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Nome: Sara Zacarias Aurélio

Ensino da Literatura em Moçambique: Prespectivas e Desafios

No Sistema Nacional de Ensino de Moçambique, embora se verifiquem tendências da


progressiva redução, a literatura sempre esteve presente como parte dos conteúdos da
disciplina de Português. Ao longo do tempo, e apesar das mudanças operadas no
Sistema de Educação e nos currículos, essa presença sempre foi, pelo menos
quantitativamente, bastante significativa. No Plano Curricular, propõe-se que o ensino
sirva a fins identitários, enquanto nos Programas de Ensino diz-se que a literatura
deverá servir, simultaneamente, para o desenvolvimento do gosto pela leitura e pretexto
para o estudo de aspectos formais e linguísticos dos textos. Para além disso, quer num,
quer noutro documento, os enunciados não delineiam de forma objectiva as orientações
do trabalho que se deve realizar, fazendo apenas declarações bastante genéricas. O outro
aspecto notável na análise dos documentos é a repetição, no programa de todas as
classes, do mesmo texto que enuncia a proposta de trabalho, deixando evidente a
ausência de planos específicos para o ensino de literatura em cada classe.

A ausência de orientações curriculares explícitas constitui um grande constrangimento


ao trabalho dos professores com a literatura, e tem dado espaço para múltiplas
utilizações dos textos e conteúdos de literatura na aula de língua portuguesa, nem
sempre orientadas para o contacto e envolvimento do aluno com o texto e
desenvolvimento das competências necessárias para a constituição de um sujeito
cidadão

1. Metodologia de ensino da literatura em Mocambique

Em Moçambique a literatura é ensinada na disciplina de português, cabendo ao


professor da disciplina a melhor metodologia para a selecção dos conteúdos. Deste
modo, o professor tem que enfrentar a difícil missão de ensinar, primeiro, a língua que
para muitos alunos é língua segunda, e, por último, percorrer o tenebroso caminho das
letras. Desta feita, na selecção dos conteúdos, em muitos casos, os professores preferem
privilegiar o ensino da gramática tradicional cujos conteúdos já vêm previamente
expostos no livro do aluno, tornando as aulas mais voltadas para a memorização de
regras gramaticais, deixando um vazio na componente de formação reflexiva do aluno,
que pode ser adquirida num contexto de aula integrada com a literatura. Os resultados
desse problema são actualmente notórios nos graduados de diferentes níveis de ensino:
falta do gosto pela leitura, dificuldades na escrita e na construção de discurso coerente,
quer ao nível oral quer escrito.

Para inverter o problema, os professores não se devem limitar ao ensino das regras do
funcionamento da língua (Gramática Tradicional), devem sim ensinar, de forma
integrada a gramática tradicional bem como a gramática descritiva e reflexiva. Para tal,
o professor de português deve ter a capacidade de seleccionar conteúdos e/ou
actividades que estimulem o desenvolvimento de habilidades de leitura tais como os
resumos, as resenhas e os debates.

A falta de propostas metodológicas sistematizadas e fundadas em pressupostos teóricos


explícitos sobre literatura, leitura e seu ensino constitui outro dos grandes problemas do
ensino da literatura na escola. Os professores, no contexto moçambicano, confrontados
com um número elevado de turmas, invariavelmente numerosas, ao que se acrescentam
constrangimentos relacionados com a falta de livros e obrigações de cumprir os
programas escolares, geralmente conduzem as suas aulas com recurso aos livros
didácticos. Apesar de, na generalidade, esses livros fornecerem o mesmo tipo e
sequências de actividades (apresentação do texto, explicitação do vocabulário,
questionário com perguntas de avaliação, explorando elementos formais dos textos e
exercícios gramaticais), apresentarem grandes confusões e inconsistências teóricas e
nem sempre estabelecerem uma articulação compreensível com os objectivos
programáticos, os professores fundam as suas práticas nesses materiais sem procederem
a sua avaliação crítica e ou adaptação.

Reconhecendo a centralidade dos procedimentos metodológicos nas práticas de ensino


de literatura e a necessidade de ultrapassar abordagens fundadas nos modelos
tradicionais, comprovadamente ineficazes para a formação de leitores, diversos autores
têm sugerido conjuntos sistematizados de métodos que sirvam de suporte para o
trabalho com a literatura. Não se trata de um conjunto de actividades que se pretendam
modelos para implementar na sala de aulas, mas de linhas de orientação ou pressupostos
que norteiem o professor na formulação, estruturação ou escolha de procedimentos
didácticos que atendam aos objectivos que se pretende viabilizar, o perfil e as
necessidades dos alunos com que se trabalha, e as circunstâncias históricas e sociais das
práticas de ensino.
No currículo do ensino em Moçambique, concretamente o ensino secundário geral, há
ausência de clarificação sobre as finalidades, não se esclarecendo sobre o que se espera
que decorra no ensino da literatura e; as orientações metodológicas, definindo-se de
forma explícita e coerente quais devem ser os passos para trabalhar com conteúdos de
literatura e como organizar situações de aprendizagem que contribuam para desenvolver
no aluno as competências que se pretendem. Diante disso, é preciso fazer-se questões
relativas a para quê, como ensinar e quando ensinar a literatura. Deve-se discutir qual
deve ser o fim e o centro do trabalho com a literatura e quais caminhos permitem
viabilizar o projecto que se pretende com esse trabalho. Deve-se ensinar o texto na sua
dimensão formal, privilegiando-se os mecanismos da sua construção enquanto objecto
estético, autónomo, portanto, questões ligadas à retórica e poética, ou estudar a obra, as
suas funções transcendentes, o texto no contexto, focalizando-se a sua função?

