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ÌNDICE
INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------------------3
ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ----------------------------------------------------------------------------5
1.1 Da Adolescência Ao Mundo Das Drogas e Da Delinquência Juvenil ----------------------------5
1.2 Criminalização Das Drogas e a Delinquência Juvenil ---------------------------------------------7
II. DELINQUENCIA JUVENIL/QUADRO CONCEPTUAL ---------------------------------------------------- 10
2.1. Perspectiva Psicossocial ---------------------------------------------------------------------------- 11
2.2 Perspectiva Criminológica -------------------------------------------------------------------------- 12
2.3 Perspectiva Desenvolvimental --------------------------------------------------------------------- 13
2.4 Perspectiva Clínica ----------------------------------------------------------------------------------- 14
2.5 Delinquência Juvenil/ Modelos Teóricos Explicativos ------------------------------------------ 17
III- FACTORES PREDISPONENTES DA DELINQUÊNCIA JUVENIL EM CABO VERDE -------------------- 19
3.1 Subcultura de Violência ----------------------------------------------------------------------------- 20
3.2 Privação ------------------------------------------------------------------------------------------------ 20
3.3Vulnerabilidade Familiar ----------------------------------------------------------------------------- 21
3.4 Exclusão Social ---------------------------------------------------------------------------------------- 22
3.5 Ambivalência De Referências De Conduta e Convivência Sociais ---------------------------- 23
3.6 Défice de Autoridade -------------------------------------------------------------------------------- 24
3.7 Défice de Protecção ---------------------------------------------------------------------------------- 24
3.8 Atributos de Personalidade ------------------------------------------------------------------------- 25
IV. FACTORES PSICOSSOCIAIS INERENTES AO CONSUMO DE DROGAS E O AUMENTO DA
DELINQUÊNCIA JUVENIL ------------------------------------------------------------------------------------- 26
4.1 Papel das Drogas no Aumento da Delinquência Juvenil---------------------------------------- 26
4.2 Papel da Família no Aumento da Delinquência Juvenil ---------------------------------------- 30
4.2.1Dinâmica Familiar da Delinquência ----------------------------------------------------------- 31
4.3 Escola Como Factor Promotor da Delinquência Juvenil --------------------------------------- 32
4.4. O Desemprego como um dos fenómenos que agrava a Situação da delinquência juvenil
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 34
4.5 Factores Da Delinquência Juvenil Ligados a Urbanização ------------------------------------- 35
4.5.1 Da Cultura de Rua aos Grupos Gangues ------------------------------------------------------ 36
V. GRUPOS GANGUES OU THUGUES COMO SURGIRAM ------------------------------------------------- 38
5.1 Mecanismos Psicossociais que Actuam nos Grupos Delinquentes ---------------------------- 39
5.2 Formação dos Grupos Gangues na Sociedade Cabo-verdiana --------------------------------- 40
5.3 Causas Ligadas Ao Surgimento Dos Grupos Gangues/Thugues Em Cabo Verde ------------ 42
5.3.1.Desigualdade Social, Pobreza Urbana e Jovens -------------------------------------------- 43
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
INTRODUÇÃO
A literatura aponta que factores gerados pela família podem desencadear tanto,
comportamentos de prevenção do uso de drogas por seus membros, como para o seu uso
efectivo (Schenker & Minayo, 2003; Pratta & Santos, 2006). A qualidade dos vínculos e sua
força, relações positivas, declaração de limites e regras claras, dispêndio de apoio e real
comunicação entre os membros são factores, que podem actuar, como factores preventivos.
No entanto, Schenker & Minayo, 2003 pontuam que do lado oposto estão os factores que
podem colaborar para o consumo de drogas, rompimento familiar.
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Com essa brecha na estrutura familiar, cria espaço para a vida em grupos, de acordo
com Osório (2000), o novo século, diferente que o anterior, passará a pautar-se pela
grupalidade, sendo o grande desafio aprender a conviver em grupo. Nesse contexto também
os jovens começam a privilegiar a vida em grupos e o fenómeno de pressão grupal passa a ter
um papel decisivo, na vida dos jovens em sociedade.
Com o intuito de compreender melhor a relação que existe entre o consumo de drogas
e o aumento da delinquência juvenil, nas duas principais cidade do país, foi realizado um
inquérito, com um conjunto de perguntas abertas e fechadas, que foram aplicados a 120
jovens que estão nos grupos denominados thugues na cidade da Praia e gangues na cidade do
Mindelo.
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ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL
Se por um lado, todo este processo faz parte de uma evolução indispensável, por
outro, a revolta a ele inerente, pode atingir casos extremos, tais como a delinquência e a
toxicodependência, que comprometem o processo individual de maturação. Bowlby (1969)
argumenta que na adolescência não há uma desvinculação aos pais, mas antes um
crescimento (muito embora de forma menos intensa que na infância) dessa vinculação.
Porém, segundo este autor, a vinculação deve ser entendida como um laço afectivo
persistente que promove os comportamentos de autonomia no adolescente e não a sua
dependência. De acordo com esta perspectiva, torna-se assim necessária a compreensão dos
laços familiares, bem como a transformação dessas mesmas relações, para poder
compreender toda essa dinâmica de transformações que decorrem na fase da adolescência.
Numa posição que parece integrar as abordagens assumidas por Blos e Bowlby, Amaral
Dias e Paixão (1986), afirmaram que a adolescência constitui uma fase verdadeiramente
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De igual modo, o consumo das drogas ilícitas e lícitas, como o caso do álcool está
associado, com uma ampla variedade de problemas de saúde e sociais, como mortes em
acidentes, homicídios, suicídio, violência juvenil, doenças crónicas entre outras.
Com todas as implicações psicossociais, que o consumo das drogas ilícitas e lícitas
desencadeia no indivíduo consumidor em particular e na sociedade no geral, ganhou grandes
repercussões, levando assim a ser um dos temas de maior interesse na actualidade. Quando se
discute a criminalidade entre jovens, refere-se ao impacto que a criminalização das drogas
produz nos índices de delinquência juvenil e especialmente na formulação de políticas de
controlo social para esta problemática.
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foram cometidos delitos sob o efeito de substâncias psicoativas, mas que não se pode afirmar,
segundo os autores, que haja uma relação direta entre o uso de drogas com o momento que
antecede os delitos.
De acordo com os dados recolhidos, não se constata uma associação directa entre o
consumo de drogas e o delito, entendendo esse consumo como o agente precipitante
que empurra o adolescente para o crime. O que se observa é que, em muitos casos, o uso de
drogas, seja uma característica que acompanhe o quadro de profunda exclusão. É certo que a
situação de vulnerabilidade por si só, não é a causa da delinquência, mas temos que
considerar o impacto que este processo tem, tanto no plano subjetivo como no plano objetivo
em vidas de jovens que ainda estão em busca de formação da sua identidade.
No ponto de vista defendida por estes dois investigadores argentinos, a droga não é a
primeira experiência que o adolescente ou jovem passa, quando entra no mundo da
criminalidade, mas factores como a privação parental, ou seja a ausência psicólogica dos
pais, crises conjugais dos pais como a monoparentalidade, falta de estímulos para convivência
familiar e entre irmãos, falta de motivação e interesse para os estudos, falta de diálogo e
de afectividade familiar, imposição arbitrária de autoridade, omissão, negligência, repúdio,
desprezo, preconceitos, discriminação, são alguns dos factores que geralmente antecedem ao
consumo de drogas e são factores de risco que levam os adolecentes e jovens a entrarem para
o mundo das drogas e consequentemente para o mundo do crime, leva-os a defender que não
existe uma relação tão linear entre o consumo de drogas e a delinquencia juvenil.
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Os termos nem sempre estão bem explicitados, por um lado, devido à própria
complexidade dos fenómenos sociais, dificilmente captáveis em seu estado puro, desprovido
de subjectividades. Não por acaso, um mesmo aspecto da problemática social pode ser
percebido de ângulos completamente distintos, dependendo de quem esteja envolvido na sua
compreensão/análise, explicação/ explicitação. Por outro, a dificuldade em se chegar a um
quadro conceptual inequívoco pode estar, como observado por Volpi, correlacionada com a
“inexistência de parâmetros objectivos para medir a dimensão quantitativa real da chamada
delinquência juvenil”, levando, por vezes a “avaliações e opiniões impressionistas
inadequadas” (Volpi, 2002: 16).
Outros ainda entendem que na definição da delinquência juvenil deve-se incluir tanto
as condutas tipificadas nas leis penais quanto os comportamentos anormais, irregulares e
indesejáveis. Ou seja, a delinquência juvenil aparece como clara expressão do que se
convencionou chamar de conduta desviada, em que se incluem a conduta infraccional,
definida como aquela que atinge bens juridicamente garantidos, previamente definidos nas
leis penais, de acordo com os princípios da anterioridade e da legalidade (Trindade, 2002:
56), e condutas anti-sociais, definidas como aquelas que, não chegando a merecer inscrição
jurídica, traduzem comportamentos que transgridem as normas de convivência, causando
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Segundo essa abordagem os actos de violência devem ser vistos como actos sociais,
denominados de comportamentos sociais, distinguindo entre estes, por comportamentos
neutros, pro-sociais, associais e os anti-sociais, sendo que os dois últimos encontram-se os
comportamentos que são considerados comportamentos delinquentes, conforme a avaliação
da responsabilidade, levando em conta a intenção culpável.
Nesta perspectiva surgiu varias teorias que tentaram tornar mais precisas as noções
de delinquência e de desvio. Neste sentido surgiu o esquema proposta por Kutchinsky (in
Robert, 1973) que pela sua estrutura, leva a considerar a delinquência não como uma
sequência lógica de desvio, mas como tendo com o desvio uma franja de intersecção, como
por exemplo alguns comportamentos repreensíveis pela lei, mas mesmo assim são praticados
pelos cidadãos, como é o caso de conduzir em excesso de velocidade ou a fraude fiscal.
A perspectiva psicossocial toma por fundamento que todo o acto delinquente, isto é,
contrário à norma legal ou sociológica, evolui no tempo e no espaço, ou seja um acto
reprovado numa sociedade não o é forçosamente noutra (por exemplo o consumo de drogas, a
interrupção voluntária da gravidez, a eutanásia, são condutas penalizadas em certos países ao
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passo que não o são noutras culturas). Neste sentido o desvio de um acto é avaliada conforme
o grupo social, religioso, cultural, étnico.
Por fim esta abordagem, consideram que os actores do sistema da reacção social
intervêm segundo lógicas que se aproximam mais da politica repressiva em vigor no país do
que propriamente da materialidade dos actos.
Nesta perspectiva, não só as leis mudam, e com ela a definição daquilo que é
considerado como interdito, mas também, como explicou Cusson (1990), a acção repressiva
do Estado intervêm na dinâmica do sistema do crime: quando os casos criminais se tornam
muito numerosos, desencadeiam-se no sistema penal um movimento de evacuação do excesso
de casos.
O sentido dado do acto pela sociedade tem portanto uma grande importância. O
contexto social e legal define a gravidade dos actos cometidos. Segundo essa perspectiva não
existe um critério claro e definitivo para estabelecer uma ordem de gravidade dos actos.
Assim, de um ponto de vista estritamente legal, a gravidade do acto é específica em função
da pena potencial. Pelo contrário a opinião pública pode estabelecer uma classificação muito
diferente da classificação legal.
Este fenómeno de discrepância entre a lei e a opinião pública está bem definido e foi
sublinhado por vários autores. Como por exemplo Szabo (1973) escreve que «o roubo de um
banco suscita reacções quando é acompanhado de violência. Ao passo que o furto de
mercadorias é considerado mais uma “indelicadeza” do que um delito real em situação a
sociedade.» Um estudo mais recente (1980), conduzido em Itália por Giasanti e Maggioni, leva
a mesma conclusão (Robert e Van Outrite, 1993; p. 248): de uma forma geral, há uma certa
discordância entre as sensações prevista institucionalmente pelas leis penais e as exigências e
atitudes difundidas na opinião pública.
