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Sumário

Introdução ................................................................................................................................... 2

1. A Cultura e Arte no Apogeu da Cristandade Medieval .......................................................... 3

1.1. A Escolástica Medieval ................................................................................................... 3

a) Os principais expoentes................................................................................................... 5

1.2. O Direito Canónico .......................................................................................................... 7

1.3. As Universidades ............................................................................................................. 8

a) A origem das Universidades ........................................................................................... 8

b) As Primeiras Universidades ............................................................................................ 9

c) Composição curricular das universidades medieval ..................................................... 10

d) Os grandes pensadores universitários ........................................................................... 10

1.4.A Arte Românica e Gótica .............................................................................................. 11

Período Românico ............................................................................................................. 12

Período Gótico................................................................................................................... 13

Conclusão ................................................................................................................................. 15

Bibliografia ............................................................................................................................... 16

1
Introdução

Na baixa Idade Média a cultura superior continua a ser dirigida e controlada pela
Igreja. Pois, de início, permaneceram invariadas também as formas do ensino.

Contudo, juntamente com a elevação geral do nível cultural e científico, não tarda-
ram a introduzir-se mudanças significativas na organização dos estudos.

Neste entretanto, como nenhum outro período da história, a baixa Idade Média está
sob a influência determinante do espírito cristão, que imbuiu a totalidade de vida pública e
privada, política e social, cultural e artística, e despertou grande número de energias surpreen-
dentes e de forças criadoras.

O mundo da natureza e o da graça estiveram concordes numa grandiosa harmonia no


campo teorético e frequentemente também no prático. A Igreja e o mundo se sustentavam mu-
tuamente com a consistência de sua instituição.

Outrossim, o universalismo e o sentido da comunidade eram ainda potências operan-


tes na vida dos povos, pois, todas as nações do Ocidente sentiam-se como único Corpus
Christianum sob a direção do supremo poder espiritual e temporal.

Portanto, neste presente trabalho, procuraremos apresentar em linhas curtas “A cul-


tura e arte no apogeu da cristandade medieval”, o tema que nos guiará, propriamente a in-
fluência da escolástica neste período medievo na história da Igreja, o surgimento e o desen-
volvimento das primeiras universidades, a origem do direito canónico e por fim a predomi-
nância dos dois grandes estilos arquitetónico que deram origem as esplendidas catedrais,
como a da Notre Dames de França, a de Santa Isabel em Marburgo, os estilos românico e gó-
tico que cuja construção participaram todas as camadas sociais.

2
1. A Cultura e Arte no Apogeu da Cristandade Medieval

Os séculos que vão de Gregório Magno a Gregório VII constituem um caso à parte na
história da cultura e das letras na Europa, distinto dos períodos anterior e posterior.
Estes séculos “marcam a extinção definitiva da corrente contínua do pensamento e da
educação que se tinha originado na Grécia mil anos antes, e o primeiro renascimento, ainda
bruxoleante, que deveria evoluir para a civilização europeia de Idade Média”1.
Desta feita, “de 600 a 1050, a história cultural da Europa ocidental consiste em uma
série de tentativas, separadas no tempo e no espaço, de ressuscitar as glórias do passado, con-
servando e imitando suas produções intelectuais e literárias”2.
Entretanto, quando se aproximava o terceiro ano que sucedia ao ano mil, viu-se em
quase toda a terra, mas sobretudo na Itália e na Gália, a reedificação do fundamento das igrejas,
muito embora a maioria fosse muito bem construída e disso não tivesse necessidade, uma ver-
dadeira emulação impelia cada comunidade cristã a possuir uma igreja mais sumptuosa que a
das vizinhas3. Podia-se dizer que o próprio mundo se sacudia para se despojar de sua vetustez
e se revestia, por todos lados, de um branco manto de igreja.
Nesse momento, quase todas as igrejas das sés episcopais, dos mosteiros, consagradas
a todos os tipos de santos, e até mesmo as pequenas capelas das aldeias foram reconstruídas
pelos fiéis, tornando-se ainda mais belas.

