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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

ÌNDICE

INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------------------------------------3
ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL ----------------------------------------------------------------------------5
1.1 Da Adolescência Ao Mundo Das Drogas e Da Delinquência Juvenil ----------------------------5
1.2 Criminalização Das Drogas e a Delinquência Juvenil ---------------------------------------------7
II. DELINQUENCIA JUVENIL/QUADRO CONCEPTUAL ---------------------------------------------------- 10
2.1. Perspectiva Psicossocial ---------------------------------------------------------------------------- 11
2.2 Perspectiva Criminológica -------------------------------------------------------------------------- 12
2.3 Perspectiva Desenvolvimental --------------------------------------------------------------------- 13
2.4 Perspectiva Clínica ----------------------------------------------------------------------------------- 14
2.5 Delinquência Juvenil/ Modelos Teóricos Explicativos ------------------------------------------ 17
III- FACTORES PREDISPONENTES DA DELINQUÊNCIA JUVENIL EM CABO VERDE -------------------- 19
3.1 Subcultura de Violência ----------------------------------------------------------------------------- 20
3.2 Privação ------------------------------------------------------------------------------------------------ 20
3.3Vulnerabilidade Familiar ----------------------------------------------------------------------------- 21
3.4 Exclusão Social ---------------------------------------------------------------------------------------- 22
3.5 Ambivalência De Referências De Conduta e Convivência Sociais ---------------------------- 23
3.6 Défice de Autoridade -------------------------------------------------------------------------------- 24
3.7 Défice de Protecção ---------------------------------------------------------------------------------- 24
3.8 Atributos de Personalidade ------------------------------------------------------------------------- 25
IV. FACTORES PSICOSSOCIAIS INERENTES AO CONSUMO DE DROGAS E O AUMENTO DA
DELINQUÊNCIA JUVENIL ------------------------------------------------------------------------------------- 26
4.1 Papel das Drogas no Aumento da Delinquência Juvenil---------------------------------------- 26
4.2 Papel da Família no Aumento da Delinquência Juvenil ---------------------------------------- 30
4.2.1Dinâmica Familiar da Delinquência ----------------------------------------------------------- 31
4.3 Escola Como Factor Promotor da Delinquência Juvenil --------------------------------------- 32
4.4. O Desemprego como um dos fenómenos que agrava a Situação da delinquência juvenil
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 34
4.5 Factores Da Delinquência Juvenil Ligados a Urbanização ------------------------------------- 35
4.5.1 Da Cultura de Rua aos Grupos Gangues ------------------------------------------------------ 36
V. GRUPOS GANGUES OU THUGUES COMO SURGIRAM ------------------------------------------------- 38
5.1 Mecanismos Psicossociais que Actuam nos Grupos Delinquentes ---------------------------- 39
5.2 Formação dos Grupos Gangues na Sociedade Cabo-verdiana --------------------------------- 40
5.3 Causas Ligadas Ao Surgimento Dos Grupos Gangues/Thugues Em Cabo Verde ------------ 42
5.3.1.Desigualdade Social, Pobreza Urbana e Jovens -------------------------------------------- 43

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5.3.2 Aumento do Consumo e Tráfico de Drogas -------------------------------------------------- 45


5.4 Tipologia dos Grupos Gangues/Thugues ---------------------------------------------------------- 47
5.5 Razões Que Levam Os Jovens a Integrarem Nos Grupos Gangues/Thugues ---------------- 48
5.6 Tipos de Violência/ Presentes Nos Grupos Gangues/Thugues -------------------------------- 49
VI- CORPO EMPIRÍCO ----------------------------------------------------------------------------------------- 52
1.OBJECTIVOS ---------------------------------------------------------------------------------------------- 52
1.1 Objectivo Geral------------------------------------------------------------------------------------- 52
1.2 Objectivos Específicos: --------------------------------------------------------------------------- 52
VII. METODOLOGIA ------------------------------------------------------------------------------------------- 53
1 Método e Instrumento ---------------------------------------------------------------------------------- 53
1.2 Hipóteses ----------------------------------------------------------------------------------------------- 53
1.3 Participantes ------------------------------------------------------------------------------------------ 54
1.4 Critérios da amostragem ---------------------------------------------------------------------------- 54
1.5 Procedimento ----------------------------------------------------------------------------------------- 54
VIII RESULTADOS --------------------------------------------------------------------------------------------- 56
8.1 Características Sócio - Demográficas dos Participantes --------------------------------------- 56
IX DISCUSSÃO DOS RESULTADOS --------------------------------------------------------------------------- 84
X- Anexos ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 88
XI Bibliografia---------------------------------------------------------------Erro! Marcador não definido.

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INTRODUÇÃO

O aumento do consumo de drogas na camada juvenil, tem constituído uma


preocupação a nível mundial e igualmente em Cabo Verde, tendo em conta o impacto da
mesma no aumento da delinquência juvenil, aumento dos grupos gangues ou thugues e
consequentemente o aumento da mortalidade juvenil. Neste contexto, Cabo Verde
desenvolveu medidas, como a criação da Brigada Anti-Crime (BAC), para combater o aumento
da delinquência, visto que hoje, quem vive nas duas principais cidades do país, vivem
mergulhadas no medo e na insegurança de serem assaltadas ou agredidas.

A literatura apresenta o consumo de drogas, como um fenómeno multicausal e de


saúde pública, que envolve não só o próprio dependente, mas também a sua teia de
relacionamentos, acarretando diversos problemas e abalos nessas estruturas (Schenker &
Minayo, 2003; Pratta & Santos, 2006). Levando em conta que cada pessoa apresenta-se como
um ser essencialmente social, não há como não tentar compreender essa dinâmica histórico-
cultural e psicológica das relações desenvolvidas, para que realmente se possa ter uma
compreensão ampla e abrangente desse fenómeno (Ferreira & Filho 2007).

Entre as principais atribuições da família, destaca-se a capacidade de auto-regulação,


levando a uma responsabilidade de cuidar, atender as necessidades físicas e psicológicas dos
seus membros, fazer o controlo das normas e comportamentos que imperam na sociedade e
também proporcionar um ambiente de socialização primária aos seus indivíduos, sendo assim
o ambiente privilegiado para o fortalecimento das relações e desenvolvimento das suas
potencialidades de manutenção (Schenker & Minayo, 2003; Nuno-Gutiérrez e González-
Forteza, 2004; Serapione, 2005).

A forma como se dá a educação dos filhos e estilos parentais é um dos factores de


forte influência no clima emocional gerado dentro da família que no futuro, pode ser um
importante causador de crise (Schenker & Minayo, 2003; Pratta & Santos, 2006). Entre as
crises que as famílias contemporâneas estão expostas, esta relacionada com as drogas.

A literatura aponta que factores gerados pela família podem desencadear tanto,
comportamentos de prevenção do uso de drogas por seus membros, como para o seu uso
efectivo (Schenker & Minayo, 2003; Pratta & Santos, 2006). A qualidade dos vínculos e sua
força, relações positivas, declaração de limites e regras claras, dispêndio de apoio e real
comunicação entre os membros são factores, que podem actuar, como factores preventivos.
No entanto, Schenker & Minayo, 2003 pontuam que do lado oposto estão os factores que
podem colaborar para o consumo de drogas, rompimento familiar.

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Com essa brecha na estrutura familiar, cria espaço para a vida em grupos, de acordo
com Osório (2000), o novo século, diferente que o anterior, passará a pautar-se pela
grupalidade, sendo o grande desafio aprender a conviver em grupo. Nesse contexto também
os jovens começam a privilegiar a vida em grupos e o fenómeno de pressão grupal passa a ter
um papel decisivo, na vida dos jovens em sociedade.

Outros fenómenos como o desemprego juvenil, o abandono escolar, a urbanização


desorganizada, características de personalidade, como a personalidade anti-social entre
outras e características psicológicas, como a fraca capacidade de resiliência, são outros
factores que estão por detrás do aumento do consumo de drogas e a entrada dos jovens para
os determinados grupos delinquentes (gangues ou thugues).

Com o intuito de compreender melhor a relação que existe entre o consumo de drogas
e o aumento da delinquência juvenil, nas duas principais cidade do país, foi realizado um
inquérito, com um conjunto de perguntas abertas e fechadas, que foram aplicados a 120
jovens que estão nos grupos denominados thugues na cidade da Praia e gangues na cidade do
Mindelo.

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ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL

1.1 Da Adolescência Ao Mundo Das Drogas e Da Delinquência


Juvenil

A adolescência, como todos os outros estádios do desenvolvimento humano, são


marcadas por verdadeiras mudanças tanto a nível do funcionamento biológico, psicólogo e
social do indivíduo.

Mas de uma forma particular a todos os estádios, a adolescência, é marcada por


transformações biopsico-sociais no indivíduo; a separação e a individuação; os lutos das
imagens parentais; os processos de identificação e identidade; a autonomia e a dependência;
o narcisismo primário, e outras questões relacionadas com a auto-estima; bem como, os
processos de dor mental e de intolerância à frustração, marcam essa fase da vida do
adolescente.

Na perspectiva de Blos (1967), os processos de crescimento inerentes à adolescência


apresentam aspecto, que descreve como ‘o segundo processo de individuação’, tendo como
referência a sistemática de Mahler (1973). O adolescente é conduzido à independência
familiar e ao abandono dos laços objectais infantis (perda do eu parental), para assim aceder
à vida adulta. Esta reestruturação implica novos investimentos que contribuem para a
formação do carácter, designadamente, novas atitudes e opiniões, bem como, manifestações
que se podem reflectir ao nível do protesto familiar, do uso de vestuário extravagante, das
paixões e idealizações platónicas, ou do início de uma fase de criação artística ou literária.

Se por um lado, todo este processo faz parte de uma evolução indispensável, por
outro, a revolta a ele inerente, pode atingir casos extremos, tais como a delinquência e a
toxicodependência, que comprometem o processo individual de maturação. Bowlby (1969)
argumenta que na adolescência não há uma desvinculação aos pais, mas antes um
crescimento (muito embora de forma menos intensa que na infância) dessa vinculação.
Porém, segundo este autor, a vinculação deve ser entendida como um laço afectivo
persistente que promove os comportamentos de autonomia no adolescente e não a sua
dependência. De acordo com esta perspectiva, torna-se assim necessária a compreensão dos
laços familiares, bem como a transformação dessas mesmas relações, para poder
compreender toda essa dinâmica de transformações que decorrem na fase da adolescência.

Numa posição que parece integrar as abordagens assumidas por Blos e Bowlby, Amaral
Dias e Paixão (1986), afirmaram que a adolescência constitui uma fase verdadeiramente

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organizadora do psiquismo, vivendo o adolescente numa transição entre a estrutura relacional


sincronizada com o meio ambiente (particularmente com o meio familiar) e um estado
estrutural caracterizado por uma diacronia relacional que marca a individualização do self
adulto. Trata-se pois de um período em que se realiza um desinvestimento nos laços de
dependência narcísica que outrora tinham unido a criança aos seus pais, realizando-se o luto
das imagens parentais (Amaral Dias, 1991). Nesta fase do desenvolvimento, o luto abre assim
possibilidade ao adolescente de estar só e de organizar de forma positiva os processos de
individuação/separação (Amaral Dias, 1988). Registando assim nessa fase, uma maior
necessidade de pertencer a outros grupos sociais, fora do ambiente familiar, como os grupos
pares, vontade de frequentar outros ambientes, como bares, clubes desportivos, associações,
praças entre outros espaços públicos, que tanto podem contribuir para o seu crescimento e
autonomia como também podem funcionar como espaços desviantes para o adolescente. Por
isso cabe a cada adolescente desenvolver a sua resiliência psicológica, para assim estar
melhor preparado para dar respostas positivas aos estímulos do meio externo.

Dado a todo o dinamismo e todas as transformações psicossociais que surgem nesse


estádio, muitos adolescentes acabam por conseguir organizar o psiquismo de forma a adaptar
as novas exigências pessoais e sociais, mas se por um lado há adolescentes que ultrapassam
com sucesso essa fase, outros nem por isso, visto que, é exactamente neste estádio que
começam a surgir novas problemáticas na vida do adolescente, como é o caso das
toxicodependências, entrada para o mundo do crime, a delinquência entre outras
problemáticas, que de igual modo, acabam por alterar o funcionamento psicossocial do
adolescente.

Foram desenvolvidas investigações com adolescentes toxicodependentes, conforme


demonstra a visão concebida por (Morel et al., 1998), evidenciaram nestes um estado psico-
afectivo e mental imaturo, sem modelos de identificação satisfatórios que permitissem
enfrentar conflitos emocionais. Ao invés, a construção de um ‘eu’, é elaborada através da não
existência do processo de alteridade, pelo que, consequentemente, emergem importantes
falhas narcísicas, sentimentos de vazio, desvalorização pessoal e angústia. A droga surge
assim como um ‘falso escudo protector contra o sofrimento’ que permite ao
toxicodependente iludir os aspectos das suas relações com a vida ou usando-se dela como
forma de mediação nas suas relações com os outros, já que o uso das drogas é também
sintoma de dificuldades de relação.

Depois do enquadramento da fase de desenvolvimento, que caracteriza a


adolescência e de termos abordado as principais mudanças psicossociais, que se dão neste
estádio de desenvolvimento, passamos agora, para a análise da criminalização das drogas e a
delinquência juvenil, duas problemáticas que afectam a camada juvenil essencialmente.

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1.2 Criminalização Das Drogas e a Delinquência Juvenil

Por razões epidemiológicas, políticas, económicas e sociais, o consumo de substâncias


psicoactivas tornou-se o foco de atenção mundial, dada a dimensão que adquiriu seu impacto
na sociedade moderna. Estima-se que mais de 200 milhões de pessoas no mundo consumem
alguma droga ilícita, 1,1 bilião fumam cigarros e cerca de 2 biliões consomem bebidas
alcoólicas. A cannabis é a droga ilícita de escolha em muitos países, e a disseminação das
drogas injectáveis, aumentou o número de usuários de drogas injectáveis (UDI)
desencadeando a epidemia do HIV/SIDA em vários países em todas as regiões do globo.

De igual modo, o consumo das drogas ilícitas e lícitas, como o caso do álcool está
associado, com uma ampla variedade de problemas de saúde e sociais, como mortes em
acidentes, homicídios, suicídio, violência juvenil, doenças crónicas entre outras.

Com todas as implicações psicossociais, que o consumo das drogas ilícitas e lícitas
desencadeia no indivíduo consumidor em particular e na sociedade no geral, ganhou grandes
repercussões, levando assim a ser um dos temas de maior interesse na actualidade. Quando se
discute a criminalidade entre jovens, refere-se ao impacto que a criminalização das drogas
produz nos índices de delinquência juvenil e especialmente na formulação de políticas de
controlo social para esta problemática.

Na perspectiva de alguns autores as drogas e delinquência juvenil são questões que


normalmente são englobadas no mesmo saco, sem que se saiba com clareza qual é a relação
entre elas. O que levou alguns investigadores a desenvolver estudos, como forma de
compreender melhor as relações entre as drogas e a delinquência juvenil. Posto esta
inquietação vamos apresentar um estudo desevolvido por investigadores argentinos, com o
objectivo de estudar e compreender melhor essa relação, para dar melhores respostas as
politicas de intervenção na camada juvenil.

Para estabelecer os padrões de uso de drogas entre crianças e adolescentes em


conflito com a lei e entender as causas e consequências do fenômeno, um grupo de
integrantes do Programa de Assistência e Pesquisa sobre Dependência da Secretaria Nacional
da Infância, Adolescência e Família da Argentina, realizaram o "Estudo sobre perfis sociais e
padrões de consumo de substâncias psicoativas em adolescentes residentes em dispositivos de
regime fechado".

De acordo com a psicóloga Fabiana Cantero e o sociólogo Fernando Veneziale, autores


do estudo, não se verificou uma relação linear entre o consumo de substâncias psicoativas e
os actos de transgressão da lei. Mas isto não significa que não foram detectados casos em que

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foram cometidos delitos sob o efeito de substâncias psicoativas, mas que não se pode afirmar,
segundo os autores, que haja uma relação direta entre o uso de drogas com o momento que
antecede os delitos.

Os pesquisadores destacaram outros aspectos como determinantes mais significativos


do comportamento delitivo, como um profundo quadro de exclusão e a falta de oportunidades
no ambiente onde esses jovens crescem e vivem. Baixa escolaridade, desemprego, o mercado
laboral, quando existe, é precário e informal, reincidências no sistema correcional e
experiências infantis e juvenis marcadas pela vida nas ruas, pela pobreza e pela violência, são
factores de risco, para que germinem comportamentos delitivos, como roubos e furtos, ou
atitudes transgressoras, como o uso de substâncias psicoativas legais e ilegais.

De acordo com os dados recolhidos, não se constata uma associação directa entre o
consumo de drogas e o delito, entendendo esse consumo como o agente precipitante
que empurra o adolescente para o crime. O que se observa é que, em muitos casos, o uso de
drogas, seja uma característica que acompanhe o quadro de profunda exclusão. É certo que a
situação de vulnerabilidade por si só, não é a causa da delinquência, mas temos que
considerar o impacto que este processo tem, tanto no plano subjetivo como no plano objetivo
em vidas de jovens que ainda estão em busca de formação da sua identidade.

Ainda consoante os resultados do estudo demostra que, em relação as drogas que


mais remetem os jovens a comportamentos delituosos é o “crack”, pelo seu efeito de curta
duração, o consumo do “crack” demanda reposição contínua da substância, e em
consequência, dos recursos financeiros para sua obtenção. Ou seja o “crack” veio mudar o
cenário do consumo de drogas a nível mundial, uma vez que trata-se de uma droga de efeitos
rápidos, implica a repetição de mais do que uma dose, e sendo uma droga mais cara, faz com
que o adolescente recorre a diversas maneiras de sustentar o vicío outrora causada pela
dependencia psiquíca e física, maneiras essas que passa pelo roubo e furto, e normalmente
fazem o uso da violência física, psicológica e verbal, para abordar as suas vitimas.

No ponto de vista defendida por estes dois investigadores argentinos, a droga não é a
primeira experiência que o adolescente ou jovem passa, quando entra no mundo da
criminalidade, mas factores como a privação parental, ou seja a ausência psicólogica dos
pais, crises conjugais dos pais como a monoparentalidade, falta de estímulos para convivência
familiar e entre irmãos, falta de motivação e interesse para os estudos, falta de diálogo e
de afectividade familiar, imposição arbitrária de autoridade, omissão, negligência, repúdio,
desprezo, preconceitos, discriminação, são alguns dos factores que geralmente antecedem ao
consumo de drogas e são factores de risco que levam os adolecentes e jovens a entrarem para
o mundo das drogas e consequentemente para o mundo do crime, leva-os a defender que não
existe uma relação tão linear entre o consumo de drogas e a delinquencia juvenil.

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Embora o cosumo abusivo do consumo de drogas esteja ligada ao aumento da


delinquência juvenil, não podemos ve-la de uma forma tão linear ignorarando os factores
acima referidos, mas sim desenvolver uma visão mais alargada dessa problemática e
trabalhar sobre estes factores que geralmente aparecem antes do consumo das drogas, caso
queiramos promover uma verdadeira cultura de paz, tolerancia, e dimininuir cada vez mais as
estatisticas de adolescentes e jovens que são mortos pelos companheiros e por conseguinte,
diminuir o numero de adolescentes e jovens que acabam por enverdar pelo mundo das drogas
e da criminalidad

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II. DELINQUENCIA JUVENIL/QUADRO


CONCEPTUAL
A delinquência juvenil é na, perspectiva de alguns autores, uma derivação de
constructos teórico-ideológicos e jurídicos e da associação entre pobreza, abandono,
incapacidade e práticas de delitos.

Os termos nem sempre estão bem explicitados, por um lado, devido à própria
complexidade dos fenómenos sociais, dificilmente captáveis em seu estado puro, desprovido
de subjectividades. Não por acaso, um mesmo aspecto da problemática social pode ser
percebido de ângulos completamente distintos, dependendo de quem esteja envolvido na sua
compreensão/análise, explicação/ explicitação. Por outro, a dificuldade em se chegar a um
quadro conceptual inequívoco pode estar, como observado por Volpi, correlacionada com a
“inexistência de parâmetros objectivos para medir a dimensão quantitativa real da chamada
delinquência juvenil”, levando, por vezes a “avaliações e opiniões impressionistas
inadequadas” (Volpi, 2002: 16).

Procurando superar essas dificuldades em termos de delimitação teórica - conceptual


e dos mecanismos de aferição do que seja delinquência juvenil, alguns autores passaram a
privilegiar um ou outro aspecto considerado mais elucidativo do conceito.

É o caso de Sabater Tomás, que, centrando-se na concepção jurídica da delinquência


juvenil, aponta dois critérios definidores: a prática de um acto descrito como delitivo e a
menoridade do sujeito (apud: Trindade, 2002: 38). Portanto, retira-se da chamada
delinquência juvenil a carga psicopatológica, passando a considerá-la em termos
exclusivamente jurídicos. Nesta base, a delinquência nasceria da situação do “menor” face à
lei; decorreria da transgressão da norma codificada.

Outros ainda entendem que na definição da delinquência juvenil deve-se incluir tanto
as condutas tipificadas nas leis penais quanto os comportamentos anormais, irregulares e
indesejáveis. Ou seja, a delinquência juvenil aparece como clara expressão do que se
convencionou chamar de conduta desviada, em que se incluem a conduta infraccional,
definida como aquela que atinge bens juridicamente garantidos, previamente definidos nas
leis penais, de acordo com os princípios da anterioridade e da legalidade (Trindade, 2002:
56), e condutas anti-sociais, definidas como aquelas que, não chegando a merecer inscrição
jurídica, traduzem comportamentos que transgridem as normas de convivência, causando

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danos a valores socialmente estabelecidos. Ambas constituiriam desvio em relação à norma: a


primeira, em relação à norma jurídica, a segunda, à social.

Esses diferentes pontos de vista, permitem-nos aferir o grau de complexidade da


problemática de delinquência juvenil e deixam claro que não existe uma forma única de
identificar os adolescentes e o acto infraccional.

A delinquência juvenil, trata-se de uma problemática, que preocupa todas as


sociedades do mundo, embora uma mais que outras, devido ao agravamento das questões
relacionadas, com a sua tipologia, manifestação e aos factores de risco, por isso várias são as
perspectivas que explicaram o conceito da delinquência em diferentes abordagens á
psicossocial, a criminal, a desenvolvimental e a clínica.

2.1. Perspectiva Psicossocial

Segundo essa abordagem os actos de violência devem ser vistos como actos sociais,
denominados de comportamentos sociais, distinguindo entre estes, por comportamentos
neutros, pro-sociais, associais e os anti-sociais, sendo que os dois últimos encontram-se os
comportamentos que são considerados comportamentos delinquentes, conforme a avaliação
da responsabilidade, levando em conta a intenção culpável.

Para essa abordagem um comportamento etiquetado negativo, é preciso que alguém,


no corpo social, o distingue como tal. Por conseguinte, tudo vai depender dos grupos, das
regiões em que os autores dos comportamentos se encontram.

Essa abordagem considera impossível, compreender a delinquência sem se referir a


sociedade em que ela existe, uma vez que é através da sociedade, das suas regras, das suas
normas e das suas leis que o acto delinquente é definido.

Nesta perspectiva surgiu varias teorias que tentaram tornar mais precisas as noções
de delinquência e de desvio. Neste sentido surgiu o esquema proposta por Kutchinsky (in
Robert, 1973) que pela sua estrutura, leva a considerar a delinquência não como uma
sequência lógica de desvio, mas como tendo com o desvio uma franja de intersecção, como
por exemplo alguns comportamentos repreensíveis pela lei, mas mesmo assim são praticados
pelos cidadãos, como é o caso de conduzir em excesso de velocidade ou a fraude fiscal.

A perspectiva psicossocial toma por fundamento que todo o acto delinquente, isto é,
contrário à norma legal ou sociológica, evolui no tempo e no espaço, ou seja um acto
reprovado numa sociedade não o é forçosamente noutra (por exemplo o consumo de drogas, a
interrupção voluntária da gravidez, a eutanásia, são condutas penalizadas em certos países ao

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passo que não o são noutras culturas). Neste sentido o desvio de um acto é avaliada conforme
o grupo social, religioso, cultural, étnico.

Por fim esta abordagem, consideram que os actores do sistema da reacção social
intervêm segundo lógicas que se aproximam mais da politica repressiva em vigor no país do
que propriamente da materialidade dos actos.

