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GOVERNO DO PARANÁ

PARECER TÉCNICO nº. 000/2017/IAP/CTM

INTERESSADO: Cleide Aparecida de Melo


PROTOCOLO: 12.138.612-7
ASSUNTO: Licença de Operação de Regularização - LOR
ATIVIDADE: Regularização de estruturas náuticas e dragagem
MUNICÍPIO: Pontal do Paraná – PR
LOCAL: Alameda do Café, nº. 2138 – Pontal do Sul, Coordenadas planas X –
765375, Y – 7169625 UTM.

INTRODUÇÃO

Em atendimento ao pedido de Licenciamento Ambiental, o técnico Marcos Antonio Pinto


realizou análise do processo em 05/05/2016, pedindo atualização e complemento de algumas
informações no processo (Informação 31/2016 – CTM) a luz da Resolução SEMA nº 040/2013. Em
26/07/2016 realizou vistoria “in loco” com a colaboração da Engenheira Ambiental Mariana Irene
Hoppen e o Geógrafo Doraci Ramos de Oliveira. Nesta vistoria, constatamos que estavam sendo
feitas algumas melhorias no local, como a instalação de pista de lavagem, caneletas para
direcionamento das águas contaminadas e caixas separadoras de água e óleo.

PONTOS RELAVANTES E INFRAESTRUTURA

Em relação à dominialidade o empreendimento é composto da seguinte forma:

 Matrícula nº 7.270 do CRI de Matinhos, com área de 726 m 2, em nome de Willian Andrey do
Rosário;
 Matrícula nº 5.282 do CRI de Matinhos, com área de 726 m2, em nome de Manoel Alves da
Silva;
 Foi apresentada procuração pública pelo proprietário do imóvel em favor da requerente;
 Foi apresentada Autorização do representante da Empresa Marina Tropical Ltda – ME,
Manoel Alves da Silva em favor da empresa Cleide Aparecida de melo – Transportes – ME;
 Foi apresentada procuração particular pela proprietária Cleide Aparecida de melo em favor de
Simone de Fátima Campos e Noele Costa Saborido;
 Foi apresentado Ofício nº 587/14, emitido pela Marinha do Brasil informando que não
restrições para funcionamento do empreendimento;
 Área de cessão AP – 430 m2, ainda não regularizado junto ao SPU. (Mapa 1.156 m2)
As pequenas divergência em relação a dominialidade deverão ser sanadas quando da futura
renovação da LO e deverão ser objeto de condicionante nesta LOR.

As estruturas náuticas existentes são compostas de: 02 Garagens náuticas com 726 m²
totais, que comportam aproximadamente 30 embarcações; 01 Pista de lavagem de barcos com
75 m2; 02 banheiros com área de 38 m²; Áreas de lazer com 119,66 m². O empreendimento
conta ainda com um espaço denominada antiga Av. Ilha do mel, com área de 430 m². Uma
rampa, com área de 75 m² (5,0 x 15m) e uma escada medindo 9,5 metrso de comprimento x 1,0
metros de largura, possui ainda um flutuante medindo 14,9 metros x 2,00 metros. O
empreendimento não possui Posto de Combustível e nem oficina mecânica. Área de darsena
com 4.000 m². No local há uma estrutura denominada clube de velas com 100 vagas para
embarcações entre 8 e 17 pés, com uma rampa de 3 m de largura, além de uma prainha.

Conforme projeto apresentado, o local conta com caixas separadoras de água e óleo, todas
providas por caneletas que fazem o direcionamento das águas residuárias. Os resíduos sólidos
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gerados são acondicionados e destinados a empresas licenciadas, conforme descrito no PCA
apresentado.

O empreendimento é servido de rede de distribuição de água potável, calçamento, iluminação


pública, sistema de drenagem interna, sistema de tratamento de águas residuais do processo de
lavagem e manutenção das embarcações e esgotamento sanitário.

O abastecimento é realizado pelo Posto de Combustível náutico Pontal do Areia, localizado


ás margens do canal do DNOS.

