O caso trata de depósitos de materiais de construção e placas de propaganda eleitoral a menos de 30 metros de um rio. A decisão do tribunal regional aplicou uma lei municipal que estabelecia uma faixa menor de proteção, contrariando o Código Florestal. O STJ determinou a aplicação estrita do Código Florestal, visando respeitar o princípio da proibição do retrocesso ambiental.
O caso trata de depósitos de materiais de construção e placas de propaganda eleitoral a menos de 30 metros de um rio. A decisão do tribunal regional aplicou uma lei municipal que estabelecia uma faixa menor de proteção, contrariando o Código Florestal. O STJ determinou a aplicação estrita do Código Florestal, visando respeitar o princípio da proibição do retrocesso ambiental.
O caso trata de depósitos de materiais de construção e placas de propaganda eleitoral a menos de 30 metros de um rio. A decisão do tribunal regional aplicou uma lei municipal que estabelecia uma faixa menor de proteção, contrariando o Código Florestal. O STJ determinou a aplicação estrita do Código Florestal, visando respeitar o princípio da proibição do retrocesso ambiental.
AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROVIDO.
RECURSO ESPECIAL. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DO CÓDIGO FLORESTAL. INADEQUADA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MAIOR PROTEÇÃO AMBIENTAL. PROVIMENTO. RESPEITO AO LIMITE IMPOSTO PELO CÓDIGO FLORESTAL. 1. O agravo interno foi provido após a impugnação específica dos fundamentos utilizados na origem para inadmitir o recurso especial. Passa-se à análise do recurso especial. 2. A proteção ao meio ambiente integra axiologicamente o ordenamento jurídico brasileiro, sua preservação pelas normas infraconstitucionais deve respeitar a teleologia da Constituição Federal. Desse modo, o ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistêmica e harmônica, privilegiando os princípios do mínimo existencial ecológico e do ambiente ecologicamente equilibrado. 3. Na espécie, o Tribunal de origem interpretou o Código Florestal (Lei n. 4.771/1965) de maneira restritiva, pois considerou que o diploma legal estabeleceu limites máximos de proteção ambiental, podendo a legislação municipal reduzir o patamar protetivo. Ocorre que o colegiado a quo equivocou-se quanto à interpretação do supracitado diploma legal, pois a norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal apenas intensificar o grau de proteção às margens dos cursos de água, ou, quando muito, manter o patamar de proteção. 4. A proteção marginal dos cursos de água, em toda a sua extensão, possui importante papel de resguardo contra o assoreamento. O Código Florestal tutela em maior extensão e profundidade o bem jurídico do meio ambiente, logo, é a norma específica a ser observada na espécie. 5. Recurso especial provido. (AREsp 1312435/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/02/2019, DJe 21/02/2019)
Relatório
O caso em análise diz respeito a depósito de materiais de
construção, piscinas e placas de propagando eleitoral a menos de 30 metros às margens do Rio Piabanha. Em primeiro grau, houve decisão para que os réus apresentassem programa de recuperação ambiental da área de preservação permanente ocupada, na faixa de 15 (quinze) metros a partir da margem do Rio Piabanha, e a retirarem todos os materiais depositados na referida área.
O Ministério Público Federal recorreu da decisão e o TRF decidiu
para que prevalecesse o limite fixado na lei municipal (15 metros), ainda que inferior aos 30 metros do Código Florestal vigente à época dos fatos.
Então os autos subiram para o Superior Tribunal de Justiça, onde foi
pleiteado a estrita observância do Código Florestal.
Decisão
O Ministro e Relator Og Fernandes, apontou que o ordenamento
jurídico ambiental foi concebido para proteger o meio ambiente contra danos de difícil reparação e que o espaço geológico dever ser preservado de modo que uma propriedade não danifique a outra. Entendeu ainda que a decisão combatida restringiu a interpretação e proteção ambiental, aplicando o princípio do não retrocesso.