2.2 Perspectiva Criminológica

Nesta perspectiva, não só as leis mudam, e com ela a definição daquilo que é
considerado como interdito, mas também, como explicou Cusson (1990), a acção repressiva
do Estado intervêm na dinâmica do sistema do crime: quando os casos criminais se tornam
muito numerosos, desencadeiam-se no sistema penal um movimento de evacuação do excesso
de casos.

O sentido dado do acto pela sociedade tem portanto uma grande importância. O
contexto social e legal define a gravidade dos actos cometidos. Segundo essa perspectiva não
existe um critério claro e definitivo para estabelecer uma ordem de gravidade dos actos.
Assim, de um ponto de vista estritamente legal, a gravidade do acto é específica em função
da pena potencial. Pelo contrário a opinião pública pode estabelecer uma classificação muito
diferente da classificação legal.

Este fenómeno de discrepância entre a lei e a opinião pública está bem definido e foi
sublinhado por vários autores. Como por exemplo Szabo (1973) escreve que «o roubo de um
banco suscita reacções quando é acompanhado de violência. Ao passo que o furto de
mercadorias é considerado mais uma “indelicadeza” do que um delito real em situação a
sociedade.» Um estudo mais recente (1980), conduzido em Itália por Giasanti e Maggioni, leva
a mesma conclusão (Robert e Van Outrite, 1993; p. 248): de uma forma geral, há uma certa
discordância entre as sensações prevista institucionalmente pelas leis penais e as exigências e
atitudes difundidas na opinião pública.

Essa abordagem vem demonstrar que se basearmos unicamente nas informações


oficiais é largamente insuficiente, oferecendo uma visão distorcida da realidade. Por
conseguinte para compreender as pessoas que se tornam actores de delinquência, devemos
levar em conta, um conjunto de elementos fornecidos por todos os actores da cena
criminológica.

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2.3 Perspectiva Desenvolvimental

Segundo a perspectiva desenvolvimental, uma vez que o acto de delinquência surge


num determinado momento da vida, é preciso compreende-lo na sua génese. Para
compreender o acto delinquente, é necessário encarar dois pontos de vista, o da
macrogénese e o da microgénese.

A macrogénese considera o conjunto da vida do indivíduo antes da passagem ao acto,


aqui tentamos identificar os mecanismos que, a longo prazo, levaram á passagem ao acto. A
microgénese interessa-se pela sucessão das fases antes e em torno do acto de delinquência.
São os acontecimentos e os mecanismos na periferia imediata da passagem ao acto.

A génese da socialização terá um lugar importante na tentativa de compreensão dos


actos delinquentes. O processo de socialização age ao longo da vida, mas é particularmente
importante durante a infância e sobretudo durante a adolescência. Enquanto criança os pais
são as pessoas de referência, para ela, quando vão para escola apreendem a conviver com os
seus pares, mas o adulto continua a ser uma referência central. Somente na adolescência se
operará progressivamente um deslizamento em direcção ao grupo de pares, se torna o lugar
regido por determinadas regras, no qual o adolescente apreende a gerir situações e relações
que irá reencontrar ao longo da sua vida.

Quando analisamos a trajectória de vida dos delinquentes, apercebemo-nos


frequentemente de diversos insucessos ou “falhanços” surgiram no processo de socialização.
O indivíduo pode ter permanecido num estádio particularmente egocêntrico. Esta perspectiva
tenta compreender os mecanismos de socialização-associalização. A associalização provoca
processos de marginalização e de exclusão, que por sua vez fazem aumentar a associablidade.
É por isso que um acto delinquente pode por exemplo explicar-se por um fenómeno de
exclusão, a qual produzirá depois a delinquência.

As trajectórias delinquentes podem ser muito diferentes. Muitos indivíduos, cometem


actos delinquentes na adolescência, alguns, uma vez saídos da adolescência, não tem uma
carreira delinquente na idade adulta; outros tornam-se delinquentes apenas na idade adulta.

Essa abordagem acaba por demonstrar, que o processo desenvolvimental, tem um


papel extremamente importante na vida do indivíduo e a sua entrada para o mundo do crime.

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2.4 Perspectiva Clínica

Por fim temos a perspectiva clínica que, trata-se acima de tudo de compreender a
pessoa no seu estado de funcionamento interno. Esta perspectiva, que integra tanto os
factores familiares como os individuais, permite chegar a uma reflexão sobre os componentes
possíveis das personalidades delinquentes.

Para ter do individuo uma visão a mais complexa possível, a perspectiva clínica tenta
colocar-se em diferentes pontos de visto, todos complementares, como por exemplo: história
de coorte de nascimento (ou geração), que consiste em analisar os laços que unem as pessoas
da mesma geração do individuo; a história familiar inter-geracional (dos avós aos netos)
procurar os padrões e os ciclos; história individual (historia de vida), examinar o passado do
indivíduo e os projectos para o futuro. Os defensores dessa abordagem, consideram o
indivíduo na sua unicidade mas não se limita a simples observação.

A abordagem clínica, permitiu estabelecer, quadros clínicos clássicos de delinquência


e criminalidade, alarga a compreensão do sujeito, permitiu ainda ter uma visão psicossocial
que integra numa análise da família, do sistema de reacção social, do sistema jurídico e
repressivo.

Numa visão mais holística podemos ver a complexidade da delinquência juvenil, por
isso para ter uma visão mais clara e real dessa problemática, devemos considerar
determinadas questões chaves, propostas pelas diferentes abordagens, como é o caso do acto
delinquente em si, o legal e o ilegal, questões culturais, os acontecimentos de vida do
individuo antes e depois do acto delinquente, o ambiente cultural onde esse acto é
desenvolvido, a própria historia de vida do individuo, suas relações intra e interpessoais, para
assim poder, analisar da melhor forma, a vida de um individuo visto como um delinquente.

Analisando as diferentes abordagens da delinquência juvenil, levanta-se a questão


quando pensamos na abordagem clínica, que é a seguinte; existe uma ou várias
personalidades delinquentes ou criminosas? Vários foram os autores que estudaram essa
questão, entre estes apresentamos a posição defendida por Pinatel em (1963) demonstrando
também que Yochelson e Samenow mais tarde também em (1976) nos seus estudos deram
muita atenção no estudo dessa questão principalmente, no que toca ao estilo de vida do
criminoso e das principais características do seu modo de pensar, assim estes dois autores
destacaram o sentido de poder, o pensamento voltado para a acção, a propensão para a
cólera, destacaram ainda as distorções cognitivas e os erros do pensamento, que levam os
criminosos a passar ao acto de uma forma premeditada ou impulsiva.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Segundo a abordagem estudada por Pinatel, (1963) sugere a existência de um núcleo


central da personalidade delinquente ou criminosa e são idênticos em todos os delinquentes
mais perigosos, ou seja os denominados de delinquentes ou criminosos de carreira.

Pinatel desenhou quatro traços nos delinquentes ou criminosos de carreira, que faz com
que desencadeiam acções delinquentes, que são as seguintes;

 Egocentrismo; caracterizada pelo modo de perceber o mundo em função dos seus


próprios interesses, levando estes indivíduos a ter uma incapacidade em ver e aceitar o ponto
de vista do outro, esta incapacidade de colocar ou ver a opinião do outro foi apontada pelos
clínicos como uma indiferença quanto às consequências dos actos para as vítimas e quanto ao
julgamento dos outros sobre os seus actos. O delinquente ao avaliar tudo em relação a si
mesmo, sente fortemente a frustração e passa ao acto sem se interrogar o seu próprio
comportamento.
 Labilidade; a labilidade cobre a inconsistência na adaptação às diversas situações.
Trata-se de uma instabilidade que se nota simultaneamente nas reacções emocionais e nas
escolhas do comportamento. O delinquente não mede as consequências do seu
comportamento e age a seu modo, sem ter em conta o passado e o futuro. Não levam em
conta as ameaças das sanções, não tem uma linha de conduta estável na sua vida.
 Agressividade; o delinquente tem tendência a agir e a reagir com violência. Face as
frustrações, bem como para atingir os fins, recorre a força e afasta os obstáculos sem se
preocupar com o mal que pode fazer.
 Indiferença afectiva; o delinquente não sente simpatia pelos outros e é insensível ao
sofrimento. Possui uma incapacidade de estabelecer vínculos afectivos, ligada a carências
afectivas, conduzem-no a frieza na realidade dos actos. É por isso que são capazes de tirar a
vida do outro, ou então agredir de forma agressiva sem receio e arrependimento.

No entanto esta abordagem apresentada por Pinatel foi bastante contestada, segundo
alguns autores, trata-se de uma abordagem puramente baseada na visão psiquiátrica,
bastante redutor, destacando uma visão bastante estática da personalidade do delinquente,
ou seja, é como se o delinquente já nascesse com essas características e as vai manter para o
resto da vida, conforme destacou Debuyst, (1987).

Anos mais tarde Favard (1991) veio clarificar a teoria de Pinatel, nos estudos que ele
realizou com aplicação de testes de personalidade e métodos estatísticos avançados, veio
confirmar a existência das características da personalidade criminosa evidenciadas por
Pinatel, sob a forma de um núcleo da personalidade criminosa, embora veio salientar que
esses traços se estruturam em uma única estrutura e não em quatro estruturas diferentes
conforme defendia Pinatel. No mesmo ano ou seja em 1991 um outro autor chamado de Le
Blanc, veio introduzir duas modificações importantes no campo da personalidade delinquente
e criminosa. Por um lado, afirma que a delinquência não é a mesma em todos os
delinquentes, ao elaborar uma tipologia de delinquentes, pretendeu sublinhar o

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

desenvolvimento da personalidade delinquente através da infância e da adolescência. Por


outro lado, reorganiza a teoria de Pinatel, para dela fazer uma teoria mais organizada e
dinâmica da personalidade dos delinquentes.

Le Blanc retomou a teoria da personalidade do delinquente anteriormente apresentada


por Pinatel, reorganizando os diferentes traços, para os introduzir numa perspectiva
desenvolvimental, uma vez que uma das limitações encontradas na abordagem de Pinatel foi
o facto de este apresentar os traços da personalidade delinquente como sendo estáticos. Ele
veio propor uma visão muito mais dinâmica do que a de Pinatel, definindo não uma
personalidade criminosa, mas características das personalidades delinquentes.

Segundo essa nova reorganização proposta por Le Blanc a personalidade criminosa já não
seria única, remeteria por um conjunto de três elementos dinâmicos; o enraizamento
criminoso, dissocialidade que perdura e um egocentrismo exacerbado.

 Enraizamento criminoso; nesta instância dois processos fundamentais suportam o


desenvolvimento da actividade criminosa, que seriam a activação e o agravamento da
delinquência. Apresentando a activação de várias formas; uma activação precoce dos actos
delinquentes, uma activação brutal e uma activação diversificada, sendo que essa última é a
via mais crimonogénea, pois está na base da construção de uma delinquência crónica. Já o
agravamento da actividade criminosa demonstrou existir cinco estádios de agravamento, cada
um característico de um período de idade, de um tipo de delito, e de um nível de gravidade
particular. Estes estádios são o aparecimento (o início das actividades delituosas no decurso
da latência, actividades frequentemente pouco graves como pequenos furtos); a exploração
(diversificação dos actos); a explosão (aumento do número de actos que tomam então um
cariz nitidamente mais grave); a conflagração (organização dos actos que tomam um cariz
mais ou menos definido) e o transbordamento (nesta estádio o individuo não pode exercer
qualquer controlo, trata-se de uma delinquência compulsiva). Contudo esses estádios não
obedecem uma progressão uniforme o que levou Le Blanc a afirmar que existe um verdadeiro
processo de desenvolvimento que corre o risco de perdurar, de se diversificar e de se acelerar
se tem início precoce. E que quando desencadeia, segue uma sucessão de estádios de
aumento da gravidade.

 Dissocialidade; segundo este autor trata-se de um modo de estar na sociedade ou


melhor dizendo, um modo de estar «ao lado» da sociedade, traduzindo assim na redução da
sociabilidade, da implicação na vida social, da integração social bem como a uma
impossibilidade de aceitar as normas sociais. Muitos delinquentes desenvolveram uma
socialização não completa totalmente. Portanto os delinquentes estão desinseridos
socialmente, notando um enfraquecimento marcado da sua capacidade de se ligar ao meio
que os rodeia, não podendo por conseguinte desenvolver ligações significativas com a
sociedade. Ainda segundo Le Blanc, outros factores de risco podem favorecer a dissocialidade
como, o meio de pares (devido a presença de outras condutas marginais), a escola (quando

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

ela funciona como um meio de disfuncionalidade) o meio familiar (quando a socialização que
gera é deficiente) e o meio socioeconómico de origem.

 Egocentrismo; para Le Blanc, trata-se essencialmente de uma dificuldade em sentir


empatia por outrem, de uma incapacidade de entrar em ressonância com os outros, mas
também de um grande isolamento, fazendo o indivíduo a agir unicamente segundo a sua
lógica pessoal, levando assim a uma ligação inter-humana degrada, constituindo num
trampolim para os comportamentos delinquentes. Pinatel concebia o egocentrismo numa
visão puramente descritiva, já na visão de Le Blanc veio integrar vários elementos como o
fruto de um processo criminógeno, mas egocentrismo parece ser o núcleo de personalidade
que estabelecerá a ligação entre a personalidade delinquente e a diversidade das carreiras
delinquentes.

A abordagem de Le Blanc, foi assim considerada uma das melhores visões da


personalidade delinquente, visto que, tem a vantagem de ser simultaneamente psicológica e
centrada na análise, por intermédio de toda a fonte de informação utilizável como dossiers,
inquéritos, testemunhos e auto-confissão, dos actos delinquentes, da sua gravidade, da sua
precocidade, da sua quantidade e por outro lado por valorizar também os elementos
familiares e sociais que constituem o terreno fértil de fixação e a oferta de oportunidades
criminosas.

2.5 Delinquência Juvenil/ Modelos Teóricos Explicativos

A evolução do quadro teórico-explicativo da chamada delinquência juvenil tem sido


no sentido de se suplantar a tradicional polarização indivíduo e sociedade e instaurar um novo
modelo tendente a examinar os efeitos simultâneos das variáveis individuais e contextuais,
analisar os micro e macroprocessos, recobrindo um universo holístico e multivariado de
factores. Ou seja, para muitos autores, o que se impõe averiguar é como “o delito é
produzido no contexto económico, social e cultural e como ele se apresenta no imaginário da
sociedade” (Volpi, 2001: 12 Cadernos).

No campo teórico, parece dado assente que os factores predisponentes da


delinquência juvenil não podem ser devidamente identificados e ponderados se vistos de
forma linear, com base na tradicional polarização indivíduo-delinquente e sociedade-vítima.
Ou seja, o que se nota é que o acto infraccional, tipificador do chamado comportamento anti-
social, não é redutível a um único eixo de explicações. Grosso-modo, na sua origem
encontram-se múltiplos factores que interagem diferentemente sobre os indivíduos,
afectando o seu ser e redefinindo o seu lugar na sociedade. Grosso-modo, na identificação

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

dos factores predisponentes à infracção praticada por jovens, perfilam-se as seguintes linhas
de abordagem:

 Enfoque estrutural, que se centra nas condições sociais, concebe a delinquência


como: desencadeada por factores sociais, em associação com factores situacionais e pessoais.
Neste tipo de abordagem, a prática do acto infraccional é, via de regra, imputada à
deficiente supervisão e à ruptura dos controles institucionais convencionais. Assim, ante o
recuo dos agentes e entidades e num quadro de desorganização social, os padrões criminais
substituiriam os convencionais.

 Enfoque sociopsicológico, que faz alusão tanto ao controle social quanto às questões
de cunho individual, como a auto-estima, e à influência do grupo de jovens sobre o
comportamento infractor. Como observado por Schoemaker (Apud: Assis e Souza, 1999: 132),
neste tipo de abordagem, a delinquência é associada a problemas de vinculação social do
jovem a instituições, como a família, a escola, as igrejas, que teriam por função formar ou
adaptar o indivíduo às normas sociais. De igual modo, esse enfoque entende que a visão que o
jovem tem de si mesmo, aliada à influência do meio, constituem factor importante a ser
considerado na etiologia da delinquência.

 Enfoque individual, privilegiando os mecanismos internos dos indivíduos, entende


que os atributos de personalidade são chaves para o entendimento se considerados, como
resultantes das experiências vividas pelo sujeito durante sua formação.
Partindo destes diferentes modelos explicativos, levanta-se a questão, podemos predizer
quem se tornará um delinquente juvenil? Alguns estudos sugerem uma influência genética, na
base da delinquência juvenil, mas isto é relativamente pouco importante em comparação com
factores como o estilo de práticas educativas, a atmosfera familiar e o estatuto sócio
económico, mas contudo há que salientar que o risco é muito maior quando as influências se
combinam.
Após realizarmos uma análise teórica detalhada da delinquência juvenil, partindo do
ponto de vista de diferentes autores, abordagens e enforques passamos de seguida, a
apresentar uma análise telhada da situação da delinquência juvenil em Cabo Verde, através
dos resultados do estudo desenvolvido pelo Ministério da Justiça Cabo-verdiana, com os
jovens em conflitos com a lei em Cabo Verde.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

III- FACTORES PREDISPONENTES DA


DELINQUÊNCIA JUVENIL EM CABO VERDE
Cabo Verde, de uns anos para cá, principalmente nos principais centros urbanos, as
cidades da Praia e do Mindelo, se torna normal ouvir alguém a dizer que foi vitima de um
«casi body» (assalto) com violência, ou então que na noite anterior a sua comunidade foi
invadida por um grupo de gangue rival do grupo da sua comunidade. Tornou frequente ouvir
uma criança de 10 anos a falar que faz parte do mini grupo gangue da sua comunidade, vários
familiares choram pela vida perdida do seu ente querido, ou seja um conjunto de factores
que nos leva a pensar e afirmar que a delinquência juvenil e o fenómeno de gangue/ thugue
mais ou menos organizado, fazem parte da nossa realidade.

Praticamente quase todas as comunidades da cidade do Mindelo, tem um grupo


gangue, começando dos mais antigos o gangue da Ribeira Bote mais conhecido pelo “gangue
Pintxá Andor”, o mais numeroso de todos o da Ribeira de Craquinha “gangue BBH” Bela Vista
o “Black Enemy” de Monte Sossego, gangue “Cova”, Ribeirinha “gangue RB” embora há quem
diga que mais comunidades têm os tais grupos gangues, estes são os mais temidos e mais
violentos, sendo que praticamente todos ou já assassinaram um elemento rival ou então já
foram alvo de perda de um elemento.

Mas como explicar o porquê de tanta violência? Os resultados obtidos no estudo


realizado pelo ministério da justiça de Cabo Verde, demonstra que a, rede causal da
delinquência juvenil em Cabo Verde é passível de múltiplas combinações e interacções, não
havendo condições objectivas para se determinar um factor preponderante válido para todos
os casos e situações. Nesta base, imperioso se torna enfatizar as conexões e os contextos
relacionais nos quais os dramas humanos se desenrolam. E o acto infraccional praticado pelos
jovens seria inadequadamente apreendido se desconectado desses dramas, retirado dos seus
condicionalismos e marcos estruturais, com destaque para a própria peculiaridade do sujeito
que infringe, para a sua família, locus privilegiado de pertença emocional e matriz de
identidade, a escola, instância de aprendizado e de desenvolvimento de habilidades e
competências para uma equilibrada e exitosa inserção socioprofissional, e o mundo laboral,
um dos canais de humanização e dignificação das pessoas.

A partir dos indicadores disponíveis, nota-se que em Cabo Verde, a delinquência


juvenil tem suas condições de possibilidade nos seguintes traços da vida social e individual
dos sujeitos-vítimas:

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

3.1 Subcultura de Violência

Em Cabo Verde, e de uma forma particularmente grave, na Cidade da Praia, os


actuais modelos de interacção revelam-se pontuados pela violência, condicionando a vida em
sociedade e criando condições para o alastramento de delitos. Num cenário onde, a
densidade física da população não é acompanhada da densidade moral da mesma, a vida
deixa de correr sob o signo do bem comum, tornando inócuos os princípios da boa vizinhança,
de cooperação, solidariedade e de reversibilidade de perspectivas.

A subcultura de violência constitui, um dos mais graves problemas com que se


defrontam os cabo-verdianos, principalmente os dos meios urbanos. Dos dados recolhidos pelo
estudo desenvolvido pelo Ministério da Justiça de Cabo Verde através da Direcção de
Reinserção Social (DGSPRS), nos concelhos da (Praia, Santa Catarina, Tarrafal, Santa Cruz,
São Vicente e Sal), os dados são bastante elucidativos. Dos adultos inquiridos na cidade da
Praia, 42% dos inquiridos, se declaram ter sido vítimas de violência e em 78,6% dos casos, o
acto violento foi perpetuado por um jovem.

Pelos dados obtidos do estudo infere-se que a delinquência juvenil em Cabo Verde é
um facto indesmentível. No entanto longe de traduzir uma espécie de disfunção do indivíduo,
problema social expõe um quadro complexo e dual, no âmbito do qual o jovem violento é ele
mesmo vítima de violência, seja ela simbólica ou real. Portanto, importante discutir como o
delito é produzido no contexto económico, social e cultural e como ele se apresenta no
imaginário da sociedade.

3.2 Privação

O estudo revela um cenário de extrema debilidade da família, enquanto instância de


socialização, de transmissão de valores e de afecto, necessários ao desenvolvimento
harmonioso de crianças e jovens.

Dir-se-ia que a família, ou o que dela falta, constitui um dos factores chave de
encaminhamento do jovem para a delinquência. Sua deficiente presença ou sua ausência total
tem repercussão imediata sobre a identidade social, sobre a auto-percepção e sobre o quadro
de oportunidades para os jovens.

Efectivamente, se é certo que os jovens dependem muito da assimilação das pautas


de conduta dos que o rodeiam, a ausência dos pais pode representar uma inequívoca
amputação de um quadro de pertença e de referenciais de conduta, com consequências

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

indeléveis sobre o comportamento desses sujeitos. Isso porque no imaginário social desses
jovens, dificilmente se encontra fiáveis suportes para a construção de identidades positivas.

A conduta delituosa dos jovens tende a optimizar num quadro de privação parental, já
que, estando desprovidos de um suporte comportamental adequado, assegurado
primacialmente pela jovem família e via de regra, vinculado e nomadizado pelo afecto e pela
cultura, esses jovens dificilmente conseguirão incorporar os modelos convencionais de
interacção, necessários ã sua inserção social e à sua afirmação como sujeitos.

Por conta disso poder-se-ia afirmar que a conduta delituosa dos jovens tende a
optimizar-se num quadro de privação parental, já que, estando desprovidos de um suporte
comportamental adequado, assegurado primacialmente pela família e, via de regra, vinculado
e normalizado pelo afecto e pela cultura, esses jovens dificilmente conseguirão incorporar os
modelos convencionais de interacção, necessários à sua inserção social e à sua afirmação
como sujeitos. Aliás, pelo estudo ficou claro que os jovens têm consciência do peso dessa
privação parental na (des) estruturação do seu projecto de vida. Do universo dos inquiridos,
72,9% acham que suas vidas seriam diferentes se vivessem com o pai e 76,9, se com a mãe. Os
dados do estudo também sugerem que a ausência dos pais é bastante sentida entre os
inquiridos. Dos jovens em situação de privação parental, 56% declararam sentir falta do pai e
88%, da mãe.

3.3 Vulnerabilidade Familiar

A chamada delinquência juvenil ocorre dentro de um quadro familiar e societário


concreto, sendo, ao menos parcialmente, expressão da relativa disfuncionalidade,
vulnerabilidade e exclusão a que são expostos ou votados alguns indivíduos ou grupos.

O estudo do caso cabo-verdiano deixa transparecer que, em sua grande maioria, os


jovens em situação, real ou potencial, de conflito com a lei vivem num quadro de ruptura dos
laços familiares, portanto com fracas redesões familiares, com fracas redes de pertença e
poucas garantias de protecção, experimentam uma trajectória de exclusão, que intimamente
ligada às dinâmicas internas e à história social da família, ganha novas formas e impulsos na
escola (através da agressão, reprovação e abandono), para depois sedimentar-se nos espaços
macro - sociais de vivência e interacção sob a estima de delinquência.