1.1. A Escolástica Medieval

O termo escolástica deriva de escola. A Escolástica foi um vasto fenómeno cultural,


com especial incidência na teologia e na filosofia, que se desenvolveu na base e a partir da
estrutura escolar da Idade Média, entre os séculos XI e XV.
A palavra escolástica sai com frequência e adquire três sentidos principais:
1º- “Um sentido afim da significação primeira: poderíamos traduzir por ‘letrado’, ou
algo aproximado: optamus vos scholasticos bene loquendo.”4
2º - “Depois, um sentido que evoca a lógica, a boa organização dos pensamentos, scho-
lastica et acutíssima argumentativo”5.

1
D. KNOWLES e D. OBOLENSKY, Nova história da igreja: idade média, pág.167.
2
Ibidem
3
Jean COMBY, Para ler a história da Igreja: das origens ao séculoXV, pág.151.
4
Evangelista VILANOVA, Historia de la Teología Cristiana, pág.524.
5
Ibidem
3
3º - “Finalmente como prorrogação do anterior, um sentido científico e polémico: con-
tentiosas scholasticorum questiones”6.
Como todos os grandes movimentos da história, a Escolástica desenvolveu-se em três
períodos:
1º Escolástica incipiente (séc. XI-XII);
2º Apogeu da Escolástica (séc. XIII);
3º Decadência escolástica (séc. XIV-XV).
A escolástica que se viera formando no curso do século XI, alcançou no século XIII o
seu apogeu. Esse incremento, intimamente unido com a fundação das universidades e com a
intervenção dos medicantes no campo dos estudos, foi particularmente favorecido também pela
introdução, no Ocidente, de novas apreciáveis contribuições culturais.
Até então os filósofos cristãos ocidentais conheciam de Aristóteles apenas os tratados
de lógica, especialmente mediante traduções e comentários de romano Boécio.
A partir da segunda metade do século XIII chegaram a eles pouco a pouco, sobretudo
da Espanha moura, também as obras que o genial Estagirita havia dedicado à física, à metafí-
sica, à psicologia, à ética e à política.
Numa primeira fase, não certamente de forma pura, pois as traduções latinas extraídas
do árabe pelo arcediago de Segóvia, Domingos Gundissalino e por outros tradutores, como
também as explicações de comentadores maomentanos e judeus, as tinham adulterado com
ideias racionalistas e panteístas. Sobre este motivo, os escritos físicos e metafísicos de Aristó-
teles foram proibidos sob diversas penas, na universidade de Paris por um concílio provincial
aí reunido em 1210 e pelo legado papal Roberto de Courçon (1215) e mais tarde, enfim, também
por Gregório IX (1231).
Nesta época, “graças a Alberto Magno e Tomás de Aquino, Aristóteles, purificado e
interpretado em sentido cristão tornou-se realmente a autoridade decisiva, o «filósofo da esco-
lástica» ”.7 Por outro lado, “o realismo aristotélico moderado tornou-se a conceção filosófica
dominante do século XIII e isto teve enorme importância não somente para a filosofia e a teo-
logia, e sim também as ciências naturais e políticas”8.
A escolástica é marcada pelo perigo do racionalismo e do panteísmo árabe que ainda
não estava completamente superado, o chamado averroísmo latino influenciado filósofo islâ-
mico Averróis (Ibn Roschd) de Córdova (1126-98), o famoso lente de filosofia de Paris, Sigier

6
Ibidem
7
K.BIHLMEYER e H. TUECHLE, História da Igreja: idade média, pág.330
8
Ibidem
4
de Brabante (†1282) e seu colega Boécio da Dácia (= Dinamarca ou Suécia) fizeram intérpretes
de doutrinas acerca da origem do mundo, a alma humana e o livre arbítrio, que são inconciliá-
veis com o dogma cristão.

a) Os principais expoentes

Queremos ressaltar que os principais expoentes do progresso científico no período áu-


