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ESTADO DO RIO DE JANEIRO


PREFEITURA MUNICIPAL DE ANGRA DOS REIS
SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO URBANO
SUBSECRETARIA DE MEIO AMBIENTE

Assunto: Análise sobre a proposta de criação da Zona de Amortecimento do Parque


Estadual da Ilha Grande (PEIG) – Motivação Técnica.

1.0 Apresentação:
Este documento tem por finalidade questionar o projeto de criação da zona de
amortecimento (ZA) do Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG) considerando que não há
subsídios técnicos que dêem sustentação a proposta nem jurídicos e que as possíveis
atividades geradoras de impacto ambiental na região, continuarão impactando o meio
ambiente marinho da Baía da Ilha Grande com a criação da ZA.

2.0 Exposição de Motivos com Análise da Legislação:


Entende-se como zona de amortecimento de uma categoria de unidade de
conservação de proteção integral e de uso sustentável (com exceção das APAs e RPPNs),
a região onde as atividades desenvolvidas exercem ou venham exercer algum tipo de
influência sobre a unidade de conservação e dentro da qual os usos devam ser
monitorados ou regulados.
Os critérios adotados para a delimitação de uma zona de amortecimento de uma
unidade de conservação devem ser de cunho estratégico, operacional e ecológico,
considerando a proximidade das atividades econômicas desenvolvidas e os eventos
associados que possam afetar a unidade; a dificuldade de delimitação da zona em função
das características físicas do terreno e/ou da sua geografia e; a continuidade
ecossistêmica, com manutenção de corredores ecológicos e a integridade da paisagem na
região.
A Resolução CONAMA n° 13/90 foi o primeiro instrumento legal a tratar sobre as
zonas de amortecimento das Unidades de Conservação da Natureza. Nela, o seu artigo 2°,
estabelece um raio de 10 Km ao redor da unidade como zona de amortecimento, o que
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VITALLI et al. (2009)1 consideram como sendo uma zona tampão definindo como “aquelas
áreas que devem funcionar como filtros, impedindo que atividades antrópicas externas
coloquem em risco os ecossistemas naturais dentro das áreas protegidas”. A proposição
do termo definido por Vitalli baseia-se na conjugação de zona de entorno (Resolução
CONAMA n° 13/90) e áreas circundantes as unidades de conservação (SNUC).
A Lei n° 9.985/2000 (SNUC), no seu art. 2°, inciso XVIII, diz que a zona de
amortecimento de uma unidade de conservação é “o entorno onde as atividades humanas
estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos
negativos sobre a unidade”. Para alguns autores, no entanto, a finalidade de uma zona
tampão/amortecimento é conter o efeito de borda causado pela fragmentação dos
ecossistemas (VITALLI et al, 2009).
No ano de 2010 o CONAMA ditou através de Resolução n° 428/2010 que a zona de
amortecimento de uma unidade de conservação sem plano de manejo seria de 3 mil
metros para o licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto
ambiental assim considerados pelo órgão licenciador, com fundamento no EIA/RIMA, e no
caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA/RIMA, a zona de
amortecimento a ser considerada para as unidades de conservação que ainda não tem
plano de manejo é de 2 mil metros.
VITALLI et al. (2009) na análise comparativa que fazem entre a Resolução
CONAMA n° 13/90 e a Lei n° 9.985/00, enfatizam a diferença entre a Resolução e o SNUC,
dizendo: “Porém, há diferenças entre os dois instrumentos em análise. A Resolução
CONAMA nº 13/90 impõe que o gestor da UC seja ouvido nos processos usuais de
licenciamento ambiental, podendo propor ações de mitigação e compensação. Por sua
vez, a zona de amortecimento prevista no SNUC possibilita que novas limitações
administrativas, além das usuais, sejam estabelecidas pelo plano de manejo. Neste
aspecto, é de fundamental importância que cada plano de manejo estabeleça, claramente,
quais atividades na zona de amortecimento deverão ser obrigatoriamente licenciadas pelos
órgãos competentes (art. 2º. da Resolução CONAMA nº. 13/90). Essa importância decorre
do fato de que o licenciamento é um processo com sanções expressas a quem descumpra
o que nele estiver disposto”.

