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Sintaxe espacial
da Libras
Profª. Maynara Costa de Campos
Descrição
Os principais aspectos conceituais em torno da sintaxe espacial da Libras, as premissas relacionadas ao
espaço de sinalização, bem como o uso de referentes e os mecanismos espaciais que perpassam pelo
discurso nas línguas de sinais.
Propósito
Objetivos
Módulo 1
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Módulo 2
Módulo 3
Introdução
Se você for um aluno com boa memória, ao falarmos em sintaxe, talvez se lembre das análises
sintáticas feitas no período escolar. Numa perspectiva altamente gramatical e padrão, essas análises
são realizadas de modo técnico e, muitas vezes, desprendidas de um contexto.
Isso porque, de acordo com a gramática tradicional, apenas a frase é o suficiente para uma análise,
podendo, portanto, ignorar-se o texto. Contudo, fundamentando-se nos estudos linguísticos,
entendemos que tanto a linguagem como a língua se manifestam em textos, e que para apreender o
sentido de determinado enunciado é necessária a apreensão da totalidade desse texto.
Dizemos isso, para início de conversa, a fim de que compreendamos que existem vertentes díspares
em relação ao conceito da sintaxe, especialmente, no trato dessas análises linguísticas. Além disso,
muito provavelmente, a vertente tradicional da gramática irá se sobressair em nossos estudos
introdutórios, não à toa que tal modelo nos atravessa, quase que universalmente, nas escolas.
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Dessa forma, o que falaremos aqui sobre a sintaxe espacial da Libras estará ancorado numa perspectiva
formalista, a qual se caracteriza por sua atenção aos aspectos formais da língua, sem que sejam
enfatizadas questões relacionadas a situações comunicativas.
Tal abordagem se fundamenta nos pressupostos da Gramática Gerativa idealizada pelo linguista norte-
americano Noam Chomsky no final da década de 1950. Apesar disso, não poderíamos deixar de trazer as
questões apresentadas no início, uma vez que temos como objetivos de ensino e aprendizagem gerar
tensões e reflexões para possíveis rupturas e deslocamentos futuros.
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Essa palavra tem origem grega, syntaxis, que significa ordem, disposição, cuja definição se constitui
tradicionalmente pelo ato de descrever a composição de sentenças, a partir das combinações de palavras,
organizadas por um sistema de regras. Tais regras costumam ser obtidas elencando-se um grande número
de escritores consagrados e listando-se as formas segundo as quais esses escritores combinam e
organizam as palavras de seus textos em sentenças (BERLINCK; AUGUSTO; SCHER, 2011).
Como se pode ver, fazer uma análise sintática é um processo que requer de nós a observância de
determinadas regras dentro de uma sentença. Considere, a por exemplo, as seguintes orações:
Exemplo 1
Podemos, sob orientação da gramática tradicional, dizer que essa é uma exemplificação da ordem direta de
uma sentença, natural nas línguas orais e também nas línguas de sinais, qual seja: sujeito + verbo +
complemento.
Ainda analisando sintaticamente essa oração, podemos dizer que o sujeito (A professora) é simples, pois
contém apenas um núcleo (professora); o verbo se caracteriza como bitransitivo, pois quem entrega,
entrega algo (o módulo de sintaxe) a alguém (aos seus alunos); e seus objetos (complementos) são diretos
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e indiretos, respectivamente, uma vez que a regência do verbo não pede preposição no primeiro objeto, mas
exige a preposição “a” no segundo.
Exemplo 2
Ainda que cause um certo estranhamento, em relação ao primeiro exemplo, e não seja o modelo universal
de oração prescrito nas gramáticas normativas, essa sentença também é uma possibilidade.
É constituído, assim, um caso que apresenta a ordem inversa, qual seja: verbo + sujeito + complemento.
Essa ordem é reconhecida como um recurso de estilo que visa dar ênfase a um ou outro constituinte da
sentença.
Exemplo 3
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Visualizamos um caso agramatical, pois a organização dos elementos que compõem a sentença não
corresponde a uma possibilidade em língua portuguesa. Da mesma forma, não corresponderia aos aspectos
gramaticais da Libras, porque o verbo “entregar” é um verbo direcional e precisa ter seu sujeito e seu objeto
marcados no espaço de articulação por meio do movimento de início e fim do movimento de sinalização, o
que não aconteceria na forma como a sentença foi apresentada.
Desse modo, o que vimos nos exemplos é parte do que se encerra sobre os estudos
de sintaxe.
Desde essa perspectiva, as pesquisadoras Ronice Quadros e Lodenir Karnopp argumentam o seguinte:
Posto que a Libras se caracteriza por ser uma língua de modalidade visuoespacial, essa estrutura frasal
organiza-se no espaço e, por essa razão intitula-se sintaxe espacial. Ela se diferencia da linearidade de
realização das línguas orais, pois tem-se a possibilidade de realizar marcações manuais e não-manuais de
forma simultânea na língua de sinais.
