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(P5)
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f orem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer meios.
Hugo L P Magalhães
E-mail: hugo.magalhaes@ifce.edu.br
2022
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA V
Código:
Carga Horária Total: 40h CH Teórica: 40h CH Prática: -
CH - Prática como Componente Curricular do ensino: -
Número de Créditos: 2
Pré-requisito: -
Correquisito: -
Semestre: 5
Nível:
EMENTA
OBJETIVOS
Objetivos Gerais
Objetivos Específicos
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METODOLOGIA DE ENSINO
• Recursos audiovisuais:
• Lousa digital;
• Datashow.
AVALIAÇÃO
O processo de avaliação está diretamente ligado aos objetivos específicos de cada
atividade desenvolvida pelo trabalho em sala e pelo trabalho que o aluno desenvolve em
casa. Será, portanto, um instrumento de interação entre o professor e o aluno no
processo de ensino-aprendizagem, por meio de constante observação, durante a qual o
professor poderá direcionar estratégias de ensino, buscando a efetiva apreensão do
conteúdo por parte do aluno.
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LÍNGUA PORTUGUESA – V (40H/A)
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1 NOÇÕES DE SINTAXE.................................................................................................... 05
2 COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO........................................................................... 09
3 COORDENAÇÃO DE ORAÇÕES.................................................................................... 12
7 PRÉ-MODERNISMO......................................................................................................... 33
8 VANGUARDAS EUROPEIAS........................................................................................... 51
9 MODERNISMO: 1ª FASE.................................................................................................. 59
10 MODERNISMO: 2ª FASE.................................................................................................. 79
11 REPORTAGEM.................................................................................................................. 107
12 ENTREVISTA..................................................................................................................... 114
13 MANIFESTO.................................................................................................................... .. 114
15 GABARITO......................................................................................................................... 122
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Disciplina: Português V – AULA 1
Conteúdo: NOÇÕES DE SINTAXE: PERÍODO COMPOSTO
NOÇÕES DE SINTAXE
A sintaxe se ocupa de estudar as palavras agrupadas em segmentos que cumprem funções específicas no
discurso e as relações entre os segmentos;
É o estudo das relações que as palavras estabelecem entre si nas orações e das relações que se
estabelecem entre as orações nos períodos;
“A palavra estudada não em suas partes, ou em seus elementos mórficos, mas em grupo, em sociedade;
(...) mas se todo sintático é grupal, nem todo grupal é sintático, porque os elementos devem combinar -se
funcionalmente, relacionando-se uns com os outros” (MACAMBIRA, 1993, p. 18)
a construção é grupal, mas não é sintática, já que os elementos constituintes não são interdependentes, isto
é, não são significativamente, funcionalmente associados.
Por outro lado, quem diz sintático está dizendo funcional, pois a sintaxe estuda a função das palavras
organizadas em grupos.
1. O rato fugiu.
2. O gato comeu o rato.
3. Não gosto de rato.
4. Aquilo é um rato.
5. Tenho medo de rato.
6. Deste animal não gosto: o rato.
7. O queijo foi roído pelo rato.
Perceba que esse substantivo é o mesmo em todas as frases, no entanto, evidentemente, não assume a
mesma função. Isto é, a posição dele é crucial para se saber a exata função sintática que está
desempenhando na oração. Temos, respectivamente, assim: sujeito, objeto direto, objeto indireto,
predicativo do sujeito, complemento nominal, aposto e agente da passiva .
GRAMÁTICA INTERNA(LIZADA)
A gramática interna permite reconhecermos as estruturas convenientes da língua de que fazemos uso. É ela
que dá a cada um de nós a capacidade de rejeitarmos uma dada estrutura (ex.: “*Vejo menina uma linda!”)
e aceitarmos uma outra (ex.: “Me dá um cigarro aí!”), uma vez que o único critério considerado é o de “estar
de acordo com as regras da língua, ser uma das suas unidades ou estruturas”.
Qualquer usuário do português rejeitaria a estrutura “Vejo menina uma linda!”, pelo simples fato de o artigo
“uma” estar após o nome substantivo “menina”, visto que em português o artigo deve preceder o nome
substantivo. Esse mesmo usuário até poderia questionar o uso proclítico (antes do verbo, iniciando uma
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frase) do pronome oblíquo em “Me dá um cigarro aí!”, mas não a rejeitaria. Certamente o que o faria
questionar aquele uso é o conhecimento de um padrão da língua, preconceituosamente denominado “culto”,
o qual considera “errado” iniciar uma frase com um pronome oblíquo “átono”.
1. FRASE
Fogo!
Quem é?
Volta aqui!
Temos uma frase nominal, quando não há verbo, como: Socorro! Que calor! Quanta sujeira! etc.
Temos uma frase verbal, pois se encerra num verbo, assim como: A Terra gira, Açúcar engorda etc.
Coincidem com período simples (oração absoluta).
2. ORAÇÃO
Oração é a frase que se biparte normalmente em sujeito e predicado, embora falte sujeito em alguns casos.
É a estrutura cujo termo central, que é o verbo, conecta os demais termos a ele relacionados. Em geral,
denomina-se qualquer construção que contém verbo ou locução verbal.
3. PERÍODO
Como essa frase tem verbo, dizemos que se trata de uma oração. Por outro lado, só há um verbo, então se
trata de um período simples ou oração absoluta. Mas em
temos uma frase com dois verbos, logo duas orações, portanto um período composto.
4. OBJETO DA SINTAXE
Como vimos, a sintaxe é o estudo da palavra em combinação com outras palavras, de modo que todas estão
funcionalmente associadas. Daí temos a subdivisão:
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EXERCÍCIOS
1. Analise o texto abaixo e assinale a única alternativa CORRETA:
4. A sintaxe estuda a relação de associação entre os termos da oração, combinando -se funcionalmente.
Marque a alternativa em que essa combinação está devidamente estabelecida.
a) Que medo!
b) Ele chutou a porta.
c) O povo odeia os governantes populistas.
d) Coitadinho do garoto que perdeu o cachorro.
e) Transmitirei o recado a sua namorada porque gosto de você.
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6. Aponte a única alternativa abaixo que se trata de uma oração absoluta.
7. "Praias, baías e enseadas. Conquistas, batalhas e abandono. Fantasias, lendas e personagens. Fauna e
flora. Não faltam elementos para narrar essa história tão rica e cheia de surpresas como o próprio
protagonista: o arquipélago de Fernando de Noronha." Com base nesse trec ho, é correto afirmar que há
a) uma oração
b) duas orações
c) três orações
d) quatro orações
e) somente frases nominais.
8. "As alterações no regimento foram feitas sem conhecimento dos funcionários, por isso eles solicitaram
uma reunião para reformularem o documento." A respeito do trecho, pode-se dizer que há
a) frases nominais
b) períodos simples
c) orações absolutas
d) período composto
e) período simples e composto
10. Observe a imagem abaixo. Apenas duas afirmativas estão corretas. Assinale-as.
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Disciplina: Português V – AULA 2
Conteúdo: COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para estabelecer comunicação.
Oração, às vezes, é sinônimo de frase ou de período (simples) quando encerra um pensamento completo e
vem limitada por ponto final, ponto de interrogação, de exclamação e, em certos casos, por reticências. O
período que contém mais de uma oração é composto.
Um vulto cresce na escuridão. Clarissa se encolhe. É Vasco. (Veríssimo, 1953:118)
Nesse trecho há três orações correspondentes a três períodos simples ou a três frases. Cada uma delas
encerra um enunciado expresso num arcabouço linguístico em que entram um sujeito (vulto, claro na
primeira, mas oculto na última, e Clarissa) e um predicado (cresce, se encolhe, é Vasco).
Mas nem sempre oração (diz-se também proposição) é frase. Em “convém que te apresses” há duas orações
mas uma só frase, pois somente o conjunto das duas é que traduz um pensamento completo; isoladas,
constituem simples fragmentos de frase, pois uma é parte da outra: “que te apresses” é o sujeito de “convém”.
Quanto à sua estrutura sintática, isto é, quanto à característica da integridade gramatical explícita (existência
de um sujeito e um predicado), a frase pode ser simples (uma só oração independente) ou complexa (várias
unidades oracionais). Pela nomenclatura gramatical (brasileira ou não) vigente e tradicional, também a frase
simples se diz período simples, e a complexa, período composto.
(2) É um aluno bom, mas mal-educado: aqui temos um conector – mas – ligando dois termos: adjetivos.
(3) Estuda ou trabalha: aqui temos um conector – ou – ligando dois verbos: duas orações.
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EXERCÍCIOS
1. Acerca do fenômeno da coordenação, circule a afirmativa correta.
a) mudanças / irreversíveis
b) clima / ONU
c) irreversíveis / sem precedentes
d) homem / ONU
e) mudanças no clima / sem precedentes
4. No trecho abaixo, duas estruturas gramaticais estão em nível de coordenação, sobretudo, com a presença
da conjunção "e". Quais são esses termos?
a) Fifa / Copa
b) confirma / acerto
c) com Globo / por Copa
d) disputa judicial / pagamentos por Copa
e) fim de disputa judicial / acerto de pagamentos
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5. Considere os trechos abaixo e, em seguida, marque a afirmativa correta.
8. Após a análise do trecho a seguir, pode-se afirmar que (circule a opção verdadeira)
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Disciplina: Português V – AULA 3
Conteúdo: COORDENAÇÃO DE ORAÇÕES
GRUPOS DAS CONJUNÇÕES COORDENADAS
1) Conjunções ADITIVAS
Estabelecem-se quando mais um item é introduzido num conjunto ou, do ponto de vista argumentativo,
quando mais um argumento é acrescentado a favor de uma determinada conclusão. Opera por expressões
como: e, não só...como também, não só...mas também, tanto...quanto, nem...nem.
2) Conjunções ALTERNATIVAS
Podem ocorrer de duas maneiras: em primeiro lugar, sendo sinalizada pelo ou exclusivo, implica que os
elementos em alternância se excluem mutuamente, ou seja, não admitem que ambas as alternativas sejam
verdadeiras, como se pode ver nos exemplos abaixo:
Ex1: Circule a opção verdadeira ou sublinhe o item correto.
Ex2: Pague o aluguel ou será posto para fora.
Em segundo lugar, a alternância pode ser inclusiva, ou seja, por ela os
elementos envolvidos não se excluem; pelo contrário, se somam.
Ex3: Livro ou apostila podem ser úteis para o aprendizado.
3) Conjunções ADVERSATIVAS
A relação adversidade implica um conteúdo que se opõe a algo explicitado ou implicitado em um enunciado
anterior. Indica oposição, contraste. Opera por meio de expressões como: mas, contudo, porém, entretanto,
todavia, no entanto.
Ex1: O atleta se esforçou ao máximo, mas perdeu a competição.
Ex2: A economia precisa de mais incentivos fiscais. O governo, no entanto, não sinaliza favoravelmente.
Ex3: O candidato não se preparou suficientemente, porém fez uma boa prova.
As adversativas (mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto) marcam oposição (às vezes com um
matiz semântico de restrição ou de ressalva). Por serem etimologicamente advérbios — traço já muito
esmaecido em mas, mas ainda vivo nas restantes —, as adversativas, como também as explicativas e as
conclusivas, são menos gramaticalizadas, quer dizer, menos despojadas de teor semântico, do que e, nem
e ou. Sua função de conjunção é, aliás, fato relativamente recente na língua portuguesa, fato de ocorrência
posterior ao século XVIII. Ainda hoje, os dicionários registram entretanto, no entanto e todavia como
advérbios, embora lhes anotem igualmente a função de conjunções.
Por isso, por serem essencial e etimologicamente advérbios, é que no entanto, entretanto, contudo e todavia
vêm frequentemente precedidos pela conjunção e: “Vive hoje na maior miséria e, no entanto, já possuiu uma
das maiores fortunas deste país.”
Ao contrário de mas, que se usa unicamente em começo de oração, as demais conjunções adversativas
podem figurar ou no rosto da oração ou depois de um dos termos dela (ROCHA LIMA, 1999):
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4) Conjunções EXPLICATIVAS
As explicativas relacionam orações de tal sorte que a segunda encerra o motivo ou explicação (razão,
justificativa) do que se declara na primeira. Essa relação se manifesta linguisticamente pelas expressões:
pois, porque, que.
5) Conjunções CONCLUSIVAS
Acontece sempre que, em um segmento, se expressa uma conclusão que se obteve a partir de fatos ou
conceitos expressos no segmento anterior. Essa relação é sinalizada pelos conectores: logo, portanto, por
conseguinte, assim, então, por isso, sendo assim, assim sendo, por essa razão.
Ex1: Toda pessoa merece dignidade; por isso, respeite o próximo.
Ex2: Lucas resolveu todas as questões da prova e, portanto, tirou nota máxima.
Um texto bem produzido precisa apresentar coesão sequencial, isto é, devemos usar conectivos que ajudam
a delinear as ideias contidas nos enunciados. Muitas vezes, não convém que passemos de uma frase a
outra, ou de um parágrafo a outro, de modo estanque, sem uma palavra/expressão de ligação; faz -se
necessária a presença de um elemento sequenciador no discurso. Veja a diferença:
Assim, as conjunções realizam a chamada coesão sequencial ou por conexão, que desempenha a função
de promover a sequencialização de diferentes porções do texto. De certa forma, todo recurso coesivo
promove a sequencialização do texto. Neste caso, envolve um tipo específico de ligação: aquela efetuada
em pontos bem determinados do texto (entre orações e períodos) e sob determinações sintáticas mais
rígidas.
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EXERCÍCIOS
1. Com base na primeira parte do título da notícia, a conjunção expressa
a) causa
b) explicação
c) adversidade
d) consequência
e) alternância
2. "Podem acusar-me: estou com a consciência tranquila." Os dois pontos (:) do período ao lado poderiam
ser substituídos por vírgula, explicitando-se o nexo entre as duas orações pela conjunção:
a) e
b) logo
c) como
d) pois
e) embora
3. Considerando as expressões conectivas destacadas no fragmento “...desejo neste momento NÃO SÓ que
ganhe a Copa do Mundo para que milhões possam viver um sopro de felicidade, MAS TAMBÉM que essa
vitória seja a antecipação de outra felicidade maior...”, é correto afirmar que
4. Quanto às possibilidades de conexão entre estas duas orações "Pedro saiu; João chegou" e o emprego
de pontuação, assinale a alternativa correta.
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5. Há situações em que a conjunção "e", naturalmente, de valor "aditivo", pode não indicar esse sentido.
Identifique qual o sentido dessa conjunção no contexto abaixo.
a) conclusivo
b) adversativo
c) explicativo
d) consecutivo
e) alternativo
6. O termo entre vírgulas, no texto abaixo, não teria o sentido original preservado se fosse substituído por
a) portanto
b) contudo
c) todavia
d) porém
e) entretanto
7. As frases seguintes devem ser transformadas em um só período. Utilize -se dos mecanismos de coesão
adequados para fazê-los. Lembre-se do uso da vírgula e das alterações necessárias.
a) Os alunos dispunham de pouco tempo. Não foi possível concluir a pr ova de Matemática.
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b) Moramos no mesmo andar. Vemo-nos com frequência. Mal nos falamos.
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c) O show estava excelente. Meu amigo saiu antes de terminar. Tinha um aniversário para ir.
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8. Agrupe as frases abaixo num só período, usando conectivos sequenciais adequados:
O céu está carregado.
Não vamos levar guarda-chuvas.
O serviço de meteorologia avisou que o tempo vai melhorar.
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9. “Não está claro o motivo pelo qual o diabetes é mais perigoso ao coração das mulheres do que dos
homens, mas existem algumas hipóteses." O termo destacado pode ser substituído, sem que haja prejuízo
semântico ou sintático, por
a) logo
b) porque
c) portanto
d) entretanto
e) porquanto
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Disciplina: Português V – AULA 4
Conteúdo: PARALELISMO1: SINTÁTICO E SEMÂNTICO
PARALELISMO SINTÁTICO
Nesta frase temos, nas duas orações subordinadas que completam o sentido da principal, duas estruturas
diferentes para ideias equivalentes: a primeira oração ( economizar energia) é reduzida de infinitivo,
enquanto a segunda (que elaborassem planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma possibilidade de escrevê-la com clareza e
correção; uma seria a de apresentar as duas orações subordinadas co mo desenvolvidas, introduzidas pela
conjunção integrante que:
Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios que economizassem energia e (que)
elaborassem planos para redução de despesas.
Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios economizar energia e elaborar planos para
redução de despesas.
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na coordenação de orações subordinadas.
Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não ser inseguro, inteligência e ter ambição.
O problema aqui decorre de coordenar palavras (substantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). Para
tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por transformá-la em frase simples, substituindo as orações
reduzidas por substantivos:
Certo: No discurso de posse, mostrou ser determinado e seguro, ter inteligência e ambição.
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Conteúdo adaptado do livro Comunicação em Prosa Moderna: Aprendendo a Escrever, Aprendendo a Pensar, de Othon Garcia Marques,
página 24). Referência bibliográfica: GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna: Aprendendo a Escrever, Aprendendo a Pens ar. – 27 ed.
– Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.
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Em alguns casos, como no seguinte trecho de Carlos de Laet, a ausência de paralelismo não invalida a
construção da frase: “Estamos ameaçados de um livro terrível e que pode lançar o desespero nas fileiras
literárias”. Os dois adjuntos de “livro” — o adjetivo “terrível” e a oração adjetiva “que pode lançar...” —
coordenados pela conjunção “e” não têm estrutura gramatical idêntica. Isso não impede que a construção
seja vernácula, inatacável, embora talvez fosse preferível tornar os dois adjuntos paralelos:
Também seria cabível omitir a conjunção “e”, mantendo-se a oração adjetiva ou substituindo-a por um
adjetivo equivalente: “...um livro terrível, que pode lançar...” ou “...um livro terrível, capaz de lançar...”
Qualquer dessas formas é sintaticamente inatacável; todavia, a que observa o paralelismo parece, do ponto
de vista estilístico, mais aceitável. O mesmo julgamento se pode fazer, quando se coordenam duas orações
subordinadas:
Não saí de casa por estar chovendo e porque era ponto facultativo.
Aqui também se aconselha o paralelismo de construção, se bem que a sua falta não torne a frase incorreta.
Do ponto de vista estilístico, seria preferível que as duas orações causais (“por estar chovendo” e “porque
era ponto facultativo”) tivessem estrutura similar: “por estar chovendo e por ser ponto facultativo” ou “porque
estava chovendo e (porque) era ponto facultativo”.
Caso se adotasse o processo correlativo aditivo (“não só... mas também”), o paralelismo seria ainda mais
recomendável:
Não saí de casa não só porque estava chovendo mas também porque era ponto facultativo.
ou
Não saí de casa não só por estar chovendo mas também por ser ponto facultativo.
No primeiro caso, as duas orações causais são desenvolvidas; no segundo, ambas são reduzidas.
Observou-se assim o princípio do paralelismo gramatical estrito.
PARALELIMO SEMÂNTICO
Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso paralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela
(equivalente) a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar, de forma paralela, estruturas
sintáticas distintas:
Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Paris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma
possibilidade de correção é transformá-la em duas frases simples, com o cuidado de não repetir o verbo
da primeira (visitar):
Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta última capital, encontrou-se com o Papa.
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EXERCÍCIOS
3. A única alternativa incorreta quanto à reescrita da oração: “É muito comum vermos, nas esquinas
brasileiras, crianças pedindo esmolas ou que limpam vidros de carros.”
a) “É muito comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças pedindo esmolas ou limpando vidros de
carros.”
b) “É muito comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças pedirem esmolas ou limpando vidros de
carros.”
c) “É muito comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças que pedem esmolas ou que limpam vidros de
carros.”
d) “É muito comum vermos, nas esquinas brasileiras, crianças a pedir esmolas ou a limpar vidros de carros.”
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Disciplina: Português V – AULA 5
Conteúdo: ORAÇÕES SUBORDINADAS
O período composto pode ser constituído por coordenação – com a presença de orações coordenadas –
ou por subordinação – com a apresentação de orações subordinadas.
As orações subordinadas – também chamadas de dependentes - têm funções sintáticas de sua principal e
equivalem a um substantivo, adjetivo ou advérbio2:
a) Vi que ele tinha chegado = Vi a sua chegada (objeto direto).
b) O homem que estuda aprende = O homem estudioso aprende (adjunto adnominal)
c) Saímos porque estava chovendo = Saímos por causa da chuva (adjunto adverbial de causa).
Assim, as orações subordinadas serão classificadas em
1) SUBSTANTIVAS 2) ADJETIVAS 3) ADVERBIAIS
Toda a oração destacada pode ser trocada por “ISTO”; a palavra que introduz a oração substantiva; é,
portanto, uma conjunção integrante.
➢ Exercem uma função sintática da principal, podendo funcionar como sujeito, complemento verbal
(objeto direto, objeto indireto), complemento nominal, predicativo do sujeito ou aposto.
BECHARA, Evanildo. Lições de português pela análise sintática. – 17.ed. – Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
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❖ Em todo período em que há oração subordinada, sempre haverá uma oração chamada principal.
Não que necessariamente constitua o núcleo da comunicação, mas porque desencadeia as demais
orações no período.
As orações adjetivas funcionam como adjunto adnominal de um termo chamado antecedente (substantivo
ou pronome) posto na oração a que se prende (BECHARA, 2005, p. 128).
➢ Geralmente, são iniciadas pela palavra que, neste caso, será classificada como pronome relativo,
podendo ser substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, de acordo com a palavra antecedente.
(1a) Compraram o livro que o professor indicou = o qual o professor indicou → oração adjetiva
(1b) Compraram os livros que o professor indicou = os quais o professor indicou → oração adjetiva
(1c) Compraram a apostila que o professor indicou = a qual o professor indicou → oração adjetiva
Vamos identificar o pronome relativo que introduz a oração subordinada adjetiva no título da notícia abaixo:
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CLASSIFICAÇÃO DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS
1. Oração Adjetiva RESTRITIVA → sem vírgula (s), antes do que, pronome relativo
2. Oração Adjetiva EXPLICATIVA → com vírgula (s), antes do que, pronome relativo
➢ Sempre que houver pronome relativo (que, quem, cujo, onde), sempre haverá oração subordinada
adjetiva.
A atleta que ganhou medalha de ouro disse que treinou bastante durante a pandemia.
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EXERCÍCIOS
1. Assinale a opção em que há uma oração subordinada adjetiva.
3. A palavra "que" no título em destaque da notícia abaixo é um pronome relativo, por isso equivale a
a) o qual
b) a qual
c) os quais
d) as quais
e) palavra "isto"
4. Dentre as opções abaixo, apenas uma apresenta oração subordinada substantiva. Identifique -a.
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5. É correto afirmar que no título da notícia em destaque abaixo há (circule a opção)
6. Em “Há um projeto de lei em tramitação no Senado QUE pede alterações no envio de informações sobre
os medicamentos e propõe um prazo maior para adequação", o termo em destaque refere -se a
a) um projeto de lei
b) informações
c) Senado
d) prazo
e) lei
7. “(...) Recentemente, num desses programas QUE fazem parte da grade de televisão, ouvi pessoas
afirmarem QUE o verdadeiro tratamento psiquiátrico foi inventado pela médica Nise da Silveira, QUE curava
os doentes com atividades artísticas. Trata-se de um equívoco”. A palavra “que” destacada é,
respectivamente,
8. Em relação aos termos destacados em “Mas uma pesquisa publicada no Journal of Consumer Research
sugere QUE todas essas pessoas QUE acham QUE se sentiriam constrangidas jantando ou indo ao cinema
sozinhas podem estar erradas.”, assinale a alternativa correta.
a) Todos os termos destacados exercem a mesma função sintática, ou seja, são pronomes relativos e podem
ser substituídos por “o qual”, com suas respectivas adaptações quanto à concordância.
b) O primeiro e o terceiro termos destacados funcionam como conjunção integrante, enquanto o segundo é
um pronome relativo e pode ser substituído por “as quais”.
c) O primeiro termo destacado funciona como conjunção integrante, enquanto os outros dois são pronomes
relativos e podem ser substituídos por “o qual”, com suas respectivas adaptações quanto à concordância.
d) Todos os termos destacados exercem a mesma função sintática, ou seja, são conjunções integrantes e
têm como objetivo relacionar orações principais às subordinadas.
e) O primeiro termo destacado funciona como conjunção integrante, o segundo como pronome relativo e o
terceiro é uma conjunção coordenativa explicativa.
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9. O elemento destacado introduz uma oração subordinada adjetiva, EXCETO :
a) “Das 97.549 armas de fogo QUE foram registradas em nome de empresas de segurança...”
b) “‘As empresas QUE atuam com segurança externa costumam ser as mais visadas.”
c) “‘Podemos dizer ainda QUE, para cada funcionário de empresa regularizada...’”
d) “‘...existem problemas no setor QUE devem ser investigados pela PF.’’
e) “Os vigilantes acompanhavam um caminhão QUE transportava um insumo industrial...”
a) coordenação e subordinação
b) coordenação
c) subordinação
d) justaposição
e) correlação
11. (FAMENA – Marília) – Assinale a alternativa que contém uma coordenativa conclusiva:
12. (UNlMFP-SP) – “Mauro não estudou nada e foi aprovado”. Apesar do e, normalmente aditivo, a oração
tem valor:
a) adversativo
b) conclusivo
c) explicativo
d) alternativo
e) causal
13. “Um ciclone tropical é um termo genérico usado por meteorologistas. Significa que é um sistema rotativo
e organizado de nuvens e tempestades que se originaram em águas tropicais ou subtropicais”. Nesse trecho,
a palavra “que” destacada é, respectivamente,
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Disciplina: Português V – AULA 6
Conteúdo: ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS
As orações subordinadas adverbiais recebem essa denominação porque expressam uma circunstância da
oração a que se subordinam; essa circunstância é a função de um advérbio. As orações adverbiais são
introduzidas pelas conjunções subordinadas:
1) Conjunções CONCESSIVAS
Estes tipos de conjunção exprimem, em relação a outro enunciado, a ideia de oposição, contraste, quebra
de expectativa. São estas: embora, ainda que, mesmo que, por mais que, mesmo assim, ainda assim,
apesar de (que).
Ex1: Embora estivesse machucado, o jogador marcou dois gols.
Ex2: Irei à aula hoje, mesmo que não haja transporte.
Nesse sentido, este tipo de conjunção confunde-se com a “adversativa”. É que ambas expressam relações
de oposição. A diferença está na direção argumentativa que cada uma expressa: com as adversativas, a
expectativa levantada no primeiro enunciado não é mantida.
1. Pedro é um bom funcionário, mas costuma chegar atrasado = conjunção adversativa
2. Lucas é um bom funcionário, embora costume chegar atrasado = conjunção concessiva
Quem você contrataria para sua empresa? Pedro ou Lucas? Por quê?
