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Legislações ambientais

específicas e a Política
Nacional de Mudanças
Climáticas
Introdução
Você está na unidade Legislações ambientais
específicas e a Política Nacional de Mudanças
Climáticas. Conheça aqui o conceito, as características e
os princípios da proteção das vegetações, da fauna, da
flora, dos recursos hídricos e das cidades. Entenda
também o papel da união solidária entre o Estado e a
coletividade para a criar mecanismos de preservação e
controle contra a poluição ou qualquer outro ato que
interfira no meio ambiente equilibrado e nas mudanças
climáticas. Conheça ainda a proteção ampla ao meio
ambiente como garantia dos direitos humanos essenciais
a toda forma de vida.
Bons estudos!

3.1 Lei 12.651/2012 – Proteção de Vegetação Nativa


A Lei da Proteção da Vegetação Nativa foi instituída no novo Código Florestal por meio da Lei nº 12.651/12,
após revogar o de 1965 (que era instituído pela Lei nº 4.771/65), e originou-se após um extenso conflito de
revisão da lei anterior. No entanto, resguardou o principal objetivo da lei, que é o de regulamentar o uso da
vegetação nativa e do solo.

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Figura 1 - Propriedade rural de lavoura de milho

Fonte: Vinicius Abe, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: A imagem retrata uma lavoura com extensa área de plantação e milho, ainda em fase inicial
para colheita. A cor verde é predominante e no fundo da imagem tem um céu azul pouco nublado e várias
árvores.
Com isso, a lei também inovou com a criação do Cadastro Ambiental Rural - CAR, sistema de coleta de
informações de imóveis rurais, sistema de mapeamento de áreas e características ambientais envolvendo
terras, e a implantação do Programa de Normalização Ambiental - PRA em os estados e distritos federais com
a função de supervisionar e orientar a reestruturação das áreas rurais.

3.1.1 Lei nº 12.651/2012 – Área de Proteção Permanente


(APPs)

De acordo com a Lei nº 12.651 de 2012 (on-line), uma área protegida permanente (APP) refere-se a uma “[...]
área protegida, seja ou não coberta por vegetação nativa, tem a função ambiental de proteger os recursos
hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, e promover o gene fluxo".
Assim, o capítulo II da Lei nº 12.651/2012 dedicou-se a isso, dividindo-se em duas vertentes: a primeira
dedicada à limitação das APPs e, a segunda, visa à delimitação das ações antrópicas, considerando a função
ecológica de cada área.
As delimitações das APPs acompanham um processo técnico que considera a função ecológica das áreas a
serem preservadas. Desse modo, a lei estabelece a primeira espécie pelo artigo 4°:

“ Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou


urbanas, para os efeitos desta Lei:

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I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente,
excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima
de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50
(cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50 (cinquenta) a 200
(duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a
600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que tenham largura superior a
600 (seiscentos) metros;
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima
de:
a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20
(vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;
b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de
barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença
ambiental do empreendimento; (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que
seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros; (Redação
dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45º, equivalente a
100% (cem por cento) na linha de maior declive;
VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;
VII - os manguezais, em toda a sua extensão;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em
faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100
(cem) metros e inclinação média maior que 25º , as áreas delimitadas a partir da
curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação
sempre em relação à base, sendo essa definida pelo plano horizontal determinado
por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do
ponto de sela mais próximo da elevação;
X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que
seja a vegetação; (Vide Art.4° da Lei 12.651/2012) „

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Nesse sentido, vislumbra-se que o novo texto da Lei nº 12.651/2012 alterou a lei anterior, aduzindo que “[...] a
zona de proteção permanente é medida a partir da calha comum no leito do rio. Para zonas úmidas ou várzeas
adjacentes a cursos de água, as áreas permanentes protegidas se concentrarão nas próprias zonas úmidas ou
várzeas (Artigo 3, parágrafo XIX e Artigo 4, parágrafo I)”. Vale ressaltar que ABC e SBPC (2012) formularam
medidas as provisórias nº 571/2012 para reduzir a área de reflorestamento no entorno das nascentes.
Além disso, no que se refere à recuperação de áreas rurais integradas, o artigo 61-A da referida lei informa
que há autorização exclusiva para a continuidade das atividades agrícolas e florestais, de ecoturismo e turismo
rural em áreas rurais integradas até 22 de julho de 2008.
Ademais, os legisladores consideraram as exceções às restrições estipuladas na APP nos parágrafos das
cláusulas anteriores e determinaram tratamentos diferenciados para as pequenas propriedades rurais,
conforme descrito no parágrafo § 5º do art. 4:

“ Art. 4º [...]
§ 5º É admitido, para a pequena propriedade ou posse rural familiar, de que trata o
inciso V do art. 3º desta Lei, o plantio de culturas temporárias e sazonais de
vazante de ciclo curto na faixa de terra que fica exposta no período de vazante dos
rios ou lagos, desde que não implique supressão de novas áreas de vegetação
nativa, seja conservada a qualidade da água e do solo e seja protegida a fauna
silvestre. „
Nessa linha de pensamento, convém destacar o posicionamento da doutrina de que, apesar das exceções
determinadas pelo legislador, entende-se que essa postura é criticável, uma vez que os objetivos das APPs
visam a proteger as áreas de preservação independentemente da condição socioeconômica dos proprietários
ou de quem as utiliza (RODRIGUES, 2018).

Fique de olho
Para a adequação do terreno rural, o proprietário, nas reservas legais, pode
optar pela recomposição ou compensação da vegetação nativa. Além disso, o
proprietário rural pode optar por deixar a vegetação nativa se regenerar
naturalmente.

Segundo Rodrigues (2018), “[...] a lei deveria prever que tais atividades fossem precedidas de autorização do
Poder Público, e não simplesmente uma declaração simples do proprietário ou produtor que exercerá a
atividade de baixo impacto ambiental”. Nesse mesmo sentido, disciplina o art. 52 da lei estudada:

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Art. 52. A intervenção e a supressão de vegetação em Áreas de Preservação

“ Permanente e de Reserva Legal para as atividades eventuais ou de baixo impacto


ambiental, previstas no inciso X do art. 3º, excetuadas as alíneas b e g, quando
desenvolvidas nos imóveis a que se refere o inciso V do art. 3º [pequena „
propriedade ou posse rural familiar], dependerão de simples declaração ao órgão
ambiental competente, desde que esteja o imóvel devidamente inscrito no CAR.

Além disso, as delimitações das APPs são baseadas na função social, como é disposto no art. 6º da Lei n.
12.651/2012 (on-line). Nesse contexto, caso haja declaração de interesse social, as áreas são destinadas às
seguintes finalidades:

“ Art. 6°. I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de


terra e de rocha;
II - proteger as restingas ou veredas;
III - proteger várzeas;
IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção;
V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico;
VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
VII - assegurar condições de bem-estar público;
VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares. „
Diante do exposto, esse instituto ambiental tem um relevante papel na ecologia e no equilíbrio do meio
ambiente, promovendo a conservação e a preservação das diversas formas de vida.

