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THAYSA CAVALCANTE

LÍNGUA PORTUGUESA

Aluno (a): ______________________________________________________ Turma: ______ Data: ____/____/____

PRÉ-MODERNISMO
Texto para as questões 1 e 2.
Versos íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
Somente a Ingratidão - esta pantera – O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
Foi tua companheira inseparável! A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Acostuma-te à lama que te espera! Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
O Homem, que, nesta terra miserável, Apedreja essa mão vil que te afaga,
Mora, entre feras, sente inevitável Escarra nessa boca que te beija!
Necessidade de também ser fera.
Augusto dos Anjos

1. O soneto foi construído como se o eu poético fosse um falante se dirigindo a um interlocutor.


a) Há uma única palavra que nos passa mínima informação sobre a identidade do interlocutor. Qual é essa palavra? Que
função sintática desempenha no texto?
b) Como você caracteriza o falante em relação ao interlocutor? Justifique sua resposta apontando os elementos
gramaticais de que se vale o falante nos enunciados.

2. Qual a postura do eu poético em relação à vida/ Explique.

Texto para as questões 3 a 6.


O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Pego de um pau. Esforços faço. Chego
Na bruta ardência orgânica da sede, A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. Que ventre produziu tão feio parto?!

"Vou mandar levantar outra parede ..." A Consciência Humana é este morcego!
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Imperceptivelmente em nosso quarto!
Circularmente sobre a minha rede!
Augusto dos Anjos

3. A que o morcego é comparado neste poema? Explique.

4. Como no poema anterior, é possível afirmar que esse texto é dirigido a uma 2ª pessoa? Transcreva um verso que
comprove sua resposta.

5. O texto está todo centrado na utilização de uma figura de linguagem. Que figura é essa?

6. Para o poeta há alguma possibilidade de o homem fugir de sua própria consciência? Justifique com um trecho do
poema.

7. Fragmento de Triste fim de Policarpo Quaresma


"Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. Não fora o amor comum,
palrador e vazio; fora um sentimento sério, grave e absorvente. (...) o que o patriotismo o fez pensar, foi num
conhecimento inteiro de Brasil. (...) Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio
Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo: Quaresma era antes de tudo
brasileiro."
BARRETO, Lima. "Triste fim de Policarpo Quaresma". São Paulo: Scipione, 1997.

Este fragmento de "Triste Fim de Policarpo Quaresma" ilustra uma das características mais marcantes do Pré-
Modernismo que é o:
a) desejo de compreender a complexa realidade nacional.
b) nacionalismo ufanista e exagerado, herdado do Romantismo.
c) resgate de padrões estéticos e metafísicos do Simbolismo.
THAYSA CAVALCANTE
LÍNGUA PORTUGUESA
d) nacionalismo utópico e exagerado, herdado do Parnasianismo.
e) subjetivismo poético, tão bem representado pelo protagonista.

8. "Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? nada. Levara toda ela atrás da
miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a sua felicidade e
prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o
recompensava, como ela o premiava, como ela o condenava? matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir,
na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à
sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis
do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do
folclore, das suas tentativas agrícolas... Restava disto tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma! Nenhuma!"
Lima Barreto
As obras do autor desse trecho integram o período literário chamado Pré-Modernismo. Tal designação para este período
se justifica, porque ele:
a) desenvolve temas do nacionalismo e se liga às vanguardas europeias.
b) engloba toda a produção literária que se fez antes do Modernismo.
c) antecipa temática e formalmente as manifestações modernistas.
d) se preocupa com o estudo das raças e das culturas formadoras do nordestino brasileiro.
e) prepara pela irreverência de sua linguagem as conquistas estilísticas do Modernismo.

9. Negrinha
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha
esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de
luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as
amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes
apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo.
Ótima, a dona Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.
[...]
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e
daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e zera ao regime novo – essa indecência de negro igual.
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento).

A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela
a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas.
b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas.
c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças.
d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto.
e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos.

10. Uma atitude comum caracteriza a postura literária de autores pré-modernistas, a exemplo de Lima Barreto, Graça
Aranha, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha. Pode ela ser definida como
a) a necessidade de superar, em termos de um programa definido, as estéticas românticas e realistas.
b) pretensão de dar um caráter definitivamente brasileiro à nossa literatura, que julgavam por demais europeizadas.
c) a necessidade de fazer crítica social, já que o realismo havia sido ineficaz nessa matéria.
d) uma preocupação com o estudo e com a observação da realidade brasileira.
e) aproveitamento estético do que havia de melhor na herança literária brasileira, desde suas primeiras manifestações.

11. Nascido em 13 de maio de 1881, o autor era filho de ex-escravos, e vinha de uma família monarquista, protegida
pelo visconde de Ouro Preto. Logo cedo, perdeu a mãe, Amália, para a pneumonia e, mais tarde, o pai, João Henriques,
para a loucura. Antes disso, porém, Henriques se esforçou, com a ajuda do visconde, para dar ao filho uma educação de
qualidade – fato decisivo para o nascimento do Lima Barreto ácido e crítico.
Desde o início de sua vida escolar, no Liceu Popular de Niterói, até sua matrícula na escola Politécnica do Rio, onde era
o único aluno negro. “Pele cor de azeitona escura”, como ele mesmo se definia, Barreto sentiu na pele as consequências
de ousar ser um homem negro ocupando um espaço completamente dominado por brancos – e via com desconfiança a
própria Lei Áurea e a noção de “liberdade” que ela trazia: “Liberdade era uma palavra que eu desconfiava e não
confiava”, ele registrou em um diário da época.
THAYSA CAVALCANTE
LÍNGUA PORTUGUESA
Como uma resposta à discriminação racial e à exclusão social sofrida dia após dia, Barreto
escrevia sobre estes assuntos de forma dura em uma época em que ninguém estava disposto a falar ou ler sobre isso. A
intenção do autor, segundo Schwarcz, era de fato incomodar: “Ele achava que os negros só poderiam ser socialmente
integrados através da luta e do constante incômodo. Por isso, denunciava que a escravidão não acabou com a abolição,
mas ficou enraizada nos menores costumes mais simples”. Para chegar à dose perfeita de incômodo, Barreto fazia uma
literatura do “Rio de Janeiro alargado”: não falava apenas do centro da cidade, mas principalmente dos subúrbios e de
seus habitantes; descrevia detalhadamente as estações de trem e os transeuntes, as ruas e os bares, os costumes e as
tradições populares, as violências e opressões, deixando a burguesia branca de lado. [...]
Em toda a sua literatura, Lima Barreto esteve atento e militante, propondo assuntos de discriminação social e
personagens negros, criticando a República e a hipocrisia brasileira e denunciando, inclusive, a violência contra a
mulher. Exemplos não faltam: além de Recordações do escrivão Isaías Caminha, que ataca a imprensa, a autora
destaca Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), que ela chama de “Uma espécie de Dom Quixote brasileiro, muito
avançado para o seu tempo; uma crítica à mania de querer recriar um passado indígena misturado a um futuro
progressista, o que leva o protagonista, Policarpo, a morrer desiludido, como o Brasi”.
https://revistacult.uol.com.br/home/lima-barreto-e-o-racismo-do-nosso-tempo/

Segundo Schwartz, Lima Barreto “achava que os negros só poderiam ser socialmente integrados através da luta e do
constante incomodo”. O que Lima Barreto fazia para “incomodar” a sociedade?

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