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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distancia

Orações Complectivas

Nome completo: Docente : Maria Manhice

Sidónia Eugénio Guila Linguística Descritiva do Português II

Código Nr: 708190370

Licenciatura em ensino de português

Sociolinguística

3ᵒ Ano

Maputo, Agosto de 2021


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Universidade Católica de Moçambique
Instituto de Educação à Distancia

Nome completo: Docente: Maria Manhice

Sidónia Eugénio Guila

Código nr: 708190370

Trabalho a ser apresentado a instituição


de ensino a distancia, centro de recurso
de Maputo, no curso de licenciatura em
ensino de português na cadeira de
LDPII, 3 ano.

Maputo, Agosto de 2021

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Índice
1 Introdução.....................................................................................................................................4

2 Orações subordinadas complectivas.............................................................................................5

As complectivas finitas e as infinitas...............................................................................................8

3 As complectivas finitas.................................................................................................................8

4 As complectivas não finitas..........................................................................................................9

5 As frases complectivas com infinitivo gerundivo......................................................................11

6 Aquisição de orações complectivas: algumas questões gerais...................................................12

As subordinadas complectivas infinitivas de para + infinitivo.....................................................12

7Conclusão....................................................................................................................................14

Bibliografia....................................................................................................................................15

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1 Introdução

As línguas podem ter mais de uma expressão morfossintáctica disponível para a expressão de
orações complectivas e produzir uma variedade de tipos de construções encaixadas intra e
interlinguisticamente (Dik, 1997b).
Portanto, o presente trabalho surge no âmbito das actividades curriculares do modulo de
Linguística Descritiva do Português, enquadrado na licenciatura de português. No mesmo, fara
se um estudo sobre as orações complectivas. O trabalho tem como objectivo geral, compreender
a aplicabilidade das orações complectivas em diferentes contextos linguísticos.
Contudo, o trabalho obedece a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na
Introdução está patente a ideia inicial em relação ao trabalho desde o tema a ser desenvolvido, os
objectivos por serem alcançados aquando da produção do trabalho, as metodologias e ainda a sua
estrutura. No desenvolvimento é feito relato minucioso do conteúdo que norteia o trabalho e por
fim a Conclusão com a ideia final e os ganhos em relação ao trabalho realizado. Incluirá
igualmente pensamento racional de alguns autores com vista a trazer aspectos importantes para o
desenvolvimento do tema. A pesquisa realizada neste trabalho foi classificada como descritiva,
pois, se buscou para a construção do referencial teórico explorar o tema a partir de uma pesquisa
bibliográfica, ferramenta que permitiu a exploração mais profunda de cada tema. Sendo assim,
na pesquisa descritiva os fatos são observados, registados, analisados, classificados e
interpretados sem que o pesquisador interfira neles.” (Ciribelli, 2003, p. 54).
Para o levantamento bibliográfico, foram consultados materiais publicados em livros, manuais,
dissertações e web sites. A base de dados mais utilizada foi o Google, utilizando-se a palavras-
chave: frase e orações complectivas. o material foi seleccionado de acordo com a relação destes
artigos com o tema e foi analisado segundo a interpretação dos mesmos, ou seja, depois de
recolhidos os dados, deve-se passar para a interpretação dos dados, que devem ser analisados,
controlados e classificados de acordo com a análise do trabalho estatístico e na interpretação.
(Ciribelli, 2003. Pág., 54).
O presente trabalho para uma fácil compreensão se encontra dividido em capítulos, títulos e
subtítulos e estão postos em negrito ou itálico as partes necessárias para uma boa percepção.

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2 Orações subordinadas complectivas

As orações subordinadas complectivas são orações basicamente introduzidas normalmente pelas


conjunções integrantes que ou se (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português
Contemporâneo, pág. 596).

Os estudos sobre a subordinação complectiva conferem atenção especial ao modo como as


propriedades do predicado encaixador e da complectiva interagem para determinar as
possibilidades de um constituinte figurar como matriz ou como complemento de outro
constituinte. Para Faber & Usón (1999), as diferentes concepções teóricas acerca do tema são
determinadas pelo ponto de vista a respeito da relação que se estabelece entre o predicado
encaixador e a oração complectiva.