Ora, no primeiro exemplo, o que se mantém não é o argumento a favor de Pedro; pelo contrário, passa a
valer o argumento contra ele. Agora, quando se diz: Pedro é um bom funcionário, embora costume chegar
atrasado, prevalece o argumento a favor de Pedro. Ou seja, é fato que a ideia de oposição está explicitada
tanto nas adversativas quanto nas concessivas. A diferença está na direção argumentativa que uma e outra
expressam.
2) Conjunções CONDICIONAIS
São estabelecidas quando um segmento expressa a condição para o conteúdo de um outro. Essa relação é
sinalizada linguisticamente pelos conectores: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, a não ser
que, desde que.
3) Conjunções CONFORMATIVAS
Ocorrem quando um segmento expressa algo que foi realizado de acordo com o que foi pontuado em um
outro. Os conectores que sinalizam essa relação são: conforme, consoante, segundo, como.
4) Conjunções COMPARATIVAS
Manifestam-se para estabelecer comparação. Dá-se mediante os conectores: como, mais/menos...(do) que.
26
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5) Conjunções CONSECUTIVAS
Indicam a ideia de efeito, resultado, consequência exposta em um dos segmentos do período. Ocorre com
os conectores: tão...que, tanto(a)...que, de modo que, de forma que, de maneira que . Com os
intensificadores “tão” e “tanto(a)”, estes se prendem no segmento primeiro, e a conjunção que, no segmento
seguinte, introduz a ideia de consequência.
6. Conjunções TEMPORAIS
Expressam o tempo, a partir do qual são localizados as ações ou os eventos em foco. Essa relação pode
envolver: tempo anterior, tempo posterior, tempo simultâneo, tempo habitual, tempo proporcional. Os
segmentos que sinalizam essa relação são iniciados pelos conectores: quando, enquanto, desde que,
assim que, logo que, antes que, depois que, mal (= assim que), todas as vezes que, sempre que.
7) Conjunções CAUSAIS
porque, porquanto, pois, visto que, uma vez que (verbo no indicativo), posto que, já que, como (= “já que)
8) Conjunções PROPORCIONAIS
Quando uma oração exprime um fato que aumenta ou diminui na mesma proporção do que se declara em
outra oração. A relação de proporcionalidade manifesta-se com estes conectores: à medida que, à
proporção que, ao passo que, quanto mais/menos...mais/menos.
9) Conjunções FINAIS
Manifestam-se quando um dos segmentos explicita o propósito, ou o objetivo pretendido e expresso pelo
outro. Essa relação é sinalizada pelos conectores: para que, a fim de que, para + verbo no infinitivo, a
fim de + verbo no infinitivo.
27
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Aqui temos duas orações, além da repetição do termo “cachorro”. Podemos substituir esse termo e ao
mesmo tempo ligar as orações, por meio da palavra “que”. Veja:
Para identificar a palavra que como pronome relativo, basta trocá-la no contexto pelas expressões
equivalentes.
Ex3: A apostila que o professor me indicou é muito boa = A apostila a qual o professor me indicou é muito
boa.
Ex4: Achei os livros que você me pediu emprestados = Achei os livros os quais você me pediu emprestados.
Será conjunção integrante a palavra que quando ela integrar outro termo, introduzir um complemento de
termo anterior ou integrar outra oração.
Ex1: O professor disse que a prova está fácil → aqui o que introduz um complemento da forma verbal “disse”.
Ex2: É importante que o estudo torne-se um hábito → aqui o que integra outra oração “é importante”.
Para identificar o que como conjunção integrante, basta substituí-lo ou toda a oração pelo pronome “isto”.
Nos exemplos anteriores, podemos naturalmente fazer isso. Veja:
Assim, toda a oração e o próprio que foi substituído pelo “isto”. Temos, portanto, uma conjunção integrante.
28
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QUADRO RESUMITIVO DAS CONJUNÇÕES E ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS
CLASSIFICAÇÃO DAS
VALOR SEMÂNTICO CONJUNÇÕES EXEMPLOS
CONJUNÇÕES
e, nem...nem,
tanto...como, não Ligaram para a pizzaria
Adição
ADITIVAS só...mas também E fizeram um pedido.
(como também)
mas, contudo, porém,
Adversidade, O vaso caiu no chão,
entretanto, todavia,
ADVERSATIVAS contraste MAS não quebrou.
no entanto, e (= mas)
ou, ora, ou...ou, ORA Pedro estuda,
Alternância
ALTERNATIVAS ora...ora ORA joga video game.
pois, porque,
Explicação, porquanto, visto que, Jonas não fez a prova,
EXPLICATIVO- justificativa, uma vez que, posto PORQUE estava
CAUSAIS causa, motivo, razão que, dado que, como, doente.
já que
portanto, logo, então,
por conseguinte,
assim (= então), por Acenderam as luzes do
Conclusão, efeito isso, pois quarto, PORTANTO há
CONCLUSIVAS (= entre vírgulas alguém em casa.
equivalendo a
“portanto”)
se, caso, desde que, SE persistirem os
Condição contanto que, uma sintomas, o médico
CONDICIONAIS
vez que deverá ser consultado.
embora, ainda que, Ana não conseguia
Concessão, quebra de por mais que, dormir, EMBORA
CONCESSIVAS
expectativa conquanto, não estivesse muito
obstante cansada.
COMO Einsteins disse,
conforme, segundo,
CONFORMATIVAS Conformidade, acordo a ignorância humana
consoante, como
não tem limites.
como, como se, (do)
Tales luta COMO um
COMPARATIVAS Comparação que, que nem
guerreiro.
(informal)
(tão)...que,
(tanto)...que,
Consequência, Estudou tanto para a
CONSECUTIVAS de
resultado prova QUE tirou dez.
modo/forma/maneira
que
quando, assim que,
logo que, antes que, QUANDO você chegar,
TEMPORAIS Tempo
depois que, me avise.
enquanto, até que
À MEDIDA QUE se
Proporção, fato à medida que, à aproxima o dia da
PROPORCIONAIS
simultâneo proporção que prova, fico mais
nervoso.
Estude PARA QUE
FINAIS Finalidade, propósito a fim de que, para que
tenha um bom futuro.
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EXERCÍCIOS
1. Identifique o valor semântico da oração introduzida pela conjunção destacada, mantendo o sentido original
do período. Siga o exemplo:
f) Quando acordar, dê um bom dia àqueles que estão à sua volta __________________ _______________
i) Como fazia frio, resolveu vestir uma camisa mais grossa ________________ ______________________
2. “COMO o vírus é detectado logo depois de a pessoa ser contaminada, é possível começar o tratamento
mais cedo.” A relação lógico-semântica apresentada pela conjunção destacada é a de
a) comparação.
b) conformidade.
c) causa.
d) consecução.
e) proporção.
a) tempo
b) causa
c) consequência
d) condição
e) proporção
30
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4. (INSTITUTO AOCP/2016 – SERCOMTEL) Em “É inevitável que a gente cometa equívocos QUANDO a
vida vira um tango”, a conjunção destacada introduz a oração
5. No período “o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não existiria, se nossa cultura
não atribuísse um valor especial à felicidade”, a segunda oração estabelece com a anterior uma relação de
a) concessão.
b) finalidade.
c) conclusão.
d) condição.
e) causa.
7. Dentre as alternativas abaixo, apenas uma apresenta oração subordinada concessiva. Identifique -a.
8. Considerando o texto em destaque da notícia abaixo, é correto afirmar que há oração subordinada
adverbial
a) condicional
b) concessiva
c) temporal
d) consecutiva
e) conformativa
31
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9. A segunda oração do período abaixo classifica-se como
10. A respeito das orações que constituem o período abaixo, pode-se afirmar que há
11. O objetivo da oração concessiva é fazer uma ressalva, que, no entanto, não irá anular o argumento da
oração principal. Isso se revela em
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Disciplina: Português V – AULA 7
Conteúdo: PRÉ-MODERNISMO3 (1902 – 1922)
No início do século XX, a literatura brasileira atravessava um período de
transição. De um lado, ainda era forte a influência das tendências
artísticas da segunda metade do século XIX· de outro, já começava a
ser preparada a grande renovação modernista, cujo marco no Brasil é
a Semana de Arte Moderna (1922). Esse período de transição, que não
chega a constituir um movimento literário, é chamado Pré-Modernismo.
A esse período, marcado pelo sincretismo de tendências artísticas, costuma-se chamar Pré-Modernismo.
Sem constituir um movimento literário propriamente dito, o Pré -Modernismo consiste na fase de transição
pela qual passou a produção literária brasileira entre o final do século XIX e o movimento modernista.
Embora os autores pré-modernistas ainda estivessem presos aos modelos do romance realista-naturalista
e da poesia simbolista, duas novidades essenciais podem ser observadas em suas obras:
• o interesse pela realidade brasileira: os modelos literários realistas-naturalistas eram essencialmente
universalizantes. Tanto a prosa de Machado de Assis e Aluísio Azevedo quanto a poesia dos parnasianos e
simbolistas não revelavam interesse em tratar da realidade brasileira. A preocupação central desses autores
era abordar o homem universal, sua condição e seus anseios. Aos escritores pré-modernistas, ao contrário,
interessavam assuntos do dia a dia dos brasileiros, originando-se, assim, obras de nítido caráter social.
Graça Aranha, por exemplo, retrata em seu romance Canaã a imigração alemã no Espírito Santo; Euclides
da Cunha, em Os sertões, aborda o tema da guerra e do messianismo em Canudos, no sertão da Bahia;
Lima Barreto detém-se na análise das populações suburbanas do Rio de Janeiro; Monteiro Lobato descreve
a miséria do caboclo na região decadente do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. A exceção está na
poesia de Augusto dos Anjos, que foge a esse interesse social.
• a busca de uma linguagem mais simples e coloquial: embora não se verifique na obra de todos os
pré-modernistas, essa preocupação é explícita na prosa de Lima Barreto e representa um importante passo
para a renovação modernista de 1922. Lima Barreto procurou "escrever brasileiro", com simplicidade. Para
isso, teve de ignorar muitas vezes as normas gramaticais e de estilo, o que provocou a ira dos meios
acadêmicos conservadores e parnasianos.
Adaptado de CEREJA, William R. e MAGALHÃES, Thereza C. Literatura brasileira. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
3
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Canaã (1902) – Graça Aranha
4Foi saudável e forte a influência de Graça Aranha nos moços que já se
preparavam, quando ele retornou da Europa ao findar 1921, para organizar o
movimento que, nascido do futurismo, tomaria entre nós a designação de
modernismo. Contesta-se tivesse sido ele o chefe do movimento. Mas o que
ninguém nega é efeito que a sua presença teve no êxito da campanha contra a
estagnação, o marasmo e a rotina.
Canaã inicia o período provisoriamente chamado de Pré-Modernismo.
Representa a visão de um problema ainda não estudado, qual seja o da
contribuição do imigrante para a vida brasileira.
Graça Aranha, que se terá valido da permanência como juiz, ele próprio, no
Espírito Santo, para recolher material para o romance, coloca em ação dois
imigrantes que são também dois símbolos: Milkau, visionário e idealista, vendo
no Brasil a Canaã, e Lentz, o germânico orgulhoso da própria raça. Serve -se
dos dois para, através do longo diálogo, debater problemas múltiplos e tais como a defesa da hegemonia da
raça branca, por Lentz, contra o ponto de vista de Milkau; a defesa da guerra por Lentz (“o mundo deve ser
a morada deliciosa do guerreiro”), para quem “a vida é luta, é o crime”, enquanto Milkau dirá que “o princípio
do amor me sustenta e protege. Eu sou daqueles que foram por ele consolado...”.
Cabe dizer que tal diálogo, ou debate (como outros menores, mas semelhantes entremeados na narrativa),
se permite ao romancista acentuar a natureza moral dos dois personagens, mostra principalmente como lhe
interessavam mais as ideias que a ação.
E Milkau ia lentamente adormecendo, feliz e sossegado naquela benfazeja noite tropical, no meio de homens
primitivos, no seio de uma nova terra suave e forte; e o que era cisma da vigília se ia pouco a pouco
transformando no puro sonho em que ele entrevia num horizonte iluminado, surgindo docemente, uma nova
raça, que seria a incógnita feliz do amor de todas as outras, que repovoaria o mundo e sobre a qual se
fundaria a cidade aberta e universal, onde a luz se não apague, a escravidão se não conheça, onde a vida
fácil, risonha, perfumada, seja um perpétuo deslumbramento de liberdade e de amor. (p. 84)
E Lentz via por toda parte o homem branco apossando -se resolutamente da terra e expulsando
definitivamente o homem moreno que ali se gerara. E Lentz sorria com orgulh o na perspectiva da vitória e
do domínio de sua raça. Um desdém pelo mulato, em que ele exprimia o seu desprezo pela languidez, pela
fatuidade e fragilidade deste, turvou-lhe a visão radiosa que a natureza do país lhe imprimira no espírito.
Tudo nele era agora um sonho de grandeza e triunfo... Aquelas terras seriam o lar dos batalhadores eternos,
aquelas florestas seriam consagradas aos cultos temerosos das virgens ferozes e louras... Era tudo um
recapitular da antiga Germânia. (p. 85)
(...) A felicidade de Milkau era perfeita. Tinha limitado o inquieto deseja, apagado do espírito as manhas da
ambição, do domínio e do orgulho, e deixado que a simplicidade do coração o retomasse e inspirasse.
Trabalhava mansamente no quinhão de terra que ocupava. A sua peque na habitação, erguida no silêncio
da mata, era humilde como as outras dos colonos. (...) Sem demora, Milkau espraiava -se em relações com
o grupo colonial do Rio Doce. Achava um encanto em conviver com gente primitiva (...) estava destinado a
ser pouco a pouco a figura central daquela região (...) (p.100)
(...) Ao contrário do seu companheiro, Lentz vivia triste, num íntimo e reservado desespero. A vida que
tomara era para ele uma grande humilhação, torturando-o essa pungente agonia de praticar a existência
condenada pela ideia. (...) O caráter fraco traía a audácia do sonhador, e a bondade do sentimento
entorpecia-lhe as maldades grandiosas do seu idealismo. E assim inativo, paralisado, caminhando na doce
sombra de Milkau, ele, o criador da força, o apóstolo da energia, completava-se na contradição como um
verdadeiro homem. (p. 101.)
4
Prefácio adaptado de Alphonsus de Guimarães Filho. In: Canaã. Rio de Janeiro: Editora N. Fronteira, 1982.
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Monteiro Lobato: o retrato crítico do país
Monteiro Lobato (1882-1948), paulista de Taubaté, foi um dos escritores
brasileiros de maior prestígio, em consequência de sua atuação como
intelectual polêmico e autor de histórias infantis. Apesar do grande destaque
advindo de sua literatura feita para crianças, sobretudo com a publicação da
sequência de livros do Sítio do Pica-pau Amarelo, com personagens como
Narizinho, Pedrinho, a boneca Emília, Dona Benta, Tia Nastácia, o Visconde
de Sabugosa e o porco Rabicó ficaram conhecidas por inúmeras gerações
de crianças de vários países, o autor também ficou marcado na história da
literatura brasileira pela publicação de obras com forte teor regional, como o
livro de contos Cidades mortas, publicado em 1919.
Sua ação foi além do círculo literário, tendo se estendido também para o âmbito da luta política e social.
Moralista e doutrinador, aspirava ao progresso material e mental do povo brasileiro. Com a personagem
Jeca Tatu - um típico caipira acomodado e miserável do interior paulista -, por exemplo, Lobato criticava a
face de um Brasil agrário, atrasado e ignorante, cheio de vícios e vermes. Seu ideal de país era um Brasil
moderno, estimulado pela ciência e pelo progresso.
Sempre muito polêmico, chamou atenção do mundo das letras e das artes pelo seu posicionamento
conservador, em artigo de opinião intitulado “Paranoia ou mistificação”, publicado, em 1917, no jornal O
Estado de S. Paulo. Nesse artigo ele apresenta uma crítica em relação à exposição da artista modernista
Anita Malfatti, uma das principais figuras da Semana de Arte Moderna de 1922. Segundo Lobato, a criação
dessa importante pintora modernista seria fruto de uma “deformação mental”.
Monteiro Lobato situa-se entre os autores regionalistas do Pré-Modernismo e destaca-se no gênero conto.
O universo retratado por ele geralmente são os vilarejos decadentes do Vale do Paraíba (região paulista
entre São Paulo e Rio de Janeiro) na época da crise do plantio do café, na obra Cidades mortas.
Como regionalista, o autor nos dá a dimensão exata do Vale do Paraíba paulista do início do século XX, sua
decadência após a passagem da economia cafeeira, seus costumes e sua gente, tão bem retratados nos
contos de Cidades mortas .. E nesse aspecto - a gente do Vale do Paraíba - está o traço mais importante da
ficção lobatiana: a descrição e a análise do tipo humano característico da região, o caboclo Jeca Tatu, a
princípio chamado de vagabundo e indolente. Só mais tarde toma o autor consciência da realidade daquela
população subnutrida, marginalizada socialmente, sem acesso à cultura, acometida de toda sorte de
doenças endêmicas . O preconceito racial e a situação dos negros após a abolição foi outro tema abordado
pelo autor de Negrinha . As personagens são gordas senhoras que, num falso gesto de bondade, "adotavam"
menininhas negras para escravizá-las em trabalhos caseiros.
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Urupês5
Esboroou6-se o balsâmico7 indianismo de Alencar ao advento8 dos Rondons9 que, ao invés de imaginarem
índios num gabinete, com reminiscências de Chateaubriand 10 na cabeça e Iracema aberta sobre os joelhos, metem-se
a palmilhar11 sertões de Winchester em punho.
Morreu Peri12, incomparável idealização dum homem natural como o so nhava Rousseau13, protótipo de
tantas perfeições humanas que no romance, ombro a ombro com altos tipos civilizados, a todos sobreleva em beleza
de alma e corpo.
Contrapôs-lhe a cruel etnologia dos sertanistas modernos um selvagem real, f eio e brutesco, anguloso e
desinteressante, tão incapaz, muscularmente, de arrancar uma palmeira, como incapaz, moralmente, de amar Ceci 14.
Por f elicidade nossa – e de Dom Antônio de Mariz15 –, não os viu Alencar; sonhou-os qual Rousseau. Do
contrário lá teríamos o f ilho de Araré16 a moquear17 a linda menina num bom braseiro de pau-brasil, em vez de
acompanhá-la em adoração pelas selvas, como Ariel benfazejo do Paquequer 18.
A sedução do imaginoso romancista criou forte corrente. Todo o clã plumitivo 19 deu de forjar seu indiozinho
ref egado de Peri e Atala20. Em sonetos, contos e novelas, hoje esquecidos, consumiram-se tabas inteiras de aimorés
sanhudos21, com virtudes romanas por dentro e penas de tucano por fora.
Vindo o público a bocejar de f arto, já céptico ante o crescente desmantelo do ideal, cessou no mercado
literário a procura de bugres 22 homéricos, inúbias 23, tacapes, borés 24, piagas25 e virgens bronzeadas. Armas e heróis
desandaram cabisbaixos, rumo ao porão onde se guardam os móveis fora de uso, saudoso museu de extintas pilhas
elétricas que a seu tempo galvanizaram nervos. E lá acamam poeira cochichando reminiscências com a barba de Dom
João de Castro, com os franquisques26 de Herculano, com os frades27 de Garrett e que tais...
Não morreu, todavia. Evoluiu.
O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismou28-se de “caboclismo”. O cocar de penas
de arara passou a chapéu de palha rebatido à testa; a ocara 29 virou rancho de sapé; o tacape af ilou, criou gatilho, deitou
ouvido e é hoje espingarda trouxada; o boré descaiu lamentavelmente para pio de inambu30; a tanga ascendeu a camisa
aberta ao peito.
Mas o substrato psíquico não mudou: orgulho indomável, independência, f idalguia, coragem, virilidade
heroica, todo o recheio em suma, sem faltar uma azeitona, dos Peris e Ubirajaras.
Este setembrino rebrotar duma arte morta inda se não desbagoou de todos os frutos. Terá o seu “I Juca-
Pirama”31, o seu “Canto do Piaga” e talvez dê ópera lírica.
Mas, completado o ciclo, em f lor da ilusão indianista virão destroçar o inverno os prosaicos de ídolos – gente
má e sem poesia. Irão os malvados esgaravatar o ícone com as curetas 32 da ciência. E que f eias se hão de entrever
as caipirinhas cor de jambo de Fagundes Varela! E que chambões 33 e sornas34 os Peris de calça, camisa e faca à cinta!
5
Publicado em O Estado de S. Paulo, em 23 de dezembro de 1914.
6
Reduzir-se a fragmentos; pulverizar.
7
Que reanima, conforta.
8
Aparecimento, chegada.
9
Marechal Cândido Rondon (1865-1958), explorador brasileiro de sangue indígena, ao lado do ex-presidente americano Theodore Roosevelt (1858-
1919), então aos 55 anos, se embrenhou pela Floresta Amazônica no norte de Mato Grosso, em 1914, com o intuito de ca talogar espécies e mapear
um rio inexplorado, batizado sugestivamente de Rio da Dúvida.
10
Chateaubriand, escritor, ensaísta, diplomata e político francês, exerceu uma profunda influência na literatura romântica de r aiz europeia, incluindo
a lusófona.
11
Andar por, percorrer a pé.
12
Índio herói do romance O Guarani (1857), de José de Alencar.
13
Filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau criador do mito do "bom selvagem", que consiste na tese de que o ser humano era puro e inocente
em seu estado natural, sendo a sociedade responsável por incutir nele valores e hábitos que o conduziriam ao conflito e aos problemas sociais.
14
Redução de Cecília, personagem do romance indianista O Guarani, a quem Peri adora e com quem faz par romântico.
15
Fidalgo português, pai de Ceci, no romance O Guarani.
16
Segundo o mitologia, refere-se a uma divindade indígena.
17
Assar.
18
É o rio em cujas margens fica localizada a casa de D. Antônio de Mariz e sua família no romance O Guarani (1857), de José de Alencar.
19
De sentido pejorativo, escritor ou jornalista sem méritos.
20
A bela personagem indígena da obra homônima de Chateaubriand que faz par romântico com índio Chactas.
21
Que provoca medo; temível, terrível.
22
Grupo indígena que habitava o Sul do Brasil.
23
Buzina ou trombeta de guerra dos índios.
24
Trombeta feita de bambu usada pelos indígenas brasileiros.
25
Variação de pajé, principal índio de uma tribo, que conduz os rituais.
26
Machado de guerra que foi utilizado durante os anos iniciais da Idade Média pelos germânicos francos.
27
Indivíduo que pertence a uma ordem religiosa; monge.
28
Apelidar-se, cunhar-se.
29
Praça no interior de aldeia indígena.
30
Ave brasileira, espécie de perdiz.
31
Poema épico do poeta indianista Gonçalves Dias.
32
Instrumento cirúrgico.
33
Que ou aquele que possui apresentação desagradável; deselegante.
34
Lentidão, demora para fazer algo; lerdeza, pachorra.
36
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Isso, para o futuro. Hoje ainda há perigo em bulir no vespeiro: o caboclo é o “Ai Jesus!” 35 nacional.
É de ver o orgulhoso entono com que respeitáveis figurões batem no peito exclamando com altivez:
– “Sou raça de caboclo!”
Anos atrás o orgulho estava numa ascendência de tanga, inçada de penas de tucano, com dramas íntimos
e f lechaços de curare36.
Dia virá em que os veremos, murchos de prosápia37, confessar o verdadeiro avô: – “Um dos quatrocentos
de Gedeão trazidos por Tomé de Sousa38 num barco daqueles tempos, nosso mui nobre e fecundo Mayflower 39”.
Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, f ormadoras da nacionalidade e
metidas entre o estrangeiro recente e o aborígine de tabuinha 40 no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de
evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé.
Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito histórico e o país desperta estrouvinhado 41 à crise duma mudança
de dono, o caboclo ergue-se, espia e acocora-se de novo.
Pelo 13 de Maio 42, mal esvoaça o florido decreto da Princesa e o negro exausto larga num uf ! o cabo da
enxada, o caboclo olha, coça a cabeça, imagina e deixa que do velho mundo venha quem nele pegue de novo.
Em 15 de Novembro43 troca-se um trono vitalício pela cadeira quadrienal. O país bestifica-se ante o
inopinado da mudança44. O caboclo não dá pela coisa.
Vem Floriano; estouram as granadas de Custódio; Gumercindo bate às portas de Roma; Incitatus derranca
o país. 45 O caboclo continua de cócoras, a modorrar...
Nada o esperta. Nenhuma ferrotoada o põe de pé. Social, como individualmente, em todos os atos da vida,
Jeca, antes de agir, acocora-se. Jeca Tatu é um piraquara46 do Paraíba, maravilhoso epítome47 de carne onde se
resumem todas as características da espécie.
Ei-lo que vem falar ao patrão. Entrou, saudou. Seu primeiro movimento após prender entre os lábios a palha
de milho, sacar o rolete de fumo e disparar a cusparada de esguicho, é sentar-se jeitosamente sobre os calcanhares.
Só então destrava a língua e a inteligência.
– “Não vê que...”
De pé ou sentado as ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de dizer coisa com coisa. De noite,
na choça de palha, acocora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo”, imitado da mulher e da prole.
Para comer, negociar uma barganha, ingerir um café, tostar um cabo de foice, fazê-lo noutra posição será
desastre infalível. Há de ser de cócoras.
Nos mercados, para onde leva a quitanda domingueira, é de cócoras, como um faquir do Bramaputra48, que
vigia os cachinhos de brejaúva49 ou o feixe de três palmitos.
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às f eiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: sempre coisas que a natureza
derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher – cocos de tucum ou jiçara, guabirobas,
bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, orquídeas; ou artefatos de taquara-poca – peneiras, cestinhas, samburás, tipitis,
pios de caçador; ou utensílios de madeira mole – gamelas, pilõezinhos, colheres de pau.
Nada mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do menor esforço – e nisto vai longe.
Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-
de-barro. Pura biboca50 de bosquímano51. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri 52 posta sobre o
chão batido.
Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem
equilíbrio; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza
os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam?
Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo?
No mais, umas cuias, gamelinhas53, um pote esbeiçado, a pichorra54 e a panela de feijão.
35
Referência ao poema de Álvares de Azevedo, autor ultrarromântico.
36
Substância tóxica extraída de plantas, utilizada pelos índios sul-americanos como veneno das flechas.
37
Orgulho, jactância, vaidade, fanfarrice.
38
Tomé de Sousa veio ao Brasil com um carregamento de quatrocentos degredados e uns tantos jesuítas.
39
Famoso navio que, em 1620, transportou os chamados Peregrinos, do porto de Southampton, Inglaterra, para o Novo Mundo.