reo da escolástica são membros das recentes ordens Mendicantes dos Franciscanos e dos Do-
minicanos.
Destes, é de salientar que dos quatro grandes doutores do apogeu da escolástica, temos:
Alexandre de Hales (†1245)
É inglês de nascimento, célebre lente da universidade de Paris e desde 1236 francis-
cano, é considerado o fundador da chamada escola franciscana antiga.
“Desde o século XIV é honrado com o título de doctor irrefragabilis. Sua obra funda-
mental é uma Summa theologica ou Summa universae theologiae em quatro partes incom-
pleta”9.
Nela aplica-se pela primeira vez toda a filosofia aristotélica segundo o método dialé-
tico de Abelardo e de Pedro Lombardo, para a penetração da doutrina teológica.
Santo Alberto Magno
Nasceu em 1193 em Lauingen às margens do Danúbio, de uma família de pequena
nobreza sueva (de Bollstädt).
Estudou em Pádua e em Colônia, em 1223 vestiu o hábito de S. Domingos, foi bispo
de Ratisbona (1260-62), e faleceu em Colônia ao 15 de novembro de 1280.
Escreveu uma Summa de creaturis e uma Summa theologiae (incompleta).
Entre os escolásticos, Alberto possuía os conhecimentos mais vastos do campo da fi-
losofia, teologia e das ciências naturais. Em 1931 o papa Pio X o proclamou Santo e Doutor da
Igreja.
Cultivou sobretudo a nova orientação aristotélica cristã, também a tradição platónica,
neoplatónica e agostiniana teve notável peso no seu pensamento.
Santo Tomás de Aquino
Nasceu em 1226 ou 1227 em Roccasecca na região de Nápoles, de descendência de
antiga família nobre, a dos condes de Aquino, aparentada com a casa imperial dos Hohenstau-
fen.

9
Idem, pág.332
5
Ainda criança recebeu a educação no mosteiro beneditino de Monte Cassino, depois a
formação humanística e filosófica na universidade de Nápoles, em seguida abraçou a Ordem
Domiciana contra a vontade da sua família.
Em Colónia, Tomás aperfeiçoou os seus estudos (1248-52) na escola de Alberto
Magno; exerceu então a própria atividade didáctica especialmente em Paris, Roma e Nápoles.
Morreu com apenas 48 anos durante a viagem para o Concílio de Lião, a 7 de março de 1274
no mosteiro cisterciense de Fossanova no Lácio.
O papa João XXII o canonizou em 1323, em 1567 Pio V o proclamou Doutor da Igreja
e Leão XIII o nomeou, em 1880, patrono das universidades Católicas.
“O Código do Direito Canónico (1366,2) prescreve que se cultive o estudo da filosofia
e da teologia «ad Angelici Doctoris rationem, doctrinam et principia» ”10.
Tomás levou a término feliz com sobriedade e método, a obra iniciada por Alberto
Magno: a elaboração de um aristotelismo cristão.
É o mais genial intermediário entre o Aristóteles e Agostinho; deu a ciência teológica
da idade média o seu desenvolvimento mais perfeito e a concepção católica do mundo do seu
tempo e seu fundamento mais vasto e mais profundo. Com razão, pois, “é considerado o «prín-
cipe da escolástica», por esta mesma razão no século XV se costumou honrá-lo Doctor Ange-
licus, ao passo que o título que antes lhe era atribuído, de «Doctor communis» define Tomás
como auto0ridade didáctica universalmente reconhecida e citada”11.
As suas principais obras: a Summa c. gentilis (1259-64), um manual de apologética
em oposição à filosofia árabe e a Summa theologiae (1266-73).
Santo Anselmo de Aosta
O considerado “Pai da escolástica”, nasceu de uma nobre família de lombarda resi-
dente em Aosta no Piemonte, foi monge, mestre e abade no célebre mosteiro de Bec na Nor-
mandia, foi arcebispo de Cantuária e primaz da Inglaterra, sucedendo assim a Lanfranco nos
anos (1093-1109).
Com um penetrante manejo dialético especulativo das mais importantes verdades da
fé, seguindo a guia de Platão e Santo Agostinho, ele abriu o caminho para a escolástica.
Seu método enuncia-se nas proposições: Fides quaerit entellectum; e Neque enim
quaero intelligere ut credam, sed credo ut intelligam12.
Dentre as suas mais famosas obras teológicas e literárias temos:

10
K. BIHLMEYER e H. TUECHLE, História da igreja: idade média, pág.334.
11
Idem, pág.335.
12
Idem, pág.257.
6
O Monológio onde desenvolve a doutrina de Deus Uno e Trino, tirando-a de argumen-
tos cosmológicos da existência de Deus. O Proslógio onde fala do conhecimento de Deus e da
experiência do divino, e propõe para tal fim o argumento ontológico, “ens perfectissimum, quo
maius cogitari nequit”. E por fim temos a sua mais importante obra, o tratado Cur Deus homo.
Divergindo assim, da opinião patrística muito difundida na Idade Média, segudo a qual a hu-
manidade perdida foi por Cristo recuperada da escravidão do demónio (teoria do resgate), An-
selmo, de modo mais digno e mais profundo, vê na obra da Encarnação o meio com que foi
dada a Deus uma reparação pela ofensa a ele causada pelo pecado13.

