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Universidade Lúrio

Faculdade de Ciências de Saúde


FCS

Licenciatura em Psicologia Clínica

A Dinâmica Intrapsíquica:
Conflito, Recalcamento e
Mecanismos De Defesa

Docente: José Rocha


Nampula
2022
Fabíola Manuel
Hélder José Augusto

A Dinâmica Intrapsíquica:
Conflito, Recalcamento e
Mecanismos De Defesa

O presente trabalho em grupo


é de carácter avaliativo e
enquadra-se no âmbito da
Cadeira de Introdução a
Psicanálise leccionada pelo
docente José Rocha

Docente: José Rocha


Nampula
2022
Índice
Introdução ......................................................................................................................... 4

A Dinâmica Intrapsíquica ................................................................................................. 5

Conflito ............................................................................................................................. 5

Factores dos Conflitos ...................................................................................................... 6

Consequências .................................................................................................................. 7

Tratamento ........................................................................................................................ 8

Tipos de conflito ............................................................................................................... 9

O Recalcamento ................................................................................................................ 9

Retorno Do Recalcado .................................................................................................... 10

Recalque Para Uma Consciência .................................................................................... 11

Conceito De Recalque Na História Do Pensamento ...................................................... 11

Recalque na Obra Freudiana........................................................................................... 12

Existência Do Recalque .................................................................................................. 12

Mecanismos De Defesa .................................................................................................. 13

Principais Mecanismos De Defesa ................................................................................. 13

Conclusão ....................................................................................................................... 17

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 18


Introdução
Uma das maneiras de se começar a falar no inconsciente freudiano pode ser a de se
apontar o que ele não é, ou então, a de se marcar a sua diferença com relação àquela
concepção de subjectividade dominante até Freud.

Aquilo em relação ao qual o inconsciente freudiano marca uma diferença radical é a


psicologia da consciência. Daí a impropriedade do termo ―psicologia profunda‖ para
designar substituidamente a psicanálise. A psicanálise não é uma psicologia das
profundezas, na medida em que o ―profunda‖ aponte para uma espécie de subsolo da
mente até então desconhecido e que ela se proponha a explorar. O inconsciente não é
aquilo que se encontra ―abaixo‖ da consciência, nem o psicanalista é o mineiro da
mente que, inversamente ao alpinista platónico da psicologia clássica, vai descer às
profundezas infernais do inconsciente para encontrar, no mínimo, o malin génie
cartesiano. Freud não nos fala de uma consciência que não se mostra, mas de outra coisa
inteiramente distinta. Fala-nos de um sistema psíquico — o Ics — que se contrapõe a
outro sistema psíquico — o Pcs/Cs — que é em parte inconsciente (adjectivamente),
mas que não é o inconsciente. (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ 1992)

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A Dinâmica Intrapsíquica

Psicodinâmica é uma alternativa deliberada de psicologia comportamental. Esta


abordagem à psicologia incide sobre as unidades e centra-se nas pulsões de uma pessoa
individual, especialmente as do inconsciente. Ela é também se concentra nas diferentes
estruturas da personalidade de alguém. Embora as teorias de Freud tenham se tornado a
base para a teoria psicodinâmica, a teoria cresceu para incluir as ideias de outros
cientistas, como Carl Gustav Jung e Erik Erikson.

Freud construiu suas teorias clinicamente com base em sessões de terapia com seus
pacientes. As crenças comuns expressas na psicologia psicodinâmica incluem que os
sentimentos e comportamentos das pessoas são profundamente afectados por seus
pensamentos inconscientes. Segundo a teoria de Freud, o aparelho psíquico de um
indivíduo é composto de três partes: id, ego e superego. A mente inconsciente também
está constantemente em conflito com a mente consciente e isso se relaciona com vários
mecanismos de defesa. (FREUD, S. 1915)

Conflito

A psicanálise considera o conflito como constitutivo do ser humano, e isto em diversas


perspectivas: conflito entre o desejo e a defesa, conflito entre os diferentes sistemas ou
instâncias, conflitos entre as pulsões, e por fim o conflito edipiano, onde não apenas se
defrontam desejos contrários, mas onde estes enfrentam a interdição.