3.2 Lei nº 9.433/1997 – Política Nacional de Recursos


Hídricos
Antes da Magna Carta de 1988, a proteção nacional sobre recursos hídricos, assim como a preservação
ambiental, dava-se de forma indireta, possuindo apenas caráter econômico com relação ao direito e à
proteção da propriedade, ou ainda relacionado à questão sanitária. Entretanto, esse cenário se modificou com
o texto constitucional em 1988 e Lei nº 9.433 de 1997.

Figura 2 - Moderna estação de tratamento de águas residuais urbanas

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Fonte: M-Production, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: A imagem representa uma estação de água, cercada ao fundo com o verde das florestas e o
azul do céu, ainda iluminado pelo clarão do Sol do lado direito.
O artigo 1º da Lei das Águas estipula que a água é um recurso natural limitado, de valor econômico e de
domínio público, pelo que, em caso de escassez, é dada prioridade ao consumo humano e à dádiva dos
animais.

Fique de olho
De acordo com a Lei nº 9.433 / 1997, a água é de toda a população, portanto,
sua outorga deve ser aprovada pelo poder público, sendo considerada um
instrumento de distribuição de água nos mais diversos usos da bacia
hidrológica, devendo, inclusive, atender a parâmetros e requisitos legais.

Salienta-se que o uso múltiplo dos recursos hídricos deve ser realizado de forma descentralizada e solidária,
ou seja, pela unidade do país e da comunidade. Portanto, o artigo 2º da Lei nº 9.433/97 estipula os objetivos
da política nacional de recursos hídricos, que são:

“ I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,


em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
II - a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte
aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural
ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
IV - incentivar e promover a captação, a preservação e o aproveitamento de águas
pluviais (Incluído pela Lei nº 13.501, de 2017) (BRASIL, 1997, on-line). „
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Para cumprir fielmente a lei, foram estabelecidas as seguintes instituições: Comissão Nacional de Recursos
Hídricos (CNRH); Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental (SRHQ); Autoridade Nacional de
Águas; Comissão Estadual de Recursos Hídricos (CERH); Agência Nacional de Gestão de Recursos Hídricos
(entidade nacional); Comitê da Bacia Hidrográfica; e Agência para os Assuntos Hídricos.
A classificação da água também é importante na luta pela proteção dos recursos hídricos, pois ajuda a
determinar o nível de qualidade que deve ser mantido ou alcançado para que as condições futuras da água
possam ser monitoradas, reduzindo custos e prevenindo a poluição.

Fique de olho
A divisão das classes dos corpos de água foi feita pela Resolução n.º 357 por
meio do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Ressalta-se que essa
classificação não é estática, haja vista que depende das variadas situações em
que as águas se encontram, sendo possível, portanto, que sofram alterações.

No que se refere às outorgas, é o instrumento que autoriza, concede ou permite a utilização de determinados
recursos hídricos, que ocorre por meio de ações administrativas da competência da União ou de cada estado,
e não ultrapassa 35 anos em prazo fixo, podendo ser estendido. O art. 12 da Lei nº 9433/1997 (on-line)
estipula quais recursos hídricos devem ser concedidos pelo governo, a saber:

“ I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para


consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;
II - extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de
processo produtivo;
III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou
gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;
IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água
existente em um corpo de água. „
Não obstante, o parágrafo primeiro do próprio artigo enumera os recursos que independem de outorga dos
poderes públicos, sendo eles: “I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos
núcleos populacionais, distribuídos no meio rural; II - as derivações, captações e lançamentos considerados
insignificantes; III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes”.

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Fique de olho
Enfatiza-se a importância de verificar o uso correto dos recursos hídricos, seja
para usos não aprovados ou licenciados. A fiscalização é realizada por meio
dos órgãos reguladores de diversas regiões do Brasil. Nesse contexto, convém
destacar que, caso haja irregularidades constatadas, haverá a devida apuração
para a aplicação das penalidades previstas na lei.

Sequencialmente, cabe destacar as penalidades que a Lei nº 9433/97 (on-line) traz para qualquer ato que
infrinja os objetivos de gestão, preservação e manutenção dos recursos hídricos :

“ I - derivar ou utilizar recursos hídricos para qualquer finalidade, sem a respectiva


outorga de direito de uso;
II - iniciar a implantação ou implantar empreendimento relacionado com a derivação
ou a utilização de recursos hídricos, superficiais ou subterrâneos, que implique
alterações no regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, sem autorização dos
órgãos ou entidades competentes;
III - (VETADO)
IV - utilizar-se dos recursos hídricos ou executar obras ou serviços relacionados
com os mesmos em desacordo com as condições estabelecidas na outorga;
V - perfurar poços para extração de água subterrânea ou operá-los sem a devida
autorização;
VI - fraudar as medições dos volumes de água utilizados ou declarar valores
diferentes dos medidos;
VII - infringir normas estabelecidas no regulamento desta Lei e nos regulamentos
administrativos, compreendendo instruções e procedimentos fixados pelos órgãos
ou entidades competentes;
VIII - obstar ou dificultar a ação fiscalizadora das autoridades competentes no
exercício de suas funções. „
Já o art. 50 da referida lei traça as penalidades para as infrações cometidas, sendo elas:

“ I - advertência por escrito, na qual serão estabelecidos prazos para correção das
irregularidades;
II - multa, simples ou diária, proporcional à gravidade da infração, de R$ 100,00
(cem reais) a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais); (Redação dada pela
Lei nº 14.066, de 2020)

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III - embargo provisório, por prazo determinado, para execução de serviços e obras
necessárias ao efetivo cumprimento das condições de outorga ou para o
cumprimento de normas referentes ao uso, controle, conservação e proteção dos
recursos hídricos;
IV - embargo definitivo, com revogação da outorga, se for o caso, para repor
incontinenti, no seu antigo estado, os recursos hídricos, leitos e margens, nos
termos dos arts. 58 e 59 do Código de Águas ou tamponar os poços de extração de
água subterrânea’. (BRASIL, 1997, on-line) „
Desta forma, a Lei de águas trouxe importantes questões sobre proteção, fiscalização e penalidades relativas
aos recursos hídricos, sendo relevantes suas pontuações para a manutenção das águas e,
consequentemente, da vida no planeta.

