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INTRODUÇÃO E PANORAMA

MUNDIAL DA INCLUSÃO

Autoria: Giovani Mendonça Lunardi

1ª Edição
Indaial - 2022

UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2022


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

L961i

Lunardi, Giovani Mendonça

Introdução e panorama mundial da inclusão. / Giovani Men-


donça Lunardi. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

116 p.; il.

ISBN 978-65-5646-365-0
ISBN Digital 978-65-5646-366-7
1. Inclusão social. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da
Vinci.

CDD 360
Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Da Era Dos Deveres Para A Era Dos Direitos............................7

CAPÍTULO 2
Diversidade E Inclusão Social...................................................45

CAPÍTULO 3
As Organizações E A Responsabilidade Social........................85
APRESENTAÇÃO
Acadêmico, bem-vindo à disciplina de Introdução e Panorama Mundial da
Inclusão. Nesta disciplina, vamos estudar juntos o percurso histórico, origens e
conceitos da inclusão social. Também examinaremos a construção dos direitos
sociais e coletivos e a inclusão de minorias em nossa sociedade, no Brasil e no
mundo. Neste trajeto, abordaremos por que a inclusão tem se constituído em
um imperativo do nosso tempo, tornando-se, assim, um princípio regulador que
incide em nossas vidas, pautando nossas maneiras de nos conduzirmos e de
conduzirmos os outros. Este estudo pretende levar adiante essas discussões,
compreendendo a forma contemporânea que o imperativo da inclusão assume
em nossos dias.

No Capítulo 1, abordaremos os caminhos teóricos que descrevem a trajetória


histórica e conceitual da inclusão social, bem como as teorias dos direitos coletivos
e sociais que disciplinam os códigos normativos atuais, esclarecendo o percurso
da era dos deveres para a era dos direitos.

No capítulo 2, dando seguimento a nossa disciplina, trilharemos os caminhos


teóricos que explicitam as várias faces da exclusão social relacionadas à
discriminação de gênero, sexo, raça, pessoa com deficiência, idade, etnias e
situação socioeconômica. Esses grupos historicamente discriminados fazem parte
da grande maioria da população que se encontra em situação de vulnerabilidade
social, necessitando assim de políticas públicas para a sua inclusão. Em nosso
estudo, a partir do tema da diversidade e inclusão, investigaremos a relação
entre minorias sociais e o mundo do trabalho, elucidando suas contradições
e desigualdades, já que se nota que tal temática é prioritária na relação entre
empresas e sociedade, visando à mitigação destas diferenças. Por fim, traçaremos
um panorama do cenário atual sobre a inclusão de minorias na sociedade, no
Brasil e no mundo.

No capítulo 3, apresentaremos os principais conceitos de responsabilidade


social. Será possível verificar os caminhos históricos e teóricos do
desenvolvimento da conscientização da reponsabilidade social no âmbito das
organizações empresariais. Analisaremos, também, o desenvolvimento dos
mecanismos e processos que estimulam a prática da responsabilidade social
dentro das instituições, investigando os impactos da diversidade e inclusão dentro
das organizações. Por fim, verificaremos as práticas e fomento de implementação
de políticas de diversidade e inclusão nas organizações.
C APÍTULO 1
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS
DIREITOS

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender os principais conceitos de inclusão social.


• Entender as teorias dos direitos coletivos e sociais que disciplinam os códigos
normativos atuais.
• Analisar as implicações da diversidade e da inclusão na sociedade.
• Compreender os aspectos históricos da inclusão social.
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Um tema que vem gradativamente ganhando espaço em nossa sociedade
é o da inclusão social. Isso decorre principalmente devido à busca que todas as
pessoas fazem para garantir sua efetiva participação na vida pública, tentando
garantir seus direitos individuais, sociais e coletivos.

Segmentos que antigamente, estavam à margem da sociedade, sendo


excluídos e discriminados, agora tentam a ampliação de seus direitos e,
consequentemente, a sua inclusão social. Essas ações são resultados das
práticas de fortalecimento da cidadania e do reconhecimento de direitos, que
acompanham a tendência histórica de ampliação dos espaços de representação
política abertos pela pressão das lutas sociais, conforme apontam as pesquisas
nas linhas analíticas de Habermas (1997) e Honneth (2003).

Dessa forma, convidamos você, neste capítulo, a trilhar os caminhos


teóricos que descrevem a trajetória histórica e conceitual sobre a inclusão social,
bem como as teorias dos direitos coletivos e sociais que disciplinam os códigos
normativos atuais, desvelando o percurso da era dos deveres para a era dos
direitos (BOBBIO, 1992).

2 HISTÓRICO E ORIGENS DA
INCLUSÃO SOCIAL
A história humana sempre foi marcada pela busca da sobrevivência e,
consequentemente, pelas lutas de acesso à comida, água, terras para plantio
e poder econômico e político sobre grupos diversos. Segundo Norberto Bobbio
(1992), o homem, desde os seus primórdios, encontra-se em um mundo hostil,
tanto em face da natureza quanto a seus semelhantes. Para enfrentar essa dupla
hostilidade, o homem buscou reagir inventando técnicas de sobrevivência e de
defesa. Dessa forma, ao longo da história do Ocidente, inclusão e exclusão foram
estratégias encontradas para agir sobre os sujeitos, conduzindo suas condutas
e gerenciando os riscos que tais sujeitos poderiam produzir para a vida social e
coletiva (HONNETH, 2003).

Nos estudos de Michel Foucault (2008), pode-se perceber que em diferentes


momentos históricos, também se procurou identificar e marcar aqueles indivíduos
que não se enquadravam nos padrões de normalidade. Podemos dizer, então,
que a anormalidade sempre foi uma preocupação social e política, o que se diferiu
em cada época são as práticas desenvolvidas para governá-la.

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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

FIGURA 1 – MICHEL FOUCAULT

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Seguranca-Territorio-Populacao-
Michel-Foucault/dp/8533623771>. Acesso em: 15 set. 2021.

Segundo Foucault (2008), na Antiguidade e na Idade Média, visualizamos


práticas de exclusão que ora aconteciam por extermínio, eliminação e morte,
ora por segregação, afastamento e expulsão. Na Antiguidade Clássica, em
Esparta, Atenas e Roma, as crianças que nasciam disformes eram levadas
a um lugar secreto fora da cidade, onde seriam afogadas ou deixadas para
morrer (BENVENUTO, 2006). No entanto, além dessas práticas de exclusão
por eliminação, podemos encontrar, ainda na Idade Média, práticas de exclusão
por afastamento ou desaparecimento social daqueles que eram considerados
anormais (LOCKMANN, 2016).

Nesse contexto, com relação à divisão em classes sociais, vamos perceber,


conforme quadro a seguir, a constante luta de um grupo sobre outro nos diferentes
períodos históricos da economia na sociedade ocidental:

QUADRO 1 – PERÍODOS HISTÓRICOS DA SOCIEDADE OCIDENTAL


Período Idade Antiga Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea
Histórico 4.000 a.C.-476 d.C. 476 d.C-1453 d.C. 1453 d.C.-1789 d.C. 1789 d.C.-2021 d.C.
Mercantilismo e Capitalismo global.
Sistema Feudalismo capitalismo Sociedade do conheci-
Escravidão
econômico (Revolução Indus- mento.
trial) Sociedade em Rede.
Tecnologias.
Tipo de co-
Mitologia/Filosofia Teologia Ciência Tecnologias da Informa-
nhecimento
ção e Comunicação.

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Classe rica/média/pobre.
Trabalho flexível.
Capital cognitivo/intelec-
Tipos de tual.
Aristocracia/Escra- Nobres/Clero/ Burguesia/Proleta-
classe social/ Terceiro setor/movimen-
vidão Servos riado
trabalho tos sociais: trabalho
social/voluntarismo,
empreendedorismo.
Cooperativismo.
FONTE: O autor.

Para abordar ainda mais essa temática, recomendamos as


obras de Michel Foucault:

FOUCAULT, M. Do governo dos vivos. Rio de Janeiro: Achiamé,


2010.

FOUCAULT, M. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 2010.

FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política. Rio


de Janeiro: Forense Universitária, 2014.

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins


Fontes, 2008.

FOUCAULT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de


Janeiro: Edições Graal, 2007.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2002.

FOUCAULT, M. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Sugere-se ainda a entrevista com Michel Foucault, disponível no


link: https://www.youtube.com/watch?v=yO_F4IH-VqM.

A partir do conceito de “trabalho”, podemos identificar as várias faces da


exclusão social. Segundo a etimologia, a palavra “trabalho” vem do latim
vulgar tripaliari, que quer dizer martirizar, sacrificar, torturar com o tripalium, um
instrumento de tortura. Ou seja, para os romanos e também para os gregos, a
atividade manual diária era vista como desagradável, remetendo à ideia de
castigo, pena destinada aos escravos (CHAUÍ, 2005).

FIGURA 2 - TRIPALIUM

FONTE: <http://artecult.com/afinal-e-trabalho-ou-tripalium/>. Acesso em: 15 set. 2021.

O cidadão da polis grega e da civitas romana participava das atividades


sociais, políticas, esportivas e culturais, cabendo aos escravos e às mulheres
cuidar da terra, dos animais e da casa. O trabalho era visto como uma atividade
desgastante, na qual o homem livre – cidadão – não deveria se ocupar (ARENDT,
2016).

Os grandes filósofos da antiguidade, tais como Platão e Aristóteles, possuíam


escravos e consideravam a atividade manual inferior à atividade intelectual.
A theoria era superior à práxis. O pensamento especulativo tinha preferência
sobre o pensamento prático. Estas considerações se transferiam também para a
educação. A educação era voltada para a formação cultural do cidadão da polis
sem se ocupar da educação técnica (CHAUÍ, 2005).

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Durante a Idade Média, a atividade manual era considerada uma atividade


destinada aos servos. O trabalhador, no sistema feudal, é predominantemente um
trabalhador agrícola ou rural. A classe proprietária, elite dominante, é composta
pelos nobres e cleros. O trabalhador é um servo preso na terra, na qual produz
o necessário para sua sobrevivência, sendo que a maior parte fica com o seu
senhor, o proprietário. O trabalhador rural não tinha direitos e estava condenado a
permanecer na terra produzindo para o seu senhor. Devido ao poder da Igreja, a
educação, por sua vez, destinava-se exclusivamente ao clero, tendo por finalidade
a educação pela fé. Pode-se verificar que durante a Idade Antiga e Idade Média,
a maioria das pessoas somente tinham deveres a serem cumpridos, seja como
escravos ou como servos. É por isto que Bobbio (1992) denomina esse período de
Era dos Deveres. Segundo o autor, os sistemas de regras criados na Antiguidade
e na Idade Média são essencialmente imperativos e visam obter comportamentos
desejados ou coibir os indesejados, recorrendo a sanções celestes ou terrenas.
Isto pode ser comprovado nos códigos de deveres de Hamurabi, nas leis das
doze tábuas e nos dez mandamentos de Moisés.

Costuma-se atribuir aos babilônios antigos as primeiras formulações e


codificações de normas sociais. Tais normas se apresentam no celebrado código
de Hamurabi, formulado por volta de 1772 a.C., contendo uma compilação de
282 leis da antiga Babilônia (atual Iraque). Hamurabi é o sexto rei da Babilônia,
responsável por decretar o código conhecido com seu nome. Esse código
sobreviveu até os dias de hoje em cópias parciais, sendo uma na forma de uma
grande estela e outras no formato de tabletes de barro (INFOESCOLA, 2021a).

FIGURA 3 - ESTELA CONTENDO AS INSCRIÇÕES DO CÓDIGO DE HAMURABI

FONTE: <https://www.infoescola.com/historia/codigo-
de-hamurabi/>. Acesso em: 15 set. 2021.

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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

O código de Hamurabi é visto como a mais fiel origem do direito, pois se


trata da legislação mais antiga de que se tem conhecimento. O seu trecho mais
conhecido é a chamada Lei de Talião. O termo vem do latim talionis, que significa
“como tal”, “idêntico”. Essa pena se baseia na justa reciprocidade do crime e
da pena, frequentemente simbolizada pela expressão “olho por olho, dente por
dente” (INFOESCOLA, 2021a).

Sugerimos a leitura do artigo O Código de Hamurabi através


de uma visão humanitária de Vinicius Mendez Kersten, o qual se
encontra disponível no link https://ambitojuridico.com.br/cadernos/
direito-penal/o-codigo-de-hamurabi-atraves-de-uma-visao-
humanitaria/.
Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos, leia o Código
de Hamurabi na íntegra a seguir: http://www.dhnet.org.br/direitos/
anthist/hamurabi.htm.

Assim, várias culturas, religiões e civilizações antigas atestam a importância


de sedimentar, normatizar e codificar as práticas de coexistência social de forma
a garantir a vida, as posses e as relações entre membros de uma comunidade,
tribo, clã ou cidade. A própria Torá, a Lei Judaica Antiga – também denominada
“Pentateuco” em alusão aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio, os quais são conhecidos pelos cristãos como
Antigo Testamento –, também contribuiu de maneira decisiva para a sedimentação
de tais direitos em nossos processos civilizatórios (PAIM, 2003).

FIGURA 4 - A TORÁ

FONTE: <https://escola.britannica.com.br/artigo/
Tor%C3%A1/482696>. Acesso em: 15 set. 2021.
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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Segundo Paim (2003), nos Dez Mandamentos – Leis de Moisés


–, encontramos um embasamento normativo para a vida comunitária
de um povo. Dessa forma, para adentrar e compreender mais sobre
essa temática, recomendamos o filme Os Dez Mandamentos, dirigido
por Cecil B. DeMille em 1957.

FIGURA 5 - OS DEZ MANDAMENTOS

FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-81064/>. Acesso em: 15 set. 2021.

No entanto, esses códigos normativos estavam baseados em deveres e não


em direitos. Sendo assim, muitas vezes, esses códigos legitimavam a exclusão
social, tais como a escravidão, a servidão, a discriminação contra as mulheres e
as crianças etc.

Com o desenvolvimento do mercantilismo, com a Revolução Industrial e com


o surgimento da burguesia, consolida-se o sistema capitalista, o qual dissolve
os laços que prendiam os trabalhadores aos limites previamente definidos
pela ordem feudal. Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento científico,
o homem deixa de depender dos caprichos da natureza. Se antes a produção
rural dependia das estações do ano, tempestades, estiagens, tempo cíclico, com
a indústria, ao contrário, o homem introduz uma jornada linear de produção em
processo executado pelos trabalhadores e completado com o produto vendido
aos consumidores (CHAUÍ, 2005).

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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Nesse período, que marca a transição da Idade Média para a Idade Moderna,
há uma migração da área rural para a área urbana, impondo um crescimento das
cidades. Na Modernidade, o trabalhador rural se transforma em trabalhador urbano
com um novo processo de socialização do trabalho dado pelo desenvolvimento
industrial. O trabalhador recebe não mais na forma de produtos de sobrevivência,
mas na forma de salário. Ampliam-se as opções de trabalho e a liberdade de ação
do indivíduo (HABERMAS, 1997).

Assim, na sociedade capitalista, uma característica fundamental é a


necessidade de uma atividade remunerada, ou seja, que gere capital (renda,
salário). Somente através do trabalho remunerado, o trabalhador pode comprar as
mercadorias necessárias para a satisfação das necessidades básicas. No sistema
capitalista, o trabalho está diretamente relacionado à geração de capital (renda,
salário) necessário para nossa sobrevivência.

No início do sistema capitalista, nos primórdios da Revolução Industrial, os


trabalhadores não possuíam direitos assegurados. Predominava ainda uma visão
depreciativa do trabalho, marcada pela exploração do trabalhador, mantendo certa
forma de “escravidão” e “servilismo”. Continuava a separação de classes – agora
na terminologia moderna – entre a burguesia (os donos dos meios de produção) e
o proletariado (os operários).

O trabalho, no regime escravo, feudal ou capitalista, tem uma mesma


característica predominante: é uma atividade necessária para a sobrevivência
humana. Dessa forma, independentemente do sistema econômico ou social, o
trabalho tem acompanhado o homem desde os primórdios de sua existência, como
atividade necessariamente útil, associada à produção dos seus meios de vida e à
satisfação imediata de suas necessidades, como garantia de sua sobrevivência.
O trabalho surge com a própria vida propriamente humana (ARENDT, 2016).

Para aprofundar ainda mais nesse assunto, indicamos a leitura


dos livros a seguir:

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. São Paulo: Forense


Universitária, 2016.

HONNETH, Axel. Lutas por reconhecimento: a gramática


moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

A seguir, indicaremos alguns filmes com temas relacionados aos


assuntos abordados:
Tema: Escravidão, Servidão e Proletariado:

Spartacus

FIGURA 6 – CAPA DO FILME SPARTACUS

FONTE: <https://filmow.com/spartacus-t1058/>. Acesso em: 22 nov. 2021.

Spartacus é um dos grandes épicos do cinema mundial,


trazendo Kirk Douglas numa de suas melhores atuações como um
gladiador que lidera um grupo de escravos em busca de liberdade
contra as forças do Império Romano.

Coração Valente

FIGURA 7 – CENA DO FILME CORAÇÃO VALENTE

FONTE: <https://www.cpt.com.br/melhores-filmes-do-cinema/
coracao-valente>. Acesso em: 22 nov. 2021.

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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

William Wallace (Mel Gibson) é um plebeu escocês que


foi criado pelo tio Argyle Wallace (Brian Cox), pois seu pai foi
brutalmente assassinado por soldados ingleses. Já adulto,
William retorna à Escócia, reencontra sua grande paixão Murron
MacClannough (Catherine McCormack) e decide casar-se com
ela. Sempre que ocorria um casamento na região, o nobre inglês
tinha o direito de passar a noite de núpcias com a noiva. Para
poupar sua amada, William propõe a Murron um casamento em
segredo. No entanto, logo na primeira noite juntos, sua esposa é
morta por soldados ingleses. Extremamente magoado e revoltado,
William declara guerra aos ingleses em nome da independência da
Escócia. Movido pelo rancor e pelo desejo de fazer justiça, o jovem
plebeu assume a liderança do exército escocês e impressiona os
adversários.

Tempos Modernos

FIGURA 8 – CENA DO FILME TEMPOS MODERNOS

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/tempos-modernos-
filme-chaplin/>. Acesso em: 22 nov. 2021.

Um clássico do cinema mudo, dirigido por Charles Chaplin,


retrata com lirismo a alienação do trabalhador moderno. Um operário
de uma linha de montagem, que testou uma "máquina revolucionária"
para reduzir a hora do almoço, é levado à loucura pela "monotonia
frenética" do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório,
ele fica curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele
deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma
crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador
comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto.
Simultaneamente, uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs
famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm mãe, e o pai

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

está desempregado, que logo vem a morrer em um conflito. A lei vai


cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem
consegue escapar.

1 A atividade econômica na sociedade sempre foi uma preocupação


para os diferentes povos do mundo. Em todas as épocas da
História da humanidade, o ser humano tem se preocupado em
resolver, de maneira eficiente, os problemas relativos à questão
econômica.
Assinale a alternativa CORRETA que apresenta a sequência dos
períodos históricos da Economia:

a) Escravidão/Feudalismo/Mercantilismo/Revolução Industrial/
Capitalismo Global.
b) Escravidão/Feudalismo/Mercantilismo/Capitalismo Global/
Revolução Industrial.
c) Escravidão/Feudalismo/Revolução Industrial/Capitalismo Global/
Mercantilismo.
d) Escravidão/Mercantilismo/Revolução Industrial/Capitalismo Global/
Feudalismo.

3 CONCEITOS DE INCLUSÃO SOCIAL


De acordo com Camargo (2017, s.p.), “inclusão é um paradigma que se
aplica aos mais variados espaços físicos e simbólicos. Os grupos de pessoas,
nos contextos inclusivos, têm suas características idiossincráticas reconhecidas
e valorizadas”. O autor também pontua que, “segundo o referido paradigma,
identidade, diferença e diversidade representam vantagens sociais que favorecem
o surgimento e o estabelecimento de relações de solidariedade e de colaboração”.

Essas lutas travadas por minorias sociais, ao mesmo tempo em que


conquistaram direitos muitas vezes negados às diferentes identidades, também
passaram a ameaçar as posições e as formas hegemônicas ocupadas pela cultura
branca e masculina. Pouco a pouco, essas lutas também estão possibilitando o
empoderamento que leva esses sujeitos a reconhecerem para si outras posições
que não a da periferia.
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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Segundo Nascimento (2010), a inclusão social diz respeito a sujeitos


individuais, vulnerabilizados em decorrência do processo histórico e da
característica cultural das sociedades nas quais estão inseridos perpassando o
todo social. Dessa forma, o seu estudo conceitual se torna relevante.

Inclusão social é um conceito usado de forma bastante genérica, tanto nos


livros quanto nos discursos políticos. Para entender o que significa esse termo,
é preciso compreender antes seu oposto, a exclusão social, principalmente
de algumas categorias fora do mercado de trabalho, e como estamos em uma
sociedade capitalista, fora da participação comunitária. Nessas categorias estão,
por exemplo, mulheres, idosos, deficientes físicos, imigrantes etc. É nesse
contexto que se usa o termo “exclusão social” para designar setores que foram
momentaneamente excluídos de uma sociedade. A expressão “inclusão social”
emerge para designar as políticas de assistência voltadas especificamente para
esse público (INFOESCOLA, 2021b).