Segundo Freud, os conflitos internos são inerentes à construção do sujeito, se


caracterizando pela oposição de desejos e exigências contrárias internas. Ao longo de
seus estudos, o psicanalista ainda defendia que isso é um dualismo essencialmente
irredutível. Sendo assim, apresenta variadas formas.

Em suma, podemos afirmar que existe uma incompatibilidade de ideias em nossas


mentes. Há uma espécie de explosão em nosso interior que consegue movimentar o ego
para apoiá-la, mas também gera uma onde de repressão. Caso caiba uma repressão, tal
ideia ou projecto vão ser arremessados para longe da consciência. (FREUD, S. 1915)

Freud estabeleceu que há dois movimentos em nosso interior que estão relacionados no
processamento de recordações. Enquanto um trabalha na importância dessa lembrança
como motivo para revivê-la, o outro tenta bloquear que ela seja vista. Nenhuma das
forças tem a capacidade de anular a outra e, portanto, nenhuma predomina.

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Os conflitos não fazem parte de uma fase que logo depois é superada, não acontecem
em uma época e depois deixam de existir. É possível que alguns conflitos acabem, mas
sempre haverá outros em actuação, de forma que é impossível chegar a uma resolução
completa – os conflitos não são passageiros, mas sim permanentes. E como Freud
mesmo se encarrega de demonstrar, tais conflitos estão na génese das psicopatologias,
do sofrimento psicológico humano:

os sintomas podem servir tanto à satisfação sexual como ao seu oposto. Existe uma
excelente base para essa bilateralidade ou polaridade numa parte do seu mecanismo,
que até o momento não pude mencionar. Pois, conforme veremos, elas são o produto de
acordo e surgem da recíproca interferência entre duas correntes opostas; representam
não só o reprimido, mas também a força repressora que compartilhou de sua origem.
Um ou outro lado pode estar representado com mais força; mas é raro uma das forças
em jogo estar totalmente ausente (1917a, p. 307).

Em outras palavras: o sintoma neurótico é definido como o produto de um compromisso


entre dois grupos de representações que agem como duas forças de sentido contrário"
(Laplanche e Pontalis, 1986, p. 131). Assim, estamos lidando com um dos principais
factores etiológicos da neurose, e embora existam diferentes graus de intensidade e de
frequência que definem o normal e o patológico, podemos concluir com segurança que
todo ser humano tem algum grau de sofrimento psicológico porque está justamente
tentando se equilibrar em meio a forças antagónicas.

Assim, não é de forma alguma devido ao acaso que o conflito seja considerado tema de
tão crucial importância, e que Freud tantas vezes trabalhe a partir de oposições, uma vez
que tudo isso parece apontar para o âmago da questão do sujeito psicanalítico, que se
revela como aquele que sofre pelas contradições que lhe são inerentes e constitutivas.

Factores dos Conflitos

Os conflitos internos têm uma natureza de duelo constante, sendo desencadeados ao


menor sinal de estímulo. Assim, a relação do ambiente externo com o nosso interno
estimula ondulações que podem se chocar, a depender do movimento de origem.
Contudo, não há apenas um estímulo para isso. Portanto, trata-se de algo estimulado por
vários factores.

Dessa forma, os conflitos internos podem vir das seguintes maneiras, por exemplo:

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 Repressão

Indivíduos que reprimem as próprias acções e/ou sentimentos tendem a represar o que
sentem. Entretanto, ainda que tenham planejado guardá-las, transbordam essas
emoções. Tudo se acumula e é perfeitamente esperada a manifestação de um escape por
meio do próprio corpo.

 Ganho e perda

Muitas pessoas sonham e planejam ganhar algo grande e de valor em sua vida. Isso
representaria uma ostentação máxima de suas capacidades. Contudo, o tamanho do
objectivo já revela qual será esforço que deve ser feito para conquistá-lo. Assim, sabe-se
que para alcançar resultados grandes, precisa de um esforço grande. Somente a ideia de
se envolver em um projecto tão complexo pode colocar indivíduos em dilemas
complicadíssimos.

 Auto sabotagem

Todos nós sonhamos com uma carreira de sucesso e um futuro brilhante. Nos
esforçamos diariamente para alcançar tal objectivo, empregando todas as ferramentas
disponíveis que possuímos. Contudo, há aqueles que se sabotam no final por se acharem
indignos daquela recompensa. O boicote a si mesmo provoca conflitos na mente.

