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Fernando Pessoa
Umas figuras insiro em contos, ou em subtítulos de livros,
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com ela se funda, se pode distinguir estas figuras de sonho na sua realidade de
uma a outra.
s. d.
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados
por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966: 103.
1ª publ.: Obra Poética . Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas de Maria Aliete
Dores Galhoz.) Rio de Janeiro: Ed. José Aguilar, 1960.
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Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/4293
Fernando Pessoa
Nestes desdobramentos de personalidade ou, antes,
invenções. . .
s. d.
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados
por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966: 105.
1ª publ.: Obra Poética . Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas de Maria Aliete
Dores Galhoz.) Rio de Janeiro: Ed. José Aguilar, 1960.
Fernando Pessoa
Dividiu Aristóteles a poesia em lírica, elegíaca, épica e
dramática.
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s. d.
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados
por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966: 106.
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Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/4306
1ª publ.: Obra Poética . Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas de Maria Aliete
Dores Galhoz.) Rio de Janeiro: Ed. José Aguilar, 1960.
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Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/708
Ricardo Reis
Nestes poemas aparentemente tão símplices, o crítico, se se
dispõe. . .
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Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/708
1917?
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados
por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996: 353.
Prefácio a Caeiro. 1ª publ.: Obra Poética. Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas
de Maria Aliete Galhoz.) Rio de Janeiro: Ed. José Aguilar, 1960.
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Álvaro de Campos
NOTAS PARA A RECORDAÇÃO DO MEU MESTRE
CAEIRO (algumas delas)
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Meu mestre, meu mestre, perdido tão cedo! Revejo-o na sombra que sou em
mim, na memória que conservo do que sou de morto. . .
Foi durante a nossa primeira conversa. Como foi não sei, e ele disse: «Está
aqui um rapaz Ricardo Reis que há-de gostar de conhecer: ele é muito diferente
de si». E depois acrescentou, «tudo é diferente de nós, e por isso é que tudo
existe».
Esta frase, dita como se fosse um axioma da terra, seduziu-me com um
abalo, como o de todas as primeiras posses, que me entrou nos alicerces da
alma. Mas, ao contrário da sedução material, o efeito em mim foi de receber de
repente, em todas as minhas sensações, uma virgindade que não tinha tido.
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o mesmo. É pena a gente não ter exactamente os olhos para saber isso, porque
então éramos todos felizes».
O meu mestre Caeiro não era um pagão: era o paganismo. O Ricardo Reis é
um pagão, o António Mora é um pagão, eu sou um pagão; o próprio Fernando
Pessoa seria um pagão, se não fosse um novelo embrulhado para o lado de
dentro. Mas o Ricardo Reis é um pagão por carácter, o António Mora é um
pagão por inteligência, eu sou um pagão por revolta, isto é, por temperamento.
Em Caeiro não havia explicação para o paganismo; havia consubstanciação.
Vou definir isto da maneira em que se definem as coisas indefiníveis —
pela cobardia do exemplo. Uma das coisas que mais nitidamente nos sacodem
na comparação de nós com os gregos é a ausência de conceito de infinito, a
repugnância de infinito, entre os gregos. Ora o meu mestre Caeiro tinha lá
mesmo esse mesmo conceito. Vou contar, creio que com grande exactidão, a
conversa assombrosa em que mo revelou.
Referia-me ele, aliás desenvolvendo o que diz num dos poemas de «O
Guardador de Rebanhos», que não sei quem lhe tinha chamado em tempos «poeta
materialista». Sem achar a frase justa, porque o meu mestre Caeiro não é
definível com qualquer frase justa, disse, contudo, que não era absurda de
todo a atribuição. E expliquei-lhe, mais ou menos bem, o que é o materialismo
clássico. Caeiro ouviu-me com uma atenção de cara dolorosa, e depois disse-me
bruscamente:
«Mas isso o que é é muito estúpido. Isso é uma coisa de padres sem religião,
e portanto sem desculpa nenhuma».
Fiquei atónito, e apontei-lhe várias semelhanças entte o materialismo e a
doutrina dele, salva a poesia desta última. Caeiro protestou.
«Mas isso a que V. chama poesia é que é tudo. Nem é poesia: é ver. Essa
gente materialista é cega. V. diz que eles dizem que o espaço é infinito. Onde é
que eles viram isso no espaço?»
E eu, desnorteado. «Mas V. não concebe o espaço como infinito? Você não
pode conceber o espaço como infinito?»
«Não concebo nada como infinito. Como é que eu hei-de conceber qualquer
coisa como infinito?»
«Homem», disse eu, «suponha um espaço. Para além desse espaço há mais
espaço, para além desse mais, e depois mais, e mais, e mais. . . Não acaba. . .»
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contente consigo?» E ele respondeu: «Não: estou contente». Era como a voz da
Terra, que é tudo e ninguém.
Nunca vi triste o meu mestre Caeiro. Não sei se estava triste quando morreu,
ou nos dias antes. Seria possível sabê-lo, mas a verdade é que nunca ousei
perguntar aos que assistiram à morte qualquer coisa da morte ou de como ele a
teve.
Em todo o caso, foi uma das angústias da minha vida — das angústias reais
em meio de tantas que têm sido fictícias — que Caeiro morresse sem eu estar
ao pé dele. Isto é estúpido mas humano, e é assim.