1.2. O Direito Canónico

Costuma-se designar por Direito Canônico o conjunto de normas jurídicas oriundas da


Revelação ou emanadas pela autoridade da Igreja Católica, que têm por objetivo a disciplina
do governo da Igreja e da relação dela com seus fiéis, bem como da relação dos fiéis entre si14.
O qualificativo “canônico” tem origem na palavra latina cânon, recebida do grego
kánon “κανον” (guia, norma de medida), referindo-se a toda prescrição ou diretriz emanada da
autoridade eclesial.
No âmbito do desenvolvimento do Direito Canónico temos alguns fatores que dão res-
paldo ao progressivo desenvolvimento da experiência canônica, destacam-se os bíblicos, antro-
pológicos, pastorais, eclesiológicos e histórico-políticos.
Depois de séculos de intensa influência germânica na vida jurídica da igreja, foi agora
restabelecido em ampla escala o predomínio do direito canónico, que por esse tempo se foi
codificando em grandes coleções, paralelamente ao renascimento de estudo do direito romano.
Com o aumento e a maior unificação do poder eclesiástico fez-se sentir mais forte do
que no passado a necessidade de um ulterior desenvolvimento do direito canónico e de uma sua
codificação mais segura. Neste tempo, o direito canónico entra numa nova era, caracterizada
pela tendência a aplicar em plena linha diretrizes do antigo direito da igreja e juntamente conter
e reprimir a influência do direito germânico.
O Direito Canónico começa a tomar corpo com maiores progressos especialmente em
Bolonha, onde o legista, Irinério fundara (1084) uma célebre escola de direito romano.
Nessa escola o monge camaldulense Graciano começou a tratar pela primeira vez, no
século XII, do direito canónico com um método dialéctico, tratando-o como matéria distinta da

13
Ibidem.
14
Renan Victor Boy BACELAR, Direito Canônico: vivências históricas e teóricas da cultura jurídica ocidental, pág.
38.
7
teologia geral. Pouco depois de 1140 ele recolheu o material canonístico disperso, ordenando-
-o, numa Concórdia, que mais tarde chamou-se de Decretum Gratiani.
Embora fosse esta compilação privada e feita com o objectivo de ensino escolástico,
graças a sua grande praticidade alcançou logo uma larga aceitação nas escolas dos ‘decretistas’
e dos ‘glossários’, bem como nos tribunais eclesiásticos, suplantando pouco a pouco as coleções
mais antigas. Sendo assim, Graciano tornou-se o pai da ciência canonista15.
No entanto, o Iuris Canonici tem o seu primórdio no célebre Dictatus Papae, de Gre-
gório VII, que contém o programa do seu governo, onde reafirma a norma do pseudo-Isidoro,
que as ‘causae maiores’ de todas as igrejas do orbe sejam submetidas à decisão da Sé apostólica.
Neste documento declara ainda: que o Romano Pontífice é o único a ter o direito de se chamar
“episcopus universalis”, que somente ele pode depor, mesmo sem o conhecimento de um sínodo, os
bispos, inclusive os ausentes; pode reintegrá-los em suas sedes, ou por graves motivos, tranferi-los;
pode emanar novas leis para toda a igreja, erigir abadias, dividir e fundir dioceses, presidir a sínodos
por meio dos seus legados, convocar concílios ecuménicos, sagra eclesiásticos para todas as igrejas do
orbe, aceitar causas em apelo de todas as regiões; que suas decisões irrefragáveis e definitivas; que ele
pode julgar todos e por sua vez não pode ser julgado por ningué; proposição, esta última, que gozara de
valor de direito eclesiástico já na antiguidade cristã16.

