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Oficina de Prática Jurídica Ambiental

4º Exercício – Código Florestal e Licenciamento


Discentes:
João Vitor
José Eustáquio
Lucas Emmanuel de Carvalho Santos Ferreira

Questão 1) A Fazenda Santa Bárbara foi desapropriada para abrigar o


Assentamento de Reforma Agrária São José. O expropriado havia desmatado,
antes da desapropriação, a integralidade das matas ciliares que margeavam os
diversos cursos d´água naturais, perenes e intermitentes (não efêmeros) de
variáveis larguras que cortam o imóvel rural, em desacordo com a legislação
vigente à época. O assentamento instalado na área desapropriada é composto por
50 lotes de 03 módulos fiscais cada. Cada assentado possui seu lote demarcado, um
contrato de concessão de uso e explora, desde 2005, a área total do lote com o
plantio de culturas variáveis. Não houve, até o momento, titulação. Responda
fundamentadamente: Os assentados são obrigados a recompor a área de
preservação permanente? Em caso positivo, em que termos?
RESPOSTA:
Em face do Código Florestal, os assentados são obrigados a recompor a área de
preservação permanente, como se encontra fundamentação no art. 7º, §1º do mesmo
Código, que determina que mesmo na condição de ocupantes da área, eles deverão
promover a recomposição a área de vegetação suprimida em área de APP, a exemplo
das matas ciliares dos cursos d’água que banham a propriedade.
Frente a obrigação de recompor, a ação ocorrerá nos termos no mesmo Código,
em disciplina do seu art. 61-A, §3º c/c com o art. 61-C. Por se tratar de assentados da
Reforma Agrária não possuidores da titulação do terreno, suas áreas são consideradas
individualmente para fins de aplicação do §3º do art. 61-A, que determina que os
imóveis compreendidos entre 2 e 4 módulos fiscais e consolidados em APP ao londo de
cursos d’água naturais deverão obrigatoriamente recompor as faixas de matas ciliares
em 15 metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da
largura do curso d’água.

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Questão 2) No município de More Mal e Sobreviva Pior Ainda, há várias
edificações e atividades econômicas não licenciadas pelos órgãos ambientais
competentes, conforme disposto na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
institui a política nacional do meio ambiente: Art. 10 - A construção, instalação,
ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como
os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de
prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema
Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem
prejuízo de outras licenças exigíveis. Preocupado com as repercussões legais dessa
situação, pois muitas dessas edificações estão localizadas em áreas de preservação
permanente e as atividades desenvolvidas geram significativo impacto ambiental, o
prefeito requereu à Procuradoria do Município que apontasse as possíveis soluções
para o problema. Para auxiliar o prefeito, considerando a legislação federal e o
entendimento jurisprudencial de nossos tribunais, discorra sobre as possíveis
soluções.
RESPOSTA:
No caso em questão, como expressamente aludiu o art. 10 da Política Nacional
do Meio Ambiente, as atividades econômicas e edificações situadas na região que
deveriam ter passado previamente por algum modelo de concessão de licenças, trifásico
ou o simplificado, não seguiram de forma devida o processo previsto em lei.
Inerente a isso, vislumbra-se aqui uma situação de possível responsabilização
aos órgãos licenciadores que denegaram o cumprimento do seu dever legal, assim como
também dos órgãos fiscalizadores que, conforme entendimento jurisprudencial, são
exercidos por todos os entes federados. Tal constatação pode ser evidenciada pela
grande quantidade de edificações presentes no local, que salientam uma possível
caracterização de negligência por parte desses órgãos. Em entendimento jurisprudencial,
o STJ determinou que:
"não há falar em competência exclusiva de um ente da federação para
promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização
a ser exercido pelos quatro entes federados, independentemente do
local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo. O Poder de Polícia
Ambiental pode - e deve - ser exercido por todos os entes da
Federação, pois se trata de competência comum, prevista
constitucionalmente. Portanto, a competência material para o trato das
questões ambientais é comum a todos os entes. Diante de uma
infração ambiental, os agentes de fiscalização ambiental federal,
estadual ou municipal terão o dever de agir imediatamente, obstando a
perpetuação da infração" (STJ, AgRg no REsp 1.417.023/PR, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
25/08/2015). No mesmo sentido: STJ, REsp 1.560.916/AL, Rel.
Ministro FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA TURMA, DJe de
09/12/2016; AgInt no REsp 1.484.933/CE, Rel. Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 29/03/2017.

Adiante, após grande decisão do STJ no ano de 2021, foi fixado como proceder
frente à divergência de competência entre legislações distintas perante a resolução de
conflitos envolvendo edificações urbanas consolidadas em área de APP antes do
período de “anistia”. Nesta decisão que firmou um marco para o direito ambiental,
debateu-se a escolha da aplicação do Código Florestal (Lei n. 12.651/2012) ou da Lei de
Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/1979), que era a vigente na época, para a
fixação do distanciamento da faixa não edificável em cursos d’água.
No Recurso Especial que deu origem ao tema, foi abordado o assunto da
seguinte maneira:
“A definição da norma a incidir sobre o caso deve garantir a melhor e
mais eficaz proteção ao meio ambiente natural e ao meio ambiente
artificial, em cumprimento ao disposto no art. 225 da CF/1988,
sempre com os olhos também voltados ao princípio do
desenvolvimento sustentável (art. 170, VI,) e às funções social e
ecológica da propriedade.” (REsp n. 1.770.760/SC, relator Ministro
Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em 28/4/2021, DJe de
10/5/2021.)

Com isso, foi editado o Tema 1.010, onde:


“Na vigência do novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012), a
extensão não edificável nas Áreas de Preservação Permanente de
qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em trechos
caracterizados como área urbana consolidada, deve respeitar o que
está disciplinado pelo seu art. 4º, caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a
fim de assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços
territoriais especialmente protegidos e, por conseguinte, à
coletividade.”

Portanto, é observado que o STJ preteriu a aplicação do Código Florestal à Lei


de Parcelamento de Solo Urbano, dando a interpretação de que, para disputas desta
natureza, se aplicaria a legislação mais nova e específica.
Em suma, os entendimentos da Corte e do STJ a respeito do assunto se
convergiram, uma vez que a Corte superou o conflito de competência das normas com
base no fundamento do critério de especialidade, consolidando entendimento de que o
Código Florestal deve prevalecer por ser mais específico. Em consonância a isso, o STJ
também entendeu pela prevalência do Código Florestal por este abordar a tutela do fato
de forma mais protetiva ao meio ambiente ecologicamente constante, nos termos do art.
225 da CRFB/1988.
Em consequência desses entendimentos, no caso em tela, seria utilizado, então, o
regramento do Código Florestal, onde, no trecho de seu texto normativo em que se
abordam as Áreas de Preservação Permanente, extrai-se o exposto no artigo 7º do
mesmo Código. Diante disso, devem os proprietários, possuidores ou ocupantes da área,
realizar a recomposição da vegetação, nos moldes do §13º do art. 61-A do Código
Florestal. Se os proprietários não acatarem as mudanças, a fiscalização poderá impor
sanções de natureza administrativa, cível e penal para prevenção, punição e reparação
do dano ambiental causado.

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