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DEFORMIDADES FORMIDÁVEIS
A trajetória dos corpos transformados e da deficiência física pela moda
DEFORMIDADES FORMIDÁVEIS
A trajetória dos corpos transformados e da deficiência física pela moda
Banca Examinadora
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Data de aprovação
Nota da MCC
Dedico esta pesquisa a todos os corpos um dia transformados, e aos corpos
que estão por serem modificados pela ciência e pela moda.
Agradeço a minha grande, gigante família.
Ao apoio dos meus pais Adilson e Maria Inês.
A paciência do meu namorado Pedro.
A colaboração do ortopedista Walter Targa.
O profissionalismo e carisma das fisioterapeutas Sandra, Tia Cíntia e Rita.
A sabedoria de Denise.
Aos velhos amigos pelo suporte nas horas difíceis.
Em especial a Debby Gram e Marcelino França por retratarem minha
experiência.
E aos novos amigos, por facilitarem o caminho de mais uma jornada.
RESUMO
1
ABSTRACT
2
SUMÁRIO
Introdução .............................................................................................. 4
1 - A linguagem da moda: um reflexo social........................................... 5
2 - O Corpo............................................................................................25
2.1 - O corpo nu ....................................................................................29
2.2 - O corpo modificado .......................................................................31
2.3 - O corpo faz a moda.......................................................................36
3 - A veste no corpo ..............................................................................55
3.1 - A moda transforma o corpo...........................................................57
3.2 - Os Especialistas no corpo transformado.......................................74
3.2.1 – Vestimenta ergonômica.............................................................76
3.2.2 – O Calçado especializado...........................................................84
4 - O poder da mídia .............................................................................89
Conclusão ...........................................................................................111
Bibliografia...........................................................................................115
3
INTRODUÇÃO
4
A LINGUAGEM DA MODA: UM REFLEXO SOCIAL
5
A semiologia vem ampliando, aperfeiçoando a consciência de
modo científico.
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usar palavras, passa por essa sociedade às cegas: não a conhece:
portanto, não pode modificá-la.” (ECO, 1975:20).
A melhor sedução da moda é sua diversificação, sua
mutabilidade. Através dos artifícios da aparência, o menos perfeito pode ser
camuflado, transformado.
Fig. 1: Poiret, 1987. Com seus trajes Fig. 2: Fashion, 2002. O modelo beachwear de
lânguidos a mulher finalmente está livre para Elsa Schiaparelli dos anos 30.
respirar.
Fig. 3: A Moda do Século, 2002. A mulher pode praticar esporte na década de 20.
A história da moda nos mostra como Ela fala pela sociedade.
Nos anos 20, o corpo é libertado do espartilho por Paul Poiret, pela necessidade
que as mulheres têm de se locomover, dançar, de ficar ao ar livre, de ser
simplesmente desportista. É o espírito dos anos loucos que estimulam criadores
como Poiret e Chanel. A moda nunca mais será a mesma, a partir de agora, seu
movimento lidera os pensamentos de uma sociedade, por enquanto só do alto-
7
escalão, somente décadas mais tarde que a moda pôde ser verdadeiramente
democratizada.
8
Dior foi o primeiro estilista a apresentar suas coleções de seis
em seis meses, inclusive alterando a linha de forma radical. Ele preferia que sua
moda passasse rapidamente, assegurando assim os títulos da imprensa e
animando as vendas. Era um gênio do marketing. A mídia começou a perceber a
importância da comunicação da moda.
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à-porter assumiu a posição, primeiro com Dior, e depois com todas as outras.
Ainda em 1957, Pierre Cardin apresenta uma coleção de 150 modelos para a rua
e para a noite. Consciente de que a alta-costura não poderia mais bastar-se por si
mesma, Cardin abre a butique Eva e depois uma outra chamada Adão. Karl
Lagerfeld ao lado de muitos outros nomes cria uma aliança histórica entre
indústria e o estilo. A partir daqui, nada mais de uma tendência única, a Europa vai
ver uma transformação radical na moda. O EUA se impõe pelas tentações dos
produtos de massa que sabem fabricar como ninguém.
Fig. 4: Moda do século, 2000. As garotas no Fig. 5: A History of men´s fashion, 1993.
look colegial para dançar o rock and roll. Marlon Brando em The Wild One influenciara
toda uma geração.
“Antigamente, não seguir a linha dominante da moda indicava que se
era pobre. A partir dos anos 60, isso significa muito claramente que se
é livre.” (BAUDOT, 2002:188).
O mundo se transforma e a moda, claro o acompanha. Os
costureiros através das butiques criam linhas mais baratas e mais jovens do que
da alta costura, mas não só eles que estão presentes, criadores como Mary
Quant, na Inglaterra e Jil Sander, na Alemanha também eram adoradas. Agora a
moda fala para os jovens, independente de sua classe social. A moda não
somente descentralizou-se de Paris, como também a diferença de classe entre os
costureiros da alta costura e os criadores das butiques desapareceram. No final da
década a liberdade era total. Aos poucos surgem os estilistas, que são jovens
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criadores independentes da idade, capazes de traduzir os desejos de sua cultura
atual.
Fig. 6: Yves Saint Laurent, 1984. O vestido Fig. 7: Forty years of creation, 1998. O smoking
Mondrian de YSL inspirado na arte moderna. para a mulher eternizado por YSL questionado
A arte e a moda se misturam, uma obra reflete a sexualidade do traje. Editorial publicado
na outra. originalmente na Vogue Paris em 79.
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industrial como no social. O estilo pop da geração bem sucedida encabeçada por
Andy Warhol começa a dar lugar para a cultura hippie que surgiu no final dos 60 e
marcou definitivamente os anos a seguir.
Fig. 8: Les années pop, 2001. O ‘frágil’ vestido Fig. 9: Ronald Traeger, 1999. Um ensaio feito
criado por Andy Warhol em 63. Arte e moda com Twiggy para Vogue em 66, não publicado,
se unem na cultura pop do cotidiano. mostra juventude na foto em movimento.
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pela paz causada pela Guerra do Vietnã, a sintonia dos Beatles com tal
predisposição (pela paz) e sua grande influência sobre os jovens, a sensibilidade
de Saint Laurent para explorar tais causas. Várias manifestações sociais são
contestadas ao mesmo tempo falando pelas mais diversas tribos, será difícil saber
claramente quem se inspirou no que. Podemos afirmar: a sociedade ocidental
pedia por paz de espírito, pelo fim da Guerra, pedia para viver ‘na paz e no amor’.
Fig. 10 e 11: Street Stye, 1994. Os hippies no show dos Rolling Stones em Londres de 69. Uma
inspiração da antimoda de Saint Laurent. Na segunda, o neohippie lançado por Dolce & Gabbana
em 93 também virou febre.
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tal como a vida, já não tinha certas regras: cada um escolhia o que lhe agradava,
conforme suas necessidades cotidianas, suas preferências pessoais e sociais que
permitiam que o mesmo fizesse parte daquele pequeno grupo, daquela
determinada tribo.
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conceito de luxo será reavaliado, ou melhor, revisitado nos últimos anos do século
e nos primeiros do novo milênio de tantas formas diferentes que só o movimento
moda pode fazer. Chegará ao ponto onde ser cool é poder ter a liberdade
milimétrica de se poder misturar uma t-shirt de brechó com um tailleur Chanel,
graças ao ‘supermercado de estilos’.
Fig. 12: Style surfing, 1996. No supermercado Fig. 13: Site: Erika Palomino, 2004. São as
de estilos, os elementos que fazem o styling mais diversas inspirações que influenciam
são de diversas influências, criando um estilo Max. Sua coleção primavera-verão 2005 para
único e pessoal. a British Colony é uma prova.
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Voltando a nossa linha do tempo: Cada vez mais, a moda como
elo de comunicação da sociedade fala para populações maiores, fala por minorias
até que as mesmas se tornem luxuosas, fala de política, de desejos, de
aspirações sociais, de paixões, de luxo… enfim fala de tudo. São nos anos que
estão por vir que os jovens criadores vão demonstrar seu verdadeiro talento,
reivindicando a individualidade para cada caso. Surgirão inúmeras tendências
expostas por inúmeros criadores.
Mas ainda temos barreiras a romper para poder falar de deficiência física
como um movimento de moda. Uma delas é a barreira do masculino-feminino (já
questionada por Chanel e YSL) finalmente quebrada por Gaultier, o enfant terrible,
desde sua primeira coleção em 77, ele reconstrói a roupa de mulher e a roupa de
homem, defensor do homossexualismo e do feminismo faz com que o homem use
saia e a mulher fume charuto. Utiliza pessoas reais em seus desfiles,
independente da beleza, idade, ou se são gordos ou magros. Ele celebra a
personalidade como estigma do belo. Celebra a identidade, a cultural, a etnia.