1.3. As Universidades

As universidades que apareceram e se multiplicaram ao largo dos três últimos séculos


da Idade Média são instituições profundamente originais desde as diversas perspectivas. Pois,
a palavra universidade vem do latim medieval universitas significando comunidade.
“A universitas studiorum é uma forma original de comunidade que rege si a mesma e
escapa as pressões do direito comum”17.
Todavia, não menos original é o intento de uma aproximação universal do conheci-
mento, de universalismo do pensamento e da ratio, realizado pela escolástica universitária no
momento do seu apogeu.

a) A origem das Universidades

Na europa medieval, muito mais do que um qualquer época posterior, a vida intelectual
foi dominada pelas universidades. As outras únicas instituições que se dedicavam, até certo
ponto, ao ensino superior eram as escolas das ordens religiosas que eram em parte extensões do
sistema universitário, ao fornecer o mesmo tipo instruções de modo a aumentarem os níveis

15
Cfr: K. BIHLMEYER e H. TUECHLE, História da igreja: idade média, pág. 212
16
Cfr: Ibidem, pág.207-208.
17
Evangelista VILANOVA, Historia de la Teología Cristiana, pág.676.
8
intelectuais dos seus próprios membros. Se um homem queria adquirir instrução para dedicar-
se à filosofia, ciência, matemático ou teologia ou avançados conhecimentos especializados so-
bre as profissões liberais de Direito ou medicina tinha de frequentar uma universidade nos iní-
cios do século XIV os países do sul e oeste da europa estavam razoavelmente bem fornecidos
no que diz respeito as universidades.
É de salientar que “as universidades da Idade Média foram construídas pelo espírito
cristão comum sobre o fundamento de uma concepção unitária, universais em toda a sua acti-
vidade”18.
Pois, elas constituem uma das mais belas criações da cultura superior e uma expressão
visível do domínio inconcusso da Igreja sobre a vida da igreja.

b) As Primeiras Universidades

A Itália tinha as famosas de Bolonha e Pádua e de várias outras cidades; a Espanha


tinha Salamanca; a França tinha Paris e Montpellier e várias mais; a Inglaterra tinha Oxford e
Cambridge. Na Alemanha e na Europa central não existia nenhuma até que o patrocínio dos
príncipes levou a fundação das de Praga (1347), Cracóvia (1364), Viena (1365) e Heidelberga
(1385) e várias outras durante o século seguinte.
Mas universo universitário era cosmopolita e os alemães e os neerzelandeses iam, em
números substâncias, para Paris e outros locais. Nesta altura o número de homens com prepa-
ração universitária era grande quer no seio da Igreja, quer entre os leigos. Constituíam, de modo
bastante claro, uma elite intelectual internacional de diplomados.
No início do séc. XIV quando estava no seu auge, Paris pode ter tido uma população
universitária de 3000 a 5000 pessoas. No seu conjunto a elite diplomada da Europa deve ter
atingido um número da ordem de muitos miliares.
O propósito da educação universitária era dar ao estudante o domínio de determinados
textos fundamentais e treiná-los para refletir sobre eles com exactidão.
As universidades estavam essencialmente dedicadas ao exercício e desenvolvimento
da capacidade de raciocínio. Falando em termos gerais, não estavam interessadas em exame
crítico e original, no sentido moderno, e, de maneira moderna na experimentação física ou em
História nem se interessavam por literatura ou belas artes.

18
K. BIHLMEYER e H. TUECHLE, História da igreja: idade média, pág. 328.
9
c) Composição curricular das universidades medieval

A semelhança das universidades modernas, as medievais estavam divididas em facul-


dades. Apesar de todas elas não estarem representadas em cada uma das faculdades, existiam
quatro faculdades. Artes, Teologia, Direito e Medicina.
Por conseguinte, a sua importância educacional era muito grande.
“Primitivamente o curriculum deveria abranger o trivium19(lógica, gramática e retó-
rica) e o quadrivium20(aritmética, música, geometria e astronomia), derivados do falecido en-
sino romano (gramática, lógica, retórica, aritmética, geometria, astronomia, música), mas, no
século XIV estava transformado de forma irreconhecível em dois desenvolvimentos”21.
O elemento linguístico fora muito reduzido: é claro que os estudantes ainda tinham
que saber o latim, língua em era ministrado todo o ensino superior, mas que degenerara numa
língua técnica e a literatura latina era pouco estudada.

d) Os grandes pensadores universitários

Ao falar dos grandes pensadores universitários temos:


Para o século XIII, temos o Santo Tomás de Aquino (†1274) e Duns Scotus (†1308)
que preocuparam-se em produzir um esquema simples e consistente de filosofia e teologia no
qual se demonstrasse a consistência dos dois conjuntos de ideias dados pela razão humana e
pela revelação divina.
Isto implicava demonstrar que os dogmas essenciais da fé cristã, tais como a existência
de Deus e imortalidade da alma, podiam ser provados pela razão assim como por consulta à
Bíblia.
No século XIV, o pensador individual mais importante do mundo universitário do
Norte foi um filósofo e franciscano de Oxford, Guilherme de Ockham, que, em 1324, abando-
nou a universidade para defender as suas opiniões suspeitas na corte papal.
Mais tarde fugiria de avinhão para se refugiar junto de Luís, o Bávaro, cuja posição
política defendeu contra o papado em diversas obras antes de morrer em 1349.

19
Trivium significa o cruzamento e articulação de três ramos ou caminhos. Esse grupo de disciplina incluía a
Lógica (ou dialéctica), a Gramática e a Retórica. As artes do trivium teriam como objectivo desenvolver a ex-
pressão de linguagem.
20
Quadrivium significa o cruzamento de quatro ramos ou caminho. Está voltado para o estudo da matéria, por
meio do domínio das seguintes disciplinas: Aritmética (a teoria dos números), a Música (a aplicação da teoria
dos números), a Geometria (a teoria do do espaço) e a Astronomia (a aplicação da teoria do espaço).
21
George HOLMES, A Europa da idade média: hierarquia e revolta (1320-1450), pág.120.
10
Ockham foi essencialmente um lógico e um metafísico. Estudou as asserções dos seus
pressores e concluiu que a defesa racional da cristandade era insustentável. A prova da existên-
cia de Deus como um primeiro motor era «provável, isto é, mais provável do que o oposto, mas
não demonstrada».
Temos ainda, um outro pensador inglês que ilustra, de um ângulo diferente, o ruir do
mundo escolástico, John Wycliffe.
Wycliffe não era ockanista, pelo contrário, foi um crente apaixonado da realidade das
ideias abstractas. Utilizou a sua capacidade dialética nos anos de 1376 a 1384, ano em que
morreu, para defender a opinião de que a verdadeira Igreja era um corpo inteiramente espiritual
formado por aqueles que estavam em estado de graça.
Demoliu a validade teológica e filosófica da igreja visível e de toda a sua panóplia de
ordem religiosa e direito canónico, ao porem-se na posição das todo-poderosas autoridades lai-
cas.

1.4.A Arte Românica e Gótica

Em sentido mais largo, a arte é uma actividade que sempre ocupou os homens em todas
as épocas e circunstância, e por sua natureza não entra no campo da história da igreja. Mas é
verdade que o homem sempre usou da arte para ilustrar e traduzir suas mais altas inspirações,
e para valorizar o objecto de seu culto.
Desta forma, a chamada arte sacra e utilização de diversas artes no culto público e
privado constituem uma faceta importante na história da religião em todas as épocas.
Quando a religião, especialmente a religião cristã participa apenas em parte da cultura
de um país, como é o caso das antigas civilizações e do mundo moderno, a arte religiosa repre-
senta uma parte pequena na história da arte, pois as principais correntes de inspiração e criati-
vidade derivam da sociedade.
Acontece que na idade média, digamos de 500 a 1400, na cristandade oriental, como
na ocidental, as belas-artes eram, de modo preponderante e até mesmo exclusivo em algumas
épocas, a expressão de sentimento religioso e da intuição religiosa, ou tinham por objecto a cons-
trução e embelezamento dos lugares de culto religioso. Por esta razão a história da igreja medi-
eval não pode excluir de seu campo um estudo da arte22.
Neste período é marcado pelo teocentrismo (Deus como centro do universo), a cultura
medieval foi a mais pura expressão da fé. A religião, o temor a Deus e o medo do Juízo Final,
permearam a história medieval na Europa.

