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Português • 12º ano

Teste de avaliação - Educação literária 2023/2024

GRUPO I

PARTE A

Lê o poema.
XXXI

Se às vezes digo que as flores sorriem


E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...

5 É porque assim faço mais sentir aos homens falsos


A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes


À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
10 Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.

“O Guardador de Rebanhos”, in Poemas de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa


(nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor),
Lisboa, Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

1. Identifica a relação que se estabelece entre as duas primeiras estrofes.

2. Explicita o conceito de “homens falsos” (v. 5) e justifica a sua utilização.

3. Seleciona as opções que completam corretamente as afirmações.


Neste poema, como em muitos outros, Caeiro expõe a sua a. ________, assumindo-se como um
verdadeiro b. ________ da Natureza, que capta pelos c. ________, não precisando de ser interpretada
de forma metafórica nem questionada, porque, no Universo, nada há para questionar nem pensar. As
coisas não necessitam de qualquer d. ________.

a. b. c. d.
1. recusa das sensações 1. intérprete 1. ouvidos 1. explicação
2. visão do universo 2. observador 2. sentidos 2.exemplificação
3. filosofia de vida 3. crítico 3. olhos 3. metafísica
Parte B
Lê o texto.

MADALENA - Mas para onde iremos nós, de repente, a estas horas?


MANUEL - Para a única parte para onde podemos ir: a casa não é minha... mas é tua, Madalena.
MADALENA - Qual?... a que foi?... a que pega com S. Paulo?... Jesus me valha!
JORGE - E fazem muito bem: a casa é larga e está em bom reparo, tem ainda quase tudo de trastes e
5 paramentos1 necessários: pouco tereis que levar convosco. — E então para mim, para os nossos padres
todos, que alegria! Ficamos quase debaixo dos mesmos telhados. — Sabeis que tendes ali tribuna para a
capela da Senhora da Piedade, que é a mais devota e mais bela de toda a igreja.... Ficamos como vivendo
juntos.
MARIA - Tomara-me eu já lá! (Levanta-se pulando.)
10 MANUEL - E são horas, vamos a isto (levantando-se).
MADALENA - (vindo para ele) Ouve, escuta, que tenho que te dizer; por quem és, ouve: não haverá algum
outro modo?
MANUEL - Qual, senhora, e que lhe hei de eu fazer? Lembrai vós, vede se achais.
MADALENA - Aquela casa... eu não tenho ânimo.... Olhai: eu preciso falar a sós convosco. — Frei Jorge,
15 ide com Maria aí para dentro; tenho que dizer a vosso irmão.
MARIA - Tio, venha, quero ver se me acomodam os meus livrinhos; (confidencialmente) e os meus papéis,
que eu também tenho papéis: deixai que lá na outra casa vos hei de mostrar... Mas segredo!
JORGE - Tontinha!

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, edição de Maria João Brilhante, Lisboa, Comunicação, 1982, pp. 121-123

NOTA
1
trastes e paramentos (linhas 4 e 5) – mobílias e objetos decorativos.

4. Madalena e Maria reagem de maneira diferente à decisão anunciada por Manuel.


Compara as reações das duas personagens femininas e explicita o modo como essas reações se
manifestam, tanto nas suas falas como no seu comportamento.

5. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada


espaço.
Neste excerto, perante o clima de tensão provocado pela decisão de Manuel, Jorge tenta ___a)___,
mostrando-se feliz com a hipótese de a família se mudar para uma casa que fica paredes meias com
o convento e destacando as vantagens dessa opção. Jorge revela também ser confidente da
sobrinha, quando esta, pedindo-lhe segredo, lhe conta que tem escritos pessoais que lhe há de
mostrar. Ao usar a expressão ___b)___, Jorge exprime a relação de afeto e de cumplicidade que os
une.

a. b.
1. ignorar os medos de Madalena 1. “que alegria!”
2. fomentar os receios de Madalena 2. “E fazem muito bem:”
3. apaziguar os terrores de Madalena 3. “Ficamos como vivendo juntos”
4. depreciar os medos de Madalena 4. “Tontinha!”
PARTE C