3.3 Lei nº 10.257/2001 – Estatuto das Cidades


O Estatuto das Cidades, regulamentado pela Lei nº 10.257/2001, de acordo com o primeiro artigo: ‘‘[...]
estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do
bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental’’ (BRASIL, 2001,
on-line)

Figura 3 - Vila Velha - ES

Fonte: renata sattler colella, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: Para representar as cidades, a foto retrata a Vila Velha, município do estado do Espírito Santo.
A imagem, tirada de cima de uma montanha com cactos e matos, captura a cidade banhada ao lado direito
pelo mar e, ao lado esquerdo, tendo prédios altos.
Nesse sentido, a Constituição Federal (BRASIL, 1988, on-line) estabelece, pelo art. 182, que: ‘‘A política de
desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei,

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tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de
seus habitantes’’. Para tal, é necessário referir que devem ser universais para cumprir a função social da
cidade e todos os estilos de vida contidos no território, garantir o entusiasmo dos cidadãos pelo bem-estar e
garantir os direitos mínimos de acessibilidade.
Embora não seja expresso, as políticas urbanas não podem deixar de se preocupar com as demandas
ambientais, visto que todas elas, como o solo, a água, o ar etc. são afetados diretamente pelas
transformações urbanas causadas pelas ações antrópicas.

Fique de olho
Extrai-se da legislação que a competência constitucional relativa à política
urbana se distingue em competência legislativa, cabendo à União fixar as
regras gerais e diretrizes para o pleno desenvolvimento urbano, assim nos
moldes do art. 21, XX; e em competência administrativa/material, o Poder
Público Municipal deve executar a política urbana nos moldes do art. 182, caput.

A esse respeito, o mesmo artigo estipula que, para as cidades com população superior a 20 mil habitantes, o
plano diretor obrigatório aprovado pela Câmara Municipal é um instrumento básico para a política de
desenvolvimento e expansão urbana. Ainda, ‘‘[...] a propriedade urbana cumpre sua função social quando
atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor’’ (BRASIL, 1988, on-
line).
Nesse sentido, fez-se necessário criar instrumentos para que o município pudesse concretizar políticas que
cumprissem a função da propriedade urbana e os direitos dos cidadãos da cidade. Desse modo, o art. 4º da
Lei nº 10.257 de 2001 (BRASIL, 2001, on-line) dispõe de instrumentos para serem utilizados, como:

“ I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de


desenvolvimento econômico e social;
II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões;
III – planejamento municipal;
IV – institutos tributários e financeiros;
V – institutos jurídicos e políticos;
VI – estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e estudo prévio de impacto de
vizinhança (EIV) „
Fique de olho

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A doutrina ensina que os instrumentos da política urbana foram divididos em
quatro grupos: planos de desenvolvimento urbano (nacional, regional, estadual,
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas, microrregiões e municípios);
instrumentos de planejamento municipal; institutos tributários e financeiros;
institutos jurídicos e econômicos (RODRIGUES, 2018)

Destaca-se que, no âmbito municipal, as ações de planejamento precisam envolver: planejamento urbano,
ambiental, setorial, econômico/orçamentário, tributário e social para garantir a efetiva prestação das
finalidades do direito ambiental. Além disso, deve ser solidária e participativa, tornando a sociedade
beneficiária e colaboradora da ação. Assim, as ações implementadas devem ter como objetivo a proteção e
manutenção do meio ambiente e a garantia de um ambiente ecologicamente equilibrado para todas as formas
de vida abrangidas pelo sistema ambiental. Desse modo, ‘‘[...] a preocupação com recursos ambientais ganha
ainda mais importância nos ambientes urbanos, onde, por conta de todo tipo de poluição, diminui-se muito a
qualidade de vida’’ (RODRIGUES, 2018).
Neste sentido, é indubitável que as atividades desenvolvidas na cidade terão impacto no seu entorno,
especialmente o impacto no meio ambiente. Dessa forma, o planejamento urbano deve ser adotado.
Diferentes padrões de cidade na área consideram essa influência, de acordo com os art. 36 , 37 e 38:

“ Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou


públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de
impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção,
ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal.
Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e
negativos do empreendimento ou atividade quanto à qualidade de vida da
população residente na área e suas proximidades, incluindo a análise, no mínimo,
das seguintes questões:
I – adensamento populacional;
II – equipamentos urbanos e comunitários;
III – uso e ocupação do solo;
IV – valorização imobiliária;
V – geração de tráfego e demanda por transporte público;
VI – ventilação e iluminação;
VII – paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.
Parágrafo único. Dar-se-á publicidade aos documentos integrantes do EIV, que
ficarão disponíveis para consulta, no órgão competente do Poder Público municipal,
por qualquer interessado.
Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação de estudo
prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental. „
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No entanto, alguns comportamentos humanos interferem diretamente na dinâmica urbana, de forma que as
normas urbanas não são suficientes para orientar o desenvolvimento das cidades, o que afeta a infraestrutura
e os equipamentos e serviços públicos (Brasil, 2011).
Diante disso, o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) foi estabelecido para fornecer ao governo uma forma
de decidir sobre a concessão de licença para implantação do projeto. Dessa forma, quando um EIV ou EIA é
apresentado, o município pode conceder autorizações, negá-las e até mesmo restringi-las para implementar
medidas de mitigação ou afetar a compensação (Brasil, 2011).

3.4 Lei nº 9.985/2000 – Sistema Nacional de Unidades


de Conservação
O Sistema Nacional de Unidades Protegidas (SNUC) foi instituído pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000,
para regulamentar o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal (BRASIL, 1988), sendo que
essa lei estabelece padrões e normas para a criação, implantação e gestão de unidades de proteção.

Figura 4 - Parque Estadual dos Três Picos - Nova Friburgo - Rio de Janeiro

Fonte: Fernanda Rezende, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: A imagem mostra copas de árvores em primeiro plano e uma cadeia de montanhas de rocha
em segundo.
Para tanto, a Lei nº 9985/2000 tem como objetivos alguns consectários importantes à conservação trazida pelo
artigo 4º:

“ I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos


no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

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III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas
naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no
processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,
espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos
e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a
recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações
tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e
promovendo-as social e economicamente. „
Sequencialmente, ressalta-se que as diretrizes do Sistema Nacional de Unidade de Conservação são
elencadas no 5º artigo, sendo elas:

“ Art. 5o O SNUC será regido por diretrizes que:


I - assegurem que no conjunto das unidades de conservação estejam
representadas amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes
populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas
jurisdicionais, salvaguardando o patrimônio biológico existente;
II - assegurem os mecanismos e procedimentos necessários ao envolvimento da
sociedade no estabelecimento e na revisão da política nacional de unidades de
conservação;
III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação
e gestão das unidades de conservação;
IV - busquem o apoio e a cooperação de organizações não-governamentais, de
organizações privadas e pessoas físicas para o desenvolvimento de estudos,
pesquisas científicas, práticas de educação ambiental, atividades de lazer e de
turismo ecológico, monitoramento, manutenção e outras atividades de gestão das
unidades de conservação;