Um dos primeiros pensadores a afirmar que os homens colocam em primeiro


lugar seus interesses pessoais egocêntricos foi Maquiavel (1469-1527). Ele
apontava que os homens, desde os seus primórdios, estão em luta constante pela
sua autopreservação e sobrevivência. Nesta visão pessimista do ser humano,
Maquiavel coloca que os sujeitos individuais se contrapõem numa concorrência
permanente de interesses, poder e sobre os cálculos estratégicos da política.

Na sua obra O Príncipe, Maquiavel cria o marco na origem das reflexões


políticas modernas, após o Feudalismo. A época da qual Maquiavel fez parte era
uma época em que a Itália estava esfacelada politicamente, dividida em várias
regiões que não se entendiam e que viviam guerreando entre si. Diante dessa
situação política, Maquiavel escreveu sua obra pensando em dar conselhos a um
futuro príncipe que pudesse unificar a Itália em torno de um ideal republicano. É
importante ressaltar que não importava para tal com que meios devesse contar,
desde que a Itália ficasse livre das lutas sociais e regionais. Para atingir o elevado
fim da unificação de seu Estado, o Príncipe poderia, portanto, valer-se de qualquer
meio. Maquiavel é o primeiro pensador a usar a palavra Estado no sentido que
conhecemos hoje em termos de unidade política e absoluta (MAQUIAVEL, 2010).

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

FIGURA 9 - O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Pr%C3%ADncipe-Nicolau-
Maquiavel-ebook/dp/B00A384W6C>. Acesso em: 15 set. 2021.

Outro ponto fundamental a ressaltar no pensamento de Maquiavel, para que


não seja mal interpretado, é o que diz respeito ao aspecto ético. Podemos dizer,
então, que Maquiavel, pelo fato de defender que a Itália fosse unificada a qualquer
custo, não possuía princípios éticos? Ao contrário, Maquiavel ousou afrontar a
moral apregoada pela Igreja Católica, incentivadora, inclusive, de muitos conflitos
regionais na Itália de então. Ousou, também, deixar de lado uma moral que falava
em nome do amor e que, nos bastidores da política, matava pessoas. Não é
verdadeiro afirmar que Maquiavel não tinha princípios éticos (GRUPPI, 1980).

Compreendemos sua ética na medida em que compreendemos seu objetivo


com relação à política e, por consequência, seu amor pela Itália que desejava ver
unificada. Maquiavel visa separar o mundo da política do mundo moral cristão,
buscando entender as leis específicas da política tal como aconteciam. Conforme
afirma Gruppi (1980), Maquiavel funda uma nova moral, que é a moral do cidadão,
do homem que constrói o Estado, uma moral imanente, mundana, que vive no
relacionamento entre os homens. Não é mais a moral da alma individual, que
deveria se apresentar ao julgamento divino formosa e limpa.

As discussões surgidas a partir do Renascimento colocam o homem como


centro das decisões do seu próprio destino, não mais vinculado ao poder da
Igreja, nem à nobreza feudal e nem a uma concepção política, livre da moral.
Naquele período, vários foram os filósofos preocupados em refletir sobre novas
formas de governo. Dentre eles, podemos destacar Hobbes (1588-1679), Locke
(1632-1704) e Rousseau (1712-1778), que teorizaram sobre os fundamentos do
Estado Moderno.

A história da filosofia política, quando se refere aos pensadores Hobbes,


Locke e Rousseau, costuma defini-los como contratualistas e jusnaturalistas.
21
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Assim são definidos porque esses pensadores políticos são os maiores expoentes
e defensores do Contrato Social, ou seja, são filósofos que, entre o século XVI e o
XVIII, defenderam que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato.
Além disso, este contrato visa garantir e proteger, através do Estado, os direitos
fundamentais da natureza humana (jusnaturalismo) – direito à vida, liberdade,
propriedade etc.

“O homem é o lobo do homem”, com essa citação, podemos sintetizar o


que pensa Hobbes (1987) acerca do homem, vivendo no estado de natureza
como animal. Para Hobbes, o homem que vive no estado de natureza é um ser
mergulhado na ânsia do desejo de poder, de riquezas, de propriedades, por isso
ele vive em constante conflito, em contínua guerra com seus semelhantes. Nesse
estado, prevalece a guerra de todos contra todos, e cada homem é um lobo para
seu próximo. O sentimento de sociabilidade no estado de natureza inexiste, é
nulo. Nesse sentido, abre-se o questionamento de como a espécie humana se
perpetuará na face da terra se todos são inimigos e se a guerra é o pão de cada
dia.

Hobbes defende que os homens têm a necessidade de estabelecer um


acordo, um contrato de convivência que possa frear a força destruidora e ilimitada
da violência de todos contra todos. A única maneira de colocar freios e limites aos
abusos do poder individual é através de um contrato social, em que cada qual abre
mão de seu poder e o entrega a um soberano, que encarna as funções do Estado.
Esse soberano tem poder de vida e de morte sobre seus súditos; de morte se o
súdito não se dobrar às leis criadas pelo soberano, para regular o convívio social.
Para Hobbes, o Estado assemelha-se ao monstro Leviatã, figura mitológica com
extremo poder, da qual faz uso para descrever o corpo político (HOBBES, 1987).

FIGURA 10 - O LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES

FONTE: < https://www.amazon.com.br/Leviat%C3%A3-Mat%C3%A9ria-Forma-


Rep%C3%BAblica-Eclesi%C3%A1stica/dp/8580633729>. Acesso em: 25 nov. 2021.

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Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

2 Com o Renascimento, o Mercantilismo, a Reforma Protestante e a


expansão do Islamismo, consolida-se um processo de separação
do que a Idade Média unira: a razão separa-se da fé; a natureza
e o homem, de Deus; o Estado, da Igreja. Temos o advento do
Antropocentrismo como filosofia dominante, ou seja, o homem
como centro das discussões filosóficas, científicas e políticas
em oposição ao Teocentrismo. Configura-se, assim, um novo
período, a Idade Moderna, ou Modernidade (CHAUÍ, 2005).

Qual obra e autor são o marco sobre as reflexões políticas modernas?

a) A obra O Príncipe, de Maquiavel.


b) A obra O Leviatã, de Hobbes.
c) A obra A República, de Platão.
d) A obra Política, de Aristóteles.

4 DIREITOS SOCIAIS E COLETIVOS:


INCLUSÃO DE MINORIAS
A fundamentação social que caracteriza a vida moderna, a universalidade
dos direitos humanos, não se deve à identidade biológica (naturalismo clássico),
nem à fraternidade divina entre os homens, mas se deve a um acordo político
entre os homens – o contrato social. No entanto, não se trata mais de uma
definição simplesmente teórica, mas política, ou seja, positivada através de leis e
guardada por um Estado. Tais leis positivas surgiram nos séculos XVII e XVIII, no
período de ascensão da burguesia que estava reivindicando uma maior liberdade
de ação e de representação política frente à nobreza e ao clero. Elas forneciam
uma justificativa ideológica consistente aos movimentos revolucionários, com
reivindicação de direitos, que levariam progressivamente à dissolução do mundo
antigo e feudal e à constituição do mundo moderno, saindo de uma Era dos
Deveres e iniciando a Era dos Direitos (BOBBIO, 1992).

Vamos estudar a seguir as principais declarações de direitos fundamentais


positivadas através de leis que vão garantir a cidadania no Estado moderno.
Iniciamos com a Declaração de Direitos de 1668 na Inglaterra.

23
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

A Declaração de Direitos (Bill of Rights) de 1668

A chamada Revolução Gloriosa concluiu o período da


Revolução Inglesa, iniciado em 1640, levando à formação de uma
monarquia parlamentar. Essa declaração elaborada pelo Parlamento
Inglês é considerada um dos mais importantes documentos
constitucionais ingleses. Um dos principais objetivos da declaração
é limitar o poder do monarca na Inglaterra e dar mais poder ao
Parlamento, representando sua soberania sobre o rei. A Monarquia
Parlamentar foi instituída, e o absolutismo inglês chegava ao fim.
Além disso, a declaração garantiu a liberdade individual, incluindo
a liberdade de imprensa e o direito à propriedade privada, e definiu
os deveres dos cidadãos ingleses, que deixavam de ser súditos. É
importante destacar que, embora o documento tenha limitado os
poderes do rei de acordo com a vontade popular, o povo, nesse caso,
foi representado pelo Parlamento. A Revolução Inglesa, encerrada
com o fim da Revolução Gloriosa, e a Declaração de Direitos de 1689
fortaleceram a burguesia e o liberalismo na Inglaterra, contribuindo
para o desenvolvimento do capitalismo e formando um cenário
propício ao pioneirismo inglês na Revolução Industrial do século
XVIII.

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-gloriosa/>.
Acesso em: 15 fev. 2021.

FIGURA 11 - REVOLUÇÃO GLORIOSA (1688)

FONTE: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-gloriosa/>. Acesso em: 15 set. 2021.

24
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Na Idade Média, só quem tinha acesso à propriedade da Terra eram os nobres


e a Igreja. Com o direito à propriedade, enquanto direito fundamental, universaliza-
se o acesso e a proliferação de propriedades rurais, ampliando o desenvolvimento
da agricultura e da pecuária. Assim, criam-se condições de acumulação de capital
no campo e o consumo de mercadorias, inicialmente no sistema mercantilista, e
depois no sistema capitalista desenvolvido com a Revolução Industrial (CHAUÍ,
2005).

O cidadão da modernidade é o sujeito individual, portador de direitos e


deveres, proprietário e consumidor, que com sua autonomia participa da vida
pública. Como vimos, na antiguidade clássica, o trabalhador era escravo ou servo,
que do ponto de vista dos filósofos não possuía as disposições necessárias ao
exercício da cidadania (pela educação insuficiente e pela “grosseria” de suas
ocupações). Modernamente, o cidadão é, em primeiro lugar, um trabalhador, pois
é pelo trabalho que ele ocupa um lugar na comunidade e conquista seus direitos
(BOBBIO, 1992).

Essa noção de que todo ser humano é detentor, pelo simples fato de existir,
de certos direitos naturais básicos, torna-se desde então um tema que desafia os
pensadores e os homens de Estado de todos os tempos e lugares.

Vamos verificar, a seguir, como essa noção está expressa na Declaração


de Independência dos Estados Unidos da América, de 4 de julho de 1776, que
reconhece explicitamente que todo homem possui direitos naturais, anteriores e
superiores ao próprio Estado, e que este tem a obrigação de garanti-los.

FIGURA 12 - DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS


UNIDOS DA AMÉRICA, DE 4 DE JULHO DE 1776

FONTE: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/dec1776.htm>. Acesso em: 15 set. 2021.

25
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia - Williamsburgh,


4 de julho de 1776

Declaração de direitos formulada pelos representantes do bom


povo de Virgínia, reunidos em assembleia geral e livre; direitos que
pertencem a eles e a sua posteridade, como base e fundamento do
governo.
I
Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres
e independentes, e têm certos direitos inatos, dos quais, quando
entram em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo
privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da
liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de
buscar e obter felicidade e segurança.
II
Que todo poder é inerente ao povo e, consequentemente, dele
procede; que os magistrados são seus mandatários e seus servidores
e, em qualquer momento, perante ele responsáveis.
III
Que o governo é instituído, ou deveria sê-lo, para proveito
comum, proteção e segurança do povo, nação ou comunidade; que
de todas as formas e modos de governo esta é a melhor, a mais
capaz de produzir maior felicidade e segurança, e a que está mais
eficazmente assegurada contra o perigo de um mau governo; e que
se um governo se mostra inadequado ou é contrário a tais princípios,
a maioria da comunidade tem o direito indiscutível, inalienável e
irrevogável de reformá-lo, alterá-lo ou aboli-lo da maneira considerada
mais condizente com o bem público.
IV
Que nenhum homem ou grupo de homens tem direito a receber
emolumentos ou privilégios exclusivos ou especiais da comunidade,
senão apenas relativamente a serviços públicos prestados; os quais,
não podendo ser transmitidos, fazem com que tampouco sejam
hereditários os cargos de magistrado, de legislador ou de juiz.
V
Que os poderes legislativo, executivo e judiciário do Estado
devem estar separados e que os membros dos dois primeiros
poderes devem estar conscientes dos encargos impostos ao povo,
deles participar e abster-se de impor-lhes medidas opressoras; que,
em períodos determinados devem voltar a sua condição particular,
ao corpo social de onde procedem, e suas vagas se preencham

26
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

mediante eleições periódicas, certas e regulares, nas quais possam


voltar a se eleger todos ou parte dos antigos membros (dos
mencionados poderes) segundo disponham as leis.
VI
Que as eleições de representantes do povo em assembleia
devem ser livres, e que todos os homens que deem provas suficientes
de interesse permanente pela comunidade, e de vinculação com
esta, tenham o direito de sufrágio e não possam ser submetidos à
tributação nem privados de sua propriedade por razões de utilidade
pública sem seu consentimento, ou o de seus representantes assim
eleitos, nem estejam obrigados por lei alguma a que, da mesma
forma, não hajam consentido para o bem público.
VII
Que toda faculdade de suspender as leis ou a execução destas
por qualquer autoridade, sem consentimento dos representantes do
povo, é prejudicial aos direitos deste e não deve exercer-se.
VIII
Que em todo processo criminal incluído naqueles em que se pede
a pena capital, o acusado tem direito de saber a causa e a natureza
da acusação, ser acareado com seus acusadores e testemunhas,
pedir provas em seu favor e a ser julgado, rapidamente, por um júri
imparcial de doze homens de sua comunidade, sem o consentimento
unânime, dos quais não se poderá considerá-lo culpado; tampouco
pode-se obrigá-lo a testemunhar contra si próprio; e que ninguém
seja privado de sua liberdade, salvo por mandado legal do país ou
por julgamento de seus pares.
IX
Não serão exigidas fianças ou multas excessivas, nem infligir-
se-ão castigos cruéis ou inusitados.
X
Que os autos judiciais gerais em que se mande a um funcionário
ou oficial de justiça o registro de lugares suspeitos, sem provas
da prática de um fato, ou a detenção de uma pessoa ou pessoas
sem identificá-las pelo nome, ou cujo delito não seja claramente
especificado e não se demonstre com provas, são cruéis e opressores
e não devem ser concedidos.
XI
Que em litígios referentes à propriedade e em pleitos entre
particulares, o artigo julgamento por júri de doze membros é preferível
a qualquer outro, devendo ser tido por sagrado.
XII
Que a liberdade de imprensa é um dos grandes baluartes da
liberdade, não podendo ser restringida jamais, a não ser por governos
despóticos.
27
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

XIII
Que uma milícia bem regulamentada e integrada por pessoas
adestradas nas armas, constitui defesa natural e segura de um
Estado livre; que deveriam ser evitados, em tempos de paz, como
perigosos para a liberdade, os exércitos permanentes; e que, em
todo caso, as forças armadas estarão estritamente subordinadas ao
poder civil e sob o comando deste.
XIV
Que o povo tem direito a um governo único; e que,
consequentemente, não deve erigir-se ou estabelecer-se dentro do
Território de Virgínia nenhum outro governo apartado daquele.
XV
Que nenhum povo pode ter uma forma de governo livre nem os
benefícios da liberdade, sem a firma adesão à justiça, à moderação,
à temperança, à frugalidade e virtude, sem retorno constante aos
princípios fundamentais.
XVI
Que a religião ou os deveres que temos para com o nosso
Criador, e a maneira de cumpri-los, somente podem reger-se
pela razão e pela convicção, não pela força ou pela violência;
consequentemente, todos os homens têm igual direito ao livre
exercício da religião, de acordo com o que dita sua consciência,
e que é dever recíproco de todos praticar a paciência, o amor e a
caridade cristã para com o próximo.

FONTE: Textos Básicos sobre Derechos Humanos. Madrid:


Universidad Complutense, 1973. In: FERREIRA FILHO, Manoel G. et
al. Liberdades Públicas. São Paulo: Ed. Saraiva, 1978.

A declaração americana pontua claramente no seu artigo primeiro a ideia de


liberdade e igualdade para todos os homens (universalidade). Temos, aqui, um
marco definidor para a garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana. Tal
postulação será ratificada e aprofundada pela Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão, promulgada pela Assembleia Nacional Francesa em 26 de agosto
de 1789.

28
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

FIGURA 13 - DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

FONTE: < https://www.unidospelosdireitoshumanos.org.br/what-are-human-rights/


brief-history/declaration-of-human-rights.html>. Acesso em: 15 set. 2021.

Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão - França, 26 de


agosto de 1789

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia


Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou

29
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos


males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar
solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do
homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em todos os
membros do corpo social, lhes lembrem permanentemente de seus
direitos e seus deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e
do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados
com a finalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais
respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante
fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à
conservação da Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na
presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do
homem e do cidadão:
Art. 1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As
distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação
dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são
a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente,
na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer
autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não
prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de
cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos
outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes
limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade.
Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém
pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos
têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários,
para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para
proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos
e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos
públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não
seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão
nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por
esta prescrita. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam
executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão
convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente,
caso contrário torna-se culpado de resistência.

30
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e


evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão
por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e
legalmente aplicada.
Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser
declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor
desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente
reprimido pela lei.
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões,
incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não
perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um
dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto,
falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos
abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão
necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para
fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é
confiada.
Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas
de administração é indispensável uma contribuição comum que deve
ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou
pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública,
de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a
repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente
público pela sua administração.
Art. 16º. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia
dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem
Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado,
ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade
pública legalmente comprovada o exigir sob condição justa e prévia
indenização.

FONTE: Textos Básicos sobre Derechos Humanos. Madrid:


Universidad Complutense, 1973. In: FERREIRA FILHO, Manoel G. et
al. Liberdades Públicas. São Paulo: Ed. Saraiva, 1978.

31
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

A Revolução Francesa consolida os ideais de Liberdade, Igualdade e


Fraternidade, que são a base da noção contemporânea de Direitos Humanos.
Esta influência será decisiva para as futuras constituições dos Estados nacionais.

Por sua vez, já no século XX, após as duas grandes Guerras Mundiais
(1914 e 1939), os países reunidos na Organização das Nações Unidas (ONU),
influenciados pela Declaração de Independência Americana e pela Declaração da
Revolução Francesa promulgaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
aprovada em 10 de dezembro de 1948.

FIGURA 14 - DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


HUMANOS, 10 DE DEZEMBRO DE 1948

FONTE: <https://www.timetoast.com/timelines/los-derechos-
humanos-y-la-democracia/>. Acesso em: 25 nov. 2021.

Para aprofundar seus estudos, leia no link a seguir a Declaração


Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 10 de dezembro de
1948: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-
humanos.

32
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Segundo Norberto Bobbio (1992), a partir dessas declarações, podemos


perceber gerações de direitos humanos consolidando na história da sociedade
ocidental a passagem de uma era dos direitos, que substituiria a era dos deveres.

I - Uma primeira geração - surgida em função das lutas pela liberdade


individual, proteção à vida e à propriedade que correspondem aos chamados
Direitos Civis; e dos Direitos Políticos (votar e ser votado) presentes principalmente
na Declaração da Independência Americana (1776) e na Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa (1789).

II - Uma segunda geração - surgida em função das lutas por direitos sociais
relacionados aos direitos trabalhistas, saúde, educação e segurança expressa
principalmente na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948). As
conquistas dos direitos trabalhistas, tais como limite de jornada diária, descanso
semanal remunerado, férias remuneradas, limite de idade, aposentadoria,
assistência médica e segurança no trabalho foram frutos de várias lutas sociais,
caracterizando a Idade Contemporânea. A conquista dos direitos trabalhistas
ocorreu a partir, principalmente, de um processo de entendimento do que é
realmente o trabalho para os seres humanos. Este entendimento ocorreu em
conjunto com o desenvolvimento do exercício da cidadania e da educação do
trabalhador e sua participação nas questões sociais, políticas e econômicas.

III - Uma terceira geração - surgida em função de questões relacionadas


aos problemas difusos (Direitos Difusos: a titularidade desses direitos não é
plenamente identificável), que dizem respeitos a todos (paz, vida saudável,
meio ambiente) e, também, das minorias (direitos coletivos: existe um vínculo
que compõe o grupo): negros, indígenas, mulheres, pessoas portadoras de
necessidades especiais, homossexuais etc.

A Lei 8.078/90 dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras


providências. O Art. 81 dessa lei conceitua o direito difuso como transindividual,
de natureza indivisível, sendo os titulares desses direitos sujeitos indeterminados.
Já os direitos coletivos são também transindividuais de natureza indivisível,
sendo titulares desse direito grupo, categoria ou classe. Por fim, define os direitos
individuais homogêneos como os decorrentes de origem comum.