6. No universo pessoano, Ricardo Reis é considerado o poeta «clássico». Escreve uma breve exposição
sobre o classicismo na poesia deste heterónimo.
A tua exposição deve respeitar as orientações seguintes:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual refira duas características temáticas que permitam considerar este
heterónimo como um poeta «clássico», fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos,
um exemplo significativo de cada uma dessas características;
 uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Questão A.1. 2. 3. B.4. 5. C.6. Total


Cotação 20 20 10 20 10 20 100
GRUPO II

PARTE A – LEITURA

Lê o texto.

Uma ferida aberta


no sentimento europeu
Sérgio Tréfaut faz o retrato de uma luso-
descendente que aderiu ao Estado
Islâmico, sem tentar encontrar
explicações fáceis para o inexplicável.
5 A Noiva está nas salas de cinema.

É
uma ferida aberta no sentimento Em A Noiva, não há uma cena de guerra ou
europeu. Durante a expansão do sequer de aventura de percurso. Quando
Daesh, na Síria e no Iraque, jovens chegamos lá, já tudo aconteceu. O olhar é-nos
europeus abandonaram as suas emprestado por uma mãe, cujo filho, um jiha-
10 famílias e o seu conforto ocidental para 35 dista europeu, morreu na guerra. Ela tenta
combaterem ao lado dos jihadistas. Ao mesmo agora resgatar o seu corpo e confronta-se com
tempo, partiram também jovens mulheres, as a viúva, também ela europeia, luso-francesa,
chamadas noivas da jihad, prontas a abraçar de jovem mãe de dois filhos e grávida do terceiro.
uma outra forma esta causa horrenda e Filmando no Curdistão iraquiano, com no-
15 criminosa. Tudo isto fazia as manchetes dos 40 tável qualidade fotográfica e enquadramentos
jornais há meia dúzia de anos, mas como, sóbrios, Tréfaut parece ter sempre como
entretanto, aconteceu a pandemia e se prioridade dar-nos um pedaço de realidade,
reinventou a guerra na Ucrânia, parece estar levar-nos ao espaço, num registo quase docu-
muito, muito, lá atrás. Não está. mental (que é nitidamente onde se sente mais
20 Sérgio Tréfaut debruçou-se a fundo so- 45 à vontade), feito de verdade e verosimilhança.
bre este abismo, na tentativa de compreen- Sentimo-nos como se estivéssemos lá. Prontos
der o inexplicável, ir além do choque e tentar a tirar as nossas conclusões ou impressões
mostrar as profundezas insondáveis da alma sobre a indecifrável personagem.
humana. De início, o realizador desenhou Tréfaut recusa explicações simplistas. E não
25 um projeto mais convencional, que quase 50 nos dá nenhuma. Não desenha um monstro
poderia ser confundido com um filme de nem uma vítima. Deparamo-nos apenas com
aventuras. Abandonou a ideia e acabou por uma mulher, angustiada e angustiante, presa
construir um objeto mais inquietante, que entre dois mundos, para a qual não encontra-
reforça e levanta novas perguntas, em vez de mos saída.
30 dar propriamente respostas.
https://visao.sapo.pt

1. Para completares cada um dos itens 1.1 a 1.5, seleciona a opção correta.
1.1 O filme lançado e realizado por Sérgio Tréfaut retrata uma situação que
A. continua a ferir o sentimento europeu.
B. está bem presente na mente dos franceses.
C. ocorreu com vários jovens portugueses.
D. levou inúmeros jovens europeus à morte.
1.2. Com este filme, o realizador pretendeu
A. compreender o comportamento humano.
B. incomodar e questionar os espectadores.
C. seguir o projeto de um filme de aventuras.
D. desmontar um abismo iniciado há seis anos.
1.3 O argumento do filme baseia-se
A. num conflito bélico ocorrido na Síria.
B. no sofrimento de uma mulher grávida.
C. no desaparecimento de um jovem jihadista.
D. no drama de uma mãe para resgatar o filho.
1.4 A jovem viúva do jihadista morto é
A. curda. C. luso-francesa.
B. sírio-iraquiana. D. paquistanesa.
1.5 O autor do artigo considera que o filme
A. tem um registo dramático.
B. é quase um documentário.
C. não tem qualidade fotográfica.
D. apresenta demasiada ficção.