40
Ripa de madeira.
41
Emaranhado, revolto.
42
Por muitos anos, o dia 13 de maio foi uma data comemorativa, no Brasil, devido à abolição da escravatura, ocorrida em 1888.
43
Data da Proclamação da República.
Aristides Lobo: “O país assistiu bestificado à Proclamação da República”.
44
45
O presidente Hermes da Fonseca.
46
Pessoa que vive no campo ou na roça; caipira, capiau.
47
Que serve de modelo ideal de.
48
Rio da Ásia.
49
Palmeira silvestre. Seus frutos são usados pelas crianças para se fazer piões.
50
Barranco.
51
Povos antigos da região da África: homens do mato.
52
Vegetação.
53
Vasilhas em forma de madeira ou barro.
54
Pequeno jarro com bico.
37
Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
Nada de armários ou baús. A roupa, guarda-a no corpo. Só tem dois parelhas55; um que traz no uso e outro
na lavagem.
Os mantimentos apaiola56 nos cantos da casa. Inventou um cipó preso à cumeeira 57, de gancho na ponta e
um disco de lata no alto: ali pendura o toucinho, a salvo dos gatos e ratos.
Da parede pende a espingarda pica-pau, o polvarinho58 de chifre, o São Benedito defumado, o rabo de tatu
e as palmas bentas de queimar durante as f ortes trovoadas. Servem de gaveta os buracos da parede. Seus remotos
avós não gozaram maiores comodidades.
Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.
Se pelotas 59 de barro caem, abrindo seteiras 60 na parede, Jeca não se move a repô-las. Ficam pelo resto
da vida os buracos abertos, a entremostrarem nesgas de céu.
Quando a palha do teto, apodrecida, greta em fendas por onde pinga a chuva, Jeca, em vez de remendar a
tortura, limita-se, cada vez que chove, a aparar numa gamelinha a água gotejante...
Remendo... Para quê?, se uma casa dura dez anos e f altam “apenas” nove para ele abandonar aquela?
Esta f ilosofia economiza reparos.
Na mansão de Jeca a parede dos f undos bojou para fora um ventre empanzinado, ameaçando ruir; os
barrotes 61, cortados pela umidade, oscilam na podriqueira do baldrame 62. A fim de neutralizar o desaprumo e prevenir
suas consequências, ele grudou na parede uma Nossa Senhora enquadrada em moldurinha amarela – santo de
mascate63.
– “Por que não remenda essa parede, homem de Deus?”
– “Ela não tem coragem de cair. Não vê a escora?”
Não obstante, “por via das dúvidas”, quando ronca a trovoada Jeca abandona a toca e vai agachar-se no
oco dum velho embiruçu do quintal – para se saborear de longe com a eficácia da escora santa.
Um pedaço de pau dispensaria o milagre; mas entre pendurar o santo e tomar da f oice, subir ao morro,
cortar a madeira, atorá-la, baldeá-la e especar a parede, o sacerdote da Grande Lei do Menor Esforço não vacila. É
coerente.
Um terreirinho descalvado rodeia a casa. O mato o beira. Nem árvores frutíferas, nem horta, nem f lores –
nada revelador de permanência.
Há mil razões para isso; porque não é sua a terra; porque se o “tocarem” não f icará nada que a outrem
aproveite; porque para frutas há o mato; porque a “criação” come; porque...
– “Mas, criatura, com um vedozinho64 por ali... A madeira está à mão, o cipó é tanto... ” Jeca, interpelado,
olha para o morro coberto de moirões, olha para o terreiro nu, coça a cabeça e cuspilha.
– “Não paga a pena.”
Todo o inconsciente filosofar do caboclo grulha65 nessa palavra atravessada de fatalismo e modorra. Nada
paga a pena. Nem culturas, nem comodidades. De qualquer jeito se vive.
Da terra só quer a mandioca, o milho e a cana. A primeira, por ser um pão já amassado pela natureza. Basta
arrancar uma raiz e deitá-la nas brasas. Não impõe colheita, nem exige celeiro. O plantio se faz com um palmo de rama
f incada em qualquer chão. Não pede cuidados. Não a ataca a formiga. A mandioca é sem-vergonha.
Bem ponderado, a causa principal da lombeira do caboclo reside nas benemerências sem conta da
mandioca. Talvez que sem ela se pusesse de pé e andasse. Mas enquanto dispuser de um pão cujo preparo s e resume
no plantar, colher e lançar sobre brasas, Jeca não mudará de vida. O vigor das raças humanas está na razão direta da
hostilidade ambiente. Se a poder de estacas e diques o holandês extraiu de um brejo salgado a Holanda, essa joia do
esf orço, é que ali nada o favorecia. Se a Inglaterra brotou das ilhas nevoentas da Caledônia, é que lá não medrava 66 a
mandioca. Medrasse, e talvez os víssemos hoje, os ingleses, tolhiços 67, de pé no chão, amarelentos, mariscando de
peneira no Tâmisa. Há bens que vêm para males. A mandioca ilustra este avesso de provérbio.
Outro precioso auxiliar da calaçaria68 é a cana. Dá rapadura, e para Jeca, simplificador da vida, dá garapa.
Como não possui moenda, torce a pulso sobre a cuia de caf é um rolete, depois de bem macetados os nós; açucara
assim a beberagem, fugindo aos trâmites condutores do caldo de cana à rapadura.
55
Par de cavalos.
56
Armazenar.
57
Telha que cobre o vão de encontro das extremidades de um telhado.
58
Objeto usado para guardar pólvora.
59
Bolas, caroços.
60
Aberturas nas paredes para a entrada de luz.
61
Pequena trave de madeira, de metal, que serve de sustentação de soalhos, telhados.
62
Alicerce, viga de sustentação.
63
Vendedor que oferece mercadorias em domicílio.
64
Árvore de grande porte.
65
Falar muito, tagarelar.
66
Fazer crescer.
67
Atrofiado, defeituoso.
68
Preguiça, ociosidade.
38
Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
(...) O f ato mais importante de sua vida é sem dúvida votar no governo. Tira nesse dia da arca69 a roupa
preta do casamento, sarjão70 f uradinho de traça e todo vincado de dobras; entala os pés num alentado 71 sapatão de
bezerro; ata ao pescoço um colarinho de bico e, sem gravata, ringindo e mancando, vai pegar o diplom a de eleitor (...).
Vota. Não sabe em quem, mas vota. Esfrega a pena no livro eleitoral, arabescando 72 o aranhol73 de
gataf unhos74 e que chama “sua graça”.
O mobiliário cerebral de Jeca, à parte o suculento recheio de superstições, vale o do casebre. O banquinho
de três pés, as cuias, o gancho de toucinho, as gamelas, tudo se reedita dentro de seus miolos sob a f orma de ideias:
são as noções práticas da vida, que recebeu do pai e sem mudança transmitirá aos filhos.
O sentimento de pátria lhe é desconhecido. Não tem sequer a noção do país em que vive. Sabe que o
mundo é grande, que há sempre terras para diante, que muito longe está a Corte com os graúdos e mais distante ainda
a Bahia, donde vêm baianos pernósticos75 e cocos76.
Perguntem ao Jeca quem é o presidente da República.
– “O homem que manda em nós tudo?”
– “Sim.”
– “Pois de certo que há de ser o imperador.” Em matéria de civismo não sobe de ponto.
– “Guerra? Te esconjuro! Meu pai viveu af undado no mato pra mais de cinco anos por causa da guerra
grande77. Eu, para escapar do ‘reculutamento’, sou inté capaz de cortar um dedo, como o meu tio Lourenço...” Guerra,
def esa nacional, ação administrativa, tudo quanto cheira a governo resume-se para o caboclo numa palavra apavorante
– “reculutamento”.
(...) A sua medicina corre parelhas com o civismo e a mobília – em qualidade. Quantitativamente, assombra.
Da noite cerebral pirilampejam-lhe apózemas78, cerotos, arrobes79 e eletuários 80 escapos81 à sagacidade cômica de
Mark Twain. Compendia-os um Chernoviz82 não escrito, monumento de galhofa onde não há rir, lúgubre como é o
epílogo. A rede na qual dois homens levam à cova as vítimas de semelhante farmacopeia é o espetáculo mais triste da
roça.
Quem aplica as mezinhas 83 é o “curador”, um Eusébio Macário de pé no chão e cérebro trancado como
moita de taquaruçu. O veículo usual das drogas é sempre a pinga – meio honesto de render homenagem à deusa
Cachaça, divindade que entre eles ainda não encontrou heréticos.
Doenças hajam que remédios não faltam.
Para bronquite, é um porrete cuspir o doente na boca de um peixe vivo e soltá-lo: o mal se vai com o peixe
água abaixo...
Para “quebranto de ossos”, já não é tão simples a medicação. Tomam-se três contas de rosário, três galhos
de alecrim, três limas de bico, três iscas de palma benta, três raminhos de arruda, três ovos de pata preta (com casca;
sem casca desanda) e um saquinho de picumã; mete-se tudo numa gamela d’água e banha-se naquilo o doente,
f azendo-o tragar três goles da zurrapa84. É infalível!
O específico da brotoeja consiste em cozimento de beiço de pote para lavagens. Ainda há aqui um pormenor
de monta; é preciso que antes do banho a mãe do doente molhe na água a ponta de sua trança. As brotoejas saram
como por encanto.
Para dor de peito que “responde na cacunda”, cataplasma de “jasmim de cachorro” é um porrete.
Além desta alopatia85, para a qual contribui tudo quanto de mais repugnante e inócuo que existe na natureza,
há a medicação simpática, baseada na influição misteriosa de objetos, palavras e atos sobre o corpo humano.
O ritual bizantino dentro de cujas maranhas os filhos de Jeca vêm ao mundo, e do qual não há f ugir sob
pena de gravíssimas consequências futuras, daria um in-fólio86 de alto f ôlego ao Sílvio Romero bastante operoso que
se propusesse a compendiá-lo. Num parto difícil nada tão ef icaz como engolir três caroços de f eijão mouro, de passo
que a parturiente veste pelo avesso a camisa do marido e põe na cabeça, também pelo avesso, o seu chapéu. Falhando
esta simpatia, há um derradeiro recurso: colar no ventre encruado a imagem de São Benedito.
Nesses momentos angustiosos outra mulher não penetre no recinto sem primeiro defumar-se ao fogo, nem
traga na mão caça ou peixe: a criança morreria pagã. A omissão de qualquer destes preceitos fará chover mil desgraças
na cabeça do chorincas87 recém-nascido.
69
Caixa grande.
70
Tecido grosseiro de lã.
71
Resistente, forte.
72
Rabiscar.
73
Relativo a teias de aranha.
74
Letra malfeita, garatuja.
75
Presumido, pretensioso.
76
Que tem muito dinheiro.
77
Guerra do Paraguai
78
Cozimento de substâncias vegetais, a que se juntam outras substâncias que o clarificam e adoçam.
79
Nome comum a certos xaropes medicinais, preparados à base de extratos vegetais.
80
Medicamento de uso interno constituído de pós finos, xarope, mel ou resinas líquidas; empr. esp. como calmante e purgativo.
81
Que escapou; livre.
82
Os manuais de medicina popular do dr. Chernoviz foram essenciais na difusão de saberes e práticas aprovados pelas instituições médicas oficiais.
83
Referente a qualquer remédio.
84
Referente a bebida de mau sabor.
85
A alopatia é o mais conhecido sistema de medicação usado pela medicina tradicional.
86
Folha de impressão dobrada uma vez, resultando em duas folhas que formam quatro páginas.
87
Var. chorão.
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
A posse de certos objetos confere dotes sobrenaturais. A invulnerabilidade às facadas ou cargas de chumbo
é obtida graças à f lor da samambaia.
Esta planta, conta Jeca, só f loresce uma vez por ano, e só produz em cada samambaial uma f lor. Isto à
meia-noite, no dia de São Bartolomeu. É preciso ser muito esperto para colhê-la, porque também o diabo anda à cata.
Quem consegue pegar uma, ouve logo um estouro e tonteia ao cheiro de enxofre – mas livra-se de faca e chumbo pelo
resto da vida. Todos os volumes do Larousse não bastariam para catalogar-lhe as crendices, e como não há linhas
divisórias entre estas e a religião, confundem-se ambas em maranhada teia, não havendo distinguir onde para uma e
começa outra.
A ideia de Deus e dos santos torna-se jecocêntrica. São os santos os graúdos lá de cima, os coronéis
celestes, debruçados no azul para espreitar-lhes a vidinha e intervir nela ajudando -os ou castigando-os, como os
metediços deuses de Homero. Uma torcedura de pé, um estrepe, o feijão entornado, o pote que rachou, o bicho que
arruinou – tudo diabruras da corte celeste, para castigo de más intenções ou atos.
Daí o f atalismo. Se tudo movem cordéis lá de cima, para que lutar, reagir? Deus quis. A maior catástrofe é
recebida com esta exclamação, muito parenta do “Allah Kébir” do beduíno 88.
E na arte?
Nada.
A arte rústica do campônio europeu é opulenta a ponto de constituir preciosa fonte de sugestões para os
artistas de escol89. Em nenhum país o povo vive sem a ela recorrer para um ingênuo embelezamento da vida. Já não
se f ala no camponês italiano ou teutônico, filho de alfobres 90 mimosos, propícios a todas as florações estéticas. Mas o
russo, o hirsuto91 mujique92 a meio atolado em barbárie crassa. Os vestuários nacionais da Ucrânia nos quais a cor viva
e o sarapantado da ornamentação indicam a ingenuidade do primitivo; os isbas 93 da Lituânia, sua cerâmica, os
bordados, os móveis, os utensílios de cozinha, tudo revela no mais rude dos campônios o sentimento da arte.
No samoiedo, no pele-vermelha, no abexim, no papua, um arabesco ingênuo costuma ornar-lhes as armas
– como lhes ornam a vida canções repassadas de ritmos sugestivos.
Que nada é isso, sabido como já o homem pré-histórico, companheiro do urso das cavernas, entalhava
perf is de mamutes em chifres de rena.
Egresso à regra, não denuncia o nosso caboclo o mais remoto traço de um sentimento nascido com o
troglodita.
Esmerilhemos o seu casebre: que é que ali denota a existência do mais vago senso estético? Uma
chumbada no cabo do relho e uns zigue-zagues a canivete ou fogo pelo roliço do porretinho de guatambu. É tudo.
Às vezes surge numa f amília um gênio musical cuja f ama esv oaça pelas redondezas. Ei-lo na viola:
concentra-se, tosse, cuspilha o pigarro, fere as cordas e “tempera”. E fica nisso, no tempero.
Dirão: e a modinha?
A modinha, como as demais manifestações de arte popular existentes no país, é obra do mulato, em cujas
veias o sangue recente do europeu, rico de atavismos94 estéticos, borbulha de envolta com o sangue selvagem, alegre
e são do negro.
O caboclo é soturno95.
Não canta senão rezas lúgubres.
Não dança senão o cateretê96 aladainhado.
Não esculpe o cabo da faca, como o cabila97.
Não compõe sua canção, como o felá98 do Egito.
No meio da natureza brasílica, tão rica de f ormas e cores, onde os ipês f loridos derramam f eitiços no
ambiente e a inf olhescência dos cedros, às primeiras chuvas de setembro, abre a dança dos tangarás; onde há abelhas
de sol, esmeraldas vivas, cigarras, sabiás, luz, cor, perfume, vida dionisíaca em escacho 99 permanente, o caboclo é o
sombrio urupê de pau podre, a modorrar silencioso no recesso das grotas.
Só ele não f ala, não canta, não ri, não ama.
Só ele, no meio de tanta vida, não vive...
88
Grupo árabe nômade habitante dos desertos.
89
O que é considerado melhor, de maior qualidade, numa sociedade ou num grupo; elite.
90
Lugar que produz grande quantidade de qualquer coisa.
91
Rude, grosso.
92
Homem rude, do povo.
93
Habitações tradicional de camponeses.
94
Características.
95
Melancólico, tristonho, taciturno.
96
Dança rural.
97
Os cabilas ou cabildas são um povo que habita tradicionalmente a região montanhosa da Cabília, no nordeste da Argélia.
98
Felá é um fazendeiro e laborador agrícola do Oriente Médio e Norte da África. A palavra deriva do termo árabe para "lavrador" ou "agricultor".
99
No sentido de farra.
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
Lima Barreto (1881 – 1922)
Nascido no Rio de Janeiro, Lima Barreto, escritor de origem humilde e
descendente de negros escravizados, é considerado um dos principais
autores pré-modernistas brasileiros. Autor de uma vasta obra, constituída
por contos, crônicas e romances, não teve seu nome aprovado para
ingresso na Academia Brasileira de Letras. Sua principal obra, o romance
Triste fim de Policarpo Quaresma, publicado em 1915, assim como as
outras obras do autor, expressa as características fundamentais do pré-
modernismo, como o uso de uma linguagem mais popular e a
representação de enredos centrados no cotidiano de homens
Lima Barreto em foto tirada em 1919, quando
comuns. internado no Hospício Nacional, no Rio de
Janeiro.
Mulato, pobre, orgulhoso de suas origens, ferino e severo em suas críticas, alcoólatra e subversivo, Lima
Barreto foi incompreendido pela crítica de seu tempo e alcançou em vida apenas uma relativa popularidade.
Além do preconceito de que sempre foi vítima, por ser mulato e alcoólatra, sua distância em relação ao grupo
paulista que daria início à revolução modernista na literatura e nas artes também pode explicar seu
ofuscamento como escritor. (CEREJA, 2013, p. 365)
Lima Barreto foi um dos poucos em nossa literatura que combateram o preconceito racial e a discriminação
social do negro e do mulato. Essa abordagem está presente, por exemplo, nos romances Clara dos Anjos,
Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá e no quase autobiográfico Recordações do escrivão Isaías Caminha.
Escreveu ainda um curioso romance, Cemitério dos vivos, que ficou inacabado, resultado de suas
observações e reflexões nas duas vezes em que, por alcoolismo, esteve internado num hospício. (Idem, p. 365)
A paixão de Lima Barreto por sua cidade, o Rio de Janeiro, com seus subúrbios, sua gente pobre e seus
dramas humildes, também está presente nas obras do escritor, assim como a crít ica a figuras da classe
média que lutam desesperadamente para ascender socialmente ou a políticos da época, sarcasticamente
retratados, pela mania de ostentação, pelo vazio intelectual e pela ganância.
100
Texto adaptado de DIAS, Carmen Lydia de Souza. Quaresma/Ressureição. In: Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Editora
Ática, 2001.
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
(...) Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro (...) o que o patriotismo o fez pensar, foi
num conhecimento inteiro do Brasil, levando-o a meditações sobre os seus recursos, para depois então apontar os
remédios, as medidas progressivas, com pleno conhecimento de causa. Não se sabia bem onde nascera, mas não fora
decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer
regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. (...)
Centrado na temático do nacionalismo como valor a ser revisto, o autor mobilizará um referencial adequado
à reconstituição histórico-ficcional forjando um espaço favorável de confronto entre o pat riotismo
ufano/abstrato do Major Policarpo e a realidade concreta do quotidiano nacional. A representação deste real
cheio de vícios gritantes da distribuição do Poder e da Riqueza recairá sobre a infraestrutura burocrática,
civil e militar, correlacionada ao caráter agroexportador e dependente do país, já no início do século XIX.
Distribui-se em três etapas de ação a trajetória do pátrio ufanismo de Quaresma. É um tipo de nacionalismo
que, de saída, já pode constar como dado sociocultural próprio de uma certa mentalidade otimista dos
primeiros anos da República, a conquista redentora, carregada de promessas que cedo começam a se
mostrar inviáveis decepcionando gradualmente alguns setores das classes médias e continuando a
marginalizar a crescente massa do povo inculto, urbano e rural.
Entretanto, é a convicção, até o absurdo, da condição privilegiada do Brasil entre as nações que impele
Quaresma a três “grandes cometimentos” para reformar a inigualável “pátria do Cruzeiro”:
1) o cultural (lembremos os engraçados lances do projeto de adoção do tupi-guarani como língua oficial e
a iniciativa esdrúxula de cumprimentar as pessoas chorando como faziam os tupinambás) :
Essa ideia levou-o a estudar os costumes tupinambás; e, como uma idéia traz outra, logo ampliou o seu propósito e eis
a razão por que estava organizando um código de relações, de cumprimentos, de cerimônias domésticas e festas,
calcado nos preceitos tupis. Desde dez dias que se entregava a essa árdua tarefa, quando (era domingo) l he bateram
à porta, em meio de seu trabalho. Abriu, mas não apertou a mão. Desandou a chorar, a berrar, a arrancar os cabelos,
como se tivesse perdido a mulher ou um filho. A irmã correu lá de dentro, o Anastácio também, e o compadre e a filha,
pois eram eles, ficaram, estupe- fatos no limiar da porta.
—Mas que é isso, compadre?
—Que é isso, Policarpo?
—Mas, meu padrinho...
Ele ainda chorou um pouco. Enxugou as lágrimas e, depois, explicou com a maior
naturalidade:
—Eis aí! Vocês não têm a mínima noção das coisas da nossa terra, Queriam que eu apertasse a mão... Isto não é
nosso! Nosso cumprimento é chorar quando encontramos os amigos, era assim que faziam os tupinambás.
O seu compadre Vicente, a filha e Dona Adelaide entreolharam-se, sem saber o que dizer. O
homem estaria doido? Que extravagância! (p. 14)
Quaresma e seus empregados trabalhavam agora longe, faziam um roçado, e fora para auxiliar esse serviço que
contratou o Felizardo. Era este um camarada magro, alto, de longos braços, longas pernas, como um símio. Tinha a
face cor de cobre, a barba rala e, sob uma aparência de fraqueza muscular, não havia ninguém mais valente que ele a
roçar. Com isto era um tagarela incansável. De manhã, quando chegava, aí pelas seis horas, já sabia todas as
intriguinhas do município. (p. 57)
3) e o político (a adesão incondicional – e fatal – ao “governo forte” de Floriano). Lima Barreto transcende
a visão limitada de seu protagonista – ainda mais asfixiante no final patético em que Policarpo, esperando o
seu triste fim, lamenta o tempo mal empregado a inconstância do objeto de seus esforços, ou seja, a pátria,
noção que agora lhe parece abstrata e que “precisa ser revista”.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos
heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas de tupi,
do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O
tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura?
Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo
se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater
como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série,
melhor, um encadeamento de decepções. A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no
silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. (p. 175)
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Eu (1912) – Augusto dos Anjos
101 Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Engenho Pau
D’Arco, vila do Espírito Santo, Paraíba a 20 de abril de 1884. Após os
estudos primários e secundários, conduzidos pelo pai, forma-se em
Direito por Recife (1907). Muda-se para o Rio de Janeiro (1910), onde
vive do magistério. Publica, em 1912, à custa do irmão, seu único livro,
Eu, recebido ruidosamente pela crítica.
A poesia de Eu resulta de antagonismos irreconciliáveis: dicotomia
irredutível entre Espírito/Ideia e Matéria – tudo o mais deriva desse
núcleo irradiador de tormento, bem como a poesia mais tensa e vigorosa
do período. Dessa antitética aproximação nasce a poesia da
decomposição, marca registrada e Eu. Movido pela atração do bizarro,
não surpreende que se voltasse para o grotesco. O mínimo que se pode
dizer é que a mente do poeta se afigura um palco de horrores,
avassalada por contínuos pesadelos.
Poesia crepuscular, apocalíptica, de fim de mundo, de agonia, poesia “de um vencido”, a bracejar num mar
de dúvidas e antagonismos inconciliáveis. É ainda poesia de um erudito: o conhecimento, nomeadamente
o científico, é convocado para dentro do poema, assim refletindo estados de alma, como sustentáculo e
matéria da forma. Erudição transfundida na sensibilidade, tornada cerne do organismo poético.
Morcego Budismo moderno
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Tome, Doutor, esta tesoura, e... corte
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Minha singularíssima pessoa.
Na bruta ardência orgânica da sede, Que importa a mim que a bicharia roa
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. Todo o meu coração, depois da morte?!
“Vou mandar levantar outra parede...” Ah! Um urubu pousou na minha sorte!
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho Também, das diatomáceas da lagoa
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, A criptógama cápsula se esbroa
Circularmente sobre a minha rede! Ao contato de bronca destra forte!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego Dissolva-se, portanto, minha vida
A tocá-lo. Minh’alma se concentra. Igualmente a uma célula caída
Que ventre produziu tão feio parto?! Na aberração de um óvulo infecundo;
A Consciência Humana é este morcego! Mas o agregado abstrato das saudades
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Fique batendo nas perpétuas grades
Imperceptivelmente em nosso quarto! Do último verso que eu fizer no mundo
101
Texto adaptado de Moisés, Massaud. In: História da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2016.
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
Euclides da Cunha: em busca da verdade histórica
Euclides da Cunha (1866-1909) nasceu no Rio de Janeiro, estudou na Escola
Militar e fez curso de Engenharia. De formação positivista e republicano
convicto, sempre mostrou grande interesse por ciências naturais e filosofia.
Viveu durante algum tempo em São Paulo e, em 1897, foi enviado pelo jornal
O Estado de S. Paulo ao sertão da Bahia, para cobrir, como correspondente,
a guerra de Canudos. Na condição de ex-militar, Euclides pôde informar com
precisão os movimentos de guerra das três últimas semanas de conflito.
Mobilizando e dividindo a opinião pública, suas mensagens, transmitidas pelo
telégrafo, permitira que o sul do país acompanhasse passo a passo a
campanha. Cinco anos depois, o autor lançou Os sertões, obra que narra e
analisa os acontecimentos de Canudos à luz das teorias científicas da época.
Euclides deixou também vários outros escritos - tratados, cartas, artigos -, todos relacionados ao país, às
suas características regionais, geográficas e culturais.
Isolados, alheios a pagamentos de impostos e à oficialização da cidade junto ao Estado, seus moradores
logo passaram a ter problemas com a Igreja e com as leis locais, o que originou o conflito.
Além disso, os sermões de Conselheiro não tratavam apenas da salvação das almas, mas também de
problemas concretos, como a miséria e a opressão política. Talvez sem ter completa clareza do que falava,
Conselheiro fazia críticas à República nascente, acusando-a de responsável pelas precárias condições de
vida do povo nordestino.
Embora Canudos tivesse uma organização social e econômica que se assemelhava ao comunismo primitivo
dos cristãos, com todos trabalhando e dividindo igualmente os frutos do trabalho , o movimento passou a ser
visto em todo o país como monarquista e considerado uma ameaça à soberania nacional. Suas verdadeiras
causas, na época, não foram objeto de nenhuma discussão mais aprofundada.