Os resultados do estudo, constata-se que, aliada a privação parental, os jovens


provém de um ambiente familiar que destoa das tradicionais famílias nucleares. Os dados
sobre a situação familiar desses jovens explicitam a prevalência das famílias tipo
monoparental, formado por pais solteiros, cerca de 33%, ou em união de facto, cerca de 40%.
Dos restantes, 12% são casados e cerca de 11,5%, divorciados ou separados.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Grosso-modo, são famílias cujos membros têm baixa escolaridade, realizam trabalho
não especializado, têm fraco poder aquisitivo e encontram-se desprovidos de mecanismos
sócio - culturais de mobilidade. São famílias que vivem no quotidiano a experiência de
privação e de frustração e cuja inserção no mundo laboral fica restrito á condição de provisão
da subsistência. De resto, um tipo de família que dificilmente se configuraria como um lugar
seguro para crescer.

Esse quadro de vulnerabilidade das famílias, caracterizado pela fragmentação dos


eixos de inserção como escola e trabalho, tende a engendrar um ambiente de instabilidade e
frustração, dada a incapacidade e de os responsáveis pela socialização e pelo provimento e
segurança do lar desenvolverem mecanismos e habilidades para enfrentar a situação
positivamente, lidar com os seus problemas, ajudar-lhes na construção de um autocontrolo
positivo e coerente.

A falta de oportunidade representa, para essas famílias, um forte obstáculo ao


desenvolvimento de um senso de responsabilidade colectiva, manietando o potencial
emancipatório dos envolvidos, inibindo ou frustrando-lhes expectativas sociais e mexendo
com a sua qualidade de vida e auto-estima. Um cenário tendente a empurrar os seus
membros mais vulneráveis, normalmente crianças e jovens, para a busca de novos padrões de
convivência e novas fontes de sobrevivência e afirmação.

Note-se que, se tratando de contextos familiares precarizados, existe uma nítida


propensão para os filhos perderem lugar concreto no quotidiano familiar, o que significa que
ficam prejudicados e por vezes despojados dos cuidados elementares, amparo, protecção e
supervisão. Em muitos casos, a rua passa a funcionar como marco catalisador de novas
dinâmicas, novas identidades, novas pertenças, como um outro lugar, substituto do lar,
susceptível de lhe proporcionar segurança e referências que faltaram ou lhe foram negadas
em casa. É o tipo jovem que, via de regra, foi criança sem ter tido infância, por causa de sua
miséria. Nesta base, poder-se-ia afirmar que a “adolescência envolvida com a criminalidade
se constrói a partir da negação de direitos, como a escola, família, saúde, profissionalização”
(Veronese e Rodrigues, 2001, p 34).

3.4 Exclusão Social

Numa situação de exclusão, é lugar-comum crianças e adolescentes verem seus


direitos ameaçados ou violados, ficam expostas a uma série de situações discriminatórias
(violência, exclusão de escolaridade, prática infraccional, drogas,), “configurando um ciclo
que tende ao fechamento e os matem marginalizados” (Gregori, 2000: 17). Trata-se de um
cenário em cujo bojo são obrigados a redesenhar suas próprias referências afectivas, de
aprendizagem, afirmação e de inclusão. A prática de infracção representa uma parcela do

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que lhes é dado realizar, diante do défice de políticas sociais, de protecção e de


solidariedade.

Em Cabo Verde, os jovens em conflito com a lei ou em condições de vulnerabilidade


são, via da regra, vítimas de uma dinâmica de frustração e violência tanto familiar como
social. Trata-se de uma situação que se reveste de particularidade gravidade, dada a
capacidade de retro - alimentação e auto-manutenção desses atributos tipificadores da
exclusão e marginalização.

Efectivamente, privação vivida na família tem importantes desdobramentos no nível


macro - social, particularmente nos espaços escolares e na sociedade como um todo e o ciclo
tende a renovar-se, já que uma deficiente inserção nesses espaços constitui uma das pré-
condições de reprodução da privação e frustração familiares.

3.5 Ambivalência De Referências De Conduta e Convivência


Sociais

O jovem em situação, real ou potencial, de conflito com a lei parece encontrar-se


numa espécie de não-lugar, um referente vazio susceptível de ser preenchido por aportes de
diversos quadrantes, natureza e formato. Essa ambivalência espacial existencial configura-se
a partir da incompletude dos agentes de socialização, de
provimento material, de conivência e de pertença. Isto significa que, quando isoladamente
tomados, família, estado e sociedade, figuram no imaginário dos jovens numa dupla condição:
de relativo apoio, mas num quadro de privação, caso de família; de relativo suporte simbólico
a expectativas positivas, mas tendente a criminalizar a pobreza, caso do estado; de relativa
liberdade, mas impiedosa, caso da sociedade.

O clima de frustração e privação vivido em casa e a dinâmica expulsiva


experimentada na escola constituem fortes indutores da delinquência, na medida em que
tendente a impelir os jovens a buscar novas alternativas de sociabilidade, novos mecanismos
de status e afirmação, novas estratégias de sobrevivência. Á primeira vista, a rua desponta
como um dos mais promissores cenários de redesenho de narrativas de vida, uma vez falhadas
a família e a escola. De facto, a profusão de oportunidades que ela oferece a sensação de
liberdade plena que nela se experimenta possuem inquestionável poder apelativo sobre os
jovens provenientes de espaços sócio-familiares adversos e inóspitos.

Doravante, suas condutas, basicamente expressas em forma de actos infraccionais,


são motivados pelos inputs que eles recebem dos seus pares, na rua. Uma situação marcada
pela ambivalência de referências de conduta e convivência sociais.

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3.6 Défice de Autoridade

A rua constitui um importante indicador de reconversão social dos jovens. Esse seu
papel é reforçado quando a família deixa de funcionar como âncora para criar ou reproduzir
valores. O estudo desenvolvido demonstra que o défice de autoridade ficou patente, seja ela
parental ou estatal, tem uma directa correlação com a prática infraccional dos jovens.

Nesta base, as relações e os conflitos inter individuais tendem a resolver-se em bases


heterodoxas e sempre novas, a partir de códigos de convivência não mediados pública e
juridicamente. Trata-se de uma situação que tende a engendrar anomia, já não fornece
parâmetros de conduta, não possibilita a previsibilidade nas relações intersubjectivas e não
disponibiliza recursos sansacionatórios e onequivocos susceptíveis de quebrar a impulsividade.

O estudo ressalta a existência de um hiato: por um lado a família não tem capacidade
para reforçar atitudes positivas; por outro a sociedade fica destituída de formas de
reprodução permanente das normas consciencializadas de convivência; para agravar ainda
mais os decisores políticos não parecem propensos a desenvolver acções consistentes,
alargadas e incisivas de resolução de conflitos e de instauração de um ambiente de efectiva
paz social. Como diria Emile Durkheim, a transgressão faz parte da normalidade social, pois
seu reconhecimento reactualiza a ordem. Em Cabo Verde, porém, a transgressão tende a
sedimentar-se no imaginário sem que sua contraparte desponte. E isso pode gerar anomia
social, com acrescidos riscos para o tecido social. Há fortes indícios de que existe um quadro
de dissuasão solidamente construído. Por essa via, cristaliza-se no imaginário um mundo à
parte que paulatinamente vem moldando as atitudes e práticas dos sujeitos, nomeadamente
os mais jovens.

No quadro desses é normal que a criminalidade ganhe contornos cada vez mais
preocupantes. Como disse Merton, os problemas sociais são normais num contexto de anomia.

3.7 Défice de Protecção

Num quadro de violência, exclusão e défice de protecção, as crianças e adolescentes


são mais facilmente interpeladas para a delinquência.

Efectivamente, o apelo emocional parece ser mais aliciante quando o Estado, Família
e Sociedade falham em garantir um conjunto de direitos, como a educação forma,
profissionalização, saúde, lazer e demais direitos assegurados legalmente.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

3.8 Atributos de Personalidade

A influência do grupo social e os condicionalismos familiares e sócio-estruturais não


são suficientes para explicar a delinquência juvenil. Se assim fosse, todos os jovens que vivem
sob o mesmo quadro de privação e expostos aos mesmos contratempos patenteariam o mesmo
quadro anti-social. No entanto, o que se nota na prática é que os jovens que seguem a via de
delinquência têm irmãos não infractores. Ou seja, sujeitos aos mesmos condicionalismos, eles
optaram por narrativas de vida díspares.

No estudo desenvolvido pelo Ministério da Justiça de Cabo Verde, demonstra que uma
ínfima parte dos jovens, declararam ter irmão envolvido com delitos: 15% nos jovens com
idade entre os 12 e os 16 e 15,8% para os maiores de 16. Sendo assim, mesmo reconhecendo
que o ambiente familiar e os processos de interacção têm grande influência na conduta
delituosa, pois o delinquente emerge necessariamente de um grupo familiar, sendo sempre
expoente e consequência das tendências desse grupo, o que se não pode negar é que, sendo
sujeitos, dotados de razão e de capacidade de delinear estratégias de vida, os jovens têm
como contornar os rumos “naturais” que lhe foram reservados. Ou seja, não há indícios de
determinantes inequívocos e unívocos de actos infraccionais. O que existe é um
entrelaçamento de factores predisponentes, susceptíveis de converter ou não em facto o que
encontra em potência. Por conseguinte podemos ver através dos resultados, apresentados por
uma unidade estatal cabo-verdiana, a problemática da delinquência juvenil já existe, e tende
a ganhar proporções cada vez maiores.

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IV. FACTORES PSICOSSOCIAIS INERENTES


AO CONSUMO DE DROGAS E O AUMENTO
DA DELINQUÊNCIA JUVENIL

4.1 Papel das Drogas no Aumento da Delinquência Juvenil

Muitos adolescentes e jovens consomem as drogas, muitos por curiosidade ou desejo


de sensações, por causa da pressão dos pares ou como um escape a problemas que os
afectam, pondo assim em causa a saúde física, psicológica e social. O abuso de substância
significa o consumo prejudicial de álcool ou outras drogas. É um padrão de comportamento
muito pouco adaptativo, com duração superior a um mês, em que a pessoa continua a
consumir uma substância, depois de conhecer a sua perigosidade. O abuso pode levar a
dependência de substâncias (adição) que pode ser fisiológica ou psicológica ou ambas, sendo
provável que continua na idade adulta (Kandel, Davis, Kuros e Yamaguchi, 1986).

O consumo de drogas entre adolescentes americanos, esteve crescendo durante os


anos 90, embora não seja tão prevalente como nos finais dos anos 70 e inicio dos 80. A
marijuana teve o aumento mais acentuado nos adolescentes, visto que vêem cada vez menos
a marijuana como um risco, embora o risco percebido relativamente á maior parte das outras
drogas, tenha aumentado ou estabilizado, resultados obtidos, num estudo realizado em 1996
com cerca de 49 000 estudantes das escolas públicas e privadas dos Estados Unidos.

A toxicomania é uma doença bastante complexa a nível familiar e comunitário, cuja


recuperação implica mais do que a cessação do consumo do álcool e de outras drogas, obriga
à procura de hábitos de vida saudáveis não só enquanto indivíduos, mas também no âmbito
das famílias e das sociedades.

A toxicomania trata-se de uma problemática que afecta pessoas de todas as idades e


de todos os estratos sociais e destrói a igualdade de oportunidades, por impor encargos graves
aos grupos mas desfavorecidos e aos jovens.

Várias são as causas que explicam a entrada dos adolescentes e jovens para o mundo
das drogas, mas a investigação apontou um conjunto de características do indivíduo e do
meio, como:

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 O reduzido controlo dos impulsos e uma tendência para procurar sensações mais do
que evitar o perigo;
 Influências familiares, tais como a predisposição genética para o alcoolismo, consumo
ou aceitação de drogas pelos pais, práticas parentais inadequadas ou inconsistentes,
conflitos familiares, relações familiares perturbados ou distantes;
 Temperamento difícil;
 Problemas de comportamento precoces e persistentes, particularmente a agressão;
 Insucesso académico e falta de envolvimento académico;
 Rejeição de pares;
 Associação com indivíduos que consomem droga;
 Alienação e rebeldia;
 Atitudes favoráveis ao consumo de drogas;
 Iniciação precoce no consumo de drogas

Quanto mais factores de risco estiverem presentes maior a probabilidade de um


adolescente ou jovem vir a abusar de drogas e consequentemente a conviver com o impacto
da droga na sua vida.

Vários autores desenvolvem estudos para procurar responder aos factores que
motivam o consumo de drogas nos adolescentes e jovens. Vários anos defendia-se a percepção
de que os adolescentes e jovens consumia drogas porque tem uma motivação para isso, ou
seja são as motivações desviantes que conduzem ao consumo de drogas. Mas na percepção de
um autor de nome Becker, sucederá o inverso; o primeiro contacto com a droga é mais ou
menos fortuito (acaso, simples curiosidade, oportunidade); só depois é que se vai instalar a
motivação e depois, por fim, um conjunto de valores desviantes. É a pertença a um grupo de
consumidores que motiva o indivíduo a consumir.

O álcool, a marijuana e o tabaco, são as três drogas mais populares entre


adolescentes, são muitas vezes chamadas de drogas de entrada, porque o seu consumo leva,
muitas vezes, ao consumo de substâncias mais aditivas, tais como a cocaína e a heroína.

O álcool, muitas vezes não é tida como uma droga no meio dos adolescentes e jovens,
preocupam-se mais com a marijuana, esquecendo que o álcool também é uma droga potente,
que altera a mente, sendo o seu consumo ilegal pelos adolescentes em maioria dos países do
mundo, ou seja as alterações psíquicas e sociais que o álcool provoca no organismo são de
igual modo destrutiva, para o jovem, levando por vezes a ter comportamentos, desviantes,
agressivos e delinquentes.

A partir de 1970, aproximadamente, surgiu um novo desafio relativamente a


toxicomania, á medida em largas camadas da população, em especial os jovens norte
americanos, iam sendo expostas a várias drogas geradoras de dependência em meios que
permitiam, ou até incentivam, o seu consumo. Os valores modernos, ao salientarem a

27
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

importância do controlo individual da vida das pessoas e o aumento simultâneo da tolerância


social por estilos de vida alternativos, propiciaram um terreno fértil para actual propagação
da epidemia do consumo de droga. Os referidos papéis tiveram um papel preponderante na
América do Norte nas últimas décadas, em especial junto dos jovens.

As sociedades modernas promoveram estilos de vida mais diversificadas, no entanto


uma das consequências das novas sociedades é o aumento do risco da toxicomania e as suas
ramificações, como sendo a delinquência, violências, facto que leva ao surgimento dos tais
grupos desviantes ou gangues.

O aumento do consumo das drogas veio também acompanhado da grande


transformação dos valores que ocorreu em todo o mundo nos últimos anos. Nos tempos
antigos em que tudo era mais simples, a maioria das pessoas nascia, vivia e morria em
sociedades unidas, relativamente estáveis e isoladas. Tinham comportamentos comuns e
afugentavam os estranhos que procuram entrar nas suas comunidades. A polícia moderna e os
sistemas de justiça criminal são muito menos eficazes a controlar os comportamentos
desviantes do que o antiquado sistema social das aldeias.

O consumo abusivo das drogas levam os consumidores a desenvolveram uma outra


doença mental denominada de perturbação de personalidade anti-social, caracterizado por
um padrão de comportamento inadaptado, os traços mais dominantes da perturbação de
carácter, consistem no facto de pensarem no presente e não no futuro e na desonestidade
frequente, outras características incluem a relativa insensibilidade aos sentimentos dos
outros, revolta contra a autoridade e relativa impenetrabilidade face ao castigo e aqui vamos
encontrar muitas características dos jovens pertencentes aos tais grupos gangues, que muitas
vezes actuam sem medir as consequências, não importam pelo que o outro pensa ou sente,
não importam aos danos que causarão no individuo vitima e nem na sua família e nem tão
pouco no impacto dos seus actos na sociedade.

De uma perspectiva mundial, passamos agora a apresentar a situação cabo-verdiana


face a problemática da toxicodependência e suas ramificações como a delinquência juvenil e
a formação dos tais grupos gangues.

Enquanto todas essas mudanças ocorriam no mundo inteiro, Cabo verde não passou a
margem dessas influências, prova disso, foi o estudo realizado por Lorenzo I. Bordonaro em
Cabo Verde, nas cadeias de São Vicente e São Martinho na cidade da Praia, em 2009,
demonstra que, embora a heroína dominasse o pequeno mercado cabo-verdiano nos anos
noventa, hoje são o crack, a marijuana, ou um cocktail dos dois, as substâncias mais
utilizadas, principalmente na camada juvenil. O uso da cocaína pura está também a aumentar
nas áreas urbanas das nossas principais cidades. Segundo dados recolhido pelo mesmo estudo,
através de fontes policiais, a cocaína chega pura a Cabo Verde, importada por traficantes
nigerianos. A partir da substância pura, o crack é produzido localmente e introduzido no
mercado dos estupefacientes, onde teve um impacto notável na última década, devido ao

28
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

preço bastante reduzido. A forte dependência e o estado alterado que o crack produz no
consumidor (uma sensação definida pelos usuários através de expressões como ‘sentes-te fora
de ti’, ‘já não és tu’, ‘dá-te um flash’) apresentam-se como causa ocasional de vários crimes
em que os jovens estão envolvidos, entre estes os roubos, assaltos, brigas e homicídios.

No que diz respeito ao consumo do álcool em Cabo Verde, um estudo realizado pelo
Instituto Nacional de Estatística (INE) no âmbito de um inquérito à população sobre Saúde
(2008), refere que, 40,3% da população caboverdiana bebe álcool com regularidade. Desses
15,4% dos homens e 3,4% das mulheres o fazem diariamente.

Ainda segundo o mesmo estudo, o alcoolismo em Cabo Verde é um "problema grave,


com os cabo-verdianos a reservar igual montante do orçamento familiar para a Saúde e para
as bebidas alcoólicas, que representam o dobro do que gastam em Educação.
Manuel Faustino (2009), psiquiatra cabo-verdiano, especialista em doenças ligadas ao
alcoolismo, citou também um inquérito feito com 1540 jovens entre 13 e 16 anos de cinco
ilhas, segundo o qual 39,6% dos sujeitos responderam que já tinham experimentado bebidas
alcoólicas.

De uma forma particularmente grave podemos ver que o consumo do álcool e suas
implicações psicossociais, preocupam as entidades cabo-verdianas. Segundo afirma Leonesa
Fortes, presidente do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) “cada vez mais a
sociedade cabo-verdiana vem sentindo o impacto do uso exagerado do álcool, que se reflecte
nos acidentes, no absentismo ao trabalho, na saúde e no desemprego e paralelamente ao
aumento desses fenómenos sociais vem crescendo o fenómeno da delinquência juvenil
associada ao consumo do álcool”.

Nas sociedades humanas existem regras culturalmente estabelecidas para a actividade


social. A sobrevivência dos indivíduos em sociedade, depende da adesão a regras sociais da
sociedade. Há pessoas que procuram instintivamente o perigo e a emoção, enquanto outras se
esforçam por evitar ambos, ou seja há pessoas que adaptam às regras da sociedade,
reprimindo comportamentos movidos pelo prazer, e outras não, normalmente os usuários de
drogas, por sua vez acabam por desacatar as normas sociais, devido ao marasmo que as
drogas as expõe e também as várias alterações provocadas pelo consumo tanto na sua forma
de estar em sociedade, na sua rotina do dia-a-dia, seu no comportamento como nas próprias
respostas que dão face aos estímulos do meio.

29
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

4.2 Papel da Família no Aumento da Delinquência Juvenil

A família como célula base de qualquer sociedade, funciona como o primeiro agente
socializador do ser humano. Muitos dos núcleos familiares apresentam dificuldades de
socialização das crianças, apresentado assim factores de risco de produção de
comportamentos delinquentes. Nestas condições, é difícil imaginar que a família não esteja
em certa medida, na origem da delinquência.

Entre elementos que podem explicar a carreira delinquente de um indivíduo, a família


ocupa um lugar de eleição. Mas interessa-se perceber que factores familiares influenciam a
delinquência juvenil. A família é essencialmente um lugar de comunicação, de trocas
afectivas entre pessoas, da mesma geração ou não, que vivem sob o mesmo tecto. A família é
o meio base em que se desenvolve a personalidade da criança, influenciadas pela sua
interacção com os pais. Logo é o lugar de excelência para compreender as interacções
relacionadas com as condutas delinquentes, entre estas destacamos as seguintes:

 Estabilidade da residência; as famílias de delinquentes mudam de residência mais


vezes, poderá esse fenómeno explicado pela condição financeiras das mesmas, como
dificuldade em obter uma habitação própria ou então de pagar aluguer.
 Qualidade do habitat; as habitações dos delinquentes, apresentam características
como carências nas condições sanitárias, famílias numerosas por conseguinte um maior
densidade de povoamento.
 Situação económica; os membros geralmente trabalham em sistemas pouco
remunerados, desemprego dos membros, trabalhos irregulares, trabalhos não qualificados,
traduzindo assim num rendimento familiar mais abaixo em famílias de jovens delinquentes.
 Composição da família; muitas das famílias de jovens delinquentes são
monoparentais, ausência significativa da figura do pai.
 Características comportamentais; presença de problemáticas como o alcoolismo,
perturbações afectivas, agressividade.
 Qualidade de vida familiar; geralmente nas famílias dos jovens delinquentes, não se
observa muita regularidade, o tempo não é estruturado, o estilo de vida é mais
desordenado, como (as horas das refeições, hora de ir e levantar da cama), pouca
coesão familiar, menos sociabilidade e menos tentativas para melhorar a condição
familiar.
 Relações familiares; as relações entre pais são muitas vezes deficientes nas famílias
delinquentes, carência de afectividade nas relações.
 Disciplina, predomínio de castigos físicos, fraca supervisão dos pais sobre os
comportamentos e atitudes dos filhos, negligência.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Essas são essencialmente as características do sistema familiar que poderão


influenciar o número de jovens a enveredarem pelos caminhos da delinquência juvenil, mas
convêm salientar de igual modo, que essas características não são lineares, ou seja isso não
quer dizer que todos os jovens expostos as essas vulnerabilidades estão condenados a seguir
os caminhos da delinquência, mas sim, que são factores de risco e poderão aumentar a
probabilidade, mas que são determinantes em muitos casos, mas que em outros não, uma vez
que podemos encontrar muitos jovens nestas mesmas condições inclusivo irmãos que vivem
nestas mesmas condições familiares, mas que nem todos acabam por seguir pela vida do
crime e nem das drogas, mas sim desenvolveram uma resiliência psicológica bastante forte
que acabam por seguir caminhos de integração social e realização pessoal e profissional,
nestes casos a escola/educação acaba por ter um papel extremamente importante mesmo
quando as condições são adversas.

De igual modo devemos dar sempre uma atenção a estrutura familiar, o estilo
educativo, as dinâmicas internas e externas, uma vez que quando essa estrutura família se
dissolve ou se altera, ela perde a capacidade de supervisionar e controlar os comportamentos
dos membros, aumentando assim a probabilidade da delinquência e outras problemáticas
juvenis.

4.2.1 Dinâmica Familiar da Delinquência

Todas as abordagens actuais da delinquência são multifactoriais e recorrem a


interacção de várias variáveis familiares. Dada ao dinamismo apresentada pela abordagem
sistémica iremos aprofundar nela para explicar a dinâmica familiar e a problemática da
delinquência. Assim os especialistas sistémicos colocam a tónica nas dinâmicas relacionais das
famílias com transacção delitogénea, indicando com isto que, a delinquência de um membro
da família é o sintoma de uma disfunção familiar. Sendo que estas disfunções podem situar-se
tanto ao nível do casal parental, como na relação pais-filhos, ou nos modos de comunicação
de vários membros. De igual modo que essa abordagem vê o sujeito delinquente, como uma
espécie de paciente identificado, em interacção no seu meio familiar.
Essa abordagem propõe-se assim estudar as estruturas familiares como as disfunções
que podem afectar estas estruturas. Nessa abordagem a família é apresentada não como um
simples conjunto de pessoas mas sim como um sistema, uma rede de interacções e trocas
dinâmicas na qual o comportamento de cada um dos membros está ligado ao comportamento
de todos os outros depende dele.
A abordagem sistémica definiu quatro princípios da família, que são as seguintes: o
princípio de totalidade, de interacção, de retroacção e de homeostasia.
 Princípio de totalidade; este princípio defende que o conjunto de indivíduos é mais do
que a soma desses indivíduos. Seron e Wittezaele (1991) apresentaram as tais «qualidades

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

emergentes» que só serão encontradas nas propriedades do sistema que não podemos
encontrar nos elementos tomados separadamente.