A subordinação complectiva é um dos granes tipos de subordinação, caracterizável pelo facto de


a frase subordinada constituir um argumento de um dos núcleos da frase superior, tendo por isso,
uma distribuição aproximada da das expressões nominais.
Segundo Mateus e outros, gramática da língua portuguesa, pág. 595, s subordinação completiva é
um dos grandes tipos de subordinação, caracterizável pelo facto de a frase subordinada constituir
um argumento de um dos núcleos lexicais da frase superior, tendo, por isso uma distribuição
aproximada das expressões nominais. Ainda de acordo com as citações dos autores “a frase
complectiva é um argumento obrigatório, sendo que a sua supressão determina a
agramaticalidade da frase. Deste modo, pode se afirmar que as complectivas são uma unidade
sintáctica da frase superior, podendo ser substituídas por pronomes demostrativos invariáveis
como isto, isso, aquilo.

Ex:

Os críticos disseram [que o filme ganhou o festival]

Os críticos disseram [isso]

Os críticos disseram (agramatical).

O joao prometeu [ isso ]

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Todos lhe prometeram [ isso ]

Torna importante referir que, de acordo com Cunha e Cintra ( ob.cit.pag 597) , depois de certos
verbos que exprimem uma ordem , um desejo ou uma suplica, a línguas portuguesa permite a
omissão da integrante.

As subordinadas complectivas podem ser finitas ou infinitivas. Ocupam uma posição


argumental, podendo desempenhar a função sintáctica de sujeito ou complemento de verbos ou
ainda
a função de complemento de nomes ou adjectivos respectivamente.
As orações complectivas que são argumento interno de verbos podem ser ou não introduzidas
por preposição. Já as complectivas de adjectivo ou nome são sempre introduzidas por
preposições.
A proposta de Hengeveld e Mackenzie (2008) é a de que, em termos semânticos, orações
complectivas equivalem a unidades de diferentes ordens, sendo a semântica do predicado da
oração principal responsável por determinar o tipo de unidade interpessoal ou representacional
que pode ocorrer como oração encaixada.

Um aspecto recorrente em alguns estudos que tratam do fenómeno da complementação diz


respeito às propriedades semânticas do predicado encaixador em relação à oração complectiva.
Givón (1980), por exemplo, considera que a natureza semântica do predicado encaixador pode
ser vista como um factor indicativo do grau de integração da oração subordinada à oração matriz.
Hengeveld (1989, 1998) e Hengeveld & Mackenzie (2008) postulam que diferentes
Predicados encaixadores requerem diferentes tipos de complementos, cuja classificação depende
da camada em que estejam contidos. Numa perspectiva tipológica, Cristofaro (2003) entende que
as relações complectivas são identificadas com base no predicado que codifica o estado de coisas
principal e sua configuração semântica estabelece que tipo de especificação será requerido.
A semântica do predicado encaixador de complectivas parece ser altamente relevante para
predicações dependentes enucleadas em torno de uma construção nominal, de modo que a
gradação entre construções nominais com verbo finito e construções nominais com grau máximo
de nominalidade está correlacionada à categoria semântica do predicado encaixador. Embora não
haja necessariamente uma relação biunívoca entre a semântica e o tipo de construção, a categoria

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semântica do predicado encaixador é, ainda assim, um factor importante para a selecção da
forma de expressão das orações subordinadas.
As completavas podem ser substituídas podem ser identificadas por testes de substituição.
 As complectivas com a função sintáctica de sujeito podem ser substituídas pelo pronome
demonstrativo invariável isso em posição préverbal. Isso surpreende-me;
 com a função sintáctica de objectivo directo podem ser substituídas pelos pronomes
demonstrativos isso e –o: O João sabe isso/O João sabeo,

