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171311
Sede – Escola Secundária da Moita
E S C O L A S E C U N D Á R I A D A M O I TA
Classificação:
Ano letivo 2020/2021
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Teste de Avaliação de Português O Docente:
Duração:100 min. Data: __/__/______ _____________________________
(Cid Geraldo)
Competências: Educação Literária, Leitura, Gramática e Escrita
Nunca Maria fora tã o formosa. A maternidade dera-lhe um esplendor mais copioso; e enchia
verdadeiramente, dava luz à quelas altas salas de Arroios, com a sua radiante figura de Juno loira, os
diamantes nas tranças, o ebú rneo e o lá cteo do colo nu, e o rumor das grandes sedas. Com razã o,
querendo ter, à maneira das damas da Renascença, uma flor que a simbolizasse, escolhera a tú lipa
real, opulenta e ardente.
Citavam-se os requintes do seu luxo, roupas brancas, rendas do valor de propriedades!...
Podia fazê-lo! O marido era rico, e ela sem escrú pulo arruiná -lo-ia, a ele e ao papá Monforte...
Todos os amigos de Pedro, naturalmente, a amavam. O Alencar, esse proclamava-se com
alarido seu «cavaleiro e seu poeta». Estava sempre em Arroios, tinha lá o seu talher: por aquelas
salas onde soltava as suas frases ressoantes, por esses sofá s onde arrastava a suas poses de
melancolia. Ia dedicar a Maria (e nada havida de mais extraordiná rio que o tom langoroso e
plangente, o olho turvo, fatal, com que ele pronunciava esse nome – MARIA!), ia dedicar-lhe o seu
poema, tã o anunciado, tã o esperado - «Flor do Martírio»! [...]
A paixã o do Alencar era inocente: mas, dos outros íntimos da casa, mais de um, decerto,
balbuciara já a sua declaraçao no boudoir azul em que ela recebia à s três horas, entre os seus vasos
de tú lipas; as suas amigas, porém, mesmo as piores, afirmavam que os seus favores nunca teriam
passado de alguma rosa dada num vã o de janela, ou de algum longo e suave olhar por trá s do leque.
Pedro todavia começava a ter horas sombrias. Sem sentir ciú mes, vinha-lhe à s vezes, de repente,
um tédio daquela existência de luxo e de festa, um desejo violento de sacudir da sala esses homens,
os seus íntimos, que se atropelavam assim tã o ardentemente em volta dos ombros decotados de
Maria.
Refugiava-se entã o nalgum canto, trincando com furor o charuto: e aí, era em toda a sua alma
um tropel de coisas dolorosas e sem nome...
Maria sabia perceber bem na face do marido «estas nuvens», como ela dizia. Corria para ele,
tomava-lhe ambas as mã os, com força, com domínio:
- Que tens tu, amor? Está s amuado!
- Nã o, nã o estou amuado...
- Olha entã o para mim!...
Colava o seu belo seio contra o peito dele; as suas mã os corriam-lhe os braços numa carícia
lenta e quente, dos pulsos aos ombros; depois, com um lindo olhar, estendia-lhe os lá bios. Pedro
colhia neles um longo beijo, e ficava consolado de tudo.
Eça de Queiró s, Os Maias, Lisboa, Ediçã o «Livros do Brasil» Lisboa, 2000
II. Responda de forma clara, concisa e estruturada.
GRUPO II (5 valores)
- Eça de Queiró s, «A proposito d’ O Mandarim – carta que deveria ter sido um prefá cio»,
in Obras, Porto, Lello & Irmã os, vol. I. Pp 1433 - 1435
II. Escolha múltipla. Selecione a resposta correta de acordo com o texto. (0,5 valores por resposta)
1. Por que motivo escreve Eça de Queirós, na penúltima linha do 2º parágrafo, que a obra O Mandarim
“caracteriza fielmente (…) a tendência mais natural e espontânea do espírito português”?
a) Por adotar um método analista e experimental.
b) Porque apresenta boas intenções psicológicas.
c) Pelo seu carácter fantasista.
d) Por corresponder ao movimento literário contemporâneo.
3. “(…) em arte, produzimos sobretudo líricos e satíricos.” (3ª linha do 4ª parágrafo). O que pretende Eça
afirmar com estas palavras?
a) Que a tradição literária portuguesa é multifacetada.
b) Que o excessivo de romantismo é compensado por um sentido crítico também excessivo.
c) Que a análise realista do meio envolvente é uma propensão natural do povo de português.
d) Que a predisposição para a fantasia impede a literatura portuguesa de analisar a realidade.
4. “ (…) a nossa civilização, sobretudo em Lisboa, tem ar de ter chegado na véspera de Bordéus.” (5ª
linha do 5º parágrafo). Identifique o recurso de estilo presente nesta passagem:
a) Ironia.
b) Hipérbole.
c) Metonímia.
d) Paradoxo.
5. Por que motivo afirma o autor estar “resignado”, no último parágrafo do texto?
a) Porque a língua portuguesa não é adequada ao movimento realista/naturalista.
b) Porque a natural propensão fantasista do povo português impele os escritores nacionais a fugir aos
princípios realistas/naturalistas.
b) Porque o catolicismo permanece uma marca cultural vincada no imaginário nacional.
d) Porque a descrição da realidade e a busca da verdade torturam o artista.
III. Gramática. Responda directamente às seguintes questões (0,5 valores por resposta)