Consequências

Os conflitos internos possuem uma natureza destrutiva para o ser humano, porque o
leva a se esquecer do seu dever. Essa dualidade causa confusão e gera oscilações
negativas em qualquer um, se manifestando de várias formas. Geralmente, os indivíduos
conflituosos apresentam alguns sinais, como os descritos abaixo:

 Falta de foco

Com tantas direcções apontando para vários lugares, acabamos por não escolher
nenhum. É como um tribunal que confunde ao invés de dar um veredicto. Entre o fazer
ou não fazer, ser ou não ser, escolhemos a neutralidade, ainda que ela seja bastante
prejudicial a nós.

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 Sem direcção

Continuando, perdemos completamente o rumo de nossos projectos. Entre urgências ou


não, não sabemos para onde ir primeiro. A bússola interna está quebrada e nos fixa
numa posição de passividade. Dessa forma, não apresentamos estruturas para continuar
em uma linha recta em direcção ao objectivo.

 Vergonha

Por não ter um controle pleno de nossas acções e pensamentos, sentimos vergonha de
nós mesmos. A incapacidade de agir sobre os eventos ao redor, bem como nossas
acções, nos coloca de joelhos. Isso porque as circunstâncias apontavam para uma
dominação daquela situação e não para um dominado.

 Culpa

Pela nossa incapacidade de lidar com essas dualidades, somos embebidos em um


sentimento de culpa. A cada passo dado, nos flagelamos com argumentos e
pensamentos ácidos. Machucamos a nós mesmos diariamente por ceder a alguma
situação um movimento de não participar da mudança.

Tratamento

Resolver os conflitos internos pode ser uma estrada tortuosa para qualquer um, mas
ainda assim é possível. Através de uma série de exercícios, conseguimos reformular a
visão que temos de nós mesmos e do mundo. Leva tempo, mas ainda assim
conseguimos realocar os elementos em seus lugares de origem para alcançarmos nossa
plenitude.

Veja como aliviar as tensões dos conflitos internos:

 Mude os sentimentos sobre si mesmo

De início, tente trabalhar a renuncia que faz sobre si mesmo. Esqueça pensamentos
como ―Eu não sou bom o suficiente para…‖. Ainda que pense nele como algum tipo de
preservação, isso acaba por limitar qualquer reacção que venhamos a ter sobre algo.
Seja mais pró-activo e trabalhe os sentimentos que guarda

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 Faça um filtro positivo

Tire um tempo para avaliar todas as conquistas positivas que teve até agora. Faça um
balanço do quanto foi bem sucedido até aqui. Isso v ai ajudar você a ter uma ideia
melhor de quem é, aumentando sua auto-estima e confiança diante de escolhas. Além
disso, trata-se de uma decisão que além de te engrandecer, vai te energizar para novas
conquistas.

 Equilibre cada parte

Tente não reprimir as vozes que brigam em uma situação. Escute cada uma e entenda a
manifestação delas. Dessa forma, as faça entender que cada uma tem função e deve
valorizar o outro aspecto.

Tipos de conflito

Embora sejam problemáticos independentes da forma, os conflitos internos se


classificam em várias partes. São elas:

 Conflito comportamental – Aqui se classifica na relação do indivíduo com o


dilema de seus comportamentos. Resume-se em tomar decisões, uma em
detrimento da outra.

 Conflito de habilidades – Aqui ficam em voga as nossas competências no dia a


dia. Ser mais liberto ou optar pela conservação, se liberar ou restringir… Em
suma, é a escolha das habilidades de acordo com o momento.

 Conflito de crenças e valores – De forma simples, esta se baseia no conflito


entre a acção com os nossos valores pessoais. Por exemplo, ir comer em um
restaurante badalado, mas achar os valores altos demais.

 Conflito de identidade – Este se conduz pela relação do nosso papel no mundo


com as responsabilidades em assumir elas ou não. O conflito aqui também se
baseia na conciliação dos papéis mostrados com as renúncias feitas.

O Recalcamento

Em sua A história do movimento psicanalítico (ESB, v. XIV, p. 26), Freud afirma que ―
a teoria do recalcamento é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da
psicanálise‖.