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V - incentivem as populações locais e as organizações privadas a estabelecerem e
administrarem unidades de conservação dentro do sistema nacional;
VI - assegurem, nos casos possíveis, a sustentabilidade econômica das unidades
de conservação;
VII - permitam o uso das unidades de conservação para a conservação in situ de
populações das variantes genéticas selvagens dos animais e plantas domesticados
e recursos genéticos silvestres;
VIII - assegurem que o processo de criação e a gestão das unidades de
conservação sejam feitos de forma integrada com as políticas de administração das
terras e águas circundantes, considerando as condições e necessidades sociais e
econômicas locais;
IX - considerem as condições e necessidades das populações locais no
desenvolvimento e adaptação de métodos e técnicas de uso sustentável dos
recursos naturais;
X - garantam às populações tradicionais cuja subsistência dependa da utilização de
recursos naturais existentes no interior das unidades de conservação meios de
subsistência alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos;
XI - garantam uma alocação adequada dos recursos financeiros necessários para
que, uma vez criadas, as unidades de conservação possam ser geridas de forma
eficaz e atender aos seus objetivos;
XII - busquem conferir às unidades de conservação, nos casos possíveis e
respeitadas as conveniências da administração, autonomia administrativa e
financeira; e
XIII - busquem proteger grandes áreas por meio de um conjunto integrado de
unidades de conservação de diferentes categorias, próximas ou contíguas, e suas
respectivas zonas de amortecimento e corredores ecológicos, integrando as
diferentes atividades de preservação da natureza, uso sustentável dos recursos
naturais e restauração e recuperação dos ecossistemas. „
Fique de olho
Para se harmonizarem aos sistemas disciplinados no ordenamento jurídico,
com base no art. 225, parágrafo 1º, inciso III da CF (BRASIL, 1988), as
Unidades de Conservação (UAs) foram classificadas pela Lei nº 9.985/2000
(BRASIL, 2000, on-line) como “[...] espaço territorial e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual
se aplicam garantias adequadas de proteção”.

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Ainda, conforme a mesma lei, o Sistema Nacional de Unidade de Conservação, pelo artigo 6º (BRASIL, 2000,
on-line) é gerido pelos seguintes órgãos:

“ Art. 6o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:
I – Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente -
Conama, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema;
II - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o
Sistema; e
III - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo,
os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar
as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais,
estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. „
Assim, extrai-se do artigo que o Conselho Nacional do Meio Ambiente é um órgão consultivo e revisor
responsável pela fiscalização e implantação do sistema, e o Ministério do Meio Ambiente é um órgão central
cuja finalidade é coordenar o sistema com o Instituto Chico Mendes e o Ibama, bem como suplementar os
setores estadual e municipal. A função do órgão executivo é a implantação do SNUC, “[...] subsidiar as
propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas
respectivas esferas de atuação” (BRASIL, 2000, on-line).
Cumpre salientar que, para a criação da unidade de conservação, é obrigatória a consulta pública, garantindo
o acesso e a participação da comunidade para o zelo do meio ambiente.
Não obstante, as unidades de conservação são divididas em dois grupos: de Proteção integral e de uso
sustentável. Conceitualmente, a primeira categoria, de acordo com a legislação, tem como objetivo proteger a
natureza e só permitir o uso indireto dos recursos naturais, exceto nos casos previstos nesta lei. É importante
ressaltar que estão incluídos nesse grupo: estação ecológica; reserva biológica; parque nacional; refúgio de
vida silvestre; monumento natural.
Consonante, o segundo grupo, procura compatibilizar “[...] a conservação da natureza com o uso sustentável
de parcela dos seus recursos naturais” (BRASIL, 2000, on-line), e estão incluídos nesse grupo: área de
proteção ambiental; área de relevante interesse ecológico; floresta nacional; reserva extrativista; reserva de
fauna; reserva de desenvolvimento sustentável; reserva particular do patrimônio natural.
Pelo exposto neste tópico, você conheceu os principais pontos da Lei nº 9985/2000, como objetivos, diretrizes,
execução, dentre outros.

3.5 Lei nº 12651/12 – Código Florestal

- 16 -
Na década de 1930, com a vigência do Estado Novo, havendo a expansão da comercialização e o plantio do
café, ocorreu devastação das florestas e, por conseguinte, as matas estavam cada vez mais longe das
cidades, havendo a necessidade de transporte do material, uma vez que ainda se usava a lenha como matéria
para incendiar e conseguir, com o calor, realizar as atividades rotineiras.
Por haver a necessidade de transporte da madeira até os centros urbanos, essa atividade estava ficando cada
vez mais onerosa e, com o intuito de frear essas questões, aconteceu a promulgação do primeiro Código
Florestal, que determinava que 25% da propriedade das pessoas ficasse como uma área de preservação para
que pudessem dali obter lenha, ainda que não considerasse qual área deveria ficar para prover a madeira ou
se deveria haver a preservação das árvores nativas.
No entanto, a legislação apresenta lacunas na aplicação para proteger o meio ambiente de forma eficaz e as
sanções correspondentes para evitar maiores danos, fazendo com que os proprietários de terras usem
brechas na legislação para realizar o desmatamento descontrolado.
Nesse cenário, surgiu o Novo Código Florestal, revogando o Decreto nº 23.793/34, sendo, nesse caso, a Lei nº
4.771/1965, que, segundo entendimento de Laureano e José Magalhães (2011, on-line), trazia notáveis
avanços:

“ Os avanços na legislação de 1965 podem ser facilmente observados. Enquanto o


Código de 1934 tratava de proteger as florestas contra a dilapidação do patrimônio
florestal do país, limitando aos particulares o irrestrito poder sobre as propriedades
imóveis rurais, o Código de 1965 reflete uma política intervencionista do Estado
sobre a propriedade imóvel agrária privada na medida em que as florestas
existentes no território nacional e as demais formas de vegetação são consideradas
bens de interesse comum a todos os habitantes do país.
Aprimoraram, nesta via, as figuras jurídicas da Reserva Legal e das Áreas
Permanentes de Preservação do código de 1934. Observa-se também que a
proteção contra o desmatamento e a não utilização dessas áreas para atividades
agrárias visa todo o ecossistema e a biodiversidade, iniciando-se uma concepção
de desenvolvimento sustentável por meio da legislação florestal brasileira „
Assim, nota-se que, para acompanhar a evolução do desmatamento e o uso arbitrário das áreas florestais, as
leis foram adequadas para oferecerem uma melhor proteção ao meio ambiente. Desse modo, segundo o site
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa (2016, online), o atual código:

“ [...] estabelece normas gerais sobre a Proteção da Vegetação Nativa, incluindo


Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Uso Restrito; a
exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem

- 17 -
dos produtos florestais, o controle e prevenção dos incêndios florestais, e a


previsão de instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus
objetivos.