Fig. 14: Moda-século dos estilistas, 2000. O questionamento da beleza sempre esteve em pauta
para Gaultier. Nesta coleção de 98 ele se inspira na artista mexicana Frida Kahlo.
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As punks inglesas, ainda nos 70 desenvolveram uma imagem
muito própria, uma nova estética e uma linguagem sem inibições sem se intimidar
pelas pressões sociais muito menos pelos códigos do vestuário. A butique Sex de
Vivienne Westwood vendia artigos para essa tribo dos punks antes que o
movimento tenha virado moda nas passarelas e penteados dos 80 por intermédio
de outros criadores. Outro passo foi dado.
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“Os anos 80 que começaram por volta de 1978 com a febre da música
disco, terminarão em 1989 com festas do bicentenário da Revolução
Francesa.” (BAUDOT, 2002:276).
Sem perder tempo e para seu tempo, afinal tudo anda rápido
demais, as grandes lojas anunciam freneticamente suas novidades divulgadas
pela imprensa, paralelamente aos ditames da moda da escolha, várias correntes
alternativas do mundo subterrâneo vão mostrando sua cara.
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O movimento moda está completamente popularizado, saiu das
passarelas da alta costura, se inspirou nos ricos, nos pobres, nos negros, nos
gordos e nos magros, junto com a música defendeu causas sociais e ambientais,
espalhou-se pelo mundo através da TV e do cinema, depois pela internet, se
globalizou pelo mundo unindo ingleses, italianos, japoneses, franceses,
americanos e antuérpios. O preconceito acabou! Há espaço para tudo e todos.
Você só precisa estar presente na hora certa, no lugar certo defendendo a causa
certa para fazer sucesso.
Fig. 15: Fashion at the edge, 2003. A campanha da Diesel Fig. 16: Extreme, 2003. Vestido de
de 2001 questiona o envelhecimento na sociedade Helmult Lang para o outono-inverno
ocidental. Uma das filosofias da marca é trazer para a de 96 mostra sua versão mininal da
moda os valores sociais contemporâneos. cintura do kimono.
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moda compreende e lança os basics, as roupas utilitárias minimalistas tornam-se
chique pelo ‘less is more’ – menos é mais, nos meados dos 90.
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vagam pelo planeta, literalmente. A importância da imagem é enorme, estamos na
era da imagem. O que você veste reflete quem você é no exterior e no interior.
Fig. 17 e 18: Fashion Algebra, 1998. A logomania invade a estação nos anos 90, segundo Anna
Piaggi colaboradora da Vogue Itália. Identificar um artigo de luxo por sua marca, seu logo ou sua
assinatura é simplesmente um luxo.
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Mas, o que o luxo tem a ver com os corpos transformados e a
linguagem da moda?
Fig. 19: Max Factor’s hollywood, Fig. 20: Pages from the glossies, 1998. O editorial da
1995. O futurista calibrador de Vogue americana de 95, chamado Machine Age
beleza, uma criação de 32 era fotografado por Newton enfatiza a beleza do corpo
capaz de medir a beleza da face saudável por meio da ginástica em aparelhos
para poder determinar com ultratecnológicos. O traje metálico de Mugler cria uma
perfeição as correções da harmonia perfeita entre moda, saúde e biomecânica.
maquiagem. Foi o percussor dos Cuidar do seu corpo é fundamental, afirma a revista. Usar
programas computadorizados dos da ciência para tal, é um luxo! A transformação da
atuais cirurgiões plásticos que musculatura corporal pelo movimento, e da veste futurista-
medem a simetria da face do mecânica de Mugler estão associados às inovações
cliente.. tecnológicas.
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Essa liberdade é a essência do novo milênio, a individualização
é o luxo da vida aqui e agora, é o reflexo da moda ocidental.
“Por mais que se deixe levar por inspirações etéreas, Gloria aprendeu
logo a conviver com o lado comercial da profissão.” (BORGES,
2002:374).
A coleção que está na loja é o resultado da mistura da criação
com um pouco de comércio afirma a própria Gloria para a revista Vogue Brasil.
Fig. 21: Fashion at the edge, 2003. Neste vestido- Fig. 22: Erika Palomino, 2004. Primavera-
cadeira, desenvolvido em resina para a coleção de verão 2004 de Jefferson Kulig, um modelo
verão de 99 de Chalayan, você pode carregar sua conceitual e individualizado baseado na
cadeira e sentar onde o seu corpo te levar. Além tecnologia. Confeccionado em neoprene e
do material utilizado não ser usual na vestimenta. cortado a lazer, o vestido-tiras foi baseado
Seu conceito é ainda muito mais vanguardista. na matemática.
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Hussein Chalayan é outro criador que explora o natural, a
cultura e a tecnologia, oferecendo formas inusitadas associadas a cadeiras,
mesas ou novos elementos. Trabalha com fibras de vidro, metal e resina. Suas
coleções de 99 e 2000 oferecem um monumento de idéias. Ele traz para o
vestuário a idéia do mobiliário. Com um olhar futurista será um dos maiores
questionadores da forma na veste, da funcionalidade pratica e conceitual da
mesma e ainda do corpo humano e suas funções motoras. É considerado um dos
criadores mais vanguardista do final do milênio.
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O CORPO
Fig. 23: The body, 2000. O corpo transformado na Fig. 24: The body, 2000. Man Ray
Distortion n. 141 por André Kertész em 1933 através dos deslumbrado com a fotografia fazia
efeitos fotográficos. A arte já alterava as proporções experimentos com a proporção do
corporais no início do séc. XX. corpo ainda na década de 30.
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de cada época, em cada cultura. Os ocidentais, inclusive os brasileiros modificam
seu corpo radicalmente pelo culto da beleza por processos muita vezes dolorosos.
Somente no canal pago People and Arts, sua casa pode ser
redecorada pelo programa Minha casa sua casa, ou por Enquanto você não vem;
a estética pessoal por outros programas de grande sucesso, o Antes e Depois ou
ainda pelo Esquadrão da Moda, sob o comando de Susannah e Trinny as pessoas
selecionadas (homens e mulheres) são instruídos em como devem se vestir,
cortar o cabelo, se maquiar, cuidar da pele etc. Recebem uma verba equivalente a
US$ 3000,00 para as novas compras realizadas em 2 dias, sempre orientadas
pelas stylists. As pessoas selecionadas retornam para suas casas com um
guarda-roupa novo, com um novo estilo apropriado para a rotina de cada um.
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Fig. 25: Fashion Images 1, 1996. As cicatrizes Fig. 26: Work, 2000. O uso de aparelhos
inseridas artificialmente por Mondino sugerem ortopédicos na fotografia sempre sofisticada de
uma mudança nos critérios de beleza. Uma Newton demonstra sua fascinação pelo corpo
top model pode ser transformada no feminino e um fetiche pelas próteses
computador. Qualquer imagem é possível com modeladoras da forma. Sem duvida um
tais recursos. questionamento moral sugerido por ele.
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forma radical com a precisão de uma incisão cirúrgica, vide o programa da People
and Arts de Susannah e Trinny.
Fig. 27: Extreme, 2003. Hussein Chalayan primavera-verão 2000; Victor and Rolf, 1994;
Vandervorst, 1998. São criadores especialistas na transformação corporal. Fascinados pela
proporção pertencem a geração de estilistas conceituais que criam através da veste uma ilusão
do corpo.
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O corpo nu
Fig. 28: The body, 2000. O nu sendo explorado como forma de linguagem.
Fig. 29: Body land, 1998. Aqui o corpo nu incorpora-se a paisagem.
Fig. 30: The Atlanta dream, 1996. Os atletas olímpicos australianos, formas de corpos
aperfeiçoados pela ciência e ainda desejados pelo mundo se apresentam nus celebrando o
esporte e a plástica corporal.
Sendo o corpo o primeiro elo de transformação sobre a
natureza e a cultura, o primeiro ‘movimento de comunicação do indivíduo social’,
ele é carregado de significado podendo de várias maneiras fabricar ou reconstruir
o próprio corpo, e assim transmitir diferentes sinais.
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Mutilações, cirurgias plásticas, pinturas, adornos, vestimentas,
e até mesmo a expressão corporal são interpretações sobre o corpo transformado
como meio de comunicação com o objetivo de fazer parte de um determinado
grupo, de pertencer a tal sociedade. Essas modificações radicais ou não devem
ser aprovadas pelo meio social ao qual o indivíduo pertence.