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Por fim temos a perspectiva clínica que, trata-se acima de tudo de compreender a
pessoa no seu estado de funcionamento interno. Esta perspectiva, que integra tanto os
factores familiares como os individuais, permite chegar a uma reflexão sobre os componentes
possíveis das personalidades delinquentes.
Para ter do individuo uma visão a mais complexa possível, a perspectiva clínica tenta
colocar-se em diferentes pontos de visto, todos complementares, como por exemplo: história
de coorte de nascimento (ou geração), que consiste em analisar os laços que unem as pessoas
da mesma geração do individuo; a história familiar inter-geracional (dos avós aos netos)
procurar os padrões e os ciclos; história individual (historia de vida), examinar o passado do
indivíduo e os projectos para o futuro. Os defensores dessa abordagem, consideram o
indivíduo na sua unicidade mas não se limita a simples observação.
Numa visão mais holística podemos ver a complexidade da delinquência juvenil, por
isso para ter uma visão mais clara e real dessa problemática, devemos considerar
determinadas questões chaves, propostas pelas diferentes abordagens, como é o caso do acto
delinquente em si, o legal e o ilegal, questões culturais, os acontecimentos de vida do
individuo antes e depois do acto delinquente, o ambiente cultural onde esse acto é
desenvolvido, a própria historia de vida do individuo, suas relações intra e interpessoais, para
assim poder, analisar da melhor forma, a vida de um individuo visto como um delinquente.
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Pinatel desenhou quatro traços nos delinquentes ou criminosos de carreira, que faz com
que desencadeiam acções delinquentes, que são as seguintes;
No entanto esta abordagem apresentada por Pinatel foi bastante contestada, segundo
alguns autores, trata-se de uma abordagem puramente baseada na visão psiquiátrica,
bastante redutor, destacando uma visão bastante estática da personalidade do delinquente,
ou seja, é como se o delinquente já nascesse com essas características e as vai manter para o
resto da vida, conforme destacou Debuyst, (1987).
Anos mais tarde Favard (1991) veio clarificar a teoria de Pinatel, nos estudos que ele
realizou com aplicação de testes de personalidade e métodos estatísticos avançados, veio
confirmar a existência das características da personalidade criminosa evidenciadas por
Pinatel, sob a forma de um núcleo da personalidade criminosa, embora veio salientar que
esses traços se estruturam em uma única estrutura e não em quatro estruturas diferentes
conforme defendia Pinatel. No mesmo ano ou seja em 1991 um outro autor chamado de Le
Blanc, veio introduzir duas modificações importantes no campo da personalidade delinquente
e criminosa. Por um lado, afirma que a delinquência não é a mesma em todos os
delinquentes, ao elaborar uma tipologia de delinquentes, pretendeu sublinhar o
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Segundo essa nova reorganização proposta por Le Blanc a personalidade criminosa já não
seria única, remeteria por um conjunto de três elementos dinâmicos; o enraizamento
criminoso, dissocialidade que perdura e um egocentrismo exacerbado.
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ela funciona como um meio de disfuncionalidade) o meio familiar (quando a socialização que
gera é deficiente) e o meio socioeconómico de origem.
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dos factores predisponentes à infracção praticada por jovens, perfilam-se as seguintes linhas
de abordagem:
Enfoque sociopsicológico, que faz alusão tanto ao controle social quanto às questões
de cunho individual, como a auto-estima, e à influência do grupo de jovens sobre o
comportamento infractor. Como observado por Schoemaker (Apud: Assis e Souza, 1999: 132),
neste tipo de abordagem, a delinquência é associada a problemas de vinculação social do
jovem a instituições, como a família, a escola, as igrejas, que teriam por função formar ou
adaptar o indivíduo às normas sociais. De igual modo, esse enfoque entende que a visão que o
jovem tem de si mesmo, aliada à influência do meio, constituem factor importante a ser
considerado na etiologia da delinquência.
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Pelos dados obtidos do estudo infere-se que a delinquência juvenil em Cabo Verde é
um facto indesmentível. No entanto longe de traduzir uma espécie de disfunção do indivíduo,
problema social expõe um quadro complexo e dual, no âmbito do qual o jovem violento é ele
mesmo vítima de violência, seja ela simbólica ou real. Portanto, importante discutir como o
delito é produzido no contexto económico, social e cultural e como ele se apresenta no
imaginário da sociedade.
3.2 Privação
Dir-se-ia que a família, ou o que dela falta, constitui um dos factores chave de
encaminhamento do jovem para a delinquência. Sua deficiente presença ou sua ausência total
tem repercussão imediata sobre a identidade social, sobre a auto-percepção e sobre o quadro
de oportunidades para os jovens.
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indeléveis sobre o comportamento desses sujeitos. Isso porque no imaginário social desses
jovens, dificilmente se encontra fiáveis suportes para a construção de identidades positivas.
A conduta delituosa dos jovens tende a optimizar num quadro de privação parental, já
que, estando desprovidos de um suporte comportamental adequado, assegurado
primacialmente pela jovem família e via de regra, vinculado e nomadizado pelo afecto e pela
cultura, esses jovens dificilmente conseguirão incorporar os modelos convencionais de
interacção, necessários ã sua inserção social e à sua afirmação como sujeitos.
Por conta disso poder-se-ia afirmar que a conduta delituosa dos jovens tende a
optimizar-se num quadro de privação parental, já que, estando desprovidos de um suporte
comportamental adequado, assegurado primacialmente pela família e, via de regra, vinculado
e normalizado pelo afecto e pela cultura, esses jovens dificilmente conseguirão incorporar os
modelos convencionais de interacção, necessários à sua inserção social e à sua afirmação
como sujeitos. Aliás, pelo estudo ficou claro que os jovens têm consciência do peso dessa
privação parental na (des) estruturação do seu projecto de vida. Do universo dos inquiridos,
72,9% acham que suas vidas seriam diferentes se vivessem com o pai e 76,9, se com a mãe. Os
dados do estudo também sugerem que a ausência dos pais é bastante sentida entre os
inquiridos. Dos jovens em situação de privação parental, 56% declararam sentir falta do pai e
88%, da mãe.
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Grosso-modo, são famílias cujos membros têm baixa escolaridade, realizam trabalho
não especializado, têm fraco poder aquisitivo e encontram-se desprovidos de mecanismos
sócio - culturais de mobilidade. São famílias que vivem no quotidiano a experiência de
privação e de frustração e cuja inserção no mundo laboral fica restrito á condição de provisão
da subsistência. De resto, um tipo de família que dificilmente se configuraria como um lugar
seguro para crescer.
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A rua constitui um importante indicador de reconversão social dos jovens. Esse seu
papel é reforçado quando a família deixa de funcionar como âncora para criar ou reproduzir
valores. O estudo desenvolvido demonstra que o défice de autoridade ficou patente, seja ela
parental ou estatal, tem uma directa correlação com a prática infraccional dos jovens.
O estudo ressalta a existência de um hiato: por um lado a família não tem capacidade
para reforçar atitudes positivas; por outro a sociedade fica destituída de formas de
reprodução permanente das normas consciencializadas de convivência; para agravar ainda
mais os decisores políticos não parecem propensos a desenvolver acções consistentes,
alargadas e incisivas de resolução de conflitos e de instauração de um ambiente de efectiva
paz social. Como diria Emile Durkheim, a transgressão faz parte da normalidade social, pois
seu reconhecimento reactualiza a ordem. Em Cabo Verde, porém, a transgressão tende a
sedimentar-se no imaginário sem que sua contraparte desponte. E isso pode gerar anomia
social, com acrescidos riscos para o tecido social. Há fortes indícios de que existe um quadro
de dissuasão solidamente construído. Por essa via, cristaliza-se no imaginário um mundo à
parte que paulatinamente vem moldando as atitudes e práticas dos sujeitos, nomeadamente
os mais jovens.
No quadro desses é normal que a criminalidade ganhe contornos cada vez mais
preocupantes. Como disse Merton, os problemas sociais são normais num contexto de anomia.
Efectivamente, o apelo emocional parece ser mais aliciante quando o Estado, Família
e Sociedade falham em garantir um conjunto de direitos, como a educação forma,
profissionalização, saúde, lazer e demais direitos assegurados legalmente.
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No estudo desenvolvido pelo Ministério da Justiça de Cabo Verde, demonstra que uma
ínfima parte dos jovens, declararam ter irmão envolvido com delitos: 15% nos jovens com
idade entre os 12 e os 16 e 15,8% para os maiores de 16. Sendo assim, mesmo reconhecendo
que o ambiente familiar e os processos de interacção têm grande influência na conduta
delituosa, pois o delinquente emerge necessariamente de um grupo familiar, sendo sempre
expoente e consequência das tendências desse grupo, o que se não pode negar é que, sendo
sujeitos, dotados de razão e de capacidade de delinear estratégias de vida, os jovens têm
como contornar os rumos “naturais” que lhe foram reservados. Ou seja, não há indícios de
determinantes inequívocos e unívocos de actos infraccionais. O que existe é um
entrelaçamento de factores predisponentes, susceptíveis de converter ou não em facto o que
encontra em potência. Por conseguinte podemos ver através dos resultados, apresentados por
uma unidade estatal cabo-verdiana, a problemática da delinquência juvenil já existe, e tende
a ganhar proporções cada vez maiores.
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Várias são as causas que explicam a entrada dos adolescentes e jovens para o mundo
das drogas, mas a investigação apontou um conjunto de características do indivíduo e do
meio, como:
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O reduzido controlo dos impulsos e uma tendência para procurar sensações mais do
que evitar o perigo;
Influências familiares, tais como a predisposição genética para o alcoolismo, consumo
ou aceitação de drogas pelos pais, práticas parentais inadequadas ou inconsistentes,
conflitos familiares, relações familiares perturbados ou distantes;
Temperamento difícil;
Problemas de comportamento precoces e persistentes, particularmente a agressão;
Insucesso académico e falta de envolvimento académico;
Rejeição de pares;
Associação com indivíduos que consomem droga;
Alienação e rebeldia;
Atitudes favoráveis ao consumo de drogas;
Iniciação precoce no consumo de drogas
Vários autores desenvolvem estudos para procurar responder aos factores que
motivam o consumo de drogas nos adolescentes e jovens. Vários anos defendia-se a percepção
de que os adolescentes e jovens consumia drogas porque tem uma motivação para isso, ou
seja são as motivações desviantes que conduzem ao consumo de drogas. Mas na percepção de
um autor de nome Becker, sucederá o inverso; o primeiro contacto com a droga é mais ou
menos fortuito (acaso, simples curiosidade, oportunidade); só depois é que se vai instalar a
motivação e depois, por fim, um conjunto de valores desviantes. É a pertença a um grupo de
consumidores que motiva o indivíduo a consumir.
O álcool, muitas vezes não é tida como uma droga no meio dos adolescentes e jovens,
preocupam-se mais com a marijuana, esquecendo que o álcool também é uma droga potente,
que altera a mente, sendo o seu consumo ilegal pelos adolescentes em maioria dos países do
mundo, ou seja as alterações psíquicas e sociais que o álcool provoca no organismo são de
igual modo destrutiva, para o jovem, levando por vezes a ter comportamentos, desviantes,
agressivos e delinquentes.
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Enquanto todas essas mudanças ocorriam no mundo inteiro, Cabo verde não passou a
margem dessas influências, prova disso, foi o estudo realizado por Lorenzo I. Bordonaro em
Cabo Verde, nas cadeias de São Vicente e São Martinho na cidade da Praia, em 2009,
demonstra que, embora a heroína dominasse o pequeno mercado cabo-verdiano nos anos
noventa, hoje são o crack, a marijuana, ou um cocktail dos dois, as substâncias mais
utilizadas, principalmente na camada juvenil. O uso da cocaína pura está também a aumentar
nas áreas urbanas das nossas principais cidades. Segundo dados recolhido pelo mesmo estudo,
através de fontes policiais, a cocaína chega pura a Cabo Verde, importada por traficantes
nigerianos. A partir da substância pura, o crack é produzido localmente e introduzido no
mercado dos estupefacientes, onde teve um impacto notável na última década, devido ao
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preço bastante reduzido. A forte dependência e o estado alterado que o crack produz no
consumidor (uma sensação definida pelos usuários através de expressões como ‘sentes-te fora
de ti’, ‘já não és tu’, ‘dá-te um flash’) apresentam-se como causa ocasional de vários crimes
em que os jovens estão envolvidos, entre estes os roubos, assaltos, brigas e homicídios.