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
Os Sertões: o Brasil esquecido
Durante o conflito, os militares mantiveram os jornais sob censura. O país recebia apenas a versão oficial
da guerra: a luta da República contra focos monarquistas no sertão baiano. Terminada a guerra, as
verdadeiras ações dos vencedores - degola de prisioneiros, tortura, prostituição, estupros e comércio de
crianças - continuaram sendo encobertas.
A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicada cinco anos depois do término do conflito, consiste em
uma tentativa de rever a versão oficial da guerra de Canudos.
Com sua obra, Euclides não pretendia apenas contar o que presenciara no sertão. Munido das teorias
científicas vigentes - determinismo, positivismo e conhecimentos de sociologia e geografia natural e humana
-, pretendia também compreender e explicar o fenômeno cientificamente.
Os Sertões, portanto, constitui uma experiência única em
nossa literatura: é uma obra com estilo literário, de fundo
histórico (apesar do fato recente) e de rigor científico.
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de urna estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem
o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe
o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com
o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na f rente éguas e léguas, imutável no aspecto
desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou
estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante...
(Euclides da Cunha. Os sertões. São Paulo: Círculo do Livro. 1975. p. 38.)
TEXTO 2
O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o
desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-
Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e sinuoso
aparenta a translação de membros desarticulados.
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EXERCÍCIOS
1. Apenas duas opções podem ser apontadas como características do Pré-Modernismo:
4. Apenas uma das afirmações abaixo não se referem a Canaã, obra mais conhecida de Graça Aranha.
Indique qual.
5. ________, autor de apenas um livro, Eu, morreu com apenas 30 anos, e foi um incompreendido. Numa
edição póstuma do seu livro, foram divulgados poemas inéditos.
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7. (PUC-RS) Na figura de ________, Monteiro Lobato criou o símbolo do brasileiro abandonado ao seu
atraso e miséria pelos poderes públicos.
a) O Cabeleira
b) Jeca Tatu
c) João Miramar
d) Blau Nunes
e) Augusto Matraga
8. (UFR) "Crítico feroz do Modernismo, grande incentivador da disseminação da cultura, defensor dos
valores e riquezas nacionais; conhecido, particularmente, pela sua grande obra infantil, em que se destacam
os personagens do Sítio do Picapau Amarelo."
a) Lima Barreto
b) José Lins do Rego
c) Monteiro Lobato
d) Mário de Andrade
e) Cassiano Ricardo
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele f izera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a f elicidade saber o nome dos heróis
do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido f eliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do
f olclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disto tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma! Nenhuma!"
(Lima Barreto)
9. As obras do autor desse trecho integram o período literário chamado Pré-Modernismo. Tal designação
para este período se justifica, porque ele:
10. (FCC-BA) Fazendo um paralelo entre Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de
Guimarães Rosa, pode-se afirmar:
a) Em ambas as obras predomina o espírito científico, sendo analisados aspectos da realidade brasileira.
b) Ambas têm por cenário o sertão do Brasil setentrional, sendo numerosas as referências à flora e à fauna.
c) Ambas as obras, criações de autores dotados de gênio, muito enriqueceram a nossa literatura regional de
ficção.
d) Ambas têm como principal objetivo denunciar o nosso subdesenvolvimento, revelando a miséria física e
moral do homem do sertão.
e) Tendo cada uma suas peculiaridades estilísticas, são ambas produto de intensa elaboração de linguagem.
a) Não se caracterizou como uma escola literária com princípios estéticos bem delimitados, mas como um
período de prefiguração das inovações temáticas e linguísticas do Modernismo.
b) Algumas correntes de vanguarda do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo, exerceram
grande influência sobre nossos escritores pré-modernistas, sobretudo na poesia.
c) Tanto Lima Barreto quanto Monteiro Lobato são nomes significativos da literatura pré -modernista
produzida nos primeiros anos do século XX, pois problematizam a realidade cultural e social do Brasil.
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d) Euclides da Cunha, com a obra "Os Sertões", ultrapassa o relato meramente documental da batalha de
Canudos para fixar-se em problemas humanos e revelar a face trágica da nação brasileira.
e) Nos romances de Lima Barreto observa-se, além da crítica social, a crítica ao academicismo e à linguagem
empolada e vazia dos parnasianos, traço que revela a postura moderna do escritor.
12. (UFRGS) Lima Barreto é um autor que se caracteriza por criar tipos:
13. (Enem)
O f alecimento de uma criança é um dia de f esta. Ressoam as violas na cabana dos pobres pais, jubilosos entre as
lágrimas; referve o samba turbulento; vibram nos ares, f ortes, as coplas dos desafios, enquanto, a uma banda, entre
duas velas de carnaúba, coroado de f lores, o anjinho exposto espelha, no último sorriso paralisad o, a f elicidade
suprema da volta para os céus, para a felicidade eterna — que é a preocupação dominadora daquelas almas ingênuas
e primitivas.
CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição comemorativa do 90.º ano do lançamento. Rio de Janeiro: Ediouro, 1992, p. 78.
14. (UNITAU)
"Só ele não fala, não canta, não ri, não ama. Só ele, no meio de tanta vida, não vive."
a) ao nordestino.
b) ao menor.
c) ao sertão.
d) ao caboclo.
e) ao paulistano.
15. (Vunesp) Volume contendo doze histórias tiradas do sertão paulista, foi citado por Rui Barbosa, em
discurso no Senado, apontando o personagem Jeca Tatu como o protótipo do camponês brasileiro. Aponte
o autor e sua obra:
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16. (Cesmac) Engenheiro e ensaísta social, Euclides da Cunha (1866-1909) é autor de uma das obras
clássicas
17. (Enem)
Negrinha
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha
esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa.
Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu.
Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário,
dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio
da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.
[...]
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos e
daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo essa indecência
de negro igual.
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).
18. (Enem)
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele f izera a tolice de estudar inutilidade s. Oue lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois que f ossem... Em que lhe contribuía para a f elicidade saber o nome dos
heróis do Brasil? Em nada... O importante e que ele tivesse sido f eliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do
f olk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura?
Nada. As terras não eram ferazes e ela não era f ácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo
se f izera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele a viu combater como
f eras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor,
um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopubIico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento
destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que
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19. (FEI) Uma das obras citadas abaixo foi escrita por Lima Barreto. Assinale-a:
a) Canaã
b) Os sertões
c) Triste fim de Policarpo Quaresma
d) Eu
e) Urupês
BARRETO, L. Vida e morte de MJ Gonzaga de Sá. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 10 ago. 2017.
Situado num momento de transição, Lima Barreto produziu uma literatura renovadora em diversos aspectos.
No fragmento, esse viés se fundamenta na
21. Identifique o poeta de preocupação filosófica e científica, em cuja obra aparecem expressões do tipo:
Resposta: ________________________________________________________________________
22. (VUNESP-SP)
"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro , funcionário público, certo de que a língua portuguesa é
emprestada ao Brasil ; certo também de que, por esse fato , o falar e o escrever em geral, sobretudo no
campo das letras, se vêem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos
proprietários da língua; sabendo , além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com
especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo -se, diariamente,
surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma - usando do direito que lhe
confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani, como língua oficial e
nacional do povo brasileiro."
Indique o que pretende o requerente com sua solicitação; indique também o título da obra, o nome do autor
e o movimento literário, aos quais o texto transcrito pertence.
Resposta: ___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
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Disciplina: Português V – AULA 8
Conteúdo: VANGUARDAS EUROPEIAS E MODERNISMO102
No início do século XX, uma verdadeira revolução começou a ocorrer nas artes em geral. Na literatura não
foi diferente: envolvidos por um espírito demolidor, os escritores voltaram-se contra o academicismo e
romperam com os padrões estéticos vigentes. Avessos às regras. os modernistas propuseram as "palavras
em liberdade".
o capoeira
- Quê apanhá sordado?
-O quê?
- Quê apanhá?
Pernas e cabeças na calçada
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas. 5. ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 94.)
À primeira vista, a linguagem modernista causa grande estranhamento, mesmo para o leitor atual. Uma das
razões desse estranhamento resulta do uso da técnica da simultaneidade de imagens, isto é, a junção de
elementos aparentemente sem relação uns com os outros. Essa técnica dá a impressão de fragmentação
da realidade, como se uma câmera estivesse captando flashes.
Os poetas modernistas eram contrários a regras. Para criar, propunham as "palavras em liberdade", o que
significava não se prender a regras preconcebidas. No lugar da métrica, propunham o uso do verso livre
(sem um número predeterminado de sílabas poéticas); em vez de formas fixas, inventavam novas formas a
cada novo poema.
102
Adaptado de CEREJA, William R. e MAGALHÃES, Thereza C. Literatura brasileira. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
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Contexto histórico
SÉCULO XX
A BELLE ÉPOQUE
O período da literatura europeia que se estende de 1886, por aí, a 1914, corresponde, de um modo geral,
ao que informalmente se denomina "belle époque". Uma de suas características, sob o ponto de vista da
história literária, é a pluralidade de tendências filosóficas, científicas, sociais e literárias, advindas do
realismo-naturalismo. Muitas das quais não sobreviveriam à grande guerra, transformando -se ou
desaparecendo no conflito e arrastando o final do século XIX que em vão tentava ultrapassar os seus
próprios limites cronológicos.
É a época das boêmias literárias, como as de Montmartre e Munique. Dessa literatura de cafés e boulevards,
de transição pré-vanguardista, é que vão se originar os inúmeros - ismos que marcarão o desenvolvimento
de todas as artes neste século [XX]. Esses movimentos foram, por um lado, decorrentes do culto à
modernidade, resultado das transformações científicas por que passava a humanidade; e, por outro,
consequência do esgotamento de técnicas e teorias estéticas que já não correspondiam à realidade do novo
mundo que começava a desvendar-se.
Uma simples inspeção dos números mostra que o Modernismo se vincula estreitamente a certas
transformações das sociedades, determinadas em geral por fenômenos exteriores, que vêm repercutir aqui.
1922 é um ano simbólico do Brasil moderno, coincidindo com o Centenário da Independência. A Guerra
Mundial de 1914-1918 influiu no crescimento da nossa indústria e no conjunto da economia, assim como
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nos costumes e nas relações políticas. Não apenas surge uma mentalidade renovadora na educação e nas
artes, como se principia a questionar seriamente a legitimidade do sistema político, dominado pela oligarquia
rural.
Em 1922, irrompe a transformação literária [com a Semana de Arte Moderna]. ocorre o primeiro dos levantes
político-militares que acabariam por triunfar com a Revolução de Outubro de 1930, funda-se o Partido
Comunista Brasileiro, etapa significativa da política de massas, que se esboçava e que avultaria cada vez
mais.
(Antonio Candido e José Aderaldo Castello. Presença da literatura brasileira: Modernismo. 8. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Di fel, 1979. p. 7-8.)
VANGUARDAS EUROPEIAS103
Na Europa não houve uma arte moderna uniforme. Houve, sim, um conjunto de tendências artísticas - muitas
vezes provenientes de países diferentes – com propostas específicas, embora as aproximassem certos
traços, como o sentimento de liberdade criadora, o desejo de romper com o passado, a expressão da
subjetividade e certo irracionalismo.
Paris era o principal centro cultural europeu da época e o lugar de onde as novas ideias artísticas se
irradiavam para o resto do mundo ocidental. Essas tendências, que surgiram na Europa antes, durante e
depois da Primeira Guerra Mundial, foram consideradas correntes de vanguarda.
FUTURISMO
Após a publicação, em 1909, do Manifesto Futurista, que define o perfil ideológico do movimento, Marinetti
lançou, em 1912, o Manifesto Técnico da Literatura Futurista, cujas propostas representam uma verdadeira
revolução literária. Entre elas, destacam-se:
• destruição da sintaxe e disposição das "palavras em liberdade";
• emprego de verbos no infinitivo, com vistas à substantivação da linguagem;
• abolição dos adjetivos e dos advérbios;
• uso de substantivo duplo, em lugar de substantivo acompanhado de adjetivo (praça-funil, mulher-golfo, por
exemplo);
• abolição da pontuação, que seria substituída por sinais da matemática ( +, -, :, =, >, <) e pelos sinais
musicais;
• destruição do eu psicologizante.
Evidentemente, nem todas essas propostas se firmaram na literatura. Contudo, o verso livre ficou como
uma das mais importantes contribuições do Futurismo e do Cubismo às correntes contemporâneas.
Embora a área de maior penetração do Futurismo tenha sido a literatura, o movimento também encontrou
ecos na pintura e na escultura, particularmente nas obras de Calos Carrà, Umberto Boccioni, Gino Severini,
Luigi Russolo e Giacomo Balia. Nas telas futuristas são comuns elementos que sugerem a velocidade e a
mecanização da vida moderna.
As propostas técnicas do Futurismo italiano tiveram adeptos em todo o mundo, entre os quais o escritor
norte-americano Walt Whitman, o poeta português Fernando Pessoa e os poetas brasileiros Mário de
Andrade e Oswald de Andrade. Veja, por exemplo, como nos seguintes versos do poema "Ode triunfal", de
Adaptado de CEREJA, William R. e MAGALHÃES, Thereza C. Literatura brasileira. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
103
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Fernando Pessoa, manifestam-se certos traços da poesia futurista, como o tom exaltado e exclamativo, a
negação do passado e a exaltação das máquinas.
CUBISMO
Iniciado na França, em 1907, o movimento cubista teve como principais representantes o pintor espanhol
Pablo Picasso e o poeta francês Apollinaire.
Na pintura, os artistas desse movimento cultivavam a representação de objetivos pelo uso de figuras
geométricas e de ângulos retos. Também difundiram a técnica de colagem, que consiste em criar imagens
por meio de outras, recortadas de jornais, revistas, anúncios.
Na literatura, os poetas compunham seus poemas por meio da exploração do espaço gráfico do livro,
dispondo versos e estrofes de modo a construir imagens. Em relação ao plano do conteúdo, os poemas
cubistas expressavam mistura de assuntos, sobreposição de tempos e espaços, o que resultava na
fragmentação do pensamento refletido nos textos poéticos.
Figura 1Figura 1Pablo Picasso, principal artista do cubismo, é autor de “Guernica”, obra que remete à Guerra Civil
Espanhola. [1]
DADAÍSMO
O movimento dadaísta, surgido durante a Primeira Guerra Mundial, teve como líder o artista Tristan Tzara e
como centro de difusão a cidade de Zurique, na Suíça, em razão desse país europeu ter -se mantido neutro
durante a guerra. As obras de arte desse movimento caracterizavam-se pela irreverência, pela ausência de
lógica, pela agressividade. Assim, muitas vezes, reunidos no Cabaret Voltaire, espaço cultural de Zurique,
esses artistas faziam declamações e performances permeadas por gritos, palavrões, comicidades. O
propósito dessa estética era expressar a decadência da humanidade diante dos horrores da guerra e a
impotência da arte tradicional.
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Nas artes plásticas, destaca-se o artista Marcel Duchamp. Na literatura, destaca-se o poeta Ludwing Kassak,
responsável pela construção de poemas fonéticos, nos quais predominam a reprodução gráfica de sons
variados. Outro poeta representativo foi André Breton, que posteriormente tornou -se fundador do
surrealismo.
Valorizava também o automatismo artístico, que consistia em reproduzir-se na tela tudo o que vinha à
mente do artista, sem que houvesse um filtro, o que interessava era a expressão do subconsciente sem
qualquer controle racional. Dessa forma, tornaram-se comuns o ilogismo, o devaneio, a hipnose etc.
Na literatura, destacaram-se o fundador do movimento, André Breton, Louis Aragon e Antonin Artaud. Nas
artes plásticas, destacaram-se o artista espanhol Salvador Dalí, Joan Miró e Max Ernst. O surrealismo
também se manifestou no cinema, sendo o principal cineasta dessa vertente o espanhol Luis Buñuel.
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EXPRESSIONISMO: liberdade na expressão no mundo interior
• A realidade que circunda o artista é horrível e, por isso, ele a deforma ou a elimina, criando a arte abstrata.
• A razão é objeto de descrédito.
• A arte é criada sem obstáculos convencionais, o que representa um repúdio à repressão social.
• A intimidade e a vivência da dor derivam do sentido trágico da vida e causam uma deformação significativa.
• A arte se desvincula do conceito de belo e feio e torna- se uma forma de contestação.
Na literatura, o Expressionismo geralmente apresenta estas características:
• linguagem fragmentada, elíptica, constituída por frases nominais (basicamente aglomerados de
substantivos e adjetivos), às vezes até sem sujeito;
• despreocupação quanto à organização do texto em estrofes, ao emprego de rimas ou à musicalidade;
A VANGUARDA BRASILEIRA
O Modernismo brasileiro iniciou-se oficialmente em 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna.
Entre os fatos que precederam a Semana de Arte Moderna destacam-se a criação da revista de artes O
Pirralho, dirigida por Oswald de Andrade e Emílio de Menezes, em 1911; a exposição de obras do pint or
russo Lasar Segall, em 1913; a participação do poeta brasileiro Ronald de Carvalho, em 1915, na fundação
da revista Orpheu, que deu início ao Modernismo em Portugal; a publicação, em 1917, de várias obras de
poesia, entre elas Há uma gota de sangue em cada poema, de Mário de Andrade (que usou o nome Mário
Sobral), e A cinza das horas, de Manuel Bandeira. Contudo, o fato mais marcante desse período foi uma
exposição da pintora paulista Anita Malfatti, realizada em 1917, que provocou por parte do escritor e crítico
do jornal O Estado de S. Paulo Monteiro Lobato uma violenta crítica, intitulada "Paranoia ou mistificação?".
Veja um fragmento desse artigo:
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Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em consequência disso fazem
arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os processos
clássicos dos grandes mestres. [...] A outra espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-
na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura
excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de estação,
bichados ao nascedouro. [. . .] Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti, onde se notam
acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.
[. . .]
EXERCÍCIOS
1. Sobre as vanguardas europeias, é correto afirmar, exceto:
a) Entre suas principais manifestações estão o Cubismo, o Futurismo, o Expressionismo, o Dadaísmo e o
Surrealismo, todos surgidos na Europa no início do século XX.
b) As tendências literárias que compuseram as vanguardas europeias estavam unidas por um único projetor
artístico, cuja proposta era a de retomar os ideais clássicos nas artes e na literatura.
c) As vanguardas europeias influenciaram as artes no mundo ocidental de maneira contundente. No Brasil,
as inovações nas artes e na literatura ficaram conhecidas como Modernismo.
d) A palavra “vanguarda” tem origem no francês avant-garde, que significa “o que marcha na frente”, ou seja,
as correntes de vanguarda antecipavam o futuro com suas práticas artísticas inovadoras e nada
convencionais.
e) Não havia um projeto artístico em comum que agregasse os artistas de vanguarda em torno de uma única
proposta, contudo, estavam unidos por uma mesma causa: a de inovar as artes e romper com os padrões
clássicos vigentes.
2. Sobre o Futurismo, estão corretas as seguintes alternativas:
I. No Brasil, todas as tendências de vanguarda foram chamadas de Modernismo, que equivale ao Futurismo,
para os italianos, e ao Expressionismo, para os alemães.
II. Na literatura brasileira, seus principais representantes foram Manuel Bandeira e Augusto Frederico
Schmidt, que se apropriaram de ideais futuristas para a realização de uma escrita automática e telegráfica.
III. O Futurismo difundiu-se por meio de manifestos e conferências, encontrando na literatura seu meio ideal
de realização artística.
IV. Entre suas principais características estão a decomposição das figuras em formas geométricas, a não
retratação da realidade de forma real (realidade fragmentada), a não utilização da perspectiva e
tridimensionalidade e o uso do humor.
a) Todas estão corretas.
b) Apenas I está correta.
c) I e III estão corretas.
d) II e IV estão corretas.
e) II e IV estão corretas.
3. (UCP – PR)
Movimento literário brasileiro que recebeu influências de vanguardas europeias, tais como o Futurismo e o
Surrealismo:
a) Modernismo
b) Parnasianismo
c) Romantismo
d) Realismo
e) Simbolismo
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4. (Enem) “Todas as manhãs quando acordo, experimento um prazer supremo: o de ser Salvador Dalí.”
NÉRET, G. Salvador Dalí. Taschen, 1996.
Assim escreveu o pintor dos “relógios moles” e das “girafas em chamas” em 1931. Esse artista excêntrico
deu apoio ao general Franco durante a Guerra Civil Espanhola e, por esse motivo, foi afastado do movimento
surrealista por seu líder, André Breton. Dessa forma, Dalí criou seu próprio estilo, baseado na interpretação
dos sonhos e nos estudos de Sigmund Freud, denominado “método de interpretação paranoico”. Esse
método era constituído por textos visuais que demonstram imagens
a) do fantástico, impregnado de civismo pelo governo espanhol, em que a busca pela emo ção e pela
dramaticidade desenvolveu um estilo incomparável.
b) do onírico, que misturava sonho com realidade e inconsciente como um universo único ou pessoal.
c) da linha inflexível da razão, dando vazão a uma forma de produção despojada no traço, na temática e nas
formas vinculadas ao real.
d) do reflexo, que, apesar do termo "paranoico", possui sobriedade e elegância advindas de uma técnica de
cores discretas e desenhos precisos.
e) da expressão e intensidade entre o consciente e a liberdade, declarando o amor pela forma de conduzir
o enredo histórico dos personagens retratados.
5. (Ano: 2017 Banca: INEP Órgão: ENEM)
E venham, então, os alegres incendiários de dedos carbonizados! Vamos! Ateiem fogo às estantes das bibliotecas!
Desviem o curso dos canais, para inundar os museus! Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e deitem
abaixo sem piedade as cidades veneradas!
MARINETTI, F. T. Manifesto futurista. Disponível em: www.sibila.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012 (adaptado).
Que princípio marcante do Futurismo e comum a várias correntes artísticas e c ulturais das primeiras três
décadas do século XX está destacado no texto?
a) A tradição é uma força incontornável.
b) A arte é expressão da memória coletiva.
c) A modernidade é a superação decisiva da história.
d) A realidade cultural é determinada economicamente.
e) A memória é um elemento crucial da identidade cultural.
6. (ENEM – 2019)
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo,
a insônia f ebril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós af irmamos que a magnif icência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um
automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um
automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também
numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, f austo e munif iciência, para aumentar o entusiástico f ervo r dos
elementos primordiais.
MARINETTI, F. T. Manifesto futurista. In: TELES, G. M. Vanguardas europeias e Modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.
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Disciplina: Português V – AULA 9
Conteúdo: MODERNISMO: 1ª FASE (1922-1930)104
O movimento modernista no Brasil contou com duas fases: a primeira foi de 1922 a 1930, e a segunda, de
1930 a 1945. A primeira fase caracterizou-se pelas tentativas de solidificação do movimento renovador e
pela divulgação de obras e ideias modernistas.
Apesar da diversidade de correntes e ideias, pode-se dizer que, de modo geral, os escritores de maior
destaque dessa fase defendiam a reconstrução da cultura brasileira sobre bases nacionais, a promoção de
uma revisão crítica de nosso passado histórico e de nossas tradições culturais, a eliminação definitiva do
nosso complexo de colonizados, apegados a valores estrangeiros. Eram, portanto, defensores de uma visão
nacionalista, porém crítica, da realidade brasileira.
Mário de Andrade, na conferência que fez em 1942 sobre a Semana de Arte Moderna, assi m se referiu a
esse período: "E vivemos uns oito anos, até perto de 1930, na maior orgia intelectual que a história artística
do país registra".
• popularizar a arte.
Adaptado de CEREJA, William R. e MAGALHÃES, Thereza C. Literatura brasileira. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
104
59
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A REALIZAÇÃO DO EVENTO105 – SEMANA DE ARTE MODERNA 1922
"Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações
obreiras, idealismos, motores, chaminé de fábricas, sangue, velocidade, sonho,
na nossa Arte!" Menotti dei Picchia, trecho da conferência pronunciada no segundo
espetáculo da Semana, em 15 de fevereiro de 1922.
105
NICOLA, José de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998.
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Afinal, o que queriam os modernistas?
o capoeira
- Quê apanhá sordado?
-O quê?
- Quê apanhá?
Pernas e cabeças na calçada
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 94.)
“Reagiam, portanto, contra o europeísmo parnasiano, ao mesmo tempo em que rendiam reverência a um
passado ainda mais remoto, além de reaquecer um estereótipo romântico, sob o pretexto de brasilidade e
nacionalismo.” (MOISÉS, 2019, p. 28)
Características
O período de 1922 a 1930 é o mais radical do movimento modernista, justamente em consequência da
necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Daí o caráter anárquico
desta primeira fase modernista e seu forte sentido destruidor, assim definido por Mário de Andrade:
" ... se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o seu sentido
verdadeiramente específico. Porque, embora lançando inúmeros processos e idei as novas, o movimento
modernista foi essencialmente destruidor. ( ... ) Mas esta destruição não apenas continha todos os germes
da atualidade, como era uma convulsão profundíssima da realidade brasileira. O que caracteriza esta
realidade que o movimento modernista impôs é, a meu ver, a fusão de três princípios fundamentais: o direito
permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira e a estabilização de uma
consciência criadora nacional."
Ao mesmo tempo que se procura o moderno, o original e o polêmico, o nacionalismo se manifesta em suas
múltiplas facetas: uma volta às origens, a pesquisa das fontes quinhentistas, a procura de uma "língua
brasileira" (a língua falada pelo povo nas ruas), as paródias, numa tentativa de repen sar a história e a
literatura brasileiras, e a valorização do índio verdadeiramente brasileiro. É o tempo dos manifestos
nacionalistas do Pau-Brasil e da Antropofagia, dentro da linha comandada por Oswald de Andrade, e dos
manifestos do Verde-Amarelismo e do grupo da Anta, que já trazem as sementes do nacionalismo
comandado por Plínio Salgado.
Entre os principais nomes dessa primeira fase do Modernismo e que continuariam a produzir nas décadas
seguintes destacam-se Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara
Machado, além de Menotti deI Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
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A orgia intelectual
Em 1924, Oswald de Andrade lançou o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, dando início ao movimento Pau-
Brasil, que, inspirado em nosso primeiro produto de exportação, o pau -brasil, defendia a criação de uma
poesia brasileira de exportação. Demonstrando irreverência e revolta contra a cultura acadêmica e a
dominação cultural europeia em nosso país, o movimento propunha uma poesia primitivista, construída com
base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização dos contrastes da
realidade e da cultura brasileiras.
Do ponto de vista técnico, o manifesto de Oswald propunha: a criação de uma língua brasileira ("A língua
sem arcaísmo, sem erudição"; "A contribuição milionária de todos os erros"); a síntese; o equilíbrio; a
surpresa.
