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TESTES DE AVALIAÇÃO

TESTE DE AVALIAÇÃO 2 Fernando Pessoa: poesia lírica. Heterónimos

NOME N.º DATA / /

GRUPO I
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A

Lê o poema.

XXXIV
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa…

5 Que pensará o meu muro da minha sombra?


Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas…
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente…

10 Que pensará isto de aquilo?


Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha…
Que me importa isso a mim?
15 Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos…
Entristecia e ficava às escuras.
20 E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu.

Fernando Pessoa, Poesia de Alberto Caeiro, Fernando Cabral Martins (Dir.),


Lisboa: Assírio & Alvim, 2014, p. 117.

1. Indica duas características do sujeito poético a partir da leitura da primeira estrofe.


As duas características do sujeito poético presentes na primeira estrofe, são de alguém que acha que
não pensar é uma das características dos seus traços pessoais (“Acho tão natural que não se pense”). O
“eu” lírico realça também que se sente afastado das pessoas que pensam “gente que pensa” e chega
mesmo ao ponto de se “rir … sozinho”.

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2. Explicita o sentido da interrogação “Que me importa isso a mim?” (v. 14), no contexto em que
surge.

A interrogação destaca a distância do sujeito poético perante à hipótese de as coisas terem


pensamento. Após a negação dessa hipótese (“Nada pensa nada”), o “eu” lírico explica a sua
indiferença sobre a suposição de a “terra” ter consciência e pensar. A interrogação evidencia
também que o sujeito poético se recusa a colocar perguntas a natureza .

3. Seleciona exemplos de linguagem oralizante, ao longo do poema.


Ao longo do poema, encontramos várias marcas de um discurso oralizante característico de Alberto
Caeiro. Na verdade, o poema apresenta um vocabulário simples e corrente (“pedras”, “plantas”),
várias repetições (formas do verbo pensar), frases curtas e várias frases interrogativas, realçando o
recurso a perguntas e respostas. Concluímos que, podemos considerar que o discurso do poético é
simples.

4. Explica o sentido do último verso do poema, completando as frases.

O verso “E assim, sem pensar, tenho a Terra e o Céu” constitui a conclusão do poema, completando os
argumentos apresentados a partir do verso __a)__, relativamente ao que o sujeito perderia ou ganharia
pensando ou não pensando. Deste modo, __b)__ significaria deixar de ver a realidade e substituí-la pelas
construções abstratas do pensamento. Contrariamente, não pensar permite que nada se interponha entre o
seu olhar e a __c)__ das coisas do mundo.
Em suma, não pensar é libertar-se da subjetividade e ver o mundo, sentindo-se dono da “Terra” e do
“Céu”.

a) b) c)
1. 15 x 1. não pensar 1. verdade
2. 10 2. olhar 2. realidade x
3. 5 3. pensar x 3. mentira

GRUPO II
Lê o texto e consulta as notas.

A heteronímia
Terá sido por esta altura [1914] que Pessoa começou a colocar a criação de personalidades literárias
numa perspetiva mais ampla. Não como um mundo autónomo de individualidades, que irrompiam ao ritmo
da progressão interna e secreta do inconsciente, mas como peças de um esquema mais geral.
Não como uma construção puramente analítica que servia para esquematizar a autoria de muitos dos
5 seus textos, mas como o resultado de um projeto ou programa estético com um duplo alcance, criativo e
teórico. Daqui para diante, cada vez mais, se torna impossível separar o momento teórico do momento
criativo. Tudo passa a ser, simultaneamente, formulação teórica e ato criativo.
Segundo a famosa carta sobre a origem dos heterónimos, endereçada a Adolfo Casais Monteiro em 13
de janeiro de 1935, foi exatamente no dia 8 de março de 1914 que nasceu o “mestre” dos heterónimos:
10 Alberto Caeiro.
Como é óbvio, como em todas as grandes descobertas, a heteronímia pessoana não era fruto de um
projeto consciente. Começou antes que o próprio Pessoa começasse a refletir sobre ela. Era preciso,
primeiro, despedaçar-se num “milhão de fragmentos”, para de seguida se recompor – consciente e