Esta terceira geração abarca, então, os movimentos ecológicos, relacionados à


proteção ambiental e a uma vida saudável. A ética ambiental surgiu como resposta
à representação da natureza enquanto reservatório inesgotável de recursos com
um ilimitado poder gerador e regenerativo, perspectiva que, a partir de meados do
século XX, foi maioritariamente identificada como a responsável pela crise ambiental
contemporânea. Já as questões ecológicas se intensificaram principalmente depois
dos grandes desastres ecológicos, tais como a poluição de cidades e a contaminação
por vazamentos radioativos e nucleares (CARVALHO, 2013).
33
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Os Direitos Humanos de terceira geração surgiram principalmente após os


movimentos civis nos Estados Unidos contra a discriminação racial (Martin Luther
King) e a guerra do Vietnã (1962-1972). Em 1986, na Declaração sobre o Direito
ao Desenvolvimento, foi garantida a alteridade universal em função do direito dos
indivíduos e dos povos desenvolverem-se, pois “toda pessoa humana e todos
os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social,
cultural e político”.

Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento, procurou-se garantir o direito de viver em harmonia com
a natureza, pois “os seres humanos estão no centro das preocupações com o
desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em
harmonia com a natureza”. Também se expressa a necessidade de garantir
o direito a um meio ambiente preservado – para gerações presentes e futuras
–, pois “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que
sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio
ambiente das gerações presentes e futuras”. Uma normatização recente é o
chamado Protocolo de Kyoto, ratificado por vários países visando principalmente
a diminuição da poluição da atmosfera terrestre (ONU, 1992).

IV - Uma quarta geração – questões bioéticas ainda em fase de discussão


em vários países e diz respeito às pesquisas biológicas e manipulações dos
patrimônios genéticos (clonagem, manipulação genética, alimentos transgênicos
etc.). Ou seja, se referem às questões da vida humana, das gerações futuras
e daqueles que ainda não nasceram. A bioética apresenta-se hoje como uma
importante área a ser estudada, no campo da Ética Aplicada. Cada vez mais os
avanços da ciência, especialmente na área médica, têm afetado de forma intensa a
vida dos seres humanos. Temas como aborto, eutanásia, clonagem e a discussão
sobre o direito à integridade do código genético, por exemplo, constituem-se no
centro das discussões dessa parte aplicada da Ética que estuda a vida, tanto na
sua origem como no seu desenvolvimento e no seu fim. A bioética é uma área
de estudo interdisciplinar que envolve a Ética e a Biologia, fundamentando os
princípios éticos que regem a vida quando ela é colocada em risco pela medicina
ou pelas ciências.

V - Direitos de quinta geração – ainda em gestação, relacionados ao direito dos


animais, fundamentados principalmente na capacidade de sentir dor e sofrimento.
O movimento em defesa dos animais é recente e foi fortemente impulsionado com
a publicação do livro Animal Liberation (1975) do filósofo australiano Peter Singer.
Desde o início do movimento de libertação dos animais na década de 1970,
muitos pensadores questionam se criar animais para alimentação em grandes
fazendas, em condições de opressão (trancafiados em pequenos espaços, sem
as condições naturais de luz solar e ar limpo etc.), é moralmente correto.

34
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Pode-se dizer, também, que Direitos Humanos é um conjunto de normas e


regras fundamentais para a convivência em sociedade dos seres humanos e o
ambiente natural. Os Direitos Humanos têm por finalidade garantir a sobrevivência
e o desenvolvimento do homem, a preservação de seu habitat e a garantia da
evolução da humanidade. Atualmente, temos a preocupação e a discussão
recente com a preservação e o sofrimento de todos os animais e seres vivos.

A Era dos Direitos

Norberto Bobbio

Do ponto de vista teórico, sempre defendi – e continuo a


defender, fortalecido por novos argumentos – que os direitos do
homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos,
ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas
em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de
modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. O
problema – sobre o qual, ao que parece, os filósofos são convocados
a dar seu parecer – do fundamento, até mesmo do fundamento
absoluto, irresistível, inquestionável, dos direitos do homem é um
problema mal formulado: a liberdade religiosa é um efeito das guerras
de religião; as liberdades civis, da luta por parlamentos contra os
soberanos absolutos; a liberdade política e as liberdades sociais,
do nascimentos, crescimento e amadurecimento do movimento
dos trabalhadores assalariados, dos camponeses com pouca ou
nenhuma terra, dos pobres que exigiam dos poderes públicos não só
o reconhecimento da liberdade pessoal e das liberdades negativas,
mas também a proteção do trabalho contra o desemprego, os
primeiros rudimentos de instrução contra o analfabetismo, depois a
assistência para a invalidez e a velhice, todas elas carecimentos que
os ricos proprietários podiam satisfazer por si mesmos

FONTE: BOBBIO, N. Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Ed.


Campus, 1992. p. 5.

35
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Por sua vez, no Brasil, apesar de ter sido descoberto (ou redescoberto)
em 1500, somente após a sua independência em 1822 é que promulgou a sua
primeira constituição. No entanto, mesmo sendo independente, era ainda uma
monarquia com restrições aos direitos civis e políticos. Devido a fortes pressões
internacionais, principalmente da Inglaterra, contra o tráfico negreiro, também
pressões internas do movimento abolicionista e devido à influência da Revolução
Francesa e do Iluminismo, culminou-se a Lei Áurea de 1888 contra a escravidão.

LEI ÁUREA

Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888.


Declara extinta a escravidão no Brasil.

A Princesa Imperial Regente, em nome de sua majestade, o


Imperador Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do império
que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a Lei seguinte:

Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão


no Brasil.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.

Manda, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento


e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam
cumprir e guardar tão inteiramente, como nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio
e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros Bacharel
Rodrigo Augusto da Silva do Conselho de Sua Majestade o
Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888 -
67º da Independência e do Império.
Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar
o Decreto da Assembleia Geral, que houve por bem sancionar
declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim3353.
htm>. Acesso em: 15 out. 2021.

36
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

Este documento é um marco no Brasil para a determinação dos direitos


fundamentais da pessoa humana: direito à vida, liberdade e igualdade, ou seja,
dos Direitos Civis. No ano seguinte, com a Proclamação da República (1889), dá-
se um avanço nos direitos políticos. Estes direitos expressos na Lei Áurea e na
Constituição Republicana referem, na análise de Norberto Bobbio (1992), como
direitos de primeira geração.

A Constituição Brasileira de 1988 adota uma posição bastante avançada no


que diz respeito aos direitos humanos, reconhecendo não apenas os tradicionais
direitos políticos e civis (direito à liberdade de pensamento, de expressão, de
reunião e associação, de proteção contra a prisão arbitrária, de votar e ser votado,
entre outros), como também os chamados "direitos de segunda geração" e de
“terceira geração”, que abarcam aspectos mais amplos da vida do homem em
sociedade e que incluem o direito à educação, à saúde, ao lazer, à habitação e a
um meio ambiente saudável. A Constituição prevê, igualmente, garantias para o
exercício desses direitos. Ao declarar que todos são detentores do direito de ir e
vir, por exemplo, garante o exercício desse direito por meio do instituto do Habeas
Corpus.

Vejam, a seguir, os principais artigos da Constituição de 1988, relativos aos


Direitos Humanos, abrangendo os Direitos Sociais.

Constituição de 1988
República Federativa do Brasil
CONSTITUIÇÃO

Título II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Capítulo II
Dos Direitos Sociais
Art. 6. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
Art. 7. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social:
[...]
XXXIIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre
aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
quatorze anos, salvo na condição de aprendiz.
37
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

[...]

Título VIII
Da Ordem Social
Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar


à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
§ lº O Estado promoverá programas de assistência integral
à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação
de entidades não governamentais e obedecendo aos seguintes
preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à
saúde na assistência materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento
especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou
mental, bem como de integração social do adolescente portador de
deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência,
e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a
eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.
§ 2.º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e
dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte
coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras
de deficiência.
§3.º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes
aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho [...];
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de
ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar
específica;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando
da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do poder público, através de assistência jurídica,
incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob
a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;

38
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

VII - programas de prevenção e atendimento especializado à


criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas
afins.
§ 4.º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração
sexual da criança e do adolescente.
§ 5.º A adoção será assistida pelo poder público, na forma da lei,
que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de
estrangeiros.
§ 6.º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
§ 7.º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente,
levar-se-á em consideração o disposto no art. 204.

FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 15 out. 2021.

Assim, os Direitos Humanos se efetivam na observância de aspectos sociais,


políticos e econômicos que dizem respeito à preservação e garantia dos direitos
fundamentais, quais sejam o direito a uma vida digna, à liberdade, à educação,
à saúde, à liberdade de expressão etc. Dentre os aspectos que conferem
sustentação à doutrina dos Direitos Humanos, estão a democracia, a cidadania, a
alteridade, a tolerância, a paz etc.

A seguir disponibilizamos um link de um vídeo de


Norberto Bobbio, A Era dos Direitos: https://www.youtube.com/
watch?v=3XZks_Um4Z8

Algumas biografias são grandes histórias de luta e defesa


dos Direitos Humanos. É o caso de Gandhi (1982), que retrata o
indiano e sua luta não violenta, Mandela: o caminho para a liberdade
(2013), que reconta a vida do sul-africano que dedicou sua vida ao
fim da segregação racial de seu país, e A Teoria de Tudo (2014),

39
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

cinebiografia do astrofísico Stephen Hawking, que fez descobertas


importantes enquanto sofria de uma doença motora degenerativa
aos 21 anos.

FONTE: <https://fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/10-
filmes-para-refletir-sobre-direitos-humanos/>. Acesso em: 25 nov.
2021.

Recomendamos algumas obras de Norberto Bobbio sobre


Direitos Fundamentais:

BOBBIO, N. Teoria Geral da Política. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

BOBBIO, N. Sociedade e Estado na Filosofia Política Moderna.


São Paulo: Brasiliense, 1996.

BOBBIO, N. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Brasiliense,


1998.

BOBBIO, N. Locke e o Direito Natural. 2. ed. Brasília: UNB, 1998.

BOBBIO, N. O conceito de Sociedade Civil. Rio de Janeiro: Graal,


1994.

BOBBIO, N. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

3 Segundo Norberto Bobbio (1992), a partir das declarações de


direitos, podemos perceber gerações de direitos humanos,
consolidando na história da sociedade ocidental a passagem
de uma era dos direitos, que substituiria a era dos deveres.
Considerando o exposto, associe os itens, utilizando o código a
seguir:

40
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

I- Primeira Geração.
II- Segunda Geração.
III- Terceira Geração.
IV- Quarta Geração.
V- Quinta Geração.

( ) Surgida em função das lutas por direitos sociais relacionados


aos direitos trabalhistas, saúde, educação e segurança expressa
principalmente na Declaração Universal dos Direitos Humanos da
ONU (1948).
( ) Surgida em função questões relacionadas aos problemas difusos
(Direitos Difusos: a titularidade desses direitos não é plenamente
identificável), que dizem respeitos a todos (paz, vida saudável,
meio ambiente) e, também, das minorias (direitos coletivos: existe
um vínculo que compõe o grupo): negros, indígenas, mulheres,
pessoas portadoras de necessidades especiais, homossexuais
etc.
( ) Questões bioéticas ainda em fase de discussão em vários países
e diz respeito às pesquisas biológicas e das manipulações
dos patrimônios genéticos (clonagem, manipulação genética,
alimentos transgênicos etc.).
( ) Ainda em gestação, relacionada ao direito dos animais,
fundamentados principalmente na capacidade de sentir dor e
sofrimento.
( ) Surgida em função das lutas pela liberdade individual, proteção à
vida e à propriedade que correspondem aos chamados Direitos
Civis; e dos Direitos Políticos (votar e ser votado) presentes
principalmente na Declaração da Independência Americana
(1776) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da
Revolução Francesa (1789).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) II - III - IV - V - I.
b) I - II - III - IV - V.
c) III - II - IV - V - I.
d) V - III - IV - II - I.

41
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, estudamos que a inclusão social decorre principalmente
da busca que todas as pessoas fazem para garantir sua efetiva participação
na vida pública, tentando garantir seus direitos individuais, sociais e coletivos.
Segmentos que, antigamente, estavam à margem da sociedade, sendo excluídos
e discriminados, agora tentam a ampliação de seus direitos e, consequentemente,
a sua inclusão social.

Estas ações são resultados das práticas de fortalecimento da cidadania


- e reconhecimento de direitos – que acompanham a tendência histórica de
ampliação dos espaços de representação política abertos pela pressão das lutas
sociais. Trilhamos os caminhos teóricos que descrevem a trajetória histórica e
conceitual sobre a inclusão social, bem como as teorias dos direitos coletivos e
sociais que disciplinam os códigos normativos atuais, desvelando o percurso da
Era dos Deveres para a Era dos Direitos. Percebemos o porquê de a inclusão
ter se constituído em um imperativo do nosso tempo, tornando-se, assim, um
princípio regulador que incide em nossas vidas, pautando nossas maneiras de
nos conduzirmos e de conduzirmos aos outros.

Vimos, então, na primeira geração, os Direitos Civis e Políticos; na segunda


geração, os Direitos Sociais; na terceira geração, os Direitos Difusos e coletivos
(minorias), de proteção ao meio ambiente, da paz e da autodeterminação dos
povos; na quarta geração, os Direitos de proteção ao patrimônio genético e
respeito à dignidade da vida humana. Segundo alguns pensadores, já está em
gestação uma quinta geração de direitos, relacionados aos direitos dos animais.

REFERÊNCIAS
ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2016.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Lisboa: Quetzal, 2009.

BENVENUTO, A. O surdo e o inaudito: à escuta de Michel Foucault. In:


GONDRA, J.; KOHAN, W. (Orgs.). Foucault 80 anos. Belo Horizonte: Autêntica,
2006.

BOBBIO, N. Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

42
Capítulo 1 DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS

BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção


do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 25 nov. 2021.

CAMARGO, E. P. de. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial:


enlaces e desenlaces. Ciênc. educ., v. 23, n. 1, jan./mar. 2017.

CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:


Civilização brasileira, 2013.

CHAUÍ, M. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2005.

FOUCAULT, M. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes,


2008.

GRUPPI, L. Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado em


Marx, Engels, Lênin e Gramsci. Porto Alegre: L&PM, 1980.

HABERMAS, J. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de


Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.

HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Nova Cultura, 1987.

HONNETH, Axel. Lutas por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos


sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

INFOESCOLA. Código de Hamurabi. 2021a. Disponível em: https://www.


infoescola.com/historia/codigo-de-hamurabi/. Acesso em: 15 set. 2021.

INFOESCOLA. Inclusão Social. 2021b. Disponível em: https://www.infoescola.


com/sociologia/inclusao-social/. Acesso em: 15 set. 2021.

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril, 2019.

KELSEN, H. Teoria geral do direito e do estado. São Paulo: Martins Fontes,


2000.

KELSEN, H. Teoria pura do direito. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

LOCKMANN, K. As práticas de inclusão por circulação: formas de governar a


população no espaço aberto. Pelotas: UFEPEL, 2016.

43
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Penguin Classics Companhia das


Letras, 2010.

MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.

MILL, J. S. O Utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2020.

MOORE, G. E. Princípios éticos. São Paulo: Abril Cultural, 1975.

NASCIMENTO, W. F. do. Por uma vida descolonizada: diálogos entre a bioética


de intervenção e os estudos sobre a colonialidade. 2010. Tese (Doutorado em
Bioética) – Universidade de Brasília, Brasília.

ONU. Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e


desenvolvimento. 1992. Disponível em: https://ambientes.ambientebrasil.com.
br/gestao/artigos/conferencia_das_nacoes_unidas_sobre_meio_ambiente_e_
desenvolvimento_-_eco-92.html. Acesso em: 25 nov. 2021.

PAIM, A. Tratado de Ética. Londrina: Humanidades, 2003.

PETRY, F. B. Princípios de Ética Biomédica. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola,


2002.

SINGER, P. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

SROUR, R. H. Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

VERGEZ, A.; HUISMAN, D. História dos filósofos ilustrada pelos textos. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos, 1984.

WEBER, M. Ciência e política. São Paulo: Cultrix, 1968.

WEFFORT, F. C. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2001.

44
C APÍTULO 2
DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Investigar as várias faces da exclusão social: gênero, sexo, raça, pessoa com
deficiência, idade, etnias e situação socioeconômica.
• Compreender os principais aspectos sociais da diversidade e inclusão
relacionados às minorias.
• Estudar as principais teorias sobre diversidade e seus impactos no mundo do
trabalho.
• Analisar o cenário atual sobre a inclusão de minorias na sociedade, no Brasil e
no mundo.
• Identificar as várias faces da exclusão social.
• Relacionar os principais aspectos sociais da diversidade e inclusão relacionados
às minorias.
• Perceber o cenário atual sobre a inclusão de minorias na sociedade, no Brasil e
no mundo.
• Avaliar as políticas públicas sobre diversidade e inclusão na sociedade atual.
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

46
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Como estudamos no capítulo anterior, segmentos que, antigamente,
estavam à margem da sociedade, sendo excluídos e discriminados, agora
tentam a ampliação de seus direitos e, consequentemente, a sua inclusão
social. Essas ações são resultados das práticas de fortalecimento da cidadania
– e reconhecimento de direitos – que acompanham a tendência histórica de
ampliação dos espaços de representação política. Neste capítulo, daremos ênfase
à denominada terceira geração – surgida em função das questões relacionadas
aos problemas difusos (direitos difusos: a titularidade desses direitos não é
plenamente identificável), que dizem respeito a todos (paz, vida saudável, meio
ambiente) e, também, das minorias sociais (direitos coletivos: existe um vínculo
que compõe o grupo): negros, indígenas, mulheres, pessoas com deficiência,
homossexuais e demais grupos discriminados historicamente.

Esses direitos da terceira geração surgiram principalmente após os


movimentos civis nos Estados Unidos contra a discriminação racial (Martin Luther
King) e a guerra do Vietnã (1962-1972). Em 1986, na Declaração sobre o Direito
ao Desenvolvimento, garante-se a alteridade universal em função do direito dos
indivíduos e dos povos se desenvolverem, pois toda pessoa humana e todos
os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social,
cultural e político. Os direitos de terceira geração são atribuídos de forma genérica
às formações sociais e atuam na proteção dos direitos transindividuais, coletivo
ou difuso de determinado grupo, numa clara preocupação com a manutenção
da vida. No entanto, não se destina especificamente à proteção do homem
isoladamente, mas da coletividade em geral (BOBBIO, 1992).

2 AS VÁRIAS FACES DA EXCLUSÃO


SOCIAL: GÊNERO, SEXO, RAÇA,
PESSOA COM DEFICIÊNCIA,
IDADE, ETNIAS E SITUAÇÃO
SOCIOECONÔMICA
A Constituição Federal de 1988 reconhece direitos coletivos e demandas
sociais que extrapolam o âmbito individual. A fim de assegurar a manutenção
destes direitos, movimentos sociais se organizaram em torno de pautas políticas
social e culturalmente igualitárias. Nesse sentido, as questões identitárias de

47
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

sujeitos sociais subalternizados, invisibilizados e discriminados socialmente


ganharam força nas esferas públicas a partir dos anos 1990, como os movimentos
sociais feministas, negros e das comunidades periféricas, gays, lésbicas,
bissexuais, travestis e transexuais (MACHADO, 2006; MIGUEL, 2016).

Conforme afirmam Faundes (1996, p. 668 apud DIAS; CABRAL, 2021):

Sem dúvida alguma, os sistemas de diferenciação social, como


classe, raça, etnia, geração, além de gênero, implicam sempre
em relações desiguais e de submissão com consequências
importantes para a autonomia individual e coletiva, e para o
exercício pleno da cidadania, quando se considera o ser humano
como agente protagonista de sua própria transformação social.

Essa discussão nos remete individualmente à questão dos direitos humanos


e à luta permanente pela igualdade de direitos que estudaremos a seguir,
destacando nesta seção alguns grupos que historicamente são discriminados
socialmente. Podemos definir minoria social como:

[...] uma parcela da população que se encontra, de algum


modo, marginalizada, ou seja, excluída do processo de
socialização. São grupos que, em geral, são compostos por
um número grande de pessoas (na maioria das vezes, são
a maioria absoluta em números), mas que são excluídos por
questões relativas à classe social, ao gênero, à orientação
sexual, à origem étnica, ao porte de necessidades especiais,
entre outras razões (BRASIL ESCOLA, 2021, s.p.).

A temática das minorias sociais se tornará um tema acadêmico, com


diferentes abordagens conforme o grupo discriminado que estudaremos a seguir.

2.1 DIVERSIDADE: GÊNERO E


SEXUALIDADE
Segundo Basilio (2021 apud CLAM, 2009, p. 39):

[...] ainda muito pequenos já começamos a lidar com as


expectativas que a sociedade deposita sobre cada um. Já na
infância, entraremos em contato com uma lista de predileções,
afazeres e tarefas específica construídos socialmente como
“coisa de meninos” ou “de meninas”. Eles gostam de azul, de
futebol e não choram.

