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Lirismo Trovadoresco - sua génese: as quatro teses

Segundo Manuel Rodrigues Lapa em lições da literatura portuguesa, os defensores


românticos apontam as razões de ordem literária sentimental (o exotismo da cultura
romântica, o prestígio, a rareza das requintadas, coisas do Oriente) e razões de ordem
cronológica (a anterioridade inegável do apogeu da civilização árabe – séculos X e XI –
sobre o da civilização cristã ocidental – séculos XII e XIII).

Para explicar a sua origem há quatro teses sistematizadas e expostas pelo Prof. M.
Rodrigues Lapa:

Tese folclórica – explica o nascimento da poesia trovadoresca a partir das festas pagãs
de Maio, da Primavera e dos cultos de Vénus, Baco e das divindades ligadas à vida.

Tese litúrgica – defende que esta poesia é uma derivação da poesia religiosa, com
origem na poesia hebraica e que o culto à Virgem Maria estaria na base do culto da
mulher, da veneração do trovador perante a dama cantada. Tratar-se-ia da profanação da
poesia litúrgica a que não seriam alheias as romarias e peregrinações religiosas,
especialmente a de Santiago de Compostela.

Tese arábica – justifica o aparecimento da poesia dos trovadores por influência da


poesia árabe, o que é defensável dada a supremacia dos Árabes em vários sectores –
química, matemática, agricultura, etc. Porque não na literatura?

Tese médio-latinista – explica o fenómeno trovadoresco a partir da poesia latina


sentimental (nomeadamente de Ovídio e Catulo), que teria sido popularizada pelos
goliardos e que estaria na origem da poesia provençal.

Embora a origem conserve algum mistério, parece que a hipótese mais provável
pressupõe a combinação da tese folclórica e da tese litúrgica.

Processos formais de versificação da poesia trovadoresca galego-portuguesa

Jogral → a actividade do jogral desdobrava-se em múltiplas funções que, com o


objectivo de recrear um público, combinavam os jogos histriónicos, o acompanhamento
musical, a interpretação de composições alheias ou próprias, a declamação de narrativas
épicas, etc. A importância do jogral enquanto meio de transmissão cultural, entre

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comunidades e entre gerações, deve ser enfatizada tendo em conta o peso da oralidade
sobre a escrita no ocidente medieval.

Menestrel → era, no século XIII, um músico-poeta (por vezes confundia-se com o


jogral, só que vivia sob a protecção de um nobre e andava de corte em corte).

Segrel → cavaleiro-trovador que andava de corte em corte (era da baixa estirpe e fazia-
se acompanhar de um jogral ou substituía-o). Na poesia trovadoresca galego-
portuguesa, a função do segrel aproxima-se da do jogral, visto que, além de executante e
de cantor, sabia compor cantigas.

Soldadeira ou jogralesca → cantadeira ou dançarina, a soldo, que acompanhava o jogral


(era, muitas vezes, de moral duvidosa).

Trovador → compositor (quase sempre fidalgo) da poesia e da música.

Atafinda ou atá-finda → processo poético que consiste em levar o pensamento,


ininterruptamente, até ao fim da cantiga, usando para isso o processo de
encavalgamento na articulação das estrofes.

Dobre → prova de virtuosismo formal que consistia na repetição vocabular simétrica em


que a palavra repetida poderia estar no início, no interior ou no final do verso, mas que a
disposição escolhida para a primeira estrofe tinha de ser a mesma em todas as estrofes; e
a palavra repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe.

Encavalgamento ou transporte → processo poético que consiste em completar a ideia de


um verso no verso seguinte, não coincidindo, portanto, a pausa métrica com a pausa
sintáctica.

Finda → estrofe curta (geralmente constituída por três versos) que serve de remate e em
que o poeta sintetiza o assunto da composição.

Leixa-prém → traduzido à letra: deixa-toma. É o procedimento formal necessário para a


cantiga paralelística perfeita. Consiste no seguinte: o 2º verso da 1ª estrofe repete-se no
1º verso da estrofe alternada ao longo de toda a cantiga.

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Mozdobre ou mordobre → a definição é feita a partir do dobre: a única distinção é que,
no mozdobre, a palavra repetida aparece em formas diversas (coincide às vezes com a
rima derivada).