Outrossim, ainda acrescenta sobre as novidades trazidas na atual lei, abordando que:

“ Uma das inovações da Lei é a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e a


previsão de implantação do Programa de Regularização Ambiental (PRA) nos
Estados e no Distrito Federal. Com o CAR, será possível ao Governo Federal e
órgãos ambientais estaduais conhecerem não apenas a localização de cada imóvel
rural, mas também a situação de sua adequação ambiental; o PRA, por sua vez,
permitirá que os estados orientem e acompanhem os produtores rurais na
elaboração e implementação das ações necessárias para a recomposição de áreas
com passivos ambientais nas suas propriedades ou posses rurais, seja em Áreas
de Preservação Permanente, de Reserva Legal ou de Uso Restrito (EMBRAPA,
2016, on-line). „
Figura 5 - Meio ambiente sustentável

Fonte: Pasko Maksim, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: A imagem mostra uma mão segurando um punhado de terra marrom com uma semente em
fase de germinação, e ainda se nota que a imagem é iluminada pelos raios de sol.
Logo, percebe-se que a legislação ambiental está em constante evolução para proteger o meio ambiente,
propondo meios para conciliar a vida humana com o meio ambiente natural, cultural, do trabalho etc., com o
fito de harmonizar e controlar a intervenção humana.
Esse é o objetivo do Código Florestal: determinar a utilização e a intervenção do homem no meio ambiente
natural, visando a não degradação e a exploração irresponsável dos recursos naturais, que em muitos casos,
estão ameaçados pela presença do homem.

Fique de olho

- 18 -
O código ambiental foi evoluindo à medida que o homem notava a importância
da proteção do meio ambiente, observando como os dematamentos e demais
interferências humanas no meio ambiente natural podem gerar resultado que
pode vir a ocasionar malefícios para toda a sociedade.

Assim, tendo em vista que o direito ambiental não possui um código compilado, havendo diversas legislações
que o regulamentem, o Código Florestal é uma dessas legislações ambientais e visa a maior proteção da
natureza, regulando a atividade do homem no ambiente natural.

3.6 Consumo sustentável e responsabilidade pós-


consumo
Atualmente, vivemos propensos a consumir. O manuseio irregular de alto rendimento tem causado danos ao
meio ambiente. Portanto, é necessário direcionar o crescimento econômico para novas alternativas que não o
agridam.
Tendo em vista que grande parte da população consome menos que o necessário para que suas
necessidades básicas sejam atendidas, reduzir é o tratamento eficaz para a sustentabilidade. Reduzir o
consumo de alimentos, combustíveis fósseis, água, e produtos que não são ecológicos, como o grande vilão
da sustentabilidade: o plástico.
A agricultura é o ramo da economia que mais consome água, e a irrigação utiliza quase 70% da água potável
do mundo. Por isso, a medida necessária é o gerenciamento eficiente dos recursos naturais, reduzindo
consumo, promovendo o descarte correto de lixo tóxico e de poluentes e estimulando a reciclagem. Contudo, a
redução de desperdício global de alimentos é de extrema importância para a sustentabilidade, sendo que, sem
uma cadeia de consumo mais eficiente, não se terá garantia de um bom futuro próximo.
Conforme a ONU BrasiL, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para
acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares,
possam desfrutar de paz e de prosperidade. (ONU Brasil, [20--], on-line). Os objetivos estabelecidos para
atingir a proposta da Agenda 2030 são: 1. erradicação da pobreza; 2. fome zero e agricultura sustentável; 3.
saúde e bem-estar; 4. educação de qualidade; 5. igualdade de gênero; 6. água potável e saneamento; 7.
energia limpa e acessível; 8. trabalho decente e crescimento econômico; 9. indústria, inovação e infraestrutura;
10. redução de desigualdades; 11. cidades e comunidades sustentáveis; 12. consumo e produção
sustentáveis; 13. ação contra a mudança global do clima; 14. vida na água; 15. vida terrestre; 16. paz, justiça e
instituições eficazes; parcerias e meios de implementação.
Assim, até 2030, os ODS visam a alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais de
modo a garantir que as pessoas tenham informação relevante e conscientização sobre o desenvolvimento
sustentável e estilos de vida em harmonia com a natureza (FUNDACRED, [20--]).

- 19 -
A obra "Modernidade Líquida", de Zygmunt Bauman, desdobra-se pela sociedade de consumo e as novas
relações no meio capitalista. Para o autor, a modernidade líquida acompanha a incapacidade de “[...] reduzir o
ritmo estonteante da mudança, muito menos prever ou controlar sua direção” (BAUMAN, 2007, p. 17).
Bauman (2007, p. 13) ressalta os medos de uma sociedade moderna incerta, que ‘‘[...] agora traz à mente da
maioria de nós a experiência aterrorizante de uma população heterônoma, infeliz e vulnerável, confrontada e
possivelmente sobrepujada por forças que não controla nem entende totalmente’’.
Aliado a essa perspectiva, Latouche (2009) ensina que o crescimento infinito é incompatível com um mundo
finito” e que “estamos a bordo de um bólido sem piloto, sem marcha a ré e sem freio, que vai se arrebentar
contra os limites do planeta.
Uma pesquisa científica analisou os dados do instituto californiano Redifining Progress e do World Wide Found
(WWF) e demonstrou que a humanidade consome quase 30% a mais da capacidade de regeneração da
biosfera, e que, se o padrão de consumo da humanidade fosse igual ao dos americanos, seria preciso seis
outros planetas Terra para sustentá-lo.
É preciso então desacelerar esse padrão que pode acabar com as formas de vida digna. Para tanto, Latouche
(2009) afirma que reduzir não significa regredir, e com essa iniciativa de decrescimento e a distribuição mais
equitativa dos recursos a sociedade viverá melhor trabalhando e consumindo menos.
Nesse contexto, para construir um futuro melhor, é necessário o desenvolvimento sustentável e a proteção do
meio ambiente, contemplando o consumo e a produção sustentável para garantir uma gestão ambiental
eficiente. Assim, a proposta do consumo sustentável é abrangente, pois, além das inovações tecnológicas e
das mudanças nas escolhas individuais de consumo, enfatiza ações coletivas e mudanças políticas,
econômicas e institucionais para fazer com que os padrões e os níveis de consumo se tornem mais
sustentáveis.
Primeiro, o consumo sustentável da modernidade líquida refere-se à promoção da melhoria na qualidade de
vida, que culmina em uma forma mais consciente de adquirir, utilizar e descartar produtos destinados ao
consumo, de maneira que as pessoas sejam responsáveis, reduzindo o uso de materiais prejudiciais ao meio
ambiente, a produção de lixo, promovendo a reciclagem, diminuindo a emissão de poluição, entre outros atos,
garantindo uma vida sustentável para as futuras gerações.
Aliado a isso, a produção dos bens a serem consumidos precisa ser responsável e sustentável. Nesse cenário,
é papel dos setores a aplicação de uma estratégia ambiental aos processos de produção e serviços
sustentáveis, garantindo uma produção mais limpa, a redução da exploração de recursos naturais, a redução
do desmatamento e poluição, a garantia de emprego decente aos que estão inseridos no contexto de
produção e incorporação de melhores alternativas para minimizar os custos socioambientais e os prejuízos.
Importante destacar as práticas que devem ser incorporadas para garantir a proteção ao meio ambiente e a
vida. Assim, a economia circular pode ser um método eficaz de consumo sustentável, isto é, o produto
consumido pode ser reutilizado (como potes de plástico que armazenam o produto podem armazenar outros),
reciclar produtos, utilizando-os para outras finalidades (reciclagem com garrafa PET, caixas de leite etc.),
reciclar produtos para as empresas criarem outros bens com outra finalidade. Ainda, a diminuição do uso de
água (controlar no banho, torneira pingando, uso exagerado sem necessidade, reutilizar água da máquina de
lavar) e de energia elétrica (evitar abrir geladeira sem necessidade, preferir eletrodomésticos que gastam
menos energia), minimizar a poluição aquática e do solo (melhorar o saneamento básico, educar a população