Essas diferenciações, entretanto, não são naturais, mas socialmente e


historicamente construídas, a partir de padrões normativos do que é ser homem e
o que é ser mulher (BASILIO, 2021 apud CLAM, 2009, p. 39).
48
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Conforme aponta Santiago (2021, s.p.), “investigar o conceito de gênero é


muito importante para a construção do que se entende como justiça social, porque
ele trata do caráter social fundamental das diferenças que são atribuídas às
mulheres e aos homens”. De uma maneira geral, as pessoas têm uma tendência
a imaginar que as diferenças entre mulheres e homens, ou sobre o que é ser
mulher e o que é ser homem, são naturais. Baseados no sexo biologicamente
definido, através de falas machistas e/ou sexistas, a sociedade atual considera
a possibilidade de afirmar ações, vistas como “socialmente adequadas”, a esses
comportamentos ou atitudes, atribuídas de tal forma que acabam gerando o
preconceito e a desigualdade entre esses gêneros. O conceito de gênero vem
para nos ajudar a entender que essa desigualdade, ou seja, os homens estarem
em posições superiores na sociedade, terem melhores salários, posições de
liderança, tudo aquilo considerado natural aos homens, é socialmente construído.

Para que a gente equilibre essa balança, isso precisa ser


desconstruído, porque se foi aprendido dessa forma pode ser
aprendido de outra que possibilite às mulheres desenvolverem
seu pleno potencial e acessarem as oportunidades da mesma
maneira que os homens (SANTIAGO, 2021 apud CLAM, 2009,
p. 109).

Segundo Faundes (1996, p. 670):

[...] as relações de gênero são produto de um processo


pedagógico que se inicia no nascimento e continua ao longo
de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre
homens e mulheres, principalmente em torno a quatro eixos:
a sexualidade, a reprodução, a divisão sexual do trabalho e o
âmbito público/cidadania.

Para esclarecer ainda mais tais temáticas, analise o quadro a seguir:

QUADRO 1 – RELAÇÕES DE GÊNERO


Eixo 1 - A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a reprodução, ou seja, para a mulher
o centro da sexualidade é a reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à genitalidade se
apresenta para as mulheres como algo sujo, vergonhoso, proibido. Os homens, ao contrário das
mulheres, recebem mensagens e são preparados para viver o prazer da sexualidade através do seu
corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem é sinal de masculinidade. De um
modo geral, podemos dizer que as mulheres desde que nascem são educadas para serem mães,
para cuidar dos outros e para “dar prazer ao outro”. A sua sexualidade é negada, reprimida e temida.

Eixo 2 - Outro dos eixos em que se constrói e se concretiza a desigualdade entre homens e mu-
lheres é a reprodução. A mulher pode gerar um filho, e isto que em si é uma fonte de poder que tem
sido controlada, bem como determinante em outros papéis da mulher, diminuindo as possibilidades e
limitando suas vidas das em outros âmbitos, como no campo do trabalho.

49
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Eixo 3 - O terceiro eixo é a divisão sexual do trabalho. Pelo fato biológico de que a mulher é quem
engravida e dá de mamar, tem sido atribuída a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às mulheres,
portanto, se atribui o ficar em casa, cuidar dos filhos e realizar o trabalho doméstico, desvalorizado
pela sociedade e que deixava as mulheres “donas de casas” limitadas ao mundo do lar; com menos
possibilidade de educação, menos acesso à informação, menos acesso à formação profissional etc. A
situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior de mulheres está saindo
do lar e está ingressando no mercado de trabalho, no entanto, as desigualdades ainda permanecem.
Diferentes estudos mostram que, em geral, as mulheres ganham menos que os homens em todos
os campos e que as mulheres têm menos possibilidades de obter um cargo diretivo. Por outro lado,
isto tem significado que as mulheres, além da jornada de 8 horas de trabalho remunerado, têm um
número variável de horas de trabalho em casa, o que aumenta nos fins de semana. Esse excesso de
trabalho, somado ao esforço realizado no âmbito público e privado, é conhecido como dupla jornada
de trabalho. Isso significa que todo o poder e independência alcançados pelas mulheres com sua
saída do lar têm, por outro lado, trazido um desgaste na sua saúde física e mental.

Eixo 4 - O quarto eixo se refere ao espaço público e ao reconhecimento da cidadania. Embora


nos dias atuais uma grande proporção de mulheres seja a principal fonte de sustento para a família,
isso não tem significado um maior desenvolvimento e reconhecimento de sua cidadania. Em todos
os países da América Latina, incluindo o Brasil, os dados mostram que existe uma grande diferença
entre homens e mulheres, bem como que a falta de equidade prejudica as mulheres. Dificilmente
encontramos mulheres em altos cargos, como diretoras de empresas, de hospitais, reitoras de univer-
sidades etc. Em geral, é muito difícil ter mulheres nos lugares de tomada de decisões. Isso se explica
pelo processo de socialização que, ao determinar o trabalho reprodutivo (casa e filhos) para a mulher,
cria condições que a marginalizam do espaço público, e pelo contrário, o homem é quem assume
o trabalho produtivo e as decisões da sociedade. Quando consideramos o discutido anteriormente
sobre a construção dos papéis de gênero e suas implicações na construção das identidades mascu-
lina e feminina que determinam uma dinâmica de relação e de poder sempre favoráveis ao homem,
vemos que isso tem sérias implicações no exercício dos direitos sexuais e reprodutivos e da própria
sexualidade por parte das mulheres. Além disso, traz graves consequências para o exercício pleno da
cidadania, em que esses direitos sexuais incluem o direito a ter controle e decidir livre e responsavel-
mente nos assuntos relacionados com a sua sexualidade, incluindo a saúde sexual reprodutiva, livre
de coerção, discriminação e violência.
FONTE: <http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/genero-1>. Acesso em: 15 out. 2021.

Com relação à violência doméstica contra a mulher que atinge números


absurdos no Brasil, foi implantada a Lei Maria da Penha. A Lei Maria da Penha
foi sancionada em 7 de agosto de 2006, com 46 artigos distribuídos em sete
títulos. Ela cria mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher em conformidade com a Constituição Federal (art. 226, § 8°) e os
tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro (Convenção de Belém
do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos
e Deveres do Homem e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher).
50
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

LEI MARIA DA PENHA


Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006

I O Título I determina em quatro artigos a quem a lei é


direcionada, ressaltando ainda a responsabilidade da família, da
sociedade e do poder público para que todas as mulheres possam
ter o exercício pleno dos seus direitos.
II Já o Título II vem dividido em dois capítulos e três artigos:
além de configurar os espaços em que as agressões são qualificadas
como violência doméstica, traz as definições de todas as suas formas
(física, psicológica, sexual, patrimonial e moral).
III Quanto ao Título III, composto de três capítulos e sete artigos,
tem-se a questão da assistência à mulher em situação de violência
doméstica e familiar, com destaque para as medidas integradas de
prevenção, atendimento pela autoridade policial e assistência social
às vítimas.
IV O Título IV, por sua vez, possui quatro capítulos e 17 artigos,
tratando dos procedimentos processuais, assistência judiciária,
atuação do Ministério Público e, em quatro seções (Capítulo II),
se dedica às medidas protetivas de urgência, que estão entre as
disposições mais inovadoras da Lei n. 11.340/2006.
V no Título V e seus quatro artigos, está prevista a criação de
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, podendo
estes contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar
composta de profissionais especializados nas áreas psicossocial,
jurídica e da saúde, incluindo-se também destinação de verba
orçamentária ao Judiciário para a criação e manutenção dessa
equipe.
VI O Título VI prevê, em seu único artigo e parágrafo único,
uma regra de transição, segundo a qual as varas criminais têm
legitimidade para conhecer e julgar as causas referentes à violência
de gênero enquanto os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher não estiverem estruturados.
VII Por fim, encontram-se no Título VII as disposições finais.
São 13 artigos que determinam que a instituição dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher pode ser integrada
a outros equipamentos em âmbito nacional, estadual e municipal,
tais como casas-abrigo, delegacias, núcleos de defensoria pública,
serviços de saúde, centros de educação e reabilitação para os
agressores etc. Dispõem ainda sobre a inclusão de estatísticas sobre
a violência doméstica e familiar contra a mulher nas bases de dados

51
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança, além de


contemplarem uma previsão orçamentária para o cumprimento das
medidas estabelecidas na lei. Um dos ganhos significativos trazidos
pela lei, conforme consta no art. 41, é a não aplicação da Lei n.
9.099/1995, ou seja, a violência doméstica praticada contra a mulher
deixa de ser considerada como de menor potencial ofensivo.

FONTE: <https://www.institutomariadapenha.org.br/>. Acesso


em: 15 out. 2021.

Você quer conhecer as legislações federais que abordam os


direitos da mulher? No link a seguir, você encontrará, em ordem
cronológica de publicação, as legislações federais que tratam de
temas diversos sobre mulheres – violência, discriminação, crimes
cibernéticos, direitos civis, trabalhistas, políticos e previdenciários:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/politicas-para-
mulheres/LegislaesFederaiseasMulheres.pdf

A seguir, indicamos alguns filmes que tratam sobre as questões


de gênero.

FIGURA 1 - HISTÓRIAS CRUZADAS (2011)

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-176673/>. Acesso em: 15 out. 2021.

52
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Sinopse: O filme narra a luta de Eugenia Skeeter Phelan para dar


voz às mulheres negras vítimas do forte racismo presente na década
de 1960 nos Estados Unidos. Moradora de Jackson, uma pequena
cidade no estado do Mississipi, a garota, que quer ser jornalista,
decide escrever um livro sob a perspectiva das empregadas negras
acostumadas a cuidar dos filhos da elite branca, da qual ela mesma
faz parte. Skeeter se alia à empregada de sua melhor amiga, Aibileen
Clark e, mesmo contrariando a sociedade, juntas seguem em busca
de igualdade.

FONTE: <https://educacaointegral.org.br/reportagens/16-filmes-
para-debater-os-direitos-das-mulheres/>. Acesso em: 15 out. 2021.

FIGURA 2 - TERRA FRIA (2006)

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-56284/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: Baseado em um caso real, o filme conta a história de


Aimes, uma mulher que abandona o marido que a espancava para
procurar um emprego e sustentar sozinha seus dois filhos. Para
tanto, ela resolve trabalhar em uma mineradora de ferro no interior do
estado de Minnesota, nos EUA.

FONTE: <https://educacaointegral.org.br/reportagens/16-filmes-
para-debater-os-direitos-das-mulheres/>. Acesso: 15 out. 2021.

53
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

FIGURA 3 - PRECIOSA (2009)

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-132242/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: Inspirada pelo romance “Push”, da escritora Sapphire,


o filme conta a história de Claireece “Precious” Jones, uma jovem
de 16 anos que sofreu diversos abusos durante sua infância. Ela
engravida pela segunda vez – de seu pai – e é suspensa da escola.
A diretora, então, consegue uma vaga em uma escola alternativa,
onde, com a ajuda de uma educadora que consegue ver para além
das marcas da violência que sofreu, ela aprende a ler e escrever e
consegue mudar os rumos de sua vida.

FONTE: <https://educacaointegral.org.br/reportagens/16-filmes-
para-debater-os-direitos-das-mulheres/>. Acesso: 15 out. 2021.

FIGURA 4 - ESTRELAS ALÉM DO TEMPO

FONTE: <https://disneyplusbrasil.com.br/estrelas-alem-do-tempo-3-mulheres-
negras-que-fizeram-historia-na-nasa/>. Acesso em: 15 out. 2021.

54
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Sinopse: No auge da corrida espacial travada entre Estados


Unidos e Rússia, durante a Guerra Fria, uma equipe de cientistas
da NASA, formada exclusivamente por mulheres afro-americanas,
provou ser o elemento crucial que faltava na equação para a
vitória dos Estados Unidos, liderando uma das maiores operações
tecnológicas registradas na história americana e se tornando
verdadeiras heroínas da nação.

FONTE: <https://www.fecaf.com.br/5-filmes-sobre-mulheres-
incriveis/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Para saber mais sobre gênero e sexualidade, leia os livros a


seguir:

FOUCAULT, M. História da Sexualidade. Rio de Janeiro: Edições


Graal, 1988.

BUTLER, J. Problemas de Gênero. London: Routledge, 1990.

2.2 MOVIMENTOS DE ORIENTAÇÃO


SEXUAL – MOVIMENTO LGBTQIA+
Com relação à sexualidade, temos a formação de uma minoria social em todo
o mundo, a comunidade LGBTQIA+, comunidade formada por homossexuais,
bissexuais, transexuais e pessoas que se identificam de maneira não binária com
o gênero. Essa população, também historicamente excluída em grande parte dos
países ocidentais e orientais por fundamentos enraizados, principalmente em
fatores religiosos e morais, encontra-se ainda fortemente excluída dos espaços
de poder e da aceitação social (PIMENTA, 2021; BORTOLETTO, 2019, p. 6).

Os movimentos de orientação sexual popularmente conhecido como


“movimento LGBT” buscam defender a aceitação de pessoas LGBT na
sociedade. Ele está presente em vários países ao redor do mundo. Embora cada
grupo organizado trabalhe para alcançar o mesmo objetivo, o foco principal são

55
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

as questões de necessidade de sua região. A defesa da aceitação acontece por


meio da conscientização da população em relação ao preconceito contra os
homossexuais, bissexuais, transexuais, pansexuais, assexuais, e outros grupos
minoritários (PIMENTA, 2021; BORTOLETTO, 2019).

Segundo Pimenta (2021), a sigla do movimento LGBT mudou


consideravelmente ao longo dos anos. A primeira transformação aconteceu por
volta de 1980, quando o termo LGB (lésbicas, gays e bissexuais) substituiu o termo
GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) na mídia e nas comunidades LGBT. Alguns
anos depois, a letra “T” foi incluída para representar os travestis, transexuais e
transgêneros. Com o tempo, novas letras foram incluídas – Q, I, A, P e N – para
fazer a inclusão de pessoas com outras orientações sexuais até chegar à sigla
utilizada globalmente: a LGBTQIA+ (BORTOLETTO, 2019). Veja os significados
das letras no quadro a seguir:

QUADRO 2 - MOVIMENTO LGBTQIA+


• Lésbicas: mulheres que se identificam com o seu gênero e sentem atração pelo mesmo sexo.
• Gays: homens que se identificam com o seu gênero e sentem atração pelo mesmo sexo.
• Bissexuais: homens e mulheres que sentem atração sexual ou afetiva por ambos os sexos.
Essa orientação sexual é confundida erroneamente com “indecisão”.
• Transexuais, travestis e transgêneros: esses termos se referem aos indivíduos que não se iden-
tificam com o gênero biológico. Por exemplo, quando uma pessoa atribuída ao gênero masculino
no nascimento por razões biológicas não se identifica com ele, mas, sim, com o gênero feminino.
• Queer: pessoas que transitam entre os gêneros feminino e masculino. O termo queer pertence
à língua inglesa e por muito tempo foi utilizado de modo pejorativo. O movimento se apropriou dele
para conceder um significativo positivo a ele.
• Intersexuais: indivíduos que possuem características femininas e masculinas.
• Assexuais: pessoas que não sentem atração sexual por outras, independentemente do seu
gênero.

Como a sexualidade humana é múltipla e complexa, o símbolo (+) foi adicionado para incluir quem
não se inclui nas siglas mencionadas. É o caso dos pansexuais, que sentem atração sexual por
pessoas independentemente do seu gênero.
FONTE: <https://www.vittude.com/blog/lgtbqia-o-que-significa-
sigla-e-movimento/>. Acesso em: 15 out. 2021.

56
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

QUADRO 3 – ORGULHO GAY

Dia Internacional do Orgulho Gay - 28 de junho

Durante esse mês, são realizadas atividades de conscientização e de combate ao preconceito em


vários lugares do mundo. Elas são tanto promovidas por instituições e ONGs quanto por pequenos
grupos organizados. A data também é um lembrete que pessoas LGBTQIA+ devem se orgulhar de
suas identidades apesar da discriminação, da violência e das tentativas de repressão. Não importa
se uma pessoa é heterossexual, homossexual, bissexual, transexual ou outros, ela deve ser res-
peitada por ser, acima de tudo, um ser humano. Durante o mês de junho também são realizadas
festas, marchas de rua e paradas de orgulho gay para celebrar a igualdade entre os gêneros. A
partir de então, o temo “orgulho gay” passou a ser popularmente utilizado para demonstrar que
uma pessoa LGBT não precisa ter vergonha, medo ou culpa de ser quem é.
O Dia Internacional do Orgulho Gay possui, ainda, outro significado. É uma homenagem às pes-
soas que lutaram contra as invasões policiais aos bares frequentados por homossexuais em Nova
York na chamada Rebelião de Stonewall Inn, em 1969. Quem frequentava esses estabelecimen-
tos era preso e sofria represálias das autoridades policiais como forma de “correção” do seu com-
portamento. Diversos protestos surgiram contra a brutalidade policial, dando origem à parada do
Dia da Libertação Gay, em 28 de junho de 1970, em Nova York, para lutar contra o preconceito.
FONTE: <http://blog.saude.mg.gov.br/2021/06/28/28-de-junho-dia-
internacional-do-orgulho-lgbt/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Filmes sobre o Movimento LGBTQIA+:

Stonewall – Onde o orgulho começou


O filme de 2016, do diretor Roland Emmerich, conta a história
do adolescente Danny Winters, que é expulso de casa e começa a
descobrir novas ideias políticas e as dificuldades da vida adulta, com
a Revolta de Stonewall como pano de fundo.

Filadélfia
O longa de 1993 deu o primeiro Oscar para Tom Hanks ao
contar a história de um advogado que é recém-contratado por uma
grande firma de advocacia da Filadélfia. No entanto, ele descobre
que é portador do vírus HIV e é despedido. O filme mostra a luta
deste advogado ao processar a companhia por preconceito enquanto
lida com os efeitos da AIDS.

Priscilla, a Rainha do Deserto


O filme de 1994 mostra um universo pouco explorado no cinema
até então, o das drag queens. O road movie conta a história de

57
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

três travestis que atravessam o deserto australiano para fazer uma


apresentação musical, viajando em um ônibus batizado de Priscilla.
O filme fez tanto sucesso com seu roteiro, trilha sonora e figurino,
que faturou o Oscar de melhor figurino.

O Segredo de Brokeback Mountain


O filme de Ang Lee, de 2005, chamou atenção ao apresentar
uma história de amor entre um rancheiro e um vaqueiro. Eles lutam
contra o sentimento, tentam manter suas vidas ditas normais, mas
acabam se entregando à paixão.

Milk: A voz da igualdade


Baseado em fatos reais, o filme de 2008 conta a história de
Harvey Milk, que para enfrentar a violência e o preconceito da época
(o filme se passa em 1977) vive uma intensa batalha política para
ser eleito para o quadro de supervisor da cidade de São Francisco.
Ele se torna o primeiro gay assumido a alcançar um cargo público de
importância nos Estados Unidos.

LÉO – INDICAÇÃO DE LIVROS


Livros sobre Movimento LGBTQIA+

- História do Movimento LGBT no Brasil, de James N. Green,


Renan Quinalha, Marcio Caetano e Marisa Fernandes.

- Além do Carnaval, de James N. Green.

2.3 RACISMO E DIVERSIDADE


ÉTNICA
De acordo com o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial
(SINAPIR, 2021; CAMPOS, 2018), o Brasil se formou a partir de diversas raças e
etnias, sendo o segundo país do mundo em população da raça negra. Ao longo da
história, pretos e pardos sofrem com a aculturação, com violências generalizadas
e com a exclusão social; vivendo realidades distintas, de acordo com fatores
geográficos, políticos e econômicos ao longo da história. O surgimento do Brasil
como Estado-nação se deu, inicialmente, pelo encontro dos europeus com a
população nativa no século XVI.

58
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Segundo Campos (2018, p. 7):

[...] para suprir as necessidades de mão de obra nos


empreendimentos da colônia, os portugueses trouxeram da
África, como escravos, numa migração forçada, enormes
contingentes de pessoas. Os africanos que vieram por meio
do comércio de escravos tornaram-se os mais numerosos
membros do Novo Mundo, tanto no Norte quanto no Sul da
América.

Ao longo da história, juntaram-se aos portugueses, indígenas e africanos,


pessoas das mais diversas origens, formando o povo brasileiro. Esse intercâmbio
de povos com experiências históricas distintas se enriqueceu com trocas de
conhecimentos, resultando no vasto patrimônio cultural que se apresenta hoje no
Brasil (SINAPIR, 2021; CAMPOS, 2018).

No entanto, o grau de desigualdade que sempre marcou esse contato deixou


marcas profundas que ainda devem ser superadas. A hierarquia entre os povos
de origens diferentes que compõem a nação brasileira está presente em todos
os indicadores econômicos e sociais, constituindo-se uma questão relevante para
se compreender o Brasil contemporâneo. As contradições objetivas da realidade
se expressaram em leis, conflitos de interesse e disputas sobre a forma de
organização do Estado brasileiro (SINAPIR, 2021; CAMPOS, 2018).

De acordo com Campos (2018, p. 7):

[...] no século XX, começa a tornar-se dominante um novo


conceito sobre a diversidade humana, presente na construção
do Brasil e a convicção de que o valor dos indivíduos e grupos
não pode ser medido por critério racial. A visão a respeito do
valor da diversidade racial e da importância para que indivíduos
de diversas origens tenham oportunidades iguais, se expressa
na organização do Estado brasileiro e em sua legislação.

