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All content following this page was uploaded by Leonardo Marcondes Alves on 01 September 2017.
RESUMO
Introdução
Um tema que pode ser tratado como leviano por pesquisadores desavisados, tanto
que o ramo da antropologia da moda é ainda pequeno, mas é digno de estudo.
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Universalidade
E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu. Gênesis 3:21.
Individualidade
“[Emma Bovary] chegaria dentro de pouco tempo…com seu vestido de folhos, seu
lornhão dourado, suas botinas finas com toda a elegância que ele ainda não saboreara
e com inefável sedução da virtude que sucumbe”. Flaubert.
Pode ser uma simples camiseta com frase “keep calm and ….” ou o
conjunto expressar realidades complexas como a sociologia ou a cara do Che.
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dignidade e poder aos que a vestem (caso da SS, os camisas-negras, os camisas-verdes
integralistas).
Assim, o que se veste indica o poder. Todavia, não é a roupa em si, mas o
contexto de seu uso. Isso acontece com o véu muçulmano. O antropólogo Ernest
Gellner notou que o uso do véu pelas mulheres muçulmanas é fruto da urbanização
rampante desde o século XIX nas regiões islâmicas e adotado como senso de
identidade pela minoria migrante nas cidades ocidentais. Se para o talibã ou para
os wahabbi imporem o véu foi forma de exercer poder sobre a mulher em um mundo
que se moderniza, o véu na França ou na secularizada Turquia é um grito de
autonomia feminina. É se ocultar dos olhares lascivos masculinos que reduzem a
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mulher a um objeto. Não é de se admirar que a Revolução Iraniana fora feita por
mulheres com véus negros em um país um tanto secular e ocidentalizado. Dessa
forma, a moda é opressora e meio de empoderamento.
Karl Marx notou que as pessoas dão valor às mercadorias em uma relação
interpessoal de tal maneira que os envolvidos são julgados conforme seus
envolvimentos no processo de produção. Marx chama esse fenômeno de fetichismo
da mercadoria e é bem visível no mercado da moda. Uma consumidora pode não
conhecer o Karl Lagerfeld, mas ao adquirir um vestido assinado por ele, estabelecerá
vínculos com ele pelo seu design. Assim, por associação, adquire-se prestígio.
A raridade até faz que algo fique mais atraente e a busca do raro
movimenta o mundo aproximando polos. É o caso das peles ou da seda.
Os trappers colonizaram o Canadá e geraram o povo métis durante a caça de peles
para os mercados europeus. Os romanos importavam a seda chinesa através da rota
da Ásia central que se manteve até o advento da ferrovia transiberiana no começo do
século XX fomentando vários estados e hordas das estepes.
Por fim, as próprias roupas demonstram ter uma vida social. Aplicando a
análise de Appadurai, as roupas e os estilos marcam épocas da vida de uma pessoa e
continuam mesmo depois de descartadas. Na Zâmbia, Karen Tranberg Hansen
estudou o mercado de roupas usadas e demostrou como essas, provenientes dos
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países desenvolvidos ganham novas vidas e alterações locais em um mercado
multibilionário na África. Vale notar que essas roupas não são vestidas para imitar a
moda ocidental, mas cria-se com elas novas modas locais.
Por esses motivos, pode-se concluir que a moda possui uma economia
própria. Não se reduz a um mero produto de troca, mas convenciona relações e dá
significado às pessoas e à cultura material, as roupas. Se não fosse assim, blogueiras
anônimas ou famosas não postariam orgulhosas seus looks do dia sem aparente
retorno imediato. Trata-se de um mercado de trocas simbólicas.
Como visto acima, a moda possui conotações que vão desde as dimensões
universais até as individuais. Além disso, a moda serve como linguagem, identidade,
poder e economia, porém suas conotações podem ser ainda mais amplas, como pode-
se ver na bibliografia sugerida abaixo.
Bibliografia sugerida
APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas. EdUFF, 2008.
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São. Paulo: Edusp; Porto Alegre,
RS: Zouk, 2007
DE LA HAYE, Amy; WILSON, Elizabeth. Defining Dress: Dress as object, meaning and
identity. Manchester, 1999.
HANSEN, Karen Tranberg. Salaula. Other People’s Clothes? The International Secondhand
Clothing Trade and Dress Practices in Zambia. 2000.
MELLO E SOUZA, Gilda Rocha de. A Moda no Século XIX. Tese doutoral. USP, 1950.
POLHEMUS, Ted; PROCTER, Lynn. Fashion and Anti-fashion: An Anthropology of Clothing and
Adornment. Thames and Hudson. Londres, 1978.
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RICHARDSON, Jane; KROEBER, Alfred L (1940) ”Three Centuries of Women’s Dress Fashions:
A Quantitative Analysis”. University of California Anthropological Records 5(2) páginas i-iv,
111-153.
Websites
Antropologia, Moda e Consumo, entrevista com Débora Krischke LeitãoUOL.
Bergamo, Alexandre. O campo da moda. Revista de Antropologia vol.41 n.2 São Paulo, 1998.
http://antropologianamoda.blogspot.com.br/
Por um mapa antropológico da moda entrevista com Massimo Canevacci
Brizola Juliana. Moda além do óbvio: para uma antropologia da beleza e da moda
http://www.modetheorie.de/
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