22
D. KNOWLES e D. OBOLENSKY, Nova história da igreja: idade média, pág.295
11
Pois, durante a Idade Média, as pessoas mais instruídas pertenciam à Igreja Católica,
que controlava grande parte das atividades artísticas, literárias e intelectuais da época. Assim,
a Igreja detinha o controlo da leitura e da escrita como uma forma manter seu poder e impedir
que as pessoas pensassem diferente de seus dogmas.
“Em todo este período a arte mais difundida, imponente e característica, é sem dúvida
a arquitetura”23.
Esta época é marcada sobretudo pelas arquiteturas de estilo românica e gótica. Toda-
via, “a evolução da arquitetura ocidental segue um ritmo semelhante ao do pensamento e da
literatura, e suas mudanças e fases muitas vezes quase coincidem”24.
Pois, a grande mudança dá-se com a passagem do estilo românico do Mediterrâneo,
tradicional e imitativo, para o estilo gótico, original e variado, foi lenta, e verificou-se em tem-
pos diversos25.

Período Românico

Da arte carolíngio-otónica proveio o estilo românico, assim chamado desde o início do


século passado, devido a certo paralelismo com o fenómeno de formação das línguas românicas.
Contudo, “nele prevalece o influxo germânico. Como também se deve admitir que o seu desen-
volvimento mais maduro e mais rico se deu nas regiões habitadas, ao menos parcialmente, por
povos germânicos”26.
Este período é característico por pelo menos três fases distintas:
1ª - De 600 a 800, todas as construções são de pequenas dimensões, com excepção
talvez de Roma e de algumas cidades da Itália, e poucas lembranças deixaram;
2ª - De 800 a 975, neste período nota-se progressos locais e obras iniciadas, algumas
delas consideráveis, e de resultado definitivo;
3ª - De 975 a 1100, há uma enorme e universal explosão de construções que atingiram
o máximo de perfeição, com vastas construções que mostram a perfeição do desenho e da
forma.
As construções deste período era característico propriamente por construções feitas em
pedras e tijolos e com tetos de madeira. Mas devido ao grande número de incêndios, mais tarde,

23
Ibidem
24
Idem, pág.296.
25
Cfr. Ibidem
26
K. BIHLMEYER e H. TUECHLE, História da igreja: idade média, pág. 251.
12
os tetos foram substituídos por abóbadas. O uso de abóbadas fez com que se construísse paredes
mais espessas para sustentar o peso do teto.
Por outro lado, as construções de estilo românico tinham paredes grossas, poucas ja-
nelas e as suas plantas arquitetónicas eram em formato de cruz.
A partir do ano 1000, aproximadamente, houve uma verdadeira fúria de construções
que apoderou-se da Europa, pois,
“o traçado era o românico, com nave basilical e uma abside voltada para o oriente; as
igrejas maiores tinham um transepto em torno da abside, com capelas; a igreja era coroada ou
ladeada pelo conhecido campanário, com janelas arredondadas ou em forma de arcadas no alto,
como se pode ver ainda hoje na Lomardia, no sul da França e norte da Espanha 27.

Período Gótico

Origem e desenvolvimento

Neste período é de ressaltar que o estilo da arquitetura eclesiástica do século XIII é o


gótico, plenamente evoluído, que a partir deste momento triunfa no norte dos Alpes até pelos
fins do século XV e na Alemanha até mesmo o século XVI.
Outrossim, “é ele uma glória da baixa Idade Média, tão fecunda de criações culturais,
e produziu obras arquitetónicas, que são elencadas entre as mais perfeitas de toda a história
humana, desde o templo grego em diante”28.
O gótico é o estilo da escolástica e da mística e ´s um estilo de arquitetura
realmente católico e universal. Nele notabiliza-se pelo seu modo de dominar e espiritu-
alizar a matéria; pela sua severa dependência de uma lei interna e o carácter unitário-
fechado das suas criações, pela acentuada tendência para o alto e o seu arrebatamento
para o mundo divino29.
O estilo gótico tem a sua origem na França no século XIII em que se desenvolveu-se
magnificamente com as majestosas catedrais de Chartres, de Remos e de Amiens, e a encanta-
dora igreja palatina la Sainte Chapelle, de Luís, o Santo, e, Paris.
Ainda no mesmo século, contrariamente na Alemanha, o estilo gótico foi mais lento
na sua consolidação e partindo das premissas francesas (“opus francigenum”), adquiriu depois
originalidade de desenvolvimento, acentuando-lhe a tendência ao verticalismo.