 As complectivas que funcionam como complementos preposicionados de verbos e


adjectivos podem ser substituídas pelo pronome demonstrativo isso precedido da
preposição relevante. Ex. Ele responsabilizou-se por isso,
 As complectivas que funcionam como complementos preposicionados de nomes podem
ser substituídas pelo determinante demonstrativa variável esse precedendo o nome que
selecciona a complectiva. Ex. Agrada-me essa proposta.
 As complectivas podem desempenhar a função sintáctica.
Exemplo:
 Sujeito (chamadas subjectivas por Cunha e Cintra);
É possível [que o João não venha a festa]
[isso é possível]
É verdade [que o João é alérgico a morcegos]
[isso é verdade]
 De objecto directo (objectivas directas, em cunha e Cintra)
O João sabe [que estamos a espera dele]
O João sabe [isso] / [ - o ]
O conselho lamentou [que não lhe tenha sido comunicada a decisão]
O conselho lamentou [ - o].
Portanto, as frases complectivas com a relação gramatical de objecto directo podem ser
igualmente substituídos por pronome demostrativo átono invariável.
 De oblíquo de objectos indirectos, complectivas nominais, em Cunha e Cintra)
O João insistiu [ em [ que fossemos a festa dele] ];
O João insistiu – o (agramatical).
Não me esqueço [ de [ que estas doente quando ele nasceu ]]
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Não me esqueço (agramatical)
Durante a idade media, os geógrafos não o defendiam a idade (agramatical)
Neste caso, as complectivas que desempenham relações gramaticais oblíquas não podem ser
substituídas pelo pronome demostrativo átono invariável [ -o].

As complectivas finitas e as infinitas


Estas orações subordinadas também podem ser do tipo finito ou infinitivo e, como já referido
atrás, variam o seu comportamento conforme o valor semântico-pragmático do predicado da
oração matriz. Há algumas orações subordinadas complectivas infinitivas que não são
introduzidas por nenhum elemento, como é o caso do que se passa em, havendo, no entanto,
alguns verbos, os verbos diretivos que designam atos de fala, como dizer, implorar, insistir,
pedir que aceitam a forma para + infinitivo
 O Presidente da Rússia prometeu pagar os salários em atraso aos trabalhadores.

 A Teresa disse à Joana para esquecer o sucedido

3 As complectivas finitas

Par Mateus, et al (2003), as complectivas finitas, independentemente de serem


Seleccionadas por verbos, adjectivos ou nomes, têm uma propriedade em comum: o verbo ocorre
numa forma finita do indicativo ou do conjuntivo:
Exemplo:
Os críticos disseram [ Fsub que esse filme ganhou o festival].
Os críticos desejam [ Fsub que esse filme ganhe o festival].
Particularidades no uso das complectivas finitas
No uso dos falantes, observam-se com frequência casos de adição ou supressão de uma
preposição antecedendo a complectiva finita, em contextos em a gramática não legítima
tal adição ou supressão. À adição da preposição, denomina-se dequeísmo.
Ex.: *“ O secretariado Europeu 1992[...] faz, através do presente aviso, de que pretende contratar
[...] três funcionários[...]”

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O fenómeno inverso é a supressão da preposição que introduz legitimante uma complectiva
finita. A preposição suprimida é frequentemente de e o fenómeno tem sido o queísmo.
Ex.: ?”os responsáveis pela campanha, desejos os que o convívio resultasse num sucesso, não
pararam de telefonaram para as casas das mais conhecidas figuras do palco”.
Trabalhos sobre a semântica das complectivas finitas têm também chamado a atenção
para o facto de nem sempre o Conjuntivo estar associado a dependência temporal (Silvano,
2002; Oliveira, 2008), como mostram os exemplos abaixo: o verbo pedir selecciona
Conjuntivo, verificando-se, no entanto, dependência temporal apenas quando o verbo da
complectiva se encontra no Pretérito Imperfeito.
a. O Rui pediu-me que fosse falar com ele.
b. O Rui pediu-me que vá falar com ele

