Você está na página 1de 12

GRUPO I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o texto.

Contemplo o lago mudo


Que uma brisa estremece.
Nã o sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

5 O lago nada me diz,


Nã o sinto a brisa mexê-lo.
Nã o sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trémulos vincos risonhos


10 Na á gua adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha ú nica vida?
4-8-1930

Fernando Pessoa, Poesia do Eu (ediçã o de Richard Zenith),


Porto, Assírio & Alvim, 2014, pp. 204-205

1. Comprove que o “lago” é o ponto de partida para uma análise introspetiva, levada a cabo pelo
sujeito poético.

2. Explicite de que modo se podem articular as temáticas “sonho e realidade” e “a dor de pensar”.

3. Evidencie o recurso à personificação e explique a sua expressividade.


B

Leia o excerto.

Carlos pensara em arranjar um vasto laborató rio ali perto no bairro, com fornos para trabalhos
químicos, uma sala disposta para estudos anató micos e fisioló gicos, a sua biblioteca, os seus
aparelhos, uma concentraçã o metó dica de todos os instrumentos de estudo...
Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.
5 – E que nã o te prendam questõ es de dinheiro, Carlos! Nó s fizemos nestes ú ltimos anos de Santa
Olá via algumas economias...
– Boas e grandes palavras, avô ! Repita-as ao Vilaça.
As semanas foram passando nestes planos de instalaçã o. Carlos trazia realmente resoluçõ es
sinceras de trabalho: a ciência como mera ornamentaçã o interior do espírito, mais inú til para os
10 outros que as pró prias tapeçarias do seu quarto, parecia-lhe apenas um luxo de solitá rio: desejava
ser ú til. Mas as suas ambiçõ es flutuavam, intensas e vagas; ora pensava numa larga clínica; ora na
composiçã o maciça de um livro iniciador; algumas vezes em experiências fisioló gicas, pacientes e
reveladoras... Sentia em si, ou supunha sentir, o tumulto de uma força, sem lhe discernir a linha de
aplicaçã o. “Alguma coisa de brilhante”, como ele dizia: e isto para ele, homem de luxo e homem de
15 estudo, significava um conjunto de representaçã o social e de atividade científica; o remexer
profundo de ideias entre as influências delicadas da riqueza; os elevados vagares da filosofia
entremeados com requintes de sport e de gosto; um Claude Bernard que fosse também um Morny...
No fundo era um diletante.

Eça de Queiró s, Os Maias: episódios da vida romântica (fixaçã o de texto Helena Cidade Moura) Lisboa,
Livros do Brasil, 28.a ed., capítulo IV.

4. Mostre que, tal como Fernando Pessoa, Carlos também sonhou e os seus sonhos não se concreti-
zaram.

5. Justifique a afirmação “Os olhos do avô iluminavam-se ouvindo este plano grandioso.” (l. 4).

GRUPO II

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

Leia o texto.

Ainda o apanhamos!

O suplemento Atual do ú ltimo Expresso traz um artigo extremamente interessante de Carlos


Reis, intitulado “Os Maias depois de Eça”. Carlos Reis é, sem dú vida, um dos maiores especialistas
contemporâ neos da obra de Eça de Queiró s e coordena a ediçã o crítica das suas obras, em curso na
Imprensa Nacional – Casa da Moeda, sendo autor de vá rios textos definitivos sobre o romancista.
5 O propó sito evidente do artigo é o de “legitimar” (o que talvez nã o fosse tã o necessá rio quanto
isso...) a iniciativa que o Expresso tomou ao convidar seis notá veis autores a escreverem uma
“continuaçã o” do romance queirosiano até 1973, ano da fundaçã o do semaná rio.
A questã o fulcral parece ser a de saber se Os Maias sã o um romance “definitivamente ‘fechado’” e
o que é que explica a sua fulgurante permanência no câ none, para além de leituras mais ou menos
10 superficiais a que a obra foi dando lugar durante mais de cem anos. E Carlos Reis afirma que “Os
Maias parecem ter sido escritos para serem continuados”, apontando passagens que poderiam
indiciá -lo e vendo em Carlos Fradique Mendes, na esteira de Antó nio José Saraiva, a
consubstanciaçã o de um prolongamento de Carlos da Maia.
Sem estar inteiramente de acordo com Carlos Reis, acho que a ideia de propor a continuaçã o da
15 obra de Eça constitui um desafio interessantíssimo quer para os autores quer para os leitores. Nã o
estou inteiramente de acordo com o professor de Coimbra porque, na ú ltima pá gina do romance, a
célebre exclamaçã o de Carlos da Maia e de Joã o da Ega, “– Ainda o apanhamos!”, enquanto se
esfalfam a correr para o americano, de modo a nã o faltarem ao jantar combinado no Bragança, nã o
envolve apenas o desmentido da conversa que eles acabam de ter sobre a falta de sentido de
20 qualquer esforço: reduz também a tragédia amorosa e familiar por que Carlos passou a uma mera
trivialidade e está nisso uma poderosa manifestaçã o, tanto da ironia de Eça, como do cinismo
comportamental que ele confere a essas duas personagens.
Ora, partindo desta leitura, parece-me que seria difícil conceber uma continuaçã o, nã o obstante
a obra parecer suficientemente “aberta”... Todavia, nada há que a impeça: a ideia em si é aliciante e
25 há precedentes ficcionais com Os Maias e outras obras de Eça, sem falar em adaptaçõ es ao teatro e
ao cinema: por exemplo, em Madame, Maria Velho da Costa põ e em cena Maria Eduarda,
personagem de Eça, e Capitu, personagem de Machado de Assis, ocorrendo-me também, embora
neste caso sem relaçã o direta com Os Maias, o romance Nação Crioula, de José Eduardo Agualusa,
que em 1997 “prolonga” a correspondência de Fradique Mendes, fazendo-o reviver e escrever em
30 exó ticas paragens.
Vasco Graça Moura, in DN, ediçã o online de 31 de julho de 2013
(consultado em janeiro de 2017, com supressõ es).

1. O texto tem marcas de


(A) exposição sobre um tema.
(B) discurso político.
(C) memórias.
(D) artigo de opinião.

2. A ideia de dar continuação a Os Maias


(A) merece algumas reservas a Vasco Graça Moura.
(B) foi do professor Carlos Reis e de mais seis autores.
(C) entusiasmou o autor do texto e os envolvidos na iniciativa.
(D) nasceu da natureza do romance, já que a obra é aberta.

3. Para o autor do texto parece difícil dar continuidade a Os Maias


(A) recordando adaptações falhadas do romance.
(B) embora acabe por aceitar essa possibilidade.
(C) porque a forma como termina é conclusiva.
(D) dada a inexistência de outros finais ficcionais.