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conscienciosamente, graças a uma espécie de condutor ou maestro, de acordo com novos e mais
15 expressivos padrões. Na duplicidade e no desdobramento, Pessoa viu uma forma de liberdade poética,
uma espécie de adubo que impunha uma dinâmica no que era estável (o sedentarismo do poeta),
desestabilizava os estados mentais fixos e impedia-o de ficar prisioneiro de uma doutrina, libertando-se ao
mesmo tempo de compromissos e preconceitos.
Ao dar uma certa ordem às suas diferentes personalidades, aplicando-lhes um rótulo – heterónimos –,
Pessoa acomodava a assimilava, dentro de si uma imagem mais perfeita do seu espírito magnético, que
20 oscilava entre o risonho (ou humor irónico) e a angústia existencial (não há contradição entre estas duas
coisas, pelo contrário, complementares).
Como os entomólogos1 ou os botânicos, que tentam elaborar taxonomias2, Pessoa decidiu organizar os
seus pensamentos, necessariamente fadados ao fragmentarismo, à irregularidade e à instabilidade,
conferindo-lhes alguma sistematicidade. (…)
25 Neste sentido, os heterónimos funcionavam como uma defesa da sua alma, uma barreira ou muralha
com que delimitava o mundo e com que administrava a sua identidade (a identidade, neste sentido, seria
também um trabalho estético). Através dos heterónimos, com Caeiro, Campos e Reis, Pessoa sentia-se
como a rainha das abelhas, em segurança no centro da colmeia.

João Pedro George, O Super-Camões, Biografia de Fernando Pessoa, Lisboa: D. Quixote, 2022, pp. 337-338.

Os heterónimos de
Fernando Pessoa.
Mural da Faculdade de
Letras da Universidade
de Lisboa.

NOTAS:

1. Embora Pessoa, desde muito cedo, tenha criado figuras imaginadas que se dedicavam à escrita, só a
partir de 1914 começou
(A) a criar um mundo de individualidade.
(B) a construir um projeto heteronímico. X
(C) a construir um mundo autónomo.
(D) a criar uma constelação de escritores que servia para esquematizar a autoria de alguns dos seus
textos.

2. A heteronímia pessoana
(A) foi fruto de um processo inconsciente.X
(B) resultou de uma grande descoberta.
(C) foi consequência da escrita da famosa carta a Adolfo Casais Monteiro.
(D) resultou de um processo teórico.

1
Investigador do ramo da zoologia que estuda os insetos
2
Sistema de categorização.
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3. Como qualquer investigador, Pessoa


(A) reduziu o seu pensamento ao fragmentarismo.
(B) conferiu irregularidade à instabilidade.
(C) teve necessidade de organizar as diferentes personalidades que foi criando.X
(D) conferiu instabilidade à regularidade.

4. O último período do texto apresenta uma


(A) metáfora.
(B) personificação.
(C) hipérbole.
(D) comparação. X

5. No contexto em que surge, a expressão “de personalidades literárias” (l. 1) desempenha a função
sintática de
(A) modificador do nome restritivo.
(B) complemento do adjetivo.
(C) complemento do nome. X
(D) complemento oblíquo.

6. Indica a modalidade e respetivo valor modal presente na frase “Terá sido por esta altura [1914] que
Pessoa começou a colocar a criação de personalidades literárias numa perspetiva mais ampla.” (ll. 1-2).

Modalidade epistémica com valor de probabilidade

7. Divide e classifica as orações da frase “Começou antes que o próprio Pessoa começasse a refletir
sobre ela.” (l. 12).
Oração subordinante: “Começou”; oração subordinada adverbial temporal: “antes que o próprio Pessoa
começasse a refletir sobre ela”.

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