No que diz respeito ao consumo do álcool em Cabo Verde, um estudo realizado pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE) no âmbito de um inquérito à população sobre Saúde
(2008), refere que, 40,3% da população caboverdiana bebe álcool com regularidade. Desses
15,4% dos homens e 3,4% das mulheres o fazem diariamente.
De uma forma particularmente grave podemos ver que o consumo do álcool e suas
implicações psicossociais, preocupam as entidades cabo-verdianas. Segundo afirma Leonesa
Fortes, presidente do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) “cada vez mais a
sociedade cabo-verdiana vem sentindo o impacto do uso exagerado do álcool, que se reflecte
nos acidentes, no absentismo ao trabalho, na saúde e no desemprego e paralelamente ao
aumento desses fenómenos sociais vem crescendo o fenómeno da delinquência juvenil
associada ao consumo do álcool”.
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A família como célula base de qualquer sociedade, funciona como o primeiro agente
socializador do ser humano. Muitos dos núcleos familiares apresentam dificuldades de
socialização das crianças, apresentado assim factores de risco de produção de
comportamentos delinquentes. Nestas condições, é difícil imaginar que a família não esteja
em certa medida, na origem da delinquência.
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De igual modo devemos dar sempre uma atenção a estrutura familiar, o estilo
educativo, as dinâmicas internas e externas, uma vez que quando essa estrutura família se
dissolve ou se altera, ela perde a capacidade de supervisionar e controlar os comportamentos
dos membros, aumentando assim a probabilidade da delinquência e outras problemáticas
juvenis.
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emergentes» que só serão encontradas nas propriedades do sistema que não podemos
encontrar nos elementos tomados separadamente.
A família é um sistema aberto; todas as acções dos membros da família agem sobre
um ambiente externo e ele próprio retroage sobre a família. Observando assim uma influência
mútua e complexa entre cada um dos membros da família, a estrutura familiar e o ambiente
externo. Essa abertura do sistema é necessária à sua homeostasia. Frontaine em (1985)
defendeu que o sistema familiar não deve ser nem 100% aberto e nem 100% fechado. Quando
ela é demasiado aberta, o sistema desliza e perde-se a si próprio, demasiado fechado, abafa.
Para que haja saúde do sistema deve haver um equilíbrio entre estes dois extremos.
Analisando a visão de Frontaine, podemos ver que nas estruturas que são demasiada abertas,
não há controlo das actividades desenvolvidas por cada membro, não há uma interacção
saudável entre estes e a comunicação tão pouco é saudável, nestes casos um ou vários
membros acabam por desembocar em vias pouco saudáveis de desenvolvimento, como é o
caso do consumo abusivo de drogas e delinquência juvenil. Nos sistemas demasiadamente
fechadas, também representam um risco para os seus membros principalmente no estádio da
adolescência, em que o adolescente precisa conviver com os pares, viver experiências
externas, algumas não apresentam um amadurecimento necessário nessa vertente, acabando
por não ter desenvolvido competências importantes para lidar com a pressão do grupo entre
outros factores importantes.
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desde que, claro, se tenha os requisitos necessários”. Mas, ao utilizar a mesma linguagem das
classes dominantes, os alunos provenientes das classes mais baixas sentem grandes
dificuldades de adaptação, uma vez que não se leva em consideração a presença desses
indivíduos no interior da escola, nem sequer adopta-se uma política ou fornece-se
instrumentos que possibilitam a essas crianças diminuir a desvantagem cultural de que são
vítimas. (Bourdieu e Champagne citados por Sebastião 1998).
Vários estudos mostram que muitos jovens provenientes das classes dominadas vivem
a escola como uma prisão, um lugar onde se é obrigado a ir e onde se é vítima de um
prolongado processo de violência simbólica e física, com rupturas radicais nas linhas e
processos de convivência entre formas culturais diferentes. Deste modo, o abandono escolar
ganha, muitas vezes, a forma aparente de auto-exclusão, representando um processo de
auto-defesa perante a violência física e simbólica, forma muda e por vezes brusca de exprimir
o desencanto e a revolta para com a instituição escolar (Benavente citado por Sebastião,
1998). Ao abandonarem a escola, estes jovens caem numa situação incómoda, isto porque,
fora do sistema, as entidades políticas não fornecem os meios nem flexibilizam os seus
processos de intervenção de forma a serem capazes de os integrar em contextos
socializadores, que lhes forneçam expectativas positivas quanto à utilidade do seu esforço
para a organização de um futuro viável, deixando-os à mercê do que os contextos informais
lhes possam proporcionar.
33
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Isto demonstra de forma cabal que a juventude está sendo rejeitada do processo de
trabalho e, por conseqüência, trazendo problemas quanto à mão-de-obra futura.
34
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
abaixo das mulheres, são os que mais integram nos tais grupos delinquentes (gangues),
embora já tenhamos mulheres a integrarem esses grupos embora em menor escala. A cidade
da Praia conta com uma taxa de desemprego de 11.3%, segunda maior taxa a nível nacional,
também ela considerada a cidade mais insegura, com mais delinquência e problemas
sociais.
Para além da família, da escola, da problemática do desemprego, outros factores
sociais estão na base do aumento da delinquência juvenil e por consequente o consumo de
drogas psicoactivas, como é o caso da urbanização desorganizada e clandestina, por isso ela
mereceu uma atenção, para melhor compreendermos a complexidade dessa problemática
35
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Com toda essa constelação de problemas, podemos ver que as crianças dos bairros
problemáticos vão crescer com numerosos modelos de identificação delinquentes, criam-se
nos adultos uma subcultura de estagnação e de adaptação marginal.
Mas convém salientar também que essa relação não é tão linear, não quer dizer que a
pobreza, precárias condições habitacionais, as desarticulações familiares e pessoais, causam
directamente a delinquência. Para compreender melhor essa relação entre a urbanização e a
delinquência juvenil temos que analisar o indivíduo e o modo como esse indivíduo vive o meio
em que está inserido.
Sentindo-se não integrados numa sociedade que os rejeita e que se protege deles,
desenvolvem uma cultura de resistência caracterizada por diversas práticas de revolta que
com o passar dos tempos consolida-se num estilo de vida marcado pela oposição, seguindo
assim, uma vida exclusivamente delinquente. Ou melhor, optam por uma carreira
delinquente1 que se processa através da manutenção, durante um longo período de tempo, de
uma forma determinada de delinquência, de revolta, fazendo dela o seu modo de vida. Com o
tempo, apesar deste estilo de vida produzir uma busca de dignidade humana, uma vez que
traz respeito2 na e à comunidade, e serve como estratégia de rejeição da condição de
subjugação em que se encontram, acaba por funcionar também, como um agente activo da
degradação pessoal e comunitária. Convém salientar que são as desigualdades sociais que
geram pressões e desvantagens susceptíveis de conduzirem a esse modo de vida, na medida
em que segundo Fillieule (2001), quanto maior forem as oportunidades legais para se chegar a
1
A carreira delinquente começa a partir do momento em que um determinado indivíduo comete uma transgressão de
forma intencional, ou seja, quando realiza um acto não conformista que quebra uma regra ou um conjunto de regras.
2
Este respeito tem um duplo sentido: se por um lado aparece devido à admiração que alguns indivíduos do sexo
feminino e crianças – que aspiram ser como eles - sentem por esta figura, por outro, deve-se ao medo que eles
impõem na comunidade.
36
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Ao interiorizarem esta subcultura, activam o habitus de rua que acaba por estruturar
os seus comportamentos, experiências, conhecimentos e visões do mundo. Incorporam dos
outros o não reconhecimento dos valores dominantes, acabando por eleger os representantes
do grupo dominante e seus patrimónios como inimigos. O grupo solidifica a carreira
delinquente transformando esta que antes era individual numa agora colectiva, tendo a
delinquência como o pilar da relação grupal juntamente com a convivialidade. Quanto mais
sólido é o grupo, mais os interesses colectivos se sobrepõem aos interesses individuais,
levando esses indivíduos, na maior parte das vezes a sacrificarem-se pelo grupo3.
Mais difícil também será sair desta vida, tendo em conta que, por um lado,
incorporam e reproduzem o discurso dos membros dos gangues norte-americanos, vida, prisão
ou morte, transmitindo a ideia de que não se importam com nada nem com ninguém, onde a
droga e o álcool aparecem como analgésicos protectores de uma realidade imposta e
encorajam a cometer actos carregados de violência. Por outro, o medo de carregar o estigma
de traidor e o consequente castigo4.
O pilar do pensamento thugue ou gangue passa pela interiorização de três princípios
básicos: que terá dinheiro à sua disposição, que será preso e morrerá nas ruas.
3
Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos da América no seio dos grupos de pares mostram a conformidade dos
jovens às regras e às pressões dos grupos, mesmo quando violam crenças e valores enraizados no convívio com a
família (Lashbrook citado por Lopes de Oliveira, Camilo e Assunção, 2003)
4
Muitos jovens arrependem-se da escolha desse estilo de vida, mas o medo de represálias caso abandonem o
grupo mantêm-nos como membros. Os que abdicam evitam a todo o custo o encontro com os antigos colegas, isto
porque, são considerados inimigos e violentados. São várias as histórias de ajustes de contas de grupos thugues ou
gangues para com os desertores.
37
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Anos mais tarde autores que defendiam essa subcultura de delinquência vieram
classificar os grupos para eles denominados por bandos em três tipos:
38
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Demonstrando de uma forma geral o surgimento dos tais grupos gangues, passamos
agora por uma análise mais detalhada desse fenómeno. Várias são as definições em torno dos
“grupos gangues”, mas qualquer uma delas nos trás a noção do grupo, de organização, força e
união.
39
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
A cidade de Nova Iorque foi o epicentro da actividade dos gangues nos Estados Unidos
no século XIX. Áreas pobres da cidade, tais como Five Points, forneceram terreno fértil para
gangues com fortes identidades étnicas, geralmente irlandesas. Gangues baseadas nas etnias
polonesas, italiana ou em outras, também eram muito comuns.
Os Forty Thieves, Shirt Tails e Plug Uglies lutavam pelo território, roubavam e
assaltavam pessoas e às vezes uniam-se para lutar contra gangues de outras áreas da cidade.
A actividade das gangues aumentou gradualmente no século XX, nos Estados Unidos.
Nos anos 50 e 60, a maioria das gangues estava nas grandes cidades, embora cidades próximas
e subúrbios possam ter hospedado ramificações de gangues quando ligados por meio de auto-
estradas importantes. Gangues com etnia europeia tinham quase desaparecido e as gangues
tornaram-se quase que exclusivamente negras ou hispânicas na sua filiação.
Nos anos de 70 e 80, as drogas narcóticas tornaram-se mais predominantes nas ruas.
Armas de fogo também se tornaram mais fáceis de se comprar ilegalmente. Essa combinação
fez entrar para uma gangue de rua algo mais lucrativo e mais violento. No geral, a actividade
dos gangues atingiu o pico em meados dos anos de 1990.
40
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
ou gangues, os delinquentes que praticam o caçu bodi são exemplos que nos últimos anos
mais têm vindo a pôr em causa a segurança social. O sentimento de insegurança invadiu a
sociedade cabo-verdiana e principalmente nos espaços urbanos. As pessoas começam a ter
receio em sair das suas casas limitando-se aos imperativos do quotidiano.