A discriminação racial e o racismo se tornaram contravenção penal pela


Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951, “prática de atos resultantes de preconceitos
de raça ou de cor”, que culminou na determinação do Artigo 5º, inciso XLII, da
Constituição Federal de 1988, “a prática do racismo constitui crime inafiançável e
imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”.

A Conferência de Durban na África do Sul, em 2001, levou o Estado Brasileiro


a assumir a responsabilidade de promover políticas abrangendo os anseios da
maioria da sociedade brasileira, composta por pretos e pardos, que se encontra
em situação de vulnerabilidade socioeconômica, conforme censo demográfico de
2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este censo revelou
que quase 97 milhões de pessoas se declararam negras (pretas ou pardas).

59
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Outras 91 milhões de pessoas se declararam brancas. Assim, naquele censo, os


negros já eram mais da metade da população brasileira, invertendo as estatísticas
de 1980 e 2000, onde a população branca era superior à população negra.

A Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura


Afro-brasileira nas escolas), vislumbra mudanças de referência, refletindo o
estágio em que se encontra o tema da promoção da igualdade racial na esfera
política brasileira. Nem todas as questões tratadas no Estatuto chegaram ao
mesmo grau de definição, mas foram abordadas, até porque a promoção da
igualdade racial atinge realmente nossa sociedade em todas as suas dimensões.
O Decreto 4.886/2003, que institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade
Racial (PNPIR), consolida uma conjugação de esforços, onde a União, os
Estados/DF/Municípios, em parceria com a sociedade civil, empresários,
universidades, Ministério Público, Poder Judiciário, polícias, se articulam para
promover a justiça e a paz social no Brasil. Portanto, para enfrentar o racismo
e a intolerância étnico-racial, que se manifesta de maneira sutil no país, é
indispensável conhecer e propor políticas públicas para as comunidades negras,
quilombolas e comunidades tradicionais de matriz africana. Essas políticas
públicas voltadas à população negra e aos povos e comunidades tradicionais têm
o enfoque na política transversal, considerando as múltiplas facetas da realidade
de grupos e povos historicamente em situação de desigualdade, invisibilidade e
vulnerabilidade social.

Nesse sentido, vale ressaltar as iniciativas implementadas a partir da Política


Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Decreto 4.886/2003) e do Plano
Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Decreto 6.872/2009), com ações
afirmativas voltadas a promover a inclusão e a igualdade de oportunidades,
culminando no Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.888/2010), que
institucionalizou uma série de iniciativas nos campos da educação, da cultura, do
esporte, do lazer, da justiça, da saúde, do trabalho, da moradia, do acesso a terra,
da segurança e da comunicação.

A elaboração e a implementação de políticas para a população negra, bem


como para os povos e comunidades tradicionais, são políticas públicas afirmativas
de promoção da igualdade étnico-racial e da proteção dos direitos de indivíduos
e populações étnico-raciais, com ênfase nas populações quilombolas, ciganas,
negra e estrangeiros de perfil étnico-racial afetados por ações de discriminação
étnico-racial e outras formas de intolerância.

60
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

QUADRO 4 - IGUALDADE RACIAL

Estatuto da Igualdade Racial

Para efeito deste Estatuto, considera-se:


I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada
em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida
pública ou privada;
II - desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de acesso e fruição de bens,
serviços e oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica;
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a
distância social entre mulheres negras e os demais segmentos sociais;
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o
quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou
que adotam autodefinição análoga;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo Estado no cumprimento de
suas atribuições institucionais;
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa
privada para a correção das desigualdades raciais e para a promoção da igualdade de oportuni-
dades.

Art. 2º É dever do Estado e da sociedade garantir a igualdade de oportunidades, reconhecendo


a todo cidadão brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação
na comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais,
culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus valores religiosos e culturais.

Art. 3º Além das normas constitucionais relativas aos princípios fundamentais, aos direitos e ga-
rantias fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, o Estatuto da Igualdade Racial
adota como diretriz político-jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, a valori-
zação da igualdade étnica e o fortalecimento da identidade nacional brasileira.

Art. 4º A participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida


econômica, social, política e cultural do País será promovida, prioritariamente, por meio de:
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento econômico e social;
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação afirmativa;
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para o adequado enfrentamento e a supe-
ração das desigualdades étnicas decorrentes do preconceito e da discriminação étnica;
IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o combate à discriminação étnica e às
desigualdades étnicas em todas as suas manifestações individuais, institucionais e estruturais;
V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e institucionais que impedem a represen-
tação da diversidade étnica nas esferas pública e privada;

61
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas da sociedade civil direcionadas à pro-


moção da igualdade de oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas, inclusive mediante
a implementação de incentivos e critérios de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos
públicos;
VII - implementação de programas de ação afirmativa destinados ao enfrentamento das desigual-
dades étnicas no tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde, segurança, trabalho, mora-
dia, meios de comunicação de massa, financiamentos públicos, acesso a terra, à Justiça e outros.
Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa constituir-se-ão em políticas públicas destina-
das a reparar as distorções e desigualdades sociais e demais práticas discriminatórias adotadas,
nas esferas pública e privada, durante o processo de formação social do País.

Art. 5º Para a consecução dos objetivos desta Lei, é instituído o Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Lei/L12288.htm>. Acesso em: 15 out. 2021.

Filmes sobre Racismo e Diversidade Étnica:

- Filmes Nacionais
• Cidade de Deus.
• Carandiru.
• O homem que copiava.
• Narradores de Javé.
• Meu tio matou um cara.
• Quanto vale ou é por quilo.
• Quase dois irmãos.
• Vista minha pele.

- Filmes estrangeiros
• Basquiat.
• Ray.
• Hotel Ruanda.
• Um Grito de Liberdade.
• Diamante de Sangue.
• O Último Rei da Escócia.
• Em minha terra.
• Amistad.

62
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

O MEC disponibiliza uma série de publicações sobre Relações


Étnico-Raciais, que pode ser muito útil para os professores que
quiserem trabalhar o tema em sala de aula. Confira:
http://etnicoracial.mec.gov.br/26-publicacoes/40-publicacoes.

2.4 PESSOA COM DEFICIÊNCIA


A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
de 2007, ratificada pelo Brasil com equivalência de Emenda Constitucional pelo
Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008, e promulgada pelo Decreto
nº 6.949, de 25 de agosto de 2009; e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (LBI), Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, considera pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras,
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas (MDH, 2021).

De acordo com Costa (2018, p. 18):

[...] o artigo terceiro do decreto 3.298, de 20 de dezembro de


1999, define os termos deficiência, deficiência permanente e
incapacidade. Deficiência, de acordo com o artigo, é a perca
ou anormalidade da função ou estrutura fisiológica, psicológica
ou anatômica que não permita a pessoa exercer atividades
com um desempenho de uma pessoa dentro de um padrão
considerado de uma pessoa normal. Deficiência permanente
é quando uma deficiência se estabiliza durante um período
de tempo considerado suficiente para que não seja possível a
recuperação do individuo. E incapacidade é a diminuição efetiva
e acentuada da capacidade de integração social que faça com
que a pessoa necessite de algum recurso ou equipamento que
faça com que sua incapacidade seja superada ou fortemente
diminuída (BRASIL, 1999).

Por sua vez, no artigo 4º do Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999,


são considerados os seguintes tipos de deficiência:

• Auditiva: perda total, parcial ou bilateral da capacidade auditiva.


• Visual: cegueira total ou parcial, em um ou dois olhos.
• Física: dificuldade de realizar funções físicas por alteração parcial ou
completa de um ou mais segmentos do corpo humano.

63
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

• Mental: funcionamento intelectual inferior à média, que se manifeste


antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais
habilidades adaptativas (exemplos: habilidades sociais, comunicação,
habilidades acadêmicas, cuidado pessoal, entre outros).
• Múltipla: quando possui dois ou mais tipos de deficiência de maneira
simultânea.

As últimas análises do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,


2020) apontam que 8,4% da população brasileira acima de 2 anos – 17,3 milhões
de pessoas – possui algum tipo de deficiência. Essas análises estão baseadas na
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019 (IBGE, 2020). Com relação ao tipo
de deficiência, a pesquisa detalha que:

• 7,8 milhões, ou 3,8% da população acima de dois anos, apresentam


deficiência física nos membros inferiores;
• 2,7% das pessoas têm nos membros superiores;
• 3,4% dos brasileiros possuem deficiência visual;
• 1,1% deficiência auditiva;
• 1,2% têm deficiência intelectual.

• Com relação ao gênero: 10,5 milhões são mulheres (9,9%), frente a 6,7
milhões de homens (6,9%).
• Local onde moram: 9,7% das pessoas estão em áreas rurais, enquanto
8,2% em zonas urbanas.
• Com relação às etnias: 9,7% eram pretas, 8,5% pardas e 8% brancas.
• Com relação ao nível de escolaridade: quase 68% da população com
deficiência não possui instrução ou ensino fundamental completo, índice
de 30,9% para as pessoas sem nenhuma das deficiências investigadas.

Por fim, na pesquisa realizada, conforme apontado pelo (IBGE 2020), a


inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho ainda enfrenta
uma série de problemas para sua efetiva participação no mercado de trabalho.
Somente 28,3% das pessoas com deficiência em idade de trabalhar (14 anos ou
mais de idade) estão no mercado de trabalho. Por sua vez, para as pessoas sem
deficiência, o índice sobe para 66,3%. Ou seja, podemos concluir nesta seção,
que desigualdade no mercado de trabalho e na escolaridade se agrava ainda
mais para as pessoas com deficiência.

64
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Filme sobre deficiência:

FIGURA 5 - INTOCÁVEIS (2011)

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-182745/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: Esse filme é um dos melhores com o tema


acessibilidade. Ele conta a história de Philippe (François Cluzet), um
milionário que, após sofrer um grave acidente, fica tetraplégico. Ao
precisar contratar um acompanhante, sua história cruza com a de
Driss (Omar Sy), jovem de baixa renda e sem nenhuma experiência
na função de cuidador.

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-182745/>.
Acesso em: 15 out. 2021.

A seguir, disponibilizamos um link com uma coleção de materiais


sobre Educação Inclusiva do MEC: http://portal.mec.gov.br/index.
php?Itemid=860&id=12625&option=com_content&view=article.

65
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

2.5 ETARISMO E OS DIREITOS DA


PESSOA IDOSA
Segundo Pereira e Hanashiro (2014, p. 1), “o campo de estudos em
diversidade no Brasil vem crescendo vigorosamente, com predomínio de
pesquisas nas dimensões gênero e pessoas com deficiência”. De acordo com
eles:

[...] as questões relacionadas à orientação sexual, raça e idade


têm sido menos enfatizadas, o que sugere uma lacuna temática
a ser explorada, especialmente na compreensão de como o
fenômeno do etarismo se manifesta nos diferentes processos
organizacionais e suas eventuais consequências (PEREIRA;
HANASHIRO, 2014, p. 1).

O termo “ageismo” ou “etarismo”, conforme Pereira e Hanashiro (2014, p.1):

[...] foi cunhado pelo gerontologista Robert Butler (1969) para


definir uma forma de intolerância relacionada aos idosos, com
conotações semelhantes ao “racismo” e “sexismo”, tendo este
sido apontado por Palmore (1999), como o terceiro maior
“ismo” identificado nas sociedades do mundo ocidental.

Há aproximadamente 15 anos foi promulgada a Lei n° 10.741, de 1º de


outubro de 2003, também denominado Estatuto do Idoso, a qual representa
um grande marco na garantia dos direitos da pessoa idosa. Por ela, a família,
a comunidade, a sociedade e o Poder Público devem garantir a efetivação do
direito à vida, à saúde, à alimentação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho,
à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e
comunitária, com prioridade absoluta.

A defesa dos direitos da pessoa idosa é permanente e está em constante


aperfeiçoamento, como ocorreu com a edição da Lei nº 13.466, de 12 de julho
de 2017, que estabeleceu tratamento ainda mais diferenciado aos maiores
de 80 anos. O conhecimento do texto legal do Estatuto do Idoso é de extrema
importância para dar concretude aos direitos nele previstos.

66
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

QUADRO 5 - ESTATUTO DO IDOSO


Estatuto do Idoso

Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003.


TÍTULO I
Disposições Preliminares

Art. 1. É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com
idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Art. 2. O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Art. 3. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao


idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e
à convivência familiar e comunitária. § 1º A garantia de prioridade compreende: (Redação dada
pela Lei nº 13.466, de 2017) I – atendimento preferencial imediato e individualizado junto aos
órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; II – preferência na formulação
e na execução de políticas sociais públicas específicas; III – destinação privilegiada de recursos
públicos nas áreas relacionadas com a proteção ao idoso; IV – viabilização de formas alternativas
de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações; V – priorização do atendi-
mento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não
a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; VI – capacitação e
reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços
aos idosos; VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações
de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais de envelhecimento; VIII – garantia de
acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais; IX – prioridade no recebimento
da restituição do Imposto de Renda (incluído pela Lei nº 11.765, de 2008). § 2º Dentre os idosos,
é assegurada prioridade especial aos maiores de oitenta anos, atendendo-se suas necessidades
sempre preferencialmente em relação aos demais idosos (incluído pela Lei nº 13.466, de 2017).

Art. 4. Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, cruelda-
de ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da
lei. § 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso. § 2º As obrigações
previstas nesta Lei não excluem da prevenção outras decorrentes dos princípios por ela adotados.

Art. 5. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade à pessoa física


ou jurídica nos termos da lei.

67
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Art. 6. Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente qualquer forma de vio-
lação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha conhecimento. Art. 7. Os Conselhos
Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais do Idoso, previstos na Lei nº 8.842, de 4 de
janeiro de 1994, zelarão pelo cumprimento dos direitos do idoso, definidos nesta Lei.
FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/
l10.741.htm>. Acesso em: 15 out. 2021.

Filmes sobre Etarismo:

Viver duas vezes


O filme espanhol conta a história de Emilio, ex-professor
universitário de matemática. Quando é diagnosticado com Alzheimer,
o idoso e sua família resolvem partir em busca do seu grande amor
de infância. Emilio conta com a ajuda da neta e da tecnologia para
localizar a mulher por quem se apaixonou antes que a doença
avance. O drama é uma história sobre amor, família, escolhas da
vida e traz bons momentos de comédia.

E se vivêssemos todos juntos?


Esse filme retrata a decisão de cinco amigos com mais de 75
anos, preocupados com o declínio da memória e outros problemas
típicos da velhice, de morarem juntos para não se tornarem fardos
na vida dos filhos. O inusitado projeto de vida proporciona novas
perspectivas, desafios e uma convivência com muitas lembranças da
amizade, que dura mais de 40 anos. O cotidiano do grupo chama a
atenção de um estudante de antropologia que resolve escrever uma
tese sobre a experiência.

Diário de uma paixão


A história começa com um homem e uma mulher em um asilo.
Ele está ali voluntariamente e relativamente bem com sua saúde. Ela
é uma interna e tem Alzheimer. O homem a visita todos os dias e lê
um capítulo de um diário para ela sobre a história de amor de Allie
e Noah, dois jovens que se conheceram na década de 1940 e se
apaixonaram logo de cara. Enquanto ouve o romance sendo contado
pelo homem, a senhora experimenta diferentes sensações e parece
relembrar momentos de sua própria vida.

RED: Aposentados e Perigosos


A comédia de ação retrata um grupo de aposentados que se
unem para proteger suas famílias. O roteiro mostra que a disposição
68
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

de um idoso pode ser maior que a de um jovem, desmistificando a


imagem do velho inativo. O filme foi inspirado em uma história de
quadrinhos publicada pela DC, que carregava o mesmo nome.

Material sobre Etarismo: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-


por-temas/pessoa-idosa/biblioteca/estatuto-do-idoso-2018-edicao-
15-anos.pdf.

1 A Constituição Federal de 1988 reconhece direitos coletivos


e demandas sociais que extrapolam o âmbito individual. A
fim de assegurar a manutenção destes direitos, movimentos
sociais organizaram-se em torno de pautas políticas, sociais e
culturalmente igualitárias. Sobre a legislação ou estatuto com sua
respectiva minoria a ser protegida e incluída socialmente, associe
os itens, utilizando o código a seguir:

I- Estatuto do Idoso.
II- Lei Brasileira da Inclusão.
III- Estatuto da Igualdade Racial.
IV- Lei Maria da Penha.

( ) Legislação destinada a assegurar e a promover, em condições de


igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais
por pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e
cidadania.
( ) Promove a inclusão e a igualdade de oportunidades e uma série
de iniciativas nos campos da educação, da cultura, do esporte,
do lazer, da justiça, da saúde, do trabalho, da moradia, do acesso
a terra, da segurança e da comunicação nas relações étnico-
raciais.
( ) Mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar
contra a mulher.
( ) Legislação destinada a regular os direitos assegurados às
pessoas com idade igual ou superior a 60 anos.

69
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

a) II - III - IV - I.
b) I - II - IV - III.
c) IV - III - I - II.
d) III - II - IV - I.

3 DIVERSIDADE, MINORIAS E
MUNDO DO TRABALHO
Conforme a pesquisa de Rayhanna Oliveira (2019, p. 9), “as desigualdades
são inerentes ao processo de formação histórica, cultural, social e econômica do
Brasil. Um dos grandes espaços por onde essas discrepâncias se reproduzem e
se manifestam é o mercado de trabalho”. Ainda, de acordo com a autora:

Sua formação insere-se no contexto de acumulação primitiva


do capital, ainda nos séculos XVI e XVII, fruto da colonização
implementada na América Latina. Esse processo sucedeu
a partir da distribuição populacional, segundo conceitos
racializantes e de distinção de gênero, os quais realocavam
subjetividades em nichos de trabalho escravocratas, servis,
subalternos e opressores. Essa estrutura mercadológica
do rearranjo da força de trabalho como projeto colonial
capitalista, segundo as categorias “raça” e gênero, é fruto do
padrão histórico de poder, ou seja, do sistema de controle e
dominação, fundado a partir da subvalorização de indivíduos,
principalmente, da mulher negra (OLIVEIRA, 2019, p. 9).

Em um artigo publicado no Conselho Regional de Economia de Minas Gerais


(CORECON/MG), Teixeira et al. (2020, s.p.) afirma que:

[...] a desigualdade de gênero encontra-se presente na


estrutura social, tendo se perpetuado através de uma
construção patriarcal [...]. Ao gênero, somam-se ainda as
diferenças de classe, raça, orientação sexual, entre outros
fatores identitários, que resultam em práticas discriminatórias
concomitantes.

Pode-se perceber que no mundo do trabalho as divisões das atividades


seguiram de “uma lógica sexista, que associava as mulheres à esfera doméstica e
delegava aos homens as funções relacionadas ao trabalho fora e à interação com
outros indivíduos” (OLIVEIRA, 2019, p. 10).

De acordo com Teixeira et al. (2020, s.p.):

70
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

[...] a herança de uma sociedade construída com base em


diversas formas de discriminação, sempre associadas ao
gênero, é o que resulta, até hoje, em condições desiguais
de trabalho para as mulheres e, consequentemente, da
participação econômica [...].

Em sua investigação, Gabriela Oliveira (2019, p. 9) identifica que:

Mulheres recebem menos que homens para exercerem os


mesmos cargos; mulheres são preteridas pelos empregadores
dadas as possibilidades de afastamento por gravidez ou para
cuidar dos filhos; mulheres pobres ou mães solo têm jornada
dupla […], mulheres negras são afastadas dos estudos desde
cedo e relegadas a funções relativas ao cuidado, como na
cozinha ou limpeza.

Considerando os aspectos tradicionais, pode-se verificar que:

Os baixos salários recebidos pelas mulheres têm explicação


nas interpretações históricas, pois os ganhos recebidos
pelos homens seriam calculados de modo a garantir a sua
sobrevivência e a reprodução da família, e os salários das
mulheres seriam definidos como ganhos adicionais ao salário
do homem, que seria satisfatório para o seu próprio sustento
e o da família (TEIXEIRA et al., 2020 apud SILVA et al., 2014,
p. 4).

A partir da década de 1970, no Brasil, os movimentos feministas se


intensificaram, aliando-se com outros movimentos sociais nacionais e
internacionais, continuando a sua luta por igualdade de direitos e melhores
condições de trabalho (TEIXEIRA et al., 2020). Pode-se afirmar, conforme mostram
pesquisadoras da Fundação João Pinheiro (FJP), citadas por Teixeira et al. (2020,
s.p.), que “hoje, as mulheres já estão presentes nos mais diversos setores de
atividades, com altas taxas de emprego formal e informal, embora ainda não
totalmente equânimes, o que seria de suma importância para sua emancipação
econômica e social”. Dessa forma, “a população economicamente ativa feminina
observou incrementos consideráveis no Brasil. Sua taxa de atividade aumentou
de 47% para 53% entre 1993 e 2005 (BRUSCHINI, 2007 apud TEIXEIRA et al.,
2020, s.p.)”.