4 As complectivas não finitas


As complectivas não finitas infinitivas canónicas caracterizam-se por exibirem o verbo no
infinitivo não flexionado ou infinitivo flexionado. As infinitivas canónicas não substituíveis por
orações gerundivos.
O infinitivo flexionado não pode ocorrer em todos os tipos
de infinitivas canónicas: Ex: Os miúdos querem [irem (eles) acampar no próximo fim-de-
semana].
 A distribuição do infinitivo flexionado nas infinitivas canónicas é condicionada por dois
factores: ocorrência da complectiva no contexto de um atribuidor de Caso;
 Estatuto temporal da oração infinitiva.
“Os atribuidores de Caso que legitimam complectivas com infinitivo flexionado podem ser: a
flexão finita da frase que contem o núcleo lexical que as selecciona, quando as complectivas têm
a relação gramatical de sujeito; uma verdadeira preposição ou um marcador causal preposicional,
em complectivas verbais, adjectivais e nominais com relações gramaticais oblíquas; um verbo
com traço causal acusativo, em complectivas verbais com relação de objecto directo.”
As complectivas com infinitivo flexionado nem sempre mantêm a ordem canónica SV. Ex. [Os
miúdos terem chegado cedo a casa] surpreende-nos.
Exemplo de complectivas não finitas:
a) Os pais disseram aos miúdos [para vir (em) para casa cedo].

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A maioria das complectivas infinitivas tem um complementador nulo (i.e., a)
posição de complementador não é preenchida,. No entanto, algumas complectivas infinitivas,
seleccionadas por alguns verbos declarativos de ordem, são introduzidas pelo complementador
para, que resulta da reanálise da preposição homófona.

As complectivas finitas e as complectivas infinitivas exibem ainda outras propriedades


distintivas. As complectivas finitas exibem contrastes de modo, em português como em outras
línguas românicas. Há, assim, complectivas finitas de indicativo ou de conjuntivo , dependendo
do verbo que as selecciona como argumento, estando o verbo relevante, o da frase matriz, em
itálico).
a. A mãe disse [que a criança comeu depressa].
b. A mãe quer [que a criança coma depressa].
As complectivas finitas que são complemento estão ainda associadas a um contraste interessante
no que diz respeito à interpretação de sujeitos: como mostram os índices em, enquanto o sujeito
nulo de um complemento finito de indicativo pode ser correferente com o sujeito da matriz
(leitura preferencial) a sua referência estabelecida por uma entidade saliente no discurso ou
contexto pragmático, na maioria dos casos o sujeito dos complementos finitos de conjuntivo não
pode ser correferente com o sujeito da matriz. A este bloqueio da correferência com o sujeito
matriz associado ao conjuntivo chama-se obviação referencial. [A mãe] disse [que [-] comia
depressa].
b. [A mãe] quer [que [-] k=i coma depressa].

A possibilidade de infinitivo flexionado é uma propriedade do português que o distingue de


outras línguas, inclusivamente línguas românicas, mas que sobrevive também, em contextos
limitados, no galego.
Os infinitivos flexionados podem ocorrer com sujeitos nulos ou com sujeitos plenos, que, quando
são pronomes, exibem Caso nominativo infinitivo flexionado tem, contudo, uma distribuição
mais limitada do que o infinitivo não flexionado em complectivas.
O infinitivo flexionado pode ocorrer em geral em complectivas que desempenham a função
sintáctica de sujeito; no caso de complectivo objecto de verbos com um único argumento interno,
assume-se geralmente que o infinitivo flexionado pode ocorrer em complementos de verbos
declarativos, epistémicos ou factivos, mas não como complemento de verbos volitivos.
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As complectivas infinitivas de infinitivo flexionado são ainda possíveis como complemento de
verbos causativos e perceptivos. Neste caso, o infinitivo flexionado é uma alternativa a um
complemento de infinitivo não flexionado: neste último caso, como o infinitivo não flexionado
não pode legitimar um sujeito com caso nominativo, esse sujeito exibe excepcionalmente caso
acusativo, como se verifica observando a forma do pronome.
a. {mandei/deixei/vi} [{as crianças/elas} fazerem o puzzle].
b. {mandei/deixei/vi} {-as/as crianças} fazer o puzzle.