Os relatos sobre acções de grupos de jovens delinquentes não são uma novidade na
Cidade da Praia, visto que nos anos 80 do século passado já existiam grupos de jovens
conhecidos como “piratinhas” que praticavam pequenos delitos. Posteriormente, no início
dos anos 90 do mesmo século jovens residentes na linha Achada Grande Frente/Lém Ferreira,
criaram um grupo denominado “netinhos de vovó” que actuavam nas imediações do Parque 5
de Julho, na cidade da praia, principalmente quando decorriam eventos culturais. O
surgimento de jovens auto-proclamados gangues como é denominado em São Vicente e
thugues na cidade da Praia, traz à baila uma redefinição do fenómeno da violência juvenil,
tornando, desta feita, a violência urbana num problema social em meados dos anos 2000 em
Cabo Verde.
Estes termos importados dos ghettos norte-americanos é apropriado pelos jovens
cabo-verdianos, desafiliados, numa perspectiva de valorização do que é estrangeiro, como é
habitual, na busca de uma afirmação pessoal e social, não se preocupando, por um lado, com
o significado pejorativo que está subjacente a ele e por outro lado, deturpando a carga
filosófico-política de reivindicação político-social que antecedeu o movimento Thug Life.
O estudo aponta para cinco os crimes mais presentes nestas ilhas e são os seguintes, o
homicídio (45%); tráfico de drogas (26%); ofensas corporais (22%), roubos e furtos em casa
(20); agressão sexual (15%).
De uma forma particularmente sensível, podemos ver que o ambiente social cabo-
verdiano já não é o mesmo uns tempos para cá, desta forma passamos de seguida a
41
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
apresentar possíveis factores ou causas que favoreceram para o aumento dessa insegurança
percepcionada pela população cabo-verdiana.
5
A sociologia urbana tende a caracterizar as cidades a partir do modelo de expansão urbana onde a população
popular é posta na periferia, mas, no caso praiense, reparamos que não existe uma segregação urbana nitidamente
marcada e não há uma evidente separação física entre os segmentos sociais. Nota-se, em um mesmo bairro,
espaços que abrigam extremos de pobreza e riqueza, onde se concentra uma enorme diversidade de modos de
vida, discursos e práticas.
42
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Diante deste panorama nacional, podemos dizer que, inicialmente os grupos gangues
ou thugues deram os primeiros passos na cidade da Praia progressivamente alargou-se para a
ilha de São Vicente, podendo assim dizer que vários são os aspectos que levaram ao
surgimento desses grupos, mas fenómenos importantes marcaram o surgimento dos mesmos
como é o caso do aumento dos deportados, que vêem principalmente dos Estados Unidos da
América. Os deportados enfrentaram situações de exclusão no processo de (re) integração no
país. O fenómeno ganhou alguma expressão a partir da década de 80, existindo um número
significativo de deportados (cerca de 844, em 2007, segundo dados do ICCV (Instituto das
Comunidades de Cabo Verde).
Segundo o DECRP6 (2004), a segunda metade dos anos 90 foi marcada por um elevado
ritmo de crescimento económico, cerca de 8,4% de média anual, mas, não obstante esta
situação, a pobreza continuou a afectar mais de um terço da população do país. A nível da
desigualdade social, o relatório de 2004 sobre os objectivos do milénio para o
6
Documento de Estratégia de Crescimento e de Redução da Pobreza.
43
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Segundo Martins, num estudo realizado em 2010, sobre a juventude cabo-verdiana, demonstra
que, as trajectórias de vida dos jovens delinquentes em Cabo Verde desenham-se num
cenário social profundamente dividido, caracterizado pela exclusão social. Nos bairros
espontâneos e nas zonas mais pobres do Mindelo e da Praia, as disjunções estruturais da
sociedade cabo-verdiana adquirem na população mais jovem a forma concreta e dolorosa da
pobreza urbana e da crónica falta de oportunidades e perspectivas. O entrelaçar, nas suas
vidas, do desejo exasperado de ascensão social e de acesso a símbolos materiais marcadores
de status com um leque de oportunidades muito limitado e uma dificuldade estrutural de
acesso às posições de poder (Martins 2010) é uma das motivações centrais, se não a
motivação central, para o aumento do crime nas cidades cabo-verdianas.
7
O índice médio dos 55 países pertencentes ao grupo dos países de desenvolvimento médio referido no relatório
do PNUD (2003) e exposto no DECRP (2004) é de 0,43 o que mostra de uma forma clara o forte agravamento das
desigualdades em Cabo Verde.
8
O Índice de Gini indica o grau de desigualdade na distribuição dos rendimentos (ou do consumo) no seio duma
população. Vai de 0 a 1 e tende para 1 quando as distribuições são muito desiguais e para 0 quando são menos.
9
Instituto Nacional de Estatística.
44
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Este preso era uma das principais testemunhas de uma alegada rede internacional de
tráfico de droga.
Ainda no que concerne a este tipo de delito, o estudo sugere que não só as
motivações, mas também o conteúdo prático do mesmo, variam com a idade dos agentes.
45
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Note-se a propósito, que entre os jovens dos 12 aos 16 anos, os géneros alimentícios
representam 28,6% do que se costuma roubar, seguidos de dinheiro e jóias, aparelhos
electrónicos e vestuários, todos com 14,3% cada. Já entre os jovens da faixa etária
imediatamente superior, os géneros alimentícios não figuram entre os bens roubados. No seu
lugar, encontram-se: dinheiro e jóias, 32%, aparelhos electrónicos e telemóveis, 22%,
vestuários, 27% e armas, cerca de 3.5%.
A droga desponta como o principal factor de encaminhamento dos jovens para esse
tipo de delito, tendo sido apontado como móbil por 87,3% dos jovens do grupo dos 16 aos 21
anos. Note-se, a propósito, que, enquanto no primeiro grupo etário, 40% dos que cometeram
delito disseram tê-lo por influência e apenas 5,7%, porque estavam sob efeito de droga, no
segundo grupo, o quadro se inverte: cerca de 50% dos inquiridos alegaram que estavam sob
efeito da droga, contra cerca de 18% que apontaram para a influência. De igual modo,
enquanto no primeiro grupo, o roubo e o furto somam juntos pouco mais de 19% das
infracções praticadas pelos jovens. Das quais 28% destinavam-se á aquisição da droga, no
segundo eles aparecem como crimes de maior ocorrência, atingindo 80% do total, dos quais
cerca de 88% destinavam-se à aquisição da droga.
Portanto, se é verdade que entre os jovens com idade entre os 12 e os 16 anos, o acto
infraccional é largamente caudatário de uma dinâmica de ressocialização em que é nítido o
peso da influência dos grupos de pares e dos novos agentes de socialização, também não se
pode negar que, num segundo momento, as práticas delitivas tendem a assumir contornos
próprios e peculiares, possuindo um inequívoco poder de se retro-alimentar e de se auto-
justificar. Esse mesmo estudo vem demonstrar ainda que, se por outro lado o grupo dos
jovens de 12 aos 16 anos, a infracção é, via da regra, praticada por alguém, que, estando
numa espécie de palco de vida, representa pouco mais que um personagem, sob injunção e
influência dos outros actores e espectadores, entre os jovens da faixa etária imediatamente
superior, o quadro tende a alterar-se consideravelmente, já que o delito emana da
necessidade própria do agente, respondendo a uma urgência, numa situação de auto-
compulsão.
Estes resultados vêm demonstrar mais uma vez que existe uma relação directa entre o
consumo de drogas e o aumento da violência juvenil em Cabo Verde, se fazermos uma
analogia entre a dependência e o acesso as drogas. O jovem dependente necessita da droga
no organismo, para evitar conviver com os sintomas da abstinência, para isso recorrem ao
mundo do crime, para satisfazer essa dependência. Uma vez que a droga causa alterações
graves a nível do sistema nervoso central e consequente sobre o comportamento, um jovem
dependente, é capaz de ter comportamentos agressivos como assaltar uma outra pessoa, ou
então facilmente entra nos grupos organizados de violência, onde o consumo do álcool e das
outras drogas ilícitas é tido como um hábito normal.
46
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Há três tipos principais de gangues de rua, cada um definido por factores como pré-
requisitos para inclusão, objectivos ou actividades dos gangues.
Gangues Étnicas
Esses gangues definem-se pela nacionalidade ou raça de seus membros. Uma categoria de
gangue étnica é definida menos pelas etnias de seus membros do que pelas etnias que eles
odeiam. Gangues neonazistas, skinhead e de supremacia branca unem-se por causa de seu
ódio a cristãos não-protestantes, judeus, negros e hispânicos.
Gangues de Áreas
Os gangues de área definem-se pelo território que controlam. Os próprios membros de
gangues geralmente moram nesse território. Deve haver uma etnia comum dentro do gangue
simplesmente porque algumas vizinhanças têm uma certa homogeneidade étnica. Esses
gangues quase sempre têm o nome da área que controlam, como a gangue da 10th Street ou
os East Side Cobras. Se membros de outros gangues entrarem em seu território, a punição
geralmente é uma surra ou a morte. Isso pode iniciar guerras mortais entre gangues rivais.
Gangue de Prisão
Quando os membros dos gangues vão para a prisão, eles não renunciam necessariamente à sua
filiação a esses gangues. Gangues de rua continuam a existir (e lutam contra outras gangues)
dentro dos muros da prisão. Mas alguns gangues começam dentro das prisões e somente mais
tarde estendem seu alcance para o mundo exterior. Esses gangues obviamente necessitam de
membros que tenham estado na prisão alguma vez e sejam particularmente duros e brutais.
Um especialista em gangues escreveu: "Colocar jovens membros de gangues na prisão é como
enviá-los para a faculdade do crime".
47
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Há muitas razões possíveis para alguém se juntar a uma gangue, mas quatro razões
fundamentais parecem descrever a maioria dos membros de gangues. Ressaltando que a
ausência de um projecto de vida, constitui um factor de vulnerabilidade bastante importante
Redy no seu estudo com os grupos da Praia identificou algumas razões tais como:
Pobreza
Muitos gangues, existem principalmente como uma empresa de fazer dinheiro.
Cometendo roubos e traficando drogas, os membros de gangues conseguem juntar
quantidades relativamente grandes de dinheiro. Pessoas que têm de encarar a falta de
dinheiro podem se voltar para o crime se não conseguirem ganhar o suficiente com um
emprego legítimo. Isso explica em parte porque as gangues existem em áreas pobres e
arruinadas das cidades. No entanto, nem todo mundo que é pobre se junta a uma gangue e
nem todo membro de gangue é pobre.
Pressão de Grupo
Membros de gangues tendem a ser jovens. Isso ocorre em parte porque os gangues
recrutam adolescentes intencionalmente, mas também porque os jovens são muito
susceptíveis à pressão dos amigos. Se vivem em uma área dominada por um gangue ou
frequentam uma escola onde há uma forte presença de uma delas, eles podem achar que
muitos de seus amigos estão se juntando a gangues. Pode ser difícil para um adolescente
entender o mal que se juntar a um gangue pode ocasionar se ele estiver preocupado em
perder todos seus amigos. Muitos adolescentes resistem à tentação de se filiar a uma gangue,
mas para outros é mais fácil seguir o grupo. A pressão dos colegas é uma força motora por
trás da filiação a gangues em áreas mais desenvolvidas.
Falta de Ocupação
Sem nada para ocupar seu tempo, os jovens às vezes se voltam para o crime como
forma de se entreterem. Se os gangues já estiverem presentes na vizinhança, elas podem ser
uma válvula de escape. Como alternativa, os adolescentes podem formar seus próprios
gangues. Essa é a razão pela qual muitas comunidades têm tentado combater os gangues
simplesmente proporcionando algo para as crianças fazerem: campeonatos de dança, de
desporto e outros programas de alcance aos jovens podem literalmente manter as crianças
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
longe das ruas. Infelizmente, muitos jovens e até mesmo especialistas em gangues usam o
tédio/falta de ocupação, como uma desculpa. Mas para cada adolescente que fica entediado
e se junta a um gangue, há dez que encontram maneiras positivas e produtivas de gastar seu
tempo.
