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Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Problemas de Regência Verbal no Português de Moçambique

Nome do aluno: Octavio Anibal Mabalane

Código: omabalane@isced.ac.mz

Maxixe, Setembro de 2023


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Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Problemas de Regência Verbal no Português de Moçambique

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Ensino de Português do ISCED.

Tutor: Mestre Olga Nhacarize Simão

Nome do aluno: Octavio Anibal Mabalane

Código: omabalane@isced.ac.mz

Maxixe, Setembro de 2023


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Índice
Introdução ........................................................................................................................................ 3
Objectivos do Trabalho ................................................................................................................... 3
Metodologias ................................................................................................................................... 3
Regência verbal ............................................................................................................................... 4
Regência verbal e padrões oracionais .............................................................................................. 5
Regência verbal no português de Moçambique ............................................................................... 5
Conclusão ........................................................................................................................................ 8
Bibliografia ...................................................................................................................................... 9
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Introdução

O nosso trabalho aborda sobre “Problemas de Regência Verbal no Português de Moçambique”.


Quando olhamos com minúcia as palavras de uma oração, ficamos com a impressão de que elas
têm uma relação de interdependência. Tal relação é visível na medida em que uma palavra ou
expressão serve de um complemento relativamente a outra. Esta relação é designada pelos
linguistas de regência tal como podemos constatar no Dicionário da Língua Portuguesa,
(1994:421), “termo que deriva do Latim – regentia, designação referente ao modo de construção
exigido por certas palavras a outras com que elas combinam, atingindo assim o modo, flexão”.
Outro dicionário (online) remete-nos para a seguinte linha: regência é um “substantivo feminino;
acto ou efeito de reger; relação de dependência entre as palavras de uma oração ou entre as
orações de um período.”

Objectivos do Trabalho

 Abordar sobre problemas de regência verbal no português de Moçambique;


 Descrever os problemas de regência verbal no português de Moçambique.

Metodologias

Ao longo da pesquisa recorremos também à pesquisa bibliográfica, pois, de acordo com KOCHE
(1997:122) “se desenvolve, tentando explicar um problema, utilizando o conhecimento
disponível a partir de teorias publicadas em livros ou obras congéneres”.
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Regência verbal

LUFT, C. (2010:5) afirma que sendo o termo regência derivado de reger, „governar, comandar,
dirigir‟ é natural que regência signifique „governo, comando, direcção‟.

Em gramática, emprega-se o termo em sentido amplo e restrito. Em sentido amplo, regência


equivale a subordinação em geral. Em homem alto, por exemplo, o substantivo homem rege i.e.
subordina o adjectivo alto. Na sequência deste pensamento, homem é uma palavra regente
(subordinante) e alto é uma palavra regida (subordinada).

Ainda segundo LUFT, os artigos, pronomes, adjectivos e numerais são regidos pelos
substantivos, que lhes comandam a forma pelo processo da concordância nominal. Quando
sujeito, o substantivo (nome ou pronome) rege ainda o número e a pessoa do verbo pelo processo
da concordância verbal.

Para LUFT (2010:5), regência serve para designar a subordinação peculiar de certas estruturas
por palavras que as requerem ou prevêem na sua significação ou nos traços semânticos. Essas
estruturas compõem com as palavras que as requerem um complexo significativo – estruturas
regidas “completam” com os núcleos regentes um todo semântico, motivo por que se denominam
“complementos”.

Temos assim regência como „exigência ou previsão de complementos‟ – traço de palavras


semanticamente não auto-suficientes. Em casos extremos isso é bem claro. Não faria sentido
alguém dizer:

(1) O cadete colocou

Ora, o verbo colocar exige, prevê ou pressupõe, na sua significação, além do agente, objecto (s) a
movimentar e um lugar – meta. Por exemplo:

(2) O cadete colocou a arma no chão.

Ao facto de o verbo reger complementos chama-se “regência verbal”; outros casos de palavras
substantivas ou adjectivas que regem complementos constituem o que se denomina “regência
nominal”. Exemplos:
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(3) O cadete obedeceu às ordens do seu comandante.