No caso de complectivas que são complemento de verbos com mais de um argumento interno, o
infinitivo flexionado também ocorre. No entanto, neste último caso, ao contrário do que acontece
com os outros casos de infinitivo flexionado, se o verbo é um verbo de controlo de objecto (a
referência do sujeito do complemento oracional é obrigatoriamente estabelecida pelo objecto
directo ou indirecto do verbo), então a leitura de controlo de objecto (ou seja, a leitura em que se
verifica identidade referencial entre o sujeito encaixado e o objecto matriz) mantém-se mesmo
com o infinitivo flexionado.
O presidente obrigou [os arquitectos] i [a [-] reconstruírem a muralha].
Esta muito breve descrição dos diferentes tipos de orações subordinadas complectivas torna
evidente a complexidade da sua aquisição.

5 As frases complectivas com infinitivo gerundivo.

Os verbos preceptivos podem seleccionar como complemento frases infinitivas preposicionadas.


Ex.:Eu vi [os miúdos a devorarem o doce] / Eu vi [os miúdos a devorar o doce]. Estas
construções podem parafraseáveis em: Eu vi [os miúdos a devorando o doce] / Eu vi [os miúdos
que devoram o doce].
Para além da comutatividade com o gerúndio, a construção de infinitivo Gerundivo caracteriza-
se pelas seguintes propriedades: a) o infinitivo flexionado e o não flexionado encontram-se em
variação livre.
Ex. Eu vi [os miúdos a devorarem o doce] / Eu vi [os miúdos a devorar o doce];

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b) a sequência à direita do verbo preceptivo forma um único constituinte, como se conclui
do seu comportamento sob Topicalização e Pseudo-Clivagem e em pares pergunta
resposta.
Ex. [Os miúdos a devorar (em) o doce ], eu não vi [-]

Foi [os meninos a devorar (em) o doce] que eu vi

6 Aquisição de orações complectivas: algumas questões gerais

A aquisição de orações complectivas levanta uma série de questões gerais: por um lado, as
complectivas são uma instância de subordinação e discutir a sua aquisição leva a colocar toda
uma série de questões gerais sobre a emergência de capacidades de produção e compreensão de
processos de subordinação. Por outro lado, as orações complectivas são argumento (externo ou
interno) de predicadores (verbos, nomes, adjectivos) e as suas propriedades são condicionadas
pelas propriedades (sintácticas e semânticas) desses predicadores. Finalmente, e de um ponto de
vista semântico, a produção de orações complectivas permite expressar conceitos complexos,
como os que manifestam aquilo que se tem designado Theory of Mind.
De um ponto de vista geral, as estruturas com complectivas, como acontece com as estruturas
que envolvem subordinação, exemplificam a propriedade de recursividade da linguagem
humana: um dos elementos constituintes de uma frase é ele próprio uma outra frase, sendo
possível, usando esta propriedade, e de um ponto de vista puramente gramatical, construir uma
frase ilimitadamente longa.

As subordinadas complectivas infinitivas de para + infinitivo

As orações subordinadas complectivas infinitivas introduzidas por para são tipicamente


seleccionadas por verbos.
 Eu pedi-lhes para trazerem de beber.
 O João disse para irmos ao futebol.
 A Maria insistiu para irmos ver a nova banda tocar.