Desespero
Se pobreza é uma condição, desespero é um estado mental. Pessoas que sempre
viveram na pobreza, com pais que viveram na pobreza, muitas vezes não enxergam uma
possibilidade de algum dia conseguir um emprego decente, deixar a sua vizinhança pobre ou
conseguir educação. Elas estão cercadas por drogas e gangues e seus pais podem ser viciados
ou pessoas insensíveis. Um gangue da vizinhança pode parecer a única família real que elas
jamais terão. Juntar-se a um gangue dá a elas uma sensação de pertencer e ser parte de algo
importante que elas, de outra maneira, não podem conseguir. Em alguns casos, os pais
aprovam o facto de seus filhos juntarem-se a gangues e também podem ter sido membros de
uma no passado.
Podemos assim dizer que várias são as razões que podem levar um adolescente ou
jovem a enveredar pelo mundo da delinquência e do crime, mas essas causas não são
lineares, visto que irá depender de outros factores subjacentes, como o estilo de vida, as
oportunidades, a capacidade de resiliência, as influências familiares, a socialização, os
objectivos e projecto de vida de cada jovem. Muitos vivendo em situação de conforto
material na família enveredam pelo mundo do crime e outros vivendo nos limiares da
pobreza, conseguem encontrar estilos de vida positivos.
49
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Esse tipo de violência permite criar também um espaço cultural necessário à afirmação de
identidades pessoais e sociais, que precisam ser reforçadas e reconhecidas, visto existir uma
discrepância entre a identidade real (a que é), a social (a que os outros vêm neles), e a
virtual (a que se aspira)
10
Imitação literal dos comportamentos dos jovens desafiliados dos lugares centrais da esfera mundial.
11
É de realçar que não havia tantas armas de fogo nas mãos dos civis como agora.
50
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
supremacia dentro do grupo ou da comunidade, onde são vistos como senhores e reis do
bairro.
Muitas lutas travadas contra os outros grupos do bairro e contra outros bairros têm como
finalidade maior, a legitimação do poder e a sustentação da admiração.
51
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
1.OBJECTIVOS
1.1 Objectivo Geral
O presente trabalho tem como objectivo geral, fazer uma análise comparativa entre o
consumo do álcool e das drogas ilícitas nos jovens pertencentes aos grupos gangues/thugues,
da cidade da Praia e do Mindelo, de forma a compreender essa problemática que assola a
comunidade juvenil dessas duas cidades.
Identificar os significados que os jovens gangues/ thugues atribuem aos grupos que
pertencem;
Identificar a percepção de inclusão/ exclusão, que têm enquanto elemento de um
grupo gangue/thugue, perante a sociedade;
Identificar quais as drogas mais consumidas e sua relação com o aumento da
delinquência juvenil nas cidades do Mindelo e da Praia;
Identificar se o aumento do consumo de drogas esta ligada ao aumento da
delinquência juvenil;
Identificar a média de idade, que os jovens entram para os grupos gangues/thugues;
Identificar quais as principais motivações que levam os jovens a aderirem-se a esses
grupos;
Identificar os sentimentos ligados a família dos jovens perante esta questão de
delinquência;
Analisar como a violência é apresentada pelos grupos nestas duas cidades;
Identificar que emoções e sentimentos, estes jovens experimentam quando
consomem drogas;
Identificar que emoções e sentimentos os jovens experimentam quando envolvem em
actos de violência em grupo;
Identificar que influências sofreram as suas vidas após a entrada nos grupos;
Analisar que soluções que estes jovens apresentam a família e a sociedade cabo-
verdiana, para ajudar tantos os jovens que estão nestes grupos a saírem e os que
ainda não entrarem para os grupos, que alternativas lhes proporcionar para que
possam escolher outros caminhos para as suas vidas.
52
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
VII. METODOLOGIA
1. Método e Instrumento
Para análise posteriormente foram utilizadas o programa SPSS, onde cruzamos dados
colhidos nas duas cidades e comparar os resultados, de forma a compreender melhor o
fenómeno do consumo abusivo do álcool e das drogas ilícitas nos jovens pertencentes aos
grupos gangues/thugues, da cidade da Praia e do Mindelo, fazendo um ponto com a base
teórica sobre o tema.
1.2 Hipóteses
Após uma revisão da literatura e materialização do instrumento utilizado, levantou-se
as seguintes hipóteses:
Hipótese 1 (H1): os jovens que consomem muita quantidade de álcool, apresentam
mais índices de agressividade comparados com os que consomem pouca quantidade;
Hipótese 2 (H2): os jovens quando estão em grupo manifestam um sentimento de
superioridade mais acentuada comparados com, quando estão sós em suas
comunidades;
Hipótese 3 (H3): os jovens da cidade da Praia apresentam maiores índices de
Delinquência comparados com os jovens da cidade do Mindelo;
Hipótese 4 (H4): os jovens da cidade da Praia consomem mais drogas ilícitas,
comparados com os jovens da cidade do Mindelo;
Hipótese 5 (H5): os jovens que percepcionam os seus grupos, como um grupo de
amigos sentem mais felizes com o grupo comparados com aqueles que percepcionam
os grupos como um grupo de delinquentes;
53
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
1.3 Participantes
Adolescentes e jovens adultos, da cidade da Praia e do Mindelo, de diferentes faixas
etárias e nível sócio-económico, que tenham uma relação com os denominados grupos
gangues/thugues.
1.5 Procedimento
Em formato de entrevista, iniciamos com a apresentação da investigadora.
Respeitando o protocolo de apresentação, enfatizamos o estudo, os objectivos e sua
finalidade, salientando sempre a confidencialidade e o anonimato das respostas. Obtido o
consentimento informado e tecido o respectivo agradecimento pela colaboração no estudo,
introduziu-se a aplicação do questionário.
54
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
55
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
VIII RESULTADOS
O estudo incide sobre uma amostra de 120 sujeitos, com a idade compreendida entre
os 14 e os 29 anos, a média de idades é de 20 anos aproximadamente, com um desvio padrão
de 3, 046 anos. Sendo que a idade dos 20 anos seja a mais frequente (tabela 2).
N Validos 120
Omissos 0
Média 20,16
Mediana 20,00
Moda 20
Desvio Padrão 3,046
Mínimo 14
Máximo 29
Percentis 25 5,00
50 7,00
75 9,00
56
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Cidade
Feminino; 2;
2%
Masculino;
118; 98%
Dos 120 inquiridos, 118 referentes a 98% dos sujeitos são do sexo masculino e 2 que
representa 2% da amostra são do sexo feminino e vivem da cidade do Mindelo. Esse quadro
demonstra claramente, que a adesão a esses grupos tem uma maior incidência nos rapazes do
57
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
16 15
14 13
12
12
10 8 8 8 8
8
6 5 5
4 4 4
4 3 3 3 3 3
2 2 2 2
2 1 1 1
0
Ribeira Bote "ilha da…
Ribeira de Craquinha
Fonte Frânces
Terra Branca
São Pedro
Varzia
Fernando Pó
Achadinha
Fonte Inês
Madeiralzinho
Bairro
Fonte Filipe
Ribeirinha
Tira Chapéu
Achada Grande Frente
Palmarejo
Bela Vista
Monte Sossego "Cova"
Nas duas cidades Praia e Mindelo, os inquéritos foram aplicados nos bairros mais
violentos, em Mindelo, foram aplicados nos bairros da Ribeira Bote “Ilha de madeira” foi
inquiridos 12 jovens, Ribeirinha 15, Monte Sossego “Cova” e Bela Vista ambos com 8 inquirido
cada, na cidade da Praia os bairros de Achada Santo António, neste momento tido como o
bairro mais violento da capital, foi inquirido 8 jovens, Achada Grande Frente foi o bairro com
maior número de jovens inquiridos no total de 13 entre outros bairros como Calabaceira que
foram inquiridos 8 jovens (gráfico3).
Estudante
Sim 22 18%
Não 98 82%
Dos 120 inquiridos, 98, referente ao peso de 82% estão fora do sistema educativo e 22
correspondendo ao peso de 18% estão no sistema educativo. Números que demonstram que a
vida nos grupos delinquentes faz com que muitos desses jovens abandonam o sistema
58
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
educativo ou então, já estavam foram do sistema antes de entrarem para os grupos, essa
condição os facilitou a entrada.
60
50; 83% 48; 80%
50
40
Mindelo
30
Praia
20
10; 17% 12; 20%
10
0
Sim Não
45 42; 70%
38, 63%
40
35
30 Mindelo
25
20 17; 28% Praia
14; 23%
15
10 4; 6% 5; 8%
5
0
Nunca Frequentou Básico Secundário
A maioria dos inquiridos têm o nível secundário com maior incidência para os jovens
do Mindelo, um total de 42 jovens correspondendo ao peso de 70% e 38 da Praia
correspondendo ao peso de 63% dos 60 jovens inquiridos em cada cidade, de seguida vem o
nível básico já desta vez com maior incidência para a Praia, um total de 17, correspondendo
ao peso 28% e 14 no Mindelo correspondendo ao peso de 23% dos 60 inquiridos em cada cidade
e por fim vem os que disseram nunca ter frequentado a escola, com um total de 5 para a
cidade da Praia correspondendo ao peso de 8% e 4 do Mindelo correspondendo ao peso de 6%
dos 60 jovens inquiridos.
59
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
60 56; 93%
51; 85%
50
40 Mindelo
30 Praia
20
8; 13%
10 3; 5%
0; 0% 1; 2% 1; 2% 0; 0%
0
Solteiro União de Facto Casado Divorciado
35 33; 55%
30
25 23; 38%
20; 33% Mindelo
20 15; 25%
12; 20% Praia
15 10; 17%
10 5; 8%
5 2; 4%
0
Muito Pobre Pobre Remediado Classe Média
Os jovens inquiridos quase a metade são pobres, com maior incidência para a cidade
da Praia um total de 33, correspondendo ao peso de 55% e 20 no Mindelo correspondendo ao
peso de 33% dos 60 jovens inquiridos em cada cidade, em segundo lugar os considerados
remediados com maior incidência para Mindelo, um total de 23 correspondendo ao peso de
38% e 12 na Praia correspondendo ao peso de 20%, em terceiro lugar encontramos os que se
consideram muito pobres com maior incidência para o Mindelo, 15 correspondendo ao peso de
25% e 10 na Praia correspondendo ao peso de 17%, dos 60 inquiridos em cada cidade. E por
fim os que são da classe média, com maior incidência para a Praia, um total de 8
correspondendo ao peso de 8% e 2 no Mindelo correspondendo ao peso de 4%
60
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Dois Filhos;
4; 3%
Um Filho;
Três
23; 19%
Filhos; 1;
1%
Nenhum
Filho; 92;
77%
61
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Mindelo; 60;
Praia; 60; 50%
50%
60 56 55
50
40 Mindelo
30 Praia
20
10 4 5
0
Sim Não
62
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Gráfico 13- Distribuição por idades que entraram para os grupos gangues/thugues
20
16 Mindelo
15 12
11 Praia
10 9
10 88 7 7
45 3 4 4
5 2 21 2
1 10 01 10 01 0
0
12 anos13 anos14 anos15 anos16 anos17 anos18 anos19 anos20 anos21 anos22 anos23 anos11 anos10 anos
Das idades que entraram para os grupos gangues/thugues, 2 jovens da cidade da Praia
referiram ter entrado com 10 anos, 1 referiu entrar com 11 anos, já a partir dos 12
encontramos 4 na cidade do Mindelo e 5 na cidade da Praia, aos 13 anos 8 jovens em ambas
as cidades responderam ter entrado com essa idade, 3 da cidade do Mindelo entraram com 14
anos 16 da cidade da Praia entram com a mesma idade, 10 no Mindelo entram aos 15
enquanto, que 7 na Praia reapoderam também ter entrado aos 15 anos, 11 na cidade do
Mindelo, entram com 16 anos e 7 da Praia entram com essa mesma idade, já aos 17 na cidade
do Mindelo encontramos 12 jovens e na Praia 7, aos 18 temos 4 na cidade do Mindelo e 1 na
cidade da Praia, aos 19 encontramos 4 na cidade do Mindelo e 2 na cidade da Praia, aos 20
anos Mindelo 2 e Praia nenhum, aos 21 Mindelo 2 Praia 1, aos 22 anos Mindelo 0 e Praia 1 e
aos 23 anos Mindelo 1 e Praia 0. Estes dados reflectem a tendência maior para os jovens
entrarem nos grupos gangues/thugues cada vez mais cedo para a cidade da Praia do que na
cidade do Mindelo.