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O corpo modificado
Fig. 31: The Body, 2000. A moça cobrindo o Fig. 32: The body, 2000. A magreza excessiva
seu rosto indica a ‘vergonha’ de ser também era uma modificação corporal
identificada. A elefantíase era um dos conhecida no circo ou escondida do meio
problemas mais sérios e relativamente social. Hoje acreditasse que os distúrbios sejam
comum, explorado em grande escala no genéticos. Ambas as fotos foram retratadas por
entretenimento popular por séculos. médicos com a finalidade de estudar os casos.
31
botox etc.), o segundo involuntário, causado por acidentes em geral (para ou
tetraparalisia, amputações etc.).
Fig. 33: Mondino, 2003. A tatuagem como Fig. 34: Freaks,1999. O soldado ferido durante
modificação voluntária corporal aceita e até a Primeira Guerra, ganhava a vida fazendo a
mesmo encorajada pela moda e pela fumaça do cigarro sair pelo buraco de suas
sociedade na dec. 90. costas. Tornou-se uma atração no circo.
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Muitos destes artistas ganharam dinheiro com suas
apresentações percorrendo o EUA e toda a Europa, principalmente com o evento
da fotografia, onde após o espetáculo o público podia comprar o postal da sua
‘monstruosidade preferida’. Essas fotos eram colocadas em álbuns junto com as
personalidades favoritas da época.
Fig. 35: Freaks, 1999. Ela e sua irmã também Fig. 36. Freaks, 1999. Com 15 anos Myrtle
deformada conseguiam sustentar sua família Corbin também trabalhava no circo onde se
com suas apresentações no circo. A foto é de casou e teve 5 filhos, 3 nasceram de um corpo
1925. e 2 de outro.
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1. O ser humano instintivamente rejeita organismos danificados.
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incapacidade. Os deficientes poderiam e deveriam ser produtivos para serem
reconhecidos pela sociedade.
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O corpo faz a moda
Fig. 37: Beleza do século, 2000. Escarificações Fig. 38: Beleza do século, 2000. As cabeças
como forma auto-infligida de transformação alongadas por compressão desde a infância
corporal marcam riqueza, beleza, coragem e embelezam as mulheres desta tribo. A corte é
pertencimento a tribo. extremamente refinada.
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As tribos pintam seus corpos, valorizam suas cicatrizes e em
alguns casos chegaram a transformar seus corpos em prol da beleza cultural.
“Os adeptos europeus do piercing não conseguem ser rivais das tribos
Sara do Chade ou Surmas da Etiópia: desde a infância, as meninas
têm seus lábios furados; a pequena peça de madeira que os
transpassa, sucedem com o tempo em peças cada vez maiores até
que cheguem à idade do casamento: os botoques ou bandejas
deformaram então definitivamente sua boca… a tribo as vê
embelezadas pelos botoques.” (FAUX, 2000:239).
Muitas tribos indígenas brasileiras utilizam-se ainda hoje de
várias técnicas em prol da beleza, desde piercing nos lábios (causando
deformação permanente), como pinturas nos corpos até uma espécie de ataduras
nos membros criando o efeito de corpos mais roliços inclusive em crianças, não
chegam, porém a causar deformidades físicas concretas (a deformação de
membros), apenas efeitos estéticos, com exceção dos grandes piercings.
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fim que as mulheres conservassem pés pequenos, cânone da beleza imperial e
símbolo de sua alienação.
Fig. 39: Extreme, 2003. Os pés enfaixados foram deformados até pouco tempo. A cultura oriental
encorajava esta deformação aceita e valorizada como ícone de beleza.
Fig. 40: Extreme, 2003. As mulheres girafa de Fig. 41: Extreme, 2003. A moda se inspira na
Burna através dos anéis colocados desde a proporção da mulher girafa transformando o
infância é um dos mecanismos de alongamento corpo através da veste na coleção de Galliano
do pescoço. para Christian Dior Haute Couture de 97.
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para sustentar a altura do mesmo. John Galliano para Christian Dior Haute
Couture, em 1997, se inspirou em tais mulheres.
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Foi a primeira a pensar no conforto do corpo e a desenvolver
seus sensuais e elegantes vestidos considerando o movimento do mesmo.
Fig. 42 e 43: Fashion, 2002. No vestido preto Vionnet trabalhou a técnica do origami. No outro
também de uma construção invejável, os detalhes das rosas e a paixão pelos japoneses e pelo
corpo são suas grandes fascinações.
Madame Vionnet incompreendida no seu tempo, foi a pioneira
da modelagem ergonômica. Uma revolucionária de sua época teve o segredo de
seus vestidos desvendados décadas depois.
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Caracas, deveriam produzir desenhos próprios, especiais de acordo com as
necessidades do país e com a proporção do corpo de suas clientes.
Fig. 44: Site: Designer History, 2004. A maison Fig. 45: Fashion Images 3, 1998. A Vogue
Carven faz moda elegante para mulheres gordinhas. Inglesa publicou um editorial de moda
É a primeira manifestação da moda como linguagem sensual fotografado por Nick Knight para
que favorece uma beleza fora do padrão ideal. mulheres gordinhas.
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grávidas (mais uma nicho do mercado carente) na loja de seu marido. Tendo seu
próprio corpo como inspiração, suas roupas fizeram tanto sucesso que mesmo
depois da gravidez Rykiel foi reconhecida internacionalmente por sua moda que
se adaptava aos tempos livres, não no sentido americano do sportwear, mas ao
estilo francês que convida uma ociosidade elegante.
Fig. 46: Decades of beauty, 1998. O body Fig. 47: Style surfing, 1996. Releitura do body
painting dos anos 60 é uma manifestação painting continua sendo associada à moda
cultural relacionada à moda através da como forma de arte, expressão e
ferramenta corporal. individualização.
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Fig. 48: Freaks, 1999. Uma doença de pele Fig. 49: Visionaire 7, 2000. Na capa de uma
tornou famoso Hiki, o homem escamas de das publicações mais importantes do meio. A
forma involuntária, suas marcas na pele tatuagem que um dia foi marginalizada, hoje é
associadas à tatuagem voluntária são aceita pela sociedade graças à divulgação na
processos de individualização do ser. O moda de luxo. Aqui Marina Dias, uma brasileira
primeiro foi banido, o segundo encorajado. está usando Chanel.
“Cultive seu corpo”, era o slogan de Yves Saint Laurent, nos 70.
Um movimento que incentivava as mulheres a embelezarem sua própria imagem
abriu caminho para a individualização.
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vão utilizar no final do milênio ‘artifícios’, como o aparelho ilizarov, próteses de
titânio e até mesmo de silicone em suas passarelas.
Fig. 50: Extreme, 2003. A prótese, uma extensão das pernas está em evidência no desfile da
W< primavera-verão 98. A coleção chama-se Fetiche for Beauty.
Fig. 51: Mondino, 2003. A escama de peixe transforma o ser humano num mutante. Os artifícios
para modificação do corpo são celebrados pela moda atual.
Fig. 52: Fashion Algebra, 1998. Nas gaiolas futuristas de Paco Rabanne, publicadas originalmente
na Vogue italiana lembram trajes que prolongam o corpo de forma animal ou tecnológica. Estamos
presos ou associados ao futuro questiona Piaggi. Estamos enjaulados nas nossas descobertas, ou
a tecnologia nos auxiliara.
A Lycra tem grande influência, assim como a aeróbica na moda.
Estilistas como Azzedine Alaïa, o rei do stretch dominando todas as fazes da
construção da roupa usam materiais elásticos que mostram cada curva do corpo,
marca a silhueta da mulher contemporânea.
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multicultural, vamos admirar corpos esculturalmente perfeitos, transforma-los
através de dietas, exercícios e cirurgias plásticas na busca da perfeição. Por um
lado a busca de corpos esculturalmente perfeitos, por outro a busca de novas
proporções para moda, para vestir esses corpos outros criadores: os japoneses
serão responsáveis por transformar as proporções corporais através da veste em
formas jamais utilizadas até então.
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A era das imperfeições e das esquisitices surge. Primeiro
seremos radicas glorificando os considerados marginais: o heroin chic é uma
grande tendência dos 90.
Fig. 53 e 54: Fashion Images 3, 1998. Da autoria de David LaChapelle, o corpo não é apenas uma
forma de expressão mas sim de como ele pode ser alterado, transformado. As publicações de
moda intensificam essa mensagem na década de 90.
Todas essas deformações do corpo foram até então aprovadas
pela sociedade. Outras foram banidas, como os pequenos pés orientais. Muitas
são admiradas até hoje, pelo fato dessas distorções estarem inseridas no
movimento social de cada cultura.
