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Competência para o licenciamento

ambiental dentro de Área de


Preservação Ambiental - APA
Após a edição da Lei 140/2011 o processo de licenciamento
de atividades dentro da APA poderá ser feito pela União,
Estados ou Municípios.

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Publicado por Carlos Diego de Souza Lobo há 8 anos

A Constituição Federal no seu artigo 225, inciso III impõe ao poder


público a obrigação de definir, em todas as unidades da Federação,
espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através
de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
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proteção. A Lei nº. 9.985/2000 regula
estes espaços e institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC). As Unidades de Conservação estão divididas em
dois grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável, no total
são 12 as espécies Unidades de Conservação. Dentre elas estão as Áreas
de Preservação Ambiental - APA.

A questão do presente artigo refere-se a saber qual ente federativo, e


:
seu respectivo órgão ambiental, deverá licenciar atividades dentro dos
limites de APA.

De acordo com a Lei nº 6.938/81 a competência para o licenciamento


ambiental é do órgão ambiental estadual, exceto nos casos de impactos
ambientais considerados significativos, de âmbito regional ou
nacional, casos estes em que a atribuição será do órgão federal (IBAMA
e atualmente ICMBIO), como segue:

"LEI nº 6.938/81, que trata da Política Nacional de Meio


Ambiente

Art. 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento


de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores,
bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento
de órgão estadual competente, integrante do Sistema
Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
- IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras
licenças exigíveis.

§ 1º - Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a


respectiva concessão serão publicados no jornal oficial do
Estado, bem como em um periódico regional ou local de
grande circulação.

§ 2º Nos casos e prazos previstos em resolução do CONAMA, o


licenciamento de que trata este artigo dependerá de
:
homologação do IBAMA.

§ 3º O órgão estadual do meio ambiente e o IBAMA, este em


caráter supletivo, poderão, se necessário e sem prejuízo das
penalidades pecuniárias cabíveis, determinar a redução das
atividades geradoras de poluição, para manter as emissões
gasosas, os efluentes líquidos e os resíduos sólidos dentro das
condições e limites estipulados no licenciamento concedido.

§ 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e


Recursos Naturais Renováveis - IBAMA o licenciamento
previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras
com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou
regional."

Portanto, o órgão Estadual de meio ambiente, integrante do Sistema


Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, é o principal agente
competente para licenciar atividades potencialmente causadoras de
dano ambiental, reservando-se ao IBAMA/ICMBIO órgãos federais, e
ao município, competência de caráter supletiva.

Regulamentando a Lei 6.938/81 temos o Decreto nº 99.274/90 que no


art. 7º, I, previu que a licença ambiental pode ser concedida pela
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sob supervisão do
IBAMA, com a redação seguinte:

"Decreto nº 99.274/90, que regulamenta a Lei nº 6.938/81

Art. 7º - Compete ao CONAMA:


:
I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e
critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras, a ser concedido pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios e supervisionada pelo
referido Instituto;"

Na esfera da regulamentação administrativa a Resolução CONAMA nº


237/97, nos artigos 4º, 5º e 6º fixou a competência do IBAMA no que
tange ao licenciamento.

"RESOLUÇÃO CONAMA nº 237/97, que regulamenta aspectos


de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional
do Meio Ambiente

Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e


dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor
do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o
artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de
empreendimentos e atividades com significativo impacto
ambiental de âmbito nacional ou regional.

Fundado no art. 7º da Resolução supracitada, o licenciamento ficou


limitado a um único nível de competência, não podendo ser expedida
mais de uma licença ambiental para a mesma atividade, in verbis:

"RESOLUÇÃO CONAMA nº 237/97, que regulamenta aspectos


de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional
do Meio Ambiente

Art. 7º - Os empreendimentos e atividades serão licenciados


:
em um único nível de competência, conforme estabelecido nos
artigos anteriores."

Até o momento podemos observar que a titularidade do bem afetado


pela atividade ou empreendimento não define a competência do
membro do ente federativo ou órgão do SISNAMA para realização do
licenciamento ambiental.

Desta forma, até Dezembro de 2011, o critério principal para definição


do ente federativo (e o seu respectivo órgão dentro do SISNAMA)
competente para a realização do licenciamento ambiental deveria ser
fundado, principalmente, no alcance dos “impactos ambientais” da
atividade ou empreendimento, conforme o regrado pela Resolução
CONAMA nº 237/97.

Todavia, no ano de 2011 fora editada a Lei Complementar de número


140 que veio a por fim a qualquer dúvida quanto aos critérios de
competência administrativa comum para o licenciamento ambiental e
a autorização de supressão de vegetação em Unidades de Conservação.

A referida Lei complementar trouxe um novo critério para o


licenciamento ambiental em Unidades de Conservação onde a
competência para o licenciamento de atividades poluidoras ou
potencialmente poluidores, bem como autorizar a supressão de
vegetação, que se desenvolva dentro destas unidades será a do órgão
ambiental do ente federativo instituidor da Unidade de Conservação.