N Validos 120
Omissos 0
Média 15,73
Mediana 15,00
Moda 14a
Desvio Padrão 2,786
Mínimo 10
Máximo 23
Percentis 25 3,00
50 4,00
75 6,00
63
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Dos 120 jovens inquiridos, entram nos grupos gangues/thugues nas idades
compreendidas entre os 10 aos 23 anos, a média de idade que entram para esses grupos é de
15 anos, a idade mais frequente que entram para os grupos é de 14 anos, com um desvio
padrão associado de 2,786 anos.
Tabela 4 - Distribuição pelas razões que os levaram a entrar para os grupos gangues/thugues
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Porque Quis 22 61 14 39
Por Obrigação/Pressão 5 62 3 38
Por Influência dos Colegas 3 12 22 88
Para Pertencer a um Grupo 3 27 8 73
Porque esta na moda pertencer a um grupo 6 60 4 40
gangue/thugue
Por causa de problemas familiares 5 42 7 58
Por falta de emprego 11 69 5 31
Para ocupar o tempo livre 8 89 1 11
Estar com os amigos 13 68 6 32
Para ajuste de contas 2 33 1 67
Estes resultas demostram que a principal razão que levam os jovens a entrar nos
quiseram, dando maior destaque a cidade do Mindelo, em 2º lugar vem a influência dos
Entre outros factores encontramos em terceiro lugar, estar com os amigos com maior
incidência na cidade do Mindelo, em quarto lugar vem a falta de emprego com maior
incidência na cidade do Mindelo, estes resultados correspondem a tendência nacional visto
que São Vicente é a ilha com maior taxa de desemprego do país, problemas familiares ocupa
o 5º lugar com uma ligeira tendência para o aumento na cidade da Praia, pertencer a um
grupo vem em 6º lugar com uma incidência maior na cidade da Praia, em 7º lugar
encontramos o factor moda, como motivo com maior incidência para a cidade do Mindelo,
ocupar o tempo livre vem em 8º lugar, com uma tendência maior para a cidade do Mindelo,
obrigação/pressão ocupa o 9º lugar com maior tendência para Mindelo e no último lugar o
ajusto de contas é um dos motivos que menos influencia os jovens a entrarem para os grupos
gangues/thugues.
64
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
60 Mindelo; 54Praia; 53
50
40
30
20
10 Mindelo; 6 Praia; 7
0
Sim Não
Gráfico 15- Família se tem conhecimento que faz parte de um grupo gangue/thugue
60
Praia; 49
50 Mindelo; 46
40
30
20 Mindelo; 14
Praia; 11
10
0
Sim Não
65
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
50 Praia; 44
45 Mindelo; 41
40
35
30
25
20
15
10 Mindelo; 5 Praia; 5
5
0
Sim Não
41 Dos sujeitos inquiridos no Mindelo, responderam que suas famílias não aceitam que
eles estejam nesses grupos e 44 na Praia responderam também que as suas famílias não
aceitam, demonstra uma tendência maior para a não-aceitação em ambas as cidades,
enquanto, que 5 na cidade do Mindelo responderam que a sua família aceita, igual numero
também para a cidade da Praia.
30
24
25 21
Mindelo
20
15 12 11 Praia
10 8
5 6 5
5 1 0 0 1
0
Normal Medo Inseguro Desconfiança Decepção Não Sabe
Reflectindo a forma como os familiares reagem com o familiar que faz parte do grupo
gangue/thugue, 21 dos jovens da cidade do Mindelo responderam que os familiares regem
com eles em casa de forma normal, na cidade da Praia 24 acham a mesma coisa, 12 dos
jovens da cidade do Mindelo acham que os familiares reagem com medo, 11 na Praia são da
mesma opinião, 5 jovens da Cidade do Mindelo acham que os seus familiares sentem inseguros
em relação a eles e 8 na cidade da Praia partilham essa opinião, 6 da cidade do Mindelo
acham que os familiares reagem com desconfiança em relação a eles e 5 na cidade da Praia
partilham essa mesma opinião, apenas 1 da cidade do Mindelo acha que a reacção da família
em relação a ele é de decepção e 1 na cidade da Praia não sabe que reacção que a família
66
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
tem para com ele em casa. De uma forma geral mesmo sabendo que os filhos fazem parte
desses grupos a reacção dos familiares para com eles é normal embora não devemos descartar
outras reacções como o medo, a insegurança e a desconfiança.
25 22
20 18
14 13 Mindelo
15
10
10 8 Praia
7
5 2
0
Vergonha Medo Insegurança Normal
A vergonha destaca-se como o sentimento que mais as famílias têm perante o membro
que faz parte do grupo gangue/thugue, no Mindelo 22 jovens responderam que suas famílias
têm um sentimento de vergonha na Praia 18 partilham essa ideia, o sentimento de medo vem
em segundo lugar com 14 jovens na cidade do Mindelo e 13 na cidade da Praia, a insegurança
vem em terceiro lugar com 7 jovens da Praia e 8 de São Vicente partilhando essa opinião e
por fim 2 no Mindelo e 10 na Praia acham que os familiares têm um sentimento de
normalidade. Esses resultados demonstram que, apesar de a família constituir um dos
principais factores que levam os jovens a integrarem para esses grupos devido aos motivos
mencionados anteriormente, acabam por sofrer com essa situação do seu familiar,
demonstrando a vergonha e o medo como os dois maiores sentimentos dos familiares.
50
Praia; 40
40 Mindelo; 33
30 Mindelo; 27
Praia; 20
20
10
0
Sim Não
67
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Praia acham que estão inseridos nas suas comunidades. Portanto estes resultados nos leva a
reflectir nas políticas de inserção social para os jovens, existentes em Cabo Verde, para quem
são dirigidas, quem beneficia delas, ainda nos leva a reflectir que programas devem ser
desenvolvidas especificamente para os jovens que estão em situação de risco para o consumo
de drogas e a delinquência juvenil, visto que, a percepção de exclusão social é bem visível
nos jovens que pertencem a estes grupos
Gráfico 20- Como acham que a sociedade os percepciona enquanto elemento de um grupo
gangue/thugue
40 38
35
35
30
25 Mindelo
19
20
Praia
15 12
10
5 5 4
5 1 1
0
0
Como uma pessoa normal Como um Como um Pessoa sem princípios/sem outra. Qual
delinquente/agressivo toxicodependente educação
Essa percepção de exclusão social também repercute na imagem que a sociedade têm
dos jovens que estão nestes grupos, a maioria dos jovens responderam que as pessoas da
sociedade os vêem como um delinquente/agressivo, sendo que em Mindelo, 38 responderam
positivo e na Praia 35, um numero reduzido acha que a sociedade os vêem como uma pessoa
normal 12 na cidade do Mindelo e 19 na Praia, em terceiro lugar encontramos uma pessoa
sem princípios/sem educação, com 5 jovens do Mindelo e 4 da Praia a partilharem essa ideia,
por último encontramos a figura do toxicodependente, 5 jovens do Mindelo e 1 da Praia
acham que as pessoas da sociedade os vêem como um toxicodependente.
68
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
40
30
30
20
20 Mindelo
14 15 12
10 8 8 Praia
10
3
0
0
mais Forte Normal Triste Mais Alegre Mais Alegre
Mais uma vez notamos a forte influência do grupo e podemos inalar uma forte coesão
grupal, quando falamos de grupos gangues/thugues, compreendendo os sentimentos dos
jovens quando estão em grupos, retemos dados importantes como: em primeiro lugar
encontramos a força, 30 jovens do Mindelo e 10 da Praia referiram sentir-se mais fortes
quando estão em grupo, com uma incidência maior na cidade do Mindelo, em segundo lugar
encontramos a normalidade, 14 jovens do Mindelo e 15 da Praia referiram sentir-se normais,
em terceiro lugar encontramos o sentimento de superioridade, 20 jovens da Praia e 8 do
Mindelo sentem-se superior as outras pessoas quando estão em grupo, em quarto lugar
encontramos a alegria, 12 jovens da Praia e 8 do Mindelo sentem-se mais alegres e o
sentimento de tristeza ocupa o quinto lugar com apenas 3 jovens da cidade da Praia,
referiram sentir-se tristes quando estão em grupos.
Gráfico 22- Quando estão sós nas suas comunidades como sentem
40 32
30 Mindelo
19 20
20 Praia
11
10 7 5 7 7
3 3 2 4
0
Isolado Excluído Inserido Normal Medo Inseguro
69
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
responderam positivamente, mas outros sentimentos como o isolamento não deve passar
despercebido, 19 jovens do Mindelo sentem-se isolados nas suas comunidades e 7 na Praia, a
insegurança também é outro sentimento que e ocupa o terceiro lugar, 11 jovens do Mindelo e
7 da Praia responderam sentir-se inseguros nas suas comunidades quando não estão em grupo,
a exclusão ocupa o quarto lugar 7 jovens da Praia e 5 do Mindelo, referiram sentir-se
excluídos nas suas próprias comunidades, no sexto lugar encontramos o medo como mais um
dos sentimentos 4 jovens da Praia e 2 do Mindelo referiram sentir medo, apenas 3 jovens da
Praia e 3 do Mindelo sentem inseridos nas suas comunidades quando não estão em grupo.
Se correlacionamos a imagem que as pessoas têm deles na sociedade (gráfico 20) com
os sentimentos que espoletam quando estão sós em comunidade (gráfico 22), podemos ver
que o isolamento, a exclusão, o medo e a insegurança são os sentimentos mais evidentes na
vida desses jovens e o grupo acaba por compensar esses sentimentos, fazendo-os sentir-se
mais fortes, mais alegres e superior a aquelas pessoas que os exclua socialmente (a
sociedade), (gráfico 21).
33
35
28
30 25
25 Mindelo
20 17
15 Praia
9
10 6
5 1 1
0
Nunca Poucas vezes Muitas vezes 4
Esses dados nos mostra a necessidade que estes jovens têm em ter os grupos cada vez
mais coesos, uma vez que, com uma percepção alta de insegurança e ameaças constantes, a
força do grupo é a melhor solução percepcionada por estes jovens.
70
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
40 36
35 32
30 26
Mindelo
25
20 Praia
15
15
9
10
5 2
0
Nunca As vezes Muitas vezes
Os dados nos mostra claramente que o álcool é consumida por maior parte dos jovens
que estão nos grupos gangues/thugues e esse consumo se perpetua no próprio grupo, agora a
frequência vária, a maioria respondeu consumir o álcool as vezes, ou seja 36 jovens da cidade
da Praia e 32 do Mindelo responderam positivamente, já os que consomem com maior
frequência, os jovens de São Vicente ocupam o 1º lugar, 26 jovens do Mindelo e 15 da Praia
responderam consumir o álcool muitas vezes nos seus grupos, uma minoria respondeu nunca
ter consumido álcool no seu grupo 2 na Praia e 9 no Mindelo.