Regência verbal e padrões oracionais

Como se sabe, o verbo é a palavra cuja presença caracteriza a frase. Na acepção de regência, o
verbo (não sendo de “ligação”: ser, estar e semelhantes) rege todos os termos da oração; na
acepção restrita, rege os complementos. Para clarear esta ideia, é importante recorrer à noção de
padrões oracionais. Regência verbal é a relação que existe entre os verbos e os termos da oração
que os complementam (objecto directo, objecto indirecto e oblíquo), bem como os termos
acessórios da oração que os caracterizam (adjunto adverbial). O objecto directo, o objecto
indirecto e oblíquo fazem parte dos complementos verbais das frases, completando o sentido de
verbos transitivos directos e indirectos que, sozinhos, possuem significado incompleto.

Segundo LUFT, a língua prevê moldes sintácticos segundo os quais se constrói toda e qualquer
frase efectiva. Tais moldes, são constituídos por quatro posições básicas correspondentes às
funções primárias da oração: 1. Sujeito (S), 2. Verbo (V), 3. Objecto (O) verbais ou predicativos
(Pvo), 4. Adjuntos (A) Adverbiais. Complementos verbais são o objecto directo (OD) e o objecto
indirecto (OI) e oblíquo, distinção devida a ausência/presença de preposição na ligação
directa/indirecta do complemento ao verbo: amar alguém/ gostar de alguém. Predicativo é o
ocupante da posição 3 quando o verbo é de ligação (ser, estar e semelhantes). Adjuntos
adverbiais são os elementos que exprimem circunstâncias – modo, tempo, lugar, meio, etc.

Exemplos de frases – orações com as quatro posições ocupadas:

(4) O Sargento/consertou/ o helicóptero/ no hangar. [S V C A]

(5) O Coronel/ estava/ muito alegre/ ontem. [S V Pvo A]

O verbo consertar rege (regência em sentido amplo) o sujeito o Sargento, o complemento


(objecto directo) o helicóptero; ou rege apenas (regência em sentido restrito) o helicóptero.

Regência verbal no português de Moçambique

De uma forma geral, os falantes do português de Moçambique (PM) também usam os verbos
incluídos neste dicionário de acordo com a norma padrão europeia. Essas ocorrências não foram
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aqui incluídas, uma vez que apenas se pretende registar os casos em que a variedade
moçambicana se distingue dessa norma.

Neste dicionário, estão incluídas as frases em que houve alterações na categoria sintáctica dos
complementos verbais ou na escolha da preposição que introduz complementos preposicionados.
Estão no primeiro caso os exemplos (6a) e (6b), em que o complemento nominal do verbo no PE
padrão está realizado como um SP (6a), ou o complemento preposicionado está realizado como
um SN (6b). Está no segundo caso o exemplo (6c), em que é usada a preposição de, e não a
preposição em, requerida pelo verbo no padrão europeu.

(1) a. convidou [SP aos órgãos de comunicação social] (PE = convidou [SN os órgãos de
comunicação social])

b. não pode conversar [SN coisas íntimas] [SP connosco] (PE = não pode conversar [SP sobre
coisas íntimas] connosco)

c. andaram [SP daquele camião] (PE = [SP naquele camião])

No tratamento formal das frases contidas no DRVPM, adoptaram-se as seguintes convenções:

 A categoria sintáctica de todos os complementos verbais é assinalada através de uma


etiqueta categorial, subscrita ao primeiro parênteses recto.
 Os complementos verbais em que se registam alterações relativamente ao PE padrão estão
delimitados através de parênteses rectos, em azul (vejam-se os exemplos (6)). Caso o
verbo tenha outro complemento em que não há alteração relativamente ao PE padrão, este
é igualmente delimitado através de parênteses rectos, sem recurso a uma cor diferente.
 As formas átonas dos pronomes pessoais estão colocadas entre parênteses rectos, sem
etiqueta categorial. Exemplo:
(7) deixam-[lhes] assim (PE = deixam-[nos] assim)
 Nas frases do PE, só se dá um tratamento formal aos complementos que se distinguem do
PM. Retome-se o exemplo (1b), em que, no equivalente em PE, apenas o complemento
sobre coisas íntimas está entre parênteses rectos, com etiqueta categorial.
(6b) não pode conversar [SN coisas íntimas] [SP connosco] ( PE = não pode conversar
[SP sobre coisas íntimas] connosco)
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Mereceram um tratamento especial as frases passivas do PM formadas a partir de verbos não


