/09 0,0
13/12/08 0,4 24/1/09 2,6
14/12/08 0,2 25/1/09 4,6
15/12/08 0,0 26/1/09 0,0
16/12/08 124,5 27/1/09 0,0
17/12/08 29,5 28/1/09 37,5
18/12/08 1,7 29/1/09 29,4
19/12/08 0,4 30/1/09 7,5
20/12/08 0,0 31/1/09 0,0
21/12/08 0,0 1/2/09 0,0
22/12/08 0,0 2/2/09 0,0
23/12/08 1,2 3/2/09 6,5
24/12/08 0,4 4/2/09 3,3
25/12/08 17,0 5/2/09 0,0
26/12/08 0,0 6/2/09 0,0
27/12/08 0,0 7/2/09 89,5
28/12/08 0,0 8/2/09 0,0
29/12/08 0,0 9/2/09 0,0
30/12/08 1,1 10/2/09 0,0
31/12/08 0,0 11/2/09 0,5
1/1/09 0,0 12/2/09 1,9
2/1/09 1,0 13/2/09 0,0
3/1/09 57,3
4/1/09 37,5
5/1/09 9,7
6/1/09 0,0
7/1/09 0,0
8/1/09 0,0
9/1/09 0,0
10/1/09 7,1
11/1/09 7,4
12/1/09 1,4
13/1/09 0,0
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ANEXO 2.

Estudo técnico-científico

“Análise da Paisagem e do Uso e Ocupação do Solo em Área de


Risco Passível de Dano Ambiental Irreversível na Localidade
da Costa de Cima, Distrito de Pântano do Sul, Ilha de Santa
Catarina (Florianópolis, SC)”,

por Pedro Henrique Simas.

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