A empresa apresentou PCA contendo os requisitos técnicos para regularização e


funcionamento do empreendimento, seus possíveis impactos, observando que todos estes impactos
deverão ser objeto ações de mitigação e ou medidas de controle ambiental. O PCA tem como
responsável técnica Oceanógrafa Noelle Costa Saborido (AOCEANO nº. 1567), com a devida
Declaração de Habilitação Técnica DHT nº 6967.

Segundo sistema GEO do ITCG (www.geo.pr.gov.br) a região do empreendimento esta


localizado na região do Bioma Mata Atlântica – Formação Fitogeográfica: Floresta Ombrófila
Densa das Terras Baixas e Aluvial, na área em específico não ocorre vegetação Nativa.
A área em questão não se encontra em área de manancial de abastecimento público.
A topografia do local é plana com leve inclinação para a Baía de Paranaguá.
Ver anexos 1 e 2 - relatório fotográfico.

PARECER

Ao longo de nossa história de colonização, a faixa litorânea foi o primeiro espaço a ser
ocupado e transformado, destacando algumas povoações mais antigas no litoral paranaense, a citar:
Guaraqueçaba, Antonina, Paranaguá e Morretes, que remontam certamente mais de 300 anos.

Em nível de Brasil, podemos afirmar que a pressão sobre a faixa litorânea é muito acentuada,
destacando segundo dados do MMA, 2013 que cerca de 70 % da população brasileira habita a Mata
Atlântica, sendo esta região responsável por mais de 80% do PIB – Produto Interno Bruto do Brasil,
daí podemos ver sua importância e ao mesmo tempo a pressão que é exercida sobre esta região.

Sabemos que o processo de ocupação da faixa litorânea é assunto polemico, pois envolve
ocupação de área de preservação permanente ao longo de toda a faixa litorânea. Nesta região temos
uma vasta legislação que visa regrar a ocupação deste frágil ambiente, assim temos que tomar
cuidados especiais, privilegiar o acesso coletivo e restringir a individualidade.

Os empreendimentos náuticos estão localizados na faixa litorânea, compreendida em sua


maioria por acrescidos de marinha e terrenos de marinha, que segundo o Decreto nº 9.760/1946
dispõe sobre bens imóveis da União, e já em seu Art. 1º, letra a, “ a) os terrenos de marinha e seus
acrescidos”. No artigo 2º temos a definição dos terrenos de marinha:

Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três)


metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do
preamar-média de 1831:
a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e
lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés;
b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência
das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a influência das marés é
caracterizada pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do
nível das águas, que ocorra em qualquer época do ano.
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No Art. 3º temos a definição de terrenos acrescidos de marinha “Art. 3º São terrenos crescidos
de marinha os que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em
seguimento aos terrenos de marinha”.

Segundo o Art. 9º do mesmo Decreto a competência para determinação das posições das
linhas de preamar médio do ano de 1.831 é do SPU – Serviço do Patrimônio da União, assim o
imóvel objeto do licenciamento deve estar regular junto ao SPU.

Ainda podemos incluir o terreno alodial na composição dos terrenos onde são implantados
as Marinas, que tem sua definição segundo o dicionário “adj. Diz-se da propriedade imóvel livre de foros,
vínculos, ônus: bens alodiais”. Estes terrenos estão localizados após os terrenos de marinha, sentido
área urbanizada.

Segundo a Resolução do CONAMA nº 303/2002, em seu Art. 3º constituí Área de


Preservação Permanente:
IX - nas restingas:
a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar
máxima;
b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com
função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues;
X - em manguezal, em toda a sua extensão;
XI - em duna;

Assim podemos concluir que grande parte das ocupações urbanas, inclusive as Marinas
estão em Área de Preservação Permanente, ora ocupando áreas que já foram restingas (maioria), ou
até mesmo dunas.

As áreas de restingas fazem parte do Bioma da Mata Atlântica, ver Art. 2º da lei Federal
11.428/2006, assim estão sujeitas as regras e imposições previstas nesta norma.

