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28.9.

2020 Unidade 1: RECURSOS AMBIENTAIS E POLUIÇÃO-EXTENSÃO

Unidade 1

A Lei 12.651/2012 introduziu em nosso ordenamento jurídico o novo Código Florestal, revogando
o anterior, disciplinado pela Lei 4.771/65. Com um processo legislativo permeado por entraves e
discussões entre a bancada ambientalista e a ruralista no Congresso Nacional, essa lei foi
sancionada e promulgada, mas recebeu uma série de vetos da Presidente da República. Logo a
seguir, foi editada a Medida Provisória nº 571, convertida na Lei 12.727/2012, que buscou
disciplinar alguns dos assuntos anteriormente vetados.

O Código Florestal normatiza os regimes de proteção de dois espaços territoriais especialmente


protegidos de suma importância: as áreas de preservação permanente (APPs) e a reserva legal.

As APPs estão definidas no art, 3º, inciso II, da Lei como “área protegida, coberta ou não por
vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a
estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo
e assegurar o bem-estar das populações humanas”.

Existem as APPs definidas pela própria lei em seu art. 4º e as APPs estabelecidas pelo Poder
Público, quando declaradas de interesse social, nas hipóteses previstas no art. 6º. Aquelas que
já têm previsão legal são:

-as faixas marginais de leitos d’água, conforme tabela abaixo:

LARGURA DO CURSO D’ ÁGUA FAIXA MARGINAL - (PARA CADA UM DOS LADOS)


- 10 METROS 30 METROS
10 A 50 METROS 50 METROS
50 A 200 METROS 100 METROS
200 A 600 METROS 200 METROS
+ DE 600 METROS 500 METROS

- as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

Zona rural (em regra) 100 metros


Zona rural com corpo d’ água com até 20 hectares de superfície 50 metros
Zona urbana 30 metros

- restingas - fixadoras de dunas e estabilizadoras de mangues

- manguezais

- bordas de tabuleiros ou chapadas em faixa mínima de 100 metros em projeção horizontal

- topo de morros, montes, montanhas, serras, com no mínimo 100 metros de altura e inclinação
média maior que 25º

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- áreas de altitude superior a 1.800 metros

- veredas - 50 metros de faixa marginal do espaço brejoso ou encharcado

Já a reserva legal vem definida na Lei, em seu art. 3º, inciso III como “área localizada no interior
de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar
o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a
conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da
biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa”.

O art. 12, por sua vez, estabelece os percentuais mínimos que as propriedades rurais devem
possuir de mata nativa a título de reserva legal. Confira-se:

- Se imóvel localizado na Amazônia Legal:

1. 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;

2. 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;

3. 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

- Se localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Vale ressaltar que, na vigência do Novo Código Florestal, é possível computar área de APP
como área de reserva legal, algo que o código anterior não permitia, sendo questionável se isso
seria alguma forma de retrocesso na proteção ambiental ou medida que favorece a exploração
sustentável do imóvel rural.

__________________________
1 Cf. Milaré, loc.cit.

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1-1 Aspectos do Novo Código e APPs.mp4 31:36

1-2 Reserva Legal e CAR.mp4 30:53

0:00/31:36 360P mp4

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Direito do Ambiente, 10ª ed.


MILARÉ, Édis

Nesta obra, Édis Milaré traz os principais elementos e características das áreas de preservação
permanente, da reserva legal e novidades trazidas pelo Novo Código Florestal para a proteção
de bens ambientais. Faz breve menção histórica sobre os regimes de proteção até os dias
atuais.

Apelação 0036512-46.2005.8.26.0506 – TJSP


1ª Câm. Reservada ao Meio Ambiente, Rel. Des. Oswaldo Luiz Palu, j. 12/05/2016

Nesse julgado, o Tribunal avalia a constituição de reserva legal sob a égide da lei anterior e faz o
cotejamento com os deveres estabelecidos no Novo Código Florestal, realizando uma
interpretação sobre o alcance do novo diploma a fatos pretéritos.

AgRg no RESP 1367968/SP – STJ


Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. 17/12/2013

Além de resgatar os conceitos de APP e de reserva legal no contexto do Novo Código Florestal,
o acórdão discorre sobre o caráter propter rem das obrigações decorrentes desses institutos de

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direito ambiental, reforçando os deveres de proteção aos titulares de direito de propriedade e


seus sucessores.

Veja vídeo produzido pela EMBRAPA sobre o Novo Código Florestal:


Novo Código Florestal (https://youtu.be/Za2M6t78n_o)

(https://youtu.be/Za2M6t78n_o)
.