- 20 -
para praticar de consciência, diminuir uso de agroquímicos, entre outros), dar preferência ao consumo verde,
reduzir uso de carro, transformar lixo orgânico em adubo também são práticas necessárias na busca de
superação do ODS 12.
Dessa forma, uma mudança na sociedade moderna líquida para responsável e sustentável agregará uma série
de vantagens, principalmente, à saúde dos consumidores e à preservação e proteção do meio ambiente.
Haverá a produção de consumo com menor prejuízo à saúde, sem a utilização de agroquímicos; maior oferta
de recursos naturais e preservação da fauna e flora; redução de gases poluentes e desmatamento; troca de
combustíveis fósseis por fontes de energia limpas.

3.7 Mecanismos que visam a coibir a poluição:


poluição do ar, poluição da água, poluição sonora,
poluição do solo e poluição eletromagnética
Inicialmente, cumpre salientar o que é a poluição. A Lei Federal nº 6.938 de 1981 dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente , também conhecida como PNMA (BRASIL, 1981, on-line), define, em seu art. 3°,
que:

“ Art 3º Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do
meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos (BRASIL, 1981, on-line) „
Assim, nota-se que a definição de poluição é abrangente, podendo alcançar diversas concepções.

- 21 -
Há diversos tipos de poluição, por isso é necessário que cada tipo dessa ação seja analisada de modo
individual para chegar a uma solução capaz de controlá-la. A Carta Política de 1988 determina, no artigo 225,
que aborda o ambiente, que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, on-line).
Assim, é garantia constitucional que as pessoas tenham o meio ambiente equilibrado, devendo haver a
proteção por parte de toda a população, visando que ele seja preservado.

Figura 6 - Poluição

Fonte: TR STOK, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: A imagem mostra, do lado esquerdo, a poluição do ar gerada pela fumaça que sai de fábricas;
do lado direito, está o fundo no mar, no qual há uma tartaruga marinha com um saco plástico preso a sua boca.
Desse modo, visando a efetivação da garantia constitucional, é necessário que haja os mecanismos certos
para a prevenção ou a contenção dos vários tipos de poluição. Dito isso, é necessário entender as diferentes
formas de poluição e as possibilidades de combate.
Inicialmente, temos a poluição do ar, causada pela emissão de poluentes no ar, geralmente pela queima de
materiais ou gases em indústrias, combustão dos veículos etc. Para tanto, deve-se buscar a redução de
queimadas, uso de equipamentos que diminuam a emissão de poluentes, como filtros despoluidores ou
catalisadores em carros, além do plantio de árvores, transporte coletivo e a redução do uso de agrotóxicos
(BRASIL ESCOLA, on-line).
Já a poluição da água, causada pela emissão de poluentes, principalmente em rios e mares, pode ser
reduzida evitando-se o despejo de esgotos ou lixos em geral nos rios, o uso de agrotóxico que pode
contaminar as nascentes ou até mesmo a reciclagem, evitando que o lixo vá para os aterros sanitários e assim
não gere o chorume, que pode contaminar as águas.
A poluição sonora, associada aos ruídos emitidos, é uma constante para aqueles que moram em centros
urbanos, e segundo Lacerda, Do Nascimento e Ramos (2021, p. 1805-1806), devemos: “Primeiramente, zelar
pelo controle acústico, ou seja, educar para a não extrapolação dos níveis adequados através da própria voz,
cuidar para que os equipamentos que ao redor de um receptor estejam funcionando adequadamente etc.”.
Ademais, acrescentam que: “Sendo que diferentes variáveis influenciam, como: o tráfego, o entorno, a
arquitetura, o clima e os equipamentos presentes. Diferentes materiais, que fazem parte do entorno ou
arquitetura podem colaborar para alcançar um conforto acústico” (LACERDA; DO NASCIMENTO; RAMOS,
2021, p. 1806).

- 22 -
A poluição do solo é causada pelo descarte de materiais no solo, sendo em muitos casos lixos plásticos que
levam décadas ou até mesmo séculos para iniciarem a sua decomposição, ocasionando esse tipo de poluição.
Assim, a melhor maneira de evitar a poluição é utilizar materiais biodegradáveis ou aqueles que não podem
ser descartados, além de fazer a reciclagem de materiais.

Fique de olho
Segundo pesquisa publicada na revista Capricho (2020, on-line), a OMS afirma
que a consequência da emissão de gases poluentes no ar, além da
contribuição para o aquecimento global, é responsável pela morte de mais de
7% milhões de pessoas por ano.

Por fim, a poluição eletromagnética é “[...] uma designação popular do adensamento de utilização do espectro
eletromagnético de radiofrequência (RF), que é a faixa de frequências no intervalo que vai de 3 quilohertz
(kHz) até 300 gigahertz (GHz)” (CANAL TECH, 2021, online). Como trata-se de poluição causada pela
emissão de ondas derivadas de produtos tecnológicos e, na atualidade, é quase impossível viver sem algum
eletrodoméstico, aconselha-se a utilização de produtos aceitos, ou seja, produzidos segundo os protocolos de
segurança, e que estejam em boa qualidade.

3.8 A análise do tempo de duração de produtos e o


direito
O estudo do tempo de duração de produtos faz o caminho percorrido pelo produto a partir de sua extração,
enquanto recursos naturais, de sua criação até sua disposição terminativa, ou seja, até seu descarte. Na
perspectiva ambiental, faz-se uma análise do impacto do ciclo de vida de um produto por meio da ISO 14001,
não importando questões mercadológicas, mas o ciclo do produto em si. Essa norma, conceitua ciclo de vida
do produto como estágios consecutivos e encadeados de um sistema de produto ou serviço, desde a geração
ou aquisição da matéria-prima por meio de recursos naturais até a disposição final.