Segundo a Lei que Dispõe da Proteção a Vegetação Nativa (Lei Federal nº 12.651/2012), em
seu Art. 4º “Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos
desta Lei: [...] VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; e VII - os
manguezais, em toda a sua extensão;”

Assim podemos concluir que uma faixa de 300 m além da Linha preamar, com vegetação de
restinga, nas dunas e em toda a extensão dos mangues.

Ainda existe parte dos empreendimentos náuticos incidindo sobre as águas públicas, que
segundo o Código de Águas, Decreto Federal 24.643/1934, art. 1º e 2º:

Art. 1º As águas públicas podem ser de uso comum ou dominical.


Art. 2º São águas públicas de uso comum:
        a) os mares territoriais, nos mesmos incluídos os golfos, baias, enseadas
e portos;
        b) as correntes, canais, lagos e lagoas navegáveis ou flutuáveis;
        c) as correntes de que se façam estas águas;
        d) as fontes e reservatórios públicos;
        e) as nascentes quando forem de tal modo consideráveis que, por si só,
constituam o "caput fluminis";
        f) os braços de quaisquer correntes públicas, desde que os mesmos
influam na navegabilidade ou flutuabilidade.
        § 1º Uma corrente navegável ou flutuável se diz feita por outra quando se
torna navegável logo depois de receber essa outra.
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        § 2º As correntes de que se fazem os lagos e lagoas navegáveis ou
flutuáveis serão determinadas pelo exame de peritos.
        § 3º Não se compreendem na letra b) dêste artigo, os lagos ou lagoas
situadas em um só prédio particular e por ele exclusivamente cercado, quando
não sejam alimentados por alguma corrente de uso comum.

A competência para a cessão de espaços físicos em águas públicas em especial para as


estruturas náuticas são previstas pela Portaria nº 404/2012 do SPU – Secretaria do Patrimônio da
União, o qual estabelece normas e procedimentos para a instrução de processo, classifica as
estruturas em seu Art. 3º, “Art. 3º As estruturas náuticas, para fins desta Portaria, são classificadas, da
seguinte forma: I - de interesse público ou social; II - de interesse econômico ou particular; III - de uso misto”.
Em seguida a Portaria estabelece procedimentos de cessão, valoração e formalização de processo
administrativo para implantação e regularização de estruturas náuticas, sendo que um dos requisitos
é o licenciamento ambiental, Art. 9º item VIII: “VIII - Licença Ambiental Prévia (LP), quando se tratar de
implantação de nova estrutura náutica ou Licença Ambiental de Instalação (LI) ou de Operação (LO), quando
se tratar de ampliação/regularização de estrutura náutica existente”.

Assim entendemos que os empreendimentos náuticos somente terão o documento de


cessão de águas públicas após sua regularização ambiental.

É fato que todo o empreendimento náutico acaba por impactar de forma direta e indireta a
paisagem local, bem como o meio físico e biótico, pois o simples fato de se instalar em faixa litorânea
no interior de uma baía já promove uma alteração no ambiente. Entendemos que a operação de
empreendimentos desta natureza é essencial para melhor organizar o fluxo de embarcações e
trafego marinho na região, com local adequado e compatível para sua guarda e manutenção, ou
seja, dentro de um ambiente organizado, controlado e monitorado (Licenciado).

Entendemos que o local preenche os requisitos técnicos para emissão da Licença de


Operação de Regularização, pois a atividade requerida atende ao zoneamento estabelecido no Plano
de Uso e Ocupação do Solo, estando localizada no Quadro Urbano do Município de Pontal do
Paraná, além disso, atende as normativas estaduais, em especial, a Resolução SEMA nº 040/2013.

Assim pedimos apoio da DIJUR, visando sanar entendimento quanto à compatibilidade da


operação do empreendimento, levando em conta que o local esta inserido em área de preservação
permanente já consolidada.

Curitiba, 06 de Janeiro de 2017.

Doraci Ramos de Oliveira Mariana Irene Hoppen


Geógrafo - Especialista em Manejo e Engenheira Ambiental - IAP/CTM
Administração de Unidades de
Conservação - IAP/CTM

Marcos Antonio Pinto


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Geógrafo - Especialista em Conservação da Biodiversidade - IAP/CTM

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