4. Os processos fonológicos que se verificam na evolução de opera para “obra” (l. 3) são
(A) prótese e epêntese.
(B) síncope e sonorização.
(C) crase e apócope.
(D) dissimilação e sinérese.

5. O termo sublinhado em “saber se os Maias” classifica-se como


(A) conjunção subordinativa condicional.
(B) conjunção subordinativa completiva.
(C) pronome possessivo.
(D) pronome pessoal.
2. TESTES DE AVALIAÇÃO

6. Ao utilizar o nome “Carlos Reis” (l. 14) e “o professor de Coimbra” (l. 16), o autor assegura a coesão
(A) interfrásica.
(B) temporal.
(C) lexical.
(D) frásica.

7. A utilização das aspas em “Ainda o apanhamos” (l. 17), justifica-se por se tratar de uma
(A) citação.
(B) opinião de uma autor do texto.
(C) frase em discurso indireto livre.
(D) frase em discurso direto.

8. Classifique, delimitando, as orações presentes em “que a ideia de propor a continuação da obra de


Eça constitui um desafio interessantíssimo” (ll. 14-15).

9. Indique o referente do pronome pessoal presente em “Todavia, nada há que a impeça” (l. 24).

10. Identifique a função sintática do constituinte sublinhado em “põe em cena Maria Eduarda” (l. 26).

GRUPO III

Tal como Vasco Graça Moura reconhece, são muitas as adaptações cinematográficas ou teatrais de
obras literárias.
Num texto de opinião, de 170 a 250 palavras, refira-se à importância ou à transgressão decorrentes
dessas adaptações, utilizando, no mínimo, dois argumentos e, pelo menos, um exemplo significativo,
para cada um deles, de modo a defender convenientemente o seu ponto de vista.
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

CENÁRIOS DE RESPOSTA TESTE DE AVALIAÇÃO 2 (p. 16)


GRUPO I
TESTE DE AVALIAÇÃO 1 (p. 12)
1. É ao observar o lago, a realidade concreta, que o
GRUPO I
sujeito se evade através do pensamento e inicia uma
A
reflexão de índole existencial. Questiona o modo de ser
1. O sujeito poético, em jeito de evocação, convoca um
feliz e a irrealização dos sonhos nos quais fundou a sua
domingo solarengo e a sua rua, aquela onde morou e
vida e, portanto, não viveu porque a construiu com base
onde as crianças brincavam alegremente, tal como se
nos sonhos. Esta ideia depreende-se dos dois últimos
pode ver ao longo da primeira estrofe.
versos (“Por que fiz eu dos sonhos / A minha única
2. No presente, o “eu” sente-se magoado, triste, inse-
vida?”) que constituem uma espécie de lamento e de
guro, mas certo de que a vida pouco lhe deu e nem esse
autorreprovação. Por isso, mesmo inserido numa
pouco soube aproveitar. Por isso, as transformações por
realidade física concreta, o “eu” não encontra aquilo
que passou fazem-no valorizar o tempo da infância que,
que o motive e o faça sair da angústia existencial em
por corresponder à inconsciência, se pode associar à
que vive. Por isso lamenta o ter vivido uma vida
alegria de viver à despreocupação, que contrastam com
fundada em sonhos.
a racionalização excessiva no presente.
2. Logo na primeira quadra surgem duas realidades
3. O poema tem como tema “a nostalgia da infância”,
distintas: a do lago (física e concreta) e a do “eu” que
uma vez que todo ele se baseia na reflexão que o “eu”
pensa, sendo esta a sobrepor-se à primeira, uma vez
adulto, no presente, faz sobre o passado, o tempo que
que afirma “Não sei se penso em tudo / Ou se tudo me
viveu, mas de que não disfrutou e que teria sido
esquece”, onde claramente se percebe que o
marcado pela alegria só alcançada por quem vive sem
pensamento perturba a razão e os sentimentos, facto
consciência ou sem noção da realidade.
que remete para a dor de pensar. Já na última estrofe, o
B
relevo é dado ao sonho, expressando-se aí a ideia de
4. O soneto pode dividir-se em duas partes, sendo que a
que a vida do sujeito poético foi feita de sonhos que o
primeira corresponde às três primeiras estrofes e a
impediram de viver: a realidade acabou por conflituar
segunda à última. Ao longo das duas quadras e do
com o sonho, fazendo com que os sentimentos
primeiro terceto, o sujeito poético chama “ditoso”, ou
disfóricos se apossassem deste “eu” que revela
seja, feliz, àquele que sofre por amor, saudade, engano
desconforto, tristeza e angústia por não saber viver.
ou indiferença, dado que para estes males poderá ainda
3. A personificação é visível em vários versos já que são
haver remédio. Porém, na segunda parte, o “eu” afirma
atribuídas características humanas ao lago, à brisa e à
que isso não acontecerá com ele, sendo a sua dor
água. Assim, expressões como “o lago mudo” (v. 1),
maior, por resultar de erros seus e para os quais não
“uma brisa que estremece” (v. 2) ou “água adormecida”
haverá solução.
(v. 10) são ilustrativos deste recurso expressivo,
5. A anáfora está ao serviço da enumeração das
sugerindo o modo como o sujeito poético perceciona a
situações avaliadas como mais positivas pelo sujeito
realidade física que o rodeia. Ao mesmo tempo, permite
poético. Assim, reforça a ideia de que todos os outros
perceber o alheamento dos elementos naturais
sofredores sentirão uma dor bem mais leve do que a
face ao estado de espírito do “eu”, parecendo até
sua, porque, ao contrário do “eu”, todos podem ter a
contribuir para acentuar ainda mais o negativismo que
esperança de alterar a dor.
o domina.
GRUPO II
B
1. (A); 2. (B); 3. (C); 4. (C); 5. (B); 6. (A); 7. (C)
4. Carlos da Maia, depois da formatura em medicina,
8. Oração subordinada substantiva completiva.
tem, efetivamente, vários sonhos, como se percebe no
9. “as ações”.
primeiro parágrafo do excerto. Porém, também se
10. Conversão.
infere que “As semanas foram passando” e as
GRUPO III
“resoluções sinceras de trabalho” que trazia foram-se
Introdução – Definição do ponto de vista a defender: o
dissipando e sendo substituídas pelas preocupações de
ser humano usa a tecnologia para o bem
decoração luxuosa porque, no fundo, Carlos era um
comum.
diletante, ou seja, alguém que se dispersa por várias
1º argumento – os avanços científicos ao iniciativas sem concretizar nenhuma.
serviço do bem-estar das populações. Sendo assim, podem estabelecer-se aproximações entre
Ex: novas técnicas e aparelhos usados no Carlos e Pessoa, porque também este sonhou em
diagnóstico ou tratamento de doenças demasia e não concretizou os seus sonhos.
até agora incuráveis; 5. A afirmação traduz a adoração de Afonso da Maia
Desenvol- 2º argumento – os avanços científicos ao pelo neto e é reveladora do orgulho e da satisfação que
vimento serviço da comunicação entre as pessoas os projetos de Carlos lhe proporcionavam, vendo nestas
e do desenvolvimento económico e social. iniciativas uma força e uma vontade de agir, de triunfar
Ex: desenvolvimento de tecnologias que que não vira no seu filho Pedro. É como se o velho
permitem um contacto mais fácil entre as realizasse os seus sonhos através do neto que criara e
pessoas a nível social (redes sociais) ou a educara segundo os seus princípios.
nível laboral (plataformas que permitem o II
trabalho ou a aprendizagem à distância). 1. (D); 2. (A); 3. (B); 4. (B); 5. (B); 6. (C); 7. (A)
8. “que a ideia / de propor a continuação da obra de Eça
Conclusão – Necessidade de usar as tecnologias para o / constitui um desafio interessantíssimo” e são ambas
bem comum. subordinadas substantivas completivas.
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