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Será necessário que mais uma vez que o conceito de beleza
seja questionado para que essas transformações em conseqüência as deficiências
físicas possam ser tratadas como elementos da exploração do corpo humano.
Fig. 55: Alexandre Herchcovitch, 2002. No Fig. 56: Fashion, 2002. Miyake utiliza da body
especial de 98, ele e Mauricio Iânes criam art em sua segunda pele optical recriando uma
vestes feitas de látex. Exploram a forma do falsa ilusão do corpo tatuado. É uma
corpo pela forma do material. combinação de elasticidade e decoração.
Fig. 57: Mondino, 2003. A individualização do Fig. 58: Fashion National Geographic, 2001. A
ser é retratada pela moda literalmente individualização é retratada e respeitada na
escrevendo nele o que quer representar. diversidade social associado à moda.
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“Desde o início da sua carreira pública, em 1993. Alexandre
Herchcovitch contesta veementemente os parâmetros da moda, frustra
os pressupostos do que seja beleza, escarnece da ética de consumo
da indústria e explora com coragem questões de gênero e sexualidade.
É aqui, em especial, que seu trabalho se entrecruza com as práticas de
vários estilistas contemporâneos, para os quais o corpo, mas também
as roupas e os acessórios servem de meio de investigações sobre as
identidades do gênero feminino e masculino”. (DAWN para
HERCHCOVITCH, 2002:109).
Os questionamentos tornam-se mais e mais freqüentes. A atual
campanha da Dove, de 2004, coloca no ar várias formas de beleza, considerando
diversas raças, terceira idade, inclusive cicatrizes, tanto a beleza comum como a
beleza ‘estranha’, a beleza de estar grávida e etc.
Fig. 59/60 e 61: Sensation, 1997. A exposição realizada em Londres, por diversos artistas
interpreta pela arte o grande interesse no corpo humano visto de várias formas. A arte já está
pronta para interpretar a deficiência, a transformação corporal.
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Algumas exposições questionam o culto da beleza, e se
perguntam o que é belo. A importância do corpo, sua releitura na arte, na moda e
na comunicação são discutidas. Sensation realizada em Londres (97), os artistas
convidados falam sobre o corpo e seus tabus, retratando o lado ‘feio’ ou irônico da
deformação corporal, da morte, sexualidade, ciência etc. Extreme Beauty – the
body transformed em Nova York (2001) usa a moda atual, histórica e cultural para
relacionar as transformações radicas do corpo pela veste; conta que o ideal de
beleza varia culturalmente e modificasse pelo tempo. Retrata as transformações
dos criadores mais controversos e suas manipulações do corpo nu no desejo
torna-los ainda mais belos.
Fig. 62: Extreme, 2003. Alexander McQueen Fig. 63: Extreme, 2003. Miyake no inverno de
para o verão de 2001 absorve o rigor da forma 89 inspira-se nas armaduras. Seu interesse
na leveza das plumas.O corpo é pelo tecido e pela forma torna possível essa
completamente remodelado pelo traje. nova silhueta.
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estéticos, psicológicos e médicos (saúde) estão tão bem relacionados que só o
próprio indivíduo pode responder por eles. A estética pertence ao ser, não mais a
sociedade, esta o pressiona ao mesmo tempo em que tenta libertá-lo.
Fig. 64: Decades of beauty, 1998. A campanha da Kenar com Linda Evangelista em prol do câncer
de mama. As preocupações não se restringem ao exercício, mas também a saúde.
Fig. 65: Naomi Campel, 2002. Fotografada no Brasil para a campanha câncer de mama na moda.
Uma instituição mundial. Todas as personalidades participam de graça auxiliando na
conscientização do corpo
Fig. 66: The body, 2000. No capitulo Politic do livro, todo corpo tem um potencial político. Essa
imagem originalmente publicada em Beauty of Damage (93) serve como um alerta saudável e
também como uma exposição do corpo transformado sem preconceito.
São vários os elementos que fazem parte deste novo cenário
despertando diversos movimentos na moda. A busca pela individualização, as
preocupações sociais e/ou ecológicas, o envolvimento da plasticidade artística em
si, a nova relação do ser com o corpo. Manifestados em campanhas beneficentes,
50
em estudos ergonômicos ou simplesmente no catwalk, essas estéticas são
exploradas como elementos importantes da moda como linguagem
Fig. 67 e 68: Vogue Coleções, 1999. Icarius reflete literalmente sobre a cirurgia plástica em seu
desfile. Na primeira imagem, Ana Claudia usa um drapeado representando as deformações da
pele. Na segunda, Daniela Raizel aparece na passarela com um aparelho ortodôntico de acrílico
deformando sua boca. Um susto positivo, diz a revista.
Fig. 69: Site: Erika Palomino, 2004. Nesta coleção de inverno 2004 ele utiliza da biomecânica para
fazer moda. Luciana Curtis veste um vestido de camadas de neoprene recortados a lazer.
Tecnologia e ciência fazem parte do repertório conceitual de Kulig.
51
Jefferson Kulig, um outro criador brasileiro se interessa pela
anatomia do corpo humano, suas funções e mecanismos para o aprimoramento
da vida. Em 2004 lança sua coleção que sofreu forte influencia da biomecânica.
Fig. 70: Site: Ilizarov, 2004. O site mostra Fig. 71: Ensaio, 2001. Fotografado por Debby
como o aparelho é utilizado ortopedicamente. Gram onde a modelo utiliza um aparelho real.
52
já era modelo se viu obrigado a abandonar o mercado. Ao aparecer no desfile,
Carlos Miele (diretor de criação da marca) ajudou na sua reintegração social.
Ranimiro exibindo sua prótese também foi modelo da campanha publicitária desta
estação.
Fig.72: Fashion at the edge, 2003. A modelo portadora de deficiência utilizada na abertura do
desfile de McQueen usa aqui um agasalho Adidas feito especialmente pra ela. Essa foto foi capa
da Dazed & Confused em 98.
53
politicamente correto, mas sim, para poder observar mais um comportamento
plástico, explorar mais uma forma, um corpo diferente, uma proporção atual, um
outro desafio, sem preconceito. Apenas manifestar a arte da moda em toda sua
plenitude.
54
A VESTE NO CORPO
Fig. 73 e 75: Tierry Mugler, 1998. Na primeira figura, o ‘tailleur atitude’ criação de 97, todo
articulado mostra o contorno do corpo feminino, sedução e mistério. Na da direita de inspiração em
insetos enfatiza a mulher eternamente poderosa de Mugler. Não importa suas criações, seu estilo
é inesquecível.
Fig. 74: Fashion, 2002. A figura do meio de Yohji para o inverno de 96 demonstra a assimetria
como característica de sua carreira. O vestido parece recriar o corpo.
São propostas de vestes diferentes para estilo de vida e personalidades diferentes.
“No séc. XX, a moda significava, sobretudo uma maneira de ser, e por
extensão, de vestir-se.” (BAUDOT, 2002:8).
O movimento moda já não está ligado exclusivamente a
indumentária, e sim ao comportamento. A Moda sendo uma forma de expressão
desta sociedade, uma forma de manifestação deste comportamento se vê na
55
obrigação de transformar o corpo pela veste, modificando suas proporções,
conseqüentemente os requisitos de beleza.
56
A moda transforma o corpo
Fig. 76: Moda – o século dos estilistas, 2000. As cinturas finas eram tão apreciadas no inicio do
século passado que as mulheres se submetiam as cirurgias dolorosas para consegui-las.
Fig. 77: Galliano, 1997. Para sua coleção de verão de 97. Ele se inspira na história reconstituindo
magicamente os corselets e as proporções da Belle Epoque.
Fig. 78: Moda - o século dos estilistas, 2000. A famosa foto de Horst demonstra a sensualidade de
uma das peças mais interpretadas no vestuário feminino no ultimo século.
57
Vários estilistas inspiraram-se nesta transformação do corpo
através dos espartilhos ou corselets, desde McQueen para Givenchy em 97, como
Gaultier, Chalayan e principalmente a consagrada rainha Vivienne Westowood
responsável pela primeira releitura depois do New Look de Dior.
Fig. 79: Moda – século dos estilistas, 2000. Fig. 80: Site: Erika Palomino, 2004. Na
Coleção de inverno 95/96, Vivienne recria mais primavera-verão de 2005, Gloria repete o
uma vez o espartilho. sucesso do corselet, agora inspirado em
armaduras.
“A forma de um triângulo com a base para cima era a nova silhueta dos
anos loucos.” (LAVER, 1989:225).
