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PEDRO HENRIQUE E KATIUCIA KALINE

Moda Agênero – Cultura e Identidade

O corpo humano desempenha um papel fundamental na comunicação,


permitindo a transmissão de significados e mensagens por meio de gestos,
expressões faciais e até mesmo reações físicas e respostas fisiológicas
aparentemente "incontroláveis". Por sua vez, a indumentária, tendo como seu papel
principal vestir corpos, é um meio para que possamos compreender os processos
de formação e identificação de indivíduos e grupos sociais.

Conforme os estudos de Laraia (1932), cultura é um dos conceitos


fundamentais da antropologia e pode ser definida como o sistema de
conhecimentos, crenças, valores, normas, costumes e práticas aprendidas e
compartilhadas por uma determinada sociedade. Esses elementos culturais, que
são repassados de maneira geracional, moldam o comportamento e a visão de
mundo dos indivíduos que fazem parte daquela sociedade.

Em um viés cultural, ao analisarmos a moda como linguagem, nos


defrontamos com uma série de regras envolvendo o vestuário que nos foram
ensinadas a partir da nossa construção como indivíduos – imersos em determinado
tempo, espaço e contexto social - que por ventura, não serão as mesmas que foram
ensinadas em outras culturas, em outros tempos.

Acerca disso, Miskolci (2008) aborda a ideia de "estéticas da existência", que


se refere às formas pelas quais os indivíduos constroem suas identidades e estilos
de vida através de escolhas estéticas, incluindo a moda. O que nos faz entender
que as escolhas estéticas não são apenas superficiais, mas estão enraizadas em
questões mais profundas de valores, aspirações e afiliações sociais.

Diante desse cenário, podemos considerar que a moda, como linguagem, é


resultado de um contrato ao qual todos se submetem com o objetivo de se
expressar por meio dos códigos culturais. Tal cultura desempenha um papel
fundamental na criação e disseminação de valores, crenças e normas sociais. Visto
que, a moda historicamente tem sido utilizada para demarcar as dicotomias de
gênero, reforçando valores culturais.

À medida que a cultura evolui, novas perspectivas sobre identidade, e


expressão são introduzidas, proporcionando espaço para a fenômenos como o da
moda agênero se manifestar como uma resposta à rigidez das normas binárias da
sociedade.

Miskolci (2008), diz que o corpo é moldado e transformado por meio das
escolhas de moda. Ele discute como a moda pode ser usada para realçar certas
características do corpo, criar padrões estéticos e transmitir mensagens simbólicas.
Então, por essa lógica, a moda sem gênero busca quebrar as regras estritamente
associadas ao masculino e feminino que foram passadas de geração em geração
pelos códigos de vestimenta da sociedade patriarcal. Assim, não se restringindo
apenas à esfera pessoal, mas com um impacto social significativo, promovendo a
aceitação e a compreensão das identidades não binárias.

Em linhas gerais, conforme Zambrini (2016) a moda agênero busca


abordagens em relação ao vestuário que expressam a diversidade social em
relação às diferentes formas de compreender as identidades e os gêneros,
desvinculando as roupas de uma conotação biológica e permitindo novas
experimentações das identidades de uma forma mais libertadora, sem restrições
sociais.

Os símbolos da moda agênero não apenas desafiam as expectativas binárias


enraizadas na sociedade como um todo, mas também promovem a inclusão e a
diversidade. Eles abrem espaço para diálogos mais amplos sobre identidade,
permitindo que as pessoas se conectem e se compreendam além das limitações de
gênero.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. — 14.ed. — Rio de


Janeiro: Jorge Zahar, Ed., 2001

MISKOLCI, Richard. Estéticas da existência e estilos de vida – as relações entre


moda, corpo e identidade social. São Paulo: Revista Iara, v1, n 2, 2008

ZAMBRINI, Laura. Olhares sobre moda e design a partir de uma perspectiva de


gênero. Dobra[s] – Revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas
em Moda, [S. l.], v. 9, n. 19, p. 53–61, 2016. DOI: 10.26563/dobras.v9i19.452.
Disponível em: https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/view/452. Acesso em:
11 nov. 2022.

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