Paralelismo → o paralelismo constitui uma das características estruturais da lírica


galego-portuguesa, consistindo na repetição simétrica de palavras, estruturas rítmico-
métricas ou conteúdos semânticos.

Paralelismo imperfeito → acontece quando o esquema do leixa-prém não se repete


rigorosamente.

Paralelismo perfeito ou puro → uso do leixa-prém.

Paralelismo semântico ou conceptual → repetição de figuras de retórica; repetição, por


outras palavras, daquilo que se disse na primeira estrofe. O paralelismo conceptual
recusa a repetição do leixa-prém ou a simples variação sinonímica.

Paralelismo sintáctico ou estrutural → repetição de uma determinada construção


sintáctica e rítmica. O poeta podia obter a variação mediante três processos:

- Substituição da palavra rimante por um sinónimo;

- Transposição das palavras (alteração da ordem);

- Repetição do conceito mediante a negação do conceito oposto.

Paralelismo verbal, literal ou de palavra → repetição (no mesmo lugar) de palavras,


expressões ou versos inteiros, na cantiga, quer siga ou não o leixa-prém.

Pode ocorrer também o paralelismo verbal com substituição sinonímica (embora


formalmente diferente, é semanticamente igual).

*As cantigas de Amor

As cantigas de amor são aquelas em que o poeta exprime os seus sentimentos por uma
dama, reflectindo a maioria das vezes um amor infeliz, incompreendido e insatisfeito.
Perante a senhor, o poeta apaixonado humilha-se, suplica e adora como um vassalo o
seu suserano. Frequentemente diz só lhe restar morrer de amor ao aperceber-se da
indiferença, frieza e distanciamento da amada. Essas cantigas revelam influência

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provençal (Provença é uma região que fica ao sul da França), mas os trovadores
portugueses não se limitaram à imitação, imprimindo grande sinceridade e lirismo a
suas composições. Assim se exprimiu D. Dinis, rei e trovador português:

“Quer’eu en maneira de proençal

fazer agora um cantar d’amor(...)”

Características das cantigas de amor

 A cantiga é posta na boca de um enamorado (trovador), que exprime os


sentimentos amorosos pela dama (destacando a sua coita de amor que o faz
"ensandecer" ou morrer);

 Eu-lírico masculino: é sempre o trovador que fala a sua senhor 1, sem jamais
revelar-lhe o nome;

 O amador implora ou queixa-se à dama, mas também ao próprio Amor;

 A «senhor» surge como suserana a quem o amador «serve», prestando-lhe


vassalagem amorosa;

 Idealização da mulher: a mulher é vista como um ser inatingível (ou é casada ou


pertence a uma classe social superior à do trovador); por não ser correspondido,
o poeta experimenta a coita d’amor (o sofrimento amoroso).

 O ambiente é, raramente, sugerido, mas percebe-se que a cantiga de amor é uma


poesia da corte ou de inspiração palaciana;

 A sua arquitectura de mestria, o ideal do amor cortês, certo vocabulário, o


convencionalismo na descrição paisagística revela a origem provençal;

 As canções de mestria são as que melhor caracterizam a estética dos cantares de


amor.

A relação amorosa nas cantigas de amor

1
Senhor: na época dessas cantigas era invariável aos dois géneros.

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 Nas cantigas de amor a beleza e a sensualidade da mulher são sublimadas, mas a
relação amorosa não se apresenta como experiência, mas um estado de tensão e
contemplação;

 A «senhor» é cheia de formosura, tipo ideal de mulher, com bondade, lealdade e


perfeição; possuidora de honra («prez»2), tem sabedoria, grande valor e boas
maneiras; é capaz de «falar mui bem» e rir melhor...

 O amor cortês apresenta-se como ideal, como aspiração que não tende à relação
sexual, mas surge como estado de espírito que deve ser alimentado...; pode-se
definir, de acordo com a teoria platónica, como ideia pura;

 Aspiração e estado de tensão por um ideal de mulher ou ideal de amor;

 Amor fingimento; enquanto o amor provençal se apresenta mais fingido, de


convenção e produto da imaginação e inteligência, nos trovadores portugueses,
aparece, supostamente, mais sincero, como súplica apaixonada e triste.