 A família é um sistema aberto; todas as acções dos membros da família agem sobre
um ambiente externo e ele próprio retroage sobre a família. Observando assim uma influência
mútua e complexa entre cada um dos membros da família, a estrutura familiar e o ambiente
externo. Essa abertura do sistema é necessária à sua homeostasia. Frontaine em (1985)
defendeu que o sistema familiar não deve ser nem 100% aberto e nem 100% fechado. Quando
ela é demasiado aberta, o sistema desliza e perde-se a si próprio, demasiado fechado, abafa.
Para que haja saúde do sistema deve haver um equilíbrio entre estes dois extremos.
Analisando a visão de Frontaine, podemos ver que nas estruturas que são demasiada abertas,
não há controlo das actividades desenvolvidas por cada membro, não há uma interacção
saudável entre estes e a comunicação tão pouco é saudável, nestes casos um ou vários
membros acabam por desembocar em vias pouco saudáveis de desenvolvimento, como é o
caso do consumo abusivo de drogas e delinquência juvenil. Nos sistemas demasiadamente
fechadas, também representam um risco para os seus membros principalmente no estádio da
adolescência, em que o adolescente precisa conviver com os pares, viver experiências
externas, algumas não apresentam um amadurecimento necessário nessa vertente, acabando
por não ter desenvolvido competências importantes para lidar com a pressão do grupo entre
outros factores importantes.

 Família é um sistema homeostático; mecanismos de retroacção negativa e de


regulação visam manter a sua estabilidade e em particular impedir a sua dissolução,
realçando mais uma vez a importância das interacções com o exterior, na manutenção do
equilíbrio entre a estabilidade e a mudança.
Mas a família por si só não explica essa complexidade apresentada, quando abordamos
questões relacionadas a delinquência juvenil, outros agentes importantes como a escola,
também podem funcionar como um factor de risco, arrastando assim o antigo aluno ou mesmo
um aluno que ainda esteja no meio educativo, para o mundo da delinquência.

4.3 Escola Como Factor Promotor da Delinquência Juvenil

Em que medida podemos dizer que a escola, enquanto agente de socialização e


formação pessoal e profissional do individuo, constitui um risco para o desencadeamento da
violência juvenil e do consumo de drogas? Partindo da visão citada por Redy (Investigador da
Universidade de Santiago Cabo Verde), no seu estudo com os grupos thugues da cidade da
Praia, “a escola como uma das instituições que visa a socialização dos jovens, funciona, como
um instrumento ao serviço das classes dominantes na formação das personalidades, instigando
os actores a sonharem alto, incutindo-lhes a ideia de que qualquer sonho pode ser realizado

32
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

desde que, claro, se tenha os requisitos necessários”. Mas, ao utilizar a mesma linguagem das
classes dominantes, os alunos provenientes das classes mais baixas sentem grandes
dificuldades de adaptação, uma vez que não se leva em consideração a presença desses
indivíduos no interior da escola, nem sequer adopta-se uma política ou fornece-se
instrumentos que possibilitam a essas crianças diminuir a desvantagem cultural de que são
vítimas. (Bourdieu e Champagne citados por Sebastião 1998).

Vários estudos mostram que muitos jovens provenientes das classes dominadas vivem
a escola como uma prisão, um lugar onde se é obrigado a ir e onde se é vítima de um
prolongado processo de violência simbólica e física, com rupturas radicais nas linhas e
processos de convivência entre formas culturais diferentes. Deste modo, o abandono escolar
ganha, muitas vezes, a forma aparente de auto-exclusão, representando um processo de
auto-defesa perante a violência física e simbólica, forma muda e por vezes brusca de exprimir
o desencanto e a revolta para com a instituição escolar (Benavente citado por Sebastião,
1998). Ao abandonarem a escola, estes jovens caem numa situação incómoda, isto porque,
fora do sistema, as entidades políticas não fornecem os meios nem flexibilizam os seus
processos de intervenção de forma a serem capazes de os integrar em contextos
socializadores, que lhes forneçam expectativas positivas quanto à utilidade do seu esforço
para a organização de um futuro viável, deixando-os à mercê do que os contextos informais
lhes possam proporcionar.

Fora do trabalho e da escola ou em processo de sair destas duas instituições de


vínculo social, rapidamente juntam-se à margem, tornando-se desafiliados. Ao utilizarmos a
categoria de desafiliação proposta por Castel (2006), defende que não estão a afirmar que
esses jovens estão completamente desligados do social, uma vez que, embora estejam num
processo de descolectivização com uma parte do social, formam novos grupos sociais, ou seja,
rapidamente buscam estratégias de sobrevivência no bairro, juntamente com outros jovens na
mesma situação social, entrando num processo de recolectivização à margem das convenções
sociais.
Os bairros onde habitam são vistos para a maioria da população residente nos centros,
como paisagens apocalípticas constituídas por pessoas com costumes bizarros, mergulhados
numa pobreza geracional, pouco amigos do trabalho, inseridos em famílias desestruturadas,
onde proliferam doenças e marginais (gangues). Esta imagem do exterior é uma classificação
que associa estas populações a uma identidade cultural determinada que funciona como
estigma social que lhes é atribuído de forma negativa, desviante dos padrões culturais
dominantes.

Normalmente os adolescentes começam a demonstrar os comportamentos desviantes


ainda no sistema educativo, muitos tiveram o primeiro contacto com as drogas quando ainda
eram estudantes, o faltar a aula até a perda do ano por excesso de faltas, problemas
relacionados com a indisciplina, o insucesso escolar ao abandono escolar, são factores que

33
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

funcionam como um verdadeiro rastilho de pólvora, para a entrada do adolescente para o


mundo das drogas e da delinquência.

4.4. O Desemprego como um dos fenómenos que agrava a


Situação da delinquência juvenil

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem se preocupado sensivelmente


quanto aos rumos que está tomando o problema da falta de trabalho, da rotatividade
crescente no emprego e da mão-de-obra desqualificada que facilmente se desemprega e
dificilmente consegue se reintegrar no mercado de trabalho. Na actualidade, tem-se
observado que o nível maior de desempregados está na juventude com idade que varia entre
14 a 22 anos e, especialmente, no que diz respeito às mulheres.
Um primeiro facto que se pode levantar como causador desse constrangedor número de
desempregados é a recessão que está no meio dos países de economia de mercado.

“ É certo que a recessão econômica mundial está afectando todos os grupos


etários, mas os jovens é que estão sendo mais sacrificados, sendo que nos
últimos anos a diferença entre as taxas de desemprego de adultos e de jovens
aumentou acentuadamente: 36 por cento dos que engrossaram as fileiras dos
desempregados entre 1973 e 1975 eram jovens” (Melvin, 1978) .

Isto demonstra de forma cabal que a juventude está sendo rejeitada do processo de
trabalho e, por conseqüência, trazendo problemas quanto à mão-de-obra futura.

Actualmente a estatística tende a manter e os jovens continuam a engrossar a


estatística da população desempregada e isso irá trazer consigo vários desiquilibrios sociais
como a delinquencia juvenil bem como a criação de grupos deliquentes, consumo abussivo
de susbstâncias, baixa auto estima, baixa de motivação, falta de ocupação entre outros
aspectos.

Em relação a realidade caboverdiana, segundo os dados mais recentes, da situação


do desemprego, do Instituto Nacional de Estatista (INE), colhidos no Censo 2010, a
percentagem nacional do desemprego é de 10.7, deste 11.8% é no meio urbano e 8.4% no
rural. São Vicente é a ilha com maior taxa de desemprego, com cerca de 14.8%, este
numero, poderá explicar em parte, uma vez que há outros factores implicitos, o porquê do
aumento da delinquência juvenil, roubos, furtos, consumo de drogas, em São Vicente. Ainda
os resultados demostram que a faixa etária dos 15 aos 24 anos, apresenta a maior taxa de
desemprego a nível nacional, sendo que 18.3% são do sexo masculino e 25.5 do sexo
feminino, isto num total de 21.3% nacional. Embora os homens encontram num percentil

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

abaixo das mulheres, são os que mais integram nos tais grupos delinquentes (gangues),
embora já tenhamos mulheres a integrarem esses grupos embora em menor escala. A cidade
da Praia conta com uma taxa de desemprego de 11.3%, segunda maior taxa a nível nacional,
também ela considerada a cidade mais insegura, com mais delinquência e problemas
sociais.
Para além da família, da escola, da problemática do desemprego, outros factores
sociais estão na base do aumento da delinquência juvenil e por consequente o consumo de
drogas psicoactivas, como é o caso da urbanização desorganizada e clandestina, por isso ela
mereceu uma atenção, para melhor compreendermos a complexidade dessa problemática

4.5 Factores Da Delinquência Juvenil Ligados a Urbanização

A urbanização desempenha um papel também importante no agravamento de


questões relacionadas com a problemática da delinquência juvenil, comparada a
criminalidade urbana é bem maior que a criminalidade rural, prova disso são os resultados dos
estudos feitos em Cabo Verde, as cidades da Praia e do Mindelo, as duas cidades mais
inseguras do país e também são os dois principais centros urbanos de Cabo Verde. Segundo
dados colhidos pelo Senso 2010, Cabo Verde tem uma população de 491875 mil habitantes,
destes 50.5% são mulheres e 45.5% homens. São Vicente e Praia continuam a ser os dois
maiores centros urbanos de Cabo Verde, 76140 mil habitantes e ou 131719 mil habitantes
respectivamente, ou seja são as duas cidades que recebem mais a dinâmica da emigração e
migração, registam as maiores taxas de desemprego do país, factores que irão desembocar na
pobreza e consequentemente a população encontra a clandestinidade, como uma estratégia
para sobreviver as condições adversas a essa situação.

Szabo (1960) demonstrou que a interpretação da relação entre a delinquência e a


urbanização é bastante delicada. Ele estudou o nível de delinquência em relação a diversos
indicadores da estrutura social; a estrutura económica (taxa de aumento da construção de
casas, péssimas condições habitacionais) coesão social (número de estrangeiros), estrutura
familiar (numero de crianças por famílias).

Segundo a escola de Chicago (Lander, 1954; Shaw e McKay, 1969), a delinquência é


mais elevada nas cidades devido a desorganização do tecido social. Com efeito, quando a
densidade social (o numero de habitantes por Km2) aumenta o laço social, aumentando a
promiscuidade, a instabilidade e a insegurança tornam-se a norma. Isso faz com que não haja
coesão em nenhuma forma de organização devido a rotação rápida dos indivíduos e dos
próprios grupos, esta heterogeneidade moral é a causa do aparecimento dos «problemas
sociais». Factores como: deterioração dos bairros, condições sociais precárias, fracos
mecanismos sociais de controlo, contrariam o processo de socialização e por conseguinte são
determinantes no surgimento dos grupos gangues.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Com toda essa constelação de problemas, podemos ver que as crianças dos bairros
problemáticos vão crescer com numerosos modelos de identificação delinquentes, criam-se
nos adultos uma subcultura de estagnação e de adaptação marginal.

Mas convém salientar também que essa relação não é tão linear, não quer dizer que a
pobreza, precárias condições habitacionais, as desarticulações familiares e pessoais, causam
directamente a delinquência. Para compreender melhor essa relação entre a urbanização e a
delinquência juvenil temos que analisar o indivíduo e o modo como esse indivíduo vive o meio
em que está inserido.

4.5.1 Da Cultura de Rua aos Grupos Gangues

Cultura de rua: hábitos Incorporados e Carreira Delinquente. Os jovens ao se sentirem


subalternizados e desafiliados tendem a agruparem-se a outros na mesma condição social e
interiorizarem apenas as normas da subcultura onde crescem, ficando livres de qualquer
compromisso para com a sociedade convencional. Propendem a distanciarem-se das normas
tidas como aceitáveis na sociedade, uma vez que as mesmas visam reflectir os valores dos
grupos dominantes. Por não se identificarem com elas acabam por interiorizar valores e
normas distintas influenciados pelos grupos de pares. A cultura de rua interiorizada resume-se
naquilo que Bourgois (2001) identifica como sendo um conjunto de redes, símbolos e crenças
complexas e conflituosas, de modos de interacção específicos e de valores e ideologias
emergentes em oposição à exclusão promovida pela classe dominante. Ela funciona como um
meio alternativo onde se pode afirmar a dignidade pessoal autónoma.

Sentindo-se não integrados numa sociedade que os rejeita e que se protege deles,
desenvolvem uma cultura de resistência caracterizada por diversas práticas de revolta que
com o passar dos tempos consolida-se num estilo de vida marcado pela oposição, seguindo
assim, uma vida exclusivamente delinquente. Ou melhor, optam por uma carreira
delinquente1 que se processa através da manutenção, durante um longo período de tempo, de
uma forma determinada de delinquência, de revolta, fazendo dela o seu modo de vida. Com o
tempo, apesar deste estilo de vida produzir uma busca de dignidade humana, uma vez que
traz respeito2 na e à comunidade, e serve como estratégia de rejeição da condição de
subjugação em que se encontram, acaba por funcionar também, como um agente activo da
degradação pessoal e comunitária. Convém salientar que são as desigualdades sociais que
geram pressões e desvantagens susceptíveis de conduzirem a esse modo de vida, na medida
em que segundo Fillieule (2001), quanto maior forem as oportunidades legais para se chegar a

1
A carreira delinquente começa a partir do momento em que um determinado indivíduo comete uma transgressão de
forma intencional, ou seja, quando realiza um acto não conformista que quebra uma regra ou um conjunto de regras.
2
Este respeito tem um duplo sentido: se por um lado aparece devido à admiração que alguns indivíduos do sexo
feminino e crianças – que aspiram ser como eles - sentem por esta figura, por outro, deve-se ao medo que eles
impõem na comunidade.

36
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

um determinado fim, menor serão as tendências para se escolher actividades delinquentes e


quanto maior forem as oportunidades criminais maior se tenderá a optar por esta actividade.

Ao interiorizarem esta subcultura, activam o habitus de rua que acaba por estruturar
os seus comportamentos, experiências, conhecimentos e visões do mundo. Incorporam dos
outros o não reconhecimento dos valores dominantes, acabando por eleger os representantes
do grupo dominante e seus patrimónios como inimigos. O grupo solidifica a carreira
delinquente transformando esta que antes era individual numa agora colectiva, tendo a
delinquência como o pilar da relação grupal juntamente com a convivialidade. Quanto mais
sólido é o grupo, mais os interesses colectivos se sobrepõem aos interesses individuais,
levando esses indivíduos, na maior parte das vezes a sacrificarem-se pelo grupo3.

Mais difícil também será sair desta vida, tendo em conta que, por um lado,
incorporam e reproduzem o discurso dos membros dos gangues norte-americanos, vida, prisão
ou morte, transmitindo a ideia de que não se importam com nada nem com ninguém, onde a
droga e o álcool aparecem como analgésicos protectores de uma realidade imposta e
encorajam a cometer actos carregados de violência. Por outro, o medo de carregar o estigma
de traidor e o consequente castigo4.
O pilar do pensamento thugue ou gangue passa pela interiorização de três princípios
básicos: que terá dinheiro à sua disposição, que será preso e morrerá nas ruas.

3
Estudos desenvolvidos nos Estados Unidos da América no seio dos grupos de pares mostram a conformidade dos
jovens às regras e às pressões dos grupos, mesmo quando violam crenças e valores enraizados no convívio com a
família (Lashbrook citado por Lopes de Oliveira, Camilo e Assunção, 2003)
4
Muitos jovens arrependem-se da escolha desse estilo de vida, mas o medo de represálias caso abandonem o
grupo mantêm-nos como membros. Os que abdicam evitam a todo o custo o encontro com os antigos colegas, isto
porque, são considerados inimigos e violentados. São várias as histórias de ajustes de contas de grupos thugues ou
gangues para com os desertores.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

V. GRUPOS GANGUES OU THUGUES COMO


SURGIRAM
Durante vários anos o mundo viu afligida pela problemática da delinquência juvenil,
embora não tão organizada como ela é apresentada hoje. Actualmente várias são as
sociedades que lidam diariamente com essa problemática, que coloca em risco a segurança
social, económica e politica de qualquer sociedade. A violência transformou de tal forma que
hoje apresenta-se cada vez mais organizada sob a forma de grupos denominados de “grupos
gangues”. Durante as décadas de 50 e 60, diferentes teóricos, realizaram estudos
relativamente aos tais grupos gangues. Segundo LANDER (1954), Shaw e McKay (1969), os
grupos gangues normalmente adoptam comportamentos delinquentes, é porque existe no
interior dos mesmos uma subcultura na qual o acto de delinquência é tolerado ou mesmo
encorajado.

Anos mais tarde autores que defendiam essa subcultura de delinquência vieram
classificar os grupos para eles denominados por bandos em três tipos:

 Bandos conflituais; normalmente exprimem-se por meio de violência física em grupo,


são constituídos por uma dezena de indivíduos, mas normalmente estes indivíduos não
participam em todas as actividades e têm um estatuto, o líder é uma personagem
carismática. Estes bandos defendem um território e reconhecem-se entre si por um modo de
vestir característico. Zelam pela coesão. A delinquência é percepcionada como algo corolário
e não necessária, não é um fim em sim mesmo mas sim um meio de reforçar o poderio e o
respeito devido ao bando.
 Bandos criminosos; estes bandos, que caracterizam por um campo de acção, um
território mais extenso, exercem actividades centradas no furto, com ou sem violência, no
trafico de objectos ou de droga. Normalmente são grupos mais reduzidos e apresentam uma
coesão muito forte. A liderança é muito estruturada e a divisão do trabalho muito precisa.
Aqui a violência apresenta como um meio de defesa dos seus bens e segurança, ou seja a
delinquência é portanto um fim em si e a razão de ser do grupo (Mucchielli e Robert, 2002).
 Bandos marginais; a sua estrutura é fruosa e a coesão relativamente fraca, muitas vezes
fundada no consumo comum de droga. As actividades estão centradas na droga e no seu
comércio. A delinquência não é sistemática e só se utiliza com fins de aprovisionamento.
Estes grupos móveis sem líder indiscutível. Colocam-se ou são colocados à margem da
sociedade, daí a designação de «marginais». São tipicamente jovens à deriva.

38
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

5.1 Mecanismos Psicossociais que Actuam nos Grupos


Delinquentes

Matza em (1964) desenvolveu uma proposta denominada de teoria da deriva, para


explicar o carácter grupal da delinquência juvenil. Segundo ele, todo o indivíduo, tem sempre
mais ou menos, possibilidade de escolha quanto aos comportamentos que adopta. Sem ser
totalmente livre de decidir o seu destino, podem geralmente ser adoptadas orientações. A
deriva caracteriza os jovens que perderam o contacto com a sociedade «normal» tentando
satisfazer os seus numa subcultura autónoma que frequentemente conduz a acções ilícitas.
Isso significa que as normas que prevalecem nos grupos delinquentes são uma mistura de
normas convencionais e de normas desviantes.

A deriva colectiva de um número importante de jovens para a delinquência está


ligada a percepções enviesadas da realidade. Segundo o mesmo autor, a procura de um
estatuto e de identidade no grupo, é específica da adolescência e a deriva esbate-se com o
acesso à identidade adulta. O grupo de pares torna-se menos importante, excepto
provavelmente para os que se caracterizam por uma vulnerabilidade societal.

Demonstrando de uma forma geral o surgimento dos tais grupos gangues, passamos
agora por uma análise mais detalhada desse fenómeno. Várias são as definições em torno dos
“grupos gangues”, mas qualquer uma delas nos trás a noção do grupo, de organização, força e
união.

Já todos ouvimos falar de gangues, quando um grupo de criminosos se junta e pratica


actos criminosos de forma organizada. Sendo que, os crimes mais frequentes apresentados
por esses grupos são; o tráfico de droga, assaltos ou assassinatos, demonstrando
comportamentos agressivos, normalmente praticados por jovens, capazes de tudo e as noções
do limite são praticamente desconhecidos pelos mesmos grupos.

Um gangue é um grupo de indivíduos que compartilham de uma identidade comum e,


na concepção actual, se envolvem em actividades ilegais. Historicamente o termo refere-se
tanto a grupos criminosos como grupos de pessoas comuns. Alguns antropólogos acreditam
que esta estrutura, a gangue, é uma das formas mais antigas de organização humana.

A expressão "gangue" usa-se normalmente para designar um grupo de adolescentes ou


jovens que se comportam de modo anormal, podendo chegar à violência e ao crime.

39
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Alguns interlocutores usam a palavra gangue para referir-se a pequenas, informais e


desorganizadas "gangues de rua", enquanto o crime organizado são usados para referir-se a
maiores e mais poderosas organizações, como a máfia italo-americana.

A palavra gangue geralmente aparece em um contexto pejorativo. Apesar disso,


membros de gangues às vezes adoptam a palavra numa forma de orgulho de identidade ou
intimidação. Os gangues criminosos certamente existem há tanto tempo quanto o crime, não
é necessária uma cabeça criminosa para perceber que há força nos números. A urbanização
que acompanhou a Revolução Industrial deu origem ao gangue de rua moderna.

A cidade de Nova Iorque foi o epicentro da actividade dos gangues nos Estados Unidos
no século XIX. Áreas pobres da cidade, tais como Five Points, forneceram terreno fértil para
gangues com fortes identidades étnicas, geralmente irlandesas. Gangues baseadas nas etnias
polonesas, italiana ou em outras, também eram muito comuns.

Os Forty Thieves, Shirt Tails e Plug Uglies lutavam pelo território, roubavam e
assaltavam pessoas e às vezes uniam-se para lutar contra gangues de outras áreas da cidade.

A actividade das gangues aumentou gradualmente no século XX, nos Estados Unidos.
Nos anos 50 e 60, a maioria das gangues estava nas grandes cidades, embora cidades próximas
e subúrbios possam ter hospedado ramificações de gangues quando ligados por meio de auto-
estradas importantes. Gangues com etnia europeia tinham quase desaparecido e as gangues
tornaram-se quase que exclusivamente negras ou hispânicas na sua filiação.

Nos anos de 70 e 80, as drogas narcóticas tornaram-se mais predominantes nas ruas.
Armas de fogo também se tornaram mais fáceis de se comprar ilegalmente. Essa combinação
fez entrar para uma gangue de rua algo mais lucrativo e mais violento. No geral, a actividade
dos gangues atingiu o pico em meados dos anos de 1990.

Eles representam um sério perigo para as sociedades modernas, os gangues


aumentaram não só em número como são cada vez mais organizados e perigosos.

Depois de analisarmos o marco teórico a volta dos grupos delinquentes ou grupos


gangues apresentamos de seguida a realidade da delinquência juvenil em Cabo Verde e o
surgimento desses grupos na nossa sociedade

5.2 Formação dos Grupos Gangues na Sociedade Cabo-verdiana

A questão de (in) segurança tornou-se uma preocupação da ordem do dia e mais


premente em relação aos principais centros urbanos. A frequência e a intensidade de crimes,
incluindo crimes graves e violentos, inibem os cidadãos de usufruir de uma vida pacífica. Os
crimes ligados ao tráfico e ao consumo de drogas, a violência praticada pelos grupos thugues,

40
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

ou gangues, os delinquentes que praticam o caçu bodi são exemplos que nos últimos anos
mais têm vindo a pôr em causa a segurança social. O sentimento de insegurança invadiu a
sociedade cabo-verdiana e principalmente nos espaços urbanos. As pessoas começam a ter
receio em sair das suas casas limitando-se aos imperativos do quotidiano.

Os relatos sobre acções de grupos de jovens delinquentes não são uma novidade na
Cidade da Praia, visto que nos anos 80 do século passado já existiam grupos de jovens
conhecidos como “piratinhas” que praticavam pequenos delitos. Posteriormente, no início
dos anos 90 do mesmo século jovens residentes na linha Achada Grande Frente/Lém Ferreira,
criaram um grupo denominado “netinhos de vovó” que actuavam nas imediações do Parque 5
de Julho, na cidade da praia, principalmente quando decorriam eventos culturais. O
surgimento de jovens auto-proclamados gangues como é denominado em São Vicente e
thugues na cidade da Praia, traz à baila uma redefinição do fenómeno da violência juvenil,
tornando, desta feita, a violência urbana num problema social em meados dos anos 2000 em
Cabo Verde.
Estes termos importados dos ghettos norte-americanos é apropriado pelos jovens
cabo-verdianos, desafiliados, numa perspectiva de valorização do que é estrangeiro, como é
habitual, na busca de uma afirmação pessoal e social, não se preocupando, por um lado, com
o significado pejorativo que está subjacente a ele e por outro lado, deturpando a carga
filosófico-política de reivindicação político-social que antecedeu o movimento Thug Life.

