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PARECER ARTICULADO – DIREITO AMBIENTAL

Ementa: Trata-se de parecer articulado acerca de situação-problema, fornecida


pela professora Suely Mitie Kusano, o qual busca analisar de forma aprofundada
os quesitos formulados em tal situação, afim de que se possa emitir parecer
jurídico articulado sobe o tema abordando os tópicos de direito Ambiental, já
vistos em sala de aula.

À: Professora Suely Mitie Kusano da disciplina de Direito Ambiental da


Universidade de Mogi das Cruzes.

Relatório: Trata-se sobre caso concreto apresentado pela professora, a fim de


analisar os aspectos legais relativos ao Direito Ambiental.
É o relatório. Passa-se ao parecer articulado.

Fundamentos jurídicos:
Em primeiro lugar, necessário se faz a transcrição da situação problema para
melhor elucidação do caso em apreço.
“Pedro é médico e proprietário de um imóvel urbano de 1.800m2, com 30m de
frente por 60m da frente aos fundos, sendo que nos fundos a divisa é um
pequeno riacho com menos de 0,50cm de largura. Nesse imóvel, Pedro pretende
construir uma clínica para tratamento médico auxiliar (terapia quântica,
acupuntura, massagem) e homeopático (uso de essências, extratos, tinturas e
chás), utilizando parte do imóvel para cultivar as principais ervas medicinais e
florais a serem utilizadas na clínica e/ou vendidas desidratadas. Pedro imagina
que serão necessários 250m2de edificação, distribuídos em 2 pavimentos, para
atendimento aos pacientes e instalação de um pequeno laboratório herbário –
lembrando que o Município, no seu Código de Edificações, impõe recuo frontal
de 10m e, na região em que se localiza o imóvel, possibilita a construção de até
5 pavimentos. Na laje do sobrado, pretende cultivar, em vasos, as ervas que
necessitam maior insolação, havendo a previsão de reservar mais um pavimento
aberto e em pé direito duplo, para o caso de necessitar ampliar a área de cultivo
de ervas em vasos (outras ervas e plantas, de maior porte ou que se
desenvolvem em ambientes sombreados, serão cultivadas no remanescente do
terreno).”
De modo que, com o objetivo de direcionar o presente parecer, foram elaborados
os seguintes quesitos, aos quais se apresenta reposta no presente parecer, são
eles;
1.) Qual a área em que Pedro poderá localizar o empreendimento, identificados
APP, RL, faixa non aedificandi, área verde ou institucional? Explique e
especifique.
2.) Qual o zoneamento comercial ou industrial adequado para esse
empreendimento pretendido? Explique.
3.) Pedro precisa de licenciamento ambiental para funcionamento da clínica?
Explique e especifique.
4.) Pedro precisa submeter o projeto dos cultivares à prévia aprovação ambiental
do EIA/PRAD/RIMA-RAP/EAS? Explique
5.) As posturas municipais importam em restrição ao direito de construir na
propriedade particular? Pedro poderia destinar a área frontal do imóvel para
estacionamento da clínica?
Incialmente, com base nos dados apresentados é possível afirmar que a
construção de Pedro deverá ser edificada na primeira metade do loteamento,
uma vez que aos fundos do terreno encontra- se um riacho, de modo que devido
a isto, é necessário observar uma extensão não edificável na Área de
preservação permanente do refiro curso de água de 30 metros, portanto, é
possível concluir que da divisa do terreno até a metade deste, Pedro nada
poderá construir, sendo possível a construção de seu edificação, conforme
abaixo explicitado:

É necessário ainda, tecer alguns conceitos, para melhor elucidar o que se aplica
ou não ao presente caso.
Sendo que se entende por Área de preservação permanente, aquelas marginais
a cursos d’água, as quais irão variar de acordo com a extensão do curso d’água.
No caso em comento, verifica-se pois, a existência de um riacho de menos de
0,5m de largura nos fundos do terreno, de modo que, devido a isso é necessário
que Pedro observe uma área de preservação permanente de 30 metros no
entorno do riacho. Por outro lado, de acordo com a Lei 12.651/2012 (Código
Florestal), em seu artigo 3°, inciso III o qual preceitua que: “ III – Reserva Legal:
área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos
termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo
sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a
reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da
biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora
nativa;”, sendo portanto, inaplicável ao caso em comento, haja vista que
conforme narrado na situação problema trata-se de imóvel localizado na zona
urbana.
Acerca da observância da faixa não edificável, a Lei Federal nº 6.766/1979,
estabelece que estas deverão ser observadas da seguinte maneira:

III – ao longo das faixas de domínio público das rodovias, a reserva


de faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze) metros de cada
lado poderá ser reduzida por lei municipal ou distrital que aprovar
o instrumento do planejamento territorial, até o limite mínimo de 5
(cinco) metros de cada lado.

III-A - ao longo da faixa de domínio das ferrovias, será obrigatória


a reserva de uma faixa não edificável de, no mínimo, 15 (quinze)
metros de cada lado;

III-B - ao longo das águas correntes e dormentes, as áreas de


faixas não edificáveis deverão respeitar a lei municipal ou distrital
que aprovar o instrumento de planejamento territorial e que definir
e regulamentar a largura das faixas marginais de cursos d´água
naturais em área urbana consolidada, nos termos da Lei nº 12.651,
de 25 de maio de 2012, com obrigatoriedade de reserva de uma
faixa não edificável para cada trecho de margem, indicada em
diagnóstico socioambiental elaborado pelo Município;