Essa evolução da presença das mulheres no mercado de trabalho pode ser


comprovada segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua) divulgada trimestralmente pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2013, 2017, 2019, 2020), conforme quadro a
seguir:

71
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

QUADRO 6 - MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO (PNAD, IBGE)

Evolução das Mulheres no Mercado de Trabalho

No segundo semestre de 2013, a taxa de ocupação das mulheres brasileiras era de 42,4%, dado
inferior embora não tão discrepante da taxa de ocupação masculina (57,6%). Na região Sudeste,
a aproximação era ainda maior: 43,6% da força de trabalho era representada pelas mulheres, e os
outros 56,4%, pelos homens. Ao compararmos estes dados com os de pesquisas mais atuais, veri-
ficamos que, pouco a pouco, as taxas vão se equiparando e chegando mais perto de um equilíbrio.

No último trimestre de 2019, as mulheres já representavam 43,9% da população brasileira empre-


gada, enquanto em relação ao Sudeste, ocupavam 45% do mercado de trabalho.
É importante, porém, ressaltar que o número de mulheres em idade de trabalhar (com 14 anos
ou mais) sempre foi maior em todo esse período: em 2013, elas representavam 52,3% da popu-
lação em uma perspectiva nacional, e em 2019, 52,4%. Por esse motivo, para que haja uma real
equiparação da presença de homens e mulheres no mercado, é preciso que isso ocorra de forma
proporcional, ou seja, com mais mulheres do que homens trabalhando. Tendo por base o cresci-
mento desses indicadores ao longo dos últimos seis anos, é esperada uma equiparação em breve,
já que a população feminina empregada vem crescendo, sobretudo no Sudeste e no Sul, mesmo
que o nível da ocupação em relação à desocupação tenha caído de 57,1% para 54,8% no Brasil e
de 56,4% para 53,3% no Sudeste, entre 2013 e 2019.

Do ponto de vista interseccional, por sua vez, percebe-se que o grau de instrução, a idade e a
região de residência afetam, de forma ainda mais destacada que os gêneros, na taxa de emprego
e desemprego do país: em 2019, a PNAD Contínua apontou taxa de ocupação de apenas 41,8%
para pessoas com ensino fundamental incompleto, enquanto das pessoas com ensino superior
completo, 76,4% estavam empregadas. O mercado dá ainda prioridade a adultos entre 25 a 39
anos, enquanto torna-se cada vez menos acessível aos residentes da região Nordeste, que con-
centra 55% da população em pobreza extrema de todo o Brasil, segundo dados da PNAD Contí-
nua de 2017.

Somente em março de 2018, o IBGE divulgou a primeira pesquisa sobre Estatísticas de gê-
nero – Indicadores sociais das mulheres no Brasil –, em alusão ao Dia Internacional da
Mulher (8 de março). Nela, ficou registrado que as mulheres estão na frente dos homens quando
se diz respeito à escolaridade: 39,4% da população feminina com mais de 25 anos de idade têm
ensino superior completo, enquanto a população masculina apresenta 27,7% de graduados. Com
isso, e levando em conta que a população com ensino superior é a mais empregada do país, era
de se esperar também uma maior taxa de emprego das mulheres, que ainda não ocorreu. Além do
mais, mesmo com uma porcentagem maior de nível superior, elas ganhavam um salário médio de
R$ 1.764,00 em 2016, enquanto os homens ganhavam cerca de R$ 2.306,00, ocupando 21,8% a
mais dos cargos de liderança e gestão.
FONTE: <https://corecon-mg.org.br/desigualdade-genero-
mulheres-mercado-trabalho/>. Acesso em: 15 out. 2020.

72
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Na pesquisa de Teixeira et al. (2020, s.p.), conforme os dados do Observatório


das Desigualdades Sociais (ODS), percebe-se que:

[...] escolaridade, salário, cor e raça também influenciam para


além do gênero: dos 39,4% da população feminina com ensino
superior completo, apenas 10% são pretas, e dos 27,7%
de homens graduados, apenas 7% são negros. Segundo
dados do Observatório das Desigualdades Sociais (ODS),
conformado a partir de uma frutífera parceria entre a FJP e o
Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-
MG), o salário médio de um homem branco chega a ser 140%
maior que o de uma mulher preta ou parda, dado que chega a
38,2% na comparação com o salário de uma mulher branca. A
prova de que a raça pode ter mais peso que o próprio gênero é
que o salário da mulher branca, mesmo inferior ao do homem
branco, ainda é cerca de R$ 600, em média, maior que o do
homem negro. De mulher branca para mulher negra, o salário
chega a variar 74,2%.

Essa mesma relação de desigualdade no mercado de trabalho, por questão


de gênero, entre homens e mulheres, é agravada também com relação à raça e
etnias, de acordo com a pesquisa de Oliveira (2019). Em sua investigação:

[...] verifica-se que a estrutura do mercado de trabalho


brasileiro é marcada pelos processos de subalternização de
trabalhadoras negras. A análise indica que no setor formal
homens brancos recebem, em média, 2,02 vezes a mais
do que mulheres negras; mulheres brancas têm salários
que diferem superiormente em 1,15 ponto percentual em
comparação aos homens negros. O que reforça a existência
da hierarquia econômica laboral em que a mulher negra
permanece estratificada em uma posição de subalternidade.
No setor informal, homens brancos receberam 1,89 vezes mais
do que as mulheres negras. Tal variação diminui em referência
às mulheres brancas (OLIVEIRA, 2019, p. 118).

Na conclusão do estudo de Oliveira (2019, p. 121), destaca-se que:

Raça e gênero constituem e reafirmam que características


individuais atuam como identificadores de sujeitos na sociedade
brasileira. Assim, representam a construção do Estado por um
pequeno grupo dominante, o qual é patriarcal e racista.’

73
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Filmes sobre desigualdade no mundo do trabalho:

- Erin Brockovich: uma mulher de talento

FIGURA 6 - UMA MULHER DE TALENTO (2000)

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-23980/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: Erin (Julia Roberts) é a mãe de três filhos que


trabalha num pequeno escritório de advocacia. Quando descobre
que a água de uma cidade no deserto está sendo contaminada e
espalhando doenças entre seus habitantes, convence seu chefe a
deixá-la investigar o assunto. A partir de então, utilizando-se de todas
as suas qualidades naturais, desde a fala macia e convincente até
seus atributos físicos, consegue convencer os cidadãos da cidade a
cooperarem com ela, fazendo com que tenha em mãos um processo
de 333 milhões de dólares.

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-23980/>.
Acesso em: 15 out. 2021.

- Que Horas Ela Volta?

74
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

FIGURA 7 - QUE HORAS ELA VOLTA? (2015)

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-231230/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse:
A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo
a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com
muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser
babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões.
Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar
vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para
ir a São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de
Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa
de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a
situação se complica.

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-231230/>.
Acesso em: 15 out. 2021.

Livros sobre desigualdade no mundo do trabalho:

- Desigualdade de gênero no mundo do trabalho, de Reginaldo


Guiraldelli.

- As novas fronteiras da desigualdade: homens e mulheres no


mercado de trabalho, de Helena Hirata e Margaret Maruani.

75
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

2 As desigualdades no Brasil são inerentes ao processo de formação


histórica, cultural, social e econômica do Brasil. Um dos grandes
espaços por onde essas discrepâncias se reproduzem e se
manifestam é o mercado de trabalho. Sua formação insere-se no
contexto de acumulação primitiva do capital, ainda nos séculos
XVI e XVII, fruto da colonização implementada na América Latina.
Esse processo sucedeu a partir da distribuição populacional,
segundo conceitos racializantes e de distinção de gênero,
os quais realocavam subjetividades em nichos de trabalho
escravocratas, servis, subalternos e opressores. Essa estrutura
mercadológica do rearranjo da força de trabalho como projeto
colonial capitalista, segundo as categorias raça e gênero, é fruto
do padrão histórico de poder, ou seja, do sistema de controle
e dominação, fundado a partir da subvalorização de indivíduos
(OLIVEIRA, 2019). Segundo a temática abordada nesta seção,
no mercado de trabalho do Brasil, quem são os indivíduos com
menores salários historicamente?

a) Mulheres negras.
b) Homens negros.
c) Mulheres brancas.
d) Homens brancos.

4 CENÁRIO ATUAL: A INCLUSÃO


DE MINORIAS NA SOCIEDADE, NO
BRASIL E NO MUNDO
No contexto atual, em nível mundial, a partir 2015, a Organização das Nações
Unidas (ONU) apresentou uma proposta para que os seus 193 países membros
assinassem a Agenda 2030, um plano global composto por 17 objetivos (ODSs)
e 169 metas para que esses países alcancem o desenvolvimento sustentável em
todos os âmbitos até 2030 (PLAN, 2021; MDS, 2021, p. 5).

O desenvolvimento sustentável diz respeito aos problemas enfrentados pelas


gerações atuais, pensando já em possíveis soluções para as gerações futuras,
tanto nos aspectos ambientais quanto sociais e econômicos. Com relação ao tema

76
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

da diversidade e inclusão social, destacam-se os objetivos: 01) erradicação da


pobreza - acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;
04) educação de qualidade - assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de
qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para
todos; 05) igualdade de gênero - alcançar a igualdade de gênero e empoderar
todas as mulheres e meninas; 08) trabalho decente e crescimento econômico -
promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego
pleno e produtivo e trabalho decente para todos; 10) redução das desigualdades
- reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.

FIGURA 8 – AGENDA 2030

FONTE: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/>. Acesso em: 26 nov. 2021.

QUADRO 7 - 17 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

1. Erradicação da pobreza: acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os


lugares.

2. Fome zero e agricultura sustentável: acabar com a fome, alcançar a segurança ali-
mentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.

3. Saúde e bem-estar: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em
todas as idades.

4. Educação de qualidade: assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e


promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.

5. Igualdade de gênero: alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e


meninas.

77
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

6. Água limpa e saneamento: garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e


saneamento para todos.

7. Energia limpa e acessível: garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e


renovável para todos.

8. Trabalho decente e crescimento econômico: promover o crescimento econômico


sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para todos.

9. Inovação infraestrutura: construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização


inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.

10. Redução das desigualdades: reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.

11. Cidades e comunidades sustentáveis: tornar as cidades e os assentamentos huma-


nos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.

12. Consumo e produção responsáveis: assegurar padrões de produção e de consumo


sustentáveis.

13. Ação contra a mudança global do clima: tomar medidas urgentes para combater a
mudança climática e seus impactos.

14. Vida na água: conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos
marinhos para o desenvolvimento sustentável.

15. Vida terrestre: proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terres-
tres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degrada-
ção da Terra e deter a perda da biodiversidade.

16. Paz, justiça e instituições eficazes: promover sociedades pacíficas e inclusivas par
ao desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições
eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

17. Parcerias e meios de implementação: fortalecer os meios de implementação e revi-


talizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
FONTE: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs/>. Acesso em: 26 nov. 2021.

78
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

Dessa forma, podemos concluir que o desafio da inclusão social, redução das
desigualdades e combate a todas as formas de discriminação de raça, gênero,
sexo, idade e classe social é um desafio nacional e mundial para a nossa geração
e para as próximas.

Assista ao vídeo a seguir intitulado: O que é a Agenda 2030?:


https://www.youtube.com/watch?v=j8L1CcanjT8.

3 A Organização das Nações Unidas (ONU) propôs que os seus


193 países membros assinassem a Agenda 2030, um plano
global composto por 17 objetivos (ODSs) e 169 metas para que
esses países alcancem o desenvolvimento sustentável em todos
os âmbitos até 2030. O desenvolvimento sustentável é aquele
que consegue atender às necessidades da geração atual sem
comprometer a existência das gerações futuras. Sobre o objetivo
de cada meta, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Erradicação da pobreza.
II- Educação de qualidade.
III- Igualdade de gênero.
IV- Redução das desigualdades.

( ) Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, bem


como promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida
para todos.
( ) Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres
e meninas.
( ) Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.
( ) Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os
lugares.

a) I - II - IV - III.
b) II - III - IV - I.
c) IV - II - I - III.
d) III - II - IV - I.

79
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, estudamos que a inclusão social decorre principalmente da
busca que todas as pessoas fazem para garantir sua efetiva participação na vida
pública, tentando garantir seus direitos individuais, sociais e coletivos. Segmentos
que, antigamente, estavam à margem da sociedade, sendo excluídos e
discriminados, agora tentam a ampliação de seus direitos e, consequentemente, a
sua inclusão social. Estas ações são resultados das práticas de fortalecimento da
cidadania - e reconhecimento de direitos – que acompanham a tendência histórica
de ampliação dos espaços de representação política abertos pela pressão das
lutas sociais.

Trilhamos os caminhos teóricos que descrevem a trajetória histórica e


conceitual sobre a inclusão social, bem como as teorias dos direitos coletivos e
sociais que disciplinam os códigos normativos atuais, desvelando o percurso da
Era dos Deveres para a Era dos Direitos. Percebemos o porquê que a inclusão
tem se constituído em um imperativo do nosso tempo, tornando-se, assim, um
princípio regulador que incide em nossas vidas, pautando nossas maneiras de
nos conduzirmos e de conduzirmos uns aos outros.

O tema da diversidade e inclusão social espraia-se por todos os espaços


públicos, impondo uma reflexão sobre as desigualdades e discriminação de
gênero, orientação sexual, idade, raça e etnia, deficiência, renda e classe social.
Conforme o estudado neste capítulo, as desigualdades são aprofundadas também
em função da escolaridade e no mundo trabalho. Por fim, percebe-se que o tema
da diversidade e inclusão social é um tema mundial e um desafio para a geração
atual e gerações futuras.

REFERÊNCIAS
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meninos e meninas. Disponível em: https://educacaointegral.org.br/reportagens/
igualdade-de-genero-pressupoe-uma-sociedade-justa-para-meninos-e-meninas/.
Acesso em: 15 out. 2021.

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80
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/
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Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida
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BOBBIO. N. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

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CASTELLS, M. O fim do patriarcalismo: movimentos sociais, família e


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CLAM. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em


Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Rio de Janeiro: CEPESC,
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81
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

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Acesso em: 15 out. 2021.

MDS. Transformando nosso mundo: a agenda 2030 para o desenvolvimento


sustentável. 2016. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/
publicacao/Brasil_Amigo_Pesso_Idosa/Agenda2030.pdf. Acesso: 15 out. 2021.

MIGUEL, L. F. Da “doutrinação marxista” à “ideologia de gênero”: escola sem


partido e as leis da mordaça no parlamento brasileiro. Revista Direito e Práxis,
v. 7, n. 15, 2016.

NEVES, M. A. Anotações sobre trabalho e gênero. Cad. Pesqui., v. 43, n. 149, p.


404-421, 2013.

OLIVEIRA, A. M. de F. Acessibilidade: comparação das leis dos países do


MERCOSUL. 2008. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/a-camara/
documentos-e-pesquisa/estudos-e-notas-tecnicas/areas-da-conle/tema14/2007-
9254.pdf. Acesso em: 17 abr. 2018.

82
Capítulo 2 DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

OLIVEIRA, G. C. Ativismo feminista digital: análise das estratégias discursivas


da hashtag #PrimeiroAssédio.2019. TCC (Graduação) – Curso de Comunicação
Social, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

OLIVEIRA, R. F. de S. O lugar do feminino negro no mercado de trabalho


sob a perspectiva decolonial: para além do salário e da remuneração. 2019.
Dissertação (Mestrado em Direito) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte.

OLVEIRA, A.; BRUSCINI, C. Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos
Tempos, 1992. p. 183-215. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2004.

PEREIRA, M. F. M. W. M.; HANASHIRO, D. M. M. Etarismo em seleção: a dura


realidade para quem tem mais de 45 anos no Brasil. Rio de Janeiro: ANPAD,
2014.

PERISSÉ, C.; LOSCHI, M. Trabalho “de mulher”. Retratos: a revista do IBGE, p.


19-24, jul./ago. 2019.

PIMENTA, T. LGTBQIA o que significa sigla e movimento. Disponível em:


https://www.vittude.com/blog/lgtbqia-o-que-significa-sigla-e-movimento/. Acesso
em: 15 out. 2021.

PLAN. Conheça os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável. Disponível


em: https://plan.org.br/conheca-os-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel/.
Acesso: 15 out. 2021.

RIANI, J. de L. R. et al. Desigualdades de gênero no mercado de trabalho


de Minas Gerais e suas regiões de planejamento. Belo Horizonte: UFMG/
Cedeplar, 2014.

SILVA, J. de S. F. et al. Relações de gênero no mundo do trabalho: um estudo


com mulheres feirantes no interior da Bahia. Rio de Janeiro: ANPAD, 2014.

SAFFIOTI, B. Rearticulando gênero e classe social. In: OLVEIRA, A.; BRUSCINI,


C. (Orgs.). Uma questão de gênero. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992. p.
183-215.

SANTIAGO, V. Igualdade de gênero pressupõe uma sociedade justa para


meninos e meninas. Disponível em: https://educacaointegral.org.br/reportagens/
igualdade-de-genero-pressupoe-uma-sociedade-justa-para-meninos-e-meninas/.
Acesso em: 15 out. 2021.

83
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

SANTOS, L. P. dos; PEQUENO, R. Novas tecnologias e pessoas com


deficiências. Campina Grande: Scielo Books, 2011.

SINAPIR. Guia de Orientação para a Criação e Implementação de Órgãos,


Conselhos e Planos de Promoção da Igualdade Racial. Disponível em: https://
www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/igualdade-etnico-racial/acoes-e-
programas/sinapir/GuiadeOrientao2021.pdf. Acesso em: 15 out. 2021.

TEIXEIRA, T. C. et al. Gênero e outras desigualdades: mercado de trabalho,


influências e perspectivas. 2020. Disponível em: https://corecon-mg.org.br/
desigualdade-genero-mulheres-mercado-trabalho/. Acesso: 15 Out 2021.

VASCONCELOS, F. D. Ironias da desigualdade: políticas e práticas de inclusão


de pessoas com deficiência física. 2005. Tese (Doutorado) – Curso de Saúde
Coletiva, Universidade Federal da Bahia, Salvador.

84
C APÍTULO 3
AS ORGANIZAÇÕES E A
RESPONSABILIDADE SOCIAL

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes


objetivos de aprendizagem:

• Compreender os principais conceitos de responsabilidade social.


• Analisar o desenvolvimento dos mecanismos e processos que estimulam a
prática da responsabilidade social dentro das instituições.
• Pesquisar os impactos da diversidade e inclusão dentro das organizações.
• Verificar as práticas de implementação de políticas de diversidade e inclusão
nas organizações.
• Identificar os principais conceitos de responsabilidade social.
• Entender o desenvolvimento dos mecanismos e processos que estimulam a
prática da responsabilidade social dentro das instituições.
• Compreender a estrutura necessária para execução de atividades éticas
institucionais.
• Avaliar indicadores de gestão da inclusão e diversidade dentro das
organizações.
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

86
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
A temática da diversidade e inclusão social deixou de ser, nas últimas
décadas, apenas uma pauta de reinvindicações de movimentos sociais e se
tornou também um tema importante para o mercado econômico de organizações
empresariais, impondo novas políticas internas de gestão de recursos humanos.
De acordo com Saraiva e Irigaray (2009, p. 338), “aspectos como gênero, etnia,
orientação sexual, idade, crença religiosa ou limitações físicas, por exemplo,
assinalam a heterogeneidade, demandando práticas que harmonizem lucro e
justiça social”.

Da mesma forma, juntamente às questões da diversidade e inclusão social,


uma das novidades introduzidas no ambiente de trabalho nas últimas décadas
também será a ética e a Responsabilidade Social nas Empresas (RSE). Zelar
pelas boas relações com a coletividade, clientes e fornecedores é, atualmente,
uma questão de estratégia de sobrevivência dos negócios e de bom senso. A ética
nas relações econômicas sempre tem implicações importantíssimas na nossa
vida diária, especialmente, pelo impacto social e ambiental. A ética econômica e
a responsabilidade social das empresas tratam das relações entre empregadores
e empregados, entre pessoas de negócios, entre as classes produtivas e os
consumidores, ou seja, em todos os aspectos das relações humanas na sociedade
(ALMEIDA, 2010). Essa é a temática que estudaremos a seguir.

2 O QUE É RESPONSABILIDADE
SOCIAL?
Historicamente, as organizações dentro do sistema capitalista estão
impregnadas com a visão da obtenção de lucro desvinculadas das questões
sociais. Essa visão possui suas bases teóricas no pensamento do filósofo e
economista de Adam Smith (1723-1790), um dos mais importantes pensadores de
toda a história do pensamento ocidental.

87
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

FIGURA 1 – ADAM SMITH

FONTE: <https://www.escritas.org/pt/estante/adam-smith>. Acesso em: 15 out. 2021.

Com o seu livro A riqueza das nações (1776), obra tese do pensamento
clássico, ele construiu uma filosofia social que fundamentou o Liberalismo do
século XVIII, que até hoje, apesar das críticas, possui enorme influência no
modelo econômico de nossa sociedade.

FIGURA 2 – A RIQUEZA DAS NAÇÕES

FONTE: <https://gulbenkian.pt/publication/riqueza-das-
nacoes-i/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Nesta obra, Adam Smith estabeleceu princípios para a análise do valor, da


divisão do trabalho, dos lucros, dos juros, das rendas da terra, e desenvolveu
teorias sobre a distribuição, o crescimento econômico, a interferência do Estado, a
formação e a aplicação do capital. Adam Smith não se preocupou em proporcionar
ao seu país, Inglaterra, maior poder militar e nem em manter a nobreza, como

88
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

pensavam os mercantilistas. Sua preocupação foi com a elevação do nível de


vida de toda a população (SMITH, 2010).