9. O pronome pessoal “a” refere-se a “uma continua- 8. Valor disjuntivo ou alternativo.


ção”. 9. Subordinada adjetiva relativa explicativa.
10. Complemento oblíquo. 10. Composição morfossintática.
III GRUPO III
Introdução – Tendência para adaptações de obras Introdução – obrigação de cada um aproveitar a sua
literárias e razões subjacentes. passagem pelo planeta, respeitando as opções dos
outros.
1º argumento: vantagens das adapta-
Desenvolvimento – as sociedades capitalistas e o incen-
ções – contacto mais aliciante e motiva-
tivo ao consumo; as dificuldades económicas de muitos
dor
cidadãos e o aumento da pobreza em países desen-
Exemplo: versão cinematográfica e tea-
volvidos,…
tral de Os Maias para o público escolar
Conclusão – a opção por determinado estilo de vida é
Desenvol- 2º argumento: desvantagens decorren-
uma decisão pessoal ainda que esta seja condicionada
vimento tes das adaptações – alteração do com-
pela sociedade em que nos inserimos.
teúdo e consequente interpretação erra-
da
Exemplo: a novela brasileira baseada no TESTE DE AVALIAÇÃO 4 (p. 24)
romance queirosiano ou a versão cine- GRUPO I
matográfica de A tempestade A
1. Configura-se um registo descritivo nos momentos em
Conclusão – Os aspetos ficcionais ou a fidelidade à obra que se referem os elementos da Natureza (montes, sol,
não reduzem o valor à obra, mesmo que adaptada. rochedos), como acontece no 1º parágrafo, ou mesmo
no final, com o recurso à múltipla adjetivação na
TESTE DE AVALIAÇÃO 3 (p. 20) caracterização do lago); daí decorre um registo reflexivo
GRUPO I de caráter existencial, marcado pelo recurso ao verbo
A ser, de que é exemplo o segmento “Um dos malefícios
1. O sujeito poético sente-se bem, feliz, por não estar a de pensar é ver quando se está pensando.” e todo o 2º
pensar em nada, afirmando que isso é “ter a alma parágrafo. No entanto, é através do presente do
própria e inteira” e “viver intimamente”. Refere ainda indicativo, inicialmente, e depois, do pretérito perfeito,
que tem uma dor nas costas e “um amargo de boca” na que o leitor tem acesso à evolução do estado de espírito
alma, o que não o impede de se sentir liberto, apenas do enunciador, pois estes tempos verbais permitem a
porque, naquele momento, não está a pensar em nada. apresentação de pequenos eventos alinhados
2. Os versos referidos são reveladores da satisfação do temporalmente (Paira-me – parei – refleti – cerro –
“eu” por não pensar, o que lhe permite sentir a alma escrevi – cessei).
liberta, ou seja, sentir-se despreocupado. Estes versos 2. O lago representa a componente emocional do
deixam antever que o pensamento atormenta a alma e sujeito − inicialmente recebe os raios de sol, mas, de
esta só é em sentida como inteira, liberta, se o seguida, passa a ser um “lago morto”; a evolução desta
pensamento não atormentar o sujeito poético, tal como reflexão representa a passagem para um estado de
acontece no momento da enunciação. alma de inquietação e angústia, ilustrado no último
3. Com esta anáfora, consegue acentuar-se o estado de parágrafo.
ataraxia em que o “eu” se encontra e reforçar o prazer 3. Para além da repetição paralelística da construção
que advém de não usar o pensamento, sugerindo que o “os que…”, está presente uma gradação (“… estão
pensar atormenta o sujeito poético e, por isso, o não distraídos… estão dormindo… estão mortos”), que põe
estar pensando naquele momento é motivo de grande em destaque a oposição entre o “eu” e os outros.
satisfação e algo incomum, que o levam a reforçar B
positivamente esse atual estado de espírito. 4. No poema defende-se a primazia do olhar, do ver:
B “Creio no mundo como num malmequer, / Porque o
4. Os peixes são alvo da inveja do orador uma vez que vejo.” (vv. 13-14), o que se coaduna com a valorização
se revelam superiores a ele em quase tudo, destacando- da Natureza por parte deste heterónimo. Por isso, o
se o facto de não ofenderem a Deus, nomeadamente poema apresenta um caráter deambulatório: “Tenho o
porque não têm razão, não têm memória e não têm costume de andar pelas estradas / Olhando para a
vontade. Por outro lado, cumprem o fim para que foram direita e para a esquerda” (vv. 2-3). É através dos
criados por Deus (servir os homens), enquanto o orador sentidos, sobretudo da visão, que o poeta acede à
não cumpre o fim para que foi criado (moralizar os felicidade que a Natureza lhe proporciona: ”Se falo na
homens, impedindo-os de pecar). Natureza não é porque saiba o que ela é, / Mas porque
5. Em termos de estratégias argumentativas, a amo, e amo-a por isso” (vv. 20-21).
destacam--se as construções frásicas paralelísticas e 5. O poeta defende a preponderância dos sentidos
anafóricas (“eu lembro-me, mas vós não ofendeis a sobre o pensamento: “Eu não tenho filosofia: tenho
Deus com a memória; eu discorro, mas vós não ofendeis sentidos...” (v. 19), o que o leva a concluir: “Amar é a
a Deus com o entendimento”), as interrogações, através eterna inocência, / E toda a inocência é não pensar...”.
das quais se capta a atenção do auditório, a que se Esta atitude é confirmada pelo facto de se referir
associa também o uso do vocativo, que permite sempre ao pensar através de vocabulário de conotação
identificar o interlocutor do orador. negativa: “Porque pensar é não compreender...” (v. 15),
GRUPO II “(Pensar é estar doente dos olhos)” (v. 17), aliando,
1. (B); 2. (A); 3. (C); 4. (D); 5. (B); 6. (A); 7. (B). neste caso, o pensamento à ideia de doença.
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