Tipologia das cantigas de amor quanto à estrutura

Cantiga de mestria → segue a canso provençal e pode terminar com uma finda ou
tornada. Admite dobre, mozdobre, ata-finda e verso perdudo.

Cantiga de refrão → com refrão ou estribilho.

Descordo → cantiga de amor, de imitação provençal, em que o trovador, através de uma


composição estrófica e metricamente irregular, evoca os sentimentos contraditórios que
o assolam. É um género caracterizado pelo desacordo na isometria que era regra geral
na lírica medieval. É, pois, uma forma de fazer.

Lais → canção narrativa de carácter lírico, não pertence exatamente às cantigas de amor.

Pranto → com lamentações, imita o planh provençal.

Tenção → com discussão de uma questão de amor. Cantiga em que se confrontam dois
trovadores, sendo por isso ambos os autores da composição.

2 Prez: honra, mérito, valor.

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A tenção não é propriamente um género, mas uma forma, podendo, assim, identificar-se
com outros géneros.

Regras definidas para a tenção:

- Cada trovador tem uma estrofe alternadamente em que há uma disputa entre os dois;

- Cada qual tem o mesmo número de estrofes;

- As extensões são sempre de mestria;

- Se houver finda na canção, então serão duas, uma para cada trovador.

*As cantigas de Amigo

As cantigas de amigo são aquelas em que o trovador expressa, pela boca de uma
donzela, a menina, os sentimentos que supõe que esta sente em relação ao amado e os
estados emocionais experimentados por ela, que padeceria a paixão amorosa – a coita3
de amor. As cantigas de amigo têm origem na própria Península Ibérica. São, portanto,
de origem popular.

Características das cantigas de amigo

 A cantiga é posta na boca de uma donzela;

 Eu-lírico feminino: apesar de serem escritas por homens, as cantigas exprimem


um sentimento feminino. É a mulher que sofre por estar separada do amigo
(amante ou namorado).

 A donzela exprime a sua situação amorosa ou os seus dramas na relação com o


amigo;

 A donzela é uma moça solteira, simples, enamorada e, por vezes, ingénua;

 Apresentam um carácter feminino traduzido na sedução do «corpo velido», nas


saudades, na confiança amorosa, no sofrimento e nos queixumes;

3 Coita: sofrimento amoroso.

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 O amor é natural e espontâneo, mas pode provocar os ciúmes, a angústia ou o
arrebatamento apaixonado;

 O ambiente rural, marinho e familiar, mostra que há sempre um contacto com a


Natureza que reflecte o estado de espírito da donzela e, muitas vezes, é
confidente;

 Possui carácter autóctone, pois é da região galaico-portuguesa;

 A sua arquitectura é simples, com um fundo de frases feitas, tendo o refrão e o


paralelismo como marcas distintivas.

As cantigas de amigo podem ser divididas, ainda, pela temática:

As alvas, ou albas, são as cantigas em que aparece o romper do dia, a alvorada, como
momento de separação e despedida de dois apaixonados

As barcarolas, ou marinhas, são chamadas assim por nelas predominarem os motivos


marinhos, referentes ao mar ou ao rio, onde a donzela vai esperar o amigo ou lamentar-
se da sua ausência.

As bailias, ou bailadas, são toadas simples que acompanhavam a melodia de dança.

Daí a importância que nelas tem o aspecto musical realçado pelo paralelismo e
existência indispensável do refrão. Ao contrário das anteriores, em que o tom é triste, o
tema é a alegria de viver e amar.

Nas cantigas de romaria, ou romarias, mencionam-se festas e peregrinações a


santuários e capelas onde a donzela vai cumprir promessas, rezar pelo amigo ou
simplesmente distrair-se em locais de culto que ainda hoje perduram.

Pastorela, cantiga de origem provençal, geralmente iniciada pela fala do cavaleiro que
declara o seu amor a uma pastora. Este género, entre nós, adquiriu algumas
características das cantigas de amigo – ambiente rústico, simplicidade da donzela –,
pelo que se integram, habitualmente, neste género de composições trovadorescas.

Tipologia da cantiga de amigo quanto à estrutura

Cantiga de mestria → cantiga de influência provençal, sem refrão, que evita repetições e
com frequência tem três coblas ou estrofes regulares.