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Nas frases que representam pedidos, ordens, exigências, etc., mesmo que o destinatário não
esteja presente, este é normalmente interpretado como o sujeito da oração infinitiva, uma vez que
é pragmaticamente natural que quem executa o ato seja o mesmo a quem se faz o
pedido/ordem/exigência.
Por essa razão, este destinatário pode ser representado, na oração matriz, por um complemento
indirecto que, quando ocorre, é correferencial com o sujeito da
oração infinitiva que pode ou não estar foneticamente realizado:
 A professora disse (-te) para [-/tu] não copiares. (Barbosa e Raposo, 2013: 1930/31)
 Eu insisti (com os jardineiros) para [-/eles] não cortarem essa árvore. (idem)
 O prisioneiro implorou (aos guardas) para [-/eles] o libertarem. (idem)

Nas orações em que o objecto indirecto da oração matriz está expresso e é correferente com o
sujeito nulo da oração infinitiva, alguns falantes aceitam o uso do infinitivo simples:
 A professora disse-te para [-] não copiar. (Barbosa e Raposo, 2013: 1931)
 Ela insistiu com os jardineiros para [-] não cortar a árvore. (idem)
 Ele implorou aos guardas para [-] o libertar. (idem)
Quando se trata de pedidos expressos por pedir, insistir, implorar e não de ordens, a
correferência entre o sujeito da oração matriz e o sujeito da oração subordinada é permitida
e, nesse caso, tanto o infinitivo simples como o flexionado são possíveis:
 Nós pedimos (ao professor) para sair(mos) mais cedo. (Barbosa, Raposo 2013: 1931)
 Os alunos insistiram (com a professora) para ir(em) à casa de banho. (idem)
 Os prisioneiros imploraram (aos guardas) para ser(em) libertados.

Existe ainda uma terceira possibilidade de construção com estes verbos que exprimem
ordens/pedidos; de facto, pode ser expresso um terceiro elemento que não é nem quem faz o
pedido/ordem nem quem recebe o pedido/ordem, como nos exemplos seguintes:
(115) O professor disse-me para tu não copiares.
(116) A Maria pediu à mãe para o João ver televisão.

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7Conclusão

Com este trabalho, procurou se, por um lado, aprofundar o conhecimento sobre as orações
complectivas português e, por outro, explorar dados que possam trazer algumas relações assim
como as diferenças das orações complectivas finitas das não finitas.
As orações subordinadas complectivas caracterizam-se pelo facto de serem sempre um
argumento de um verbo, nome ou adjectivo da oração matriz, sendo por isso aproximadas a uma
expressão nominal.
No que diz respeito às complectivas infinitivas, o infinitivo flexionado é produzido
precocemente, mas não em todos os contextos possíveis; para além disso, algumas estruturas de
controlo oferecem dificuldades mesmo a crianças em idade pré-escolar (e, presumivelmente, em
idade escolar).
No que diz respeito às complectivas finitas, a estabilização da distribuição do conjuntivo
prolonga-se até pelo menos aos 9 anos. Finalmente, saliente-se que as subordinadas complectivas
são ainda um domínio em que se podem observar diferenças entre o desenvolvimento típico e o
atípico, podendo observar-se dificuldades na sua produção (por exemplo, omissão de
complementador nas finitas) de forma prolongada no desenvolvimento atípico.

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Bibliografia

Cunha, Celso, Cintra, Luís F. Lindley (1992). Nova Gramática do Português Contemporâneo.
Edições João Sá da Costa. Lisboa.

Universidade católica de Moçambique. Linguística Descritiva do Português 1.2 ano.


Moçambique.

Instituto Superior e Ciência e Educação a Distancia. Português I.1 Ano. Beira

Azeredo, José Carlos. Fundamentos de Gramática do português. Rio de Janeiro: Jorge


Zahar Ed., 2000.

Bechara, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª Ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003.

Cançado, M. Manual de semântica. São Paulo: Contexto, 2012.

Frege, g. Lógica e filosofia da linguagem. Tradução de Paulo Alcoforado. 2. ed. São Paulo:
Edusp, 2009. Saramago, J. Todos os nomes. Lisboa: Círculo de Leitores, 1997.

Kenedy, E. Curso básico de linguística gerativa. São Paulo: Contexto, 2013.


Levinson, S. Pragmática. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

Lyons, J. Lingua(gem) e linguística. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan S.A., 1981a.
________. Semântica. Lisboa: Editorial Presença/Martins Fontes,
1981b.

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