Grupo II
1. (B); 2. (C); 3. (D); 4. (B); 5. (A); 6. (B); 7. (A) 1º argumento – quem vive pelo
8. Oração subordinada adjetiva relativa restritiva. sentimento ou emoção pode ser mais
9. Sujeito. feliz
10. “(n)o seu conto ‘Os pássaros’”. Desenvol- Ex: Caeiro recusa o pensamento e até
Grupo III vimento Fernando Pessoa procura libertar-se dele
Introdução: o diálogo entre diferentes formas de 2º argumento – quem racionaliza em
expressão artística é potencialmente benéfico e enri- excesso vive em sofrimento
quecedor do ponto de vista cultural. Ex: Pessoa e a temática da dor de pensar
Desenvolvimento: a articulação entre cinema e literatura
pode ou não ser bem conseguida; apresentação de um Conclusão – Aliar a razão e a emoção permitirá alcançar
caso de sucesso ou de um caso de fracasso e as o equilíbrio.
respetivas razões justificativas (argumentos).
Conclusão: necessidade de valorização da arte em geral, TESTE DE AVALIAÇÃO 6 (p. 32)
independentemente de casos em que a articulação GRUPO I
cinema/ literatura possa desvirtuar a obra literária. A
1. O país encontra-se numa crise de identidade e de
TESTE DE AVALIAÇÃO 5 (p. 28) fragmentação (“tudo é disperso, nada é inteiro”), num
GRUPO I estado de desalento e de indefinição, onde a ausência
A de sentido e de força anímica imperam (“ninguém sabe
1. Sem a ação do homem, o Ato, e a intervenção de Deus, que coisa quer”). Destacam-se as ausências de brilho e
o Destino, os Descobrimentos não teriam ocorrido. Tal de alma (“fulgor baço”, “brilho sem luz”) capazes de o
como se evidencia no poema, Deus teve de erguer “o “rejuvenescer”.
facho trémulo e divino” para iluminar o Homem e, deste 2. O título remete para um estado de falta de clareza e
modo, afastar o “véu” que ocultava o desconhecido. indefinição. O conteúdo do poema, além de
Assim, os portugueses foram protagonistas no desven- desenvolver esta ideia, enuncia as razões pelas quais o
dar o desconhecido graças à Ciência e à Coragem (“a estado de Portugal pode ser considerado “nebuloso”:
alma a Ciência e corpo a Ousadia”) de que se muniram. falta de vontade e de ânimo dos seus habitantes.
2. As mãos representam simbolicamente o Ato e o 3. Atendendo ao caráter exortativo, tratar-se-á de um
Destino e é graças a elas que o mistério é desvendado. apelo e de um incentivo à ação. Perante a constatação
Com efeito, se uma das mão, remete para a intervenção do estado de “tristeza” em que Portugal se encontra, o
divina na ação do homem português; a outra relaciona- sujeito poético exorta à ação, pois é chegada a hora de
se com a ação do Homem que age, desbravando o os portugueses despertarem e transformarem o “fulgor
caminho agora iluminado pela força do Destino. baço” em brilho claro.
3. O poema “Ocidente” integra-se na Parte II de Men- B
sagem, intitulada “Mar Português” onde se apresentam 4. A caracterização do estado anímico de Portugal (e
os heróis envolvidos nos Descobrimentos e que dos portugueses) é o tema comum aos dois textos.
adquirem uma dimensão mítica na conquista do mar. Embora separados por quatro séculos, ambos traçam o
Esta segunda parte tem uma epígrafe latina (“Possessio mesmo retrato do país: sem iniciativa, abatido e
Maris” – posse do mar) que justifica plenamente a desgostoso. Interessante caracterização desta “tristeza”
inserção do poema “Ocidente” nesta parte. anímica é apresentada na obra camoniana através da
B tripla adjetivada: “austera, apagada e vil”. Contudo, os
4. Na estância 99 faz-se referência ao amor que as dois textos defendem a tese de que o estado deveria
musas têm à pátria e na 100 também se afirma que as ser outro: enquanto no poema camoniano se reconhece
deusas têm pelos portugueses um amor fraterno, “um ledo orgulho e geral gosto/que os ânimos levanta”,
colocando em paridade os lusitanos, ou seja, na Mensagem invoca-se a chegada da hora da
atribuindo-lhes o mesmo caráter divino. Assim, esta mudança!
aproximação das deusas aos portugueses pode ser lida 5. O eu lírico lamenta o esforço e a persistência para
como sinal de eleição do povo português. elevar o nome de Portugal e dos portugueses, já que
5. Os versos sintetizam toda a reflexão do poeta na qual esses, que são objeto de louvor, são “gente surda e
critica o facto de os portugueses desprezarem as artes. endurecida”. Lamenta que os que deveriam incentivar a
Daí que o poeta sinta necessidade de animar aqueles criação e a arte não o façam, uma vez que estão
que, perante a atitude de indiferença pelas artes, preocupados com a sua própria ambição e ganância.
possam deixar de empreender ações gloriosas. Por isso, GRUPO II
incentiva-os a não esmorecer porque as grandes obras 1. (A); 2. (C); 3. (D); 4. (A); 5. (B); 6. (C), 7. (B)
nunca perderão o seu valor. 8. Introduz uma sequência enumerativa.
GRUPO II 9. Modalidade deôntica com valor de obrigação.
1. (A); 2. (C); 3. (A); 4. (D); 5. (B); 6. (C); 7. (A) 10. Conjunção subordinativa completiva.
8. Valor perfetivo. GRUPO III
9. Epistémica com valor de probabilidade. Resposta de caráter pessoal; no entanto, o aluno pode
10. “poesias”. abordar/desenvolver os seguintes tópicos:
GRUPO III − situação geográfica de Portugal e vantagens daí
Introdução – Diferentes formas de viver: pela emoção decorrentes para o desenvolvimento turístico: o mar,
ou pela razão as praias, o relevo…;
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