Figura 7 - Sistema de Gestão Ambiental (SGA)

- 23 -
Fonte: Elaborada pela autora, 2021.

#PraCegoVer: A imagem é um esquema que mostra o caminho percorrido pelo produto com base no Sistema
de Gestão Ambiental (SGA).
Já na perspectiva mercadológica, Kotler (1999) sustenta a existência em relação às vendas em quatro fases,
e, em relação aos lucros, divididas em cinco fases, que vão desde o desenvolvimento do produto até o declínio.

Figura 8 - Sistema mercadológico de Kotler

Fonte: Elaborada pela autora (2021).

#PraCegoVer: A imagem mostra um esquema com o caminho percorrido pelo produto com base no Sistema
mercadológico de Kotler (1999) em relação aos lucros.
Dessa forma, o conceito do ciclo do produto é de suma importância, especialmente, na vertente da gestão
ambiental, uma vez que ajuda as empresas a agirem dentro dos limites ambientais, possibilitando uma visão
mais sustentável, tornando mais transparentes os impactos ambientais (internos e externos).

- 24 -
Essa análise é importante porque a sociedade, na atualidade, baseia-se no consumo e está inserida em um
modelo de produção capitalista, que para expandir cada vez mais os lucros utiliza como técnica a
obsolescência para fomentar o consumo por novas tecnologias ou ainda para encurtar a vida útil do produto.

Fique de olho
A técnica da obsolescência no mercado fica caracterizada de diversas formas.
Entre elas, tem-se a obsolescência funcional, que acontece quando um produto
é lançado em curto intervalo de tempo, com novas tecnologia e chamando a
atenção do consumidor para as inovações, tornando o bem anterior obsoleto, e
a obsolescência programada, em que o produto é feito para durar pouco tempo,
diminuindo a sua vida útil do e fazendo com que o consumidor consuma cada
vez mais. Para entender melhor o tema assista ao vídeo “História das coisas”
por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw.

Destaca-se que, atualmente, a sociedade industrial é complementada pela sociedade de consumo. Na


sociedade industrial, o objetivo é transformar recursos em produtos e, na sociedade de consumo, busca-se
quem vai consumir produtos para gerar recursos aos fornecedores. Tal relação complementar cada vez mais é
alimentada pelo modelo de produção capitalista, de forma que se tornou indissociável às pessoas que sentem
prazer e felicidade no consumo.
Bauman (1999) alerta para os perigos de uma sociedade instigada por meio do consumo, substanciando uma
busca infindável de felicidade no ato do consumo e de uma consciência de vida instantânea em que nada é
feito para durar e tudo é passageiro.
O atual modelo de consumo social baseia-se no conceito pontual dos produtos, o que traz consequências
extremamente perigosas ao ambiente, ameaçando a vida no planeta, tendo em vista a finidade dos recursos, e
o aumento do consumo levará ao término dos recursos finitos e naturais porque seu tempo de recuperação
não é respeitado. Assim, a cada produto descartado e não reciclável, mais problemas com o acúmulo de lixo e
a falta de locais adequados cresce no mundo.
Portanto, mostra-se a importância da análise da vida útil de um produto e a necessidade tanto do direito para
intervir na proteção ao meio ambiente como de políticas públicas na orientação e educação de um consumo
mais sustentável, haja vista que a responsabilidade seja de todos na proteção à vida e ao meio ambiente
equilibrado para a atual e as futuras gerações.

Figura 9 - Economias linear e circular

- 25 -
Fonte: VectorMine, Shutterstock, 2021.

Na sequência, vamos entender melhor como se dá a proteção da diversidade biológica e do patrimônio


genético.

3.9 Proteção da diversidade biológica e do patrimônio


genético
Biodiversidade, também conhecida como diversidade biológica, descreve a diversidade presente no mundo
natural, incluindo plantas, animais, outros seres vivos e até micro-organismos. A biodiversidade é definida
também no art. 2º da Convenção sobre Diversidade Biológica, cujo texto afirma que “[...] a variabilidade de
organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e
outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a
diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (CDB, 1992, p. 9).
A ONU definiu, no ano de 1992, a data 22 de maio para celebrar o Dia Internacional da Biodiversidade. Essa
comemoração foi criada com a finalidade de conscientizar a população mundial sobre a importância de
conservar e proteger a biodiversidade no planeta, pois, sem essa conscientização em massa, de nada
adiantará as atitudes tomadas pelas organizações ao redor do mundo.
A conservação da biodiversidade no Brasil também foi alcançada por meio da Convenção sobre Diversidade
Biológica formulada durante a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, em junho de 1992, que tratou de temas
como sustentabilidade da biodiversidade e os benefícios dela. O acordo entrou em vigor em 1993. A
convenção funcionou como base para estipular um parâmetro jurídico e político para as outras convenções e
acordos ambientais, tais como:

“ Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança; o Tratado Internacional sobre


Recursos Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura; as Diretrizes de Bonn;
as Diretrizes para o Turismo Sustentável e a Biodiversidade; os Princípios de Addis
Abeba para a Utilização Sustentável da Biodiversidade; as Diretrizes para a
Prevenção, Controle e Erradicação das Espécies Exóticas Invasoras; e os

- 26 -
Princípios e Diretrizes da Abordagem Ecossistêmica para a Gestão da


Biodiversidade. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2020, on-line).

Para começar a discutir o tema, é salutar ressaltar o que é o patrimônio genético, conforme determina a
legislação brasileira, que, em seu art. 2º, inciso I, da Lei nº 13.123/2015 define: “Patrimônio genético -
informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza,
incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos” (BRASIL, 2015, on-line). O patrimônio
genético é o conjunto de informações genéticas contidas em plantas, nos animais, e nos micro-organismos,
vivos ou mortos, nativos ou que possuem características específicas do território nacional.
A Lei nº 13.123 determina, acerca do patrimônio genético, o acesso ao patrimônio genético, proteção, acesso
ao conhecimento tradicional associado e a repartição de benefícios para a conservação e uso sustentável da
biodiversidade. Essa lei é conhecida também como a Lei da Biodiversidade. Possui vários efeitos, alcances e
formas de aplicação no caso concreto, e esse patrimônio é regulamentado também pela Constituição Federal
de 1988.

Figura 10 - Recife de corais

Fonte: stockphoto-graf, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: Imagem subaquática de um coral, mostrando a biodiversidade marinha.


Em relação ao uso do patrimônio genético, o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SisGen) é
um sistema eletrônico usado pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen) para administrar a
utilização do patrimônio genético.

Fique de olho
Deixar de realizar o cadastro (acesso, remessa), notificação e repartição de
benefícios poderá acarretar multas que podem variar de 1 mil a 10 milhões de
reais.