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Podemos pensar da seguinte forma o significado de recalque em psicanálise:

 Uma experiência traumática ou uma percepção que o ego resiste em aceitar


para si é reprimida para o inconsciente, sem que o sujeito tenha clareza de que
houve esta repressão. Isto é o recalque: um objecto inicial potencialmente
doloroso à psique humana é recalcado, isto é, torna-se inconsciente.

 Isso ocorre para evitar que o consciente se depare com aquela dor, isto é,
evitar reviver no presente o incómodo inicial tal como aconteceu; então, a
consciência se descola do objecto inicial.

Mas esta energia psíquica que está no inconsciente não está desfeita. Ela busca
caminhos inusitados para ―escapar‖ e vir à tona. E faz isso por meio de associações das
quais o sujeito não tem consciência. Esta será já uma nova fase deste processo, que
veremos como um retorno do recalcado. (FREUD, S. 1915)

Segundo o Vocabulário de Psicanálise, de Jean Laplanche e J-B Pontalis, os autores


optam pelos termos ―recalque‖ e ―recalcamento‖. Se nos referirmos aos termos
―repressão‖ e ―recalque‖, observaremos que o primeiro faz referência a uma acção
exercida sobre alguém, a partir da exterioridade. Isso ocorre ao passo em que o segundo
refere-se um processo intrínseco ao indivíduo, posto em movimento pelo próprio eu.

Dessa forma, ―recalque ou recalcamento‖ são os termos que mais se aproximam do


sentido utilizado por Freud em seu trabalho. Não obstante esta constatação, é necessário
ressaltar que o conceito de recalque não prescinde dos acontecimentos externos
vivenciados pelo indivíduo. Neste caso, estes aspectos são representados pela censura e
a lei. (LAPLANCHE, J.; PONTALIS J. B. 1982)

Retorno Do Recalcado

 O conteúdo recalcado não fica calmamente reprimido. Retorna à vida psíquica


de forma indirecta, por meio de associações psíquicas e somáticas, isto é,
podendo afectar a vida mental e também podendo ter manifestações físicas
(como ocorre na histeria).

 Esta ―energia‖ encontra um representante (objecto) alternativo para se tornar


visível ou consciente: os sintomas psíquicos (como fobias, histerias, obsessões
etc.) são a forma que mais gera incómodo ao sujeito, embora essas

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transformações também possam se manifestar como sonhos, atos
falhos e chistes.

 O que é perceptível (consciente) é chamado de conteúdo manifesto, que é a


parte do recalcado que retorna. Por isso, se diz que há um retorno do
recalcado. Ex.: um sintoma que o sujeito percebe, ou como um sonho que ele
relata.

 Já o que foi recalcado no inconsciente é chamado de conteúdo latente.

Recalque Para Uma Consciência

Para se entender o que é psicanálise e sua forma de tratamento, é importante perceber


que:

 O conteúdo manifesto consciente que se manifesta como sintoma é resultado


de um conteúdo latente que está inconsciente.

 Superar o incómodo demanda compreender esses mecanismos potencialmente


inconscientes e elaborar uma interpretação ressignificativa que seja condizente
com o ego deste sujeito. Só assim será possível caminhar para uma condição de
―cura‖ ou ―melhora‖.

 Sozinho, o sujeito via de regra não consegue olhar para si e perceber o vínculo
que existe entre o conteúdo manifesto (perceptível) e o conteúdo latente
(inconsciente).

 Daí a importância da psicanálise e do psicanalista. Usando do método da livre


associação, psicanalista e analisando irão elaborar hipóteses para se
compreender o sistema psíquico e para entender os sinais do inconsciente, a
partir das informações trazidas pelo sujeito-analisando na clínica.

Conceito De Recalque Na História Do Pensamento

Numa perspectiva histórica, Johann Friedrich Herbart foi quem mais se aproximou do
termo utilizado por Freud quando o assunto é recalque. Partindo de Leibniz, Herbart
chega a Freud, passando por Kant. Para Herbart, ―a representação, adquirida através dos
sentidos, e como sendo o elemento constituinte da vida anímica. (GARCIA-ROZA, L.
A. 2007)

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O conflito entre as representações era, para Herbart, o princípio fundamental do
dinamismo psíquico‖. Para delimitarmos as semelhanças entre este conceito e o termo
utilizado por Freud, é preciso destacar o fato de que ―as representações tornadas
inconscientes pelo efeito do recalcamento, não foram destruídas nem tiveram sua força
reduzida. Mas sim, enquanto inconscientes, permaneceram batalhando para se tornarem
conscientes‖.

