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Tópicos essenciais da poesia trovadoresca

Trovadorismo
O Trovadorismo ou Primeira Época Medieval é o período que se estende de 1189 ou
1198 - data provável da Canção Ribeirinha, escrita por Paio Soares de Taveirós - até
1434, com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista da Torre do Tombo.
A cultura trovadoresca, surgida entre os séculos XI e XII, reflete bem o momento
histórico que caracteriza o período: na Europa cristã, a organização das Cruzadas em
direção ao Oriente.
Na Península Ibérica, a luta contra os mouros; o período descentralizado e as relações
entre os nobres determinados pelo feudalismo (a vassalagem); o poder espiritual em
mãos do clero católico, detentor da cultura e responsável pelo pensamento
teocêntrico (Deus como o centro de todas as coisas).

Cantigas trovadorescas é a denominação concedida aos textos poéticos da Primeira


Época Medieval. Em geral, eram músicas cantadas em coro, por isso o nome
"cantigas".
Há dois grandes grupos de cantigas: as cantigas líricas e as cantigas satíricas. As
cantigas líricas estão subdivididas em: 
 cantigas de amor 
 cantigas de amigo.
Já as cantigas satíricas em cantigas de escárnio e de maldizer.

Cantigas de amor

São invariavelmente escritas em primeira pessoa. Nelas, o eu-poético declara seu amor


a uma dama, tendo como pano de fundo o ambiente palaciano. É por este motivo que ele
se dirige a ela, chamando-a de senhora. Esse tipo de cantiga mostra a servidão amorosa
dentro dos mais puros padrões da vassalagem.
Dessa forma, a mulher é vista como um ser inatingível. A mulher é uma figura
idealizada, a quem e dedicado um amor sublime também idealizado.
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Variedades das Cantigas de Amor:

1- Cantigas de mestria - tal como o nome indica são obras de mestre e sempre
perfeitas. Podem subdividir-se:
Tenções: diálogos em estrofes alternadas entre dois trovadores que se
contrariam um ao outro.
Prantos: são lamentações pela morte de alguém ou desabafos dolorosos da
coita de amor.
2- Desacordos - traduzem o drama emocional, o amor tempestuoso.
3- Refrão - (relativamente rudimentares) são cantigas onde aparece o refrão
( típico das cantigas de amigo)

Características peculiares dos cantares ou cantigas de amor da Península:

 Nas cantigas peninsulares há mais sinceridade e intensidade dos sentimentos


amorosos (nas provençais havia mais artifício e falta de sinceridade)
 As nossas Cantigas eram dirigidas a raparigas solteiras.

Cantigas de Amigo

Na Idade média o Homem está voltado para o Teocentrismo. O homem parte para a
guerra, ficando a mulher em casa com os filhos. A donzela ficava à espera do amigo, ia,
várias vezes, lamentar-se junto ao mar ou, simplesmente, junto de um santo. É uma
época de superstições, há uma grande importância na vida religiosa, como é o caso da
cantiga “ Pois nossas madres vão a Sam Simion”, onde enquanto a mãe vai orar, a filha
vai bailar com os amigos.

A natureza é amiga e confidente tal como a mãe(ex: “Vi eu, mha madr’andar”).

O cenário é campestre: fonte, montanhas, veados, mar…

Assuntos que tratam:

 o sentimento amoroso, a tristeza da ausência do amigo, como é o caso da


cantiga “Vi eu, mha madr’andar”;
 a saudade do passado
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 o ciúme e a vingança que podemos encontrar na cantiga “levad’ amigo que


dormides as manhanas frias”

Conceito de mulher – bela

São escritas em primeira pessoa, o eu-poético é feminino. Os autores são, contudo,


homens.

Finalmente, as cantigas de amigo caracterizam-se pelo recurso em maior ou menor


grau ao paralelismo*, que consiste na repetição da ideia expressa numa estrofe
na estrofe seguinte, formando pares, sendo cada uma delas encerrada por
um refrão.

As cantigas paralelísticas perfeitas têm as seguintes características:

 Coplas de dois versos (dísticos), seguidos de refrão (um verso);


 As coplas organizam-se em pares, de tal modo que a copla par repete
integralmente as ideias expressas na copla ímpar anterior – paralelismo
semântico (1-2, 3-4, 5-6, ...);
 Utilização do leixa-prem — o 2º verso da copla 1 é o 1º verso da copla
3; o 2º verso da copla 2 é o primeiro da copla 4, etc.

Uma cantiga paralelística perfeita obedece, portanto, ao seguinte esquema:

  Verso A   Verso B
  Copla 1 Verso B   Copla 3 Verso C
  Refrão   Refrão
 1º par      2º par    
  Verso A'   Verso B'
  Copla 2   Verso B'   Copla 4   Verso C'
  Refrão   Refrão

Cantiga de Escárnio
São cantigas que apresentavam, em geral, uma crítica direta e irónica.
Cantiga de Maldizer
São canções cuja estrutura comporta críticas mais diretas e grosseiras.

Estrutura ( o que é? )
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Pode ser entendida como a construção do poema na sua forma final. A estrutura
depende da função que nessa construção ocupam as estrofes (chamadas coplas), o
número de versos que elas compreendem, a sua extensão em número de sílabas, as
rimas, a eventual existência de refrão ou de versos em paralelismo*, etc. Pode dizer-se
que é a estrutura do poema que assegura o seu maior ou menor equilíbrio e dá
consistência aos temas poéticos; do mesmo modo, a estrutura do poema pode
contribuir para nos “impressionar” com a representação dos temas que nele estão
presentes.

Cerca de uma quarentena  de tais cantigas,  modernamente designadas como


"paralelísticas*", apresenta uma estrutura rítmica e versificatória própria, redutível a
um esquema muito simples. A unidade rítmica não é a estrofe, mas o par de estrofes,
ou, mais precisamente, o par de dísticos, dentro do qual ambos os dísticos querem
dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas palavras da rima, (...); o último verso de
cada estrofe é o primeiro verso da estrofe correspondente no par seguinte. Cada
estrofe é seguida de refrão.

Outro exemplo:
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 A este sistema deu-se o nome de paralelística. Mediante ele, é possível


construir uma composição de seis estrofes e dezoito versos em que apenas há
cinco versos diferentes incluindo o refrão.
 O refrão atesta a existência de  um coro. A disposição das estrofes aos pares e a
alternância das mesmas rimas ao longo de toda a composição deixam entrever
que se alternavam dois cantores ou dois grupos de cantores. A repetição, à
cabeça de cada nova estrofe, do verso final duma estrofe anterior é talvez o
vestígio de um primeiro processo de composição improvisada, que obriga um
dos improvisadores a repetir o último verso do outro, para o qual devia achar
sequência.

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