2. Associa cada um dos segmentos da coluna A ao elemento que na coluna B completa o seu sentido.

Coluna A Coluna B
a. Entre os vocábulos “explicações” e “inexplicável” (l. 4) 1. metafórico.
estabelece-se uma relação de 2. denotativo.
b. As vírgulas usadas na linha 8 justificam-se pois 3. misteriosas.
demarcam uma 4. reaver.
c. A expressão “prontas a abraçar (…) esta causa horrenda 5. oposição.
e criminosa” (ll. 13-15), no contexto, assume um sentido
6. profundas.
d. O adjetivo “insondáveis” (l. 23), nesta situação, significa
7. explicitação.
e. O verbo “resgatar” (l. 36) tem como sinónimo

3. Seleciona as opções que completam corretamente a afirmação.


O articulista é de opinião que o a. _______ teve como prioridade retratar a b. _______, construindo
uma espécie de c. _______, repleto de d. _______, que transporta o e. _______ para o local da ação
e o impele a tirar as suas conclusões.

a. b. c. d. e.
1. ator 1. guerra 1. documentário 1. efeitos 1. leitor
2. colaborador 2. realidade 2. romance 2. fantasia 2. narrador
3. realizador 3. paisagem 3. reportagem 3. veracidade 3. espectador

4. Organiza os seguintes tópicos pela ordem com que surgem no texto.


A. Ação que rompe com o que há de mais convencional.
B. Destaque dado a uma mulher que quer resgatar o filho.
C. Síntese do argumento do filme de Sérgio Tréfaut.
D. Verdade e verosimilhança impõem-se para que se tirem conclusões.
E. Jovens europeus de ambos os sexos juntaram-se na defesa de uma causa.

Questão 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 2. 3. 4. Total


5x10 5x10 5x10
Cotação 10 10 10 10 10 50 50 50 200
PARTE B – GRAMÁTICA

1. Para completares cada um dos itens 1.1 a 1.5, selecione a opção correta.
1.1 Os “que” utilizados nas linhas 2 e 25
A. são conjunções subordinativas nas duas situações.
B. são pronomes relativos nas duas ocorrências.
C. são, respetivamente, um pronome relativo e uma conjunção subordinativa.
D. são, respetivamente, uma conjunção subordinativa e um pronome relativo.

1.2 O segmento sublinhado na frase “Ao mesmo tempo, partiram também jovens mulheres (…)
prontas a abraçar de uma outra forma esta causa horrenda e criminosa” (ll. 11-14) exemplifica a
modalidade
A. apreciativa.
B. epistémica com valor de probabilidade.
C. deôntica com valor de obrigação.
D. epistémica com valor de certeza.
1.3 O constituinte sublinhado em “Ela tenta agora resgatar o seu corpo” (ll. 35-36) contribui para
assegurar a coesão textual gramatical
A. referencial. C. interfrásica.
B. frásica. D. temporal.
1.4 O pronome pessoal presente em “levar-nos” (l. 43) desempenha a função sintática de
A. predicativo do sujeito. C. complemento indireto.
B. complemento direto. D. complemento oblíquo.
1.5 A frase “Tréfaut recusa explicações simplistas” (l. 49) configura um ato ilocutório
A. expressivo. C. assertivo.
B. diretivo. D. declarativo.