Com base em estudos recentes (Verdaasdonk, 2005) demonstraram que a violência


associada à formação dos gangues (thugues), o tráfico de droga e o crescente sentimento
generalizado de insegurança são apontados como os principais problemas da cidade da Praia,
em relação aos quais o governo deve actuar.

Um estudo realizado em Março de 2009, sobre a opinião pública sobre a criminalidade


em Cabo Verde, pela Comissão de Coordenação do Combate a Droga (CCCD) em parceria com
Escritório das Nações Unidas Contra as Drogas e o Crime (ONUDC) os resultados ressalta, a
percepção de insegurança da população em relação a sair a noite, atinge os 47%, o que
implica um ligeiro aumento de dois pontos percentuais, de 2006 para 2008. O estudo
abrangeu as ilhas de São Vicente, Santo Antão, Praia, Sal, Boa Vista e São Nicolau, sendo que
as ilhas de Santiago (Cidade da Praia), São Vicente e Sal são as ilhas onde a insegurança é
mais percepcionada pela população.

O estudo aponta para cinco os crimes mais presentes nestas ilhas e são os seguintes, o
homicídio (45%); tráfico de drogas (26%); ofensas corporais (22%), roubos e furtos em casa
(20); agressão sexual (15%).

De uma forma particularmente sensível, podemos ver que o ambiente social cabo-
verdiano já não é o mesmo uns tempos para cá, desta forma passamos de seguida a

41
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

apresentar possíveis factores ou causas que favoreceram para o aumento dessa insegurança
percepcionada pela população cabo-verdiana.

5.3 Causas Ligadas Ao Surgimento Dos Grupos Gangues/Thugues


Em Cabo Verde

Falar dos grupos thugues ou então gangues é falar de um segmento da população


acantonado na periferia emergente ou em bairros onde se notam descontinuidades nos
padrões de ocupação espacial5, resultantes do processo de urbanização acelerado e
desordenado que assolou a capital do país, em maior escala nos anos 90 do século XX.

O tema da criminalidade e delinquência juvenil passou, desde 2000 a ser


frequentemente matéria de inúmeras notícias e crónicas jornalísticas, tendo alterado alguns
hábitos sociais e a percepção de segurança dos cabo-verdianos, particularmente dos
habitantes da cidade da Praia. (Bordonaro, 2009).

A socialização da violência levou Fernandes (2008) a afirmar que em Cabo Verde, e de


forma particularmente grave na cidade da Praia, os modelos de interacção revelam-se
pontuados pela violência, condicionando a vida em sociedade e criando condições para o
alastramento de delitos.

Essa predisposição conjugada com o descontrolo de armas de fogo no país, torna a


situação explosiva e preocupante. Um estudo da Afrosondagem, sobre a circulação ilegal de
armas e seu impacto na insegurança dos cidadãos, apresentado no jornal A Semana em
Janeiro de 2009, aponta a ilha de Santiago como o repositório de mais de 80% das armas
ligeiras de fogo em circulação ilegal em todo Cabo Verde. O referido estudo, salienta ainda
que a utilização de armas de fogo, de forma efectiva ou como ameaça, é maior na cidade da
Praia, representando mais do dobro da média nacional. Cerca de 55% dos inquiridos na capital
do país afirmaram que sempre ou frequentemente são utilizadas armas de fogo na sua
comunidade como forma de resolução de conflitos.

5
A sociologia urbana tende a caracterizar as cidades a partir do modelo de expansão urbana onde a população
popular é posta na periferia, mas, no caso praiense, reparamos que não existe uma segregação urbana nitidamente
marcada e não há uma evidente separação física entre os segmentos sociais. Nota-se, em um mesmo bairro,
espaços que abrigam extremos de pobreza e riqueza, onde se concentra uma enorme diversidade de modos de
vida, discursos e práticas.

42
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Diante deste panorama nacional, podemos dizer que, inicialmente os grupos gangues
ou thugues deram os primeiros passos na cidade da Praia progressivamente alargou-se para a
ilha de São Vicente, podendo assim dizer que vários são os aspectos que levaram ao
surgimento desses grupos, mas fenómenos importantes marcaram o surgimento dos mesmos
como é o caso do aumento dos deportados, que vêem principalmente dos Estados Unidos da
América. Os deportados enfrentaram situações de exclusão no processo de (re) integração no
país. O fenómeno ganhou alguma expressão a partir da década de 80, existindo um número
significativo de deportados (cerca de 844, em 2007, segundo dados do ICCV (Instituto das
Comunidades de Cabo Verde).

Muitos desses jovens viviam no mundo do crime, denominados de delinquentes, ao


chegarem em Cabo Verde, vem com a cultura organizada dos “grupos gangues”, envolvem em
crimes como assaltos, roubos e homicídios, trazendo aos jovens residentes figuras de
identificação e seguimento.

Um outro fenómeno que esta por detrás da problemática da delinquência juvenil e


consequente do surgimento e aumento dos “grupos gangues”, relaciona ao processo de
aculturação de muitos aspectos da cultura americana, através dos meios de comunicação
social, filmes e músicas Américas, o vestuário, que espoletam a violência, facilmente os
jovens cabo-verdianos começaram a vestir o estilo HIP, ouvir musicas HIP, o andar HIP e entre
os ídolos dos jovens cabo-verdianos encontramos artistas americanos como 2 Pac, Eminem, 50
Cent, cujo estilo musical espoleta em grande parte questões violentas, como ajusto de conta,
máfia, drogas, prostituição, passando uma mensagem de agressividade, entre outros
comportamentos e aspectos, que num curto espaço de tempo contaminou uma boa parte da
juventude cabo-verdiana.

Para além desses factores acima referidos, as desigualdades sociais, a pobreza


urbana, afectam toda a dinâmica social do adolescente e do jovem, levando-os também a
associarem a estilos de vida desviantes como o consumo de drogas, o mundo crime e por
conseguinte a delinquência juvenil. É neste quadro de preocupação, que passamos de seguida
a examinar o papel da desigualdade social e a pobreza urbana, como factores promotoras da
delinquência juvenil em Cabo Verde.

5.3.1.Desigualdade Social, Pobreza Urbana e Jovens

Segundo o DECRP6 (2004), a segunda metade dos anos 90 foi marcada por um elevado
ritmo de crescimento económico, cerca de 8,4% de média anual, mas, não obstante esta
situação, a pobreza continuou a afectar mais de um terço da população do país. A nível da
desigualdade social, o relatório de 2004 sobre os objectivos do milénio para o

6
Documento de Estratégia de Crescimento e de Redução da Pobreza.

43
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

desenvolvimento de Cabo Verde mostra um país desigual, principalmente quando comparado


com outros países com o mesmo nível de rendimento 7, uma vez que o Índice de Gini8
aumentou de 0,43 em 1989 para 0.59 em 2002.
Segundo o INE9 (2002), 37% dos cabo-verdianos vivem abaixo do limiar da pobreza e
desses, 20% residem na Cidade da Praia, transformando a pobreza num fenómeno urbano,
fruto do êxodo rural e migrações inter-ilhas que se verificou com maior intensidade a partir
dos anos 90. A nível populacional, o DECRP II (2008) baseando nos dados do INE de 2008,
aponta para 499.796 o número dos indivíduos a residir nas ilhas, sendo que desses, metade
reside na Ilha de Santiago e cerca de um quarto desse total na Cidade da Praia. É de salientar
que 60% desses indivíduos têm idade inferior a 25 anos.

A juventude é um dos segmentos da população mais prejudicada pelo desemprego,


visto que, segundo os dados do INE de 2005 (DECRP 2008), afecta em 48% a faixa etária dos 15
a 24 anos, correspondendo a 38% da população economicamente activa. Isto poderá explicar
porque é que a população pobre é muito jovem, tendo em conta que, cerca de 49% dos
pobres têm menos de 15 anos e 30% dos agregados familiares chefiados por indivíduos na faixa
etária entre os 15 a 24 anos são pobres (INE, 2002). A proporção dos jovens na população
muito pobre é superior à dos jovens na população pobre e na população total.

Segundo Martins, num estudo realizado em 2010, sobre a juventude cabo-verdiana, demonstra
que, as trajectórias de vida dos jovens delinquentes em Cabo Verde desenham-se num
cenário social profundamente dividido, caracterizado pela exclusão social. Nos bairros
espontâneos e nas zonas mais pobres do Mindelo e da Praia, as disjunções estruturais da
sociedade cabo-verdiana adquirem na população mais jovem a forma concreta e dolorosa da
pobreza urbana e da crónica falta de oportunidades e perspectivas. O entrelaçar, nas suas
vidas, do desejo exasperado de ascensão social e de acesso a símbolos materiais marcadores
de status com um leque de oportunidades muito limitado e uma dificuldade estrutural de
acesso às posições de poder (Martins 2010) é uma das motivações centrais, se não a
motivação central, para o aumento do crime nas cidades cabo-verdianas.

Paralelamente as desigualdades sociais e a pobreza urbana, ambas funcionando como


um terreno fértil para a entrada do adolescente ou jovem para o mundo da droga, convém
ressaltar o papel que o consumo e o tráfico de drogas, desempenha no aumento da
problemática da delinquência juvenil e por consequente a entrada dos mesmos para os grupos
delinquentes, o panorama abaixo espelha essa realidade.

7
O índice médio dos 55 países pertencentes ao grupo dos países de desenvolvimento médio referido no relatório
do PNUD (2003) e exposto no DECRP (2004) é de 0,43 o que mostra de uma forma clara o forte agravamento das
desigualdades em Cabo Verde.
8
O Índice de Gini indica o grau de desigualdade na distribuição dos rendimentos (ou do consumo) no seio duma
população. Vai de 0 a 1 e tende para 1 quando as distribuições são muito desiguais e para 0 quando são menos.
9
Instituto Nacional de Estatística.

44
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

5.3.2 Aumento do Consumo e Tráfico de Drogas

Cabo Verde, fruto do seu posicionamento estratégico e da vulnerabilidade da costa,


tem servido de placa giratória importante no tráfico de droga entre a América Latina, Europa
e América do Norte. Ora, o tipo de violência associado ao tráfico introduziu novos métodos e
práticas criminais “mais profissionais” e até então desconhecidos em Cabo Verde, como os
“homicídios por encomenda”, “ajustes de contas”, “queima de arquivos”, etc. Durante os
primeiros anos da década de 2000 (2003, 2004, 2005) houve um aumento significativo deste
tipo de crime. O assassinato, numa das celas do principal estabelecimento prisional de Cabo
Verde (Prisão de São Martinho, localizada na Ilha de Santiago) de um hospedeiro de bordo (da
Companhia Aérea Nacional TACV) preso por tráfico de droga, constitui um exemplo
paradigmático dessa nova forma de actuação.

Este preso era uma das principais testemunhas de uma alegada rede internacional de
tráfico de droga.

Paralelamente ao aumento do tráfico de drogas, notou-se também o aumento do


consumo das drogas ilícitas e isso veio agravar ainda mais essa problemática, visto que os
jovens para consumirem começaram a praticar crimes mais frequentes como, roubos e
assaltos para sustentarem a dependência, dando surgimento a um outro fenómeno
denominado no crioulo de Santiago de “kasudody” crioulização da expressão cash or body e
no de São Vicente de “Casu Bodi” que expressa o assalto muitas vezes a mão armada.
Segundo o estudo desenvolvido pelo Ministério da Justiça de Cabo Verde, sobre os jovens em
conflitos com a Lei em Cabo Verde, demonstram que dos delitos praticados pelos jovens,
sobressaem os chamados crimes contra o património e pessoas, com destaque para o roubo,
furto e assaltos. No seu todo perfazem cerca de 80% das ocorrências no grupo etário dos 16
aos 21 anos, e cerca de 19% dos casos, no dos 12 aos 16. E quanto a esse tipo de delito, o
estudo evidencia que as diferenças entre os dois grupos são apenas de grau, mas também de
natureza. Por exemplo, entre os jovens dos 12 aos 16 anos, não há nenhum registo de
assaltos, os furtos e roubos representam menos de ¼ de todas as infracções praticadas; já
entre os jovens do grupo etário imediatamente superior, os assaltos representam cerca de
6,5% das ocorrências e junto com o roubo e furto perfazem 1/5 do total dos delitos praticados
por essa camada sócio-etária.

Ainda no que concerne a este tipo de delito, o estudo sugere que não só as
motivações, mas também o conteúdo prático do mesmo, variam com a idade dos agentes.

45
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Note-se a propósito, que entre os jovens dos 12 aos 16 anos, os géneros alimentícios
representam 28,6% do que se costuma roubar, seguidos de dinheiro e jóias, aparelhos
electrónicos e vestuários, todos com 14,3% cada. Já entre os jovens da faixa etária
imediatamente superior, os géneros alimentícios não figuram entre os bens roubados. No seu
lugar, encontram-se: dinheiro e jóias, 32%, aparelhos electrónicos e telemóveis, 22%,
vestuários, 27% e armas, cerca de 3.5%.

A droga desponta como o principal factor de encaminhamento dos jovens para esse
tipo de delito, tendo sido apontado como móbil por 87,3% dos jovens do grupo dos 16 aos 21
anos. Note-se, a propósito, que, enquanto no primeiro grupo etário, 40% dos que cometeram
delito disseram tê-lo por influência e apenas 5,7%, porque estavam sob efeito de droga, no
segundo grupo, o quadro se inverte: cerca de 50% dos inquiridos alegaram que estavam sob
efeito da droga, contra cerca de 18% que apontaram para a influência. De igual modo,
enquanto no primeiro grupo, o roubo e o furto somam juntos pouco mais de 19% das
infracções praticadas pelos jovens. Das quais 28% destinavam-se á aquisição da droga, no
segundo eles aparecem como crimes de maior ocorrência, atingindo 80% do total, dos quais
cerca de 88% destinavam-se à aquisição da droga.

Portanto, se é verdade que entre os jovens com idade entre os 12 e os 16 anos, o acto
infraccional é largamente caudatário de uma dinâmica de ressocialização em que é nítido o
peso da influência dos grupos de pares e dos novos agentes de socialização, também não se
pode negar que, num segundo momento, as práticas delitivas tendem a assumir contornos
próprios e peculiares, possuindo um inequívoco poder de se retro-alimentar e de se auto-
justificar. Esse mesmo estudo vem demonstrar ainda que, se por outro lado o grupo dos
jovens de 12 aos 16 anos, a infracção é, via da regra, praticada por alguém, que, estando
numa espécie de palco de vida, representa pouco mais que um personagem, sob injunção e
influência dos outros actores e espectadores, entre os jovens da faixa etária imediatamente
superior, o quadro tende a alterar-se consideravelmente, já que o delito emana da
necessidade própria do agente, respondendo a uma urgência, numa situação de auto-
compulsão.

Estes resultados vêm demonstrar mais uma vez que existe uma relação directa entre o
consumo de drogas e o aumento da violência juvenil em Cabo Verde, se fazermos uma
analogia entre a dependência e o acesso as drogas. O jovem dependente necessita da droga
no organismo, para evitar conviver com os sintomas da abstinência, para isso recorrem ao
mundo do crime, para satisfazer essa dependência. Uma vez que a droga causa alterações
graves a nível do sistema nervoso central e consequente sobre o comportamento, um jovem
dependente, é capaz de ter comportamentos agressivos como assaltar uma outra pessoa, ou
então facilmente entra nos grupos organizados de violência, onde o consumo do álcool e das
outras drogas ilícitas é tido como um hábito normal.

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

5.4 Tipologia dos Grupos Gangues/Thugues

Há três tipos principais de gangues de rua, cada um definido por factores como pré-
requisitos para inclusão, objectivos ou actividades dos gangues.
 Gangues Étnicas
Esses gangues definem-se pela nacionalidade ou raça de seus membros. Uma categoria de
gangue étnica é definida menos pelas etnias de seus membros do que pelas etnias que eles
odeiam. Gangues neonazistas, skinhead e de supremacia branca unem-se por causa de seu
ódio a cristãos não-protestantes, judeus, negros e hispânicos.

 Gangues de Áreas
Os gangues de área definem-se pelo território que controlam. Os próprios membros de
gangues geralmente moram nesse território. Deve haver uma etnia comum dentro do gangue
simplesmente porque algumas vizinhanças têm uma certa homogeneidade étnica. Esses
gangues quase sempre têm o nome da área que controlam, como a gangue da 10th Street ou
os East Side Cobras. Se membros de outros gangues entrarem em seu território, a punição
geralmente é uma surra ou a morte. Isso pode iniciar guerras mortais entre gangues rivais.

 Gangue de Prisão

Quando os membros dos gangues vão para a prisão, eles não renunciam necessariamente à sua
filiação a esses gangues. Gangues de rua continuam a existir (e lutam contra outras gangues)
dentro dos muros da prisão. Mas alguns gangues começam dentro das prisões e somente mais
tarde estendem seu alcance para o mundo exterior. Esses gangues obviamente necessitam de
membros que tenham estado na prisão alguma vez e sejam particularmente duros e brutais.
Um especialista em gangues escreveu: "Colocar jovens membros de gangues na prisão é como
enviá-los para a faculdade do crime".

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

5.5 Razões Que Levam Os Jovens a Integrarem Nos Grupos


Gangues/Thugues

Há muitas razões possíveis para alguém se juntar a uma gangue, mas quatro razões
fundamentais parecem descrever a maioria dos membros de gangues. Ressaltando que a
ausência de um projecto de vida, constitui um factor de vulnerabilidade bastante importante
Redy no seu estudo com os grupos da Praia identificou algumas razões tais como:

 Pobreza
Muitos gangues, existem principalmente como uma empresa de fazer dinheiro.
Cometendo roubos e traficando drogas, os membros de gangues conseguem juntar
quantidades relativamente grandes de dinheiro. Pessoas que têm de encarar a falta de
dinheiro podem se voltar para o crime se não conseguirem ganhar o suficiente com um
emprego legítimo. Isso explica em parte porque as gangues existem em áreas pobres e
arruinadas das cidades. No entanto, nem todo mundo que é pobre se junta a uma gangue e
nem todo membro de gangue é pobre.

 Pressão de Grupo
Membros de gangues tendem a ser jovens. Isso ocorre em parte porque os gangues
recrutam adolescentes intencionalmente, mas também porque os jovens são muito
susceptíveis à pressão dos amigos. Se vivem em uma área dominada por um gangue ou
frequentam uma escola onde há uma forte presença de uma delas, eles podem achar que
muitos de seus amigos estão se juntando a gangues. Pode ser difícil para um adolescente
entender o mal que se juntar a um gangue pode ocasionar se ele estiver preocupado em
perder todos seus amigos. Muitos adolescentes resistem à tentação de se filiar a uma gangue,
mas para outros é mais fácil seguir o grupo. A pressão dos colegas é uma força motora por
trás da filiação a gangues em áreas mais desenvolvidas.

 Falta de Ocupação
Sem nada para ocupar seu tempo, os jovens às vezes se voltam para o crime como
forma de se entreterem. Se os gangues já estiverem presentes na vizinhança, elas podem ser
uma válvula de escape. Como alternativa, os adolescentes podem formar seus próprios
gangues. Essa é a razão pela qual muitas comunidades têm tentado combater os gangues
simplesmente proporcionando algo para as crianças fazerem: campeonatos de dança, de
desporto e outros programas de alcance aos jovens podem literalmente manter as crianças

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

longe das ruas. Infelizmente, muitos jovens e até mesmo especialistas em gangues usam o
tédio/falta de ocupação, como uma desculpa. Mas para cada adolescente que fica entediado
e se junta a um gangue, há dez que encontram maneiras positivas e produtivas de gastar seu
tempo.
 Desespero
Se pobreza é uma condição, desespero é um estado mental. Pessoas que sempre
viveram na pobreza, com pais que viveram na pobreza, muitas vezes não enxergam uma
possibilidade de algum dia conseguir um emprego decente, deixar a sua vizinhança pobre ou
conseguir educação. Elas estão cercadas por drogas e gangues e seus pais podem ser viciados
ou pessoas insensíveis. Um gangue da vizinhança pode parecer a única família real que elas
jamais terão. Juntar-se a um gangue dá a elas uma sensação de pertencer e ser parte de algo
importante que elas, de outra maneira, não podem conseguir. Em alguns casos, os pais
aprovam o facto de seus filhos juntarem-se a gangues e também podem ter sido membros de
uma no passado.

O uso de drogas é um factor subjacente a todas essas razões. A venda de drogas


ilegais não só movimenta os lucros dos gangues de rua, como também cria muitas das
condições que levam à filiação a gangues.

Podemos assim dizer que várias são as razões que podem levar um adolescente ou
jovem a enveredar pelo mundo da delinquência e do crime, mas essas causas não são
lineares, visto que irá depender de outros factores subjacentes, como o estilo de vida, as
oportunidades, a capacidade de resiliência, as influências familiares, a socialização, os
objectivos e projecto de vida de cada jovem. Muitos vivendo em situação de conforto
material na família enveredam pelo mundo do crime e outros vivendo nos limiares da
pobreza, conseguem encontrar estilos de vida positivos.

5.6 Tipos de Violência/ Presentes Nos Grupos Gangues/Thugues

Do estudo desenvolvido por Redy Wilson Lima, com os grupos thugues/gangues na


cidade da Praia, Investigador do Centro de Pesquisas e Estudos Avançados (CEPEA) da
Universidade de Santiago e professor na Universidade de Santiago e no Instituto Superior das
Ciências Jurídicas e Sociais, chegou aos seguintes resultados.

Da observação no terreno suportada por entrevistas e conversas informais possibilitaram


tipificar cinco tipos de violência/delinquência praticadas por esses jovens. A elaboração desta
tipologia foi possível recorrendo à teorização da realidade encontrada no terreno e às teorias
da delinquência desenvolvidas por Cusson (2007) e descritas por Xiberras (1993).

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

 Violência Como Defesa


Constatou-se que esses jovens ao se posicionarem num dos lados da trincheira
processos de auto-desafiliação e colocarem a sociedade do outro, considerada como inimiga,
os seus ataques surgem como resposta à situação social em que foram obrigados a estar, isto
porque, não se sentem integrados socialmente ou não se sentem compreendidos e aceites por
uma sociedade que, no seu entender, os quer reprimir10. A delinquência defensiva surge com
o objectivo de prevenir um ataque futuro e pode também ser por vingança, como forma de
reparar um mal causado anteriormente. Há a necessidade de se protegerem dos grupos rivais
de outros pontos do mesmo bairro ou dos bairros vizinhos, para controlo dos espaços de
pequeno tráfico de drogas tais como as esquinas e as imediações das escolas secundárias.

Redy salienta que os confrontos com os bairros vizinhos são historicamente


reproduzidos, na medida em que, desde sempre regista-se episódios de rivalidades entre
bairros. Contudo, não nos níveis de violência actuais. A grande diferença é que as armas de
fogo não eram utilizadas nesses confrontos 11.

Os jovens relatam casos de conflitos entre determinados bairros rivais da capital, o


que faz com que a frequência nesses bairros seja evitada, caso dos bairros: Achadinha vs.
Achada Santo António; Achada Grande Frente vs. Achada Grande Trás; Vila Nova vs. Moinho;
Paiol vs. Lém Ferreira; Achada Mato vs. Coqueiro; Casa Lata vs. Monte Vermelho; etc.

 Violência Gratuita ou Como Lazer


Segundo Redy em muitos casos, os actos delinquentes surgem pelo simples prazer,
com a finalidade de viver momentos intensos numa sucessão rápida de episódios excitantes de
preenchimento de tempo livre e de divertimento. As aventuras por eles relatadas mostram a
importância que dão a cada pormenor dos confrontos travados, dando a sensação de terem
saído das grandes batalhas épicas conhecidas mundialmente.

Esse tipo de violência permite criar também um espaço cultural necessário à afirmação de
identidades pessoais e sociais, que precisam ser reforçadas e reconhecidas, visto existir uma
discrepância entre a identidade real (a que é), a social (a que os outros vêm neles), e a
virtual (a que se aspira)

 Violência Como Forma de Legitimação de Poder


Reparou-se que alguns jovens utilizam a delinquência como forma de dominação, que
consiste em cometer um delito com a finalidade de obter uma supremacia qualquer. Pode ser

10
Imitação literal dos comportamentos dos jovens desafiliados dos lugares centrais da esfera mundial.
11
É de realçar que não havia tantas armas de fogo nas mãos dos civis como agora.