Abandonado o espartilho, seus vestidos eram marcados pela
‘cintura’, logo abaixo do busto. O interesse pelo esporte, pela vida ao ar livre
58
lançou o que mais tarde seria conhecido como sportwear. Finalmente as mulheres
podiam se movimentar sem desmaiar.
59
Fig. 81/82 e 83: Moda-século dos estilistas, 2000. Na primeira, Chanel na dec. 30 usando calças,
um dos seus trajes preferidos. Na segunda, o imortal tailleur, uma criação sua nos anos 60
acompanhada de todos os detalhes clássicos: a camélia, a bijoux e a sapatilha. Na terceira, aos 50
anos de idade Chanel era mais bonita, deixou-se fotografar a vontade, promovendo sua
publicidade pessoal. Esta imagem é de Man Ray onde ela usa seus eternos companheiros: a
bijuteria, o cigarro e a elegância.
Os anos 30 pediram sensualidade e luxo, orientada pelas
estrelas do cinema americano, a silhueta apresentava-se elegante e justa, os
tecidos caíam suavemente e as costas eram desnudadas. As cinturas ‘frágeis’,
foram novamente moldadas pelo espartilho feito agora de látex, exerciam uma
pressão abaixo do peito, pois esse era levantado. A liberdade de movimentos era
importante, as mulheres trabalhavam e dançavam ao som do swing.
60
cinema. Os figurinistas percebem sua importância em escala mundial, e criam
verdadeiras obras de arte para as estrelas junto com os maquiadores
profissionais. Adrian, um mestre na arte do vestir do cinema havia reconhecido
algo ousado: podem-se esconder desvantagens físicas através das roupas – mas
também é possível acentua-las e transforma-las numa força pessoal, até talvez
numa nova moda.
Fig. 84: Magnum cinema, 1994. Edith Head, a figurinista prepara Rita Hayworth.
61
pintor para as cores, um músico para a harmonia e um filósofo para o estilo”,
argumentava. Criou vestidos de balão, vestidos-túnica, em forma de saco e
camiseiro, trabalhava com tecidos rígidos, que se adaptavam perfeitamente a
silhueta feminina. Ele foi um dos criadores de moda que sobreviveu durante a
Guerra. Entretanto seu talento só foi verdadeiramente conhecido após a
libertação. Pesquisando incansavelmente a harmonia perfeita entre silhueta,
proporções e postura, o arquiteto da moda chegou a arrancar um elogio de Dior:
“Ele é o mestre de todos nós”.
Fig. 85 e 87: Fashion, 2002. Em 1955, após ter criado o vestido-túnica, Balenciaga tornou o corpo
mais abstrato. O casado da figura a esquerda foi feito com o mínimo de cortes possíveis. Na figura
da direita, o vestido de gaze na forma de um trapézio e suas variações ficaram conhecidas como
bady-doll. Fig. 86: Moda-século dos estilistas, 2000. O famoso vestido escultural cor-de-rosa de 65
é suficientemente discreto para não eclipsar a personalidade da usuária. No pós-guerra ele
compreendia que a riqueza merecia discrição.
Christian Dior consagra as curvas e celebra o corpo feminino, a
sensualidade e a vida no pós - guerra, com seu New Look, lançado em 1947, ele
agarrou e espírito da época que não estava limitado a um só país ou a uma só
classe social. A classe média começa a se destacar no consumo de moda, ainda
dominado pela alta-costura, mas com uma presença forte no prêt-à-porter.
62
lâmpadas em forma de cartucho, jarras talhadas e cinzeiros de vidro –
tudo refletia as linhas esculturais do new look.” (SEELING 2000:236).
Ele apresentou 22 linhas diferentes, nos 11 anos que durou
seu reinado na alta costura. Deu ao corpo feminino a forma ora de um 8, ora de
um H, de um A, ou de um Y, até escondê-lo num vestido saco. As mulheres
seguiam suas idéias, não só suas clientes, mas todas as mulheres graças ao
sistema de venda de licenças, introduzido nos anos 30, permitindo fazer as cópias,
as mulheres da classe média podiam acompanhar as tendências do prêt-à-porter
de luxo e comprar um vestido copiado por 80 dólares, em vez dos 950 originais.
Assim Dior popularizou a moda, transformando através da veste o corpo de
milhares de mulheres no mundo inteiro.
Fig. 88: Moda-século dos estilistas, 2000. A criatividade de Dior combinava com sua grande
fascinação pela novidade. Para manter vivo o interesse pela moda, ele introduziu o dobro das
linhas. São seus parâmetros que seguimos até hoje.
Os anos 60 chegaram, considerada por alguns um década
sombria que provocou o desmoronamento da moral, da autoridade e da disciplina,
por outros o tempo áureo da liberdade. Foi a década mais importante do século
XX, tudo que originou mudanças nesses tempos teve conseqüências sociais,
políticas e culturais até os nossos dias, afirmam os sociólogos. Para SEELING
63
(2000) era a mesquinhez da burguesia, com suas regras de decoro e etiqueta, que
provocaram a oposição dos jovens, sua rebeldia.
Fig. 89: Pages from the glossies, 1998. Para a Vogue francesa em 70, Helmut Newton mostra a
coleção psicodélica de Courrèges. A moda vai retomar de tempos em tempos sua inspiração.
Fig. 90: Fashion imagens 2, 1997. Para a D Magazine os anos 60 futuristas e Paco Rabbane são a
inspirações no final do milênio.
Fig. 91: Alexandre Herchcovitch, 2002. Em sua coleção primavera-verão 2002 está clara a releitura
das formas futuristas de suas peças como a maneira de apresentar o catwalk.
Mary Quant esteve em harmonia total com sua época, foi a
primeira a utilizar o PVC em casacos e botas, em 1960 difundiu a minissaia, em
Londres. Sua moda refletia o espírito da década, desde o logotipo negro da flor
pop, como acessórios de lingerie e make-up, tudo para os jovens. Ela e seu
cabeleireiro Vidal Sasoon, com o desejo de copiar o penteado dos Beatles,
introduziram o cabelo curto feminino, alongando o pescoço que combinado com a
maquiagem, causavam um aspecto quase infantil. Magras e atrevidas as lolitas
reinaram com suas minissaias representadas por Twiggy e Penelope Tree. Os
64
cabelos curtos invocavam a inocência no futuro, e os compridos a inocência da
natureza na pele de Brigitt Bardot.
Fig. 92: New angles, 1999. Twiggy para Fig. 93: Decades of beauty, 1998. Jackie
revista Elle em agosto de 67. A modelo da Kennedy em 61, conhecida como uma das
inocência, da juventude. mulheres mais elegantes do século.
Fig. 94: Decades of beauty, 1998. Ursula Fig. 95: Decades of beauty, 1998. Os jovens:
Andress para o filme 007 contra o Dr. No em Keller, Bailey, Tree e Faithfull com seu estilo de
61. Um ícone de beleza feminino desejado por vida revolucionário responsáveis pelo
homens e mulheres na tela do cinema. desenvolvimento da musica, arte, moda e mídia
dos anos 60.
65
sua elegância como também a modelo Veruschka que chegou a desenvolver a
pintura do corpo, até esta se tornar a arte pura em sua nova profissão ou James
Joplin, um ícone hippie. Cada vez mais a moda está relacionada ao estilo vida, e
não a veste.
Fig. 96: Yves Saint Laurent, 1984. Coleção chamada Fig. 97: Forty Years of Creation, 1998.
African para 67. O traje safári é publicado pela Vogue
Paris em 68.
66
Para os japoneses o corte do vestuário parte do tecido,
diferente da maioria dos ocidentais que partem do corpo. Paradoxalmente
enquanto os ocidentais se matavam nas aulas de aeróbica e com dietas malucas
os orientais escondiam o corpo com vestes funcionais de formas chocantes.
67
Fig. 101 e 102: Fashion, 2002. A primeira de Yohji para o inverno/93 apresenta uma releitura do
western-style-nipônico. A segunda da autoria de Kawakubo para Comme des Garçons no
inverno/94, cria um vestido que parece ter sido usado durante anos. O tecido desgastado e
retorcido transforma o corpo e insere o conceito do já usado. São vestes que não podem mais ser
rotuladas. São tantas as inspirações, tantos os elementos trabalhados que ficará difícil definir,
nomear as criações na moda até os dias atuais.
68
desenvolvimento de tênis para a marca, atinge hoje peças de vestuário masculino
e feminino exclusivíssimas inspiradas no espírito sportswear da marca.