Nesse sentido, defendia o individualismo e propunha o Liberalismo econômico


como modelo. Assim, se opôs às ideias dos mercantilistas, considerando que a
riqueza e o poder das nações não deveriam limitar-se aos estoques de metais
preciosos. Esse pensamento ressaltou a liberdade individual em todos os sentidos:
liberdade de empresa, de comércio e o direito à propriedade privada. Defendeu,
também, a livre concorrência, ou seja, propunha que o Estado não deveria intervir
na economia, sendo que seu papel se restringiria a garantir essa livre concorrência
para a propriedade privada, criando as condições materiais para isso ocorrer, por
exemplo, através da construção de portos e estradas (SMITH, 2010).

FIGURA 3 – LIBERALISMO ECONÔMICO - ADAM SMITH

FONTE: <https://macacogeografico.files.wordpress.com/2015/07/
etapas-capitalismo-fundo-branco.png>. Acesso em: 15 out. 2021.

A livre concorrência defendida por essa corrente do pensamento econômico


garante aos capitalistas a liberdade de produzirem o que quiserem, assim como
lhes assegura o arbítrio sobre a forma de distribuir e consumir o produto final,
mesmo que o produto final possa ser inútil. Na verdade, os produtores criam as
necessidades e, dessa maneira, vão ampliando seus lucros. No entanto, nessa
teia de interesses individuais, como o mercado consegue garantir a ordem
social? Para responder a essa questão, Adam Smith construiu a metáfora da
“mão invisível”. De acordo com essa metáfora, a economia se autorregularia. O
capitalista, mesmo buscando seus interesses particulares, em última instância, e
sem querer, acabaria assegurando o interesse social. A “mão invisível”, portanto,

89
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

é a livre concorrência acontecendo. Mesmo quando surgem crises, o mercado se


corrige através do movimento de oferta e procura (SMITH, 2010).

FIGURA 4 – A MÃO INVISÍVEL - ADAM SMITH

FONTE: <https://bityli.com/znqamf>. Acesso em: 15 out. 2021.

Essa visão da “mão invisível” foi questionada, pois a liberdade tão defendida
por essa escola só era facultada aos proprietários das fábricas e das máquinas.
Por essa razão, no século XIX, surgiram reações às escolas liberais, marcadas
principalmente pela escola socialista e outras correntes teóricas. Esse modelo
de gestão corporativa baseada somente na obtenção de resultados econômicos
é um modelo que entrou em decadência. Atualmente, uma das críticas a este
modelo liberal, vigente até hoje, vem do economista Amartya Sen, Prêmio Nobel
de Economia de 1998.

FIGURA 5 – AMARTYA SEN

FONTE: <https://www.fronteiras.com/conferencistas/
amartya-sen>. Acesso em: 15 out. 2021.

90
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

No seu livro Sobre Ética e Economia, Amartya Sen faz uma crítica à visão
utilitarista do sistema capitalista afirmando que, “recentemente, vários filósofos
morais ressaltaram [...] a importância intrínseca de muitas considerações
que a escola ética dominante do pensamento utilitarista julga terem um valor
instrumental” (SEN, 2002, p. 26).

FIGURA 6 – AMARTYA SEN - SOBRE ÉTICA E ECONOMIA

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Sobre-%C3%89tica-Economia-
Amartya-Sen/dp/9724048845>. Acesso em: 15 out. 2021.

Amartya Sen ajudou a desenvolver o Índice de Desenvolvimento Humano


(IDH), utilizado pela Organização das Nações Unidas (ONU/PNDU) para medir
não somente o desenvolvimento econômico de um país ou região, mas também
levando em conta, além da renda, a educação e a saúde.

FIGURA 7 – IDH 2019

FONTE: <https://www.tudogeo.com.br/2020/12/15/mapa-
do-idh-2019/>. Acesso em: 15 out. 2021.

91
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Com estas preocupações, para que além do desenvolvimento econômico


também ocorra o desenvolvimento social e ambiental, cada vez mais a classe
empresarial foi tomando consciência da responsabilidade social corporativa. A
partir destas críticas e com uma sociedade civil mais organizada, ativa e vigilante,
diversas organizações vinculadas ao mercado econômico criaram dentro do
sistema de normas o Certificado SA 8000, norma internacional que estabelece
padrões de responsabilidade social para as empresas.

FIGURA 8 – CERTIFICADO SA 8000

FONTE: <https://www.indiamart.com/proddetail/sa-8000-social-accountability-
certifications-7006584430.html>. Acesso em: 15 out. 2021.

QUADRO 1 – NORMA SA 8000


Criada pela Social Accountability International em 1997, a norma possui uma estrutura que
auxilia organizações certificadas a demonstrar seu foco e dedicação no tratamento responsável de
seus colaboradores. Dentre as atribuições da SA 8000 está a medição do desempenho em nove
diferentes áreas, direta ou indiretamente ligada à Responsabilidade Social:

1. Trabalho Infantil.
2. Trabalho Forçado ou Compulsório.
3. Saúde e Segurança.
4. Liberdade de Associação e Direito à Negociação Coletiva.
5. Discriminação.
6. Práticas Disciplinares.
7. Horas de Trabalho.
8. Remuneração.
9. Sistema de Gestão.

Por conta de seu rigor na abordagem e avaliação, a norma é utilizada por grandes empresas como
uma forma de garantir maior qualidade e conformidade em seus processos.
FONTE: <https://impactosocial.esolidar.com/2020/01/30/isos-e-normas-
de-responsabilidade-social/>. Acesso em: 15 out. 2021.

92
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

As bases para a norma SA 8000 foram as normas ISO 9000 e 14000, já


existentes na maioria das empresas. Futuramente, ela mesma deve se tornar uma
norma internacional, como as demais normas ISO e as normas da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), na Declaração Universal dos Direitos Humanos e
na Declaração Universal dos Direitos da Criança da ONU.

FIGURA 9 – ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

FONTE: <https://www.ilo.org/brasilia/conheca-a-oit/lang-
-pt/index.htm>. Acesso em: 15 out. 2021.

No Brasil, somente após o fim da chamada Primeira República (conhecida


como República Velha: 1889-1930) e com a Era Vargas (Getúlio Vargas), que
compreende o período de 1930 a 1945, que se instaurou um novo ciclo de direitos
sociais (CHAUÍ, 2005).

FIGURA 10 – GETÚLIO VARGAS

FONTE: <http://dibrarq.arquivonacional.gov.br/index.php/
getulio-vargas>. Acesso em: 15 out. 2021.

93
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Getúlio Vargas foi o responsável pelos seguintes fatores importantes para os


direitos sociais, principalmente relacionados aos trabalhadores urbanos no Brasil:

• A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.


• A instituição da carteira de trabalho, que passou a ser o principal
documento de identificação do trabalhador.
• A implementação da jornada de oito horas.
• A definição do salário-mínimo.
• O estabelecimento do repouso semanal remunerado.
• A publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

FIGURA 11 – CARTEIRA DE TRABALHO

FONTE: <https://www.pdt.org.br/index.php/1o-de-maio-
getulio-vargas-vive/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Os resultados da Era Vargas, no período de 1930 a 1945, foram um


espetacular crescimento industrial, havendo a consolidação de uma série de
garantias aos trabalhadores urbanos. Com isso, se consolidaram no Brasil os
direitos de segunda geração (direitos sociais). Posteriormente, a Constituição de
1988 consolidará outras gerações de direitos (CHAUÍ, 2005).

Seus requisitos são baseados nas normas internacionais de direitos humanos


e nas convenções da OIT.

• OIT - Convenção 29 e 105 (Trabalho Forçado).


• OIT - Convenção 87 (Liberdade de Associação).
• OIT - Convenção 98 (Direito à Negociação Coletiva).
• OIT - Convenções 100 e 111 (Remuneração igualitária para homens e
mulheres com trabalhos de igual valor; discriminação).
• OIT - Convenção 135 (Representação dos Trabalhadores).

94
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

• OIT - Convenção 138 e Recomendação 146 (Idade mínima e


Recomendação).
• OIT - Convenção 155 e Recomendação 164 (Saúde e Segurança
Ocupacional).
• OIT - Convenção 159 (Reabilitação Vocacional e Emprego/Pessoas
Portadoras de Deficiência).
• OIT - Convenção 177 (Trabalhos Domésticos).
• Declaração Universal dos Direitos Humanos.
• Convenção das Nações Unidas dos Direitos da Criança.

FIGURA 12 – CONVENÇÕES DA OIT

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Conven%C3%A7%C3%B5es-Edson-
Beas-Rodrigues-Junior/dp/8530100182>. Acesso em: 15 out. 2021.

Segundo Oliveira (2002, p. 5):

O conceito de responsabilidade social é amplo, referindo-


se à ética como princípio balizador das ações e relações
com todos os públicos com os quais a empresa interage:
acionistas, funcionários, consumidores, rede de fornecedores,
meio ambiente, governo, mercado, comunidade. A questão da
responsabilidade social vai, portanto, além da postura legal da
empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade.
Significa mudança de atitude, numa perspectiva de gestão
empresarial com foco na qualidade das relações e na geração
de valor para todos.

Hoje, a SA 8000 já possui concorrência. Em 1999, foi criada a AA 1000,


norma de contabilidade e auditoria baseada em princípios éticos e sociais.

95
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

QUADRO 2 – NORMA AA 1000


Esta é uma certificação de cunho social, cujo foco principal é a relação da empresa com seus
fornecedores. É uma avaliação regular, que acontece anualmente, e, por isso, possui caráter evo-
lutivo (a continuidade dos processos uma vez iniciados é observada a cada auditoria). A norma
fornece diretrizes que ajudam as organizações a estruturarem a forma como compreendem, ge-
rem, avaliam e comunicam os impactos relacionados às políticas internas e externas, estratégias,
produtos e ações para os públicos de interesse. A norma AA 1000 é baseada em três pilares:
inclusão, relevância e capacidade de resposta.
FONTE: <https://impactosocial.esolidar.com/2020/01/30/isos-e-normas-
de-responsabilidade-social/>. Acesso em: 15 out. 2021.

De acordo com as normas citadas, a seguir estão alguns exemplos de regras


a serem seguidas pelas empresas:

• Não contratar mão de obra infantil.


• Salários equivalentes entre homens e mulheres.
• Garantia à segurança, à saúde e à integridade física e psicológica dos
funcionários.

As empresas estão inseridas na sociedade com importância não apenas com


uma realidade econômica, com várias dimensões, tais como:

• Dimensão pessoal: a empresa não se compõe de coisas ou animais,


mas de seres humanos, pessoas que querem e devem ser vistas como
tais.
• Dimensão social: o homem só existe em sociedade, sendo impossível a
absoluta separação entre sua realidade pessoal e realidade social.
• Dimensão política: a impossibilidade de isolamento entre o interesse
público e o particular exige a permanente participação de um poder
maior na difícil tarefa de conciliar um e outro.
• Dimensão econômica: a função específica que legitima sua existência e
atuação no seio da sociedade é de natureza econômica.

Com estas dimensões, reconhecemos que a empresa é composta de seres


humanos integrados numa entidade maior, a sociedade. Além disso, tanto os
objetivos pessoais de seus membros quanto os objetivos maiores da coletividade
vão além dos objetivos particulares das empresas, que jamais podem sobrepor
estes àqueles. Exatamente por ser uma realidade pluridimensional, compostas de
diversos constituintes é que a empresa tem responsabilidade que transcende o
modelo tradicional.

96
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Responsabilidade social se refere às empresas que reconhecem que são


responsáveis não apenas perante seus acionistas, mas perante toda a sociedade.
Sendo assim, a ideia de responsabilidade social supõe que a corporação tenha não
apenas obrigações legais e econômicas, mas também certas responsabilidades
para com a sociedade, as quais se estendem além daquelas obrigações.

Basicamente, podemos apresentar os dez mandamentos que uma empresa


ética com responsabilidade social deveria seguir:

I – Não divulgar propaganda enganosa.


II – Não fazer espionagem industrial.
III – Não praticar assédio sexual.
IV – Não praticar o apadrinhamento.
V – Tratar os funcionários com respeito.
VI – Honrar clientes e fornecedores.
VII – Não subornar.
VIII – Não poluir.
XIX – Não fraudar ou sonegar.
X – Não discriminar: raça, credo, renda, sexo.

É claro que outras regras/normas poderiam ser acrescentadas. O importante


é perceber que a forma como a empresa age socialmente é um fator importante
para seu desenvolvimento e permanência no mercado.

Atualmente se encontra em utilização a norma ISO 26000, voltada


exclusivamente com diretrizes para Responsabilidade Social Empresarial (RSE)
para qualquer tipo de organização; de pequeno, médio ou grande porte, de
setores privados, organizações sociais ou governamentais. No entanto, ela não
possui o propósito de certificação.

QUADRO 3 – ISO 26000


A ISO 26000 que define Responsabilidade Social como sendo o compromisso da organização com
a constante avaliação dos efeitos de suas decisões na sociedade e no meio ambiente. A norma de-
fende que isso deve acontecer sempre por meio de um comportamento ético e transparente, que:

- contribua para o desenvolvimento sustentável;


- leve em consideração as partes interessadas;
- atue em conformidade com a legislação;
- seja consistente com as normas internacionais do segmento;
- esteja integrado à organização como um todo.

97
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Além desta diretriz principal, relacionada ao comportamento da empresa e seu compromisso com
a ética, existem, ainda, sete princípios que devem nortear a gestão de Responsabilidade Social
nas corporações:

- Accountability (responsabilização): capacidade da empresa de se responsabilizar pelas con-


sequências de suas ações e decisões, prestando contas, assumindo seus erros e apresentando
as medidas cabíveis para resolvê-los.

- Transparência: habilidade de conceder informações relevantes às partes interessadas de forma


ágil, acessível e compreensível.

- Comportamento ético: compromisso com atitudes baseadas nos valores da honestidade, equi-
dade e integridade, perante as pessoas e a natureza – e de forma consistente com as normas
internacionais de comportamento.

- Respeito pelos interesses dos stakeholders: capacidade de ouvir, considerar e responder aos
interesses das pessoas ou grupos ligados direta ou indiretamente às atividades da organização.

- Respeito pelo Estado de Direito: compromisso com o cumprimento integral das leis do local em
que a empresa está baseada.

- Respeito pelas Normas Internacionais de Comportamento: adoção de prescrições de tratados e


acordos internacionais favoráveis à responsabilidade social, mesmo que não haja obrigação legal.

- Universalidade dos Direito aos Humanos: reconhecimento da importância e da universalidade


dos direitos humanos.

Além dos princípios que guiam as orientações da ISO 26000, existem também os Temas Centrais.
É entendido que as organizações devem atender, por meio de ações específicas, cada um dos sete
temas centrais, analisando, junto aos stakeholders, a importância de cada questão e subtema
proposto na norma, bem como sua relevância no contexto. Os temas centrais são:

- Governança organizacional.
- Direitos humanos.
- Práticas trabalhistas.
- Meio ambiente.
- Práticas leais de operação.
- Questões dos consumidores.
- Envolvimento e desenvolvimento da comunidade.
FONTE: <https://impactosocial.esolidar.com/2020/01/30/isos-e-normas-
de-responsabilidade-social/>. Acesso em: 15 out. 2021.

98
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Através dos muitos pontos de contato entre a ética e a RSE é possível


condicionar a generalidade dos comportamentos empresariais e analisar a forma
como a empresa atinge os seus objetivos, os meios que utiliza e o bem-estar
que proporciona a sua volta, não questionando o objetivo das empresas serem
lucrativas, mas sim a forma como estas atuam na sociedade.

Recomendam-se os vídeos a seguir para aperfeiçoar ainda mais


seus conhecimentos:
O que é Responsabilidade Social da Empresa? -https://www.
youtube.com/watch?v=PT0dT33D7XQ.

Ética e responsabilidade social - https://www.youtube.com/


watch?v=51rKysjQ7as.

Para um aprofundamento dos problemas éticos associados à


gestão nas empresas, recomendamos as seguintes leituras:

ALMEIDA, F. Ética, valores humanos e responsabilidade


social das empresas. Lisboa: Princípia, 2010.

CORTINA, A. et al. Ética de la empresa: claves para unanueva


cultura empresarial. Madrid: Editorial Trotta, 2005.

Costa, M. A. N. Fazer o bem compensa? Uma reflexão sobre


a responsabilidade social empresarial. Revista Crítica de Ciências
Sociais, v. 73, p. 67-89, 2005.

KISSLER, L. Ética e participação. Florianópolis: Edufsc, 2004.

ETHOS. Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores


empresas do Brasil e suas ações afirmativas. São Paulo: Instituto
ETHOS, 2010.

99
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

3 DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS


ORGANIZAÇÕES
Nas últimas décadas, o processo de internacionalização entre as nações,
compreendendo a sociedade e a economia se acentuou de forma exponencial.
O crescimento das atividades econômicas, conforme o fenômeno denominado de
globalização alterou também o clima organizacional das empresas. A globalização,
a internacionalização de mercados, o aumento da concorrência e uma maior
exigência dos clientes, fornecedores e funcionários têm orientado as empresas
a adotarem novos modelos de gestão, bem como serem responsáveis social e
ambientalmente (SICHEROLLI; MEDEIROS; VALADÃO JÚNIOR, 2011, p. 2).

FIGURA 13 – GLOBALIZAÇÃO

FONTE: <https://portal.fgv.br/noticias/transformacoes-processo-
globalizacao-sao-debatidos-encontro>. Acesso em: 15 out. 2021.

Esse movimento de diversidade da força de trabalho dentro das


organizações tem suas origens no período da Primeira Guerra (1914-1917) e
Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e no Pós-Guerra, quando as mulheres
e os negros começaram a adentrar no mundo das organizações. Depois dessa
grande mudança, o mundo das organizações se diversificou cada vez mais em
dimensões como: gênero, raça, nacionalidade, classe social, região cultural,
idade, entre outras (TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2014).

Gary Dessler (2003, p. 48 apud SICHEROLLI; MEDEIROS; VALADÃO


JÚNIOR, 2011, p. 2) afirma que “[...] as metas de igualdade e tratamento justo
que orientam a legislação de oportunidades iguais de emprego estão sendo
ultrapassadas pelas mudanças demográficas e pela globalização do mercado”.

100
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

FIGURA 14 – LIVRO ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Administra%C3%A7%C3%A3o-recursos-
humanos-Gary-Dessler/dp/8587918273>. Acesso em: 15 out. 2021.

Conforme Sicherolli, Medeiros e Valadão Júnior (2011, p. 2):

Segundo Dessler (2003, p. 48), deparamo-nos, atualmente,


com uma mudança no cenário das organizações, pois “os
homens brancos já não dominam mais a força de trabalho,
e as mulheres e as minorias representarão a maior parte do
crescimento da força de trabalho em um futuro previsível”.
Portanto, entende-se que esses fatores, aliados à globalização
de mercados, demandam das empresas funcionários
qualificados para compreenderem o mercado global.

Assim, discussões sobre diversidade e inclusão nas empresas vêm


ganhando mais espaço tanto no âmbito acadêmico e empresarial, como também
nas políticas públicas de inclusão social.

Para verificar a presença da diversidade e inclusão dentro das empresas,


apresentamos os dados de uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira
de Comunicação Empresarial (ABERJE) com 124 empresas – A Diversidade e
Inclusão nas Organizações no Brasil, publicada 2019.

101
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

FIGURA 15 – ABERJE - PESQUISA

FONTE: <http://www.aberje.com.br/mkt_parceiros/2019/pesquisas/
PesquisaAberje-DiversidadeInclusao.pdf>. Acesso em: 15 out. 2021.

Desta pesquisa da ABERJE de 2019 podemos extrair as seguintes


conclusões:

1. A maioria das organizações participantes tem programa de Diversidade e


Inclusão. Destacam-se programas para:
- Pessoas com deficiência (96%).
- Identidade de gênero (83%).
- Cor/etnia (78%).
- Orientação sexual (74%).

2. As principais justificativas das organizações pesquisadas para as


iniciativas relacionadas à diversidade são:
- Melhorar a imagem e reputação organizacional (68%).
- Contribuir para as mudanças estruturais da sociedade (63%).
- Aumentar a eficiência interna (57%).
- Qualificar sua cultura organizacional (54%).
- Desenvolver soluções inovadoras (47%).

3. As principais responsabilidades da área de diversidade e inclusão, dentro


das empresas pesquisadas são:
- Efetivar a comunicação e promoção da diversidade para os públicos
internos (84%).
- Definir estratégias, planos de ação e metas de diversidade (83%).
- Assegurar o compromisso e envolvimento da alta direção (79%).
- Assegurar a inclusão da diversidade nas políticas de RH (79%).
- Promover educação e treinamento em diversidade para o público
interno (75%).

102
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Com esses dados apresentadas pela pesquisa da ABERJE (2019), podemos


verificar que existe uma grande preocupação das empresas com a diversidade e
inclusão no ambiente organizacional.