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Cantiga de refrão → antiga que tem refrão, independentemente do género praticado.

Cantiga dialogada ou tenção → com diálogo da donzela com a mãe, amigas, irmã,
natureza personificada.

Cantiga paralelística imperfeita → acontece quando o esquema do leixa-prém não se


repete rigorosamente.

Cantiga paralelística perfeita ou pura → estruturada em dísticos monórrimos seguidos


de refrão de um verso com rima diferente. O paralelismo associa-se ao processo de
encadeamento das estrofes chamado leixa-prem. Esta técnica poética concretizava-se do
seguinte modo: o 1º dístico (estrofe-base) emparelhava com o 2º (estrofe responsória),
que reproduzia o primeiro com variação apenas da palavra rimante; o 3º dístico
retomava o segundo verso do 1º dístico (leixa-prem), acrescentando-lhe um verso novo
que desenvolvia a ideia contida no verso repetido; o 4º dístico retomava o segundo
verso do 3° dístico com variação; a progressão do pensamento verificava-se, deste
modo, sempre no segundo verso das estrofes ímpares, culminando na penúltima estrofe.

Cantigas de Escárnio e Maldizer

São cantigas satíricas (picantes, maliciosas) que expressam o modo de vida dos
ambientes dissolutos (ambientes libertinos, licenciosos) e documentam a vida boêmia
do ambiente trovadoresco. A linguagem admite expressões licenciosas e chulas (de
baixo calão, palavrões) e documenta os meios populares daquele tempo, quando havia
os jograis de má vida e o acompanhamento de soldadeiras (mulheres a soldo,
prostitutas) que são retratadas.

A canção de escárnio é aquela em que a sátira se constrói indirectamente, por meio de


ironia e sarcasmo, usando palavras encobertas, de duplo sentido. A de maldizer é aquela
em que a sátira é feita abertamente, com agressividade, sem palavras de duplo
entendimento, contudo, essa fronteira não é muito rígida

Estrutura Externa do Texto poético

 Verso é cada linha de uma composição poética que pode ter sentido completo ou
não, e é dotado de um ritmo e cadência (musicalidade) determinados.
 Estrofe é o conjunto de versos que formam uma unidade gráfica e sentido num
poema.

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Classificação das estrofes

Estrutura estrófica – as estrofes podem se classificadas consoante o número de versos


que as constituem.

Tipo de estrofe Quantidade de versos

Monóstico 1 Verso

Dístico 2 Versos

Terceto 3 Versos

Quadra 4 Versos

Quintilha 5 Versos

Sextilha 6 Versos

Sétima 7 Versos

Oitava 8 Versos

Nona 9 Versos

Décima 10 Versos

Irregular Mais de 10 versos

Rima

A rima consiste na semelhança de sons, normalmente nas sílabas finais dos versos
(Homofonia externa). A rima tem vários tipos de classificações:

 Quanto à sonoridade
 Quanto ao valor (riqueza, categoria)
 Quanto à posição no poema
 Quanto à tonalidade.

Classificação da Rima quanto à sonoridade

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 Rima consoante ou perfeita - quando, a partir da vogal da última sílaba tónica de
cada verso, se verifica a correspondência de todos os sons, vogais e consoantes.
Ex.: bola/escola, amigas/antigas
 Rima assonante, toante ou imperfeitas - quando apenas existe correspondência
de vogais. Ex.: bailarinas/raparigas, espelho/zelo, choro/imploro

Classificação da rima quanto à categoria ou valor ou riqueza

 Rima rica - quando a rima acontece entre palavras de diferentes classes


gramaticais. Ex.: cicatriz/ feliz, cantar/mar
 Rima pobre – quando acontece entre palavras da mesma classe gramatical. Ex.:
coração/ razão, dizer/fazer

Classificação da Rima quanto à posição na estrofe

Esquema rimático -atribui-se uma letra a cada rima (som), pela ordem das letras do
alfabeto.

 Rima cruzada - os versos rimam alternadamente, o 1º com o 3º e o 2º com o 4º –


o seu esquema rimático é ABAB.
 Rima emparelhada - os versos rimam seguidos – tem como esquema rimático
AABB.
 Rima interpolada - dois versos que rimam são separados por dois ou mais versos
de rima diferente – o esquema rimático desse tipo de rima é ABBA; ABCDA
 Rima solta ou branca (também chamado verso branco ou solto) - quando não
existe rima entre os versos.