No entanto, excepcionalmente, no que tange às Áreas de Proteção


Ambiental – APAs, a LC n.º 140/2011, no artigo 12º, prevê que “A
definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e
:
autorização a que se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os
critérios previstos nas alíneas a, b, e, f e h do inciso XIV do art. 7o, no
inciso XIV do art. 8o e na alínea a do inciso XIV do art. 9o.”, vejamos o
artigo:

“Art. 12. Para fins de licenciamento ambiental de atividades


ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais,
efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer
forma, de causar degradação ambiental, e para autorização
de supressão e manejo de vegetação, o critério do ente
federativo instituidor da unidade de conservação não será
aplicado às Áreas de Proteção Ambiental (APAs).

Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável


pelo licenciamento e autorização a que se refere o caput, no
caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas alíneas a, b,
e, f e h do inciso XIV do art. 7o, no inciso XIV do art. 8o e na
alínea a do inciso XIV do art. 9o.”

Desta forma verificamos que o critério do ente federativo instituidor


determinado pela Lei Complementar 140/2011 não se aplica às Áreas
de Proteção Ambiental. Para a determinação do ente federativo, e
correspondente órgão ambiental licenciador no caso de atividades
dentro de APA, é necessário observar os critérios indicados no
parágrafo único do artigo 12º acima transcrito.

Destarte a definição inicial do ente/órgão competente para


licenciamento de atividades dentro de uma APA depende de análise da
abrangência da atividade e o seu decorrente impacto ambiental na
seguinte forma:
:
A) Caso se observe algumas das situações previstas no artigo 7º,
alíneas a), b), e) f) e h) será cometente a união através de seus
órgãos, notadamente o IBAMA. Vejamos quais seriam estes casos:

Art. 7o São ações administrativas da União:

a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país


limítrofe

b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma

continental ou na zona econômica exclusiva

e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estado

f) de caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos


termos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e
emprego das Forças Armadas, conforme disposto na Lei
Complementar no 97, de 9 de junho de 1999

h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a


partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a
participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade ou empreendimento.

B) Uma vez verificadas as situações previstas no artigo 8º, inciso


XIV, da supracitada Lei a competência seria atribuída ao ente
Estadual através de seus órgãos licenciadores:

Art. 8o São ações administrativas dos Estados:


:
XIV - promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o.

C) Por fim, caso incida na hipótese o artigo 9º, inciso XIV alínea a)
a competência seria do Município:

“Art. 9o São ações administrativas dos Municípios: (…).

XIV – observadas as atribuições dos demais entes federativos previstas


nesta Lei Complementar, promover o licenciamento ambiental das
atividades ou empreendimentos:

a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local,


conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de
Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor
e natureza da atividade”.

Desta forma tanto a União, como os estados e os municípios, além do


Distrito Federal, poderão licenciar atividades dentro dos limites e uma
APA. A determinação no caso concreto vai depender do impacto que a
atividade gera. Se local, caberá ao município. Se regional caberá ao
Estado e se nacional, ou internacional, caberá à União. Devemos
observar que, quando se tratar de competência municipal e o
município não possuir órgão ambiental capacitado para o
licenciamento a competência passa a ser do Estado.

Apesar de não considerar-se o ente instituidor da APA para


determinação a competência o órgão ambiental do ente federativo que
instituiu a APA participa, necessariamente, do licenciamento, seja
:
autorizando o mesmo ou apenas tomando conhecimento daquele
processo.

Nos termos do artigo 1º da Resolução nº 428, de 17 de Dezembro de


2010, o licenciamento de empreendimentos de significativo impacto
ambiental (aquele onde se exige EIA/RIMA) que possam afetar
Unidade de Conservação (UC) específica ou sua Zona de
Amortecimento (ZA), assim considerados pelo órgão ambiental
licenciador, com fundamento em Estudo de Impacto Ambiental e
respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), só poderá ser
concedido após autorização do órgão responsável pela administração
da UC.

Já o Artigo 5º a supracitada Resolução determina que nos processos de


licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a
EIA/RIMA o órgão ambiental licenciador deverá dar ciência ao órgão
responsável pela administração da UC, quando o empreendimento
puder causar impacto direto em UC.

Desta forma a falta de autorização do licenciamento pelo órgão


responsável da APA gera a nulidade da licença que por ventura fora
concedida. Todavia a falta de ciência do órgão responsável pela
administração da APA, (nos termos do inciso III, art. 6º da Lei nº
9.985 de 18 de julho de 2000) não gera nulidade do processo de
licenciamento e tão pouco da licença concedida, uma vez que, neste
caso, o referido órgão não possui competência decisória para negar a
concessão da licença ambiental. No mais, tal ato (ciência) poderá ser
feito a posteriori, sem que haja prejuízo a qualquer da partes e ao meio
ambiente.
:
Em relação às restrições para o licenciamento devemos observar
também o plano de manejo da APA, assim como seu Decreto ou Lei de
criação.

      
19 2

Carlos Diego de Souza Lobo PRO

Mestre em Direito Ambiental.

Advogado. Mestre em Ciências Jurídico-Ambientais pela USP/Universidade de Lisboa. Especialista


em Direito Público do Ambiente. Especialista em Direito Penal do Ambiente. Especialista em
Economia do Ambiente . É professor do ensino superior nas cadeiras de Direito Ambiental, Direito
Internacional e Direito Civil.

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