50
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

supremacia dentro do grupo ou da comunidade, onde são vistos como senhores e reis do
bairro.
Muitas lutas travadas contra os outros grupos do bairro e contra outros bairros têm como
finalidade maior, a legitimação do poder e a sustentação da admiração.

 Violência Como Factor de Moda


Ser thugue ou gangue é ser macho. Ser violento e corajoso é ser macho. É esta a ideia
representada nos clips e nas letras musicais do hip hop de consumo. Para muitos thugues, há
uma preferência das mulheres pelos homens corajosos que as podem proteger, o que nos
remete ao tipo violento. Esta imagem estimula o universo imaginário feminino o que faz com
que alguns jovens que frequentam os mesmos espaços de convivialidade dos thugues invejem
essa condição e queiram estar por momentos na pele de thugue, como forma de ter as
mulheres aos seus pés.
Muitos actos delinquentes servem para sustentar uma determinada moda e estilos de
vida alternativos ligados à droga, ao álcool, a actos de vandalismos, a batalhas entre grupos,
atraindo os jovens num dado momento, trazendo a sua valorização dentro dos grupos de
pares, da comunidade e dos demais espaços sociais que frequentam.

 Violência Como Forma de Obter Dinheiro

Vivemos hoje numa sociedade de consumo, onde o sucesso social é associado ao


dinheiro e a ênfase está na apropriação do mesmo. Sendo assim, o acto delinquente surge por
apropriação, como suplemento e como festa. Como suplemento na medida em que, sendo
desprovidos de capitais e tendo interiorizado os objectivos comuns, a única forma de
satisfazerem as suas necessidades e sonhos é através da apropriação dos objectos dos outros.
Para além das armas de fogo que consome a maior parte do orçamento do grupo, as
tecnologias, as drogas, as bebidas alcoólicas, as deslocações a outras regiões do país,
consomem o restante do lucro ganho nas suas actividades.

51
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

VI- CORPO EMPIRÍCO

1.OBJECTIVOS
1.1 Objectivo Geral
O presente trabalho tem como objectivo geral, fazer uma análise comparativa entre o
consumo do álcool e das drogas ilícitas nos jovens pertencentes aos grupos gangues/thugues,
da cidade da Praia e do Mindelo, de forma a compreender essa problemática que assola a
comunidade juvenil dessas duas cidades.

1.2 Objectivos Específicos:


Para isso estabeleceu-se os seguintes objectivos específicos:

 Identificar os significados que os jovens gangues/ thugues atribuem aos grupos que
pertencem;
 Identificar a percepção de inclusão/ exclusão, que têm enquanto elemento de um
grupo gangue/thugue, perante a sociedade;
 Identificar quais as drogas mais consumidas e sua relação com o aumento da
delinquência juvenil nas cidades do Mindelo e da Praia;
 Identificar se o aumento do consumo de drogas esta ligada ao aumento da
delinquência juvenil;
 Identificar a média de idade, que os jovens entram para os grupos gangues/thugues;
 Identificar quais as principais motivações que levam os jovens a aderirem-se a esses
grupos;
 Identificar os sentimentos ligados a família dos jovens perante esta questão de
delinquência;
 Analisar como a violência é apresentada pelos grupos nestas duas cidades;
 Identificar que emoções e sentimentos, estes jovens experimentam quando
consomem drogas;
 Identificar que emoções e sentimentos os jovens experimentam quando envolvem em
actos de violência em grupo;
 Identificar que influências sofreram as suas vidas após a entrada nos grupos;
 Analisar que soluções que estes jovens apresentam a família e a sociedade cabo-
verdiana, para ajudar tantos os jovens que estão nestes grupos a saírem e os que
ainda não entrarem para os grupos, que alternativas lhes proporcionar para que
possam escolher outros caminhos para as suas vidas.

52
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

VII. METODOLOGIA
1. Método e Instrumento

O método de investigação utilizado foi o quantitativo, pois utiliza a análise


matemática como linguagem para descrever os fenómenos, isto é, permite explicar os
fenómenos com base na quantificação e categorização, utilizando instrumentos precisos que
garantem a objectividade e a aplicação de procedimentos correlacionais (Almeida & Freire,
2007). O instrumento utilizado foi um questionário, constituído por 46 questões abertas e
fechadas e uma pergunta de desenvolvimento. O questionário foi aplicado a sessenta jovens
da cidade do Mindelo, nas zonas de Ribeirinha, Monte Sossego (Cova), Ribeira Bote (ilha de
madeira), Bela Vista e Ribeira de Craquinha e na Cadeia Civil de São Vicente. Sessenta na
cidade da Praia nas zonas de Safende, Calabaceira, Achada Grande Frente, Lem Ferreira, e
cadeia de São Martinho da Praia, com jovens de diversos bairros da cidade da Praia, fazendo
um total de 120 jovens inquiridos.

Para análise posteriormente foram utilizadas o programa SPSS, onde cruzamos dados
colhidos nas duas cidades e comparar os resultados, de forma a compreender melhor o
fenómeno do consumo abusivo do álcool e das drogas ilícitas nos jovens pertencentes aos
grupos gangues/thugues, da cidade da Praia e do Mindelo, fazendo um ponto com a base
teórica sobre o tema.

1.2 Hipóteses
Após uma revisão da literatura e materialização do instrumento utilizado, levantou-se
as seguintes hipóteses:
 Hipótese 1 (H1): os jovens que consomem muita quantidade de álcool, apresentam
mais índices de agressividade comparados com os que consomem pouca quantidade;
 Hipótese 2 (H2): os jovens quando estão em grupo manifestam um sentimento de
superioridade mais acentuada comparados com, quando estão sós em suas
comunidades;
 Hipótese 3 (H3): os jovens da cidade da Praia apresentam maiores índices de
Delinquência comparados com os jovens da cidade do Mindelo;
 Hipótese 4 (H4): os jovens da cidade da Praia consomem mais drogas ilícitas,
comparados com os jovens da cidade do Mindelo;
 Hipótese 5 (H5): os jovens que percepcionam os seus grupos, como um grupo de
amigos sentem mais felizes com o grupo comparados com aqueles que percepcionam
os grupos como um grupo de delinquentes;

53
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

 Hipótese 6 (H6): o assalto é apresentando como a maior estratégia utilizada pelos


grupos da cidade da Praia para conseguir a droga comparada com os jovens da cidade
do Mindelo;
 Hipótese 7 (H7): a padjinha é mais consumida pelos jovens da cidade da Praia
comparada com os jovens da cidade do Mindelo;
 Hipótese (H8): a cocaína é mais consumida pelos jovens da cidade da Praia
comparada com os jovens da cidade do Mindelo;
 Hipótese (9): os jovens provenientes de famílias carenciadas têm mais probabilidades
de entrarem para os grupos gangues/thugues, comparados com os que provém de
famílias com mais recursos financeiros.
 Hipótese (10): os jovens dos grupos gangues/thugues da cidade da Praia são mais
excluídos socialmente comparados com os do Mindelo;
 Hipótese (11): Os jovens dos grupos gangues/thugues da cidade da Praia entram mais
cedo para os grupos que os do Mindelo.

1.3 Participantes
Adolescentes e jovens adultos, da cidade da Praia e do Mindelo, de diferentes faixas
etárias e nível sócio-económico, que tenham uma relação com os denominados grupos
gangues/thugues.

1.4 Critérios da amostragem


A recolha da amostra tinha como principais critérios, jovens provenientes dos bairros
mais violentos da cidade do Mindelo e da Praia e que têm uma relação directa com os grupos
gangues/thugues.

1.5 Procedimento
Em formato de entrevista, iniciamos com a apresentação da investigadora.
Respeitando o protocolo de apresentação, enfatizamos o estudo, os objectivos e sua
finalidade, salientando sempre a confidencialidade e o anonimato das respostas. Obtido o
consentimento informado e tecido o respectivo agradecimento pela colaboração no estudo,
introduziu-se a aplicação do questionário.

Quanto a aplicação dos questionários no sistema prisional da Praia e do Mindelo, foi


necessário enviar antecipadamente uma nota de pedido de autorização, ao Director Geral dos
Serviços Penitenciários e Reinserção Social, solicitando a autorização para a realização do
estudo nos respectivos sistemas, pedido que foi autorizado sem nenhum constrangimento.

A tabela 1 resume a informação sobre o trabalho de campo relativamente à área


geográfica de aplicação, unidade de análise, o tamanho da amostra e forma de recolha de
dados.

54
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Tabela 1 - Ficha Técnica do Trabalho de Campo

Área Geográfica Cidades do Mindelo e da Praia

Unidade de Análise Jovens que fazem parte dos grupos


gangues/thugues d as cidades do Mindelo e
da Praia
Tamanho da Amostra Mindelo - 60 jovens
Praia – 60 jovens
Recolha de Dados Questionários

55
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

VIII RESULTADOS

8.1 Características Sócio - Demográficas dos Participantes

O estudo incide sobre uma amostra de 120 sujeitos, com a idade compreendida entre
os 14 e os 29 anos, a média de idades é de 20 anos aproximadamente, com um desvio padrão
de 3, 046 anos. Sendo que a idade dos 20 anos seja a mais frequente (tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição da Idade dos Sujeitos

N Validos 120

Omissos 0
Média 20,16
Mediana 20,00
Moda 20
Desvio Padrão 3,046
Mínimo 14
Máximo 29
Percentis 25 5,00
50 7,00
75 9,00

56
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 1- Distribuição por Cidade

Cidade

Praia; 60; Mindelo; 60;


50% 50%

Dos 120 sujeitos inquiridos, 60 representando 50% do total da amostra vivem na

cidade do Mindelo e 60 representando 50% da amostra vivem na cidade da Praia.

Gráfico 2 - Distribuição por Sexo

Feminino; 2;
2%

Masculino;
118; 98%

Dos 120 inquiridos, 118 referentes a 98% dos sujeitos são do sexo masculino e 2 que

representa 2% da amostra são do sexo feminino e vivem da cidade do Mindelo. Esse quadro

demonstra claramente, que a adesão a esses grupos tem uma maior incidência nos rapazes do

que nas raparigas (gráfico 1).

57
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 3- Distribuição dos Sujeitos por Zonas de Residência

16 15
14 13
12
12
10 8 8 8 8
8
6 5 5
4 4 4
4 3 3 3 3 3
2 2 2 2
2 1 1 1
0
Ribeira Bote "ilha da…

Ribeira de Craquinha

Fonte Frânces

Ponta D' Agua


Safende
Calabaceira

Terra Branca
São Pedro
Varzia
Fernando Pó

Achadinha

Fonte Inês

Madeiralzinho
Bairro

Fonte Filipe
Ribeirinha

Achada Grande Tras


Lem Ferreira

Tira Chapéu
Achada Grande Frente

Palmarejo
Bela Vista
Monte Sossego "Cova"

Achada Santo António

Nas duas cidades Praia e Mindelo, os inquéritos foram aplicados nos bairros mais
violentos, em Mindelo, foram aplicados nos bairros da Ribeira Bote “Ilha de madeira” foi
inquiridos 12 jovens, Ribeirinha 15, Monte Sossego “Cova” e Bela Vista ambos com 8 inquirido
cada, na cidade da Praia os bairros de Achada Santo António, neste momento tido como o
bairro mais violento da capital, foi inquirido 8 jovens, Achada Grande Frente foi o bairro com
maior número de jovens inquiridos no total de 13 entre outros bairros como Calabaceira que
foram inquiridos 8 jovens (gráfico3).

Gráfico 4- Distribuição pela relação com o sistema educativo

Estudante

Sim 22 18%

Não 98 82%

Dos 120 inquiridos, 98, referente ao peso de 82% estão fora do sistema educativo e 22
correspondendo ao peso de 18% estão no sistema educativo. Números que demonstram que a
vida nos grupos delinquentes faz com que muitos desses jovens abandonam o sistema

58
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

educativo ou então, já estavam foram do sistema antes de entrarem para os grupos, essa
condição os facilitou a entrada.

Gráfico 5- Distribuição da relação com o sistema educativo por cidades

60
50; 83% 48; 80%
50
40
Mindelo
30
Praia
20
10; 17% 12; 20%
10
0
Sim Não

Os 60 jovens inquiridos na cidade do Mindelo, demonstram uma alta taxa de abandono


escolar sendo que um total de 50 jovens, correspondendo ao peso de 83% estão fora do
sistema educativo e dos 60 da Praia, 48 correspondendo ao peso de 80% estão fora do sistema
educativo. 10 Na cidade do Mindelo estão a estudar correspondendo ao peso de 17% e 12
jovens da Praia, correspondendo ao peso de 20% também estão a estudar.

Gráfico 6- Distribuição dos níveis de ensino por cidade

45 42; 70%
38, 63%
40
35
30 Mindelo
25
20 17; 28% Praia
14; 23%
15
10 4; 6% 5; 8%
5
0
Nunca Frequentou Básico Secundário

A maioria dos inquiridos têm o nível secundário com maior incidência para os jovens
do Mindelo, um total de 42 jovens correspondendo ao peso de 70% e 38 da Praia
correspondendo ao peso de 63% dos 60 jovens inquiridos em cada cidade, de seguida vem o
nível básico já desta vez com maior incidência para a Praia, um total de 17, correspondendo
ao peso 28% e 14 no Mindelo correspondendo ao peso de 23% dos 60 inquiridos em cada cidade
e por fim vem os que disseram nunca ter frequentado a escola, com um total de 5 para a
cidade da Praia correspondendo ao peso de 8% e 4 do Mindelo correspondendo ao peso de 6%
dos 60 jovens inquiridos.

59
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 7- Estado Civil por cidade

60 56; 93%
51; 85%
50
40 Mindelo
30 Praia
20
8; 13%
10 3; 5%
0; 0% 1; 2% 1; 2% 0; 0%
0
Solteiro União de Facto Casado Divorciado

A maioria dos inquiridos são solteiros, no Mindelo encontramos 51 solteiros


correspondendo ao peso de 85% e na Praia 56 correspondendo ao peso de 93% dos 60 em cada
cidade, de seguida vem a união de facto com mais incidência na cidade do Mindelo, um total
de 8 correspondendo ao peso de 13% e 3 na Praia correspondendo ao peso de 5% dos 60 jovens
em cada cidade. Apenas 1 da Praia é casado, correspondendo ao peso de 2% e apenas um no
Mindelo é divorciado, correspondendo ao peso de 2% dos 60 inquiridos.

Gráfico 8- Distribuição pelo estatuto sócio - económico

35 33; 55%
30
25 23; 38%
20; 33% Mindelo
20 15; 25%
12; 20% Praia
15 10; 17%
10 5; 8%
5 2; 4%
0
Muito Pobre Pobre Remediado Classe Média

Os jovens inquiridos quase a metade são pobres, com maior incidência para a cidade
da Praia um total de 33, correspondendo ao peso de 55% e 20 no Mindelo correspondendo ao
peso de 33% dos 60 jovens inquiridos em cada cidade, em segundo lugar os considerados
remediados com maior incidência para Mindelo, um total de 23 correspondendo ao peso de
38% e 12 na Praia correspondendo ao peso de 20%, em terceiro lugar encontramos os que se
consideram muito pobres com maior incidência para o Mindelo, 15 correspondendo ao peso de
25% e 10 na Praia correspondendo ao peso de 17%, dos 60 inquiridos em cada cidade. E por
fim os que são da classe média, com maior incidência para a Praia, um total de 8
correspondendo ao peso de 8% e 2 no Mindelo correspondendo ao peso de 4%

60
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 9- Questiona os Sujeitos se têm filhos

Sim; 28; 23%

Não; 92; 77%

92 Dos jovens inquiridos, correspondendo a um peso de 77% do total da amostra


referiram não ter filhos e 28 correspondendo ao peso de 23% da amostra referiram ter filhos,
dados que nos fazem reflectir em alguns pontos como: a educação transmitida aos filhos, a
qualidade de vida, uma vez que muitos não trabalham, as condições habitacionais que vão
proporcionar aos mesmos, os modelos de identificação dos filhos a segurança dos mesmos,
será que podemos indagar a transferência de geração em geração dessa problemática?

Gráfico 10- Distribuição por número de filhos

Dois Filhos;
4; 3%
Um Filho;
Três
23; 19%
Filhos; 1;
1%
Nenhum
Filho; 92;
77%

Dos 28 jovens que responderam ter filhos, 23 correspondendo ao peso de 19 % desse


total responderam ter um filho, 4 correspondendo ao peso de 4%, responderam ter dois filhos
e apenas 1 respondeu ter três filhos.

61
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 11- Fazem parte de um grupo Gangue/Thugue

Mindelo; 60;
Praia; 60; 50%
50%

100 Da amostra responderam que são integrantes de um grupo gangue.

Gráfico12- Identificação com um elemento de um grupo Gangue /Thugue

60 56 55
50
40 Mindelo
30 Praia
20
10 4 5
0
Sim Não

Dos 120 sujeitos inquiridos, 56 da cidade do Mindelo responderam identificar-se como


um gangster enquanto, que 4 responderam não identificar-se, já na cidade da Praia 55
responderam que são gangster e 5 responderam não, estes resultados, demonstram que o
grupo é claramente uma identificação enquanto uma unidade social, levando-os a definir um
nome ao grupo e símbolos de referência bem como algumas regras.

62
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 13- Distribuição por idades que entraram para os grupos gangues/thugues

20
16 Mindelo
15 12
11 Praia
10 9
10 88 7 7
45 3 4 4
5 2 21 2
1 10 01 10 01 0
0
12 anos13 anos14 anos15 anos16 anos17 anos18 anos19 anos20 anos21 anos22 anos23 anos11 anos10 anos

Das idades que entraram para os grupos gangues/thugues, 2 jovens da cidade da Praia
referiram ter entrado com 10 anos, 1 referiu entrar com 11 anos, já a partir dos 12
encontramos 4 na cidade do Mindelo e 5 na cidade da Praia, aos 13 anos 8 jovens em ambas
as cidades responderam ter entrado com essa idade, 3 da cidade do Mindelo entraram com 14
anos 16 da cidade da Praia entram com a mesma idade, 10 no Mindelo entram aos 15
enquanto, que 7 na Praia reapoderam também ter entrado aos 15 anos, 11 na cidade do
Mindelo, entram com 16 anos e 7 da Praia entram com essa mesma idade, já aos 17 na cidade
do Mindelo encontramos 12 jovens e na Praia 7, aos 18 temos 4 na cidade do Mindelo e 1 na
cidade da Praia, aos 19 encontramos 4 na cidade do Mindelo e 2 na cidade da Praia, aos 20
anos Mindelo 2 e Praia nenhum, aos 21 Mindelo 2 Praia 1, aos 22 anos Mindelo 0 e Praia 1 e
aos 23 anos Mindelo 1 e Praia 0. Estes dados reflectem a tendência maior para os jovens
entrarem nos grupos gangues/thugues cada vez mais cedo para a cidade da Praia do que na
cidade do Mindelo.

Tabela 3- Distribuição por idades que entraram para os grupos


gangue/thugues

N Validos 120

Omissos 0
Média 15,73
Mediana 15,00
Moda 14a
Desvio Padrão 2,786
Mínimo 10
Máximo 23
Percentis 25 3,00

50 4,00
75 6,00

63
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Dos 120 jovens inquiridos, entram nos grupos gangues/thugues nas idades

compreendidas entre os 10 aos 23 anos, a média de idade que entram para esses grupos é de

15 anos, a idade mais frequente que entram para os grupos é de 14 anos, com um desvio
padrão associado de 2,786 anos.

Tabela 4 - Distribuição pelas razões que os levaram a entrar para os grupos gangues/thugues

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Porque Quis 22 61 14 39
Por Obrigação/Pressão 5 62 3 38
Por Influência dos Colegas 3 12 22 88
Para Pertencer a um Grupo 3 27 8 73
Porque esta na moda pertencer a um grupo 6 60 4 40
gangue/thugue
Por causa de problemas familiares 5 42 7 58
Por falta de emprego 11 69 5 31
Para ocupar o tempo livre 8 89 1 11
Estar com os amigos 13 68 6 32
Para ajuste de contas 2 33 1 67

Estes resultas demostram que a principal razão que levam os jovens a entrar nos

grupos gangues/thugues partiu da livre espontânea vontade ou seja entraram porque

quiseram, dando maior destaque a cidade do Mindelo, em 2º lugar vem a influência dos

amigos/colegas com maior incidência na cidade da Praia.

Entre outros factores encontramos em terceiro lugar, estar com os amigos com maior

incidência na cidade do Mindelo, em quarto lugar vem a falta de emprego com maior
incidência na cidade do Mindelo, estes resultados correspondem a tendência nacional visto

que São Vicente é a ilha com maior taxa de desemprego do país, problemas familiares ocupa

o 5º lugar com uma ligeira tendência para o aumento na cidade da Praia, pertencer a um
grupo vem em 6º lugar com uma incidência maior na cidade da Praia, em 7º lugar

encontramos o factor moda, como motivo com maior incidência para a cidade do Mindelo,

ocupar o tempo livre vem em 8º lugar, com uma tendência maior para a cidade do Mindelo,
obrigação/pressão ocupa o 9º lugar com maior tendência para Mindelo e no último lugar o

ajusto de contas é um dos motivos que menos influencia os jovens a entrarem para os grupos

gangues/thugues.

64
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico14- Questiona se gostam do Grupo

60 Mindelo; 54Praia; 53
50
40
30
20
10 Mindelo; 6 Praia; 7
0
Sim Não

Dos jovens inquiridos, 54 da cidade do Mindelo afirmaram gostar do seu grupo e 53 na


cidade da Praia afirmaram gostar também do seu grupo, número bastante equilibrado nestas
duas cidades, quanto aos que referiram não gostar dos seus grupos, temos 6 para a cidade do
Mindelo e 7 para a cidade da Praia. Se reflectirmos esses resultados nos leva a pensar que a
possibilidade de romper com o grupo ou acabar com os grupos gangues/thugues é cada vez
mais difícil, uma vez que a maioria dos jovens em ambas as cidades gostam de estar nos seus
grupos, identificam mais com o grupo, a espontaneidade e a influência que sofrem dos
colegas/amigos leva-os a entrar, porque querem estar com os amigos querem estar com os
grupos.

Gráfico 15- Família se tem conhecimento que faz parte de um grupo gangue/thugue

60
Praia; 49
50 Mindelo; 46

40
30
20 Mindelo; 14
Praia; 11
10
0
Sim Não

Dos jovens inquiridos na cidade do Mindelo, 46 responderam que os familiares têm


conhecimento que fazem parte de um grupo gangue/thugue e 49 na cidade da Praia
responderam que a família também tem conhecimento, já os que responderam que a família
não tem conhecimento 14 são do Mindelo e 11 da Praia.

65
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 16- Posição da família

50 Praia; 44
45 Mindelo; 41
40
35
30
25
20
15
10 Mindelo; 5 Praia; 5
5
0
Sim Não

41 Dos sujeitos inquiridos no Mindelo, responderam que suas famílias não aceitam que
eles estejam nesses grupos e 44 na Praia responderam também que as suas famílias não
aceitam, demonstra uma tendência maior para a não-aceitação em ambas as cidades,
enquanto, que 5 na cidade do Mindelo responderam que a sua família aceita, igual numero
também para a cidade da Praia.

Gráfico 17- Reacção da família em casa perante o elemento do grupo gangue/thugue

30
24
25 21
Mindelo
20
15 12 11 Praia
10 8
5 6 5
5 1 0 0 1
0
Normal Medo Inseguro Desconfiança Decepção Não Sabe

Reflectindo a forma como os familiares reagem com o familiar que faz parte do grupo
gangue/thugue, 21 dos jovens da cidade do Mindelo responderam que os familiares regem
com eles em casa de forma normal, na cidade da Praia 24 acham a mesma coisa, 12 dos
jovens da cidade do Mindelo acham que os familiares reagem com medo, 11 na Praia são da
mesma opinião, 5 jovens da Cidade do Mindelo acham que os seus familiares sentem inseguros
em relação a eles e 8 na cidade da Praia partilham essa opinião, 6 da cidade do Mindelo
acham que os familiares reagem com desconfiança em relação a eles e 5 na cidade da Praia
partilham essa mesma opinião, apenas 1 da cidade do Mindelo acha que a reacção da família
em relação a ele é de decepção e 1 na cidade da Praia não sabe que reacção que a família

66
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

tem para com ele em casa. De uma forma geral mesmo sabendo que os filhos fazem parte
desses grupos a reacção dos familiares para com eles é normal embora não devemos descartar
outras reacções como o medo, a insegurança e a desconfiança.