Métrica

É medida do número de sílabas poéticas de um verso. Diz, portanto, respeito à


mediado verso, que se pode quantificar e classificar e assenta numa base fonética

Escansão é a designação que se dá à medição dos versos através da contagem de


sílabas métricas.

Atenção:

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As sílabas métricas podem não corresponder às sílabas gramaticais, pois contam-se
até à última sílaba tónica da última palavra de cada verso.

Exemplo:

Pes/ca/dor/da/bar/ca/be /la → 8 sílabas gramaticais

Pes/ca/dor/da/bar/ca/be(la) → 7 sílabas métricas

Classificação dos versos quanto à quantidade de sílabas métricas

Classificação Número de Sílabas

Monossílabo 1 Sílaba

Dissílabo 2 Sílabas

Trissílabo 3 Sílabas

Tetrassílabo 4 Sílabas

Pentassílabo ou redondilha menor 5 Sílabas

Hexassílabo ou heróico quebrado 6 Sílabas

Heptassílabo ou redondilha maior 7 Sílabas

Octossílabo 8 Sílabas

Eneassílabo 9 Sílabas

Decassílabo 10 Sílabas

Hendecassílabo 11 Sílabas

Dodecassílabo ou alexandrino 12 Sílabas

Bárbaros Mais de13 sílabas

Mas, afinal, como se mede?

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Medem-se ou contam-se as sílabas que constituem o verso. Mas atenção, não são as
sílabas gramaticais, são as sílabas tal como nos soam ao ouvido, conforme são
pronunciadas em voz alta. Por vezes podem coincidir, mas devemos tomar mais
atenção à pronúncia do verso e não às sílabas da palavra considerada isoladamente.
É preciso respeitar algumas regras quando se faz a escansão.

Exemplificando:

O/ po/e/ta/ é/ um/ fin/gi/dor - 9 sílabas gramaticais

Fin/ge/ tão/ com/ple/ta/men/te – 8 sílabas gramaticais

Que/ che/ga/ a/ fin/gir/ que/ é/ dor – 9 sílabas gramaticais

A/ dor/ que/ de/ve/ras/ sen/te. – 8 Sílabas gramaticais

O/ poe/ta é/ um/ fin/gi/dor -7 sílabas métricas

Fin/ge/ tão/ com/ple/ta/men/te – 7 sílabas métricas

Que/ che/ga a/ fin/gir/ que é/ dor -7 sílabas métricas

A/ dor/ que/ de/ve/ras/ sen/te.-7 Sílabas métricas

Algumas figuras de linguagem utilizadas em poemas

Metáfora é uma figura de linguagem. É um recurso semântico, Quer dizer que é um


meio utilizado por quem escreve, ou por quem fala, para melhorar a expressividade de
um texto literário. Metáfora é quando uma palavra está sendo empregada fora de seu
sentido concreto, real, literal. Trata-se de uma comparação implícita, subentendida no
texto. Se caracteriza por comparar sem que sejam empregados termos comparativos.
Exemplo: Aquele rapaz é um “gato”. – A metáfora ocorre porque implicitamente o
rapaz é comparado a um gato. Quer dizer que é encantador, fofinho, bonito, etc.
Notamos que é uma comparação, mesmo sem a presença de uma conjunção
comparativa. Trata-se de comparar sem utilizar um conectivo, (por exemplo “como”),
que caberia naturalmente na frase.

Metonímia é a figura de linguagem que é definida como a substituição de uma palavra


por outra, quando há relação de contiguidade, ou seja, proximidade de sentido entre
elas. É a substituição de palavras que guardam uma relação de sentido entre si.

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Exemplo: Eu uso sempre “Bombril”. (Aqui a palavra Bombril substitui palha de aço.
O nome da marca substitui o produto.)

Tipos de Metonímia

Esta figura de palavra acontece de diversas formas:

 Quando troca-se o autor pela obra.