Ainda sob a perspectiva histórica, em seus importantes escritos, o próprio Freud afirma
alguns fatos sobre a Teoria do recalcamento por ele promulgada. Segundo ele, a teoria
corresponderia a uma total novidade, pois até então não constava nas teorias sobre a
vida anímica.

Recalque na Obra Freudiana

Embora apresentam pontos de semelhança, é importante destacar que as teorias não


podem ser tomadas como unívocas. Haja vista que Herbart não fizera, como Freud o
fez, o feito de atribuir ao recalcamento a clivagem do psiquismo em duas instâncias
diferentes. Ou seja, ao Sistema Consciente e Pré-consciente. De igual forma, Herbart
também não enunciou uma teoria do Inconsciente, tendo se mantido restrito a uma
Psicologia da Consciência. (GARCIA-ROZA, L. A. 2007)

Embora o termo em alemão ―Verdrängung‖ esteja presente deste os primeiros escritos


de Freud. O recalcamento começa a se delinear em um momento posterior. Ganhando
relevância apenas a partir do momento em que Sigmund Freud se defronta com o
fenómeno da resistência.

Existência Do Recalque

Para Freud, a resistência representa um sinal externo de defesa, com o objectivo de


manter fora da consciência a ideia ameaçadora.

Ademais, é preciso destacar que a defesa é exercida pelo Eu sobre uma ou um conjunto
de representações que despertariam sentimentos de vergonha e dor. Sabe-se que o termo
defesa, originalmente foi utilizado para designar uma protecção contra uma excitação
proveniente de uma fonte interna (pulsões).

Em seus escritos de 1915, Freud questiona ―Por que uma moção pulsional deveria ser
vítima de semelhante destino (recalcamento)?‖ Isto acontece porque o caminho para a
satisfação desta pulsão pode acabar por acabar por produzir mais desprazer do que
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propriamente prazer. É sempre necessário termos em consideração, no que diz respeito à
satisfação de uma pulsão, a ―economia‖ presente no processo.

Uma vez que uma satisfação que proporciona prazer em um aspecto, pode significar em
grande desprazer sob outro aspecto. Tem-se estabelecida a partir desse momento a
―condição para o recalque‖. Para que este fenómeno psíquico aconteça, é necessário que
a potência do desprazer seja maior que a da satisfação.

Mecanismos De Defesa

Basicamente, são formas com que o ego busca se esquivar de seu encontro com
elementos potencialmente inconscientes e que possam levar a uma autocrítica que
coloque em risco uma capa protectora do próprio ego.

O conceito foi criado pelo psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939), o pai da
psicanálise, e aprofundado por sua filha e discípula, a psicanalista Anna Freud (1895-
1982). Mecanismos de defesa são subterfúgios criados pelo ego (a ideia que todo
mundo tem a respeito de si mesmo) diante de determinadas situações, com o objectivo
de proteger a pessoa de prováveis dores, sofrimentos e decepções.

Em outras palavras, os mecanismos de defesa são as estratégias do ego, de forma não


consciente, para proteger a personalidade contra o que ela considera ameaça. É mais
cómodo ao ego continuar a reproduzir sua auto-verdade, sua auto-imagem, em sua
redoma. Esses mecanismos são diversos tipos de processos psíquicos, cuja finalidade é
afastar o evento que gera sofrimento da percepção consciente. (GARCIA-ROZA, L. A.
2007)

Além disso, eles são mobilizados diante de um sinal de perigo e abertos para impedir a
vivência de fatos dolorosos que o sujeito não está preparado para suportar. Ou seja, essa
é mais uma função da análise e da terapia psicanalítica, a saber, preparar o indivíduo
para suportar tais eventos dolorosos sobre si mesmo e sobre fatos externos.