Dito de outro modo, quando falamos em língua portuguesa, não sobrepomos vários sons a outros
simultaneamente. Se assim fizermos, certamente a compreensão sairá comprometida. Em contrapartida, na
Libras, essa sobreposição, com diferentes elementos morfossintáticos da língua, é possível, como se pode
ver na sentença abaixo:
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Nesse exemplo, os sinais referentes a ARANHA – SUBIR – PAREDE são realizados simultaneamente por
meio de um classificador que une os três sinais. Essas diferenças linguísticas, entre as línguas orais e as
línguas de sinais, se manifestam sobretudo em razão de se apresentarem como modalidades distintas.
O estabelecimento nominal e a utilização do sistema pronominal são centrais para as relações sintáticas,
nesse espaço em que os sinais são realizados. Assim, “qualquer referência usada no discurso requer a
especificação de um local no espaço de sinalização (espaço definido na frente do corpo do sinalizador)”
(PIZZIO, 2006, p. 6).
Sendo assim, as relações gramaticais e linguísticas referentes às línguas de sinais se manifestam a partir
da manipulação dos sinais no espaço. A compreensão desse espaço é importante para a produção de
sentenças, visto que possui critérios específicos que delimitam a operacionalização do sinalizante, como
podemos observar a seguir:
A imagem traz uma representação bidimensional do espaço de sinalização apontado por Quadros e
Karnopp (2004). Essa figura nos permite refletir sobre como a sinalização está para além da utilização das
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mãos, mostrando como outros elementos do corpo, isto é, marcações não manuais, fazem parte da
estruturação gramatical das línguas de sinais.
Como podemos observar, a gramática da Libras prescreve um espaço definido na frente do corpo, que
consiste em uma área limitada pelo topo da cabeça e pelos quadris. Contudo, é sempre importante lembrar
dos diversos contextos discursivos que podem interferir na dimensão do espaço.
Exemplo
O espaço de sinalização de um contador de história infantis certamente será bem mais amplo se esse
sinalizante apostar na ludicidade da contação.
Assim, podemos conceituar o espaço de sinalização como uma área tridimensional delimitada, que se
dispõe previamente no imaginário do sinalizante, onde se realizam e se produzem sentenças nas línguas
de sinais. Pode acontecer, entretanto, a ruptura dessa área a depender de cada situação discursiva.
Numa narrativa poética, por exemplo, essa transgressão é possível.
No Brasil, a maior referência que temos sobre os estudos da sintaxe é a obra de Quadros e Karnopp (2004),
intitulada Língua Brasileira de Sinais: estudos linguísticos. Grande parte das pesquisas acerca da Libras e de
seus aspectos linguísticos tomam essa publicação como referência. De fato, essas pesquisadoras
trouxeram grandes contribuições para o estudo e, a partir delas, almejamos que as investigações sobre essa
língua e suas nuances de comunicação se ascendam ainda mais.
Por esse motivo, abordaremos os principais mecanismos apontados por Quadros e Karnopp (2004), os
quais devemos utilizar como recurso linguístico em nossas produções discursivas em Libras, no que se
refere à sintaxe espacial. São eles:
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(EU) IR (CASA)
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Até aqui, você teve a oportunidade de obter uma compreensão inicial da sintaxe espacial e dos aspectos
envolvidos no espaço de sinalização apontados por Quadros e Karnopp (2004) pelo viés da gramática
gerativa.
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Sintaxe espacial e espaço de sinalização
No vídeo a seguir, você verá os conceitos iniciais de sintaxe espacial e espaço de sinalização apresentados
através de exemplos.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
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MÓDULO 1
entende que, assim como nas línguas orais, o espaço é um lugar de enunciação do
B
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B
discurso, imprescindível para a produção de sentido de uma sentença.
nos permite refletir sobre como a sinalização está restrita à utilização das mãos,
C mostrando como outros elementos do corpo, isto é, marcações não manuais, não fazem
parte da estruturação gramatical das línguas de sinais.
tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais o espaço tem a mesma
E
funcionalidade linguística.
histórica, pois que trata da história da língua ao longo do tempo, desde a sua origem às
A
transformações.
gerativista, idealizada por Noam Chomsky no final da década de 50, a qual considera a
B obediência a regras que definem as sequências de palavras e defende que cada indivíduo
possuiria essas regras internalizadas.
comparativa, pois estabelece uma comparação da língua com outras línguas de uma
C
mesma família.
normativa, pois entende a língua como um conjunto de regras que são seguidas,
D
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D
considerando as variações linguísticas.
starstarstarstarstar
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A partir de Pizzio (2006), já afirmamos que as referências utilizadas no discurso precisam ser especificadas
em um local no espaço de sinalização, o qual se define na frente do corpo do sinalizador.
Agora, complementamos dizendo que essa posição do sinalizante está estreitamente ligada ao sistema de
referência pronominal em Libras. Isso implica dizer que, quando falamos em referentes presentes e não
presentes, nos referimos a essas relações pronominais que se reverberam no espaço e operam na
elaboração das sentenças em língua de sinais.
Dessa forma, podemos afirmar que delimitar locais atribuídos aos referentes presentes e ausentes no
espaço é de extrema importância para a sintaxe espacial das sentenças, pois implicará a produção de
sentido do discurso proferido.