Gráfico 18- Sentimentos da Família

25 22
20 18
14 13 Mindelo
15
10
10 8 Praia
7
5 2
0
Vergonha Medo Insegurança Normal

A vergonha destaca-se como o sentimento que mais as famílias têm perante o membro
que faz parte do grupo gangue/thugue, no Mindelo 22 jovens responderam que suas famílias
têm um sentimento de vergonha na Praia 18 partilham essa ideia, o sentimento de medo vem
em segundo lugar com 14 jovens na cidade do Mindelo e 13 na cidade da Praia, a insegurança
vem em terceiro lugar com 7 jovens da Praia e 8 de São Vicente partilhando essa opinião e
por fim 2 no Mindelo e 10 na Praia acham que os familiares têm um sentimento de
normalidade. Esses resultados demonstram que, apesar de a família constituir um dos
principais factores que levam os jovens a integrarem para esses grupos devido aos motivos
mencionados anteriormente, acabam por sofrer com essa situação do seu familiar,
demonstrando a vergonha e o medo como os dois maiores sentimentos dos familiares.

Gráfico 19- Inserção Social

50
Praia; 40
40 Mindelo; 33
30 Mindelo; 27
Praia; 20
20
10
0
Sim Não

Analisando a inclusão/exclusão social dos jovens enquanto elemento de um grupo


gangue/thugue, os jovens da cidade da Praia têm uma maior percepção de exclusão social, 40
jovens da Praia responderam não sentirem incluídos nas suas comunidades e 27 em Mindelo
também tem essa percepção, já a inserção social tem mais evidência em Mindelo, com 33
jovens a responderem que sentem inseridos nas suas comunidades, apenas 20 na cidade da

67
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Praia acham que estão inseridos nas suas comunidades. Portanto estes resultados nos leva a
reflectir nas políticas de inserção social para os jovens, existentes em Cabo Verde, para quem
são dirigidas, quem beneficia delas, ainda nos leva a reflectir que programas devem ser
desenvolvidas especificamente para os jovens que estão em situação de risco para o consumo
de drogas e a delinquência juvenil, visto que, a percepção de exclusão social é bem visível
nos jovens que pertencem a estes grupos

Gráfico 20- Como acham que a sociedade os percepciona enquanto elemento de um grupo
gangue/thugue

40 38
35
35
30
25 Mindelo
19
20
Praia
15 12
10
5 5 4
5 1 1
0
0
Como uma pessoa normal Como um Como um Pessoa sem princípios/sem outra. Qual
delinquente/agressivo toxicodependente educação

Essa percepção de exclusão social também repercute na imagem que a sociedade têm
dos jovens que estão nestes grupos, a maioria dos jovens responderam que as pessoas da
sociedade os vêem como um delinquente/agressivo, sendo que em Mindelo, 38 responderam
positivo e na Praia 35, um numero reduzido acha que a sociedade os vêem como uma pessoa
normal 12 na cidade do Mindelo e 19 na Praia, em terceiro lugar encontramos uma pessoa
sem princípios/sem educação, com 5 jovens do Mindelo e 4 da Praia a partilharem essa ideia,
por último encontramos a figura do toxicodependente, 5 jovens do Mindelo e 1 da Praia
acham que as pessoas da sociedade os vêem como um toxicodependente.

68
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 21- Sentimento de quando estão em grupo

40
30
30
20
20 Mindelo
14 15 12
10 8 8 Praia
10
3
0
0
mais Forte Normal Triste Mais Alegre Mais Alegre

Mais uma vez notamos a forte influência do grupo e podemos inalar uma forte coesão
grupal, quando falamos de grupos gangues/thugues, compreendendo os sentimentos dos
jovens quando estão em grupos, retemos dados importantes como: em primeiro lugar
encontramos a força, 30 jovens do Mindelo e 10 da Praia referiram sentir-se mais fortes
quando estão em grupo, com uma incidência maior na cidade do Mindelo, em segundo lugar
encontramos a normalidade, 14 jovens do Mindelo e 15 da Praia referiram sentir-se normais,
em terceiro lugar encontramos o sentimento de superioridade, 20 jovens da Praia e 8 do
Mindelo sentem-se superior as outras pessoas quando estão em grupo, em quarto lugar
encontramos a alegria, 12 jovens da Praia e 8 do Mindelo sentem-se mais alegres e o
sentimento de tristeza ocupa o quinto lugar com apenas 3 jovens da cidade da Praia,
referiram sentir-se tristes quando estão em grupos.

Mesmo estando em grupos conotados negativamente, estes jovens sentem melhor,


mais felizes quando estão com os seus colegas, do que quando estão sós nas suas comunidades
(gráfico 17), podemos então questionar acerca do que o mundo do crime oferece a estes
jovens para que ao invés de sentirem tristes com tanta destruição, sentem felizes, alegres,
fortes e superior a outras pessoas?

Gráfico 22- Quando estão sós nas suas comunidades como sentem

40 32
30 Mindelo
19 20
20 Praia
11
10 7 5 7 7
3 3 2 4
0
Isolado Excluído Inserido Normal Medo Inseguro

Já fora do grupo os sentimentos são bem diferentes, a maioria respondeu sentir


normal quando estão sós em suas comunidades, com 32 jovens da Praia e 20 do Mindelo

69
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

responderam positivamente, mas outros sentimentos como o isolamento não deve passar
despercebido, 19 jovens do Mindelo sentem-se isolados nas suas comunidades e 7 na Praia, a
insegurança também é outro sentimento que e ocupa o terceiro lugar, 11 jovens do Mindelo e
7 da Praia responderam sentir-se inseguros nas suas comunidades quando não estão em grupo,
a exclusão ocupa o quarto lugar 7 jovens da Praia e 5 do Mindelo, referiram sentir-se
excluídos nas suas próprias comunidades, no sexto lugar encontramos o medo como mais um
dos sentimentos 4 jovens da Praia e 2 do Mindelo referiram sentir medo, apenas 3 jovens da
Praia e 3 do Mindelo sentem inseridos nas suas comunidades quando não estão em grupo.

Se correlacionamos a imagem que as pessoas têm deles na sociedade (gráfico 20) com
os sentimentos que espoletam quando estão sós em comunidade (gráfico 22), podemos ver
que o isolamento, a exclusão, o medo e a insegurança são os sentimentos mais evidentes na
vida desses jovens e o grupo acaba por compensar esses sentimentos, fazendo-os sentir-se
mais fortes, mais alegres e superior a aquelas pessoas que os exclua socialmente (a
sociedade), (gráfico 21).

Gráfico 23- Percepção de Ameaça

33
35
28
30 25
25 Mindelo
20 17
15 Praia
9
10 6
5 1 1
0
Nunca Poucas vezes Muitas vezes 4

No que toca a percepção da ameaça, é mais evidente na cidade da Praia, 33 jovens da


Praia e 28 do Mindelo, responderam ter sido ameaçados muitas vezes, essa tendência
acompanha a percepção de insegurança a nível nacional, a cidade da Praia é considerada a
cidade mais insegura, com maior índice de mortalidade juvenil e delinquência juvenil, onde
há mais circulação de armas, principalmente armas de fogo, 25 jovens do Mindelo e 17 da
Praia responderam ter sido ameaçados poucas vezes e uma minoria respondeu nunca ter
sofrido ameaças 6 jovens do Mindelo e 9 da Praia.

Esses dados nos mostra a necessidade que estes jovens têm em ter os grupos cada vez
mais coesos, uma vez que, com uma percepção alta de insegurança e ameaças constantes, a
força do grupo é a melhor solução percepcionada por estes jovens.

70
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 24- Consumo de bebidas alcoólicas no grupo

40 36
35 32
30 26
Mindelo
25
20 Praia
15
15
9
10
5 2
0
Nunca As vezes Muitas vezes

Os dados nos mostra claramente que o álcool é consumida por maior parte dos jovens
que estão nos grupos gangues/thugues e esse consumo se perpetua no próprio grupo, agora a
frequência vária, a maioria respondeu consumir o álcool as vezes, ou seja 36 jovens da cidade
da Praia e 32 do Mindelo responderam positivamente, já os que consomem com maior
frequência, os jovens de São Vicente ocupam o 1º lugar, 26 jovens do Mindelo e 15 da Praia
responderam consumir o álcool muitas vezes nos seus grupos, uma minoria respondeu nunca
ter consumido álcool no seu grupo 2 na Praia e 9 no Mindelo.

Gráfico 25- Quantidade de álcool que consomem nos grupos

35 30
30
25 22 23
Mindelo
20
13 13 Praia
15
10 8
5
0
pouca Razoável Muita

Relativamente a quantidade de álcool que consomem nos grupos a maioria respondeu


consumir uma quantidade razoável, 30 jovens da cidade da Praia responderam consumir uma
quantidade razoável do álcool no seu grupo e 22 do Mindelo partilham essa opinião,
quantidades maiores do álcool são mais consumidas pelos jovens do Mindelo do que os da
Praia 23 e 13 jovens respectivamente, um número bastante reduzido responderam consumir
pouca quantidade de álcool nos grupos.

Esses resultados dá-nos algumas pistas para uma relação bastante próxima entre o
consumo do álcool e o aumento da violência juvenil, se analisarmos as alterações do
comportamento que essa droga despoleta nos jovens, podemos ver que os torna mais

71
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

desinibidos, mais agressivos, ficando mais propensos a responder com agressividade perante
uma ameaça, ou um possível rival.

Gráfico 26- Consumo de drogas Ilícitas (padjinha, pedra/crack, heroína, cocaína) nos grupos

40 35
35 32
30 25
25 Mindelo
20 17 Praia
15
8
10
3
5
0
Nunca As vezes Muitas vezes

Relativamente as drogas ilícitas também são consumidas por muitos jovens desses
grupos, 35 jovens da cidade do Mindelo e 32 da Praia responderam que consomem essas
drogas as vezes, os que responderam consumir com maior frequência vai primeiro para a
cidade da Praia, 25 responderam positivamente e 17 do Mindelo, quanto aos que nunca
consumiram a maior incidência é para os jovens do Mindelo com 8 jovens e 3 da Praia
referiram nunca ter consumido essas drogas nos seus grupos.

Gráfico 27- Consumo antes de entrar para os grupos gangues/thugues

50
39 38
40
30 Mindelo
21 22
20 Praia

10
0
Sim Não

Correlacionando estes resultados com a média de idade que os jovens entram para os
grupos, nos leva a reflectir que, cada vez mais cedo os jovens estão a consumir drogas. A
média de idade que estes jovens entram para os grupos é dos 15 anos e confrontados com o
consumo de drogas antes de entrarem para os grupos, a maioria afirmaram consumir drogas
antes de entrarem para os grupos, 39 jovens da cidade do Mindelo e 38 da Praia iniciaram o
consumo de drogas antes de entrarem para os grupos, enquanto, que 21 do Mindelo e 22 da
Praia responderam não ter iniciado o consumo antes de entrarem para os grupos.

72
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Tabela 5- Distribuição por drogas que consumiam antes de entrar para os grupos

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Álcool 35 61 22 39
Padjinha 30 46 35 54
Pedra/crack 11 100 --- ---
Heroína 2 100 --- ---
Cocaína 10 67 5 33
Extasy 1 100 --- ---

Dos 77 jovens que responderam que consumiam drogas antes de entrarem para os
grupos, questionados com os tipos de drogas que consumiam, a padjinha aparece como a
droga mais consumida nos jovens da Praia 35 jovens correspondendo ao peso de 54% dos
jovens que consumiam drogas e 30 da cidade do Mindelo correspondendo ao peso de 46%, em
segundo lugar vem o álcool agora com maior incidência para os jovens da cidade do Mindelo,
35 jovens, correspondendo ao peso de 61%, e 22 da Praia correspondendo ao peso de 39%, a
cocaína ocupa o terceiro lugar com maior incidência na cidade do Mindelo, 10 jovens da
cidade do Mindelo e 5 da Praia responderam ter consumido a cocaína, a pedra/crack, ocupa o
quarto lugar, e tendo sido consumido exclusivamente pelos jovens de São Vicente 11 no total,
a heroína e o extasy ocupam o quinto e o sexto lugar, também consumida exclusivamente
pelos jovens do Mindelo 2 e 1 respectivamente.

A padjinha e o álcool são as duas drogas mais consumidas pelos jovens antes de
entrarem para os grupos gangues/thugues a primeira com maior incidência na Praia e a
segunda com maior incidência no Mindelo.

Tabela 6- Distribuição dos sujeitos pelas estratégias utilizadas para comprar álcool/drogas ilícitas

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Agrediu 11 44 14 56
Assaltou 20 44 25 56
Pediu dinheiro há um amigo/familiar 14 40 21 60
Emprestou dinheiro 3 30 7 70
Trabalhou para adquirir o seu próprio dinheiro 16 42 22 58
Vendeu algum objecto Pessoal 8 50 8 50
Todas as opções acima referidas 12 67 6 33

Relativamente as estratégias utilizadas por estes jovens para adquirir a droga são
várias, umas mais passivas outras mais agressivas, a ocupar o lugar, encontramos os assaltos

73
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

com maior incidência para a cidade da Praia 25 jovens da Praia correspondendo ao peso de
56% responderam ter assaltado para comprar droga e 20 jovens do Mindelo correspondendo ao
peso de 44% também adoptaram essa estratégia, em segundo lugar, trabalhar para adquirir o
próprio dinheiro foi a estratégia utilizada por 22 jovens da cidade da Praia correspondendo ao
peso 58% e 16 do Mindelo correspondendo ao peso de 42%, em terceiro lugar, pedir dinheiro
há familiares/amigos é mais uma estratégia também com maior incidência na cidade da Praia
21 jovens, correspondendo ao peso de 60% e 14 no Mindelo correspondendo ao peso de 40%,
em quarto lugar encontramos a agressão também com maior incidência para a cidade da
Praia, 14 jovens correspondendo ao peso de 56% e 11 correspondendo ao peso de 44% da
cidade do Mindelo responderam ter usado a agressão para conseguir a droga, em quinto lugar
encontramos os jovens que já usaram todas essas formas de adquirir dinheiro para comprar
drogas, já agrediram, assaltaram, pediram e emprestaram dinheiro, venderam algum objecto
próprio, esta estratégia tem maior incidência no Mindelo, com 12 jovens correspondendo ao
peso de 67% e 6 da Praia correspondendo ao peso de 33%. Podemos ver que entre as
estratégias que mais os jovens utilizam, o assalto ocupa um lugar de excelência, reforçando
ainda mais a imagem de um delinquente/agressivo que a sociedade têm deles.

Tabela 7- Formas de consumo de drogas em grupo

Normalmente como consome o álcool/ outras


drogas?

Apenas com
alguns
Com todo o elementos do
Individual grupo grupo Total

Cidade Mindelo 2 29 29 60

Praia 3 28 29 60
Total 5 57 58 120

Quanto as principais formas de consumo de droga em grupo, 58 jovens responderam


consumir com alguns elementos dos grupos 29 jovens da cidade da Praia e 29 do Mindelo
responderam positivamente, numero equilibrado nestas duas cidades, 57 responderam
consumir com todo grupo, 29 para a cidade do Mindelo e 28 Praia, o consumo em grupo é
claramente a forma mais frequente de consumo de droga nos grupos, uma vez que um número
bastante reduzido responderam consumir de forma individual um total de 5, 2 no Mindelo e 3
na Praia. A coesão e união do grupo a valer mais uma vez.

74
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Tabela 8- Distribuição pelas drogas consumidas nos grupos

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Álcool 54 51 52 49
Padjinha 57 50 57 50
Pedra/crack 23 92 2 8
Heroína 1 33 2 67
Cocaína 13 32 28 68
Extasy --- --- 2 100%

Das drogas consumidas pelos jovens nos grupos a padjinha ocupa o primeiro lugar, um
total de 114 jovens responderam que consomem a padjinha nos seus grupos, com uma
percentagem equilibrada para Mindelo e Praia 50% cada, em segundo lugar encontramos o
álcool um total de 106 jovens responderam consumir o álcool nos seus grupos, com uma
ligeira tendência para o maior consumo nos jovens do Mindelo 51 % e 49% para a Praia, a
cocaína usada de forma inalada, ocupa o terceiro lugar um total de 43 jovens responderam
que consomem a cocaína no grupo, é mais consumida pelos jovens da Praia 68 % e 32 % no
Mindelo, a pedra/crack ocupa o quarto lugar, um total de 25 jovens responderam usar essa
droga no grupo com maior incidência para Mindelo 92% e 8 % para a Praia, a heroína é menos
consumida nos grupos apenas 3 jovens alegaram que consomem a cocaína nos seus grupos,
67% na Praia e 33% no Mindelo o extasy ocupa o fundo da tabela, sendo assim a droga menos
consumida apenas 2 jovens da Praia alegaram consumir o extasy no seu grupo.

Analisando estes dados podemos ver que o crack/pedra e a cocaína são drogas
altamente dependentes e estimulantes do sistema nervoso central e dado ao facto de serem
de altamente dependentes, de efeitos rápidos e de serem mais caras que o álcool e a
padjinha, faz com que os consumidores, recorrem mais vezes ao assalto e a agressão para
conseguir meios para adquirir a droga e isso demonstra mais uma vez a relação existente
entre o consumo de drogas e o aumento da delinquência juvenil.

75
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Tabela 9- Distribuição pelas drogas mais consumidas nos grupos

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Álcool 22 79 6 21
Padjinha 40 48 43 52
Pedra/crack 12 92 1 8
Cocaína --- --- 10 100

Das quatro drogas mais consumidas nos grupos, a padjinha ocupa o primeiro lugar,
sendo considerada para esses jovens como a droga mais consumida nos seus grupos, um total
de 83 jovens responderam positivamente, destes 52% são da Praia e 48% do Mindelo, com um
ligeiro aumento para a cidade da Praia, em segundo lugar vem o álcool com total de 28
jovens acham que o álcool é a droga mais consumida no seu grupo, com maior incidência para
Mindelo 79% e 21% para a Praia, a pedra/crack vem em terceiro lugar um total de 13 jovens
responderam ser essa droga a mais consumida nos seus grupos também com maior incidência
em Mindelo92% e 8% para a Praia, a cocaína vem em ultimo lugar com maior incidência para a
Praia, um total de 10 jovens elegeram essa droga como a mais consumida pelos grupo e estes
jovens são exclusivamente da Praia.

Gráfico 28- Relação entre o consumo do álcool/outras drogas com envolvimento em actos de
violência

40 35
30
30 Mindelo
20
20 13 Praia
12 10
10
0
Nunca As vezes Muitas vezes

Questionados se existe uma relação entre o consumo de drogas e o envolvimento em


actos de violência, a maioria acha que não é sempre que consomem drogas que envolvem em
actos de violência, ou seja a maioria respondeu que quando consomem drogas as vezes
envolvem em actos de violência, um total de 65 responderam positivamente a essa variável,
sendo que 35 são da cidade do Mindelo e 30 na Praia, quanto aos que acham que quando
consomem drogas muitas vezes envolvem em actos de violência um total de 33 partilham essa
opinião com uma tendência maior para Praia 20 jovens e 13 para o Mindelo, um total de 22
jovens responderam nunca envolverem em actos de violência quando consome drogas 12 no

76
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Mindelo e 10 na Praia. Os Jovens da cidade da Praia acreditam mais numa relação directa
entre o consumo de drogas e o envolvimento em actos de violência do que os do Mindelo.

Tabela 10- Distribuição por Actos de Violência praticados pelos jovens quando estão em grupos

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Brigas 40 50 40 50
Roubos 28 47 31 53
Homicídios 2 20 8 80
Nenhum acto de violência 3 50 3 50
Vandalismo 7 47 8 53
Brigas com outros grupos gangues/thugues 33 42 45 58
Agressão física a outras pessoas 13 48 14 52
Agressão verbal a outras pessoas 3 19 13 81
Violência sexual 1 33 2 67

Analisando os actos de violência mais praticados pelos jovens nos grupos


gangues/thugues, as brigas normais destacou em primeiro lugar e com a mesma percentagem
para ambas as cidades, um total de 80 jovens responderam que os actos de violência mais
frequentes nos seus grupos são as brigas 50 % para a Praia e 50% para o Mindelo, em segundo
lugar as brigas com grupos rivais, um total de 78 jovens, com maior incidência para a cidade
da Praia com 58% e 42% para a cidade do Mindelo, em terceiro lugar vem o roubo também
com maior incidência para a cidade da Praia, 59 jovens alegaram ser esse o acto de violência
mais praticado pelos seus grupos 53% para a Praia e 47% para Mindelo, em quarto lugar vem a
agressão física, com 27 jovens a responderem positivamente, 5% para a Praia e 48 para o
Mindelo, em quinto lugar encontramos a agressão verbal a outras pessoas, um total 16 jovens
partilham essa opinião, 81% para a Praia e 18% para o Mindelo, no sexto lugar vem o
vandalismo um total de 15 jovens responderam positivamente 53% para a Praia e 43% para o
Mindelo, no sétimo lugar vem o homicídio um total de 10 jovens responderam já ter havido
casos de homicídio nos seus grupos, com maior incidência para a cidade da Praia, 80% para a
Praia e 20% para o Mindelo, em ultimo lugar encontramos a violência sexual, com respostas
positivas de 3 jovens, sendo 67% para a Praia e 33% para o Mindelo.

De uma forma geral os grupos da cidade da Praia revelam maiores índices de


violência, com percentagens maiores para praticamente todos os actos de violência
mencionados.

77
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 29- O álcool/ outras drogas são a causa dos conflitos estimulados pelo grupo

30 27
25
25
20 18 Mindelo
15 13 Praia
11 11
9
10 6
5
0
As vezes Várias vezes Sempre Nunca

Na opinião dos jovens existe sim uma relação entre o consumo de drogas e
estimulação para a violência. Os jovens acham que nem sempre o consumo de drogas estimula
os conflitos nos seus grupos, um total de 52 jovens partilham essa opinião, sendo que 27 são
da cidade da Praia e 25 do Mindelo, quanto aos que acham que o consumo de substâncias nos
seus grupos estimula varias vezes os conflitos, um total de 31 responderam positivamente,
com maior incidência para a cidade da Praia 18 jovens responderam que sim e 13 no Mindelo,
quanto aos que acham que sempre que consomem drogas são estimulados para a delinquência
foram no total de 17 jovens, 11 para Mindelo e 6 para Praia, apenas 20 acha que o consumo
de drogas não os estimula a violência. Esses resultados demonstram nitidamente que os
jovens têm essa consciência, principalmente quando relacionamos com as drogas que usam
com mais frequência, álcool, padjinha, crack e cocaína. São drogas estimulantes, depressoras
e perturbadoras do sistema nervosos central.

Gráfico 30- Comportamentos após o consumo

35
29
30 27
Mindelo
25 Praia
20 16
15 12 13
10 7 7
5
5 2 2
0
Normais Agressivos/excitados Deprimidos Satisfeitos Ansiosos

Os dados voltam a confirmar mais uma vez a relação entre o consumo de drogas e a
violência juvenil, 56 jovens responderam que após o consumo de drogas ficam mais
agressivos/excitados, sendo 29 do Mindelo e 27 da Praia, 25 acham que ficam normais 12 do
Mindelo e 13 da Praia, 23 ficam satisfeitos após o consumo, 16 da Praia e 7 do Mindelo, 9

78
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

responderam ficar ansiosos 7 do Mindelo e 2 da Praia e por fim apenas 7 ficam deprimidos 5
do Mindelo e 2 da Praia.

Tabela 11- Consequências que já sofreram após entrarem para os grupos

Alguma vez teve consequências dos


actos de violência praticados pelo
seu grupo?

Sim Não Total

Cidade Mindelo 52 8 60

Praia 55 5 60
Total 107 13 120

Dos jovens inquiridos, a maioria respondeu ter sofrido consequências após entrarem
para o grupo gangue/thugue, 107 jovens partilham essa opinião, sendo que 55 são da Praia e
52 do Mindelo, os restantes 13 alegaram não ter sofrido consequências, após terem entrado
para o grupo 8 são do Mindelo e 5 da Praia.