27
Idem, pág.297.
28
K. BIHLMEYER e H. TUECHLE, História da igreja: idade média, pág. 324.
29
Cfr: Ibidem
13
Os primeiros monumentos do severo e simples gótico primitivo em solo alemão são a
igreja de Santa Isabel em Marburgo (1235-83) e a igreja de Nossa Senhora em Tréveros (1242-
57).
Ainda no século XIII,
o gótico estendeu-se também pela Itália onde alcançou esplêndidas interpre-
tações nas catedrais de Sena, Orvieto, Florença em numerosas igrejas do Mendicantes.
Contudo, em confronto com as regiões nórdicas, o estilo sofre no sul notáveis variações
(o desenvolvimento horizontal predomina sobre o vertical, a projecção para o alto é
mitigada, as torres são independentes)30.

Características do estilo gótico


Em contraposição ao românico, em que domina a estrutura murária sólida, o gótico é
essencialmente arquitetura de sustentáculos: as massas são soltas e transformadas em elementos
de suporte, ao passo que o muro permanece agora quase somente a função de enchimento e
fechamento.
Na construção toda domina a tendência vertical, assim como na basílica e em geral no
estilo românico, havia dominado a horizontal. Essa tendência exprime-se sobretudo nas pos-
santes torres arremessadas para o céu, terminado numa agulha, que frequentemente culmina
numa flor-de-lis de pedra.
Os elementos constitutivos do gótico são o arco ogival, a abóbada em nervuras, ou
costões e o sistema de contrafortes sobre o que se apoia a ousada parede lateral da abóboda.
Com o emprego do arco ogival está conexa a introdução de coberturas retangulares na
nave central, em número correspondente agora ao das naves laterais, ao passo que antes a cada
uma das coberturas quadradas da nave central correspondiam duas naves laterais. As naves
laterais elevam-se às vezes à mesma altura da nave central.
Cada uma das partes arquitetónicas na arte gótica é ainda ricamente cuidada. As esbel-
tas pilastras verticais articulam-se em feixes de semi-colunas ou de colunas em ¾, com canelu-
ras e pilares polistilos, os contrafortes são coroadas do agulhas e os arcobotantes interrompidos
e ornados com arabescos e figuras. Acima dos portais e das janelas elevam-se tímpanos rica-
mentos trabalhados, encimados por um florão cruciforme, ladeado por pequenas agulhas. As
imensas janelas entre as pilastras são assinaladas por colunetas e no campo superior da arcada
são invadidas por tramas ornamentais em baixo relevo (trilobadas, quadrilobadas)31.

30
Ibidem
31
Cfr: Idem, pág. 325.
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Conclusão

Depois de navegarmos nesta maré da era da cultura e da arte no apogeu da cristandade


medieval, chegamos as seguintes conclusões:
 A Escolástica foi um vasto fenómeno cultural, com especial incidência na teologia e na
filosofia, que se desenvolveu na base e a partir da estrutura escolar da Idade Média,
entre os séculos XI e XV; e teve o seu apogeu no século XIII;
 Graças a Alberto Magno e Tomás de Aquino, o pensamento Aristotélico foi purificado
e interpretado em sentido cristão tornou-se realmente a autoridade decisiva, o «filósofo
da escolástica»;
 Graças ao monge camaldulense Graciano, Pai da ciência canónica, o Direito Canónico
começa a tomar corpo e pela primeira vez, no século XII, o mesmo com um método
dialéctico é tratando como matéria distinta da teologia geral;
 As Universidades nascem com intuito de dar ao estudante o domínio de determinados
textos fundamentais e treiná-los para refletir sobre eles com exactidão;
 O seu curriculum primitivamente deveria abranger o trivium (lógica, gramática e retó-
rica) e o quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia);
 Esta época do apogeu da Cristandade medieval é marcada sobretudo pelas arquiteturas
de estilo românica e gótica, e o estilo gótico torna uma glória da baixa Idade Média.

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Bibliografia

 BACELAR, Renan Victor Boy, Direito Canônico: vivências históricas e teóricas da


cultura jurídica ocidental, UFMG, Belo Horizonte, Brasil, 2018.
 BIHLMEYER, K. e TUECHLE, H., História da Igreja: idade média, vol.II, Paulinas,
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 VILANOVA, Evangelista, Historia de la Teología Cristiana, vol.I, Editorial Herder,
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