Principais Mecanismos De Defesa

 Recalcamento, recalque ou repressão

O Recalque, repressão ou recalcamento em Psicanálise nasce do conflito entre as


exigências do Id e a censura do Superego. Assim, é o mecanismo que impede que os

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impulsos que causam ameaças, desejos, pensamentos e sentimentos dolorosos cheguem
à consciência.

Através da Repressão, o histérico vai a fundo no inconsciente da causa de seu distúrbio.


Então, o acesso ao elemento recalcado é censurado. Sua energia se sintomatiza, isto é,
transforma-se em mal-estar, transferindo-se para o próprio organismo as dores do
inconsciente e transforma elas em sonhos ou em algum sintoma da neurose.

Os processos inconscientes se tornam indirectamente conscientes através dos sonhos,


neuroses e outros mecanismos. Assim, o recalque é uma defesa para a dificuldade em
aceitar ideias penosas. Ou seja, é um processo que tem por objectivo proteger o
indivíduo, mantendo no inconsciente as ideias e representações das pulsões que
afectariam o equilíbrio psíquico.

Além disso, o recalque é uma força contínua de pressão, que baixa a energia psíquica
do sujeito. Por isso, o recalque pode surgir na forma de sintomas e o tratamento visa o
reconhecimento do desejo recalcado. O fim dos sintomas é consequência do processo da
análise.

 Negação

A negação (ou negativa, em algumas traduções) é um mecanismo de defesa que nega a


realidade exterior e a substitui por outra realidade que não existe. Portanto, ela tem
a capacidade de negar partes da realidade que não são agradáveis, pela fantasia de
satisfação dos desejos ou pelo comportamento. Assim, a negação pode ser pontual (e ser
uma neurose) ou se tornar sistémica e combinar uma sequência de negações para a
criação de um universo paralelo, que é uma condição essencial para o desencadeamento
de uma psicose.

 Regressão

A regressão, em psicanálise e psicologia, é o recuo do ego, fugindo de situações de


conflitos atuais para o estágio anterior. Um exemplo é quando um adulto volta a um
modelo infantil, no qual se sentia mais feliz e mais protegido. Assim, a infatilização é
uma forma de regressão que protege o ego do encontro com as dificuldades do mundo
adulto.

Outro exemplo é quando nasce um irmão, e a criança mais velha volta a usar chupeta ou
urinar na cama como defesa.
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 Deslocamento

O deslocamento acontece quando os sentimentos e emoções (geralmente a raiva) são


projectados para longe da pessoa que é o alvo e, de forma geral, para uma vítima mais
inofensiva. Ou seja, quando muda os sentimentos da sua fonte provocadora de
ansiedade original, para quem você percebe ser menos provável de lhe causar mal.

Por exemplo, quando um adolescente pratica o bullying contra um colega de escola


pode estar deslocando a raiva que tem por também ser submetido a condições
opressivas em seu contexto familiar.

 Projecção

O mecanismo de defesa da projecção é um tipo de defesa primitiva. Assim, é


caracterizada pelo processo no qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro ou em
alguma coisa, qualidades, desejos, sentimentos que ele desconhece ou recusa nele. Por
isso, a projecção é muito vista na paranóia.

 Isolamento

O isolamento é o mecanismo de defesa típico das neuroses obsessivas. Ele atua de


forma a isolar um pensamento ou comportamento, fazendo com que as demais ligações
com o conhecimento de si ou com outros pensamentos fiquem interrompidos. Assim, os
outros pensamentos e comportamentos são excluídos da consciência.

 Sublimação: um dos principais mecanismos de defesa

O conceito psicanalítico da sublimação só existe pois um recalque o precede. Ou seja, a


sublimação é o processo através do qual a libido se afasta do objecto da pulsão para
outra espécie de satisfação. Isto é, o sujeito transforma a energia da libido (desejo
sexual, agressividade e necessidade imediata de prazer) em trabalho ou arte, sem saber
que o faz.

Com isso, o resultado da sublimação é a mudança da energia do objecto de desejo para


outras áreas, como realizações culturais ou produtivas, por exemplo. A sublimação, para
Freud, é um mecanismo de defesa muito positivo para a vida em sociedade, pois grande
parte dos artistas, dos grandes cientistas, das grandes personalidades e dos grandes
feitos só foram possíveis graças a esse mecanismo de defesa.