Tabela 12- Tipos de consequências que já sofreram

Amostra
Cidades
Mindelo Praia
N (%) N (%)
Violência física/agressão física 33 44% 42 56%
Violência verbal 13 48% 14 52%
Violência psicológica 7 35% 13 65%
Questões policiais 26 42% 36 58%
Discriminação 12 52% 11 48%

Das consequências que estes jovens alegaram já terem sofrido pelo facto de estarem
nesses grupo, a violência física ocupa o 1º lugar com um total de 75 jovens a responderam
que já sofreram violência física, maior incidência para os jovens da Praia 56% e 44% para
Mindelo, em segundo lugar vem, questões relacionadas com as autoridades policiais, estão
ligado aos roubos, brigas entre grupos, agressão física, verbal, prisão com maior incidência
para cidade da Praia 58% e 42 para o Mindelo, em terceiro lugar vem a violência verbal, com
27 jovens a responder positivamente, 52% para a Praia e 48 para o Mindelo, em quarto lugar
vem a discriminação, um total de 23 jovens responderam positivamente 52% para Mindelo e

79
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

42% para a Praia e por ultimo vem a violência psicológica com um total de 20 jovens, 52 para
Mindelo e 48 para a Praia. Destas consequências, a violência física e questões policiais são as
duas principais consequências que estes jovens alegam ter sofrido.

Gráfico 31- Consumo do álcool no grupo (membros)

60
48
50
40
31 29 Mindelo
30
Praia
20 12
10
0
poucos Muitos

Analisando o consumo do álcool em grupo, a maioria dos jovens responderam ter


vários colegas no grupo que consomem álcool, um total de 77 jovens responderam ter muitos
colegas que consomem álcool nos seus grupos, mas a prevalência é maior em Mindelo, com 48
jovens a responder positivamente e 29 na Praia os restantes 43 responderam ter poucos
colegas no grupo que consomem bebidas alcoólicas, 31 para Praia e 12 para Mindelo.

Gráficos 32- Brigas com grupos Rivais

35 32 31
30 26 24
25 Mindelo
20 Praia
15
10 5
5 2
0
Nunca As vezes Muitas vezes

Relativamente as brigas com grupos rivais, 63 jovens responderam que as vezes


envolvem nesses conflitos, 32 para Mindelo e 31 para a Praia, quanto aos que responderam
que muitas vezes envolvem em conflitos com outros grupos rivais 50 responderam
positivamente 26 para a Praia 24 para o Mindelo e por fim apenas 7 disseram que nunca
envolvem em actos de violência com outros grupos, 2 para Mindelo e 5 para a Praia.

80
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 33- Quando envolvem em actos de violência como reagem

50 43 Mindelo
38
40 Praia
30
20 17

10 4 6
2 1 3
0
Com agressão Com diálogo Ignoram a situação Unem com outros
grupos gangues

A maioria que respondeu envolver em actos de violência com outros grupos gangues, a
maioria respondeu que normalmente reagem com agressão, um total de 81 jovens 43 para a
Praia e 38 para o Mindelo, em segundo lugar, unir com outros grupos para ajusto de contas é
outra reacção manifestada pelos grupos 23 jovens, 17 no Mindelo e 6 na Praia, em posições
inferiores encontramos, o diálogo com 6 jovens no total a responder positivamente e ignorar
as brigas um total de 4 jovens. Mais uma vez verificamos um índice elevado de violência nos
grupos, em que a agressão e união com outros grupos são as duas principais reacções quando
a conflitos com grupos rivais.

Gráfico 34- Sentimentos que vem após os conflitos com grupos rivais

25 21
20 16
14 Mindelo
15 11
9 10 9 10 Praia
10 6
4 5 5
5
0
Triste Alegre Medo Satisfeito Ansioso Normal

Em primeiro lugar encontramos aqueles que sentem normais após envolverem em


conflitos com grupos rivais um total de 37, 21 na Praia e 16 no Mindelo, em segundo lugar a
tristeza, 20 responderam sentirem-se tristes 11 na Praia e 9 no Mindelo, em terceiro lugar o
medo, um total de 19 jovens responderam positivamente, 10 no Mindelo e 9 na Praia, de
seguida a alegria, 14 no Mindelo e 4 na Praia, 15 responderam sentir satisfeitos 10 na Praia e
5 no Mindelo e por fim encontramos a ansiedade 6 para o Mindelo e 5 para a Praia. Podemos
ver que sentimentos positivos e negativos coabitam nos sentimentos que os jovens têm após
terem envolvido em actos de violência.

81
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Gráfico 35- Tipo de influência que sofreram após entrarem para os grupos

60
48
50
Mindelo
40 29
30 Praia
19
20 12
10 6 6
0
influências positivas Influências negativas Nenhuma influência

Confrontados com o balanço que fazem das suas vidas após entrarem para os grupos a
maioria respondeu ter sofrido influências negativas, um total de 77, responderam que suas
vidas sofreram influências negativas após entrarem para os grupos, essa percepção é mais
visível para os jovens da cidade da Praia 48 jovens partilham essa opinião e 29 no Mindelo, 25
acham que não sofreram nenhuma influencia 19 para o Mindelo e 6 para a Praia e 18 acham
que sofreram influências positivas, 12 para o Mindelo e 6 para a Praia.

Gráfico 36-Sentem felizes no grupo

38
40
33
30 27
22 Mindelo
20 Praia
10

0
Sim Não

Se correlacionamos o gostar dos grupos (gráfico 14) e sentirem felizes nos grupos,
podemos (Gráfico 36) tirar ilações que, acabar com os grupos gangues/thugues nas duas
cidades não é tarefa fácil, porque a maioria dos jovens gostam dos seus grupos e sentem
felizes, mesmo percepcionando uma influência negativa (gráfico 30) após entrarem para os
grupos a maioria sente feliz, um total 71 jovens dizem sentir-se feliz no seu grupo, sendo que
38 são de São Vicente e 33 para a Praia, 49 responderam não sentirem-se felizes nos seus
grupos 22 para Mindelo e 27 para a Praia.

82
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Relativamente a última questão, que tinha como objectivo conhecer que


sugestões/oportunidades, os próprios membros dos grupos gangues/thugues, acham que
devem ter para deixar os grupos e integrarem na sociedade e acabar com os tais grupos. As
respostas passam por linhas estratégicas que abordaram não só o poder central, local e as
próprias famílias. São de opinião que devem dar mais empregos aos jovens, para que possam
ter melhores condições de vida, criar mais espaços de lazer para que possam utilizar o tempo
livre de forma útil e saudável e mais programas para os jovens, menos discriminação social,
diminuiria a revolta social dos jovens, mais orientação vocacional e profissional, mais
formação profissional, mais segurança policial, mas menos agressão por parte dos policiais,
combater o insucesso e abandono escolar.

Quanto as famílias, estas devem começar a transmitir valores aos filhos desde de
pequenos, apelam mais atenção do pai a sua família combatendo a mono - parentalidade,
mais diálogo no seio da família, mais atenção aos comportamentos e relacionamentos dos
filhos, mais emprego as famílias, mais envolvimento das famílias na vida académica dos
filhos, apelam a mais amor no seio da famílias.

Com essas condições garantidas, eles comprometem a selar paz, desenvolver um


projecto de vida que não passa pelo mundo do crime, mas sim pelos estudos, trabalho e
constituição da sua própria família. Essas são algumas alternativas que esses jovens pensam
que devem ser levadas em consideração, para que eles possam abandonar os grupos e fazer
com que menos jovens optem por essa vida.

83
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

IX DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Com o objectivo de analisar se existe uma relação entre o consumo abusivo de drogas
e o aumento da delinquência juvenil nas cidades da Praia e do Mindelo, foi utilizado um
questionário composto por 47 questões, com perguntas abertas e fechadas, para colher
informações, que nos permitisse compreender se existe uma relação entre estas duas
variáveis e se existe, como funciona. O questionário foi aplicado a 60 jovens dos grupos
gangues no Mindelo e 60 jovens dos grupos thugues na Praia.

O questionário é composto pela caracterização sócio demográfica dos participantes,


numa segunda parte avalia a identificação dos jovens com os grupos gangues/thugues, bem
como as percepções que têm acerca desses grupos, na terceira parte, aborda questões
relacionadas com a família, numa quarta fase tentamos compreender o consumo do álcool e
das outras drogas a nível individual e no grupo, na quinta fase, entramos nas questões de
violência, como se dá e como repercute a nível individual e grupal, na sexta fase avalia a
satisfação/insatisfação e as influências que os grupos trouxeram a vida dos jovens após
entrarem e por fim tem uma pergunta aberta, cujo objectivo é apontado para soluções,
alternativas que esses jovens acham, que devem ter para saírem dos grupos e também para
evitar que outros jovens entram para esses grupos.

Muitos dos resultados apontam para observações anteriormente feitas pelo


investigador cabo-verdiano Redy Lima, verificando um aumento da violência juvenil com
maior incidência para a cidade da Praia, mas que também em São Vicente essa onda de
violência também já ganhou magnitude também preocupante.

Os jovens que participaram no estudo são na sua maioria jovens pobres e muito
pobres, então aceita-se a hipótese (9).

Verificou que cada vez mais cedo os jovens estão a consumir drogas, visto que os
resultados apontaram para uma média de idade dos 15 anos para a entrada dos jovens para
esses grupos, com maior incidência para a cidade da Praia, ressaltando que mais da metade
já consumia uma ou mais drogas antes de entrar para o grupo.

Foi exactamente nesta fase que muitos dos adolescentes pararam os estudos (ensino
secundário) visto que a grande maioria estão fora do sistema educativo, momento importante
para a entrada dos adolescentes para os grupos gangues/thugues, alias já Redy Lima no seu
estudo demonstrou que a escola tanto pode funcionar como um factor protector para o
consumo de drogas e a violência, como também, quando não corresponde as reais
expectativas dos alunos, ou quando não desenvolve uma verdade inclusão social, pode

84
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

funcionar como um motor para a vida das drogas e do crime, visto que muitos adolescentes
têm o primeiro contacto com as drogas e com os grupos ainda no sistema educativo, por isso
aceita-se a hipótese (11).

Os resultados apontaram para um aumento considerável do consumo de drogas


principalmente o álcool e a padjinha no seio da camada juvenil, resultados também obtidos
no estudo realizado por Lorenzo I. Bordonaro, em 2009 na cadeia de São Martinho na Praia,
destas drogas o álcool demonstrou ser claramente a droga mais consumida pelos jovens do
Mindelo de seguida a padjinha e o crack que também o seu uso tem vindo a crescer
consideravelmente, já na Praia a padjinha vem em primeiro lugar depois o álcool e de seguida
a cocaína em forma de pó também é bastante consumido pelos jovens nessa cidade, aceita-se
a hipótese (H8).

O aumento do consumo de drogas também esta intimamente ligado ao aumento de


insegurança social, visto que aumentaram também os roubos os tais “casu body”. Se
analisarmos o consumo do crack e da cocaína em forma de pó tem aumentado,
automaticamente por serem drogas mais caras, de efeitos rápidos e fortemente dependentes,
faz com que estes jovens recorrem aos roubos e furtos para conseguirem meios de aquisição
da droga, aceita-se a hipótese 6 (H6).

Os jovens afirmaram ficar mais agressivos/excitados quando consomem drogas, sendo


um comportamento activado pelo sistema nervoso central os torna mais propensos a
agressividade e consequentemente a violência, aceita-se a hipótese 1 (H1).

A influência do grupo foi um dos maiores factores de risco para a entrada dos jovens
para os grupos delinquentes, se correlacionamos a media de idade de entrada, o nível de
ensino que romperam os estudos, podemos ver que é na adolescência, como ficou retratada,
trata-se de uma fase em que os adolescentes são fortemente influenciados pelos pares e
também caracteriza-se por uma fase de muitas transformações, físicas, psicológicas e sociais
como frisou Blos (1967), conduzindo o adolescente para uma independência familiar, como
salientou Mahler (1973).

Os resultados demonstraram uma forte identificação dos jovens com os grupos


gangues/thugue, também um grau de satisfação em relação aos grupos que pertencem,
repercutindo numa verdadeira felicidade na vida do crime e das drogas. Enquanto, que todas
as atenções do poder central estão viradas para o combate a violência, podemos encontra-los
cada vez mais coesos, conforme revelam os resultados, demonstraram sentir muito mais
fortes e superior a outras pessoas quando estão do nos grupos, aceita-se a hipótese (H2).

Os jovens da Praia revelaram uma percepção de exclusão social bastante alta do que
os do Mindelo, o que os leva também a percepcionar os grupos não como grupos de amigos e
de jovens mas sim como grupos de delinquentes e isso só poderia levar a sociedade a vê-los

85
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

como delinquentes e não como pessoas normais dai o elevado sentimento de exclusão, aceita-
se a hipótese (10).

A briga com os grupos rivais, foi considerado pelos jovens como o segundo acto de
violência mais frequente nos seus grupos e isso tem custado caro aos mesmos, constatando
frequentemente, vários acertos de contas, com mortes e muita violência, facto mais
frequente na cidade da Praia, tida como a mais insegura do país, mas Mindelo não fica a trás,
visto que os grupos estão aumentar, juntamente com elas vem a insegurança social, aumento
dos crimes, roubos entre outros. O grau de insegurança foi mais percepcionado para os jovens
da Praia, uma vez que revelaram sofrer muitas ameaças e estes perante essa percepção
tendem a unir mais e ficarem mais coesos, munindo cada vez mais com armas brancas e de
fogo para poder responder a essas ameaças.

A violência física e questões relacionadas com as entidades policiais, foram as


principais consequências apontadas pelos jovens, que têm sofrido após entrarem para os
grupos, isso se relacionamos as ameaças constantes, as brigas com outros grupos rivais, o
aumento dos roubos e furtos podemos compreender melhor o porque dessas consequências.

Aceitamos a hipótese 4 (H4) que diz que, os jovens da cidade da Praia consomem mais
drogas ilícitas, comparados com os jovens da cidade do Mindelo visto que sendo o álcool a
droga mais consumida pelos jovens no Mindelo e na Praia mais a Padjinha, ficou provada que
as drogas ilícitas são mais usadas pelos da cidade da Praia do que os do Mindelo.

Falar em acabar com os grupos gangues/thugues é possível sim, mas não é tarefa
fácil, porque ainda temos uma alta taxa de desemprego e isso faz com que tenhamos muitos
jovens sem um projecto de vida e o mundo do crime e das drogas sem responsabilidades
aparentemente parece ser mais fácil para um jovem que vive na cidade do Mindelo e da
Praia. Precisamos combater o aumento do tráfico de drogas paralelamente a isso estaremos
também a combater o consumo dessas substâncias, apostar mais na promoção de valores no
seio da famílias, que consideramos ser um dos factores mais determinantes para essa
problemática, que não vamos atribuir responsabilidades só a pobreza, porque podemos
encontrar muitos jovens que vivem no limiar da pobreza, mas que mesmo assim não estão no
mundo do crime, a perda de valores morais no seio das famílias, a monoparentalidade, o não
comprometimento de papéis, a falta de dialogo no seio familiar, falta de afecto e atenção,
acabam por ter um peso maior que a pobreza.

Por outro lado temos jovens provenientes de famílias com bons recursos financeiros
mas que estão no mundo do crime, falta essencialmente, a atenção, dialogo, afecto,
orientação familiar, mais coesão no seio da famílias, para que os jovens sintam que fazem
parte dessa unidade social e não vão a procura de outros grupos como os grupos delinquentes
a procura de identificação e pertença.

86
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Bibliografia

Castel, R. (2006). Classes Sociais, Desigualdades Sociais, Exclusão em Casimiro Balsa, Lindo,
M.; Wessler, B.; & Marc-Henrry, Soulet (org), conceitos e dimensões da pobreza e da
exclusão social: uma abordagem transversão, Ijuí e Lisboa, Editora Unijui e CEOS, pp. 63.77

Fernandes, G.(2008). Jovens em Conflito com a lei, Praia: Ministério da Justiça.

Fildema, S. R. (2005), Compreender a Psicologia, 5ª Edição, Lisboa: Mc Graw Hill.

Michael, B. (2005). Psicologia da delinquência. 1ª Edição. Lisboa: Climepsi Editores.

Ministério da Justiça e UNDOC (2007). Estudo sobre crime e corrupção em Cabo Verde,
disponível em http://www.unodc.org/documents/data-and-analysis/dfa/Study-crime-
corruption-portuguesa.pdf

Ministério das Finanças e do Planeamento (2008). Documento de Estratégia do Crescimento


e da Redução da Pobreza, Praia: Direcção Geral de Planeamento.

Papalia, D.E.; Olds, S.W.; Feldman, T.D. (2005). O Mundo da Criança. 8ª Edição. Lisboa: Mc
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Robert, L. D. (2005). O cérebro álcool e drogas. O cérebro egoísta: aprender com


dependências. Lisboa: Instituto Piaget.

Sangreman, C. (2005). A Exclusão Social Em Cabo Verde. Uma Abordagem Preliminar Lisboa
e Praia: ACEP – Associação para a Cooperação Entre os Povos (Portugal) e Plataforma das
ONGs (Cabo Verde).

Teixeira, j. (2004). Manual de Orientação Jovens. Ministério da Juventude de Cabo Verde. 1ª


Edição. Praia:

Xiberras, M. (1993). As teorias da exclusão: Para uma construção do imaginário do desvio,


Lisboa: Instituto Piaget.

87
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Anexos

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

Anexo 1

INQUÉRITO AOS JOVENS “GANGUES” DA CIDADE DO MINDELO/PRAIA

São Vicente, Março de 2010

No âmbito da realização da dissertação, para a obtenção do grau de Mestrado em


Psicologia, pretende-se obter informações dos jovens que pertencem aos grupos
gangues, no que concerne ao Consumo do Álcool e as outras Drogas Ilícitas nos
Grupos Gangues.

Instruções

Este questionário é constituído por um conjunto de perguntas. Leia atentamente cada


uma delas antes de responder e responde com sinceridade. Coloque “X” na opção ou
opções da sua escolha. Trata-se de um estudo anónimo que em nenhum momento expõe
a individualidade dos participantes do estudo.

1. Sexo:
1. Masculino 2. Feminino
2. Idade: ___ Anos
3. Cidade:
1. Mindelo 2. Praia

4. Zona de Residência: _______________


5. Estudante?
1. Sim 2. Não
6. Nível de Ensino:
1. Nunca frequentou
2. Básico
3. Secundário
4. Superior
7. Estado Civil:
1. Solteiro 4. Divorciado
2. União de Facto 5. Viúvo
3. Casado
8. Estatuo Sócio Económico:

89
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

1. Muito pobre 4. Classe média


2. Pobre 5. Rico
3. Remediado 6. Muito Rico
9. Tem Filhos?
1. Sim 2. Não
10. Se Sim Quantos: ________
11. Fazes parte de um grupo gangue?
1. Sim 2. Não
12. Identificas como elemento de um gangue?
1. Sim 2. Não
13. O significa para si um grupo gangue?
1) Um grupo de amigos
2) Um grupo de delinquentes
3) Um grupo de jovens
14. Com que idade entrou no grupo gangue?
1) Idade: ____ Anos
15. Entrou no grupo gangue?
1) Porque quis
2) Por obrigação/pressão
3) Por influência dos colegas
4) Para pertencer a um grupo
5) Porque esta na moda pertencer a um grupo gangue
6) Por causa de problemas familiares
7) Por falta de emprego
8) Para ocupar o seu tempo livre
9) Estar com os amigos
10) Outras _____________________________________
16. Gostas do grupo que pertence?
1. Sim 2. Não
17. A sua família tem conhecimento de que fazes parte de um grupo de gangue?
1. Sim 2. Não
18. A sua família aceita o facto de pertenceres a um grupo gangue?
1. Sim 2. Não
19. Como a sua família reage consigo em casa, sabendo que pertence a um grupo gangue?

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

1) Normal
2) Medo
3) Inseguro
4) Desconfiança
5) Outra. Qual: _________
20. Qual é o sentimento da sua família por fazeres parte de um grupo gangue?
1) Vergonha
2) Medo
3) Insegurança
4) Normal
5) Outra. Qual: _________
21. Como elemento de um grupo gangue sente inserido na sua sociedade?
1. Sim 2. Não
22. Sendo elemento de um grupo gangue, como acha que as pessoas da sociedade o vêem?
1) Como uma pessoa normal
2) Como um delinquente/agressivo
3) Como um toxicodependente
4) Pessoa sem princípios/ sem educação
5) Outra: Qual? _________
23. Quando estas no seu grupo com sentes?
1) Mais forte
2) Normal
3) Triste
4) Mais alegre
5) Superior às outras pessoas
6) Outra: Qual? _________
24. Quando estas só na sua comunidade como sente?
1) Isolado
2) Excluído
3) Inserido
4) Normal
5) Medo
6) Inseguro
7) Outra: Qual? _________

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

25. Já sentiu ameaçado por pertencer a um grupo gangue?


1) Nunca
2) Poucas vezes
3) Muitas vezes
26. Normalmente consome bebidas alcoólicas no seu grupo?
1) Nunca
2) As vezes
3) Muitas vezes
27. Quando consome a quantidade é?
1) Pouca
2) Razoável
3) Muita

28. Normalmente consome outras drogas (padjinha, pedra/crack, heroína, cocaína) no seu
grupo?
1) Nunca
2) As vezes
3) Muitas vezes
29. Consumia álcool/outras drogas antes de entrar para o seu grupo?
1. Sim 2. Não
30. Se sim qual droga consumia?
1) Álcool
2) Padjinha
3) Pedra/crack
4) Heroína
5) Cocaína
6) Outras? __________________
31. Para comprar álcool ou outras drogas alguma vez já?
1) Agrediu
2) Assaltou
3) Pediu dinheiro há um amigo/familiar
4) Emprestou dinheiro
5) Trabalhou para adquirir o seu próprio dinheiro
6) Vendeu algum objecto próprio

92
Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

7) Todas as opções acima mencionadas?


32. Normalmente como consome o álcool/outras drogas?
1) Individual
2) Com todo o grupo
3) Apenas com alguns elementos do grupo
33. Nomeia às drogas que consomem no seu grupo?
1) Álcool
2) Padjinha
3) Pedra/crack
4) Heroína
5) Cocaína
6) Outra: Qual? __________________
34. Das drogas acima mencionadas qual a mais consumida no seu grupo?
1) Álcool
2) Padjinha
3) Pedra/crack
4) Heroína
5) Cocaína
6) Outra: Qual? __________________
35. Quando consome álcool/outras drogas em grupo envolvem em actos de violência?
1) Nunca
2) As vezes
3) Muitas vezes
36. Que actos violentos fazem quando estão em grupo?
1) Brigas

2) Roubos
3) Homicídios
4) Nenhum acto de violência
5) Vandalismo (destruição de praças, habitações, instituições publicas e
privadas)
6) Brigas com outros grupos de gangue
7) Agressão física a outras pessoas
8) Agressão verbal a outras pessoas
9) Violência sexual

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

10) Outros? _______________________


37. Na sua opinião o álcool/outras drogas são a causa dos conflitos estimuladas pelo seu
grupo?
1) As vezes
2) Várias vezes
3) Sempre
4) Nunca
38. Quando consomem drogas ou álcool ficam?
1) Normais
2) Agressivos/excitados
3) Deprimidos
4) Satisfeitos
5) Ansiosos
6) Outras. Qual? ____________________
39. Alguma vez teve consequências dos actos de violência praticados pelo seu grupo?
1. Sim 2. Não
40. Se sim, seleccione as consequências abaixo:
1) Violência física/ agressão física
2) Violência verbal
3) Violência psicológica
4) Questões Policiais
5) Discriminação
6) Outros: Quais? ___________________
41. Tens colegas do grupo que consomem álcool no seu grupo?
1) Nenhum
2) Poucos
3) Muitos
42. Normalmente envolvem em conflitos com outros grupos gangues?
1) Nunca
2) As vezes
3) Muitas vezes
43. Se envolvem como reagem?
1) Com agressão
2) Com diálogo
3) Ignoram a situação

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Consumo do álcool e das drogas ilícitas nos grupos de gangues/thugues da cidade da Praia e do Mindelo

4) Unem com outros grupos gangues


5) Outro. Qual? _________________
44. Quando envolve em conflitos/ violência juntamente com o seu grupo gangue como
sentes depois?
1) Triste
2) Alegre
3) Medo
4) Satisfeito
5) Ansioso
6) Normal
45. A sua vida sofreu alguma influência após entrares para o grupo de gangue?
1) Influências positivas
2) Influências negativas
3) Nenhuma influência
46. Sentes feliz por fazer parte do seu grupo?
1. Sim 2. Não
47. Na sua opinião o que deveria ser feito, para ajudar os jovens que fazem parte dos
grupos gangues, a saírem desses grupos e integrarem-se na sociedade?
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________

Muito Obrigado

95

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