– tradições seculares, monumentos grandiosos, um- progressivamente, se vão isolando e perdendo a


seus…; vontade de conviver fisicamente.
– gastronomia; Conclusão – ler o que os outros escrevem e responder-
– recetividade e simpatia das gentes. lhes, a maior parte das vezes com símbolos, não é um
ato de comunicação, pois não permite o conhecimento
TESTE DE AVALIAÇÃO 7 (p. 36) do outro nem o seu abraço, por exemplo, em
GRUPO I momentos de dor.
A
1. A ação desenrola-se num espaço semidesértico, num TESTE DE AVALIAÇÃO 8 (p. 40)
lugarejo muito pobre (“casinhas desgarradas e nuas”); GRUPO I
os campos áridos não trazem mais-valias em termos A
sociais, “plainos sem fim” e “desertos”. Além disso, a 1. A perspetiva de vida ambicionada por George é
vida é um constante marasmo, influenciado também oposta à dos pais. A primeira evidencia uma ânsia de
pela ausência de perspetivas (“Um silêncio que caiu, viajar, correr o mundo; a personagem não vê com bons
estiraçado por vales e cabeços, e que dorme olhos “criar raízes” naquela vila; esta maneira de pensar
profundamente”, l. 9). não é bem vista pelos pais, por essa razão, a mãe está a
2. As “figurinhas” que regressam “dobradas” dos fazer o enxoval de Gi. Além disso, a vocação da jovem
campos trazem ainda, “exaustos da faina”, a postura para a pintura é vista como uma arte para a qual “ela
que durante todo o dia mantiveram para desempenhar tem jeitinho”, mas nada mais do que isso.
as suas funções laborais; além do cansaço, não apresen- 2. O modo como é descrito o “aparecimento” da figura
tam sequer vontade de conviver, já que ninguém “virá remete-nos para a “elaboração” mental de alguém, com
até à venda falar um bocado”; por fim, as “trevas” que recurso à memória: a figura aparece ora nítida ora
envolvem a aldeia remetem para a tristeza e para a dor esfumada. Por outro lado, a referência ao pregador de
da sua vida monótona e sem ambição. oiro usado por Gi, que “ficou por tuta e meia num
3. A personificação do tempo, apresentado como uma penhorista” é uma evocação da vida difícil de George
personagem, ajuda a caracterizar a vida “triste” dos quando abandonou a vila. Finalmente, a ausência de
ceifeiros; a morosidade da passagem do tempo eviden- determinante possessivo para o nome “mãe”, na frase
cia o estado psicológico e a monotonia que envolve o “A mãe está a acabar o meu enxoval”, permite concluir
dia a dia lento, repetitivo e rotineiro destas pessoas. que se trata da progenitora de ambas as figuras.
B 3. A divergência no modo de pensar existente entre Gi e
4. São referenciados dois tipos sociais que se opõem; o namorado, Carlos, leva-a a terminar o namoro. O
por um lado, “o povo”, classe trabalhadora, represen- noivo tinha um sonho que se opunha ao de Gi; queria
tado pelos cavadores, cuja vida se pode considerar “comprar uma terra, construir uma casa a seu modo”, o
difícil e “custosa”, em virtude da posição a que que contrariava a vontade da jovem de partir,
continuamente estão sujeitos para desempenhar a sua determinação que o namorado não compreendia, daí a
atividade; por outro lado, a “atriz”, cuja caracterização sua afirmação “Creio que está na altura de eu…”.
se opõe à dos cavadores, é uma figura “fina”, protegida B
do frio por um casaco “à russa” que a agasalha. 4. Os primeiros versos evidenciam a euforia, o entusias-
5. As frases exclamativas revelam por parte do “eu” mo e exaltação do sujeito poético que acredita poder
lírico, simultaneamente, perturbação, em virtude da encontrar a felicidade desejada, percorrendo o
constatação do sofrimento e da vida difícil da classe “mundo” noite e dia, “por desertos, por sóis, por noite
trabalhadora, que compara com seres irracionais pela escura”. No entanto, “naufraga” durante o percurso,
dureza do trabalho; revelam também simpatia e embora recupere o ânimo quando avista o “palácio
gratidão, porque enaltecem o seu esforço e a sua encantado da Ventura”. Nos dois últimos versos do
resignação. poema é notório o abatimento e a frustração, fruto da
GRUPO II desilusão provocada pela sua incessante busca.
1. (D); 2. (C); 3. (A); 4. (C); 5. (A); 6. (B), 7. (D) 5. Trata-se de uma enumeração e evidencia as
8. Iterativo. dificuldades que o sujeito lírico tem encontrado ao
9. Condicional. longo da sua busca. Esta ideia é reforçada pela carga
10. Empréstimo. semântica negativa dos termos “desertos”, “noite” e
GRUPO III “escura”, o que reforça a dificuldade e ingratidão
Introdução – A comunicação via internet é um ato daquela empresa.
solitário, que não implica a proximidade física, nem a GRUPO II
saída de casa. 1. (C); 2. (B); 3. (A); 4. (D); 5. (B); 6. (A); 7. (C)
Desenvolvimento – Interagir através da escrita não é 8. “uma baía”.
espontâneo nem imediato; entre a receção de uma 9. Descritiva.
frase e a resposta ou comentário a essa frase existe um 10. Pronome relativo.
lapso de tempo que permite a reflexão, o que implica GRUPO III
que o contacto visual e a comunicação não-verbal se Introdução: a vontade e a necessidade de o ser humano
percam (por não existirem), gerando solidão. encontrar situações de conforto e de motivação para a
A timidez de muitos jovens e a ausência deste tipo de sua vida.
comunicação vai-os inibindo e debilitando no que se Desenvolvimento: a importância da felicidade − na
refere ao contacto com os outros, que, esfera pessoal – a nível das relações humanas e da vida
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