35 30
30
25 22 23
Mindelo
20
13 13 Praia
15
10 8
5
0
pouca Razoável Muita
Esses resultados dá-nos algumas pistas para uma relação bastante próxima entre o
consumo do álcool e o aumento da violência juvenil, se analisarmos as alterações do
comportamento que essa droga despoleta nos jovens, podemos ver que os torna mais
71
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
desinibidos, mais agressivos, ficando mais propensos a responder com agressividade perante
uma ameaça, ou um possível rival.
Gráfico 26- Consumo de drogas Ilícitas (padjinha, pedra/crack, heroína, cocaína) nos grupos
40 35
35 32
30 25
25 Mindelo
20 17 Praia
15
8
10
3
5
0
Nunca As vezes Muitas vezes
Relativamente as drogas ilícitas também são consumidas por muitos jovens desses
grupos, 35 jovens da cidade do Mindelo e 32 da Praia responderam que consomem essas
drogas as vezes, os que responderam consumir com maior frequência vai primeiro para a
cidade da Praia, 25 responderam positivamente e 17 do Mindelo, quanto aos que nunca
consumiram a maior incidência é para os jovens do Mindelo com 8 jovens e 3 da Praia
referiram nunca ter consumido essas drogas nos seus grupos.
50
39 38
40
30 Mindelo
21 22
20 Praia
10
0
Sim Não
Correlacionando estes resultados com a média de idade que os jovens entram para os
grupos, nos leva a reflectir que, cada vez mais cedo os jovens estão a consumir drogas. A
média de idade que estes jovens entram para os grupos é dos 15 anos e confrontados com o
consumo de drogas antes de entrarem para os grupos, a maioria afirmaram consumir drogas
antes de entrarem para os grupos, 39 jovens da cidade do Mindelo e 38 da Praia iniciaram o
consumo de drogas antes de entrarem para os grupos, enquanto, que 21 do Mindelo e 22 da
Praia responderam não ter iniciado o consumo antes de entrarem para os grupos.
72
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Tabela 5- Distribuição por drogas que consumiam antes de entrar para os grupos
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Álcool 35 61 22 39
Padjinha 30 46 35 54
Pedra/crack 11 100 --- ---
Heroína 2 100 --- ---
Cocaína 10 67 5 33
Extasy 1 100 --- ---
Dos 77 jovens que responderam que consumiam drogas antes de entrarem para os
grupos, questionados com os tipos de drogas que consumiam, a padjinha aparece como a
droga mais consumida nos jovens da Praia 35 jovens correspondendo ao peso de 54% dos
jovens que consumiam drogas e 30 da cidade do Mindelo correspondendo ao peso de 46%, em
segundo lugar vem o álcool agora com maior incidência para os jovens da cidade do Mindelo,
35 jovens, correspondendo ao peso de 61%, e 22 da Praia correspondendo ao peso de 39%, a
cocaína ocupa o terceiro lugar com maior incidência na cidade do Mindelo, 10 jovens da
cidade do Mindelo e 5 da Praia responderam ter consumido a cocaína, a pedra/crack, ocupa o
quarto lugar, e tendo sido consumido exclusivamente pelos jovens de São Vicente 11 no total,
a heroína e o extasy ocupam o quinto e o sexto lugar, também consumida exclusivamente
pelos jovens do Mindelo 2 e 1 respectivamente.
A padjinha e o álcool são as duas drogas mais consumidas pelos jovens antes de
entrarem para os grupos gangues/thugues a primeira com maior incidência na Praia e a
segunda com maior incidência no Mindelo.
Tabela 6- Distribuição dos sujeitos pelas estratégias utilizadas para comprar álcool/drogas ilícitas
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Agrediu 11 44 14 56
Assaltou 20 44 25 56
Pediu dinheiro há um amigo/familiar 14 40 21 60
Emprestou dinheiro 3 30 7 70
Trabalhou para adquirir o seu próprio dinheiro 16 42 22 58
Vendeu algum objecto Pessoal 8 50 8 50
Todas as opções acima referidas 12 67 6 33
Relativamente as estratégias utilizadas por estes jovens para adquirir a droga são
várias, umas mais passivas outras mais agressivas, a ocupar o lugar, encontramos os assaltos
73
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
com maior incidência para a cidade da Praia 25 jovens da Praia correspondendo ao peso de
56% responderam ter assaltado para comprar droga e 20 jovens do Mindelo correspondendo ao
peso de 44% também adoptaram essa estratégia, em segundo lugar, trabalhar para adquirir o
próprio dinheiro foi a estratégia utilizada por 22 jovens da cidade da Praia correspondendo ao
peso 58% e 16 do Mindelo correspondendo ao peso de 42%, em terceiro lugar, pedir dinheiro
há familiares/amigos é mais uma estratégia também com maior incidência na cidade da Praia
21 jovens, correspondendo ao peso de 60% e 14 no Mindelo correspondendo ao peso de 40%,
em quarto lugar encontramos a agressão também com maior incidência para a cidade da
Praia, 14 jovens correspondendo ao peso de 56% e 11 correspondendo ao peso de 44% da
cidade do Mindelo responderam ter usado a agressão para conseguir a droga, em quinto lugar
encontramos os jovens que já usaram todas essas formas de adquirir dinheiro para comprar
drogas, já agrediram, assaltaram, pediram e emprestaram dinheiro, venderam algum objecto
próprio, esta estratégia tem maior incidência no Mindelo, com 12 jovens correspondendo ao
peso de 67% e 6 da Praia correspondendo ao peso de 33%. Podemos ver que entre as
estratégias que mais os jovens utilizam, o assalto ocupa um lugar de excelência, reforçando
ainda mais a imagem de um delinquente/agressivo que a sociedade têm deles.
Apenas com
alguns
Com todo o elementos do
Individual grupo grupo Total
Cidade Mindelo 2 29 29 60
Praia 3 28 29 60
Total 5 57 58 120
74
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Álcool 54 51 52 49
Padjinha 57 50 57 50
Pedra/crack 23 92 2 8
Heroína 1 33 2 67
Cocaína 13 32 28 68
Extasy --- --- 2 100%
Das drogas consumidas pelos jovens nos grupos a padjinha ocupa o primeiro lugar, um
total de 114 jovens responderam que consomem a padjinha nos seus grupos, com uma
percentagem equilibrada para Mindelo e Praia 50% cada, em segundo lugar encontramos o
álcool um total de 106 jovens responderam consumir o álcool nos seus grupos, com uma
ligeira tendência para o maior consumo nos jovens do Mindelo 51 % e 49% para a Praia, a
cocaína usada de forma inalada, ocupa o terceiro lugar um total de 43 jovens responderam
que consomem a cocaína no grupo, é mais consumida pelos jovens da Praia 68 % e 32 % no
Mindelo, a pedra/crack ocupa o quarto lugar, um total de 25 jovens responderam usar essa
droga no grupo com maior incidência para Mindelo 92% e 8 % para a Praia, a heroína é menos
consumida nos grupos apenas 3 jovens alegaram que consomem a cocaína nos seus grupos,
67% na Praia e 33% no Mindelo o extasy ocupa o fundo da tabela, sendo assim a droga menos
consumida apenas 2 jovens da Praia alegaram consumir o extasy no seu grupo.
Analisando estes dados podemos ver que o crack/pedra e a cocaína são drogas
altamente dependentes e estimulantes do sistema nervoso central e dado ao facto de serem
de altamente dependentes, de efeitos rápidos e de serem mais caras que o álcool e a
padjinha, faz com que os consumidores, recorrem mais vezes ao assalto e a agressão para
conseguir meios para adquirir a droga e isso demonstra mais uma vez a relação existente
entre o consumo de drogas e o aumento da delinquência juvenil.
75
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Álcool 22 79 6 21
Padjinha 40 48 43 52
Pedra/crack 12 92 1 8
Cocaína --- --- 10 100
Das quatro drogas mais consumidas nos grupos, a padjinha ocupa o primeiro lugar,
sendo considerada para esses jovens como a droga mais consumida nos seus grupos, um total
de 83 jovens responderam positivamente, destes 52% são da Praia e 48% do Mindelo, com um
ligeiro aumento para a cidade da Praia, em segundo lugar vem o álcool com total de 28
jovens acham que o álcool é a droga mais consumida no seu grupo, com maior incidência para
Mindelo 79% e 21% para a Praia, a pedra/crack vem em terceiro lugar um total de 13 jovens
responderam ser essa droga a mais consumida nos seus grupos também com maior incidência
em Mindelo92% e 8% para a Praia, a cocaína vem em ultimo lugar com maior incidência para a
Praia, um total de 10 jovens elegeram essa droga como a mais consumida pelos grupo e estes
jovens são exclusivamente da Praia.
Gráfico 28- Relação entre o consumo do álcool/outras drogas com envolvimento em actos de
violência
40 35
30
30 Mindelo
20
20 13 Praia
12 10
10
0
Nunca As vezes Muitas vezes
76
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Mindelo e 10 na Praia. Os Jovens da cidade da Praia acreditam mais numa relação directa
entre o consumo de drogas e o envolvimento em actos de violência do que os do Mindelo.
Tabela 10- Distribuição por Actos de Violência praticados pelos jovens quando estão em grupos
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Brigas 40 50 40 50
Roubos 28 47 31 53
Homicídios 2 20 8 80
Nenhum acto de violência 3 50 3 50
Vandalismo 7 47 8 53
Brigas com outros grupos gangues/thugues 33 42 45 58
Agressão física a outras pessoas 13 48 14 52
Agressão verbal a outras pessoas 3 19 13 81
Violência sexual 1 33 2 67
77
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Gráfico 29- O álcool/ outras drogas são a causa dos conflitos estimulados pelo grupo
30 27
25
25
20 18 Mindelo
15 13 Praia
11 11
9
10 6
5
0
As vezes Várias vezes Sempre Nunca
Na opinião dos jovens existe sim uma relação entre o consumo de drogas e
estimulação para a violência. Os jovens acham que nem sempre o consumo de drogas estimula
os conflitos nos seus grupos, um total de 52 jovens partilham essa opinião, sendo que 27 são
da cidade da Praia e 25 do Mindelo, quanto aos que acham que o consumo de substâncias nos
seus grupos estimula varias vezes os conflitos, um total de 31 responderam positivamente,
com maior incidência para a cidade da Praia 18 jovens responderam que sim e 13 no Mindelo,
quanto aos que acham que sempre que consomem drogas são estimulados para a delinquência
foram no total de 17 jovens, 11 para Mindelo e 6 para Praia, apenas 20 acha que o consumo
de drogas não os estimula a violência. Esses resultados demonstram nitidamente que os
jovens têm essa consciência, principalmente quando relacionamos com as drogas que usam
com mais frequência, álcool, padjinha, crack e cocaína. São drogas estimulantes, depressoras
e perturbadoras do sistema nervosos central.
35
29
30 27
Mindelo
25 Praia
20 16
15 12 13
10 7 7
5
5 2 2
0
Normais Agressivos/excitados Deprimidos Satisfeitos Ansiosos
Os dados voltam a confirmar mais uma vez a relação entre o consumo de drogas e a
violência juvenil, 56 jovens responderam que após o consumo de drogas ficam mais
agressivos/excitados, sendo 29 do Mindelo e 27 da Praia, 25 acham que ficam normais 12 do
Mindelo e 13 da Praia, 23 ficam satisfeitos após o consumo, 16 da Praia e 7 do Mindelo, 9
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
responderam ficar ansiosos 7 do Mindelo e 2 da Praia e por fim apenas 7 ficam deprimidos 5
do Mindelo e 2 da Praia.
Cidade Mindelo 52 8 60
Praia 55 5 60
Total 107 13 120
Dos jovens inquiridos, a maioria respondeu ter sofrido consequências após entrarem
para o grupo gangue/thugue, 107 jovens partilham essa opinião, sendo que 55 são da Praia e
52 do Mindelo, os restantes 13 alegaram não ter sofrido consequências, após terem entrado
para o grupo 8 são do Mindelo e 5 da Praia.
Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Violência física/agressão física 33 44% 42 56%
Violência verbal 13 48% 14 52%
Violência psicológica 7 35% 13 65%
Questões policiais 26 42% 36 58%
Discriminação 12 52% 11 48%
Das consequências que estes jovens alegaram já terem sofrido pelo facto de estarem
nesses grupo, a violência física ocupa o 1º lugar com um total de 75 jovens a responderam
que já sofreram violência física, maior incidência para os jovens da Praia 56% e 44% para
Mindelo, em segundo lugar vem, questões relacionadas com as autoridades policiais, estão
ligado aos roubos, brigas entre grupos, agressão física, verbal, prisão com maior incidência
para cidade da Praia 58% e 42 para o Mindelo, em terceiro lugar vem a violência verbal, com
27 jovens a responder positivamente, 52% para a Praia e 48 para o Mindelo, em quarto lugar
vem a discriminação, um total de 23 jovens responderam positivamente 52% para Mindelo e
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
42% para a Praia e por ultimo vem a violência psicológica com um total de 20 jovens, 52 para
Mindelo e 48 para a Praia. Destas consequências, a violência física e questões policiais são as
duas principais consequências que estes jovens alegam ter sofrido.
60
48
50
40
31 29 Mindelo
30
Praia
20 12
10
0
poucos Muitos
35 32 31
30 26 24
25 Mindelo
20 Praia
15
10 5
5 2
0
Nunca As vezes Muitas vezes
80
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
50 43 Mindelo
38
40 Praia
30
20 17
10 4 6
2 1 3
0
Com agressão Com diálogo Ignoram a situação Unem com outros
grupos gangues
A maioria que respondeu envolver em actos de violência com outros grupos gangues, a
maioria respondeu que normalmente reagem com agressão, um total de 81 jovens 43 para a
Praia e 38 para o Mindelo, em segundo lugar, unir com outros grupos para ajusto de contas é
outra reacção manifestada pelos grupos 23 jovens, 17 no Mindelo e 6 na Praia, em posições
inferiores encontramos, o diálogo com 6 jovens no total a responder positivamente e ignorar
as brigas um total de 4 jovens. Mais uma vez verificamos um índice elevado de violência nos
grupos, em que a agressão e união com outros grupos são as duas principais reacções quando
a conflitos com grupos rivais.
Gráfico 34- Sentimentos que vem após os conflitos com grupos rivais
25 21
20 16
14 Mindelo
15 11
9 10 9 10 Praia
10 6
4 5 5
5
0
Triste Alegre Medo Satisfeito Ansioso Normal
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Gráfico 35- Tipo de influência que sofreram após entrarem para os grupos
60
48
50
Mindelo
40 29
30 Praia
19
20 12
10 6 6
0
influências positivas Influências negativas Nenhuma influência
Confrontados com o balanço que fazem das suas vidas após entrarem para os grupos a
maioria respondeu ter sofrido influências negativas, um total de 77, responderam que suas
vidas sofreram influências negativas após entrarem para os grupos, essa percepção é mais
visível para os jovens da cidade da Praia 48 jovens partilham essa opinião e 29 no Mindelo, 25
acham que não sofreram nenhuma influencia 19 para o Mindelo e 6 para a Praia e 18 acham
que sofreram influências positivas, 12 para o Mindelo e 6 para a Praia.
38
40
33
30 27
22 Mindelo
20 Praia
10
0
Sim Não
Se correlacionamos o gostar dos grupos (gráfico 14) e sentirem felizes nos grupos,
podemos (Gráfico 36) tirar ilações que, acabar com os grupos gangues/thugues nas duas
cidades não é tarefa fácil, porque a maioria dos jovens gostam dos seus grupos e sentem
felizes, mesmo percepcionando uma influência negativa (gráfico 30) após entrarem para os
grupos a maioria sente feliz, um total 71 jovens dizem sentir-se feliz no seu grupo, sendo que
38 são de São Vicente e 33 para a Praia, 49 responderam não sentirem-se felizes nos seus
grupos 22 para Mindelo e 27 para a Praia.
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Quanto as famílias, estas devem começar a transmitir valores aos filhos desde de
pequenos, apelam mais atenção do pai a sua família combatendo a mono - parentalidade,
mais diálogo no seio da família, mais atenção aos comportamentos e relacionamentos dos
filhos, mais emprego as famílias, mais envolvimento das famílias na vida académica dos
filhos, apelam a mais amor no seio da famílias.
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Os jovens que participaram no estudo são na sua maioria jovens pobres e muito
pobres, então aceita-se a hipótese (9).
Verificou que cada vez mais cedo os jovens estão a consumir drogas, visto que os
resultados apontaram para uma média de idade dos 15 anos para a entrada dos jovens para
esses grupos, com maior incidência para a cidade da Praia, ressaltando que mais da metade
já consumia uma ou mais drogas antes de entrar para o grupo.
Foi exactamente nesta fase que muitos dos adolescentes pararam os estudos (ensino
secundário) visto que a grande maioria estão fora do sistema educativo, momento importante
para a entrada dos adolescentes para os grupos gangues/thugues, alias já Redy Lima no seu
estudo demonstrou que a escola tanto pode funcionar como um factor protector para o
consumo de drogas e a violência, como também, quando não corresponde as reais
expectativas dos alunos, ou quando não desenvolve uma verdade inclusão social, pode
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
funcionar como um motor para a vida das drogas e do crime, visto que muitos adolescentes
têm o primeiro contacto com as drogas e com os grupos ainda no sistema educativo, por isso
aceita-se a hipótese (11).
A influência do grupo foi um dos maiores factores de risco para a entrada dos jovens
para os grupos delinquentes, se correlacionamos a media de idade de entrada, o nível de
ensino que romperam os estudos, podemos ver que é na adolescência, como ficou retratada,
trata-se de uma fase em que os adolescentes são fortemente influenciados pelos pares e
também caracteriza-se por uma fase de muitas transformações, físicas, psicológicas e sociais
como frisou Blos (1967), conduzindo o adolescente para uma independência familiar, como
salientou Mahler (1973).
Os jovens da Praia revelaram uma percepção de exclusão social bastante alta do que
os do Mindelo, o que os leva também a percepcionar os grupos não como grupos de amigos e
de jovens mas sim como grupos de delinquentes e isso só poderia levar a sociedade a vê-los
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
como delinquentes e não como pessoas normais dai o elevado sentimento de exclusão, aceita-
se a hipótese (10).
A briga com os grupos rivais, foi considerado pelos jovens como o segundo acto de
violência mais frequente nos seus grupos e isso tem custado caro aos mesmos, constatando
frequentemente, vários acertos de contas, com mortes e muita violência, facto mais
frequente na cidade da Praia, tida como a mais insegura do país, mas Mindelo não fica a trás,
visto que os grupos estão aumentar, juntamente com elas vem a insegurança social, aumento
dos crimes, roubos entre outros. O grau de insegurança foi mais percepcionado para os jovens
da Praia, uma vez que revelaram sofrer muitas ameaças e estes perante essa percepção
tendem a unir mais e ficarem mais coesos, munindo cada vez mais com armas brancas e de
fogo para poder responder a essas ameaças.
Aceitamos a hipótese 4 (H4) que diz que, os jovens da cidade da Praia consomem mais
drogas ilícitas, comparados com os jovens da cidade do Mindelo visto que sendo o álcool a
droga mais consumida pelos jovens no Mindelo e na Praia mais a Padjinha, ficou provada que
as drogas ilícitas são mais usadas pelos da cidade da Praia do que os do Mindelo.
Falar em acabar com os grupos gangues/thugues é possível sim, mas não é tarefa
fácil, porque ainda temos uma alta taxa de desemprego e isso faz com que tenhamos muitos
jovens sem um projecto de vida e o mundo do crime e das drogas sem responsabilidades
aparentemente parece ser mais fácil para um jovem que vive na cidade do Mindelo e da
Praia. Precisamos combater o aumento do tráfico de drogas paralelamente a isso estaremos
também a combater o consumo dessas substâncias, apostar mais na promoção de valores no
seio da famílias, que consideramos ser um dos factores mais determinantes para essa
problemática, que não vamos atribuir responsabilidades só a pobreza, porque podemos
encontrar muitos jovens que vivem no limiar da pobreza, mas que mesmo assim não estão no
mundo do crime, a perda de valores morais no seio das famílias, a monoparentalidade, o não
comprometimento de papéis, a falta de dialogo no seio familiar, falta de afecto e atenção,
acabam por ter um peso maior que a pobreza.
Por outro lado temos jovens provenientes de famílias com bons recursos financeiros
mas que estão no mundo do crime, falta essencialmente, a atenção, dialogo, afecto,
orientação familiar, mais coesão no seio da famílias, para que os jovens sintam que fazem
parte dessa unidade social e não vão a procura de outros grupos como os grupos delinquentes
a procura de identificação e pertença.
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Bibliografia
Castel, R. (2006). Classes Sociais, Desigualdades Sociais, Exclusão em Casimiro Balsa, Lindo,
M.; Wessler, B.; & Marc-Henrry, Soulet (org), conceitos e dimensões da pobreza e da
exclusão social: uma abordagem transversão, Ijuí e Lisboa, Editora Unijui e CEOS, pp. 63.77
Ministério da Justiça e UNDOC (2007). Estudo sobre crime e corrupção em Cabo Verde,
disponível em http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/dfa/Study-crime-
corruption-portuguesa.pdf
Papalia, D.E.; Olds, S.W.; Feldman, T.D. (2005). O Mundo da Criança. 8ª Edição. Lisboa: Mc
Graw Hill (320-345).
Sangreman, C. (2005). A Exclusão Social Em Cabo Verde. Uma Abordagem Preliminar Lisboa
e Praia: ACEP – Associação para a Cooperação Entre os Povos (Portugal) e Plataforma das
ONGs (Cabo Verde).
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Anexos
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Anexo 1
Instruções
1. Sexo:
1. Masculino 2. Feminino
2. Idade: ___ Anos
3. Cidade:
1. Mindelo 2. Praia
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
1) Normal
2) Medo
3) Inseguro
4) Desconfiança
5) Outra. Qual: _________
20. Qual é o sentimento da sua família por fazeres parte de um grupo gangue?
1) Vergonha
2) Medo
3) Insegurança
4) Normal
5) Outra. Qual: _________
21. Como elemento de um grupo gangue sente inserido na sua sociedade?
1. Sim 2. Não
22. Sendo elemento de um grupo gangue, como acha que as pessoas da sociedade o vêem?
1) Como uma pessoa normal
2) Como um delinquente/agressivo
3) Como um toxicodependente
4) Pessoa sem princípios/ sem educação
5) Outra: Qual? _________
23. Quando estas no seu grupo com sentes?
1) Mais forte
2) Normal
3) Triste
4) Mais alegre
5) Superior às outras pessoas
6) Outra: Qual? _________
24. Quando estas só na sua comunidade como sente?
1) Isolado
2) Excluído
3) Inserido
4) Normal
5) Medo
6) Inseguro
7) Outra: Qual? _________
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
28. Normalmente consome outras drogas (padjinha, pedra/crack, heroína, cocaína) no seu
grupo?
1) Nunca
2) As vezes
3) Muitas vezes
29. Consumia álcool/outras drogas antes de entrar para o seu grupo?
1. Sim 2. Não
30. Se sim qual droga consumia?
1) Álcool
2) Padjinha
3) Pedra/crack
4) Heroína
5) Cocaína
6) Outras? __________________
31. Para comprar álcool ou outras drogas alguma vez já?
1) Agrediu
2) Assaltou
3) Pediu dinheiro há um amigo/familiar
4) Emprestou dinheiro
5) Trabalhou para adquirir o seu próprio dinheiro
6) Vendeu algum objecto próprio
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
2) Roubos
3) Homicídios
4) Nenhum acto de violência
5) Vandalismo (destruição de praças, habitações, instituições publicas e
privadas)
6) Brigas com outros grupos de gangue
7) Agressão física a outras pessoas
8) Agressão verbal a outras pessoas
9) Violência sexual
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo
Muito Obrigado
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