2. Classifica as orações.
a. "que aderiu ao Estado Islâmico” (ll. 2-3)
b. “para combaterem ao lado dos jihadistas” (ll. 10-11)
c. “cujo filho, um jihadista europeu, morreu na guerra” (ll. 34 -35)

3. Identifica a função sintática desempenhada pelos constituintes sublinhados em cada segmento.


a. “A Noiva está nas salas de cinema” (l. 5)
b. “O olhar é-nos emprestado por uma mãe” (ll. 33-34)

FIM
Questão 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 2.a 2.b 2.c 3.a 3.b Total
Cotação 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 200
Correção
GRUPO I – PARTE A

1. Na 1.a estrofe o sujeito poético apresenta a atitude que, por vezes, assume, perante os elementos naturais,
e que contradizem a sua conceção do mundo e da natureza, dado que atribui sentidos metafóricos às flores
e aos rios. Por isso, na segunda estrofe, demonstra a necessidade de justificar esse tipo de comportamento,
contrário à sua filosofia de vida, revelando que, se o faz, é para que os “homens falsos” percebam que
esses elementos naturais existem apenas. Por isso,a segunda estrofe funciona como uma justificação para
as afirmações apresentadas na primeira.
2. Para o sujeito poético, os “homens falsos” são aqueles que não captam a realidade apenas com os sentidos
e tentam atribuir ao que visionam sentidos ocultos, sentidos que as coisas não têm, porque não se limitam
exclusivamente a ver. E se, algumas vezes, o “eu” lírico vê para além do visível é só porque escreve para
aqueles que, habitualmente, atribuem outros sentidos àquilo que apenas existe, e ele quer que o
compreendam.
3. a. 3; b. 1; c. 2; d. 1
PARTE B
4.Madalena e Maria reagem de modo diferente à decisão de se instalarem na casa “que pega com S. Paulo”.
Efetivamente, Madalena, em quem é visível o terror e a ansiedade, manifesta a sua relutância em relação
à decisão anunciada por Manuel, quando percebe que se trata da casa onde, no passado, habitara com
o primeiro marido, D. João de Portugal, terror esse que é visível no recurso a frases interrogativas –
“Qual?... a que foi?… a que pega com S. Paulo?...” – e no uso de uma frase exclamativa – “Jesus me
valha!”. Pelo contrário, Maria, ao levantar-se pulando e ao desejar que tal mudança aconteça (“Tomara-
me eu já lá!”), mostra o seu entusiasmo pueril e o seu espírito de aventura.
Concluindo, mãe e filha têm reações antagónicas, pois a mudança de casa tem significados diferentes
para cada uma.

5. a) 3.; b) 4.
PARTE C

6. Devem ser abordados dois dos tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
‒ a presença do (neo)paganismo, patente, por exemplo, na referência aos deuses mitológicos/ao barqueiro
da morte (Caronte)/ao Fado/às Moiras;
‒ o recurso a símbolos clássicos como o rio (representando o fluir da vida e a passagem do tempo) e as flores
(símbolo da efemeridade da vida/da beleza perecível/dos prazeres simples);
‒ a influência da filosofia estoico-epicurista, evidente, por exemplo, na aceitação do Destino/na recusa de
emoções fortes/na vivência de prazeres simples e moderados/na busca da tranquilidade

GRUPO II – PARTE A

Versão 1 Versão 2
1. 1.1 A 1.2 B 1.3 D 1.4 C 1.5 B 1. 1.1 C 1.2 A 1.3 B 1.4 A 1.5 D
2. a. 5; b. 7; c. 1; d. 3; e. 4 2. a. 5; b. 7; c. 1; d. 3; e. 4
3. a. 3; b. 2; c. 1; d. 3; e. 3 3. a. 3; b. 2; c. 1; d. 3; e. 3
4. C–E–A–B–D 4. C–E–A–B–D
PARTE B

Versão 1 Versão 2
1. 1.1 B 1.2 A 1.3 A 1.4 B 1.5 C 1. 1.1 D 1.2 C 1.3 B 1.4 D 1.5 A
2. a. oração subordinada adjetiva relativa 2. a. oração subordinada adjetiva relativa
restritiva; restritiva;
b. oração subordinada adverbial final; b. oração subordinada adverbial final;
c. oração subordinada adjetiva relativa c. oração subordinada adjetiva relativa
explicativa explicativa
3. a. predicativo do sujeito; 3. a. predicativo do sujeito;
b. complemento agente da passiva b. complemento agente da passiva

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