familiar influencia o modo como se reage às adversida- 2. Trata-se da hipálage, pois verifica-se uma transposi-
des; ção de sentido, na medida em que se atribui o
− na esfera profissional − propicia um desempenho das deslumbramento aos olhos e não a quem observa.
tarefas com mais facilidade, o que condiciona o modo Desta forma, intensifica-se a beleza da Natureza
como se veem os desafios e a superação de obstáculos. descrita ao longo do poema.
Conclusão: a perceção de que somos felizes reflete-se 3. O recurso a vocabulário de valoração positiva perten-
no modo como encaramos a vida e nos níveis de cente ao campo lexical da Natureza é uma constante no
produtividade e de serenidade que evidenciamos. poema (“penedos”, “doce mar”, “ondas”, “socalcos”,
“vinhedos”, “terra”, “rosmaninho”). Além disso, a
TESTE DE AVALIAÇÃO 9 (p. 45) expressividade das metáforas enfatiza a beleza que se
Grupo I pretende destacar: “navio de penedos”, “doce mar de
A mosto”, “charcos de luz envelhecida”.
1. As mãos movimentam-se em direção ao peito e B
tremem de desejo; poderão, por isso, ser entendidas 4. A composição tem como assunto o encontro amo-
como símbolo desse desejo, e representantes da união roso, que não chega a acontecer. A donzela encontra-se
física dos amantes. na ermida, aguardando a chegada do amigo que tarda.
2. Tendo em conta a simbologia erótica da água (“Um 5. A donzela está ansiosa e preocupada, pois sente-se
rio interior”), o sentido remete para a presença ansiada só, em perigo, cercada pelas ondas, sem ninguém que
(“aguarda/Aguarda”) de um outro corpo, em harmonia, venha socorrê-la, chegando a antever a própria morte.
ideia subjacente à referência ao sol-luz. Grupo II
3. A referência à música sugere o movimento ritmado 1. (A); 2. (B); 3. (A); 4. (C); 5. (A); 6. (A); 7. (D)
dos corpos (“Se encosto o ouvido à sua nudez, / uma 8. Modalidade apreciativa.
música sobe”), indiciando a harmonia da relação 9. Subordinada substantiva completiva.
amorosa, ideia reforçada pelo facto de se destacarem 10. Derivada por prefixação.
no poema as formas verbais “respira”, “aguarda”, Grupo III
“nasce”, esta última aliada à música: “nasce, / nasce (Proposta de produção escrita)
dessa música que não cessa”, o que poderá sugerir o A pintura representa uma cena primaveril em que se
progresso/evolução dessa união. destacam as figuras femininas, num ambiente natural,
B colhendo flores no jardim.
4. “Lá” conota o indefinido, mas é apresentado como É de realçar o pormenor das flores nas mãos das figuras
um espaço de felicidade, beleza e luz. A sua repetição humanas, dos trajes, nomeadamente dos vestidos volumo-
no início dos tercetos sugere o desejo de alcançar a sos e bordados, a sombrinha, o chapéu, o laço no cabelo, a
“verdade”. sugerirem o estatuto social elevado das personagens.
5. Trata-se da apóstrofe, que transmite a ideia de O contraste evidenciado entre o tom escuro da
determinação e que confere ao soneto um caráter Natureza e a tonalidade clara dos vestidos permite
circular, o que poderá significar que o poeta está destacar as figuras humanas e, simultaneamente, um
próximo de encontrar as respostas que procura. ambiente agradável O quadro sugere a harmonia entre
Grupo II o ser humano e a Natureza.
1. (B); 2. (A); 3. (B); 4. (D); 5. (C); 6. (A); 7. (B)
8. Modalidade apreciativa. TESTE DE AVALIAÇÃO 11 (p. 53)
9. “a Eugénio”. Grupo I
10. Relação de anterioridade. A
Grupo III 1. A deambulação geográfica é visível no facto de
Resposta de caráter pessoal. Poderão, no entanto, ser Ricardo Reis ir percorrendo as ruas da cidade de Lisboa,
referidos os seguintes aspetos: ao mesmo tempo que se detém na observação de
Introdução: contributo das vivências afetivas para a alguns aspetos, deixando transparecer as suas
felicidade e realização do indivíduo. impressões (“atravessa de cá para lá, por outras
Desenvolvimento: alamedas regressa, agora vai descer a Rua do Século,
− a amizade e o amor combatem a solidão e atenuam o nem sabe o que o terá decidido, sendo tão ermo e
sofrimento em situações pessoais difíceis (exemplo…); − melancólico o lugar, alguns antigos palácios, casas
sentimentos que contribuem para uma visão do mundo baixinhas, estreitas, de gente popular”).
mais positiva e integradora, que beneficia a pessoa em 2. Em 1936, vigorava em Portugal a ditadura de Salazar.
si e aqueles com quem se relaciona (exemplo). Nesta época, no geral, o povo vivia com escassos
Conclusão: reforço do ponto de vista veiculado. recursos e, muitas vezes, em situações de extrema
miséria. Assim sendo, a pobreza era uma realidade
TESTE DE AVALIAÇÃO 10 (p. 49) instalada no país, sendo que, para fazer face a esta
Grupo I situação, organizavam-se eventos de caridade, como é o
A caso do bodo do Século, a que Ricardo Reis assiste,
1. Perante a beleza da terra duriense, pela qual se sente onde foi distribuída uma esmola a mais de mil pobres.
atraído, S. Leonardo ruma em direção à eternidade com 3. A intertextualidade com Cesário é evidente não só no
a certeza de que essa vida eterna (“cais divino”) será um facto de, à semelhança do poeta, também Ricardo Reis
desencanto. Esta ideia dá continuidade ao verso ir deambulando pela cidade de Lisboa e registando as
anterior em que manifesta a saudade da terra que vai suas impressões e sensações, mas também é percetível
deixar. na alusão ao poema “Num bairro moderno” quando o
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