Como reação ao tipo de nacionalismo defendido por Oswald de Andrade no Manifesto da Poesia Pau-Brasil
e ao espírito anarquista de seu autor, surgiu em São Paulo o movimento Verde -Amarelismo, constituído por
Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. Defendendo um
nacionalismo ufanista, com evidente inclinação para o nazifascismo (conforme ficaria comprovado mais tarde
com a adesão de Plínio Salgado ao integralismo), o grupo aleg ava que o movimento Pau-Brasil era
"afrancesado". Em 1927, tomando a anta e o índio tupi como símbolos da nacionalidade primitiva, o grupo
verde-amarelo transformou-se na Escola da Anta.
Revidando com sarcasmo o primitivismo xenófobo da Anta, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul
Bopp lançaram, em 1928, o mais radical de todos os movimentos do período: a Antropofagia. O movimento
foi inspirado no quadro Abaporu ("antropófago", em tupi), que Tarsila oferecera a Os wald como presente de
aniversário.
Partidários de um primitivismo crítico, os antropófagos propunham a devoração da cultura estrangeira. As
ideias do grupo tinham como porta-voz a Revista de Antropofagia, da qual também participavam Antônio de
Alcântara Machado, Geraldo Costa e outros.
Contrariamente à xenofobia da Escola da Anta, os antropófagos não negavam a cultura estrangeira, mas
também não a copiavam nem imitavam. Assim como os índios primitivos devoravam seu inimigo, acreditando
que desse modo assimilariam suas qualidades, os artistas antropófagos propunham a "devoração simbólica"
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da cultura estrangeira, aproveitando suas inovações artísticas, porém sem a perda da nossa própria
identidade cultural. Trata-se, portanto, de um aprofundamento da ideia da "digestão cultural" já proposta no
Manifesto da Poesia Pau-Brasil.
Da primeira geração do Modernismo brasileiro, participaram vários escritores, entre os quais se destacaram
Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Alcântara Machado, Menotti delPicchia, Guilherme
de Almeida, Ronald de Carvalho e Raul Bopp.
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Autor de uma frase como "o passado é lição para se meditar e não para se reproduzir", o que mais
impressiona em Mário de Andrade é a capacidade de conciliar, em plena euforia da "destruição" dos
primeiros embates modernistas, as lições do passado e as conquistas do presente. Já em 1921, Mário
aceitava várias das propostas formais do futurismo italiano, mas rejeitava-lhe a postura radicalmente
destruidora. E foi com essa serenidade e equilíbrio que ele conduziu toda a sua obra.
Essa postura de rever o passado, em vez de negá-lo radicalmente, levaria Mário a escrever ensaios de
crítica literária de inestimável valor, que chegaram a alterar a visão da crítica vigente sobre certos autores
do passado. A par da literatura, Mário também revelou interesse pela música, pelo folclore, pela antropologia,
pela etnografia, pela psicologia e por outras áreas do conhecimento humano que podiam enriquecer suas
atividades essenciais de escritor e músico (pianista, professor de música e compositor) .
Sem nunca ter saído do país, Mário empreendeu várias viagens pelo Brasil, inicialmente como mero "turista
aprendiz" e depois como pesquisador. Passou pelas cidades históricas mineiras, pelo Norte e pelo Nordeste
do país, onde recolheu materiais e informação de interesse cultural, como poemas e canções populares,
modinhas, ritmos, festas religiosas e de folia, lendas e músicas indígenas, objetos de arte.
Mário foi diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, funcionário do Serviço do
Patrimônio Histórico, do Ministério da Educação e professor universitário, sempre prestando serviços de
grande valor na área da cultura e da educação.
Muito mais do que como meio de satisfação pessoal, Mário encarava sua intensa atividade cultural como
missão, isto é, queria ser útil no processo de reconstrução de um Brasil que se transformava social, política,
econômica e culturalmente.
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INSPIRAÇÃO
São Paulo! comoção de minha vida.
Os meus amores são flores feitas de original! .
Arlequinal! . Trajes de losangos.. Cinza e ouro ...
Luz e bruma. Forno e inverno morno ..
Elegâncias sutis sem escândalos. sem ciúmes ...
Perfumes de Paris. Arys!
Bofetadas lírica no Trianon. Algodoal!...
São Paulo! comoção de minha vida.
Galicismo a berrar nos desertos da América
ODE AO BURGUÊS
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os “Printemps” com as unhas!
O TROVADOR
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras ...
As primaveras de sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal.
Intermitentemente.
Outras vezes é um doente. um frio
na minha alma doente como um longo som redondo.
Cantabona! Cantabona!
Dlorom ..
Sou um tupi tangendo um alaúde!
Em 1926, Mário publicou Losango Cáqui, uma obra de poemas escritos em 1922 e que segue a orientação
dos poemas "desvairistas".
Clã do Jabuti (1927) e Remate de Males (1930), obras escritas em 1923 e 1930 e nas quais Mário empregou
o resultado das pesquisas folclóricas realizadas nas viagens que empreendeu pelo Brasil entre 1924 e 1927,
representam o início de um período de grande fecundidade, do qual surgiria Macunaíma. Buscando o
conhecimento e o registro do Brasil e de suas manifestações culturais, Mário introduziu nessas obras as
lendas, os costumes e o modo de falar regionais, os ritmos e as danças populares: samba, toada, modinha.
A partir de 1930, a poesia de Mário de Andrade sofreu uma mudança de orientação, possivelmente por
influência da Revolução de 1930. Esse fato não é isolado: definitivamente implantado o Modernismo, toda a
literatura se voltava para a reflexão, a análise e a denúncia dos problemas nacionais.
A poesia de Mário tomou então duas direções: de um lado, a poesia intimista e introspectiva, serena ou
conflitante, de que é exemplo a obra Poesia (1942); de outro, a poesia política, de combate às injustiças
sociais, em linguagem agressiva e explosiva, de que são exemplos as obras O carro da miséria e Lira
paulistana (1946). O poema que segue ilustra esse misto de lirismo e solidariedade social.
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A prosa: experimentalismo e crítica social
A atividade literária em prosa de Mário de Andrade foi ampla. O escritor cultivou o conto, com Primeiro Andar
(1926) e Contos Novos (1946); a crônica, com Os filhos da Candinha (1945); o romance, com Amar, verbo
intransitivo (1927); a rapsódia, com Macunaíma (1928).
Em quase todas essas obras se destaca a preocupação com a descoberta e a exploração de novas técnicas
narrativas e, ao mesmo tempo, com a sondagem do universo social e psicológico do ser humano das grandes
cidades. Contos como "Primeiro de maio", "Peru de natal", "Vestida de preto" e outros conc iliam com
perfeição a análise das relações familiares e sociais e a introspecção psicológica, fundada nas teorias de
Freud.
O romance Amar, verbo intransitivo causou impacto quando publicado. Desafiando preconceitos, tematiza a
descoberta do amor entre Carlos e Fraulein, uma governanta oficialmente contratada pelo empresário Souza
Costa para ensinar alemão e piano a seus filhos, mas, na verdade, encarregada de iniciar Carlos, o filho
adolescente, na vida sexual.
Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente
os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar
cabeça de saúva.
Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também
espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando
mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce
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por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas
graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e frequentava
com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da
mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem . Então
adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar. (p. 1)
Mário de Andrade relata que, ao criar a obra, não pretendia inventar nem símbolos nem uma personagem
que representasse todos os brasileiros. No entanto, à medida que dava vida ao herói da lenda colhida por
Grünberg - curiosamente, herói por suas "desqualidades" de preguiçoso, mentiroso, covarde, etc. -, foi
percebendo inúmeras semelhanças entre ele e os brasileiros ou os latino-americanos em geral, que são,
segundo o autor, povos "sem nenhum caráter". Explica ele:
Com a palavra caráter não determino apenas a realidade moral não, em vez entendo a entidade psíquica
permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no sentimento na língua na História
na andadura, tanto no bem como no mal. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização
própria nem consciência tradicional.
Macunaíma centra-se (...) num verdadeiro anti-herói, já que “sem nenhum caráter”, como a exprimir a colcha
de retalhos do nosso país (MOISÉS, 2019, p. 65)
Perseguindo a tradição das canções de gesta, das epopeias, das novelas picarescas e dos contos populares
- enfim, perseguindo a tradição oral da literatura -, Macunaíma foi com propriedade chamada por Mário de
rapsódia, nome que, na música, designa um tipo de composição que utiliza uma variedade de motivos
populares. Contudo, a designação romance não lhe é de todo inadequada, já que a obra apresenta
semelhanças com os romances medievais.
Vamos continuar acompanhando mais trechos da obra:
Macunaíma tremeu assustado espantou os mosquitos e caiu no pajuari por demais pra ver si espantava o
medo também. Bebeu e dormiu noite inteira. Então chegou a Cobra Preta e tanto que chupou o único peito
vivo de Ci que não deixou nem o apojo. E como Jiguê não conseguira moçar nenhuma das icamiabas o
curumim sem ama chupou o peito da mãe no outro dia, chupou mais, deu um suspiro envenenado e morreu.
Botaram o anjinho numa igaçaba esculpida com forma de jaboti e prós boitatás não comerem os olhos do
morto o enterraram mesmo no centro da taba com muitos cantos muita dança e muito pajuari. (p. 16)
(...)
No outro dia os manos foram pescar e caçar, a velha foi no roçado e Macunaíma ficou só com a companheira
de Jiguê. Então ele virou na formiga quenquém e mordeu Iriqui pra fazer festa nela. Mas a moça atirou a
quenquém longe. Então Macunaíma virou num pé de urucum. A linda Iriqui riu, colheu as sementes se
faceirou toda pintando a cara e os distintivos. Ficou lindíssima. Então Macunaíma, de gostoso, virou gente
outra feita e morou com a companheira de Jiguê. (p. 31)
(...)
Agora dou minha garrucha pra você e quando alguém bulir comigo você atira. Então virou Jiguê na máquina
telefone, ligou pro gigante e xingou a mãe dele. (p.57)
(...)
E todo aquele mundão de gente procurando. Era já perto da noite quando pararam desacorçoados. Então
Macunaíma se desculpou:
– Tetápe dzónanei pemo...
Não deixaram nem que ele acabasse, todos perguntando o que significava aquela frase. Macunaíma
respondeu:
– Sei não. Aprendi essas palavras quando era pequeno lá em casa. (p. 107)
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OSWALD DE ANDRADE: O ANTROPÓFAGO DO MODERNISMO
Seu conceito de nacionalismo era diferente daquele pregado pelos românticos e mesmo por certos grupos
modernistas, como o Verde-Amarelismo e o Anta. Sem ser ingênuo e ufanista, Oswald defendia a
valorização de nossas origens, de nosso passado histórico e cultural, mas de forma crítica, isto é,
recuperando, parodiando, ironizando e atualizando nossa história de colonização. Sua visão de Brasil, ao
mesmo tempo que procura captar a natureza e as cores próprias do país, flagra igualmente as contradições
moderno-primitivas de nossa realidade.
O romance foi o gênero em prosa que mais despertou o interesse de Oswald de Andrade. O autor estreou
na prosa em 1922, com o romance Os condenados, primeiro volume da intitulada Trilogia do exílio, que
incorpora também os volumes Estrela do absinto (publicado em 1927, mas escrito antes de 1922) e Escada
vermelha (1934).
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O romance-experiência: “o estilo telegráfico, a metáfora lancinante”
As principais produções em prosa do escritor são os romances Memórias sentimentais de João Miramar
(publicado em 1924, mas escrito a partir de 1916, segundo o autor) e Serafim Ponte Grande (1933). Essas
obras representam o amadurecimento e a radicalização do emprego de certas técnicas, tais como mescla
de prosa e poesia, estrutura fragmentária, estilo elíptico e telegráfico, sátira-paródica, linguagem jornalística,
aproveitamento de lugares-comuns da linguagem cotidiana, como discursos, bilhetes, cartas, etc.
Memórias sentimentais de João Miramar é um romance fragmentário, formado por 163 capítulos-
relâmpago, sem preocupação com sequência lógica. Baseada em muitas das experiências do autor, a obra
narra a história de um paulista de família burguesa que trilha os caminhos comuns à classe, na época:
estudos, viagem à Europa, casamento, aventuras amorosas, crise financeira, falência, etc.
1. O pensieroso
Jardim desencanto
O dever e procissões com pálios
E cônegos
Lá fora
E um circo vago e sem mistério
Urbanos apitando nas noites cheias
Mamãe chamava‑me e conduzia‑me para dentro do oratório
de mãos grudadas.
— O Anjo do Senhor anunciou à Maria que estava para ser a
mãe de Deus.
Vacilava o morrão do azeite bojudo em cim a do copo. Um
manequim esquecido vermelhava.
— Senhor convosco, bendita sois entre as mulheres, as
mulheres não têm pernas, são como o manequim de mamãe até
embaixo. Para que pernas nas mulheres, amém.
2. Éden
A cidade de São Paulo na América do Sul não era um livro que
tinha cara de bichos esquisitos e animais de história.
Apenas nas noites dos verões dos serões de grilos armavam
campo aviatório com os berros do invencível São Bento as baratas
torvas da sala de jantar.
3. Gare do infinito As Memórias sentimentais de João
Miramar é uma tentativa seríssima de
Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o estilo e narrativa, ao mesmo tempo que
carro ficava esperando no jardim.
um primeiro esboço de sátira social.
Levaram‑me para uma casa velha que fazia doces e nos muda-
(Antonio Candido)
mos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na janela.
No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me As Memórias sentimentais de João
buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai. Miramar foram, realmente, o verdadeiro
4. Gatunos de crianças “marco-zero” da prosa brasileira
contemporânea, no que ela tem de
O circo era um balão aceso com música e pastéis na entrada.
inventivo e criativo .
E funâmbulos cavalos palhaços desfiaram desarticulações
risadas para meu trono de pau com gente em redor. O estilo telegráfico do monólogo interior:
Gostei muito da terra da Goiabada e tive inveja da vontade de simultaneidade de estados de espírito
ter sido roubado pelos ciganos. polarizados por vias analógicas de
18. Informações recordações, de pensamentos remotos,
Gustavo Dalbert numa noite de cabelo e cigarro disse‑me que a arte de impressões de outros lugares e de
era tudo mas a vida nada. Ele era músico e ia morar em Paris comi ‑ outros tempos.
go, o amigo e jovem poeta João Miramar. Havia um outro artista na
A técnica cinematográfica, caracterizada
vizinhança, o Bandeirinha barítono e outros poetas na cidade.
pela “descontinuidade cênica”, pela
56. Órfão “tentativa de simultaneidade”, é uma
O céu jogava tinas de água sobre o noturno que me devolvia a São constante na obra de Oswald. Envolve
Paulo. necessariamente a de montagem de
O comboio brecou lento para as ruas molhadas, furou a gare fragmentos . (Haroldo de Campos,
suntuosa e me jogou nos óculos menineiros de um grupo negro. Miramar na mira)
Sentaram-me num automóvel de pêsames.
Longo soluço empurrou o corredor conhecido contra o peito
magro de tia Gabriela no ritmo de luto que vestia a casa.
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MANUEL BANDEIRA: o resgate do lírico
Por meio de Manuel Bandeira e Alcântara Machado, o Modernismo pôde, em sua
primeira fase, alargar horizontes e diversificar experiências. Com Bandeira, pelo
resgate do lirismo poético, quase abandonado pelos demais modernistas na fase
de luta antipassadista; com Alcântara Machado, pela conciliação de inovações
técnicas e linguagem jornalística com a fala coloquial dos ítalo-paulistas.
Manuel Bandeira (1886-1968) compõe, juntamente com Oswald e Mário de
Andrade, a tríade maior da primeira fase do Modernismo, responsável pela
divulgação e pela solidificação do movimento em nosso país.
O poeta nasceu em Recife, fez os estudos secundários no Rio de Janeiro e iniciou
o curso de Arquitetura em São Paulo, mas foi obrigado a abandoná-lo em virtude de uma crise de
tuberculose, que nele se manifestara em 1904. Tratou-se em várias cidades do país e, inclusive, na Suíça,
entre 1913 e 1914, onde conheceu o jovem e mais tarde famoso escritor dadaísta e surrealista francês Paul
Éluard, internado na mesma clínica.
Éluard colocou Bandeira a par das inovações artísticas que vinham ocorrendo na Europa, entre as quais o
emprego do verso livre na poesia. Esse aspecto técnico já fazia parte das preocupações de Bandeira, que
hoje é considerado o mestre do verso livre no Brasil.
Os temas mais comuns de sua obra, marcada pela experiência da doença e do isolamento advindo dela,
são, entre outros, a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, a angústia existencial, o
cotidiano e a infância.
GESSO
Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
– O gesso muito branco, as linhas muito puras –
Mal sugeria imagem da vida
(Embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de
[pátina amarelo-suja.
Os meus olhos, de tanto a olharem,
Impregnaram-na de minha humanidade irônica de tísico.
Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoalhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos,
[recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo
[mordente da pátina…
Hoje este gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
Bandeira e o Modernismo
Em 1922, Bandeira morava no Rio de Janeiro e estava, portanto , distanciado do grupo paulista que
centralizava os ataques à cultura oficial e propunha mudanças. Embora tivesse conhecido Mário de Andrade
- de quem seria grande amigo - em 1921, no Rio, Bandeira buscou sempre uma atuação mais isolada. À
Semana de Arte Moderna, por exemplo, preferiu não ir pessoalmente e enviou o famoso poema "Os sapos",
que, lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal.
Além disso, quando se realizou a Semana de Arte Moderna, Bandeira já publicara dois livros, A cinza das
horas (1917) e Carnaval (1919), em que se verificam influências pós-simbolistas.
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Sua adesão às técnicas modernistas deu-se gradativamente, à medida que via na renovação a única
alternativa à sua poesia, que não se ajustava mais às antigas fórmulas de expressão. Mais do que modismo
ou oportunismo, o Modernismo impunha-se como condição à continuidade de sua poesia. Assim, o poeta,
que em 1918 escrevera "Os sapos", publicaria em 1924 O ritmo dissoluto, obra de transição, e em 1930
Libertinagem, obra de plena maturidade modernista, das "palavras em liberdade". É de Libertinagem, por
exemplo, o poema "Poética" e “Pneumotórax”.
POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr.
diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis (...)
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
……………………………………………………………………….
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não.
A única coisa a fazer é tocar um tango argentino
Ainda que não tenha tido em relação à cultura do passado a postura radical da maioria dos jovens rebeldes,
Bandeira veio a ser um dos três mais importantes escritores da primeira fase do movimento modernista,
além de um dos pontos mais altos da poesia lírica nacional. Chamado de "o São João Batista" do
Modernismo, em razão da idade que tinha em 1922 (36 anos), Bandeira nunca abandonou a admiração que
tinha por certos escritores do passado, como Camões, Gonçalves Dias e Musset.
Após Libertinagem, ainda foram publicadas, em poesia, Estrela da manhã (1936), Lira dos cinquent'anos
(1948), Belo belo (1948), Opus 10 (1952) e Mafuá do malungo (1954), todas incluídas em Estrela da vida
inteira, de 1965.
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Partindo de temas até então considerados "baixos" para a criação da "grande poesia", tais como a própria
doença, o quarto, as ações habituais do cotidiano, o jornal, a cultura popular, etc., Bandeira criou uma poesia
rica em construção e significação, apesar de sua aparência quase prosaica. Veja, por exemplo, nos versos,
como ele concilia a crítica social e a reflexão filosófica acerca da condição humana com oposições formais
e coloquialidade linguística. É com simplicidade e despojamento que são trabalhados pelo poeta temas como
a reflexão existencial, a solidão, o amor, a vida e a natureza.
Retomando certos motivos já explorados por poetas românticos - a saudade, a infância, a solidão - e
procurando estreitar os laços entre poesia e cultura popular, Manuel Bandeira mantém, de fato, alguns
pontos de contato com o Romantismo, mas é um poeta essencialmente modernista. Jamais cai, por exemplo,
num sentimentalismo piegas ao lembrar-se da infância. A infância que evoca é uma experiência vivida e
concreta, não idealizada, que, contrastada com o presente, acentua-lhe a condição trágica.
A solidão, que levava os poetas ultrarromânticos a buscar na morte a saída para os problemas da existência,
em Manuel Bandeira toma outra direção - a da paixão pela vida:
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti - lastima-me e
[consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
(Madrigal melancólico". Estrela da vida inteira, cit., p. 90.)
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EXERCÍCIOS
1. O contexto histórico do Modernismo no Brasil é marcado pelo (a)
a) influência da Belle Époque francesa
b) ato da Proclamação da República no Brasil
c) inauguração do museu de arte moderna de São Paulo-MASP
d) tendência da Art Nouveau que se espalhou pela Europa
e) divulgação da Semana de Arte Moderna
a) românticos
b) realistas
c) parnasianos
d) arcadistas
e) simbolistas
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[…]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
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a) Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
5. (ENEM) – O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático
nos textos abaixo.
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)
“Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita
quando se deseja reproduzir a fala dos personagens (…)”.
(CEGALLA. Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1980.)
Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afirmar que ambos:
6. (Enem – 2012)
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras...
As primaveras do sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal...
Intermitentemente...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
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Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
(Pronominais, Oswald de Andrade)
7. Oswald de Andrade foi um dos principais autores da primeira fase do modernismo no Brasil. Na poesia
acima, o escritor propõe:
8. A primeira geração modernista ficou conhecida como “fase heroica” por tentar criar uma identidade mais
brasileira se fastando dos moldes europeus. Assim, houve diversos grupos, revistas e manifestos que foram
criados nesse momento, exceto:
a) Movimento Verde-Amarelo
b) Revista Klaxon
c) Movimento Pau-Brasil
d) Movimento Antropofágico
e) Poesia de 30
I. A primeira fase do modernismo no Brasil ficou conhecida como fase heroica ou de destruição.
II. Os artistas da primeira geração modernista buscaram no folclore as raízes da cultura local.
III. Algumas características da primeira fase modernista são: a liberdade da arte, a valorização da língua
coloquial brasileira e o uso do sarcasmo e da ironia.
A alternativa correta é:
a) somente a I
b) I e II
c) I e III
d) II e III
e) I, II e III
10. O capoeira
— Qué apanhá sordado?
— O quê?
— Qué apanhá?
Pernas e cabeça na calçada.
(Oswald de Andrade. Poesias reunidas. 5.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978. p. 94)
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d) arte pela arte ou arte sobre a arte.
e) irreverência e subjetivismo dos textos.
a) trata-se de um poema épico cantado baseado na obra de Homero, poeta grego da antiguidade.
b) trata-se de um conjunto de poemas clássicos baseados em temas da mitologia grega.
c) trata-se de uma obra literária que absorve todas as tradições orais e folclóricas de um povo.
d) trata-se de uma obra literária que reúne as tradições dos colonizadores portugueses.
e) trata-se de um conjunto de poemas selecionados do escritor modernista Mario de Andrade.
12. Após a Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922 na cidade de São Paulo, o movimento
modernista brasileiro começa a despontar no cenário cultural e artístico do país. Sobre a primeira geração
modernista, é correto afirmar:
a) A produção literária da primeira geração modernista era intimista, regionalista e urbana.
b) Os escritores desse momento buscavam uma poesia mais equilibrada e preocupada com a palavra e a
forma.
c) A primeira geração modernista constituiu um dos melhores momentos da ficção brasileira.
d) A intenção dessa fase esteve relacionada com a denúncia social e o engajamento político.
e) Essa fase esteve marcada por duas tendências: a destruição e a construção.
13. (UNIRIO 1995) Em relação ao Modernismo, podemos afirmar que em sua primeira fase há:
a) maior aproximação entre a língua falada e a escrita, valorizando-se literariamente o nível coloquial.
b) pouca atenção ao valor estético da linguagem, privilegiando o desenvolvimento da pesquisa formal.
c) grande liberdade de criação, mas expressão pobre.
d) reconquista do verso livre.
e) ausência de inspiração nacionalista.
14. (PUC-PR 2007) Assinale a alternativa correta para as características do Modernismo de 1922, também
chamado de "fase heroica".
a) espírito polêmico e destruidor, valorização poética do cotidiano, nacionalismo, busca da originalidade a
qualquer preço.
b) Temática ampla com preocupação filosófica, predomínio do romance regionalista, valorização do
cotidiano, nacionalismo.
c) Espírito polêmico, busca da originalidade, predomínio do romance psicológico, valorização da cidade e
das máquinas.
d) Visão futurista, espírito polêmico e destruidor, predomínio da prosa poética, valorização da cidade e das
máquinas.
e) Valorização poética do cotidiano, linguagem repleta de neologismos, nacionalismo e busca da poesia na
natureza.
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15. (MACKENZIE 2014) Poema Tirado de uma Notícia de Jornal
Sobre a primeira fase do Movimento Modernista, ao qual a crítica vincula Manuel Bandeira, todas as
alternativas estão corretas, EXCETO:
O Modernismo de 22 caracterizou-se, de fato, por algumas contradições, entre as quais a que o texto aponta:
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18. Considere o poema abaixo:
GESSO
Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
– O gesso muito branco, as linhas muito puras –
Mal sugeria imagem da vida
(Embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de
[pátina amarelo-suja.
Os meus olhos, de tanto a olharem,
Impregnaram-na de minha humanidade irônica de tísico.
Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoalhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos,
[recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo
[mordente da pátina…
Hoje este gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu.
a) O que acabou por torná-la mais vivaz e expressiva, pelo menos até que um acidente a fizesse perder
essa vivacidade.
b) Responsável por danos que levaram uma obra de arte a perder sua pureza e vivacidade originais.
c) Um elemento que, juntamente com os danos causados por um acidente, dá vida e singularidade ao que
era inexpressivo e vulgar.
d) O causador irremediável do envelhecimento das coisas e da consequent e desvalorização dos objetos
pessoais mais valiosos.
e) Capaz de transformar um simples objeto comercial em uma obra de arte que parece ter sido criada por
um escultor genial.
a) Mão estúpida pode ser alusão do poeta a si próprio e carregaria assim algum matiz da raiva que o teria
acometido quando derrubou a estátua.
b) Inadvertidamente tem o sentido de “De modo descuidado”, indicado o caráter acidental do episódio.
c) Em recompus a figurinha que chorava, o poeta se vale de uma ambiguidade para sugerir o sofrimento da
estátua com a queda.
d) Com a alusão às feridas causadas à estátua, o poeta se refere aos sinais visíveis da junção dos pedaços
dela depois de reconstituída.
e) Com a expressão o sujo mordente da pátina, o poeta alude a transformação da estátua de sofredora em
causadora de sofrimento.
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Disciplina: Português V – AULA 10
Conteúdo: MODERNISMO: 2ª FASE (1930-1945)106
O ROMANCE DE 30
Na década de 1930, enquanto o rádio - o mais moderno meio de comunicação de massa da época -
encurtava as distâncias, aproximando o país de ponta a ponta, nossa prosa de ficção, com renovada força
criadora, nos punha em contato com um Brasil pouco conhecido.