Exemplos: Ela adora “ler Jorge Amado”. Neste caso o nome da obra é suprimido do
texto, ou seja é substituído pelo nome do autor. Entendemos que nem Jorge Amado é
lido, mas sim seu livro.

 Quando o continente é substituído pelo conteúdo.

Exemplos: Os meninos comeram dois “pratos” no jantar. Todos sabemos que não é
possível ingerirmos “pratos”. O que acontece é que nos alimentamos do conteúdo destes
recipientes. O continente que é a embalagem foi trocado pelo produto (conteúdo).

 Se trocarmos o inventor por seu invento.

Exemplos: “Thomas Edison” iluminou o mundo. Nesta frase notamos que o nome do
inventor substitui o invento. Thomas Edison inventou a luz eléctrica. Quem ilumina é a
lâmpada eléctrica descoberta por ele.

 Quando se toma o abstracto pelo concreto, ou vice-versa

Exemplos: Não resisti aos apelos daquela “meiguice4”. Meiguice indica uma pessoa
meiga, singela.

 Caso o símbolo seja trocado pela coisa ou entidade.

Exemplo: Pela “cruz” vencerás. A cruz simboliza a fé do cristão, sua crença e confiança
em Deus.

 Se o efeito for tomado pela causa ou vice-versa.

4
Meiguice: Sentimento, acção, comportamento que expressa afeição; em que há ou demonstra
carinho; afabilidade.

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Exemplos: Respeito seus “cabelos brancos”. Nesta frase, a expressão “cabelos
brancos” é o efeito causado pela idade avançada de alguém (velhice).

Eufemismo ocorre quando aceita-se e usa-se uma palavra ou expressão em lugar de


outra, por diversos motivos, em diferentes situações. Efectua-se a substituição da
palavra, para evitar expressões ou vocábulos que causem mal estar, que sejam de mau
gosto, palavras ofensivas, ou que provoquem efeitos desagradáveis.

Exemplo: O homem ficou rico por “meios ilícitos”. – A expressão destacada substitui o
verbo “roubar”. Desta vez você “não se deu bem” nas provas. (Foi reprovado, errou
quase tudo).

Anáfora é a figura da repetição. Ocorre quando uma mesma palavra ou várias, são
repetidas sucessivamente, no começo de orações, períodos, ou em versos. A repetição
tem o objectivo de dar ênfase e tornar mais expressiva a mensagem.

Exemplo: Quando não tinha nada eu quis


Quando … esperei
Quando tive frio tremi.
Verifica-se neste exemplo que a palavra quando foi repetida no inicio de cada verso.
Catacrese é caracterizada por utilização de um termo fora de seu sentido real. Ela é
empregada naturalmente, por não existir um nome adequado ou específico para
identificar aquilo que se quer expressar.

Exemplo: Dente de alho. O alho tem forma semelhante a um dente.

Sinestesia é uma espécie de metáfora que consiste na união de impressões sensoriais


diferentes.

Exemplo: O cheiro doce e verde do capim trazia recordações da fazenda, para onde
nunca mais retornou, (cheiro = sensação olfactiva; doce = sensação gustativa; verde =
sensação visual).

Aliteração é uma figura de linguagem que consiste na repetição de sons de consoantes


iguais ou semelhantes. Ocorre geralmente, no início das palavras, que compõem versos
ou frases, mas pode estar também no meio ou no fim.

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Exemplo: O rato roeu a roupa do rei de Roma. Neste conhecido trava-língua podemos
facilmente notar o “r” no começo de todas as palavras.

Apóstrofe é a figura do chamamento, da invocação. É a forma de exteriorizar a voz que


chama, que grita, que fala, enfatizando seu chamado. Dentre as figuras de Linguagem é
uma das mais fáceis de se identificar, pois, não deixa dúvidas. Revela-se por meio do
vocativo. Vocativo – termo que na oração é usado para chamar o interlocutor, que pode
ser real ou imaginário.

Exemplo: Oh! Deus, perdoe este pobre coitado

O sol se arretirou

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho…”

Aí temos Apóstrofe no apelo, chamamento ou interpelação das expressões: “Oh! Deus,


… e Senhor, …”

Ironia consiste na inversão de sentido: afirma-se o contrário do que se pensa, visando à


sátira ou à ridicularização.