narrador, a propósito dos desequilíbrios sociais, afirma por Oliveira Salazar. O regime controlava quaisquer
“ai de nós, pelo caminho que as coisas levam, ainda opositores à sua ideologia, recorrendo à censura e à
veremos bairros exclusivos, e só residências, para a opressão, através da então criada Polícia de Vigilância e
burguesia de finança e fábrica, que então terá engolido Defesa do Estado. Neste excerto, estamos perante uma
da aristocracia o que resta, com garagem própria, das tentativas de revolução protagonizada por um
jardim à proporção, cães que ladrem violentamente ao conjunto de marinheiros, nos quais se incluía o irmão de
viajante, até nos cães se há de notar a diferença, em Lídia, mas que rapidamente foi abortada pelas forças
eras distantes tanto mordiam a uns como a outros”. repressoras, que se serviram, para o efeito, de
Além disso, o facto de o narrador denunciar a miséria bombardeamentos aos barcos revoltosos a partir do
do povo remete também para muitos dos poemas de forte de Almada.
Cesário Verde, como “O sentimento dum ocidental”. 2. A primeira relação intertextual estabelecida com
B Camões surge a propósito da estátua do Adamastor que
4. Trata-se da sinestesia, uma vez que estamos perante se ergue no Alto de Santa Catarina. Através da alusão e
a confluência de sentidos diferentes (a visão – da descrição do gigante, o narrador pretende, por um
“brancuras” – e o tato – “quentes”), que serve aqui para lado, denunciar o estado de latência e inércia de
destacar a acentuada perceção sensorial do sujeito Portugal (e daí estar “concluída a sua petrificação”, l. 4)
lírico, que se serve de todos os sentidos para captar a e, por outro, indiciar já o fracasso da tentativa de
realidade à sua volta. revolta iminente por parte dos marinheiros, que
5. A transfiguração poética do real é visível no facto de acabará por ser travada por um regime repressivo (“a
o sujeito lírico partir de uma realidade concreta – o garganta que ia gritar não gritará”, l. 4). No final, volta a
cesto de hortaliças da vendedeira – transformando-a e aludir-se ao grito preso do Adamastor como estando
recriando-a, quando decide (re)compor os vegetais com prestes a fazer ouvir-se, metáfora de um tempo de
a forma de um corpo humano (“Se eu transformasse os mudança que se espera e cuja ideia é corroborada
simples vegetais, […] / Num ser humano que se mova e também através da alteração do verso de Camões –
exista / Cheio de belas proporções carnais?!” (vv. 19- “Onde a terra se acaba e o mar começa” – para – “Aqui,
-20). Assim, dando asas à imaginação e adotando uma onde o mar se acabou e a terra espera” (ll. 48-49).
atitude surrealista, o sujeito lírico descobre nos vários 3. O título do livro acaba por refletir o estado labiríntico
elementos existentes na giga “um novo corpo orgânico, vivido por Ricardo Reis ao longo do tempo em que
aos bocados” (v. 22). esteve em Lisboa e em que tentou singrar como figura
Grupo II autónoma. Mas a verdade é que, não tendo encontrado
1. (D); 2. (B); 3. (B); 4. (D); 5. (B); 6. (C); 7. (A) saída nem conseguindo dar um rumo à sua vida, facto
8. O que é próprio ou relativo ao campo. que implicaria forçosamente que passasse a adotar uma
9. A capital de Portugal é Lisboa. / É de capital atitude ativa, Ricardo Reis acaba por desistir e opta por
importância valorizarmos a nossa História. seguir Fernando Pessoa em direção à morte.
10. “dar uma mão.” B
Grupo III 4. O sujeito lírico denuncia a opressão vivida em
Introdução: apresentação sucinta da tese (preferência Portugal, durante a época de ditadura (“Silêncio − é
por uma das opões de vida – urbana ou rural) e explici- tudo o que tem / quem vive na servidão”, vv. 19-20).
tação sumária das diferenças entre a vida urbana e a Esta situação, que ele classifica como uma desgraça que
vida rural (positiva e/ou negativa). assola o país (“e o vento cala a desgraça”, v. 3), afeta
Desenvolvimento: fundamentação da opinião com sobretudo o povo, que sofre grandes carências (“Eu vi-
argumentos e exemplos. Poderão ser abordados, entre te crucificada / nos braços negros da fome”, vv. 39-40),
outros os seguintes aspetos: ao mesmo tempo que contribui para a estagnação do
• nos meios urbanos: país (“Vi minha pátria parada / à beira de um rio triste”,
− as pessoas têm acesso a um conjunto muito mais vv. 43-44) e para a submissão da população (“em tempo
variado de dispositivos, infraestruturas (como hos- de servidão”, v. 58). No entanto, como o próprio sujeito
pitais e universidades…) e acontecimentos (cultu- lírico declara “há sempre alguém que resiste / há
rais, desportivos..); sempre alguém que diz não”, versos que funcionam
− a vida é mais stressante, decorrente de uma concen- como metáfora da esperança de que os resistentes ao
tração muito grande de pessoas, o que potencia, por regime possam um dia triunfar.
exemplo, um maior afluxo de trânsito; 5. Trata-se de uma trova, constituída por 15 quadras,
• nos meios rurais: todas elas com versos heptassilábicos (redondilha maior).
− as pessoas têm uma vida mais saudável, uma vez A rima é sempre cruzada, exceto na sexta estrofe, em que
que, à partida, estão inseridas num ambiente o primeiro e o terceiro versos são brancos.
menos poluído; Grupo II
− há menos empregos disponíveis, sobretudo em 1. (B); 2. (C); 3. (B); 4. (C); 5. (A); 6. (D); 7. (A)
determinadas áreas. 8. Deôntica (valor de obrigação).
− há mais solidariedade e convívio. 9. “Ontem”, deítico temporal; “comemorámos”, deítico
Conclusão: retoma da posição defendida e fecho. temporal e pessoal.
10. Posterioridade.
TESTE DE AVALIAÇÃO 12 (p. 58) GRUPO III
Grupo I Sugere-se a seguinte abordagem:
A Introdução: a imagem representa uma mão a segurar
1. Em 1936, vivia-se em Portugal um sistema ditatorial um lápis com o qual vai escrevendo numa folha em
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