Fig. 105 e 106: Site: Erika Palomino, 2004. Ambas as figuras do verão 2005. Na da esquerda Huis
Clos influenciada pelo japonismo e na da direita Reinaldo Lourenço transformando a proporção de
uma simples camisa básica no corpo feminino.
Reinaldo Lourenço gosta de sobrepor idéias, proporções como
se fosse uma colagem, usar um tema sobre o outro, misturar informações como se
estivesse batendo num suco de liquidificador. “Quando olho para o passado é
sempre procurando o futuro chegar.” Relata em O Brasil na Moda.
69
“Reinaldo abriu o dia exercitando-se de modo criativo, num desfile
conciso. Partiu da camisaria masculina para trabalhar variações
assimétricas – sempre leves – da peça, em branco, lembrando seus
primeiros sucessos, nos anos 80.” (SITE: ERIKA PALOMINO, 2004).
Rei Kawakubo, que se escondia atrás da marca Comme des
Garçons mostrava vestidos assimétricos, muito largos, compridos e angulares
valorizando a assimetria e a imperfeição, como sinais de vida… seguindo a
estética japonesa. Na era do Sex e da riqueza, em 83, seu trabalho foi
considerado intelectual por Suzy Menkes: “Racionalmente, sinto-me atraída pelos
japoneses, mas meu corpo inclina-se para os franceses” disse a respeitada
jornalista.
Fig. 107 e 108: Fashion Images 2, 1997. Nesta célebre coleção Kawakubo questiona o corpo
humano e suas proporções. Ela sugere que as deformações são belas e fazem parte da sociedade
contemporânea. Várias revistas publicaram sua coleção conceitual, mais usável. Estas são da
Marie Claire japonesa por Paolo Roversi.
Sua fascinação pela forma, pela textura e seu questionamento
das proporções do corpo sempre estiveram presentes culminando em 1997
quando de maneira espetacular ela colocou chumaços em zonas imagináveis,
através dos quais os corpos ficassem deformados. O questionamento pelo corpo
associado à forma foi aqui apresentado por Kawakubo, deixando no ar a pergunta:
o que é belo? Ela mesma responde: as deformidades são formidáveis. Suas obras
são arte para usar sobre o corpo.
70
Já constatamos que somente após a metade do séc. XX as
transformações corporais começaram a iniciar sua aceitação social. A moda, como
linguagem que vai além da veste começa sutilmente a falar sobre esses corpos.
Com as ‘marcas-conceitos’, desenvolvidas muito a partir dos anos 80, os trabalhos
dos criadores de moda começam a obter atenção para essas formidáveis
deformidades.
Fig. 109, 110 e 111: Extreme, 2003. Na da esquerda, Martin Margiela inverno 2000 apresenta a
forma de um trapézio encurtado somente possível se empregando técnicas de modelagem em
tecidos rigorosos. Na fig. central W<, inverno 97 com sua jaqueta inflável o usuário pode se
quiser deformar ainda mais o corpo. Na da direita, Junya Watanabe para o inverno 98 constrói uma
estrutura em metal e tecido reconstruindo a engenharia das anáguas do séc. XIX. Esses são
alguns dos novos criadores, dos novos nomes da moda que transformam radicalmente o corpo. A
plasticidade do corpo e da veste é explorada por todos.
No final da década de 90 e início do novo milênio são inúmeras
as interpretações dos criadores de moda transformando o corpo, dando novas
dimensões mais radicais. Extremas transformações inspiradas na própria história
71
da moda ou na arte rompem de tal forma as barreiras do ser humano com seu
corpo que a cada estação, várias manifestações são realizadas. O desejo de
transformar é mais forte, são agora comunicáveis de forma legível, os sinais não
são mais fracos como um dia afirmou Humberto Eco.
Fig. 112: Site: Erika Palomino, 2004. Jun Nakao para verão 05 faz uma coleção de papel
explorando as formas de maneira fascinante, os vestidos são rasgados no final do desfile.
Fig. 113 e 114: Extreme, 2003. Na do meio Yohji interpreta a madeira e a dobradiça na veste,
exposto na galeria o criador de moda também faz arte. Os movimentos da moda com a arte são
associados desde os anos 60. Na da direita, Hussein Chalayan para o verão 2000 esculpi o tule no
vestido transformando a modelo num cabide da forma.
No processo de criação são inúmeras as brincadeiras, as mais
diversas reunião de fatos, desejos e jogadas de marketing anunciam a cada
estação uma nova criação, uma nova proporção corporal dado pela veste ou pela
transformação do próprio corpo.
72
de comunicação capaz de personificar o corpo, transformando-o radicalmente
através da veste.
Fig. 115: Extreme, 2003. Viktor and Rolf Fig.116: Site: Erika Palomino, 2004.
inverno 01. Pela estética, pela forma, pelo Herchcovitch verão 05 mostra a leveza da
conceito, pelo marketing os estilistas forma numa releitura perfeita para o verão,
transformam sua passarela num verdadeiro realçando o desejo de felicidade e
show de talentos. individualidade do coletivo.
73
Os especialistas no corpo transformado
74
simplesmente adaptados de produtos já existentes, ex.: babadores-protetores.
Outros produtos são resultados de pesquisas da engenharia biomecânica (a
bicicleta ergonômica) até chegarmos ao vestuário, por sua extensão, os sapatos.
Fig. 117: Site: Able clothing, 2004. O barbador- Fig. 118: Site: Roli-moden, 2004. Esta bicicleta
protetor utilizado na alimentação das pessoas foi desenvolvida especialmente para portadores
com dificuldades de movimento. Ideais para de deficiência poderem se exercitar. O design é
proteger suas vestes. fantástico.
75
Vestimenta ergonômica
76
Fig. 119 e 120: Site Silvert’s, 2004. O vestido e a capa são fáceis de vestir e usar. Podem ser
encomendada pela web em diversas cores. Estas peças são comercializadas para diversas
debilidades humanas: Alzheimer, Artrite como problemas de mobilidade.
Fig. 121: Site: Able Apparel, 2004. Uma das peças mais vendidas por essa confecção é sua capa
de chuva feita especialmente para cobrir o indivíduo e seu meio de transporte.
Com o lema: “When you look good, you feel better” – Quando
você aparenta bem, você se sente melhor. A proprietária da Easy Acess Clothing
oferece dicas de como adaptar suas roupas para determinadas necessidades,
como quem precisa utilizar um tubo para urinar. Este site vende seus produtos
77
somente pela web. Eles produzem roupas confortáveis e adaptadas para crianças
mulheres e homens.
Fig. 122 e 123: Site: Easy Acess Clothing, 2004. Indicam o tipo de tecido, confortável e macio,
assim como aberturas estratégicas, principalmente nas calças para facilitar seu uso.
Finally it fits é um outro site que oferece serviços de adaptação
para roupas para pessoas que tem dificuldade em se vestir. Suas vestes são para
serem usadas no dia a dia, atendendo o público feminino e masculino. Os pedidos
são realizados pela web por encomenda antecipada onde o cliente pode escolher
o artigo por seções (cadeira de rodas, homens, mulheres etc.) depois selecionar o
tamanho e a cor. Existem fotos dos produtos com as opções oferecidas inclusive o
preço.
78
conforto e funcionalidade com estilo, como eles mesmo rotulam. Garantem a
satisfação de seus produtos, ou o dinheiro de volta. Seus artigos também podem
ser comercializados pela web.
Fig. 124 e 125: Site: Professional Fit Clothing, 2004. As luvas de couro com velcro e sem dedos
são encomendadas pela web, o tamanho e a cor são opcionais. Esta camiseta protetora é uma
alternativa para os babadores-protetores convencionais que podem diminuir a auto-estima. Neste
caso o design foi considerado para se aproximar de uma t-shirt comum.
Talvez uma das empresas mais completas seja a Rolli-moden.
Desde 96 Manfred Sauer, um executivo fã da atividade física, também insatisfeito
com os artigos oferecidos no mercado alemão fundou sua própria empresa
direcionando seus artigos para portadores de deficiência física.
79
Fig. 126 e 127: Site: Rolli-moden, 2004. Os produtos casuais e sociais são confeccionados
especialmente para portadores de deficiência física.
Existe ainda a Specialty Care Shoppe, um site que oferece
artigos de lingerie para mulheres, fortalecendo o elo da sensualidade
independente da deficiência.
80
em alguns casos, um apego. Suas considerações devem ir além do natural e
respeitar as características de cada indivíduo. Para os portadores de deficiência
os planos e eixos anatômicos normais mudam dentro da postura correta do ser
humano, para um outro, com diferenciais e particularidades da sua patologia, é
necessário ler o corpo do ser o que significa analisar suas diferenças da
normalidade, desenvolver técnicas que resultem em soluções saudáveis ao físico
e ao psicológico, dentro de um trabalho em que custo e benefício da confecção
tornem-se satisfatórios.