Por meio da obra de autores como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado,
Érico Veríssimo, Dionélio Machado, desponta um Brasil multifacetado, apresentado em sua diversidade
regional e cultural, mas com problemas semelhantes em quase todas as regiões: a miséria, a ignorância, a
opressão nas relações de trabalho, as forças da natureza sobre o homem desprotegido.
Herdeiros diretos dos modernistas de 1922, os modernistas da segunda geração (1930 -1945) também se
voltam para a realidade brasileira, mas agora com uma intenção clara de denúncia social e engajamento
político. Unindo ideologia e análise sociológica e psicológica a novas técnicas narrativas, o romance de 30
constitui um dos melhores momentos da ficção brasileira.
Devemos lembrar que o Modernismo da 1ª Fase ou 1ª Geração (1922) é marcado pelo esteticismo
anárquico, cujas obras são essencialmente poéticas. Agora, temos o apo geu da prosa de ficção da literatura
brasileira, sobretudo, com a (re)tomada da realidade nacional.
CARACTERÍSTICAS
Adaptado de CEREJA, William R. e MAGALHÃES, Thereza C. Literatura brasileira. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
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A GERAÇÃO DE 30
Quando a literatura se volta para um retrato mais objetivo da realidade, quase sempre o romance é o gênero
que ela privilegia. Nas décadas de 1930 e 1940, período em que o país e o mundo viveram profundas crises,
não foi diferente. O romance brasileiro de então, encontrando no regionalismo uma de suas principais
vertentes, ganhou matizes ideológicos e se transformou em um importante instrumento de análise e denúncia
da realidade brasileira.
No final da década de 1920, já eram vitoriosas as conquistas formais da primeira geração modernista,
inclusive aquelas feitas no campo da prosa de ficção em obras como Macunaíma e Memórias sentimentais
de João Miramar. Técnicas inovadoras, como a linguagem cinematográfica, a sobreposição de planos
narrativos, a mistura de gêneros, a paródia e a síntese, romperam com a forma tradicional de contar histórias.
Os romancistas da segunda geração modernista, em sua maioria distantes geograficamente do núcleo
paulista - que se caracterizava pelo experimentalismo estético -, aderiram à concepção moderna e
modernista de literatura, porém sem o espírito iconoclasta da geração de 1922. Interessavam-lhes
principalmente certos aspectos explorados pelo Modernismo, como os temas nacionais e cotidianos e a
busca de uma linguagem brasileira.
Desde a década de 1920, a literatura brasileira vinha ganhando matizes cada vez mais ideológicos. Foram
ideológicos, por exemplo, os debates nascidos em torno da questão da nacionalidade, liderados, de um lado,
por Oswald de Andrade e, de outro, por Plínio Salgado.
Na década de 1930, o quadro político-econômico brasileiro e internacional – composto por reflexos da crise
de 1929 na Bolsa de Nova Iorque, pela crise cafeeira, Revolução de 30, Intentona Comunista (de 1935),
Estado Novo (1937-1945), ascensão do nazismo e do fascismo e combate ao socialismo, Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) - exigia dos artistas e intelectuais uma tomada de posição ideológica. Dessa exigência
resultou uma arte engajada, de clara militância política, como se observa em muitos romances de Jorge
Amado, ou de engajamento espiritual, como se verifica nas obras de Jorge de Lima e Murilo Mendes.
CAMINHOS DA FICÇÃO DE 30
O romance de 30 trilhou diferentes caminhos, dos quais o regionalismo, especialmente o nordestino, é o
mais importante. A tradição da ficção regionalista nordestina já contava com nomes como Franklin Távora,
Rodolpho Teófilo e Domingos Olímpio. Mas, com a publicação de A bagaceira (1928), de José Américo de
Almeida, e, em seguida, O Quinze (1930), de Rachel de Queiroz, o romance nordestino entrou numa fase
nova, de denúncia das agruras da seca e da migração, dos problemas do trabalhador rural, da miséria, da
ignorância.
Observe como José Américo de Almeida, em A bagaceira, retrata o drama coletivo da degradação humana
na descrição que faz da chegada dos retirantes ao engenho Marzagão.
Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos - esqueletos redivivos, com o
aspecto terroso e o fedor das covas podres.
Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado
de quem leva as pernas, em vez de ser levado por elas.
Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar. Não tinham pressa em chegar, porque
não sabiam aonde iam. Expulsos do seu paraíso por espadas de fogo, iam ao acaso, em descaminhos, no
arrastão dos maus fados.
Fugiam do sol e o sol guiava-os nesse forçado nomadismo. Adelgaçados na magreira cômica,
cresciam, como se o vento os levantasse. E os braços afinados desciam -lhes aos joelhos, de mãos
abanando.
Vinham escoteiros. Menos os hidrópicos - doentes da alimentação tóxica - com os fardos das barrigas
alarmantes. Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes, nada mais.
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Nos anos seguintes, esse veio literário foi explorado por muitos outros autores, como Amando Fontes, Jorge
Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, cujas obras trazem temas novos, como o cangaço, o
fanatismo religioso, o coronelismo, a luta pela terra, a crise dos engenhos. O regionalismo também se
manifestou no Sul do país, na ficção histórica e épica de O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, ou no
romance de fazenda de Ivan Pedro de Martins, com Fronteira agreste. Nessas obras, é ressaltado o homem
hostilizado pelo ambiente, pela terra, pela cidade, pelos poderosos, o homem sendo devorado pelos
problemas que o meio lhe impõe.
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MODERNISMO 2ª GERAÇÃO: AUTORES DE DESTAQUE
A principal expressão do romance de 30 encontra-se no regionalismo nordestino representado por escritores
como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado, além de Rachel de Queiroz. Abordando temas
como a seca, o coronelismo, o cangaço, a disputa por terras e o fanatismo religioso, entre outros, essa
produção representa um momento de maturidade de nossa ficção.
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O autor de Vidas Secas sobressai entre os demais de sua época, não só pelas qualidades universalistas
que apresenta, mas sobretudo pela linguagem enxuta, rigorosa e conscientemente trabalhada, no que se
mostra o legítimo continuador de Machado de Assis na trajetória do romance brasileiro.
Trecho 1
NA PLANÍCIE avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio
seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeir os
apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça,
Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de
pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. (p. 01)
Trecho 2
(...) Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares. (...) Se lhe tivessem
dado ensino, encontraria meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar com bichos. (...) Ele, Fabiano, era aquilo
mesmo, um bruto.
As pernas dos meninos eram finas como bilros, Sinha Vitória tropicava debaixo do baú de trens. Na beira do rio haviam
comido o papagaio, que não sabia falar. Necessidade.
Fabiano também não sabia falar. As vezes largava nomes arrevesados, por
embromação. Via perfeitamente que tudo era besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se pudesse... Ah! Se
pudesse, atacaria os soldados amarelos que espancam as criaturas inofensivas. (p.18)
Trecho 3
Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam
as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo. - Arreda! (p. 19)
Sinha Vitória, com o filho mais novo escanchado no quarto, equilibrava o baú de folha na cabeça; (...) Baleia
mostrava as costelas através do pêlo escasso. (p.28)
Segundo o próprio autor, sua obra pode ser dividida em ciclos. São eles:
• ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho, Doidinho, Banguê, Fogo morto e Usina;
• ciclo do cangaço, misticismo e seca: Pedra Bonita e Cangaceiros;
• obras independentes: romances vinculados aos dois ciclos: Moleque Ricardo, Pureza, Riacho doce;
romances desvinculados dos ciclos: Água-mãe e Eurídice.
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Fogo Morto e o ciclo da cana-de-açúcar
Em sua primeira obra, Menino de engenho, José Lins do Rego pretendia escrever a biografia de seu avô
José Paulino, uma das mais representativas figuras da tradição fundamentada no sistema patriarcalista,
escravocrata e latifundiário. A obra deveria, também, conter cenas autobiográficas da infância do escritor.
Entretanto, o José Lins biógrafo foi superado pela imaginação criadora do José Lins romancista. Desse
modo, Menino de engenho inicia em torno da figura do garoto Carlos de Melo uma trilogia em que se incluem
também Doidinho e Banguê. As tensões socioeconômicas do engenho de açúcar apontadas pelo narrador-
personagem dessas obras têm continuidade nos outros romances que integram o ciclo da cana-de-açúcar,
principalmente em Fogo Morto, romance-síntese do ciclo, que marca a parte mais significativa das produções
do autor.
Fogo Morto é a mais madura das obras de José Lins do Rego. Nela o autor consegue captar, na paisagem
e no elemento humano, não só as imagens oriundas de suas lembranças pessoais, mas principalmente a
bruta realidade de uma estrutura social em decomposição.
Fogo Morto se divide em três partes. Na primeira, "O mestre José Amaro", José Lins enfatiza o destino e o
drama humano de uma personagem que se orgulha de ser seleiro, de ter uma profissão independente,
passada de pai para f ilho. A segunda, "O engenho de seu Lula", é a história da ascensão, do apogeu e da
decadência do engenho Santa Fé, arruinado no final por seu proprietário, o Coronel Lula de Holanda,
autoritário, prepotente e incapaz. Na terceira, "O Capitão Vitorino", o autor dá ênfase à figura dessa
personagem, alvo das chacotas da molecada e até dos adultos, uma espécie de D. Quixote nacional que
anda de engenho em engenho em defesa dos injustiçados, grandes ou pequenos.
As relações que se estabelecem entre as personagens funcionam como fios que costuram as três partes da
narrativa, ao mesmo tempo que ajudam a construir um grande painel da zona açucareira, retratada num
momento de profunda transformação social e econômica, que põe fim às centenárias estruturas fundiárias e
se abre para a modernização.
A visão nostálgica do autor, marca principal dos outros romances que integram o ciclo da cana-de-açúcar,
cede lugar em Fogo Morto a um profundo sentimento de tristeza e de inconformismo social.
LEITURA
O texto a seguir, extraído do romance Fogo Morto, encontra-se no capítulo que narra as agruras do Coronel
Lula de Holanda, senhor do então decadente engenho Santa Fé. O trecho mostra a perda de autoridade de
Lula de Holanda na tentativa de expulsar de suas terras um dos moradores, o mestre Amaro.
Parara na porta da casa-grande do Santa Fé um cargueiro com uma carta para o senhor de engenho. Seu Lula chamou
D. Amélia.
Não falou com mais ninguém durante o resto do dia. Na manhã seguinte tomou o carro e saiu para o Santa Rosa. Lá
conversou com o velho José Paulino que se alarmou com a notícia. Era o diabo. Mas quem podia com o cangaceiro
que mandava por todo o interior do Estado, como um governo? Era um absurdo, mas era a verdade. Nada podia fazer
contra a força. O Coronel Lula de Holanda voltou do engenho vizinho mais calmo ainda! Em casa, não dava uma
palavra.
D. Amélia e a filha Neném pensaram em abandonar a casa-grande, em fugir para a capital. Antônio Silvino com raiva
de uma criatura fazia o diabo. Não viram o que sucedera ao prefeito, ao Comendador Quinca Napoleão? O que podiam
fazer eles, que eram tão fracos, tão sem ajuda de ninguém? Seu Lula não sairia de seu engenho. Que viessem, podiam
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tocar fogo em tudo que era seu, mas dali não sairia. Aquele mestre José Amaro que se aprontasse para deixar a
propriedade.
E chamou Floripes:
- ó Floripes!
O negro se chegou para receber as ordens do senhor.
- Vá ao sítio do mestre José Amaro e lhe diga, hein, que só tem três dias para mudar-se.
O negro, de cabeça baixa, saiu para a casa do engenho. Não iria fazer uma coisa desta. Ele sabia que o mestre, se o
pegasse de jeito, faria uma desgraça. Com pouco mais, chegava ao Santa Fé o Capitão Vitorino. A burra velha estava
amarrada na casa da farinha. Viera conversar com o primo sobre política. Seu Lula, muito calado, ouvia-o, até que,
como se estivesse tratando com um inimigo, se abriu com a visita. Não era homem de pabulagem, de mentira. Não se
metia em política, não contasse com o nome dele para coisa alguma. Vitorino levantou a voz para dizer-lhe que não
era um camumbembe e nem estava ali para pedir favor de espécie alguma. Não era cabra de bagaceira. Estava muito
enganado. Apareceu D. Amélia para acalmá-los.
- É o que lhe digo, Seu Coronel Lula de Holanda. O seu primo Vitorino Carneiro da Cunha não está aqui de mão estirada
pedindo esmola. Sou homem de um partido.
Seu Lula se levantara, e de pé, na porta da casa, parecia que olhava para a estrada à espera de alguém, tão embebido
estava.
- É, Dona Amélia, estes parentes ricos só pensam que os parentes pobres estão de esmola. Estou aqui para uma causa
política. Não sou uma coisa qualquer. (Fogo morto. Rio deJaneiro:José Olympio Editora, 1989. p. 198-203.)
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d) alguns grandes afrescos da região do cacau, certamente suas invenções mais felizes, que animam de
tom épico as lutas entre coronéis e exportadores (Terras do Sem-Fim, São Jorge dos Ilhéus);
e) mais recentemente, crônicas amaneiradas de costumes provincianos ( Gabriela, Cravo e Canela, Dona
Flor e Seus Dois Maridos). Nessa linha, formam uma obra à parte, menos pelo espírito que pela inflexão
acadêmica do estilo, as novelas reunidas em Os Velhos Marinheiros.
Parte da crítica literária vê pouco valor na obra de Jorge Amado, principalmente nos romances da última
fase. Certos críticos rejeitam o caráter militante de algumas de suas obras, acusando -as de panfletárias;
outros rejeitam sua linguagem despretensiosa e popular, acusando -o de escrever mal; outros rejeitam o
apimentado de suas histórias mais populares, recheadas de erotismo; outros o consideram repetitivo em
relação a personagens e enredos. Independentemente da opinião da crítica, porém, Jorge Amado tornou-se
um dos mais prestigiados escritores brasileiros no Brasil e no exterior. Suas obras foram traduzidas em 55
países e, no Brasil, venderam 20 milhões de exemplares.
Em março de 2012, entre os eventos comemorativos do centenário do escritor, houve o relançamento de
suas obras, o lançamento do filme Capitães da Areia e a montagem de uma exposição sobre ele no Museu
da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Capitães da Areia
Capitães da Areia, obra publicada em 1937, explora questões sociais que têm como pano de fundo a cidade
de Salvador, mas são, com poucas alterações, as mesmas de muitas outras cidades brasileiras. Suas
personagens são dezenas de crianças de rua, de idade entre 8 e 16 anos, que, atiradas à própria sorte,
cometem delitos para sobreviver. Detidas, são humilhadas e castigadas.
Lideradas por Pedro Bala, moram num velho trapiche, um armazém abandonado e cercado pela areia no
cais de Salvador, a "cidade da Bahia". A relação que mantêm entre si é regida por códigos de lealdade e de
solidariedade, e contam com a ajuda de apenas duas pessoas: um padre e uma mãe de santo.
Desses autores, a crítica nacional tem destacado principalmente a obra de Érico Veríssimo e Dionélio
Machado.
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ÉRICO VERÍSSIMO: RESGATE HISTORICO E CRITICA
Érico Veríssimo nasceu no município gaúcho de Cruz Alta. Embora sem ter
cursado universidade, iniciou-se no jornalismo em 1930 e tornou-se professor
de literatura nos Estados Unidos. Também dirigiu um dos departamentos
culturais da Organização dos Estados Americanos – experiência que registrou
nos livros Gota preto em campo de neve e A volta do gato preto.
Sua estreia na literatura ocorreu com Fantoches, uma coletânea de contos. O
marco inicial de sua popularidade, entretanto, foi a publicação do romance
Clarissa, no ano seguinte.
A obra do autor costuma ser dividida em três fases. A primeira inicia-se com a
publicação de Clarissa (1933), que acaba sendo o primeiro de uma série de romances - Caminhos cruzados,
Música ao longe, Um lugar ao sol, Saga - que têm como traço de união a presença constante de certas
personagens, principalmente os pares Vasco e Clarissa e Fernanda e Noel, e completa-se com Olhai os
lírios do campo e O resto é silêncio. Essa primeira fase do romancista caracteriza-se pelo registro do
cotidiano da vida urbana de Porto Alegre e pela apresentação de certos problemas morais, sociais e
humanos decorrentes da vigência de valores degradados. Verdadeiros best-sellers, suas obras foram
vertidas para diversas línguas.
A segunda fase do escritor corresponde a O tempo e o vento, obra cíclica que trata da formação do Rio
Grande do Sul. Nessa obra de envergadura épica, Érico Veríssimo demonstra pleno amadurecimento de
processos técnicos e expressivos e se firma como um legítimo retratista do povo gaúcho, embora, do ponto
de vista do crítico José Hildebrando Dacanal, a obra expresse a ideologia das elit es dirigentes que
historicamente se instalaram no poder.
Pode-se reconhecer na obra do romancista ainda uma terceira fase, representada por O prisioneiro, O
senhor embaixador e Incidente em Antares, caracterizada por uma postura mais universalista, mais crítica e
de engajamento social.
Érico Veríssimo dedicou-se também à ficção didática (Viagem à aurora do mundo, Aventuras no mundo da
higiene), à literatura infantil (Os três porquinhos pobres) e a obras de caráter memorialista (Solo de clarineta).
Da mesma forma que Jorge Amado, Érico Veríssimo tornou-se um escritor consagrado em seu tempo, sendo
aceito por públicos de diferentes estratos culturais. Parte da crítica, entretanto, considera sua obra superficial
em relação à análise social e tímida quanto às inovações de linguagem. De qualquer modo, ainda se espera
um estudo mais aprofundado do conjunto da obra por parte de pesquisadores e críticos.
O tempo e o vento
Comparando o romance nordestino de 1930 ao romance gaúcho da mesma época, o crítico José
Hildebrando Dacanal afirma:
Se São Bernardo, por sua densidade e perfeição formal, pode ser considerado a súmula em que se concentram todas
as características do que foi definido como romance de 30, O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, também ocupa um
lugar semelhante. Poder-se-ia considerar esta obra de Érico Veríssimo como a mais característica do romance de 30
em termos estritos de amplitude temática. (O romance de 30. 3. ed. Porto Alegre: Novo século, 2001. p. 91.)
O tempo e o vento, obra-prima de Érico Veríssimo, é constituída de três partes: "O continente", "O retrato" e
"O arquipélago". Nela é narrada a saga da formação socioeconômica e política do Rio Grande do Sul, desde
as suas origens, no século XVIII, até o ano de 1946.
O palco em que se dá o desenrolar dos fatos e das situações é a região de Santa Fé, onde o poder econômico
e político local é disputado por duas famílias: os Amaral e os Terra Cambará.
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A SEGUNDA FASE DO MODERNISMO: A POESIA DE 30
Nas décadas de 1930 e 1940, a poesia brasileira vivia um de seus melhores momentos. Tratava-se de um
período de maturidade e alargamento das conquistas dos modernistas da primeira geração. A maturidade
advinha do fato de que já não havia necessidade de escandalizar os meios culturais acadêmicos. Sem
radicalismos e excessos, os poetas sentiam-se à vontade tanto para criar um poema com versos livres
quanto para fazer um soneto, sem que isso significasse voltar ao Parnasianismo.
O alargamento se dava principalmente nos temas. Nas obras de Drummond, Cecília Meireles, Vinícius de
Morais, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Mário Quintana e Manuel de Barros encontramos o que de melhor a
poesia brasileira já produziu em termos de abordagem social, religiosa, filosófica, sensual e histórica.
A poesia da segunda geração modernista foi, essencialmente, uma poesia de questionamento: da existência
humana, do sentimento de "estar-no-mundo ", das inquietações social, religiosa, filosófica, amorosa. Carlos
Drummond de Andrade é o poeta que melhor representa o espírito dessa geração, e sua produção poética
constitui um dos pontos mais altos da nossa literatura.
A poesia e o romance de 30 tomaram rumos diferentes, embora tenham conservado algumas características
em comum. Os poetas da década de 1930, interessados fundamentalmente no sentido da existência
humana, no confronto do homem com a realidade, enfim, no "estar -no-mundo", seguiram caminhos
diferentes. Assim, buscaram uma abordagem mais universal, que vai da reflexão filosófico-existencialista ao
espiritualismo, da preocupação social e política ao regionalismo, da metalinguagem ao sensualismo.
O poema que segue pertence ao livro Alguma poesia, publicado em 1930.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
[que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,
[Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
[Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com
[J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história. (Rio de Janeiro: Record. © Grana Drummond - www.carlosdrummond.com.br.)
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A POESIA DE 30
Em 1930, a vitória da primeira geração modernista na luta travada contra a cultura acadêmica já estava
consolidada. Muitas de suas propostas, como o verso livre, a afirmação de uma língua brasileira, a
priorização da paisagem nacional e a abordagem de temas ligados ao cotidiano, estavam definitivamente
consolidadas em nossa literatura.
A segunda geração modernista, livre do compromisso de combater o passado, manteve muitas das
conquistas da geração anterior, mas também se sentia inteiramente à vontade para voltar a cultivar certos
recursos poéticos que o radicalismo da primeira geração tornara objeto de desprezo, tais como os versos
regulares (metrificados), a estrofação criteriosa e as formas fixas, como o soneto, a balada, o rondó, o
madrigal.
Não se trata de uma geração antimodernista no interior do próprio Modernismo. Pelo contrário, esses poetas
levaram adiante o projeto de liberdade de expressão dos seus antecessores, a ponto até de se permitirem
empregar as formas utilizadas pelos clássicos. Por isso não é de causar espanto que grandes autores do
verso livre desse período, como Manuel Bandeira (da primeira geração), Murilo Mendes, Jorge de Lima,
Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais e Mário Quintana, tenham sido também excelentes
sonetistas.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) é considerado por alguns críticos o principal poeta brasileiro do
século XX, um desses escritores que aparecem de tempos em tempos e conseguem apreender e refletir
poeticamente as inquietudes de uma época, tal qual um Camões ou um Fernando Pessoa.
Mineiro de ltabira, Drummond proveio de família ligada às tradições da região, ou seja, de fazendeiros e
mineradores. Formou-se em Farmácia, mas nunca exerceu a profissão. Dedicou-se ao jornalismo e
ingressou no funcionalismo público, que lhe garantiu a sobrevivência. Em 1925, foi um dos fundadores de A
Revista, publicação modernista de Belo Horizonte. Em 1928, em perfeita sintonia com a irreverência do
grupo modernista de São Paulo, Drummond publicou na Revista de Antropofagia, provocando escândalo,
este conhecido poema:
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
Na década de 1940, Drummond foi simpatizante da causa socialista e chegou a participar de um dos
números de um jornal comunista. Logo depois, porém, rompeu definitivamente com o jornal e com o Partido
Comunista. Da década de 1950 em diante, o ceticismo político passou a marcar sua vida.
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A OBRA
Drummond foi poeta e prosador (cronista) admirável. A dimensão e a riqueza de seus escritos produzidos
de 1930 a 1986 ainda requerem investigação mais profunda e abrangente.
Como contista e cronista, escreveu, entre outras obras, Fala, amendoeira, A bolsa e a vida, Quadrante 1 e
2, Cadeira de balanço. Apesar da qualidade desse material, daremos ênfase ao estudo de sua poesia,
gênero em que o escritor mais se destacou.
Dada a farta produção poética de Drummond, a organização de suas obras em partes ou em fases permite
acompanhar com maior clareza a evolução de seus temas, de sua visão de mundo e de seus traços
estilísticos.
Se considerarmos os 56 anos de carreira poética do autor, pelo menos quatro fases podem ser identificadas
em sua produção: a fase gauche (década de 1930); a fase social (1940-1945); a fase do "não" (décadas
de 1950 e 1960); a fase da memória (décadas de 1970 e 1980).
As obras que representam essa fase são Alguma poesia (1930), a primeira publicação do poeta, e Brejo das
almas (1934). Nelas ainda podem ser encontrados certos recursos que se associam à primeira geração
modernista, tais como a ironia, o humor, o poema-piada, a síntese, a linguagem coloquial.
Veja este poema-pílula, que lembra os de Oswald de Andrade:
Cota zero
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
(Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record. © Grafia Drummond - www.carlosdrummond.com.br.)
Mas o que essencialmente caracteriza essa fase é o gauchismo presente na maioria dos poemas. A palavra
gauche, do francês, significa "lado esquerdo". Aplicada ao ser humano, significa aquele que se sente às
avessas, torto, que não consegue estabelecer uma comunicação com a realidade. São comuns a essa fase
da poesia drummondiana traços como o pessimismo, o individualismo, o isolamento, a reflexão existencial,
além de certas atitudes permanentes, que se estendem por toda a obra, como a ironia e o uso da
metalinguagem.
Para o gauche não há saídas: nem o amor, nem a morte, nem mesmo o isolamento. Desesperado, ele busca
comunicar-se com o mundo por meio do canto, mesmo que seja um canto torto e gauche:
A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.
(Idem.)
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Embora o gauche afirme que a "poesia é incomunicável", é ela que estabelece a mediação entre o eu e o
mundo, e talvez a saída, a única esperança, para ele, seja cantar o próprio canto ou cantar o silêncio, isto é,
cantar o canto que não existe:
O texto que segue é o poema de abertura de Alguma poesia, a primeira obra publicada por Drummond. Sua
importância reside no fato de apresentar pela primeira vez o tema do gauchismo e por conter uma síntese
de vários aspectos que caracterizariam a obra do autor no futuro.
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A fase social: todo o sentimento do mundo
Sentimento do mundo (1940), o terceiro livro de Drummond, marca uma sensível mudança na orientação da
poesia do autor, comentada por ele próprio:
Meu primeiro livro, Alguma poesia (1930), traduz uma grande inexperiência do sofrimento e uma deleitação
ingênua com o próprio indivíduo. Já em Brejo das almas (1934), alguma coisa se compôs, se organizou; o
individualismo será mais exacerbado, mas há também uma consciência crescente de sua precariedade e
uma desaprovação tácita da conduta (ou falta de conduta) espiritual do autor. Penso ter resolvido as
contradições elementares de minha poesia num terceiro volume, Sentimento do mundo (1940).
Quando Drummond afirma em Sentimento do mundo que pensa ter resolvido as contradições elementares
de sua poesia, refere-se às contradições entre o eu e o mundo - o veio principal da sua obra poética.
Nessa fase, o eu lírico dos poemas manifesta interesse pelos problemas da vida social, da qual estivera
isolado até então. De certa forma, o gauchismo da primeira fase é deixado de lado.
Essa mudança de postura diante da realidade observada nos poemas drummondianos relaciona-se, sem
dúvida, ao contexto histórico. No período de gestação das três obras que compõem a segunda fase (1935 a
1945) do autor - além de Sentimento do mundo, também José (1942) e Rosa do povo (1945) -, o mundo
presenciou a ascensão do nazifascismo, a guerra na Espanha e a Segunda Guerra Mundial; no Brasil,
tiveram lugar ainda a Intentona Comunista (1935) e a ditadura de Vargas (1937-1945). Em todo o mundo se
verificava o crescimento de uma literatura social, engajada numa causa política.