Aplicando-se apenas o disposto no inciso III – B, segundo o qual além das


disposições contidas na Lei 12.651/2012, Pedro deverá observar também o
disposto na legislação municipal de onde o imóvel se encontra, o quanto
necessário relativo às áreas não edificáveis.
Necessário conceituar ainda, área verde ou institucional, de modo que, seguem
os respectivos conceitos abaixo transcritos:
As áreas institucionais de loteamentos são aquelas destinadas à edificação de
equipamentos comunitários, tais como praças, ginásio de esportes, áreas de
lazer, escolas, postos de saúde, entre outros, conforme dispõe o art. 4º, §2º da
Lei nº 6.766/79: Art. 4º. Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos
seguintes requisitos:
§ 2º - Consideram-se comunitários os equipamentos
públicos de educação, cultura, saúde, lazer e similares.
Por sua vez, as áreas verdes são espaços de domínio público que
desempenham função ecológica e paisagística, propiciando a melhoria da
qualidade ambiental, funcional e estética da cidade, dotadas de vegetação e
espaços livres de impermeabilização, e estão inseridas nos “espaços livres” dos
loteamentos, de acordo com o art. 4º, I da Lei Federal nº 6.766/79:
Art. 4º - Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos
seguintes requisitos: I - as áreas destinadas a sistemas de
circulação, a implantação de equipamento urbano e
comunitário, bem como a espaços livres de uso público,
serão proporcionais à densidade de ocupação prevista pelo
plano diretor ou aprovada por lei municipal para a zona em
que se situem. As áreas verdes revelam uma política de
proteção florestal tendo como objetivo manter e preservar
espaços verdes nas cidades.
Cabe ao Município regulamentar a porcentagem que os loteamentos devem ter
de espaços livres de uso público, previstos no art. 4º, inciso I, da Lei Federal nº
6.766/79, de acordo com a densidade de ocupação prevista pelo plano diretor,
haja vista ser interesse local preconizado pelo art. 30, inciso I, da Constituição
Federal.
Desta feita, Pedro deve observar a legislação federal e municipal no que tange
a observância de área institucional que deve ser preservada em seu loteamento.
Ademais, a partir das informações apresentadas no caso em comento e tendo
em vista que as atividades industrial e comercial que pretendem ser
desenvolvidas por Pedro podem ser consideradas como de pequeno potencial
lesivo ao meio ambiente, haja vista que trata-se de exercício de medicina
alternativa, tratamentos homeopáticos e cultivo e venda de ervas medicinais
desidratadas, pode-se concluir que o zoneamento que mais se amolda a
hipótese vertente, a ser requerido perante as autoridades competentes para
licença-prévia, licença de instalação e licença de operação, é o de zona industrial
de uso diversificado, do qual transcreve-se o conceito: “ A zona de uso
diversificado é uma zona destinada à localização de estabelecimentos industriais
cujo processo produtivo seja complementar das atividades do meio urbano ou
rural em que se situem, e com elas se compatibilizem, independentemente do
uso de métodos especiais de controle de poluição, não ocasionando, em
qualquer caso, inconvenientes à saúde, ao bem-estar e à segurança das
populações vizinhas.”
Ademais, todos os empreendimentos ou atividades potencialmente poluidoras,
por expressa exigência de lei, estão sujeitas ao licenciamento ambiental, que
trata-se, de um processo no qual o órgão ambiental licenciador exigirá
adequações técnicas por parte dos responsáveis, visando reduzir o impacto
ambiental causado pelo empreendimento ou pela atividade.
A exigência do licenciamento ambiental, portanto, é um ato vinculado, pois a
definição de quais sejam as atividades potencialmente poluidoras deve estar
prevista na legislação ambiental, não sendo de livre arbítrio do órgão ambiental.
Desta, forma, não será exigido o licenciamento ambiental no caso em apreço,
uma vez que no anexo I da resolução I da resolução 237/97 do CONAMA, não
foram elencados as atividades de exercício de medicina alternativa, tampouco o
cultivo, extração e comercialização de ervas como atividades passíveis de
exigência do licenciamento ambiental.
Ainda nesta mesma toada, devido à necessidade de determinar os
procedimentos simplificados para o licenciamento ambiental de
empreendimentos de pequeno porte, foi estabelecido por meio da Resolução nº
279/01 do CONAMA o RAS, que se trata de um estudo que proporciona a
avaliação de impactos ambientais causados nas fases de implantação e
operação do empreendimento. São estudos relacionados aos aspectos
ambientais, à localização, instalação e operação de empreendimentos de
infraestrutura principalmente, que são empregados na análise viabilidade de
atividades e empreendimentos que originam impactos ambientais pouco
significativos.
Conforme o parágrafo único do art. 1.277 citado manda que as interferências
sejam proibidas considerando-se a natureza da utilização, a localização do
prédio, “atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas, e os
limites ordinários de tolerância dos moradores vizinhos.” Importante observar
que a Lei civil leva em conta o zoneamento, que é função do Município.
A atividade fica submetida, também, ao bem-estar social, que se revela nas
limitações administrativas, que têm por objetivo justamente condicionar as
atividades dos particulares ao interesse de todos. Os regulamentos
administrativos cuidam das regras pertinentes à construção, o que significa que
construir se faz segundo regras previamente estabelecidas pelo Município,
envolvendo a construção, a reforma, a demolição, o levantamento de muros, as
escavações, os aterros, enfim, tudo o que diga respeito à edificação, passando,
ainda, pela segurança, a higiene, o aproveitamento do espaço etc..
Não se edifica sem prévia autorização do Município, cumprindo ao proprietário
submeter aos órgãos competentes da Administração Pública Municipal o projeto
da edificação, segundo as exigências presente na legislação municipal que cuida
da construção, para autorizar, mediante alvará, que a obra seja realizada.
No caso concreto, ao lado das regras regulamentadoras do direito de construir
presentes no Código Civil, cabe ao proprietário louvar-se, ainda, regulamentação
edilícia para que possa edificar, e mesmo em caso de utilização de imóvel para
comércio ou indústria, fica adstrito às limitações que sejam impostas pelo
Município, porque a utilização é prevista na regulamentação edilícia.
Portanto, pode-se inferir que no tocante à utilização da parte frontal do
loteamento como estacionamento, devido ao fato de não haver vedação legal,
tal pretensa deve observar a legislação municipal de onde o imóvel está sito.

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