Fig. 128, 129 e 130: Site: Rede Saci, 2004. O desfile de 2003 na Reatech em 2 momentos, o
primeiro com vestimentas básicas do dia a dia, os jovens dançam com suas próteses comemoram
na cadeira de rodas. Na terceira foto, o segundo momento: um estilo sofisticado prova que o
deficiente pode ser elegante e estar confortável ao mesmo tempo.
“Esse consumidor completamente negligenciado pelo mercado
enfrenta um sério problema quando o assunto é vestuário. Costumam
usar peças dois números maiores, para se sentirem confortáveis.
Pessoas com deficiência nas mãos podem levar até 20 minutos para
abotoar uma camisa. Quem tem sensibilidade só em uma mão, por
exemplo, não consegue colocar uma calça normal, com zíper ou botão;
a peça sobe enroscando no joelho. Quando o problema é nas pernas,
81
você não imagina como um bolso, um zíper ou uma costura grossa
dificulta.” Afirma Maria de Fátima indignada. (SITE: REDE SACI, 2004).
A ACA desde 1986 é uma organização americana criada com o
objetivo de informar as pessoas amputadas, cuidar da sua saúde, auto-estima,
sua mente, comunicar sobre os avanços científicos etc. Em 96 receberam
recursos federais podendo assim tornar-se uma grande instituição ampliando suas
metas: Favorecendo serviços especializados, publicando revistas periódicas e
livros de ajuda, serviços especiais para crianças etc. São considerados uma das
instituições de maior contribuição social, inclusive com um dos sites mais
completos sobre o assunto, possuindo até uma biblioteca e um sistema de busca.
Fig. 131: Site: Fredom-Innovations, 2004. A empresa enfatiza uma vida ativa para as pessoas
que necessitam de próteses. Os mais variados esportes são suas inspirações.
82
orgulhosos estão seus modelos. Eles encaram a multidão tornado-se exemplos de
beleza e de vida, assim como na passarela fashion de Paris, Londres ou São
Paulo são objetos de desejo, provendo motivação e inspiração sem preconceito.
83
O Calçado diferenciado
84
pernas. Em 1968 o tamanco Original Dr. Scholl’s introduzido no mercado
americano gerou uma febre fashion.
Fig. 132. 133 e 134: Site: Dr. Scholl’s, 2004: Na da esquerda, o modelo original em vermelho (o
primeiro era branco). Na segunda, acompanhando as exigências do mercado a empresa faz uma
sandália anatômica de salto alto. Na imagem da direita o tamanco é reeditado na estampa
Burberry para acompanhar mais uma vez o hit da moda.
No verão de 2003 todas as revistas de moda recomendavam
como item básico para passar o verão uma Birkenstock. A sandália foi produzida
nas mais diversas estampas. A moda pegou emprestado primeiro da Dr. Scholl’s
nos anos 70, e depois da Birkenstock no começo do novo milênio seus calçados
anatômicos transformando-os em verdadeiros itens indispensáveis da estação.
Fig. 135, 136 e 137: Site: Birkenstock, 2004. Na da esquerda com inspiração indiana, a no meio
considerada mais urbana e a ultima uma releitura metalizada do modelo original. As sandálias
acompanham diversos estilos de vida.
A comunicação da moda, sua linguagem se apossa de tudo que
lhe convier. A mídia teve e continua possuindo o poder de transformar pequenos
pares de sapatos anatômicos em febre fashion. Por outro lado as empresas
citadas acima não ficaram paradas no tempo, acompanharam o desenvolvimento
85
industrial e o desejo de artigos atuais criando uma série de artigos atualizados e
modernos, e ainda anatômicos.
Fig. 138: Site: Silvert´s 2004. Esses Fig. 139: Site: Professional Fit Clothing, 2004. As
calçados estão a venda em diversas cores botinhas tem solado antiderrapante e são fáceis de
e tamanhos, porem a estética lembra as colocar. Mas o design deixou a desejar.
botinhas ortopédicas.
Fig. 140: Site: Rolli-moden, 2004. O tênis aqui apresentado está à venda no site. É confortável,
fácil de colocar, tecnologicamente moderno e ainda belo. Poderia ser vendido inclusive para
pessoas sem deficiência. É um produto fashion por conceito.
86
Alguns estudos atuais estão sendo realizados na concepção de
calçados que integram funcionalidade e beleza para deficientes que possuem
diferenças nos tamanhos nas pernas.
Fig. 141 e 142: Estudo, 2004. Em ambas as fotos foram aumentados no total 3cm no pé direito,
utilizando PVC. No tênis Adidas para diminuir o efeito óptico do aumento da sola os recortes
acompanham o design original e também é utilizada uma palminha interna de 1cm. Na da direita, a
papete Reef teve um aumento na sola e também uma ‘cava’ no meio da mesma com a intenção de
diminuir as diferenças visuais.
Os calçados sociais, principalmente os que envolvem salto alto
são o maior desafio, já que ao alterar o tamanho do salto também é necessário
compensar a curvatura do pé. A escolha das substituições do salto são cruciais
para um melhor style associado a funcionalidade do mesmo. O objetivo é disfarçar
87
as diferenças para que o calçado possa acompanhar a vestimenta deste portador
de deficiência que muitas vezes teria de esconder seus pés.
Fig. 143 e 144: Estudo, 2004. Estes são os casos de sapatos sociais. No da esquerda, o scarpin
Pollignanno Al’mare teve o salto fino alterado em ambos, sendo o maior da direita, a palminha
interna também é utilizada. No sapato da direita, da Zara, o salto foi acrescentado em 2cm, para
compensar a curvatura da planta do pé uma leve extensão da sola até o bico foi colocada em 1cm.
Fig. 145: Estudo, 2004. Neste legítimo Chanel foram alterados o tamanho do salto, uma
compensação na planta do pé e também a tornozeleira foi colocada para melhor fixar o sapato.
88
O PODER DA MÍDIA
Fig. 146: Key moments in fashion, 1998. A primeira capa da Vogue em 1892, uma das revistas
mais importante de moda de todos os tempos, vai influenciar o século XX com suas sugestões.
89
ficou eletrizada com os tons de ouro e púrpura, e alterou totalmente a decoração
de sua casa depois da atuação do balé. A música também inovadora, considerada
eletrizante, contribuiu para o seu sucesso.
Fig. 147: Fashion, 2002. Poiret era famoso por suas festas a fantasia onde convidava toda a
sociedade unindo banqueiros com artistas.
90
de simples calçados elevam o status dos sapatos, tornando seus produtos
verdadeiros objetos de desejo.
Fig. 148: Moda-século dos estilistas, 2000. Os Fig. 149: Visionaire 22. Os calçados criados por
sapatos dos anos 20 criados especialmente Manolo satisfazem outra necessidade da moda
para dançar. A influencia da música gerou de luxo: status. São exemplos de estilo e
uma necessidade fashion. conforto na medida que o próprio salto permite.
91
Durante séculos a revista e o jornal eram os meios de
comunicação mais efetivos, também os mais rápidos, só vão perder terreno para a
massificação da TV nos anos 60. Os meios perdem um pouco do poder, mas
ainda assim algumas revistas são consideradas verdadeiras bíblias da moda: a
Vogue Itália por sua personalidade e a Vogue América por sua capacidade de
globalização (é a revista de moda/comportamento mais consumida do globo
terrestre até os dias atuais). De tempos em tempos algumas outras leituras são
obrigatórias, fazem parte da estação, falam pela moda como falam para a
sociedade daquele ano. Assim encontramos as mais diversas publicações de
vanguarda: Rolling Stones, ID, The Face, Dazed and Confused, Frank, Jane,
Numero, View, Purple, Visionarie, Tank entre muitas outras.
Fig. 150: Smile ID, 2001. O questionamento Fig. 151: Fashion Images, 1998. A modelo
do corpo humano, e até mesmo da parece uma marionete. A moda e a estética
massificação da tecnologia transformando conseguem manipular o corpo em conjunto com
nossos corpos está aqui representado por a ciência. A mídia o retrata nesta publicação da
esta foto publicada na revista ID de outubro The Face outra revista de vanguarda intitulada:
de 2000. Um dia estaremos todos iguais Girls in Bath. Originalmente publicada em 97.
abandonados num depósito.
92
Fig. 152: Fashion Images, 1998. No livro que seleciona as imagens de moda mais significantes
do ano, se encontram grandes modificações plásticas do corpo. Um dos assuntos favoritos do
séc. XXI.