Além disso, pode-se supor que o gauche da primeira fase percebe que seu gauchismo não lhe é exclusivo -
é universal. Todos os homens são gauches, pois essa é a consequência de se estar num mundo
problemático. Portanto, em vez de o eu se excluir do mundo, tenta transformá-lo e garantir nele o seu espaço.
Essa consciência da debilidade do mundo e da necessidade de transformá-lo levou o poeta a simpatizar
com o Partido Comunista e com a causa socialista. A adesão do poeta aos problemas do seu tempo e o
sentimento de solidariedade diante das frustrações e das esperanças humanas resultaram na criação da
melhor poesia social brasileira de nosso século, da qual é exemplo o poema "José", escrito durante a
Segunda Guerra Mundial.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
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a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Reunião, cit .p. 70.)
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CECÍLIA MEIRELES E VINÍCIUS DE MORAIS
Contudo, a obra de ambos trilha caminhos próprios: a de Cecília, o da reflexão filosófica e existencial; a de
Vinícius, um caminho em direção à percepção material da vida, do amor e da mulher.
Cecília Meireles (1901-1964), a primeira grande escritora da literatura brasileira e a principal voz feminina
de nossa poesia moderna, nasceu no Rio de Janeiro, onde fez seus primeiros estudos e se formou
professora. Sempre preocupada com a educação de crianças, dedicou-se ao magistério, ao mesmo tempo
que desenvolvia uma intensa atividade literária e jornalística, colaborando em quase todos os jornais e
revistas cariocas da época.
Em 1919, lançou seu primeiro livro de poemas, Espectros, bem recebido pela crítica. A partir da década de
1930, já conhecida e respeitada, passou a lecionar literatura luso-brasileira na Universidade do Distrito
Federal e a dar cursos e fazer conferências em vários países, como Portugal e Estados Unidos. Sempre
cultivou um interesse enorme pelo Oriente e, em 1953, esteve em Goa, na Índia.
A produção literária de Cecília Meireles é ampla. Embora mais conhecida como poetisa, deixou contribuições
no domínio do conto, da crônica, da literatura infantil e do folclore. É dela um dos livros de literatura infantil
mais lidos e apreciados, Ou isto ou aquilo, que reúne poemas suaves e musicais sobre os sonhos e as
fantasias do imaginário infantil: os jogos, os brinquedos, os animais, as flores, a chuva.
A poesia: o neossimbolismo
A rigor, Cecília Meireles nunca esteve filiada a nenhum movimento literário. Sua poesia, de modo geral, filia-
se às tradições da lírica luso-brasileira. Apesar disso, as publicações iniciais da escritora - Espectros (1919),
Nunca mais ... e poema dos poemas (1923) e Baladas para El-Rei (1925) - evidenciam certa inclinação pelo
Simbolismo. Essa tendência é confirmada por sua participação na revista carioca Festa, publicação literária
de orientação espiritualista que defendia o universalismo e a preservação de certos valores tradicionais da
poesia.
Além disso, a frequente presença de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço. a
solidão e a música dá à poesia de Cecília Meireles um caráter fluido e etéreo, que confirma a inclinação
neossimbolista da autora.
O espiritualismo e o orientalismo. tão prezados pelos simbolistas. também se fazem presentes na obra da
poetisa. que sempre se interessou pela cultura oriental e foi admiradora e tradutora do poeta hindu Tagore,
do chinês Li Po e do japonês Bashô.
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Do ponto de vista formal, a escritora foi das mais habilidosas em nossa poesia moderna, sendo cuidadosa
sua seleção vocabular e forte a inclinação para a musicalidade (outro traço associado ao Simbolismo). para
o verso curto e para os paralelismos, a exemplo da poesia medieval portuguesa.
Raramente a poesia de Cecília Meireles foge à orientação intimista. Um desses momentos é representado
por Romanceiro da Inconfidência (1953), que, pelo viés da História, abre importante espaço em sua obra
para a reflexão sobre questões de natureza política e social, tais como a liberdade, a justiça, a miséria, a
ganância, a traição, o idealismo.
Fruto de um longo trabalho que envolveu dez anos de pesquisas, Romanceiro da Inconfidência é "uma
narrativa rimada", segundo a autora, que reconstrói, fundindo história e lenda, os acontecimentos de Vila
Rica à época da Inconfidência Mineira (1789).
A efemeridade do tempo
Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que aborda, entre outros, temas como a
transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito, a natureza, a criação artística. Mas não se deve entender
sua atitude reflexiva como postura intelectual, racional. Cecília foi antes de tudo uma escritora intuitiva, que
sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir das próprias experiências: a morte dos pais
quando menina, a morte da avó que a educara, o suicídio do primeiro marido, o silêncio, a solidão. Ela
mesma revelou os objetivos que buscava alcançar por meio da poesia:
"Acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar -lhes
a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética
afetuosa e participante"*.
Desses temas, os que mais se destacam são a fugacidade do tempo e a efemeridade das coisas. Tal
preocupação filosófica, rico filão explorado por toda a tradição clássica, sobretudo pelo Barroco, tem bases
na experiência pessoal da autora, conforme ela própria declarou:
Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos
três anos. Essas e outras mortes ocorridas na infância acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao
mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas
relações entre o Efêmero e o Eterno [. . .] Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei
por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha
personalidade. (ln: Cecília Meireles, cit., p. 3 .)
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Ao reunir seus escritos para a publicação de Obras poéticas (1958), Cecília Meireles não incluiu seus três
livros iniciais, por entender que sua verdadeira maturidade poética se iniciara com Viagem (1939). A escritora
publicou, entre outras, estas obras de poesia: Vaga música (1942), Mar absoluto e outros poemas (1945),
Doze noturnos de Holanda e O aeronauta (1952), Romanceiro da Inconfidência (1953), Solombra (1963) e
Cânticos (1981).
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VINICIUS DE MORAIS: UM CANTO DE POETA E DE CANTOR
E estes?
Os versos dessas canções são de Vinícius de Morais (1913-1980), autor que, além de ter sido um dos mais
famosos compositores da música popular brasileira e um dos fundadores, na década de 1950, do movimento
musical Bossa Nova, foi também poeta significativo da segunda fase do Modernismo.
Vinícius nasceu no Rio de Janeiro, em uma família de intelectuais. Já em 19 28, começou a fazer suas
primeiras composições musicais. Formou-se em Letras em 1929 e em Direito em 1933, ano em que publicou
seu primeiro livro de poemas, O caminho para a distância. Tornou-se representante do Ministério de
Educação junto à Censura Cinematográfica. Na década de 1940 ingressou na carreira diplomática e também
no jornalismo, como cronista e crítico de cinema. Como diplomata, viveu durante muitos anos em Los
Angeles, Paris e Montevidéu, com alguns intervalos no Brasil. Nesse período, conheceu intelectuais e
artistas de todo o mundo.
Na década de 1950, interessou-se por música de câmara e popular e começou a compor. Em 1956, publicou
a peça teatral Orfeu da Conceição, levada ao palco do Teatro Municipal do Rio de Janeiro com grande
sucesso. A peça continha músicas do próprio Vinícius e de Tom Jobim. Algum tempo depois, João Gilberto
juntou-se à dupla, e dessa reunião de compositores surgiu o movimento da Bossa Nova. Ainda em 1956,
Vinícius publicou o poema "O operário em construção". A partir daí, passou a dedicar-se cada vez mais à
atividade de cantor e compositor, compondo e fazendo shows com vários parceiros, como Dorival Caymmi,
Tom Jobim, Edu Lobo, Baden Powell, Toquinho, Chico Buarque.
Como poeta, Vinícius integra o grupo de poetas religiosos que se formou no Rio de Janeiro entre as décadas
de 1930 e 40.
Em sua Antologia poética, publicada em 1955, Vinícius de Morais assinalava que sua obra consistia em duas
fases: "A primeira, transcendental, frequentemente mística, resultante de sua fase cristã, termina com o
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poema 'Ariana, a mulher', editado em 1936". Na segunda "estão nitidamente marcados os movimentos de
aproximação do mundo material, com a difícil, mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos".
A exemplo de outros poetas de sua geração, a primeira fase da poesia de Vinícius é marcada pela
preocupação religiosa, pela angústia existencial diante da condição humana e pelo desejo de superar, por
meio da transcendência mística, as sensações de pecado, culpa e desconsolo que a vida terrena oferece.
Os poemas dessa fase geralmente são longos, com versos igualmente longos, em linguagem abstrata,
alegórica e declamatória. Observe:
No sangue e na lama
O corpo sem vida tombou.
Mas nos olhos do homem caído
Havia ainda a luz do sacrifício que redime
E no grande Espírito que adejava o mar e o monte
Mil vozes clamavam que a vitória do homem forte tombado na luta
Era o novo Evangelho para o homem da paz que lavra no campo.
(Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974. p. 68.)
Cinco elegias (1943) é a obra que marca, na poesia de Vinícius, a passagem para uma fase de proximidade
maior com o mundo material. O poeta torna-se interessado nos temas cotidianos, nas coisas simples da
vida, e explora com sensualismo os temas do amor e da mulher. A linguagem também tende à simplicidade:
o verso livre passa a ser mais empregado, a comunicação fica mais direta e dinâmica.
Pode-se dizer que, pela primeira vez, Vinícius aderiu às propostas dos modernistas de 22, embora certa
dicção clássica e o gosto pelo soneto sempre tenham feito parte de sua poesia. Contudo, em suas mãos o
soneto ganhou uma roupagem diferente, mais moderna e real, fazendo uso de vocábulos do cotidiano, pouco
comuns nesse tipo de composição. Observe, por exemplo, o soneto a seguir, em que o erotismo é recriado
a partir de uma forma clássica e de uma linguagem crua e direta:
Soneto de devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica em meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! - uma cadela
Talvez ... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
(Livro de sonetos. São Paulo: Cia. das Letras. Editora Schwarcz Ltda., 1991. p. 15. Autorizado pela VM Empreendimentos Artíst icos e Culturais Ltda.
© VM e © Cia. das Letras, Editora Schwarcz.)
Além de ter explorado a poesia sensual, Vinícius também se interessou pela poesia social. O poema "O
operário em construção" (1956) é o melhor exemplo desse envolvimento: por meio de uma linguagem
simples e direta, quase didática, o poeta manifesta solidariedade às classes oprimidas e almeja atingir a
consciência daqueles que o leem ou ouvem. Observe o fragmento a seguir.
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Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconheci
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão
Mas ele desconhecia
Esse f ato extraordinário:
Que operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De f orma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garraf a, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o f azia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
(Poesia completa e prosa, cit., p. 293-4.)
Do último Vinícius, poeta sensual e social, para o Vinícius cantor e compositor foi u m passo. A partir da
década de 1960 o poeta entregou-se de corpo e alma à música. Se a poesia perdeu para a música popular
um grande talento, não se sabe. O certo é que Vinícius foi o poeta mais conhecido e amado do público
brasileiro, aquele que levou às rodas de bar, aos teatros e ao rádio composições de requinte literário.
Vinícius, além da poesia, também escreveu prosa, em especial crônicas. Dessa produção destacam-se as
obras Para viver um grande amor (1962), que também contém alguns poemas, e Para uma menina com
uma flor (1966).
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Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Soneto da fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exau sto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei… tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
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MÁRIO QUINTANA
MANOEL DE BARROS
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EXERCÍCIOS
1. Sobre a segunda geração do modernismo brasileiro é correto afirmar:
a) a cultura indígena e africana foram os principais temas explorados pelos escritores desse período.
b) chamada de fase de construção, a produção literária desse momento esteve voltada para a denúncia da
realidade brasileira.
c) o índio foi eleito como o herói nacional, reforçando ainda mais a identidade brasileira.
d) desprovida de engajamento político, nesse momento a preocupação era acerca do aprimoramento da
linguagem.
e) com forte teor indianista, a poesia dessa fase esteve voltada para temas cotidianos.
a) a produção literária dessa fase buscou apresentar um retrato mais objetivo da realidade.
b) o regionalismo nordestino representou uma das principais expressões do romance de 30.
c) a denúncia social e o engajamento político são duas fortes características da produção desse período.
d) o uso da linguagem coloquial e dos regionalismos marcaram os romances publicados nessa fase.
e) a literatura destrutiva dessa fase foi essencial para criar uma abordagem menos politizada.
3. A prosa de 30 foi um dos momentos de grande destaque da segunda geração modernista. Nesse
momento, a literatura teve um papel importante na divulgação de temas relacionados com a realidade
brasileira. Muitos escritores de destacaram nessa fase, exceto:
a) Rachel de Queiroz
b) Graciliano Ramos
c) José Lins do Rego
d) Clarice Lispector
e) Jorge Amado
4. A poesia de 30 reuniu obras que foram produzidas no Brasil durante a segunda geração modernista (1930-
1945). Essa fase representou um dos melhores momentos da poesia brasileira. Sobre as características
desses textos, é correto afirmar:
5. Temas relacionados com o universo nordestino foi explorado por diversos autores na segunda fase do
modernismo no Brasil. Das alternativas abaixo, o romance que não apresenta essa temática é:
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Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
(No meio do Caminho, Carlos Drummond de Andrade)
6. Publicado na revista Antropofagia em 1928 e posteriormente em sua obra Alguma poesia (1930), o poema
de Carlos Drummond de Andrade causou um escândalo na época sendo duramente criticado. Sobre isso é
correto afirmar:
a) Conativa
b) Metalinguística
c) Referencial
d) Emotiva
e) Fática
8. (Ibmec-SP)
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letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, permanência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Carlos Drummond de Andrade é considerado o poeta mais importante do nosso Modernismo e pertenceu à
segunda geração desse período literário. Assinale as principais características dessa fase, visivelmente
detectadas no poema:
a) Literatura marcada pela obscuridade. A realidade é revelada de uma forma imprecisa e vaga.
b) Literatura politizada, marcada pelo questionamento da realidade e comprometida com as transformações
sociais enfrentadas pelo país.
c) Subjetividade, o culto ao “EU”, ao individualismo e à liberdade de expressão.
d) Culto excessivo da forma, expresso por meio de malabarismos sintáticos e abusos de figuras literárias, o
que resulta em um rebuscamento exagerado da linguagem.
e) Predomínio da razão sobre os sentimentos e uso de uma linguagem mais sóbria, sem excessos e figuras
de linguagem.
1. Foi caracterizada, no campo da poesia, pelo amadurecimento e pela ampliação das conquistas dos
primeiros modernistas;
2. Valorização de uma linguagem rebuscada e metalinguística;
3. Os poetas do período tinham liberdade para escolher formas como o soneto ou o madrigal, sem que isso
significasse uma volta a estéticas do passado, como o Parnasianismo;
4. Valorização do conteúdo sonoro e visual, disposição assimétrica dos versos no papel, possibilidade de
diversas leituras através de diferentes ângulos;
5. No plano temático, a abordagem do cotidiano continuou sendo explorada, mas os poetas voltaram-se
também para problemas sociais e históricos, além de manifestarem inquietações existenciais e religiosas
que ampliaram as proposições da fase anterior.
10. Excelente sonetista, é um dos poucos representantes da poesia sensual, erótica, com fortes imagens:
"Nunca mulher nenhuma foi tão bela (...) / Essa mulher é um mundo! — uma cadela, / Talvez... — mas na
moldura de uma cama (...)". O trecho pode ser associado a:
a) Oswald de Andrade.
b) Carlos Drummond de Andrade
c) Murilo Mendes
d) Vinicius de Moraes
e) Mário de Andrade.
SENTIMENTAL
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Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
Neste país é proibido sonhar.
Carlos Drummond de Andrade
a) A uniformidade dos versos reforça a simplicidade dos sentimentos experimentados pelo poeta.
b) Tematiza-se o ato de sonhar, valorizando-se o modo de composição da linguagem surrealista.
c) Satiriza-se o estilo da poesia romântica, defendendo os padrões da poesia clássica.
d) A linguagem coloquial dos versos livres apresenta com humor o lirismo encarnado na cena cotidiana.
e) O dia a dia surge como novo palco das sensações poéticas, sem imprimir a alteração profunda na
linguagem lírica.
12. Sobre o Modernismo brasileiro, em que se insere a obra de Carlos Drummond de Andrade, pode -se
afirmar corretamente que:
1. Conta com diferentes tendências individuais e pelo menos duas fases distintas;
2. Discute as diferenças culturais e estéticas e valoriza as peculiaridades locais;
3. Respeitas as regras da poética tradicional e evita formar ideias originais.
a) 1 e 2 estão corretas.
b) 1 e 3 estão corretas.
c) 2 e 3 estão corretas.
d) 1, 2 e 3 estão corretas.
e) Somente 2 é correta.
Retrato
a) A expressão "mãos sem força", que aparece no primeiro verso da segunda estrofe, indica um lado
fragilizado e impotente do "eu" poético diante de sua postura existencial.
b) As palavras mais sugerem do que escrevem, resultando, daí, a força das impressões sensoriais. Imagens
visuais e auditivas, em outros poemas, sucedem-se a todo momento.
104
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c) O tema revela uma busca da percepção de si mesmo. Antes de um simples retrato, o que se mostra é um
autorretrato, por meio do qual o “eu” poético olha-se no presente, comparando-se com aquilo que foi no
passado.
d) Não há no poema o registro de estados de ânimo vagos e quase incorpóreos, nem a noção de perda
amorosa, abandono e solidão.
a) O traço formalizante é o que caracteriza essa geração de poetas. Enq uanto alguns buscaram um estilo
culto e elevado, outros buscaram uma linguagem essencial, sintética e racional.
c) Seus principais representantes foram João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles, Carlos Drummond de
Andrade, Vinícius de Moraes e Mario Quintana.
d) A segunda fase do Modernismo foi caracterizada, no campo da poesia, pelo amadurecimento e pela
ampliação das conquistas dos primeiros modernistas. Assim, nos anos de 1930 a 1945, a poesia modernista
consolidou-se e alargou seus horizontes temáticos.
15. (UNIFOR-CE)
Os versos acima, do poema "Mãos dadas", de Carlos Drummond de Andrade, prendem-se a uma fase de
sua poesia na qual o poeta mineiro,
a) promovendo um balanço crítico de sua poesia, aventura-se em novas formas poéticas, de caráter
experimental.
b) influenciado diretamente por Oswald de Andrade, passa a compor epigramas irônicos.
c) relativizando a ironia que caracterizava momentos anteriores, escreve poemas de cunho político -social.
d) desiludido com os rumos do mundo contemporâneo, recolhe -se à intimidade e passa a refletir sobre o
absurdo da existência.
e) já na casa dos setenta anos, entrega-se a um memorialismo em tom de crônica, revivendo suas
experiências juvenis.
16. Uma das constantes da obra de Carlos Drummond de Andrade, como se verifica nos versos acima, é:
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17. (EsPCEx) Leia as afirmações abaixo sobre Carlos Drummond de Andrade:
I- Preferiu não participar da Semana de Arte Moderna, mas enviou seu famoso poema “Os Sapos”, que, lido
por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal.
II – Sua fase “gauche” caracterizou-se pelo pessimismo, pelo individualismo, pelo isolamento e pela reflexão
existencial. A obra mais importante foi o “Poema de Sete Faces”.
III- Na fase social, o eu lírico manifesta interesse pelo seu tempo e pelos problemas cotidianos, buscando a
solidariedade diante das frustrações e das esperanças humanas.
IV- A última fase foi marcada pela poesia intimista, de orientação simbolista, prezando o espiritualismo e
orientalismo e a musicalidade, traços que podem ser notados no poema “O motivo da Rosa”.
a) I, II e III
b) II, III e IV
c) II e III
d) II e IV
e) III e IV.
18. (ENEM – 2007) A partir da obra Vidas Secas e das informações sobre o romance regionalista nordestino,
relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afirmativas.
I - O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em
protagonista privilegiado do romance social de 30.
II - A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendê ncia da ficção brasileira da década de
30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares.
III - Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modificar a
posição social do sertanejo na realidade nacional
a) I
b) II
c) III
d) I e II
e) II e III
Uma das constantes na obra poética de Carlos Drummond de Andrade, como se verifica nos versos acima,
é
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Disciplina: Português V – AULA 11
Conteúdo: REPORTAGEM107
Reportagem é o nome dado ao gênero textual jornalístico que realiza a interação verbal entre os indivíduos,
seja por meio da fala ou escrita.
O ser humano comunica-se e expressa as suas ideias e emoções através da linguagem. Os gêneros textuais
são as representações dessa linguagem, que podem ser alteradas de acordo com o contexto em que são
empregadas.
A reportagem é transmitida por meio dos veículos jornalísticos, como jornais impressos, revistas, sites, TVs
e rádios. A sua principal função é informar.
A reportagem caracteriza-se por texto mais longo, com detalhes e informações que geralmente não são
encontradas em outros tipos de escrita. Para a produção, é necessário que o repórter faça um levantamento
de dados, realize entrevista com pessoas relevantes para o caso e atenda todos os lados envolvidos, ou
escute especialistas sobre o assunto relatado. Ela não mostra somente o fato, mas os encaminhamentos
para o seu acontecimento.
O objetivo principal do texto deve ser o de informar. A reportagem cumpre uma função social, e não é feita
somente de temas atuais. Qualquer fenômeno pode virar pauta para esse gênero textual.
A linguagem utilizada é simples e objetiva, como nos demais textos jornalísticos. É importante que se
estabeleça uma relação com o leitor/ interlocutor. Pode-se também, na reportagem, fazer a observação do
fato ocorrido através da interpretação.
FORMATO DO TEXTO
Como se trata de um gênero textual jornalístico, a reportagem não precisa obedecer a uma estrutura
determinada. O texto é mais livre, sendo necessário apenas se atentar para alguns elementos essenciais,
que são:
Título: onde se coloca o tema da reportagem de forma clara e que atraia o interesse do leitor.
107
Reportagem. Educa mais Brasil. Conteúdo disponível em https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/reportagem. Acesso em
04 de ago. de 2021.
107
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Subtítulo: é um título secundário, que pode apresentar outras informações relevantes do texto. Não é
obrigatória a sua presença.
Lide (ou lead): é basicamente um resumo do texto, colocado no seu primeiro parágrafo, situando o leitor
sobre o que ele vai ler a seguir. As informações são colocadas de acordo com a relevância, ou seja, o mais
importante é dito antes.
Corpo do texto: são as demais informações sobre o fato. Comparando com um texto dissertativo, seria o
seu desenvolvimento.
REPORTAGEM X NOTÍCIA
Reportagem e notícia são a mesma coisa? Essa pergunta é bem comum, já que os dois tipos de gêneros
textuais apresentam bastante semelhanças. Para entender como funciona cada uma delas, portanto, é
necessário prestar atenção justamente nas suas diferenças.
A notícia precisa ser dada logo após o fato acontecer. Por conta disso, as vezes as informações não são
suficientes. É necessário um tempo maior para apurar o que aconteceu, e oferecer ao leitor uma maior
riqueza de detalhes. Esse é o papel da reportagem.
A notícia é mais curta, já reportagem é mais longa, e explica o desdobramento do caso, o que foi necessário
para que ele acontecesse. Outra característica importante que faz a diferenciação entre ambas é que a
reportagem escuta diversas fontes, especialistas e os vários lados da mesma história.
Exemplo de reportagem
Um estudo divulgado na tarde desta segunda-feira 14 pela B3, com os 2 milhões de novos investidores na Bolsa de
Valores entre abril de 2019 e abril de 2020, mostrou que o investidor brasileiro está mais maduro em relação ao mercado
de renda variável. Sinal que os esforços das corretoras e influenciadores digitais em atrair novos investidores à bolsa
estão dando bons frutos. Apesar de serem novatos, os novos investidores possuem uma melhor visão de longo prazo,
mesmo em momentos de alta volatilidade nas ações, o que mostra uma melhor compreensão sobre esse tipo de ativo
e um bom entendimento financeiro.
“O pensamento de médio e longo prazo já faz parte da mentalidade de boa parte dessa nova safra que começa a
investir. A decisão de resgatar os investimentos fica muito mais atrelada à liquidez do que à volatilidade”, afi rma Felipe
Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes Pessoa Física da B3. “É uma mudança de mentalidade que está se
consolidando entre os jovens brasileiros e, por isso, uma mudança geracional na forma de investir no país”, diz ele. A
média de idade desses novos investidores é de 32 anos.
De acordo com o levantamento da B3, a maioria desses novos investidores (73%) obtém informações sobre o mercado
na internet, sendo que 60% acompanham influenciadores digitais. Das pessoas que acompanham influenciadores, 73%
declaram que tomam decisões de investimento por conta própria, a partir de análise e dados de diversas fontes. “A
transformação digital trazida pelo avanço da tecnologia e o maior acesso à informação foram cruciais para que o
mercado de investimentos se desenvolvesse muito nos últimos anos no Brasil. E, nesse cenário, é essencial que as
pessoas estejam cada vez mais atentas não só à qualidade dos dados como, também, à credibilidade, reputação e
histórico de suas fontes”, diz Paiva.
Além disso, os novos investidores têm diversificado mais. Quase a metade deles (46%) fez isso este ano. Em 2016,
78% do investidor do varejo detinha somente ações e, em 2020, são 54%. Não colocar todos os ovos na mesma cesta
é considerado uma decisão acertada no mercado brasileiro por parte dos especialistas financeiros. “Aqueles que
criaram regras muito bem definidas de diversificação das carteiras estão firmes e fortes enquanto aqueles que
concentraram demais ficaram pelo caminho”, diz Renato Breia, sócio fundador da Nord Research, a respeito do que
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observou das gestoras nos últimos 15 anos. “Precisamos lembrar que no Brasil as coisas funcionam bem diferente dos
EUA. Com uma simples canetada, nossos governantes já foram capazes de rasgar contratos e dizimar alguns setores
da economia”, diz ele.
Apesar do crescimento e da consolidação da renda variável no Brasil, vale lembrar que ele está muito aquém ao
americano e com enorme potencial de crescimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais da metade da população
investe em bolsas, e no Brasil esse índice é inferior a 5%.
ICONOGRAFIA
Trata-se de uma forma de linguagem visual que usa imagens para representar algum tema. As
REPORTAGENS exploram imagens, gráficos, infográficos, tabelas, fotos etc., para complementar e dar
maior credibilidade às informações que serão transmitidas.
Exemplo de notícia
A holding de seguros BB Seguridade (BBSE3) anunciou nesta segunda-feira (02) seu cronograma para pagamento de
dividendos referentes ao 1º semestre de 2021, adicionados os dividendos prescritos referentes ao segundo semestre
de 2017.