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VITALLI, P. de L; ZAKIA, M. J. B.; DURIGAN, G. (2009) Considerações sobre a Legislação
Correlata à Zona-Tampão de Unidades de Conservação no Brasil. Ambiente & Sociedade. Campinas
v. XII, n° 1, p. 67 – 82, jan-jun. 2009.
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No caso em tela, a correspondência eletrônica enviada pelo Conselho Consultivo do


Parque Estadual da Ilha Grande, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Urbano da Prefeitura Municipal de Angra dos Reis, pretende criar uma
Zona de Amortecimento do Parque Estadual da Ilha Grande sobre o espelho d’água da
Baía da Ilha Grande, enquanto a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) cumpre com os
requisitos legais para a criação da APA Marinha da Baía da Ilha Grande, submetendo o
projeto a apreciação pública. No entanto, ao meu ver, este projeto ora apresentado,
merece um questionamento mais enfático por parte desta municipalidade, haja vista que
no mapa apresentado, a área de exclusão não limita usos e reconhece a existência de
atividades de fundeio de Navios em litígio, em grandes reparos ou em lastros e
plataformas em reparo; navios que aguardam atracação e reservado para navios da
Marinha do Brasil, sem sugerir o estabelecimento de critérios restritivos de uso e sem
considerar o que detalho a seguir.
Vejo que a proposta deveria encaminhar uma descrição dos locais mais
apropriados na Baía da Ilha Grande (com coordenadas geográficas/UTM) e
diagnóstico, que viessem substituir os locais que estão marcados no mapa como
áreas de fundeio (descritas acima), excluindo é claro as ilhas da ESEC Tamoios
(Ilha de Imboassica) e o seu entorno marinho num raio de 1.000 metros, haja
vista que a categoria de unidade de conservação Estação Ecológica é altamente
restritiva, onde 90% da sua área é de preservação permanente e somente os
10% restantes são reservados a pesquisas científicas e educação
conservacionista.
Outra questão muito clara e merecedora de atenção é que no Plano de Manejo da
Estação Ecológica de Tamoios, todo o restante do espelho d’água da Baía da Ilha
Grande é considerado zona de amortecimento da Estação Ecológica.
Vejo com muita preocupação a proposta de zoneamento ora apresentada. O
zoneamento proposto atende a que unidade de conservação? O Parque Estadual
da Ilha Grande ou a APA Marinha da Baía da Ilha Grande?

Considerando que é para atender ao Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG), os


limites estabelecidos no zoneamento estão além do que está definido na Resolução
CONAMA n° 428/2010 e segundo esta Resolução haveria necessidade de elaboração de
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Estudo de Impacto Ambiental com apresentação de RIMA para licenciamento de


atividades potencialmente poluidoras, além de também se considerar o que está definido
no Plano de Manejo do Parque Estadual da Ilha Grande, o que ao meu ver não está sendo
considerado, pois o Plano de Manejo do Parque não leva em consideração o espelho
d’água da baía. Se, no entanto, é para atender a APA Marinha da Baía da Ilha Grande (o
que é bem provável), é prematuro aceitar o zoneamento proposto, haja vista que sequer
ainda foi criada a APA Marinha da Baía da Ilha Grande.
Assim volto a afirmar:
1. O art. 20, VI, da CF diz que o mar territorial é de responsabilidade da União e
o item VII inclui os terrenos de marinha e seus acrescidos;
2. A Lei n° 1.130, de 12/02/87 e o Decreto n° 9.760/87 que a regulamenta, que
criam e regulam as Áreas de Interesse Especial no RJ, trata sobre questões
urbanísticas, referenciadas no art. 13 da Lei n° 6.766/79. O mar territorial é de
competência da União em função da Lei n° 7.661/88 regulamentada pelo
Decreto n° 5.300/04;
3. O Decreto n° 5.300/04 reconhece que os Estados e Municípios poderão criar
leis específicas de gerenciamento costeiro para as áreas dos estados e
municípios projetadas sobre o mar territorial, porém somente aqueles estados
que mantiverem lei aprovada nas suas Assembléias Legislativas e municípios
nas suas Câmaras Municipais, terão os seus direitos reconhecidos, haja vista
que ainda não foi incorporada a área do mar territorial adjacente ao Estado do
Rio de Janeiro, ao território terrestre do Estado, não constituindo-se como
espaço geográfico legalmente incorporado ao território do RJ.
4. O INEA está limitado a ordenar o uso do espelho d’água na Baía da Ilha
Grande já que a Lei n° 1.130/87 e o seu decreto regulamentador tratam
apenas das áreas especiais do Estado do Rio de Janeiro sob o ponto de vista
do ordenamento do solo para fins urbanos.

3.0 Conclusão:
Sugiro que o Município de Angra dos Reis conteste o projeto de zoneamento do
espelho d’água da Baía da Ilha Grande ora proposto considerando que não há informação
suficiente para o estabelecimento deste e que sob o ponto de vista jurídico, o INEA não
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tem competência para regulamentar o uso do espelho d’água da Baía da Ilha Grande, pois
o Estado do Rio de Janeiro ainda não possui o seu Plano de Gerenciamento Costeiro.
Ainda assim, o projeto de estabelecimento do zoneamento não cumpre com requisitos
legais nem técnicos que embasem substancialmente essa proposta, sendo prematuro o
Município de Angra dos Reis aceitare este projeto do INEA.

Angra dos Reis, 14 de fevereiro de 2012.

Paulo Carvalho Filho


Biólogo – matr. PMAR n° 3054
Especialista em Planejamento Ambiental
MSc em Geociências – área de concentração em
Gestão Ambiental

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