93
relatados pela mídia, os problemas do cotidiano também. As revistas de moda não
ficam pra traz, retratando em editoriais os corpos transformados, falando da
atualidade social. Contribuindo pela informação na quebra dos preconceitos
perante o estigma da deficiência.
Fig. 153: Vogue América, 1995. O uso do Fig. 154: Dazed & Confused, 1999. Publicado
ilizarov no editorial da revista de moda originalmente na edição 48 que aborda o tema
comportamental mais famosa do mundo. da mobilidade através deste editorial. Esta
Definitivamente o espaço da deficiência é revista é responsável por uma série de imagens
defendido pela moda dos questionadores da estética.
94
O editorial Acess-Able fotografado por Nick Knight inclui a
contribuição de diversos designers que criaram as peças especialmente para cada
patologia apresentada. Também na matéria foram incluídos breves depoimentos
dos modelos.
Fig. 155: Freaks, 1999. Francis que trabalhava Fig. 156: Dazed & Confused, 1998. Alison
no circo era conhecida por segurar o revolver Laper exibe com orgulho seu corpo
com uma mão e puxar o gatilho com a outra. A transformado. Chalayan é o responsável pela
realidade há um século. fragmentação.
“Eu não quero que as pessoas achem que eu sou bonita apesar da
minha deficiência, mas por causa dela. Esta é minha missão: mudar o
conceito do que é belo e do que não é”. (DAZED & CONSUSED 46,
1998:82).
Este editorial foi reapresentado em grandes publicações de
moda posteriores, como em Fashion at the Edge de EVANS (2003):
95
venceu na para-olimpíada, uma mulher forte e sensual. Parece uma imagem do
começo do século passado e a outra do novo milênio.
Fig. 157, 158,159 e 160: Dazed & Confused, 1998. O editorial retrata diferentes corpos, diversas
deficiências. Acima à esquerda está Aimme. A direita, David Toole sem as pernas usa McQueen.
Abaixo à esquerda, Helen Mcintosh veste Roland Mouret, à direita Catherine Long usa vestido
Comme des Garçons.
96
Outro meio de comunicação também vai se manifestar no final
da década de 80: o cinema. Antes de contribuir terá que passar por diversos
processos de modificação social.
Filmes como The Wild One, com Marlon Brando usando uma
camiseta branca, casacos de couro e jeans e Fúria de Viver, com James Dean,
97
tornaram-se mais tarde (quase uma década) uniforme que significam nos jovens
um descontentamento.
Fig.161 e 162: Haute Pointure, 1989. Na da esquerda Marlon Brando em 59. Na da direita Peter
Fonda em Easy Rider de 69. Ambos os filmes vão se inspirar na rua acentuando o comportamento
de uma geração.
Mais do que o cinema ou a indústria da moda, o rock teve um
impacto considerável sobre o domínio visual. Primeiro encabeçado por Bill Haley e
depois por Elvis Presley a juventude começa a assumir a liderança pela imagem
social, pela moda, afirma FAUX (2000).
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“A música era o elemento que unia os jovens do mundo ocidental para
além de todas as fronteiras sociais, raciais e de sexo.” (SEELING,
2000:338).
Fig. 163: Street Style, 1994. O estilo Dirty- Fig. 164: 100 Photos du siècle, 1999. O estilo
Rockabbilly nas ruas de Londres nos 80. hippie, que os Beatles ajudaram a difundir ia
Inspirados nas guitarras dos 50. além da veste, era uma filosofia de vida.
Fig. 165: Street Style, 1994. O estilo Mod difundido nos anos 60 pelos Beatles.
99
como sua filosofia de vida, desencadeando posteriormente no movimento do
flower power.
Fig. 166: Site: Estado de São Paulo, 2004. Hebert Fig. 167: Site: Estado de São Paulo,
Vianna, uma personalidade volta ao palco. É recebido 2004. Reeve, outra personalidade
calorosamente pelo seu público fiel. deficiente sempre elegante.
100
tetraplégico. Desde então usou seu status de ator famoso em favor as pesquisas
com células-tronco. Graças ao poder aquisitivo de Reeve ele pode usufruir das
melhores tecnologias e também possuir uma equipe de apoio que o ajudasse em
seu dia a dia, inclusive a se vestir. Foi um dos deficientes mais elegantes, suas
roupas eram feitas sob medida.
Fig. 168 e 169: Beleza do século, 2000. Usando celebridades, a campanha dos sabonetes Lux já
usou Marliyn, Marlene Dietrich e até Gisele e Malu Mader (usando o sabonete qualquer mulher
poderia se transformar nesses dois últimos ícones de beleza brasileiros).
101
Ainda no cinema, diversos filmes começam a demonstrar as
deficiências físicas como parte do cotidiano da vida de muitos no mundo inteiro.
Esses filmes retratam a consciência social que está se formando.
Fig. 170: The body, 2000. A inspiração de Fig. 171: Site: Adoro Cinema, 2004. Com o
1910. Casos de deformidade genética eram auxílio da maquiagem o ator foi deformado para
comuns nesses anos. o filme O Homem Elefante.
102
Julho, estrelado por Tom Cruise, ou Forrest Gamp, onde o capitão de Tom Hanks
encontra seu destino com as pernas amputadas.
Fig. 172: Site: Adoro Cinema, 2004. Em Nascido em 4 de Julho o ator Tom Cruise se vê com as
dificuldades de um paraplégico, como ter que ser carregado.
103
Fig. 173 e 174: Site: Adoro Cinema, 2004. Na da esquerda Cuba interpreta o mergulhador em
Homens de Honra. Na da direita, o ator está preso à cadeira e aos movimentos de um único
membro de seu corpo, em Meu Pé Esquerdo.
A indústria cinematográfica (o cinema, por conseqüência a TV,
o VHS e depois o DVD) abordou o caso dos portadores de deficiência física e
suas complexidades, nenhum deles relacionados à moda em si, ou a vestimenta,
mas como casos de experiências pessoais refletidos na sociedade. Os filmes
relatam as causas de uma sociedade ocidental. Falam de problemas até então
desconsiderados pela mesma.
104
os clubbers, passando antes pelas discotecas, e pelo som disco marcado também
nos musicais inesquecíveis: Greese, Embalos de Sábado a Noite, Flash dance,
Fama dentre muitos outros.
Fig. 175: Moda-século dos estilistas, 2000. Com o corpete criado por Gaultier, para sua turnê de
90, ela é símbolo da forte e decidida mulher destes anos.
105
famosas… adotando constantemente novas identidades, Madonna
mostrou que uma mulher pode ser qualquer mulher, desde que tenha o
look certo.” (SEELING, 2000:493).
Ela não somente abre caminho para várias tribos diferentes
como também afirma que as mesmas possam se entrelaçar que o ser humano
pode possuir várias identidades, conforme suas aspirações pessoais. Madonna
marca sua época e demonstra a filosofia da próxima.
106
Fig. 176: Beleza do século, 2000. N. 5 da Chanel lançado em 1921 iniciou na perfumaria uma
revolução.
Fig. 177: Moda, 2004. Nesta edição são indicados livros, som e cheiros tropicais para
acompanhar a imagem do verão tropical.
107
nos permite pesquisar conhecer, reconhecer e também, infelizmente esquecer
informações importantes que representam nossa cultura atual.
Fig. 178: Site: The Nth Degree, 2004. Com humor eles oferecem roupas para estilos pessoais diferentes.
108
Foram encontrados com essa pesquisa sites que oferecem
vestimentas especiais para os mais diversos tipos de deficiências, em geral para o
caso de mobilidades, tais sites são muito divulgados na Inglaterra, EUA e Canadá.
Indicam nessas regiões lojas especializadas no comércio de roupas
confeccionadas especialmente para algumas deficiências. Infelizmente no Brasil
ainda não encontramos tais serviços relacionados à vestimenta, muito menos com
estilo.
AACD: www.aacd.org.br
Setor 3: www.setor3.com.br
109
física e a moda como um todo, como linguagem da sociedade são insuficientes.
No mundo existe um mercado carente, necessitado desta integração a disposição.
110
CONCLUSÃO
111
A moda, como ferramenta de expressão social pôde defender
os corpos diferenciados nas passarelas de Paris, São Paulo ou nos eventos
direcionados a esse mercado carente de produtos especializados, sem distinção,
sem preconceito.
112
CONCLUSIONS
113
increasing obsession by the perfect body, and the physically disabled can be
beautiful too. At last!
The world today is much more cruel with the almost perfect,
than with the completely ‘imperfect’ (the disabled). The later already achieved
there place in the arms of the questioning of the beautiful.
114
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