transitivos no PE padrão, que ou seleccionam um complemento preposicionado (complemento
indirecto ou oblíquo), ou são intransitivos. Assim, a fim de dar conta das alterações de regência
verbal que tornam possíveis estas frases passivas no PM, optou-se por estabelecer, em primeiro
lugar, as contrapartes activas dessas frases, só se fornecendo, para o PE padrão, os equivalentes
das frases na voz activa. Veja-se o formato dado a este tipo de frases no dicionário:

(8) a. [o meu irmão] foi oferecido [SN um livro] [SP pelo meu pai]

PM: frase na voz activa = o meu pai ofereceu [SN o meu irmão] [SN um livro] (PE = o meu pai
ofereceu um livro [SP ao meu irmão])

b. [os rapazes] tinham sido sexualmente abusados por padres

PM: frase na voz activa = padres abusaram sexualmente [SN os rapazes] (PE = os padres
abusaram sexualmente [SP dos rapazes])

Nos casos em que o agente da passiva não está presente, optou-se por colocar um pronome
genérico, alguém na posição de sujeito da frase activa (exemplos (4)). Nos casos em que a
posição de sujeito da frase passiva está vazia, colocou-se uma forma átona do pronome pessoal
na contraparte activa (cf. nos em (4b), “equivalente” ao pronome nós da frase passiva, se a
posição de sujeito estivesse preenchida lexicalmente). Exemplos:

(9) a.[os jovens] são dados [SN responsabilidades de família]

PM: frase na voz activa = [alguém] dá [SN os jovens] [SN responsabilidades de família] (PE =
alguém dá responsabilidades de família [SP aos jovens])

b. [ - ] fomos apresentados [SN 12 objectivos]

PM/PE: frase na voz activa = [alguém] [nos] apresentou 12 objectivos

Estes foram, por exemplo, os objectivos de Gonçalves & Justino (2020), em que se propõe um
conjunto diversificado de exercícios de descrição do comportamento sintáctico dos verbos nas
variedades moçambicana e europeia do Português.
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Conclusão

De forma resumida concluímos que de uma forma geral, os falantes do português de


Moçambique (PM) também usam os verbos incluídos neste dicionário de acordo com a norma
padrão europeia. Essas ocorrências não foram aqui incluídas, uma vez que apenas se pretende
registar os casos em que a variedade moçambicana se distingue dessa norma. Como se sabe, o
verbo é a palavra cuja presença caracteriza a frase. Na acepção de regência, o verbo (não sendo
de “ligação”: ser, estar e semelhantes) rege todos os termos da oração; na acepção restrita, rege os
complementos. Para clarear esta ideia, é importante recorrer à noção de padrões oracionais.
Regência verbal é a relação que existe entre os verbos e os termos da oração que os
complementam (objecto directo, objecto indirecto e oblíquo), bem como os termos acessórios da
oração que os caracterizam (adjunto adverbial). O objecto directo, o objecto indirecto e oblíquo
fazem parte dos complementos verbais das frases, completando o sentido de verbos transitivos
directos e indirectos que, sozinhos, possuem significado incompleto.
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Bibliografia

GONÇALVES, Perpétua & JUSTINO, Víctor (orgs.). 2020. Caderno de Pesquisa nº 3: Regência
Verbal no Português de Moçambique: Exercícios. Maputo: Imprensa Universitária.

JUSTINO, Víctor (2020). Completivas de „para‟ no português de Moçambique. Comunicação


apresentada no XXXVI Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística.
Universidade do Porto, 28 a 30 de Outubro.

LUFT, C. (2010) Dicionário Prático de Regência Verbal, 9a Ed., Editora Ática, São Paulo.

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