Exemplo: “Cada vez que você interrompe seu colega, sem pedir licença, percebo como
é bem-educado”. Percebe-se que, se alguém interrompe sem pedir licença não é bem-
educado, portanto, neste exemplo há inversão de sentido das duas expressões
destacadas.

Literatura brasileira – Periodização

A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que
acompanhavam a evolução politica e económica do país: a era colonial e era Nacional,
separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação politica do
Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas de escolas literárias ou estilos de
época. Dessa, temos:

Era Colonial (de 1500-1808) – Quienhentismo (1500-1601), seiscentismos ou barroco


(1601-1768) e Setecentismo ou Arcadismo (1768-1808).

Período de transição (1808-1836).

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Era Nacional (1836 até aos nossos dias) – Romantismo (1836-1881), Realismo (1881-
1893), Simbolismo (1893-1922), Modernismo (1922-1945) e Pós-Modernismo (1945
até aos nossos)

Quinhentismo brasileiro

Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias


ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura
europeia em terras brasileiras.

Momento histórico

O homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta em pleno século XVI duas


preocupações distintas: a conquista material, resultante da política das grandes
navegações, e a conquista espiritual resultante, no caso português do movimento
Contra-Reforma. Essas preocupações determinaram as duas manifestações literárias do
quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as
riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira, etc), e a literatura de jesuítas, voltada
para o trabalho de catequese.

A literatura informativa

A literatura informativa, também chamada da literatura dos viajantes ou dos cronistas,


reflexo que é das grandes navegações, empenha-se em fazer um levantamento da “terra
nova” , de sua flora e fauna, de sua gente. Daí ser uma literatura meramente descritiva e,
como tal, sem grande valor literária. No entanto, seu valor histórico deve ser salientado,
pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil do século XVI.
Sua principal característica é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu
diante do exotismo e da exuberância de um mundo tropical. Com relação a linguagem, o
louvor à terra transparece no uso exagerado de adjectivos, quase sempre empregados no
superlativo.

A literatura dos jesuítas

Foi criada pelos jesuítas, isto é, pelos membros da organização católica companhia de
Jesus e era voltada principalmente para o trabalho de catequese. Com o propósito de
catequisar aos povos indígenas e, mais tarde, ao serviço da contra-reforma católica, os
jesuítas logo sedo se fizeram presentes em terras brasileiras. Marcaram essa presença

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não só pelo trabalho de doutrinação indígena, mas também através da produção literária,
constituída de poesias de fundamentação religiosa, intelectuais despojadas, simples no
vocabulário, fácil e ingénuo.

Setecentismo ou Barroco

O termo “barroco” é um período estilístico e filosófico que abrange as manifestações


culturais da época seiscentista, foi inspirado no fervor religioso e na passionalidade da
contra-reforma e é fruto de uma atitude espiritual complexa, que leva o Homem a
exprimir-se na pintura, arquitectura, na música, na poesia, na oratura e na vida seguindo
um modo muito particular. O berço do barroco é a Itália do seculo XVII, porem
espalhou-se por outros países europeus.

Características do Barroco

O estilo barroco nasceu da crise dos valores renascentista, ocasionada pelas lutas
religiosas e pelas dificuldades económicas decorrentes da falência do comércio co o
Oriente. Assim, destacam-se, como características da literatura barroca:

Cultismo – é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela


valorização do pormenor mediante jogos de palavras com visível influência do poeta
espanhola Luís de Gôngora; daí o estilo ser conhecido por gongorismo.

Conceptismo – é marcado pelo jogo de ideias, de conceito, seguindo um raciocínio


logico, racionalista, que utiliza uma retorica aprimorado.

Sensorialismo – verifica-se o gosto do poeta ao descrever uma açucena. Trata-se do


início de um soneto de autoria de António Ribeiro da Costa, um dos tantos versejadores
barrocos d Portugal. Observa-se que os sete primeiros versos constituem uma sequência
acumulada de imagens sensoriais que procuram caracterizar, de forma concreta
especialmente visual, a flor em destaque.

Descritivismo – é outro traço que está geralmente associada ao interior. Nota-se o


forçado jogo de palavras com que é homenageado um certo coronel José Pires de
Carvalho por um autor barroco.