Eu estava em Inglaterra. O próprio Ricardo Reis não estava em Lisboa; estava
de volta no Brasil. Estava o Fernando Pessoa, mas é como se não estivesse. O
Fernando Pessoa sente as coisas mas não se mexe, nem mesmo por dentro.
Nada me consola de não ter estado em Lisboa nesse dia, a não ser aquela
consolação que pensar no meu mestre Caeiro espontaneamente me dá. Ninguém
é inconsolável ao pé da memória de Caeiro, ou dos seus versos; e a própria ideia
do nada — a mais pavorosa de todas se se pensa com a sensibilidade — tem,
na obra e na recordação do meu mestre querido, qualquer coisa de luminoso e
de alto, como o sol sobre as neves dos píncaros inatingíveis.
1931
Textos de Crítica e de Intervenção . Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1980: 267.
Lacunas completadas segundo o original. 1ª publ. in “Presença”, nº 30. Coimbra: Jan.-Fev. 1931.
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Álvaro de Campos
O nosso Ricardo Reis teve uma inspiração feliz. . .
O nosso Ricardo Reis teve uma inspiração feliz se é que ele usa inspiração,
pelo menos por fora das explicações, quando reduziu a seis linhas a sua arte
poética:
Não a arte poética, mas a sua. Que ele ponha na mente activa o esforço só
da «altura» (seja isso o que for), concedo, se bem que me pareça estreita uma
poesia limitada ao pouco espaço que é próprio dos píncaros. Mas a relação
entre a altura e os versos de um certo número de sílabas é-me mais velada. E, é
curioso, o poema, salvo a história da altura, que é pessoal, e por isso fica com o
Reis, que aliás a guarda para si, é cheio de verdade:
Que quando é alto e régio o pensamento,
Ressalvando que pensamento deve ser emoção, e, outra vez, a tal altura, é
certo que, concebida fortemente a emoção, a frase que a define espontaneiza-se,
e o ritmo que a traduz surge pela frase fora. Não concebo, porém, que as
emoções, nem mesmo as do Reis, sejam universalmente obrigadas a odes sáficas
ou alcaicas, e que o Reis, quer diga a um rapaz que lhe não fuja, quer diga que
tem pena de ter que morrer, o tenha forçosamente que fazer em frases súbditas
que por duas vezes são mais compridas e por duas vezes mais curtas, e em
ritmos escravos que não podem acompanhar as frases súbditas senão em dez
sílabas para as duas primeiras, e em seis sílabas as duas segundas, num graduar
de passo desconcertante para a emoção.
Não censuro o Reis mais que a outro qualquer poeta. Aprecio-o, realmente, e
para falar verdade, acima de muitos, de muitíssimos. A sua inspiração é estreita
e densa, o seu pensamento compactamente sóbrio, a sua emoção real se bem
que demasiadamente virada para o ponto cardeal chamado Ricardo Reis. Mas é
um grande poeta — aqui o admiro —, se é que há grandes poetas neste mundo
fora do silêncio de seus próprios corações.
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Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados
por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996: 389.
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Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/2917
Ricardo Reis
Um poema é a projecção de uma ideia em palavras através da
emoção.
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mesmo género de pausa com que se pausa no fim de um verso, não faria obra
diferente, nem estabeleceria a confusão que estabeleceu.
A disciplina é natural ou artificial, espontânea ou reflectida. O que distingue
a arte clássica, propriamente dita, a dos gregos e até dos romanos, da arte
pseudoclássica, como a dos franceses em seus séculos de fixação, é que a
disciplina de uma está nas mesmas emoções, com uma harmonia natural da
alma, que naturalmente repele o excessivo, ainda ao senti-lo; e a disciplina da
outra está em uma deliberação da mente de não se deixar sentir para cima
de certo nível. A arte pseudoclássica é fria porque é uma regra; a clássica tem
emoção porque é uma harmonia.
Quase se conclui do que diz Campos que o poeta vulgar sente espontanea-
mente com a largueza que naturalmente projectaria em versos como os que ele
escreve; e depois, reflectindo, sujeita essa emoção a cortes e retoques e outras
mutilações ou alterações, em obediência a uma regra exterior. Nenhum homem
foi alguma vez poeta assim. A disciplina do ritmo é aprendida até ficar sendo
uma parte da alma: o verso que a emoção produz nasce já subordinado a essa
disciplina. Uma emoção naturalmente harmónica é uma emoção naturalmente
ordenada; uma emoção naturalmente ordenada é uma emoção naturalmente
traduzida num ritmo ordenado, pois a emoção dá o ritmo e a ordem que há
nela a ordem que no ritmo há.
Na palavra, a inteligência dá a frase, a emoção o ritmo. Quando o pensa-
mento do poeta é alto, isto é, formado de uma ideia que produz uma emoção,
esse pensamento, já de si harmónico pela junção equilibrada de ideia e emoção,
e pela nobreza de ambas, transmite esse equilíbrio de emoção e de sentimento
à frase e ao ritmo, e assim, como disse, a frase, súbdita do pensamento que a
define, busca-o, e o ritmo, escravo da emoção que esse pensamento agregou a
si, o serve.
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Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados
por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1996: 394.
1ª publ.: Obra Poética. Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas de Maria Aliete
Galhoz.) Rio de Janeiro: Ed. José Aguilar, 1960.
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