Confira a discussão da recomposição de APPs em áreas urbanas consolidadas:

Apelação nº 0049172-35.2011.8.26.0224, TJSP, 1ª Câmara Reservada ao Meio


Ambiente, Rel. Des. Dimas Fonseca, j. 12/05/2016 – Ementa: “AÇÃO CIVIL
PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. Responsabilidade objetiva e solidária de todos os
entes federados, pela preservação e fiscalização contínua e permanente de espaço
ambiental protegido. Bairros construídos em área de preservação permanente
situada à margem de curso d'água (córrego). Comprovação, porém, de que os
arredores dos bairros possuem características urbanas (pavimentação asfáltica,
fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água, sistema de coleta de
esgoto e aterramento parcial do córrego). Hipótese que configura a região como
área urbana consolidada, nos termos do artigo 47, II, da Lei nº 11.977/09 e do
artigo 2º, XIII, da Resolução nº 303/2002 do CONAMA, implicando na perda da
função ecológica do local e na evidente impossibilidade de restabelecimento das
condições ambientais originárias. Inviabilidade da restituição ao status quo ante,
máxime pelo forte impacto social negativo que a medida implicaria. Aplicação dos
princípios da razoabilidade e do desenvolvimento sustentável. Regularização do
loteamento devida, com concessão de maior prazo para a efetivação. Dispensada
a desocupação da APP, diante da perda da função ambiental. Indenização indevida
dos adquirentes ou do dano urbanístico ambiental. Preliminar rejeitada e recurso
parcialmente provido”.

POLIZIO Jr., Vladmir. Novo Código Florestal – comentado, comparado e anotado,


artigo por artigo. 3ª ed. São Paulo: Rideel, 2016.

Para um estudo pormenorizado sobre determinados artigos do Novo Código


Florestal, com resolução de questões.

Petição inicial da ADI 4901, questionando dispositivos do Novo Código Florestal –


disponível em:

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http://4ccr.pgr.mpf.mp.br/documentos-e-publicacoes/adis-
propostas/adi_4901_peticao_inicial_-_parte_1.pdf/view
(http://4ccr.pgr.mpf.mp.br/documentos-e-publicacoes/adis-
propostas/adi_4901_peticao_inicial_-_parte_1.pdf/view) .

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 10.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 1309/1348.

LEMOS, Patrícia Faga Iglecias. Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013.

Vimos nesta unidade os principais aspectos do Código Florestal, agora regido pela Lei
12.651/12, com alterações pela Lei 12.727/2012.

Embora a lei ora em vigor tenha mantido o regime de proteção de florestas como bens de
interesse comum, alguns dos principais institutos de proteção ambiental sofreram alterações.

É preciso lembrar, antes de mais, que a preservação ambiental por meio de manutenção ou
recomposição de APPs ou de reserva legal configura obrigação propter rem, ou seja, obrigação
real, transmissível com a coisa, ao sucessor do proprietário ou do possuidor. Impõe, portanto,
limites ao exercício do direito de propriedade.

As áreas de preservação permanente, cuja principal função é garantir o equilíbrio dos


ecossistemas em locais e bens sensíveis, estão arroladas no art. 4º da lei, podendo ser
ampliadas pelo Poder Público quando caracterizado o interesse social, conforme art. 6º. A
despeito das APPs se manterem, o novo Código Florestal traz hipóteses de supressão da
vegetação nativa nos casos de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto
ambiental, conforme previsto em lei. Diferentemente do código anterior, a lei atual atribui a ato do
Chefe do Poder Executivo federal as hipóteses de utilidade pública. Já nos casos de baixo
impacto social, é previsto ao CONAMA estabelecer outras ações ou atividades similares, para
além daquelas definidas no próprio Código1.

Por outro lado, a nova lei passou a estabelecer a obrigação de recomposição das áreas de
preservação permanente, bem como a manutenção de atividades em APPs, desde que em áreas
rurais consolidadas, entendidas aquelas cuja ocupação antrópica era anterior à data de 22 de
julho de 2008, com atividades restritas e previstas na lei, em seu art. 65-A.

No que tange à reserva legal, lembremos que o novo diploma legal amplia a sua função,
tornando-a mais flexível para permitir a intervenção nessas áreas para uso e exploração
sustentáveis, conferindo-lhe um caráter ao mesmo tempo econômico e conservacionista.

A regra geral de instituição e manutenção de reserva legal encontra-se no art. 12. No entanto,
excetuam-se a essa regra os imóveis com até quatro módulos rurais cujas reservas legais até 22
de julho de 2008 eram menores que as estipuladas na lei, bem como aqueles imóveis que
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observaram os limites legais para a supressão de vegetação em um tempo em que esses limites
eram menores e, atualmente, estão em situação de “déficit”de reserva legal. Nesses casos, não
será necessária a recomposição, conforme art. 68.

O imóvel deve ser incluído no Cadastro Ambiental Rural – CAR, que é um registro público
eletrônico de todos os imóveis rurais nacionais, integrante do Sistema Nacional de Informação
sobre Meio Ambiente e tem por finalidade o controle, monitoramento, planejamento econômico e
ambiental dessas áreas. Após inclusão do imóvel no CAR, o órgão ambiental estadual
competente analisará a área indicada pelo proprietário a título de reserva legal. Para a respectiva
aprovação, o órgão do SISNAMA deverá considerara existência de bacia hidrogáfica, o
Zoneamento Ecológico-Econômico, os corredores ecológicos com outras áreas protegidas e
áreas de maior importância ou fragilidade ambiental (art. 14).

É importante ressaltar que, apesar da obrigatoriedade da inscrição do imóvel rural no CAR, ela
não gera título de propriedade, mantendo-se a função dos Registros de Imóveis para esse fim.
No entanto, a inscrição do imóvel no CAR desobriga o proprietário da averbação da reserva legal
na matrícula do imóvel, no Cartório de Registro de Imóveis (art. 18, §4º).

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1 Cf. Milaré, loc.cit.

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