branco. No entanto, os seus movimentos são limitados, pregador apresenta, em posição antagónica, as duas
pelo facto de estar algemada. únicas possibilidades e respetivas justificações para o
Desenvolvimento: Destacar os seguintes aspetos: facto de a terra se apresentar tão corrupta: ou os
− a imagem denuncia a falta de liberdade de expressão, pregadores (“o sal”) não estão a cumprir com a sua
a manipulação das palavras, o controlo total, a missão ou os fiéis (“a terra”) não estão a adotar a
opressão; doutrina que lhes é transmitida.
− o tom cinzento remete para a ideia de obscurantismo, 5. A intenção persuasiva é visível através de vários
de silenciamento, de censura. mecanismos, como a assunção da primeira pessoa do
Conclusão: a imagem adequa-se, assim, perfeitamente plural, como forma de o pregador se irmanar com o
ao enredo de O ano da morte de Ricardo Reis, já que, na interlocutor (“mas quando a terra se vê tão corrupta
obra, é recorrente a convocação de situações que como está a nossa”, ll. 2-3); o levantamento de
espelham a censura que vigorava durante a ditadura de questões para as quais são apresentadas possibilidades
Salazar, refletida, por exemplo, no silêncio que se abate de resposta ou o uso de recursos expressivos como a
sobre a cidade de Lisboa ou a manipulação dos jornais, anáfora, a antítese ou a gradação que contribuem para
tantas vezes lidos por Reis. um discurso eloquente (“Começam a ferver as ondas,
começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores,
TESTE DE AVALIAÇÃO 13 (p. 63) os pequenos”, ll. 35-36). Já a exemplaridade decorre do
GRUPO I facto de Vieira, para melhor fundamentar a sua posição
A e conferir autoridade, se socorrer de palavras proferidas
1. O par espelha a plena completude existente entre o por Cristo ou do exemplo de Santo António.
casal, visível no contraste Sol (símbolo do dia, da força Grupo II
física, do trabalho)/Lua (símbolo da noite, do 1. (C); 2. (B); 3. (D); 4. (C); 5. (C); 6. (A); 7. (D)
transcendente, do mundo onírico). Reflete ainda a ideia 8. Coesão lexical (por substituição).
de renovação e de totalidade, inerente ao número sete 9. Complemento agente da passiva.
e que, no caso do casal, se traduz no facto de ambos 10. Locução, locutor, loquaz.
representarem não só a comunhão total e perfeita mas Grupo III
também de remeterem para a ideia de transgressão e Proposta de síntese:
mudança relativamente ao regime absolutista e A última edição dos Sermões do Padre António Vieira
inquisitorial vigente. expõe uma nova faceta na sua abordagem – a do
2. Enquanto a relação de Baltasar e Blimunda se pauta pendor biográfico evidenciado nos textos.
pela espontaneidade, cumplicidade e intimidade resul- Nascido em Lisboa, Vieira foi para o Brasil ainda em
tantes da vivência de um amor profundo e verdadeiro criança e, mais tarde, entrou no noviciado jesuíta. Aos
(“Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados, 23 anos já fazia sermões, que espelhavam as causas que
enquanto as estrelas giravam devagar no céu, Lua onde defendia. Uma delas, a da defesa dos judeus, valeu-lhe
estás, Sol aonde vais”, ll. 10-11), o rei e a rainha revelam a perseguição do Santo Ofício que queria expulsá-lo dos
ter uma relação estritamente protocolar e convencional, jesuítas, mas o rei D. João IV conseguiu protegê-lo. No
sem amor, nada mais sendo do que um casamento de entanto, após a morte do monarca, Viera foi preso no
conveniência. Desta feita, o rei mantém relações domicílio, tendo sido libertado três anos mais tarde,
extraconjugais e a rainha tenta ultrapassar a sua frus- com a ascensão de D. Pedro ao trono. Nessa altura,
tração, recorrendo aos serviços religiosos e sonhando, de inicia uma luta contra a Inquisição em Portugal. Muitos
forma libidinosa, com o cunhado (“de el-rei não falemos, destes aspetos da sua vida, a par de outros, estão
que sendo tão moço ainda gosta de brinquedos, por isso presentes nos sermões do Padre, como, no “sermão de
protege o padre, por isso se diverte tanto com as freiras Santo António aos peixes”, onde o autor confessa a sua
nos mosteiros e as vai emprenhando, uma após outra, ou luta pela salvação dos índios.
várias ao mesmo tempo, que quando acabar a sua Acabou por morrer aos 89 anos, na Baía, longe de
história se hão de contar por dezenas os filhos assim Portugal, fazendo assim jus às palavras usadas no
arranjados, coitada da rainha, que seria dela se não fosse “sermão de Santo António”, de 1670.
o seu confessor António Stieff, jesuíta, por lhe ensinar (175 palavras)
resignação, e os sonhos em que lhe aparece o infante D.
Francisco com marinheiros mortos pendurados dos TESTE DE AVALIAÇÃO 14 (p. 68)
arções das mulas”, ll. 29-34). GRUPO I
3. Apesar de ser padre e pertencer a uma classe social A
conivente com um regime absolutista e promotora do 1. Os eventos relatados acontecem no seguimento da
obscurantismo e da perseguição, através do Santo decisão do rei em inaugurar o convento no dia em que
Ofício, Bartolomeu Lourenço distancia-se desses completasse 41 anos, facto que revela quer a sua
princípios da Igreja Católica. Está disposto a concretizar vaidade quer a sua megalomania e prepotência já que,
um projeto que poderia ser considerado uma heresia apesar de saber que o estado em que a construção se
aos olhos da Inquisição, contando, para isso, com a encontrava não permitia tal resolução, o rei, que reunia
ajuda de elementos que, à partida, estariam em si todos os poderes, impõe o seu desejo e ordena
condenados à fogueira, como Blimunda, ou que eram, que sejam enviados para Mafra todos os homens
em termos sociais, marginalizados, como era o caso de válidos dos quatro cantos do reino, forçando-os a isso,
Baltasar. muitas vezes de forma violenta, sobretudo em relação
B aos que se recusavam a ir. Assiste-se, assim, ao desfile
4. É através da estrutura paralelística e anafórica que o de dezenas de homens arrancados às suas terras e
3. CENÁRIOS DE RESPOSTA

famílias, agrilhoados e obrigados a cumprirem o capri- 5. A consciência coletiva é visível no facto de o povo se
cho de um rei. manter unido e em uníssono defender a mesma causa:
2. Esta relação intertextual é uma forma de o narrador a soberania da nação. Assim sendo, estavam sempre
ridicularizar e estabelecer um contraste entre a situação todos disponíveis para forte e corajosamente
que está a descrever e a que ocorre em Os Lusíadas. defenderem a cidade (“quando repicavom, neuũ nom
Assim, embora nos dois casos surja a voz de um velho a mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus
contestar o acontecimento a que está a assistir, são ẽmigos”, l. 29), apesar de as muitas privações por que
grandes as diferenças entre as duas situações. De facto, estavam a passar, dada a escassez de alimentos.
enquanto, na epopeia camoniana, um velho experiente Grupo II
e de aspeto venerando se insurge contra uma empresa 1. (B); 2. (A); 3. (C); 4. (A); 5. (B); 6. (C); 7. (D).
grandiosa de um reino em expansão e, embora a sua 8. População, populismo, popular
voz seja discordante, não há qualquer censura ao seu 9. Palavras divergentes.
discurso. no caso de Memorial do convento, o narrador 10. Simultaneidade.
serve-se de forma jocosa de um labrego para condenar Grupo III
uma situação que nada tem de grandiosidade, pelo Resposta aberta, classificada segundo os critérios do
contrário, que é um símbolo da prepotência e da exame nacional.
opressão. neste caso, a voz do velho é abafada com a Sugere-se o plano seguinte:
sua morte, o que reflete a época de obscurantismo em Introdução – A imagem representa a figura do Zé
que se vivia. Povinho – metáfora das classes mais desfavorecidas
3. Na conceção de Saramago, o povo é o verdadeiro portuguesas – que, como se tratasse de um cavalo,
protagonista da sua obra. Por isso, quer prestar-lhe o carrega às costas um homem imponente e pesado, bem
tributo e a homenagem que a História lhe nega. Faz vestido e de charuto na boca – símbolos de riqueza – ao
questão de, simbolicamente, tentar nomear todos os mesmo tempo que é conduzido e chicoteado por um
homens envolvidos na construção do convento, outro homem representativo do poder.
percorrendo as letras do alfabeto, não se coibindo de Desenvolvimento – Destacar os seguintes aspetos:
denunciar as atrocidades, o sofrimento infligido e os A imagem denuncia a exploração e a tirania infligidas ao
sacrifícios por que tiveram de passar os verdadeiros povo por parte dos mais poderosos, que revelam uma
obreiros desta empresa megalómana, elevando-os atitude de supremacia e prepotência.
assim à categoria de heróis. Conclusão – A imagem adequa-se, assim, perfeitamente
B ao enredo de Memorial do convento, obra em que é
4. Este excerto decorre durante o cerco da cidade de denunciada a opressão e a repressão exercida sobre os
Lisboa por parte do exército castelhano, que entrou em mais desfavorecidos por parte de D. João V – um rei
Portugal para combater contra o Mestre de Avis, como déspota que se serviu do seu povo para concretizar um
forma de reivindicar a coroa portuguesa. Por questões capricho.
de legitimidade e tendo em conta o testamento de D.
Fernando, o reino português deveria ser entregue,
assim que tivesse idade para isso, ao neto, filho de D.
Beatriz e de Juan de Castela.

Você também pode gostar