Como qualquer prática pedagógica, o ensino de literatura não é neutro, cumpre,


evidencia e articula um determinado projecto político-social. Está sempre em causa
nesse ensino uma visão particular, um ideal da sociedade e de cidadãos que se pretende
formar. As finalidades do ensino da literatura são igualmente justificadas em função do
tipo de sociedade, das circunstâncias sociais e políticas, ou, ainda, em função dos
paradigmas pedagógicos e concepções teóricas dominantes.

No que se refere às finalidades do ensino de literatura, pode-se distinguir duas


abordagens. A primeira é aquela em que o ensino de literatura está associado a um
projecto nacionalista, servindo como veículo de elementos do património cultural da
nação. A segunda é aquela em que o ensino visa fundamentalmente o desenvolvimento
de competências de leitura. Na primeira vertente, a literatura é concebida enquanto
manifestação e repositório dos elementos caracterizadores da nação, o seu ensino visa
reforçar a noção e a consciência de identidade nacional. Por isso, investe-se em uma
perspectiva historiográfica do ensino de literatura.

2. Ensino da Literatura em Moçambique: Prespectivas e Desafios

No ensino secundário e pré-universitário, níveis em que o programa de língua


portuguesa já começa a ser mais exigente para o ensino da literatura nas aulas de língua
portuguesa, os professores não exploram com agudeza estes conhecimentos, ou se o
fazem, limitam-se explorando apenas a forma dos textos em aspectos como o verso, a
rima, a estrofe, se for o caso de textos em verso; para o caso dos textos do género
narrativo (romance, conto, etc.), o ensino destes, muitas vezes, não passa de uma leitura
oral sem mínimo debate sobre os aspectos do fundo do texto, o conteúdo/assunto, a
contextualização do texto.

O ensino da literatura é fundamental para a formação da personalidade dos cidadãos.


Nos programas de ensino de língua portuguesa, o ensino da literatura já vem aglutinado,
ainda que não se perceba concretamente o que se pretende ensinar na área de literatura
na maioria dos livros de língua portuguesa. Tal como acontece no ensino da língua, na
área do ensino da literatura, quer no ensino básico quer no ensino secundário e pré-
universitário, privilegia-se mais o ensino das figuras de estilo, a rima, a vida e obra de
autores, etc., faltando, desta feita, actividades concretas a serem realizadas na área da
oralidade, leitura e escrita e interpretação tal como demanda a importância de ensino da
literatura para o desenvolvimento das capacidades intelectuais do indivíduo.

O grande desafio que fica é como os professores de língua portuguesa conciliam estas
duas áreas de conhecimento sem criar separações entre a língua e literatura, ou então,
evitar questões em que os professores de português só privilegiam o ensino da língua
(através da Gramática Tradicional), e, nas aulas de literatura, estes orientam os alunos a
fazerem simples leituras sem nenhuma orientação prévia. Em muitos casos, textos com
liames literários são conscientemente ignorados pelo professor, passando-se ao aluno a
ideia de que “poesia é difícil”.

Este fenómeno que cai sobre a literatura nas escolas, já se reflecte na actual sociedade
que se está a criar – uma sociedade de estudantes e académicos com um défice de
conhecimento em diversas áreas do saber tais como social, política e cultural. Muitos
debates sobre a qualidade de ensino em Moçambique apontam o problema a estender-se
também para o nível superior, ou seja, cidadãos com Licenciatura, mas com problemas
de competências básicas, como uma boa oratória e escrita, lacunas que o ensino da
literatura podia proporcionar no âmbito da promoção do letramento. Para a melhoria do
ensino da literatura, será necessário observar os seguintes passos:

(i.) Selecção do texto

Sem desprezar o cânone para preservar a herança cultural das comunidades, a selecção
do texto a ser ensinado deve respeitar não só a contemporaneidade como a actualidade;
procurar diversificar os textos, respeitando a tendência do mais fácil ao complexo, pois
sabemos que há textos de leitura complexa que, se começarmos com eles numa aula, os
alunos podem ficar desmotivados, aliás, é mais fácil ensinar o aluno partindo do
conhecido para o desconhecido; criar dinamismo nos textos evitando trazer textos
enfadonhos, ou seja, só aqueles que o aluno já ouviu falar. Para tal, o professor deve
procurar trazer o conhecido e o desconhecido.

(ii.)O trabalho com o texto

Não basta mandar por mandar os alunos ler um texto. O professor deve, antes de nada,
em casa, ler individualmente a obra ou o texto escolhido de forma a perceber o que
poderá criar entusiasmo nos seus alunos.

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