Romantismo

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Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas
décadas do século XVII na Europa que durou por grande parte do século XIX.

Romantismo no Brasil

O romantismo inicia-se no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica, na


França, a Niterói – revista brasiliense e lança um livro de poesia intitulado suspiros
poéticos e saudades. O romantismo brasileiro, considerado por vários historiadores
como o verdadeiro início de uma literatura nacional, está intimamente ligado a todo o
processo de independência politica.

Características do romantismo

As características do início do romantismo são em alguns casos, praticamente opostas


àquelas encontradas no final do movimento romântico pois no decorrer do período
houve uma nítida evolução no comportamento dos autores. Portanto, o primeiro passo
para tentar identificar as características românticas é entender o romantismo como um
estilo de época delimitado no tempo, ou seja, como o período que se inicia nos últimos
anos do século XVIII e se estende até meados do século XIX.

Inicialmente, romântico era tudo aquilo que se opunha a clássico. Os modelos da


antiguidade clássica são então substituídos pelos da idade média; A uma arte de caracter
erudito e nobre opõe-se a uma arte de caracter popular, que valoriza o folclórico e o
nacional; O individuo passa a ser as centradas atenções, voltando-se para a imaginação e
para os sentimentos, o que resulta uma interpretação subjectiva da realidade.

Gonçalves de Magalhães define o romantismo e suas características básicas sob dois


enfoques – conteúdo e forma – que, como em qualquer outro movimento literário,
devem-se harmonizar.

Quanto ao aspecto formal, a literatura romântica se desvincula completamente em dois


padrões e normas estética do classicismo. O verso livre, sem métrica e sem estrofação, e
o verso branco, sem rima, caracterizam a poesia romântica, prevalecendo, assim, o
“acento da inspiração”.

Quanto ao conteúdo, os românticos cultivam o nacionalismo que se manifestava na


exaltação na natureza pátria, no retorno ao passado histórico e na criação do herói
nacional. Da exaltação do passado histórico nasce o culto à idade média, que, além de

Elaborado por: Saíde Hassan e Jacob Norberto Página 18


representar as glórias e tradições do passado assume o papel de negar os valores da
antiguidade clássica, como o paganismo.

A natureza assume múltiplos significados: ora é uma extensão da pátria, ora é um


refúgio à vida atribulada dos centros urbanos do século XIX, ora é um prolongamento
do próprio poeta e de seu estado emocional.

A outra característica marcante do romantismo e verdadeiro “carta de visita” de todo


movimento, é o sentimentalismo, a supre valorização das emoções pessoais: é o mundo
interior que conta, o subjectivismo. E à medida que essa busca dos valores pessoais se
intensifica, com o culto do individualismo e do pessoalismo, perde-se a consciência do
todo, do colectivo, do social. A excessiva de valorização do “eu” gera o egocentrismo: o
ego como centro do universo. Evidentemente, surge aí um choque entre a realidade
objectiva e o mundo interior do poeta. A derrota inevitável do ego produz um estado de
frustração e tédio, que conduz à evasão romântica. A saudade da infância, as constantes
idealizações da sociedade, do amor, da mulher, no entanto, essas fugas tem idas e
voltas, excessão feita à maior de todas as fugas românticas: a morte.

Resolução do exame normal de LPB - 2016

1. O objectivo económico nas aventuras marítimas dos portugueses é a conquista


dos bens materiais e o objectivo religioso é dilatação da fé cristã.

2. a) Data da introdução do barroco em Portugal – 1580 e 1756. Dois respectivos


escritores Padre António Viera e D. Francisco Manuel de Melo.

b) Data da introdução do barroco no Brasil – no século XVII e XVIII (1601-


1700). Dois respectivos escritores Bento Teixeira e Gregório de Matos.
3. a) Cultismo – é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante;
pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras com visível influência
do poeta espanhola Luís de Gôngora; daí o estilo ser conhecido por gongorismo.
b) Conceptismo – é marcado pelo jogo de ideias, de conceito, seguindo um
raciocínio logico, racionalista, que utiliza uma retorica aprimorada.
4. a) As características do romantismo são: Religiosidade, Idealismo,
Nacionalismo e Predomínio da emoção.

Elaborado por: Saíde Hassan e Jacob Norberto Página 19

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