Segundo comunicado, a companhia vai pagar R$ 0,52087499717 por ação, totalizando R$ 1,04 bilhão em dividendos
a serem pagos no dia 23 de agosto, com base na posição acionária do dia 11.
A companhia divulgou seu resultado referente ao segundo trimestre de 2021, apresentando lucro líquido de R$753,7
milhões, uma redução de 21,2% em relação ao reportado no segundo trimestre de 2020.
➢ A Notícia tem como temas os fatos de relevância imediata; já na Reportagem, os temas são diversos,
como políticos, sociais, econômicos, culturais etc. Outra diferença é de natureza conteudista, enquanto na
notícia privilegiam-se os fatos, atuais e cotidianos; na reportagem preza-se pela interpretação dos fatos e
dados narrados. Tomada como método de registro, a notícia se esgota no anúncio; a reportagem, porém, só
se esgota no desdobramento, na pormenorização, no amplo relato dos fatos.
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EXERCÍCIOS
1. (UFPR – 2010) Considere as seguintes características:
a) 1 e 3 apenas.
b) 2 e 3 apenas.
c) 2, 3 e 4 apenas.
d) 3, 4 e 5 apenas.
e) 1 e 2 apenas.
a) Comunicação utilizada entre pessoas que mantêm algum tipo de relação íntima, cuja linguagem é
predominantemente coloquial.
b) Seu principal objetivo é transmitir a opinião de pessoas de destaque sobre algum as sunto de interesse.
c) Texto jornalístico divulgado nos meios de comunicação de massa, informa fatos de interesse público, cuja
linguagem deve ser objetiva e clara.
d) A linguagem é sua principal característica, pois há uma preocupação com a seleção e a combinação
vocabular. Sua linguagem é predominantemente subjetiva.
Os altos salários renderam a Brasília a fama de ilha da fantasia. No chamado entorno da cidade, um milhão
de pessoas vivem sem saneamento, utilizam transporte público de baixa qualidade e sofrem com a violência.
Adaptado de O Globo, 21/04/2010
3. A reportagem publicada no jornal “O Globo”, do dia 21 de abril de 2010, tem como assunto principal
informar sobre os problemas que atingem os moradores do entorno de Brasília. Sobre ela, é possível afirmar
que:
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II. Apesar de contrariar o princípio da imparcialidade, é possível observar que há uma opinião pessoal do
enunciador na reportagem.
III. A imagem da campanha institucional do Governo do Distrito Federal, aliada aos seus recursos
linguísticos, estabelece um paradoxo com a informação veiculada na reportagem.
Estão corretas:
a) I e IV.
b) I, II e III.
c) Apenas IV.
d) I e II.
Os gêneros textuais são textos materializados que circulam socialmente. O texto Deserto de sal foi veiculado
em uma revista de circulação mensal. Pelas estratégias linguísticas exploradas, conclui-se que o fragmento
apresentado pertence ao gênero
a) relato, pela apresentação de acontecimentos ocorridos durante uma viagem ao Salar de Atacama.
b) verbete, pela apresentação de uma definição e de exemplos sobre o termo Salar de Atacama.
c) artigo de opinião, pela apresentação de uma tese e de argumentos sobre o Salar de Atacama.
d) reportagem, pela apresentação de informações e de dados sobre o Salar de Atacama.
e) resenha, pela apresentação, descrição e avaliação do Salar de Atacama.
5. (Ano: 2010 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: INEP - 2010 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio)
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6. (Ano: 2011 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: INEP - 2011 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio)
Essa notícia, publicada em uma revista de grande circulação, apresenta resultados de uma pesquisa
científica realizada por uma universidade brasileira. Nessa situação específica de comunicação, a função
referencial da linguagem predomina, porque o autor do texto prioriza
7. (Ano: 2021 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: INEP - 2021 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio)
As pessoas em Paris acordaram com uma notícia inusitada: uma baleia encalhada f oi encontrada nas margens do
Sena, perto de Notre Dame. Para deixar tudo ainda mais surreal, cientistas f orenses f oram vistos est udando o
f enômeno. O público ficou impressionado com as cenas e bombou as redes sociais de comentários e fotos. Horas mais
tarde, a verdade por trás do espetáculo bizarro f oi revelada. Embora parecesse muito com um animal real, tudo não
passava de uma instalação artística criada pelo coletivo belga Capitão Boomer. A escultura gigante media 17 metros e
simulava o cheiro de uma baleia morta, com todos os seus detalhes, incluindo o sangue. O projeto foi desenvolvido
para aumentar a conscientização sobre o impacto provocado pelos seres humanos no meio ambiente, em todas as
espécies, incluindo as baleias.
Essa notícia tem sua relevância informativa estabelecida ao apresentar um fato inesperado relativo ao(à)
a) excesso de comentários nas redes sociais sobre valores ecológicos e meio ambiente.
b) presença de um animal marinho encalhado e em decomposição no centro de Paris.
c) uso de uma instalação artística realista como instrumento de denúncia social.
d) falta de ações de preservação do meio ambiente no continente europeu.
e) opção por uma análise sensacionalista de um evento inusitado.
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8. (Ano: 2013 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: INEP - 2013 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio)
Empresa vai fornecer 230 turbinas para o segundo complexo de energia à base de ventos, no sudeste da Bahia. O
Complexo Eólico Alto Sertão, em 2014, terá capacidade para gerar 375 MW (megawatts), total suficiente para abastecer
uma cidade de 3 milhões de habitantes.
MATOS, C. GE busca bons ventos e fecha contrato de R$ 820 mina Bahia. Folha de S. Paulo, 2 dez 2012.
A opção tecnológica retratada na notícia proporciona a seguinte consequência para o sistema energético
brasileiro:
9. (Ano: 2019 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: INEP - 2019 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio)
Com o enredo que homenageou o centenário do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a Unidos da Tijuca foi
coroada no Carnaval 2012.
A penúltima escola a entrar na Sapucaí, na segunda noite de desfiles, mergulhou no universo do cantor e compositor
brasileiro e trouxe a cultura nordestina com criatividade para a Avenida, com o enredo O dia em que toda a realeza
desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão.
Disponível em: www.cultura.rj.gov.br. Acesso em: 15 maio 2012 (adaptado).
10. (Ano: 2021 Banca: INEP Órgão: ENEM Prova: INEP - 2021 - ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio)
Caminhando contra o vento, Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou
O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas Em cardinales bonitas Eu vou
Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bombas e Brigitte Bardot O sol nas
bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta noticia Eu vou
VELOSO, C. Alegria, alegria In Caetano Veloso. São Paulo. Philips. 1967 (fragmento).
É comum coexistirem sequências tipológicas em um mesmo gênero textual. Nesse fragmento, os tipos
textuais que se destacam na organização temática são
a) descritivo e argumentativo, pois o enunciador detalha cada lugar por onde passa, argumentando contra a
violência urbana.
b) dissertativo e argumentativo, pois o enunciador apresenta seu ponto de vista sobre as noticias relativas á
cidade.
c) expositivo e injuntivo, pois o enunciador fala de seus estados físicos e psicológicos e interage com a
mulher amada.
d) narrativo e descritivo, pois o enunciador conta sobre suas andanças pelas ruas da cidade ao mesmo
tempo que a descreve.
e) narrativo e injuntivo, pois o enunciador ensina o interlocutor como andar pelas ruas da cidade contando
sobre sua própria experiência.
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Disciplina: Português V – AULA 12
Conteúdo: ENTREVISTA108
ÉPOCA – O que é ser antifrágil? Nassim Taleb: "Antifrágil é tudo o que se beneficia da
desordem" (Foto: Divulgação)
Nassim Taleb – Antifrágil é tudo o que se beneficia da desordem. Podemos separar objetos em três
categorias: existem as coisas que quebram e que sofrem. Coisas que aguentam esse sofrimento, não
quebram e crescem. Ser antifrágil é uma terceira categoria. Foi o nome que dei, por falta de outro, às coisas
que se beneficiam da desordem.
ÉPOCA – Como podemos diferenciar a Teoria da Evolução da tese do Antifrágil? Nos dois casos,
sobrevive quem está mais bem preparado, é mais inteligente e forte.
Taleb – As duas coisas são completamente diferentes. A teoria da evolução é, como o próprio nome sugere,
apenas uma teoria. Antifragilidade é um problema matemático e significa se fortalecer da desordem. Se você
tiver um maior número de ganhos do que de perdas, você se torna antifrágil. E muitos sistemas requerem
desordem, porque sem ela eles enfraquecem. Temos muitos problemas com pessoas que não conseguem
entender que precisamos do antifrágil, que precisamos de desordem. Sem a desordem, alguns sistemas
acabam por se ferir. As companhias precisam de desordem. Muitas vezes, a intervenção dos governos pode
enfraquecê-las porque eles acabam removendo a habilidade de ganhar da desordem, então, precisamos
108
Entrevista. Educa mais Brasil. Conteúdo disponível em https://www.ed ucamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/entrevista. Acesso em 04
de ago. de 2021.
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Prof. Hugo Magalhães Gramática e Literatura Brasileira
trabalhar com essa prioridade. Você se lembra da queda do
avião francês que deixou o Rio com destino a Paris? Você
não acha que esse meio de transporte está muito mais
seguro depois desse acidente? É muito seguro viajar de
avião, porque todas as vezes que ocorrem erros como esse,
a indústria se beneficia deles. Eles sabem que precisam
transformar os erros em algo melhor que possa salvar outras
vidas. Para cada vida perdida, milhares são salvas.
Entrevista é um diálogo entre duas ou mais pessoas: entrevistador (es) e entrevistado (s). O principal
objetivo é extrair declarações e informações sobre determinado assunto.
As entrevistas são muito utilizadas pelos jornais, sites, revistas, rádios e tvs com o intuito de passar um
conhecimento para a população. Além de jornalística, existe também a entrevista de emprego, soc ial,
psicológica, entre outras.
De maneira geral, essa linha de gêneros textuais, principalmente o jornalístico, tem grande importância para
a sociedade por possibilitar à população o conhecimento sobre fatos e assuntos por meio de profissionais
que apuram os detalhes e os apresentam de forma completa e precisa.
CARACTERÍSTICAS
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ESTRUTURA DA ENTREVISTA
Geralmente, a entrevista costuma compor-se de:
* Manchete ou título – como o objetivo é despertar o interesse no público expectador, essa costuma vir
acompanhada de uma frase de efeito, proferida de modo marcante por parte do entrevistador.
* Apresentação - nesse momento faz-se referência ao entrevistado, divulgando sua autoridade em relação
ao posicionamento social ou relevância no assunto em questão, como, por exemplo, experiência profissional
e conhecimentos relativos à situação em voga, como também os pontos principais relativos à entrevista.
* Perguntas e respostas – trata-se do discurso propriamente dito, em que perguntas e respostas são
proferidas consoante ao assunto abordado. Em meio a essa interação há um controle por parte do
entrevistador para demarcar o momento da atuação dos participantes.
- Revisão: por fim, é fundamental que todo o texto seja revisado para identificar possíveis erros de escrita.
Um exemplo de como funciona essa estrutura na prática é a dinâmica em um veículo de comunicação. Após
a definição da pauta – que é o tema da reportagem ou matéria – o repórter faz as pesquisas necessárias
para realizar a entrevista.
É comum que seja utilizada uma câmera ou gravador para que seja possível transcrever de maneira literal
tudo que foi dito. Após a transcrição e revisão, a entrevista é publicada. Podem ser utilizados mecanismos
que atraia o leitor, como o “olho”, que são destaques em frases ditas pelo entrevistado.
- Rotina: acontece a partir dos acontecimentos factuais e de interesse público, com personagens que
estiveram presentes nessas ocorrências (que podem ser acidentes, mortes, assaltos, enchentes, entre
outros).
- Em grupo: mais conhecida como coletiva de imprensa, é realizada com jornalistas de diversos veículos e
cada um faz suas respectivas perguntas ao(s) entrevistado(s).
- Exclusiva: é uma entrevista concedida a apenas um jornalista, com uma informação ainda desconhecida
por todos.
- Pesquisa: realizada por especialistas que devem dar uma informação técnica, porém de fácil compreensão
sobre determinado assunto.
- Personalidade: descreve a vida de uma pessoa famosa como seus hábitos, história de vida e curiosidades.
- Opinativa: é realizada com pessoas que possuem experiências e conhecimentos sobre determinados
assuntos, como atletas, estudiosos ou profissionais consagrados.
- Caracterizada: são os trechos curtos de uma entrevista, inseridos em um texto entre aspas e transcritos
exatamente como foram ditos pelo entrevistado.
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EXERCÍCIOS
1. São características a serem apontadas no gênero textual entrevista:
A língua é rock
Guitarrista do Titãs e escritor completa dez anos à frente de programa televisivo em que discute a língua
portuguesa por meio da música
No começo, em 1999, a ideia era fazer um programa que falasse de língua portuguesa usando a música
como atrativo, principalmente, para os jovens. Com o passar do tempo, ele foi se transformando num
programa sobre a linguagem usada em letras de música, no jornalismo, na literatura de ficção e na poesia.
Como não sou um cara de TV, trago a experiência de escritor e músico, e sempre participo de forma mais
ativa do que como um mero apresentador. Estou nas reuniões de pauta e faço sugestões nos rotei ros. Mas
o conteúdo é feito pelo pessoal do Futura.
Quais as vantagens e desvantagens do ensino da língua por meio das letras de música?
Não sou pedagogo ou educador, então só vejo vantagens, porque as letras de música usam uma linguagem
que é a do dia a dia, principalmente, dos jovens. A música é algo que lhes dá prazer e, didaticamente, pode
fazer as vezes de algo que o aluno tem a noção de ser entediante — estudo da língua, sentar e abrir um
livro. Ao ouvir uma música, os exemplos surgem. É a grande vantagem e sempre foi a ideia do programa.
Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (fragmento).
Os gêneros textuais são definidos por meio de sua estrutura, função e contexto de uso. Tomando por base
a estrutura dessa entrevista, observa-se que
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4. (Ano: 2018 - Banca: FUNDEP)
O gênero textual entrevista possui como principal função a informação. No entanto, nesse caso específico,
ele possui características bem próximas de um outro gênero textual em função de uma de suas
características principais.
De acordo com as características desse texto e dos gêneros textuais, assinale a alternativa que indica esse
outro gênero com o qual essa entrevista se assemelha.
a) Biografia.
b) Notícia.
c) Artigo de opinião.
d) Debate.
5. (Enem 2015)
Mudança linguística
Ataliba de Castilho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte da metamorfose
natural da língua.
- Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o que ocorreu
com “você”, que se tornou o pronome átono “cê”. Agora o interneteiro pode ajudar a reduzir os excessos da
ortografia, e bem sabemos que são muitos. Por que o acento gráfico é tão importante assim para a escrita?
Já tivemos no Brasil momentos até mais exacerbados por acentos e dispensamos muitos deles. Como toda
palavra é contextualizada pelo falante, podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro mostra um
caminho, pois faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O internetês pode, no futuro, até
tornar a comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um jargão complexo que, em vez de aproximar as
pessoas em menor tempo, estimule o isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos.
Para Castilho, n entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que precisamos
na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver?
Disponível em: http://revistalingua.com.br. Acesso em: 3 jun. 2015 (adaptado)
6. (Enem 2016)
TEXTO I
Entrevistadora — eu vou conversar aqui com a professora A. D.... o português então não é uma língua difícil?
Prof essora — olha se você parte do princípio… que a língua portuguesa não é só regras gramaticais… não se você se
apaixona pela língua que você… já domina que você já f ala ao chegar na escola se o teu professor cativa você a ler
obras da literatura… obras da/ dos meios de comunicação… se você tem acesso a revistas… é... a livros didáticos…
a... livros de literatura o mais f ormal o e/ o dif ícil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua
portuguesa em análises gramaticais.
TEXTO II
Entrevistadora — Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua difícil?
Prof essora — Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras gramaticais. Ao chegar à escola,
o aluno já domina e f ala a língua. Se o professor motivá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros
didáticos, você se apaixona pela língua. O que torna difícil é que a escola transforma as aulas de língua portuguesa
em análises gramaticais. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).
O Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de português a um programa de
rádio. O Texto II é a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos
a) apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
b) são modelos de emprego de regras gramaticais.
c) são exemplos de uso não planejado da língua.
d) apresentam marcas da linguagem literária.
e) são amostras do português culto urbano.
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Disciplina: Português V – AULA 13
Conteúdo: MANIFESTO
Manifesto de Davos 2020: O Objetivo Universal dos Negócios
na Quarta Revolução Industrial
A - O objetivo das empresas é colaborar com todos os seus stakeholders na criação de valor partilhado e sustentado.
Ao criá-lo, as empresas não cumprem apenas com seus acionistas, mas com todos os seus públicos de interesse:
colaboradores, clientes, fornecedores, comunidades locais e sociedade em geral. A melhor maneira de compreender e
harmonizar os interesses divergentes de todas as partes interessadas é adquirir um compromisso comum com políticas
e decisões que aumentem a prosperidade de longo prazo das empresas.
I - Uma empresa atende seus clientes quando lhes oferece uma proposta de valor que atenda perfeitamente às suas
necessidades. Aceita e apoia uma competição justa e condições equitativas. Mostra tolerância zero para corrupção.
Garante a conf iabilidade e confiabilidade do ecossistema digital em que opera. Compartilha totalmente a f uncionalidade
de seus produtos e serviços com seus clientes, bem como as implicações adversas ou externalidades negativas.
II - Uma empresa trata seus f uncionários com dignidade e respeito. Respeita a diversidade e ambiciona a melhoria
contínua das condições de trabalho e o bem-estar dos colaboradores. Em um mundo em constante mudança, uma
empresa defende a continuidade no emprego por meio da melhoria contínua de competências e da aquisição de novas.
III - Uma empresa considera seus f ornecedores como verdadeiros parceiros na criação de valor. Oferece as mesmas
oportunidades para novos participantes no mercado. Integra o respeito pelos direitos humanos em todos os elos da
cadeia de abastecimento.
IV - Uma empresa cumpre com a sociedade em geral por meio de suas atividades, apoia as comunidades onde atua e
paga uma porcentagem justa dos impostos. Garante uma utilização segura, ética e ef iciente dos dados. Atua como
f iador do universo ambiental e material para as gerações f uturas. Protege nossa biosfera com responsabilidade e é
campeão de uma economia circular, compartilhada e regenerativa. Ultrapassa incessantemente os limites do
conhecimento, inovação e tecnologia para melhorar o bem-estar das pessoas.
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O manifesto é um gênero textual cuja tipologia é dissertativa, de cunho político, cultural ou social, que visa
a expressar o ponto de vista de um ou mais autores para um grande público, com intuito de sensibilizá-lo ou
convencê-lo.
Sua estrutura divide-se em título, corpo do texto e assinatura. Sua linguagem deve estar adequada ao seu
público, garantindo a acessibilidade e compreensão do conteúdo. Um dos mais conhecidos textos desse
gênero é o “Manifesto antropófago”, de 1928, que defende uma cultura nacional com direito à mestiçagem.
O manifesto situa-se entre os chamados gêneros argumentativos, cujo propósito do emissor é persuadir,
convencer o interlocutor por meio de argumentos considerados plausíveis. Didaticamente, devemos
concebê-lo como sendo a forma pela qual um grupo, de forma coletiva, expressa seus pensamentos sobre
um determinado assunto de ordem social, política, cultural, etc. O intuito do manifesto é sensibilizar ou
persuadir a opinião pública por meio da defesa argumentativa no texto. O propósito é atrair leitores para
comungar das ideias e/ou críticas expostas.
109
Manifesto. Mundo Educação UOL. Disponível em https://mundoeducacao.uol.com.br/redacao/manifesto.htm. Acesso em 04 de ago. de 2021.
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➢ Título
O título atrai o leitor para realizar a leitura completa do texto, bem como pode fornecer dicas e pistas do
assunto ou da opinião apresentada no manifesto.
➢ Corpo do texto
O corpo do texto é onde estão inseridas todas as ideias e críticas. O corpo textual do manifesto deve
apresentar uma boa organização e argumentação, pois é essencial que o público compreenda a linguagem
sem dificuldades, ao mesmo tempo em que reconhece as estratégias argumentativas utilizadas pelo(s)
autor(es). É importante seguir a ordem do tipo dissertativo (introdução – desenvolvimento – conclusão).
A introdução deve apresentar as informações iniciais, que contextualizam o leitor a respeito do tema bem
como indicam o ponto de vista argumentativo do autor. O desenvolvimento deve aprofundar as críticas e
exposições, apresentando dados comprovadores, pesquisas, comparações e outras estratégias válidas ao
contexto. A conclusão deve promover um desfecho do que foi discutido, apresentar uma síntese das ideias
e, em certos casos, sugerir ou cobrar medidas de intervenção nos problemas expostos.
Após o corpo do texto, o manifesto costuma apresentar a marcação de data e local onde o documento foi
escrito, bem como a assinatura do autor, da instituição ou dos manifestantes que comungam do seu
conteúdo.
Dentre os mais conhecidos manifestos que servem de exemplo ao estudo do gênero, destaca-se o
“Manifesto antropofágico”, escrito por Oswald de Andrade, em 1928. Esse documento apresenta as
ideias não só do autor como também de outros artistas da época, que comungavam das opiniões defendidas
e propunham uma transformação cultural no Brasil.
O “Manifesto antropofágico” é um texto de reconhecimento e prestígio social, tanto por seus aspectos
históricos e sociais como por seus aspectos artísticos e culturais. A argumentação do autor direciona-se na
defesa da antropofagia como um elemento característico da cultura brasileira. Em outras palavras, o texto
defende a mistura e a “digestão” das diferentes identidades que constituem o povo brasileiro, produzindo-se
um resultado novo e mestiço.
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Como é possível observar, já nesse pequeno trecho, o autor constrói uma expressão em defesa de uma
cultura nacionalista, cultura essa que deveria abraçar a sua mestiçagem por meio da antropofagia cultural.
Isso significa se “alimentar” de tudo que chega, mas produzir seu próprio resultado, valori zar suas próprias
criações.
Essas características podem ser observadas em trechos como “Queremos a Revolução Caraiba. Maior que
a Revolução Francesa.”, em que o autor valoriza os processos nacionais em detrimento dos processos
europeus.
Outras expressões como “contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da
vida.” reforçam o posicionamento crítico ao conceituar as culturas como “enlatadas”, comparando -as aos
alimentos que vêm desse processo e, consequentemente, são mais artificiais e menos saudáveis.
Desse modo, percebe-se que, apesar da sua flexibilidade estrutural, o manifesto apresenta o tipo
dissertativo-argumentativo como a tipologia predominante, de modo que influencia a organização das ideias
e críticas em defesa de um ponto de vista.
Reconhecendo a minha cota de responsabilidade com o futuro da humanidade, especialmente com as crianças de hoje
e as das gerações f uturas, eu me comprometo em minha vida diária, na minha f amília, no meu trabalho, na minha
comunidade, no meu país e na minha região – a:
Respeitar a vida e a dignidade de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito;
Praticar a não violência ativa, rejeitando a violência sob todas as suas formas: física, sexual, psicológica, econômica e
social, em particular contra os grupos mais desprovidos e vulneráveis como as crianças e os adolescentes;
Compartilhar o meu tempo e meus recursos materiais em um espírito de generosidade visando o fim da exclusão, da
injustiça e da opressão política e econômica; Defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, dando sempre
pref erência ao diálogo e a escuta do que ao fanatismo, a difamação e a rejeição do outro;
Promover um comportamento de consumo que seja responsável e práticas de desenvolvimento que respeitem todas
as f ormas de vida e preservem o equilíbrio da natureza no planeta;
Contribuir para o desenvolvimento da minha comunidade, com a ampla participação da mulher e o respeito pelos
princípios democráticos, de modo a construir novas formas de solidariedade.
(www.unesco.org.br/noticias/noticias2000/nu200/nu200e/mostra¬_documento)
EXERCÍCIOS
1. (ENEM – 2019)
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento
agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade.
Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito
explosivo... um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de
Samotrácia.
5. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada
também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6. É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto e munificência, para aumentar o entusiástico fervor
dos elementos primordiais.
MARINETTI, F. T. Manifesto futurista. In: TELES, G. M. Vanguardas europeias e Modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.
a) composição estática.
b) inovação tecnológica.
c) suspensão do tempo.
d) retomada do helenismo.
e) manutenção das tradições.
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Referências bibliográficas
BECHARA, Evanildo. Lições de português pela análise sintática. 10ª ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
CEREJA, William R. e MAGALHÃES, Thereza C. Literatura brasileira. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2013.
GABARITO
1. E
2. B
3. C
4. E
5. E
6. B
7. B
8. D
9. C
10. A/C
1. I
2. C
3. I
4. E
5. C
6. B
7. A
8. I
1. C
2. B
3. A
4. C
5. B
6. A
7.
a) Os alunos dispunham de pouco tempo, POR ISSO não foi possível concluir a prova de Matemática.
b) Moramos no mesmo andar E vemo-nos com frequência, PORÉM mal nos falamos.
c) O show estava excelente, MAS meu amigo saiu antes de terminar, PORQUE tinha um aniversário para ir.
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8. O céu está carregado, mas não vamos levar guarda-chuvas, porque o serviço de meteorologia avisou que
o tempo vai melhorar.
9. D
10.
1) Pedro saiu e João chegou;
2) Pedro saiu, mas João chegou;
3) Pedro saiu quando João chegou
1. C
2. E
3. C
4. B
5. II
6. A
7. B
8. B
9. C
10. B
11. A
12. A
13. C
14. E
1. SUGESTÕES DE RESPOSTA:
a) assim que
b) pois
c) de forma que
d) caso persistam...
e) mas
f) assim que
g) à proporção que
h) embora
i) já que
j) conforme
k) a fim de que
l) por isso
m) por mais que
2. C
3. D
4. C
5. D
123
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6. C
7. E
8. A
9. A
10. B
11. B
Aula 7 – Pré-Modernismo
1. B/D
2. A
3. D
4. C
5. A
6. A
7. B
8. C
9. C
10. E
11. B
12. E
13. D
14. D
15. A
16. B
17. D
18. C
19. C
20. B
1. B
2. C
3. A
4. B
5. C
6. B
1. E
2. C
3. A
4. E
5. E
6. D
7. B
8. E
9. E
10. D
11. C
12. E
13. A
14. A
15. A
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16. E
17. B
18. C
19. E
1. B
2. E
3. D
4. A
5. E
6. E
7. B
8. B
9. B
10. D
11. D
12. A
13. D
14. B
15. C
16. E
17. C
18. D
19. C
Aula 11 – Reportagem
1. B
2. C
3. B
4. D
5. C
6. B
7. C
8. C
9. B
10. D
Aula 12 – Entrevista
1. A/C
2. C
3. A
4. C
5. A
6. E
Aula 13 – Manifesto
1. B
125
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