Leia a seguir um artigo que apresenta um caso relacionado à


diversidade ocorrido no banco Nubank:
https://startups.com.br/noticias/como-a-diversidade-racial-no-
nubank-avancou-um-ano-apos-o-roda-viva/

Percebemos, então, nesta seção, que o tema da diversidade e inclusão


adentrou como prática diária na gestão empresarial. A seguir, estudaremos
como implementar práticas e políticas de diversidade e inclusão no ambiente
organizacional.

- Filmes e séries sobre diversidade e inclusão:

FIGURA 16 – EU NÃO SOU UM HOMEM FÁCIL

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-263240/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: O filme da diretora francesa Eléonore Pourriat é leve e


recorre a uma série de estereótipos. Esse filme levanta a discussão:
e se homens e mulheres trocassem de lugar na sociedade? Costuma
fazer sucesso entre casais e famílias inteiras.

103
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

FIGURA 17 – CARA GENTE BRANCA

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-225928/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: Trata-se de uma série norte-americana que já está


em sua segunda temporada. A cada episódio curtinho, um tema
importante sobre relações raciais é discutido. A série provoca e traz
algumas verdades bastante incômodas.

FIGURA 18 – FEMINISTAS: O QUE ELAS ESTAVAM PENSANDO?

FONTE: <https://www.adorocinema.com/filmes/filme-268318/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sinopse: A palavra "feminismo" virou praticamente um palavrão


em alguns círculos sociais. Uma pena, mas a melhor maneira de
corrigir isso é com informação de qualidade. O filme mergulha na
vida de mulheres que desde os anos 1960 têm lutado por respeito e
equidade de gênero.

FONTE: <encurtador.com.br/auJZ4>. Acesso em: 15 out. 2021.

104
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Indicação de livros sobre globalização:

BONAGLIA, F.; GOLDSTEIN, A. Globalização e desenvolvimento.


Lisboa: Editora Presença, 2006.

SINGER, P. Um Só Mundo: a ética da globalização. Lisboa: Gradiva


Publicações, 2004.

STIGLITZ, J. E. Globalização: a grande desilusão. Lisboa: Terramar,


2002.

SANTOS, B. de S. Globalização: fatalidade ou utopia. Porto: Edições


Afrontamento, 2001.

GIDDENS, A. O mundo na era da globalização. Lisboa: Editora


Presença, 2000.

4 PRÁTICAS DE IMPLEMENTAÇÃO
DE POLÍTICAS DE DIVERSIDADE E
INCLUSÃO NAS ORGANIZAÇÕES
Diversos estudos comprovam que o tema da diversidade e inclusão se tornou
um tema importante para as empresas (TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2014). A
dificuldade que advém agora para as organizações é em como implementar e
monitorar a gestão da diversidade e inclusão no ambiente empresarial. Uma das
obras mais utilizadas sobre estes estudos do ambiente organizacional está na
figura a seguir:

105
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

FIGURA 19 – PSICOLOGIA, ORGANIZAÇÕES E TRABALHO NO BRASIL

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Psicologia-Organiza%C3%A7%C3%B5es-Trabalho-
no-Brasil/dp/8582710844>. Acesso em: 15 out. 2021.

Nessa obra, diversos estudos e pesquisas apresentam toda a dinâmica social


e econômica das mudanças ocorridas no ambiente organizacional, para dar conta
da implementação da gestão da diversidade e inclusão na cultura empresarial
(TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2014).

Como citada na pesquisa da ABERJE (2019), as medidas mais utilizadas


pelas organizações para promover e monitorar a diversidade e inclusão são:

• O treinamento dos funcionários em questões de diversidade (80%).


• O fornecimento de canais para tratar as reclamações específicas (80%).
• A definição de políticas para melhorar a relação entre a vida pessoal e
profissional (60%).
• A ampliação dos grupos de recrutamento (48%).
• A realização de benchmarking com definição de metas para os gestores
(45%).
• O treinamento/desenvolvimento dos grupos minoritários (44%).

Essa pesquisa também aponta que as maiores barreiras com relação à


estratégia para a diversidade e inclusão nas organizações são:

• As questões orçamentárias (35%).


• A falha em perceber a conexão entre diversidade e os impulsionadores
de negócios (34%).
• A resistência e falha da gerência intermediária na execução dos
programas (30%).

106
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

• A sensação de que a força de trabalho já é suficientemente diversa


(22%).
• A falta de comprometimento da alta liderança (16%).

Segundo Pereira (2021), há algumas ações que podem ser realizadas para
eliminar estas barreiras são:

1) Compromisso da liderança.
2) Avaliação interna.
3) Identificação dos principais problemas.
4) Sistemas de governança.
5) Ações de conscientização.
6) Planejamento estratégico.

QUADRO 4 – ERROS DAS EMPRESAS EM DIVERSIDADE E INCLUSÃO (D&I)


Erros que as empresas cometem com relação à Diversidade e Inclusão:

De acordo com Pereira (2021), estes são alguns dos principais erros que precisam ser evitados
quando a empresa decide se tornar mais diversa e inclusiva:

Erro #1: Achar que essa pauta caminha naturalmente.


A D&I precisa estar no centro da estratégia da organização. Ou seja, essa não é uma pauta que
vai caminhar naturalmente, é importante criar ações específicas e desenvolver estratégias para
priorizar essa questão.

Erro #2: Falta de investimento.


Os especialistas concordam que é fundamental que a empresa assuma seu compromisso com
a D&I efetivamente investindo nessa pauta – e não só investimento de tempo, mas também de
dinheiro.

Erro #3: Negar que se tenha um “problema de diversidade”.


Se a empresa está inserida em uma sociedade como a nossa, em que o preconceito, a discri-
minação e a desigualdade são marcantes, tudo isso fatalmente chega também ao espaço da
organização.

Erro #4: Delegar tudo para o RH.


Ainda que os profissionais de Recursos Humanos precisem estar presentes em todas as fases
desse processo, eles não devem ser os únicos responsáveis. A empresa como um todo deve estar
envolvida, especialmente as lideranças.
FONTE: <https://www.aeconomiab.com/diversidade-e-inclusao-
nas-empresas/>. Acesso em: 15 out. 2021.

107
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Segundo Torres e Pérez-Nebra (2014), três paradigmas devem ser levados


em conta na gestão da diversidade e inclusão no ambiente empresarial:

1. Paradigma Moral - da “discriminação e justiça”: é moralmente correto uma


organização promover a responsabilidade social e a diversidade e inclusão no seu
ambiente de trabalho.
2. Paradigma Legal - do “acesso e legitimidade”: já existe uma legislação na
maioria dos países, inclusive no Brasil, que obriga as empresas a promoverem a
diversidade e inclusão no seu ambiente.
3. Paradigma Eficiência - da “aprendizagem e efetividade”: pesquisas
apontam que a diversidade e inclusão promovem ganhos de lucratividade paras
as empresas.

Um exemplo de jornada de diversidade e inclusão

Impulsionada pelos movimentos antirracistas iniciados em 2020,


a agência de comunicação Eyxo, que é uma empresa B Certificada,
decidiu começar a sua trajetória em busca de um ambiente mais
diverso e inclusivo. “Foi uma provocação sobre fazer ou não uma
postagem de um quadrado preto em nosso Instagram que fez surgir
o nosso grupo de trabalho racial. Hoje, os integrantes do GT (grupo
de trabalho) se reúnem quinzenalmente para refletir sobre a temática
e criar projetos de impacto na nossa organização”, conta Greta
Paz, CEO da Eyxo. Para guiar suas ações nesse sentido, a Eyxo
usou como base um censo interno realizado semestralmente com o
objetivo de mapear o perfil de colaboradores e nortear contratações
futuras. “Somos uma empresa da área da comunicação e, talvez
por este recorte, as questões de gênero e diversidade LGBTQIA+
sempre foram mais equilibradas. A questão racial já precisou de
um foco e esforço maiores da nossa parte”, conta. Ela indica que
atualmente o time já tem mais pessoas negras, e o próximo passo é
a inclusão de pessoas trans e de PCD. Estas são algumas das ações
desenvolvidas pela Eyxo para garantir mais diversidade:

1. Grupo de Trabalho (GT) para debater quinzenalmente


questões raciais.
2. Formação dos integrantes negros do GT para que façam
parte dos processos seletivos.
3. Entrega do livro Pequeno Manual Antirracista, de Djamila
Ribeiro, no kit de boas-vindas de todos os colaboradores.

108
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

4. Leitura coletiva do Pequeno Manual Antirracista. “Essa é


uma iniciativa incrível, de muita troca e aprendizado. Todos os
colaboradores são convidados a participar de rodas de conversa
sobre a leitura”, conta Greta.
5. Guia de recomendações culturais para consciência racial
criado pelo GT.
6. Divulgação de vagas e processos seletivos mais inclusivos.
Criação de campanhas sempre com um olhar para a diversidade.

Mesmo em um ano muito conturbado, a Eyxo dobrou de


tamanho em 2020. Temos bastante convicção de que o trabalho de
diversidade e inclusão colaborou muito para esse crescimento. As
pessoas querem trabalhar em ambientes mais diversos e os
clientes querem contratar empresas de comunicação com mais
representatividade, o que de fato contribui nos processos seletivos
e no crescimento dos negócios. “Os resultados são excelentes para
todos os lados”, reflete a CEO. Ela conta que essas ações foram
desenvolvidas com muito cuidado e que levou tempo para serem
concretizadas. A preocupação maior era não criar ações superficiais,
sem impacto real. “Precisamos ter uma escuta muito ativa para
entender qual é o nosso papel nessa temática e em que estágio de
maturidade estamos. Não é sobre simplesmente abrir uma vaga para
pessoas trans e achar que a empresa está fazendo a sua parte, por
exemplo. É sobre criar ambientes realmente diversos e inclusivos.
Precisamos atrair e reter estes talentos”, comenta.

FONTE: <https://www.aeconomiab.com/diversidade-e-inclusao-
nas-empresas/>. Acesso em: 15 out. 2021.

Conforme Torres e Pérez-Nebra (2014, p. 536), “observa-se um crescente


movimento de organizações no sentido de adotar programas de gestão da
diversidade e, em menor grau, de inclusão” como parte das suas estratégias
organizacionais. Para esses autores, a gestão da diversidade e da inclusão pelas
empresas “está ligada mais a motivos econômicos, sendo focada na perspectiva
de que administrar a diversidade pode trazer benefícios financeiros, além de
cumprir com a responsabilidade social e com a legislação” (TORRES; PÉREZ-
NEBRA, 2014, p. 537).

Os autores também pontuam que “a gestão da diversidade defende uma


transformação sistêmica da organização e não se preocupa apenas com os

109
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

sistemas de recrutamento e seleção nas organizações” (TORRES; PÉREZ-


NEBRA, 2014, p. 537).

Presotti (2011 apud TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2014, p. 537) afirma que:

[...] a gestão da diversidade e da inclusão tem início com um


diagnóstico acerca da demografia, da diversidade cultural da
organização e das estatísticas de sua força de trabalho, ou
seja, este seria o primeiro passo. Só então é que se pode
desenvolver um plano de diversidade, que passa por todos
os subsistemas organizacionais. [...] Assim, apenas com
a gestão da diversidade em curso é que se pode criar uma
cultura de inclusão, e essa cultura de inclusão é que levará
à concretização de sistema de contratação e promoção que
reforçarão a própria diversidade.

QUADRO 5 – IMPERATIVOS PARA DIVERSIDADE E INCLUSÃO NA EMPRESAS

Quatro Imperativos

1. Articular e disseminar o compromisso do CEO de modo a estimular a organização.


Cada vez mais, as empresas reconhecem que o compromisso com a inclusão e a diversidade
começa no topo, e muitas delas têm assumido publicamente uma agenda de I&D. As melhores em-
presas vão, além disso, disseminando este compromisso por toda a organização, particularmente
entre a média gerência. Elas incentivam seus negócios principais a assumirem responsabilidade
por I&D, estimulam os gestores a servirem de exemplo, exigem que seus executivos e gerentes
prestem contas de seus esforços de I&D e asseguram que todas as iniciativas tenham recursos
suficientes e sejam apoiadas pela diretoria.

2. Definir prioridades de inclusão e diversidade que sejam baseadas nas alavancas da estratégia
de crescimento dos negócios.
Empresas de alto desempenho investem em pesquisas internas para entender quais estratégias
específicas oferecem melhor sustentação às prioridades de crescimento dos negócios. Por exem-
plo, atrair e manter os talentos certos e fortalecer a capacidade de tomar decisões. As melhores
empresas também procuram identificar a combinação de características inerentes (por exemplo:
etnia) e características adquiridas (por exemplo: educação e experiência) que sejam mais relevan-
tes para sua organização.

3. Criar um portfólio segmentado de iniciativas de inclusão e diversidade para transformar a orga-


nização.
Empresas líderes usam o pensamento segmentado para priorizar as iniciativas de I&D em que
investem e asseguram que haja alinhamento com a estratégia geral de crescimento. Elas reconhe-
cem a necessidade de construir uma cultura organizacional inclusiva, e utilizam uma combinação
de arranjos “duros” e “brandos” para criar uma narrativa e um programa coerentes que façam
sentido entre funcionários e parceiros, ajudando a impulsionar mudanças sustentáveis.

110
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

4. Ajustar a estratégia para maximizar o impacto local.


As melhores empresas são aquelas que estão em rápido processo de aprimoramento, as quais
reconhecem a necessidade de adaptar sua abordagem a cada parte do negócio, a cada região e
a cada contexto sociocultural.

Prestar muita atenção a todos os quatro imperativos ajuda a garantir que inclusão e diversidade
contribuam para a agenda de crescimento da empresa. As empresas muitas vezes são insuficien-
tes no que tange à responsabilidade da liderança em atingir os objetivos, a elaboração do caso de
negócio e a coerência e priorização do plano de ação resultante.
FONTE: <https://www.mckinsey.com/business-functions/people-and-organizational-
performance/our-insights/delivering-through-diversity/pt-BR>. Acesso em: 15 out. 2021.

Por fim, podemos concluir que a implementação e promoção da gestão da


diversidade e inclusão nas empresas apresentam ainda um enorme desafio tanto
para as organizações quanto para a sociedade e políticas públicas vinculadas ao
sistema econômico.

Materiais de apoio para aprender mais sobre diversidade e


inclusão no ambiente empresarial:

MCKINSEY. A diversidade como alavanca de performance.


Disponível em: <https://www.mckinsey.com/business-functions/
people-and-organizational-performance/our-insights/delivering-
through-diversity/pt-br>. Acesso em: 15 out. 2021.

ELETROBRÁS. Promoção do respeito à diversidade


nas empresas. Disponível em: <https://eletrobras.com/pt/
ResponsabilidadeSocial/Promo%C3%A7%C3%A3o%20do%20
Respeito%20%C3%A0%20Diversidade%20nas%20Empresas%20
-%20Caderno%20de%20Ferramentas.pdf>. Acesso em: 15 out.
2021.

111
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

Sugestão de vídeos:

- Como promover a diversidade e a inclusão nas Empresas:


https://www.youtube.com/watch?v=xZ7KmdKiMhc.

- Diversidade e Inclusão nas Organizações: https://www.


youtube.com/watch?v=9oq1wh3hqgw.

- Diversidade e Inclusão nas organizações: https://www.youtube.


com/watch?v=V3u4SeEbQ7w.

1 Responsabilidade social se refere às empresas que reconhecem


que são responsáveis não apenas perante seus acionistas,
mas perante toda a sociedade. Sendo assim, a ideia de
responsabilidade social supõe que a corporação tenha não
apenas obrigações legais e econômicas, mas também certas
responsabilidades para com a sociedade, as quais se estendem
além daquelas obrigações. Sobre a Responsabilidade Social das
Empresas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) Divulgar propaganda enganosa.


( ) Tratar os funcionários com respeito.
( ) Não subornar.
( ) Não fraudar ou sonegar.
( ) Discriminar: raça, credo, renda, sexo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) F – V – V – V – F.
b) F – F – V – V – F.
c) V – V – F – V – F.
d) V – F – V – F – V.

112
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

2 Já existem várias normas que orientam sobre Ética,


Responsabilidade Social, Diversidade e Inclusão nas empresas.
Sobre o exposto, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Certificado SA 8000.
II- Norma AA 1000.
III- ISO 26000.

( ) Esta é uma certificação de cunho social, cujo foco principal é a


relação da empresa com seus fornecedores.
( ) É a ISO 26000 que define Responsabilidade Social como sendo
o compromisso da organização com a constante avaliação dos
efeitos de suas decisões na sociedade e no meio ambiente.
( ) Norma internacional que estabelece padrões de responsabilidade
social para as empresa.

a) II – III – I.
b) I – II – III.
c) III – II – I.
d) II – I – III.

3 Qual o certificado que foi criado como norma internacional que


estabelece padrões de responsabilidade social para as empresas,
lançado em outubro de 1997 pela CEPAA?

a) O Certificado SA 8000.
b) O Certificado SA 9000.
c) O Certificado SA 10000.
d) O Certificado SA 12000.

4 Getúlio Vargas foi o responsável pelos direitos sociais,


principalmente relacionados aos trabalhadores urbanos no
Brasil. Assinale a alternativa CORRETA que apresenta as suas
principais contribuições para os direitos sociais:

a) - A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio;


- a instituição da carteira de trabalho, que passou a ser o principal
documento de identificação do trabalhador;
- a implementação da jornada de oito horas;
- a definição do salário-mínimo;
- o estabelecimento do repouso semanal remunerado;
- a publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

113
Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

b) - A criação do Ministério das mulheres;


- a instituição da carteira de trabalho, que passou a ser o principal
documento de identificação do trabalhador;
- a implementação da jornada de oito horas;
- a definição do salário-mínimo;
- o estabelecimento do repouso semanal remunerado;
- a publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

c) - A criação do Ministério dos índios;


- a instituição da carteira de trabalho, que passou a ser o principal
documento de identificação do trabalhador;
- a implementação da jornada de oito horas;
- a definição do salário-mínimo;
- o estabelecimento do repouso semanal remunerado;
- a publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

d) - A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio;


- a instituição da carteira de trabalho, que passou a ser o principal
documento de identificação do trabalhador;
- a implementação da jornada de doze horas;
- a definição do salário-mínimo;
- o estabelecimento do repouso semanal não remunerado;
- a publicação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Estudamos neste capítulo que as empresas estão inseridas na sociedade
com importância não apenas em uma realidade econômica, havendo, nesse
sentido, várias dimensões:

• dimensão pessoal: a empresa não se compõe de coisas ou animais, mas


de seres humanos, pessoas que querem e devem ser vistas como tais;
• dimensão social: o homem só existe em sociedade, sendo impossível a
absoluta separação entre sua realidade pessoal e realidade social;
• dimensão política: a impossibilidade de isolamento entre o interesse
público e o particular exige a permanente participação de um poder
maior na difícil tarefa de conciliar um e outro;
• dimensão econômica: a função específica que legitima sua existência e
atuação no seio da sociedade é de natureza econômica.

114
Capítulo 3 AS ORGANIZAÇÕES E A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Vimos que a responsabilidade social se refere às empresas que reconhecem


que são responsáveis não apenas perante seus acionistas, mas perante toda
a sociedade. Sendo assim, a ideia de responsabilidade social supõe que a
corporação tenha não apenas obrigações legais e econômicas, mas também
certas responsabilidades para com a sociedade, as quais se estendem além
daquelas obrigações.

Nosso estudo deixa claro como as empresas podem usar a inclusão e


a diversidade para ampliar o impacto de seus negócios. Conforme a pesquisa
Mckinsey (2021), é importante notar que correlação não implica causalidade, e
que esta seria extremamente difícil de ser demonstrada. Contudo, embora não
se trate de uma relação causal, observamos que existe uma relação efetiva entre
diversidade e desempenho, a qual persiste ao longo do tempo, qualquer que seja
o tamanho ou a região da empresa. Existem hipóteses claras e convincentes
sobre os motivos de essa relação persistir – entre elas, melhor acesso a talentos,
tomada de decisões aprimorada, profundidade dos insights do consumidor,
fortalecimento do engajamento dos funcionários e licença para operar.

O caso de negócio em prol da diversidade é incontestável e continua tendo


relevância global. Atualmente, existe a oportunidade de se promover a diversidade
em cargos seniores em que há tomada de decisões e, especificamente, nas
funções de liderança da equipe executiva. Embora os níveis de representação
diversificada nas equipes de liderança ainda variem muito em termos mundiais
e embora, de modo geral, o progresso neste sentido continue lento, há lições
práticas a serem aprendidas com empresas bem-sucedidas que fizeram a
inclusão e a diversidade funcionar. Criar uma estratégia eficaz de inclusão
e diversidade não é um esforço pequeno e exige liderança forte, contínua e
inclusiva. Entretanto, o progresso das iniciativas de diversificação tem sido lento
e as empresas ainda se mostram hesitantes sobre o modo mais eficaz de utilizar
diversidade e inclusão para favorecer suas metas de crescimento e de criação de
valor. Contudo, conforme o que estudamos, nós acreditamos que os potenciais
benefícios da diversidade e inclusão em um desempenho empresarial superior vai
além do ideal, sendo indispensável.

REFERÊNCIAS
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ABERJE, 2019.

ALMEIDA, F. Ética, valores humanos e responsabilidade social das


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Introdução e Panorama Mundial da Inclusão

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