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Giulianna Elisa Rodrigues Schiavon – 10ºB

AMBIENTAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROVIDO.


RECURSO ESPECIAL. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA DO CÓDIGO FLORESTAL.
INADEQUADA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. MAIOR PROTEÇÃO
AMBIENTAL. PROVIMENTO. RESPEITO AO LIMITE IMPOSTO PELO CÓDIGO
FLORESTAL.
1. O agravo interno foi provido após a impugnação específica dos fundamentos utilizados
na origem para inadmitir o recurso especial.
Passa-se à análise do recurso especial. 2. A proteção ao meio ambiente integra
axiologicamente o ordenamento jurídico brasileiro, sua preservação pelas normas
infraconstitucionais deve respeitar a teleologia da Constituição Federal. Desse modo, o
ordenamento jurídico deve ser interpretado de forma sistêmica e harmônica, privilegiando
os princípios do mínimo existencial ecológico e do ambiente ecologicamente equilibrado.
3. Na espécie, o Tribunal de origem interpretou o Código Florestal (Lei n. 4.771/1965) de
maneira restritiva, pois considerou que o diploma legal estabeleceu limites máximos de
proteção ambiental, podendo a legislação municipal reduzir o patamar protetivo. Ocorre
que o colegiado a quo equivocou-se quanto à interpretação do supracitado diploma legal,
pois a norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal
apenas intensificar o grau de proteção às margens dos cursos de água, ou, quando muito,
manter o patamar de proteção.
4. A proteção marginal dos cursos de água, em toda a sua extensão, possui importante
papel de resguardo contra o assoreamento. O Código Florestal tutela em maior extensão
e profundidade o bem jurídico do meio ambiente, logo, é a norma específica a ser
observada na espécie.
5. Recurso especial provido.
(AREsp 1312435/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
07/02/2019, DJe 21/02/2019)

Relatório

O caso em análise diz respeito a depósito de materiais de


construção, piscinas e placas de propagando eleitoral a menos de 30 metros às margens
do Rio Piabanha.
Em primeiro grau, houve decisão para que os réus apresentassem
programa de recuperação ambiental da área de preservação permanente ocupada, na
faixa de 15 (quinze) metros a partir da margem do Rio Piabanha, e a retirarem todos os
materiais depositados na referida área.

O Ministério Público Federal recorreu da decisão e o TRF decidiu


para que prevalecesse o limite fixado na lei municipal (15 metros), ainda que inferior aos
30 metros do Código Florestal vigente à época dos fatos.

Então os autos subiram para o Superior Tribunal de Justiça, onde foi


pleiteado a estrita observância do Código Florestal.

Decisão

O Ministro e Relator Og Fernandes, apontou que o ordenamento


jurídico ambiental foi concebido para proteger o meio ambiente contra danos de difícil
reparação e que o espaço geológico dever ser preservado de modo que uma propriedade
não danifique a outra. Entendeu ainda que a decisão combatida restringiu a interpretação
e proteção ambiental, aplicando o princípio do não retrocesso.

A proibição do retrocesso consiste em um princípio constitucional


implícito, que tem por fundamento o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio
da máxima eficácia e efetividade das normas definidoras de direitos fundamentais e o
princípio da segurança jurídica.

Sendo o Meio Ambiente um Direito Fundamental de terceira


geração, uma vez concretizado um direito, não pode o legislador infraconstitucional voltar
atrás e restringir tal direito.

Segundo o Ministro, as áreas de preservação permanente tem por


objetivo a integridade dos ecossistemas e à qualidade do meio ambiente, bem como de
abrigar a biodiversidade e promover a propagação da vida, assegurar a qualidade do solo
e garantir o armazenamento de recurso hídrico em condições favoráveis de quantidade e
qualidade.
Embora exista o dispositivo que nas áreas urbanas deve-se observar
a legislação Municipal, a preservação do meio ambiente é preponderante e integra o rol
de direitos humanos. Com isso, é indispensável e indissociável qualquer forma de
intervenção do princípio do ambiente ecologicamente equilibrado, sendo um direito
fundamental da nossa geração e um dever para com as gerações futuras.

Explica o Ministro que certas áreas devem ser resguardadas para


evitar a degradação, não apenas daquela propriedade em si, mas de toda uma região.
Com isso, a correta proteção legal busca obter o equilíbrio ecológico que no caso é o
interesse público.

Nesse cenário, as áreas de preservação permanente são de suma


importância para a integridade dos ecossistemas e para a qualidade do meio ambiente. A
violação, exploração, desmatamento ou ocupação de APP causa inequívoco dano
ecológico.

Com isso, entendeu que afastar a aplicação do Código Florestal


implicaria verdadeiro retrocesso em matéria ambiental.

O Julgado diz respeito a aplicação do princípio da proibição do


retrocesso ecológico, impedindo que nova legislação reduza sensivelmente a proteção
ambiental instaurada pela legislação anterior.

No julgado de origem houve o computo da Área de Preservação


Permanente (APP) na Área de Reserva Legal, diminuindo a cominação de multa diária e
majorando o prazo para apresentação de projeto ambiental.

Argumentam que o artigo 15 do Novo Código Florestal Brasileiro não


pode ser aplicado devido a sua inconstitucionalidade pela proibição do retrocesso, uma
vez que a Lei Estadual Paulista 9.989/98, mais protetiva, estabelece a separação da Área
de Reserva Legal da Área de Proteção Permanente.

O Ministro relator discorre que não se pode empregar a normal


ambientental superveniente de cunho material aos processos em curso, seja para
proteger o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, seja
para evitar a redução do patamar de proteção de ecossistemas frágeis sem as
necessárias compensações ambientais.

Argumenta ainda que o mecanismo no art. 15 do Novo Código


Florestal acabou por descaracterizar o regime de proteção das reservas legais, violando
assim o dever geral de proteção ambiental.

Dessa forma, verificado no caso que o artigo 15 do Novo Código


Florestal trouxe uma norma que entrou em conflito com a Lei Estadual, a decisão veio no
sentido de que sendo a Lei Estadual mais rigorosa e protetiva para a questão ambiental,
deve esta prevalecer, em repeito ao princípio da proibição do retrocesso ecológico.

O Direito Ambiental se encontra diante de um quadro de inúmeras


ameaças. Daí então a importância do princípio da proibição do retrocesso nesse ramo do
direito, que visa a proteção ao meio ambiente.

Este princípio permite que o Direito Ambiental resista às poderosas


investidas de alteração da legislação para flexibilizar os direitos socioambientais já
consolidados, sendo um mecanismo forte e eficiente para defesa dos retrocessos
ambientais.

O princípio do retrocesso opera como uma verdadeira garantia


constitucional do cidadão contra as investidas do legislador. Isso porque o Direito
Ambiental diz respeito ao conjunto normativo que atenda a manutenção mínima do meio
ambiente, viabilizando, inclusive, a existência do ser humano e até mesmo da dignidade
da pessoa humana.

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