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Isso porque, ao invés de manifestarem seus instintos tais como eram, eles sublimaram
os instintos egoístas e transformaram essas forças em realizações sociais de grande
valor.

O problema a sublimação não permite a realização nem de uma pequena parte da


satisfação do desejo e não gera ao sujeito a mesma gratificação, aí podemos ter a origem
de neuroses. Por exemplo, quando uma pessoa reprime sua libido para um trabalho
obsessivo (workaholic).

 Formação reactiva

Esse mecanismo de defesa ocorre quando o sujeito sente o desejo de dizer ou fazer
alguma coisa, mas faz o oposto. Assim, surge como defesa de reacções temidas e a
pessoa procura cobrir algo inaceitável por meio da adopção de uma posição oposta.

Ademais, padrões extremos de formação reactiva são encontrados na paranóia e


no Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), quando a pessoa se prende em um ciclo
de repetição de comportamento que ela sabe, a nível profundo, que é errado.

 Racionalização

Quando falamos da Racionalização como defesa, não se trata de uma crítica à razão e à
lógica, pelo contrário. Trata-se de um recurso ―pouco racional‖, em que o sujeito usa de
argumentos lógicos, simplificações e estereótipos para que o ego permaneça em sua
situação actual de ―conforto‖.

Os limites de um mecanismo em relação a outro nem sempre são exactos e estanques.


Por exemplo, se você voltar ao mecanismo do isolamento, verá que ele pode ser
elaborado pela racionalização, quando isolamos um raciocínio de outros e impedimos
que este raciocínio seja problematizado ou questionado.

Por exemplo, ocorre a racionalização como mecanismo de defesa quando listamos uma
série de argumentos lógicos para criticar uma pessoa (estando ou não o nosso raciocínio
correto), para evitar compreender as causas inconscientes que nos levam a isso. A
racionalização funciona bem para a nossa psique, porque quando estamos raciocinando
acreditamos que estamos correctos.

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Conclusão

É esse sujeito do conhecimento que a psicanálise vai desqualificar como sendo o


referencial privilegiado a partir do qual a verdade aparece. Melhor ainda: a psicanálise
não vai colocar a questão do sujeito da verdade mas a questão da verdade do sujeito. Ela
vai perguntar exactamente por esse sujeito do desejo que o racionalismo recusou.
Contra a unidade do sujeito defendida pelo racionalismo, a psicanálise vai nos apontar
um sujeito fendido: aquele que faz uso da palavra e diz ― eu penso‖ , ― eu sou‖ , e que é
identificado por Lacan como sujeito do enunciado (ou sujeito do significado), e aquele
outro, sujeito da enunciação (ou sujeito do significante), que se coloca como excêntrico
em relação ao sujeito do enunciado.

O inconsciente permanece sendo o irredutível. Essa irredutibilidade não é devida,


porém, a uma irracionalidade do inconsciente, ele não é o ― lugar das trevas‖ por
oposição à racionalidade da consciência. A concepção freudiana do homem não opõe,
no interior do mesmo indivíduo, o caos do inconsciente à ordem do consciente, mas sim
duas ordens distintas. Aquilo a que ela se propõe é precisamente explicitar a lógica do
inconsciente e o desejo que a anima. (SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ 1992)

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Referências Bibliográficas

1. FREUD, S. (1901). Trad. Jayme Salomão. A psicopatologia da vida cotidiana.


Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. VI p. 59).
2. FREUD, S. (1915). Trad. Jayme Salomão. O Inconsciente. In: História do
movimento Psicanalítico, artigos sobre a metapsicologia e outros trabalhos. Rio
de Janeiro: Imago, 1996. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud, vol. XIV p. 165).
3. GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o inconsciente. 22. Ed. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2007.
4. KUSNETZOFF, J. C. Introdução à psicopatologia psicanalítica. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1982.
5. LAPLANCHE, J.; PONTALIS J. B. (1982). Trad. Pedro Tamen. Vocabulário da
psicanálise. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
7. ROUDINESCO, E.; KAPNIST, E. Documentário Sigmund Freud: a invenção da
psicanálise. (Sigmund Freud: L’invention de la psychanalyse). Vídeo. Co-
produção de France 3 e BFC production, 1997 (1h 55min).
8. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 5. ed. São
Paulo: Cultrix, 1992

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