A proibição do retrocesso consiste em um princípio constitucional
implícito, que tem por fundamento o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio da máxima eficácia e efetividade das normas definidoras de direitos fundamentais e o princípio da segurança jurídica.
Sendo o Meio Ambiente um Direito Fundamental de terceira
geração, uma vez concretizado um direito, não pode o legislador infraconstitucional voltar atrás e restringir tal direito.
Segundo o Ministro, as áreas de preservação permanente tem por
objetivo a integridade dos ecossistemas e à qualidade do meio ambiente, bem como de abrigar a biodiversidade e promover a propagação da vida, assegurar a qualidade do solo e garantir o armazenamento de recurso hídrico em condições favoráveis de quantidade e qualidade. Embora exista o dispositivo que nas áreas urbanas deve-se observar a legislação Municipal, a preservação do meio ambiente é preponderante e integra o rol de direitos humanos. Com isso, é indispensável e indissociável qualquer forma de intervenção do princípio do ambiente ecologicamente equilibrado, sendo um direito fundamental da nossa geração e um dever para com as gerações futuras.
Explica o Ministro que certas áreas devem ser resguardadas para
evitar a degradação, não apenas daquela propriedade em si, mas de toda uma região. Com isso, a correta proteção legal busca obter o equilíbrio ecológico que no caso é o interesse público.
Nesse cenário, as áreas de preservação permanente são de suma
importância para a integridade dos ecossistemas e para a qualidade do meio ambiente. A violação, exploração, desmatamento ou ocupação de APP causa inequívoco dano ecológico.
Com isso, entendeu que afastar a aplicação do Código Florestal
implicaria verdadeiro retrocesso em matéria ambiental.
O Julgado diz respeito a aplicação do princípio da proibição do
retrocesso ecológico, impedindo que nova legislação reduza sensivelmente a proteção ambiental instaurada pela legislação anterior.
No julgado de origem houve o computo da Área de Preservação
Permanente (APP) na Área de Reserva Legal, diminuindo a cominação de multa diária e majorando o prazo para apresentação de projeto ambiental.
Argumentam que o artigo 15 do Novo Código Florestal Brasileiro não
pode ser aplicado devido a sua inconstitucionalidade pela proibição do retrocesso, uma vez que a Lei Estadual Paulista 9.989/98, mais protetiva, estabelece a separação da Área de Reserva Legal da Área de Proteção Permanente.
O Ministro relator discorre que não se pode empregar a normal
ambientental superveniente de cunho material aos processos em curso, seja para proteger o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, seja para evitar a redução do patamar de proteção de ecossistemas frágeis sem as necessárias compensações ambientais.
Argumenta ainda que o mecanismo no art. 15 do Novo Código
Florestal acabou por descaracterizar o regime de proteção das reservas legais, violando assim o dever geral de proteção ambiental.
Dessa forma, verificado no caso que o artigo 15 do Novo Código
Florestal trouxe uma norma que entrou em conflito com a Lei Estadual, a decisão veio no sentido de que sendo a Lei Estadual mais rigorosa e protetiva para a questão ambiental, deve esta prevalecer, em repeito ao princípio da proibição do retrocesso ecológico.
O Direito Ambiental se encontra diante de um quadro de inúmeras
ameaças. Daí então a importância do princípio da proibição do retrocesso nesse ramo do direito, que visa a proteção ao meio ambiente.
Este princípio permite que o Direito Ambiental resista às poderosas
investidas de alteração da legislação para flexibilizar os direitos socioambientais já consolidados, sendo um mecanismo forte e eficiente para defesa dos retrocessos ambientais.
O princípio do retrocesso opera como uma verdadeira garantia
constitucional do cidadão contra as investidas do legislador. Isso porque o Direito Ambiental diz respeito ao conjunto normativo que atenda a manutenção mínima do meio ambiente, viabilizando, inclusive, a existência do ser humano e até mesmo da dignidade da pessoa humana.