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Universidade Rovuma
Cabo Delgado
2021
Ensinar a literatura e ensinar a teoria da literatura
A didáctica é uma disciplina essencialmente empírica, apoiando-se nos textos literários como
objectos de experiencia. Tal disciplina não quer transmitir a especificidade desses textos mas a
especificidade da experiencia que eles textos traduzem, segundo as leis do entendimento. Não se
pede à didáctica que possua métodos de análise da configuração dos textos, porque essa é a meta
da crítica textual. Pede-se-lhe antes que descubra as formas que essa configuração pode ser
comunicada e constitui um dado de conhecimento. Na sua essência, a didáctica é uma disciplina
da comunicação entre indivíduos que reconhecem a natureza adquirida dos textos para
indivíduos não possuem esse conhecimento.
O ensino da literatura terá de ser sempre a representação de alguma coisa ao espírito. Em que
consiste essa coisa representada? Quer a didáctica da literatura quer a própria literatura
constituem exercícios naturais das funções vitais da vida cognitiva, fazendo uso de todas elas: a
percepção externa do mundo sensível e dos seus fenómenos corresponde à criação textual do
autor; a consciência corresponde ao conhecimento do eu textual (todos aqueles que podem
representar esta identidade: autor, narrador, personagens) e dos seus actos; a razão corresponde
ao trabalho de leitura textual, facilmente identificado no trabalho crítico do estudo das relações
necessárias entre os sentidos de um texto, das identidades, causalidades, finalidades, leis e
princípios de significação.
Sobre a especificidade do texto literário, devia-se partir dos seguintes princípios orientadores:
A didáctica da literariedade
A pretensão didáctica da literariedade é um conceito proposto noa naos 20, pelos formalistas
russos para quem o que estava em causa era o aspecto formal do texto e não o seu conteúdo.
Continuar a insistir nesse conceito significa que os professores são obrigados a subscrever a
teoria formalista, que defendia que não há poetas nem personagens literárias: apenas há poesia e
literatura. Assim sendo, os professores de Português são obrigados pela filosofia formalista do
programa oficial a ensinar que Os Maias, por exemplo, não são de forma alguma um “romance
de família”, mas puro exercício de técnicas de narração, constituindo as personagens simples
artísticos de construção dessas técnicas.
Qualquer investigador formalista vai se ocupar apenas com os registos finais da representação
que será com o texto em si sem olhar para dentro que é diferente do investigador socrático que
vai se ocupar com um trabalho textual executado por um texto com efeitos que o texto executado
produz no entendimento, com as condições fizeram com o que o texto seja representativo de uma
determinada linguagem e inclusive averiguará se o texto não representa coisa nenhuma.
A expressão textos literários origina numa outra ciência a crítica literária que é por definição
sumária o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados da prática epistemológica da
estética a que chamamos de literatura. A génese do fenómeno literário não se faz naturalmente
com o objectivo de se relacionar com a pedagogia, da mesma forma que a pedagogia se constitui
em ciência independente do facto de vir a utilizar a literatura como objecto de realização, a
literatura não se fez para ser ensinada, mas de certeza que se pode ensinar sem com isso
excluirmos a sua originalidade nem nos servirmos desse facto de relação para separarmos
pedagogia. Existem com provas dadas, métodos científicos para análise da literatura, e neste
sentido, sim a literatura ensina-se.
Entende-se por saber complexo o saber que abrange ou encerra muitos elementos ou partes que
obedecem a uma estrutura planificada com método, isto é, um saber comunicável e observável
sob diferentes aspectos. Não tem nada a ver com ensino confuso, complicado, intricado, de
difícil apreensão, nem sequer no ensino apoiado numa didáctica da literatura anti-historicista, sob
efeito constante e hipnótico de desordem de ideias, mas antes se refere ao ensino fundado num
conjunto de representações ou ideias estruturadas e caracterizadas por forte impregnação erudita
e mesmo emocional, no caso em que o professor se empenhou apaixonadamente primeiro em
aprender, depois em ensinar e depois em ensinar consciente de que nunca deixará de estar a
aprender. É possível ensinar literatura, num primeiro estádio da escolaridade, com respeito ao
seu registo diacrónico ao mesmo tempo que não se descura a complexidade e multiplicidade de
cada época. Nenhuma época literária ficou entregue a um só individuo, por isso nenhuma época
literária pode ser desenraizada da historia e ser inserida numa teia impossível de escolas e
estéticas.