Na Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), o compromisso de zelar pela fauna brasileira está na
meta 12 de Aichi. Essa medida teve como objetivo diminuir o risco de extinção de algumas espécies para zero
até o ano de 2020 e também aumentar a qualidade de vida e a conservação daquelas espécies que estão em
declínio, a caminho do risco de extinção.

- 27 -
3.10 Biossegurança e biotecnologia
A biossegurança visa a agir na diminuição dos riscos de acidentes biológicos que podem afetar tanto o ser
humano quanto o meio ambiente. Assim, a biossegurança atua regulando com normas e medidas que trazem
imposições, desde o uso adequado dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e EPCs (Equipamentos
de Proteção Coletiva), cujo objetivo é diminuir os riscos de contaminação de pessoas, até o descarte de
equipamentos e lixo hospitalar, que visa à diminuição da contaminação do meio ambiente. Um bom exemplo
da atuação da biossegurança são os hospitais, em seus laboratórios e no controle dos agentes biológicos a
que os profissionais desses locais são expostos.

Figura 11 - EPI

Fonte: Harbucks, Shutterstock, 2021.

#PraCegoVer: Cientista fazendo o uso correto dos EPIs para analisar uma bactéria.
A legislação brasileira também disserta sobre a questão de biossegurança em sua Lei nº 11.105/2015, a qual
tem como objetivo preservar a vida e promover mais segurança nas atividades que envolvam agentes
biológicos. Essa lei, além de versar sobre segurança nos ambientes de trabalho que possam oferecer risco
biológico, versa também sobre técnicas de manipulação de organismos, alimentos transgênicos etc.
A biotecnologia utiliza processos celulares e moleculares para desenvolver tecnologias e pesquisas com a
finalidade de melhorar a saúde e a condição de vida da população.
As técnicas de biotecnologia tiveram seu início em meados de 6.000 a.C. com a descoberta da fermentação
durante a produção de bebida alcoólica, pães, queijos, iogurtes, vinagres etc. Porém, somente na metade do
século XVII, Anton Van Leeuwenhoek, que era pesquisador, fez a descoberta que esses micro-organismos
tinham a responsabilidade de fermentação.
Apesar dessa biotecnologia já existir há mais de mil anos, o termo “biotecnologia” foi criado somente no ano
de 1919 pelo engenheiro de origem húngara, Karl Ereky. Os estudos sobre biotecnologia só tiveram um
aumento expressivo no período da Segunda Guerra Mundial, quando os estudos foram focados tanto na
criação de bombas quanto na de remédios.

- 28 -
No Brasil, há vários projetos que visam a apoiar a biotecnologia e surgiram a partir de 1980. Um desses
programa que pode ser citado é o Fundo Setorial de Biotecnologia, que tem por finalidade:

“ [...] promover a formação e capacitação de recursos humanos, fortalecer a


infraestrutura nacional de pesquisas e serviços de suporte, expandir a base de
conhecimento da área, estimular a formação de empresas de base biotecnológica e
a transferência de tecnologias para empresas consolidadas, realizar estudos de
prospecção e monitoramento do avanço do conhecimento no setor (BIOTECH
TOWN, 2019, on-line). „
3.11 Meio ambiente e direitos humanos
Desde os tempos antigos, o ser humano lutava para conquistar sua liberdade e igualdade. Fruto de uma longa
trajetória, desde os tempos medievais até atualmente, os direitos humanos foram se adaptando para hoje
estarem efetivados em âmbito global. O marco importante para essa efetivação é a Declaração Universal de
Direitos Humanos (DUDH), adotada no dia 10 de dezembro de 1948.

Fique de olho
É válido diferenciar direitos humanos de direitos do homem e fundamentais. Os
direitos do homem são independentes de positivação – como o direito à vida
pelo nascimento. Os direitos fundamentais são positivados no ordenamento
jurídico interno – direito à vida no art. 5º da Constituição Federal. E os direitos
humanos dependem da positivação no ordenamento jurídico externo – direito à
vida no art. 4º da DUDH.

A positivação dos direitos humanos foi necessária para o mundo de caos em que os humanos viviam. O
mundo ainda sofria os efeitos de duas guerras mundiais, sendo a segunda consequência da primeira, os
campos de concentração nazista, o holocausto, os massacres, os bombardeamentos, a escravidão, estados
absolutistas, torturas, enfim, todos os processos que contribuíram para um estado degradante humano,
surgindo a necessidade de oferecer ao mundo uma garantia jurídica de um mínimo existencial para
salvaguardar a dignidade da pessoa humana.
A soma de esforços de vários países, portanto, elaborou a Carta Universal, enumerando trinta artigos
defensores dos direitos inerentes ao homem: direito à liberdade, igualdade e dignidade; direito à vida e
segurança; proibição de trabalho escravo, análogo ou servil; proibição da tortura ou castigos cruéis; direito à

- 29 -
justiça; direito à privacidade; direito à circulação pelo mundo e à nacionalidade; direito à propriedade; direito à
liberdade de pensamento, opinião, religião, expressão e associação; direito à fruição da democracia; direito a
participar dos benefícios do desenvolvimento econômico e social; direito à proteção da família e da infância;
direito à educação.
Como mencionado anteriormente, os direitos humanos sofreram adaptações para hoje serem amplos e
efetivos. A primeira geração dos direitos humanos atentou-se em salvaguardar o direito à liberdade, a segunda
consolidou a igualdade, a terceira a fraternidade, a quarta, o direito tecnológico e, a quinta, a segurança
internacional, a paz.
Nesse sentido, a terceira dimensão, consolidada a partir de 1960, tem os direitos transindividuais, ou seja, que
passam do indivíduo para atingir a coletividade, direitos então, difusos e coletivos, prezando a fraternidade e a
solidariedade, fato em que se insere o direito ao meio ambiente.

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Encerramento
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

• Conhecer a Lei 12.651/2012 – Proteção de


Vegetação Nativa.

• Conhecer a Lei 9.433/1997 – Política Nacional de


Recursos Hídricos.

• Conhecer a Lei 10.257/2001 – Estatuto das


Cidades.

• Conhecer a Lei 9.985/2000 – Sistema Nacional de


Unidades de Conservação.

• Conhecer a Lei 12651/12 – Código Florestal.

• Entender o consumo sustentável e


responsabilidade pós-consumo.

• Compreender os mecanismos de controle da


poluição do ar, da água, sonora, do solo e
eletromagnética

• Fazer a análise entre o ciclo de vida de produtos e o direito.

• Entender sobre a proteção da diversidade biológica e do patrimônio genético.

• Conhecer aspectos da biossegurança e da biotecnologia.

• Entender a relação entre meio ambiente e direitos humanos.

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2006; revoga as Leis no 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida
Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
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