Segundo Pizzio; Rezende e Quadros (2009, p. 3), os pronomes nas línguas de sinais ainda são uma
problemática entre os pesquisadores da área, em razão das perspectivas distintas sobre a mesma questão:
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A seguir, entenda o que cada linha de pesquisa tem a dizer sobre o assunto:
1ª linha
Considera que só existem pronomes de 1ª pessoa, tanto no singular quanto no plural. As demais
demarcações pessoais seriam feitas a partir de referências dêiticas, isto é, por meio de uma referência
gestual.
2ª linha
Em contrapartida, outros autores apontam que não existe a categoria pronominal nas línguas de sinais,
sendo todas as pessoas do discurso consideradas dêixis.
3ª linha
E, por fim, há teóricos que afirmam a existência da categoria pronominal nas línguas de sinais.
Referência gestual
Em outras palavras, a identificação do referente se dá pelo significado de algum gesto corporal (apontação)
por parte do falante.
O fato é que esse sistema pronominal ocorre da mesma maneira, ao menos nas formas do singular, nas
línguas de sinais.
Referente presente
A marcação dos pronomes em Libras se apresenta de forma específica conforme a presença ou a ausência
do referente no momento da sinalização. Por isso, é necessário estabelecer relações anafóricas, definidas
quando o sinalizante introduz referentes e determina para eles uma locação no espaço de sinalização.
Exemplo
Numa conversação, o sinalizante pode se referir a duas cidades, a primeira ele pode situar à sua esquerda e
a segunda à sua direita. Essas mesmas locações que o sinalizante usou para se referir às cidades podem
ser retomadas como pontos de referência em outro momento da conversa.
O sinal utilizado para exercer essa função pronominal pessoal é a apontação em direção ao referente no
espaço, com o dedo indicador. Estando o referente presente, a apontação será realizada diretamente a esse
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Primeiro quadro
Segundo quadro
Temos uma representação de marcação da primeira pessoa do discurso, EU. Vale ressaltar
que o pronome pessoal, EU, pode não ser sinalizado quando determinados verbos
incorporarem o argumento que estará na posição sintática de sujeito por meio do movimento,
como é o caso do verbo IR. Também podemos partir do pressuposto de que o sinalizante é
sempre a primeira pessoa, a não ser que indique outra pessoa do discurso como sujeito do
verbo.
Terceiro quadro
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No pronome VOCÊ, o olhar combina com a apontação do sinalizante, porém, para o pronome pessoal do
caso reto ELE, não será necessária essa combinação com o olhar no apontamento, como mostramos
adiante:
Nessa imagem, podemos observar que o sinalizante aponta para A, mas direciona o olhar para B. Ou seja,
está sinalizando sobre uma terceira pessoa no discurso, pois o olhar do locutor continua direcionado para o
seu interlocutor, mas o apontamento é feito em sentido diferente, como demostrado.
Vejamos o exemplo:
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Primeiro quadro
Demais quadros
Vemos o sinalizante retomando esses pontos: primeiro, fazendo referência a João, que
previamente foi estabelecido à sua direita e, logo após, fazendo referência ao segundo ponto,
retomando Maria, anteriormente marcada à sua esquerda.
Dessa forma, é valido salientar a relevância do uso sistemático do espaço de sinalização, no que se refere
ao uso de referentes, principalmente porque favorece a compreensão dos interlocutores em situações
comunicativas diversas.
Situações ambíguas, ou seja, sentenças incitem mais de um sentido, são uma possibilidade em qualquer
língua, seja ela oral ou não. Contudo, essa ocorrência é muito mais incomum nas línguas de sinais,
justamente pela sua estrutura de organização da modalidade visuoespacial.
No entanto, essa precisão apenas se consolida a partir do estabelecimento adequado e coeso dos pontos
de referência no espaço de enunciação. De acordo com Quadros (1997, p. 57), “o uso dos indicativos
espaciais, incluindo os pronomes, permite a correferência explícita e reduz a possibilidade de ambiguidade”.
Nesse enunciado, temos um exemplo de ambiguidade na língua portuguesa, pois não está elucidado se
quem fugiu foi a irmã de Pedro ou a irmã de Ana. Seria necessária, nesse caso, a apresentação de um
contexto para a sua compreensão. Já em Libras, esse problema não aconteceria, veja a seguir.
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Trazemos as letras (E) e (D) como marcadores no espaço: a letra E indicando um referente à esquerda e D
indicando um referente à direita. Sendo assim, na sentença apresentada, demonstra-se que a irmã que
fugiu foi a de Ana, pois o ponto de referência retomado foi E.
Por esse motivo, os pontos referenciais fixados no espaço devem ser mantidos durante o momento de
conversação. Assim, se marcamos Ana no espaço específico, sempre que fizermos referência a ela
deveremos apontar para o mesmo espaço. Se colocarmos outro espaço para Ana, usando a apontação para
um espaço não referente a ela, a sentença não terá o sentido pretendido.
Um outro quesito a ser pontuado é a possível mudança de referência. Essa situação se dá por meio de
algumas estratégias, como a mudança na posição do corpo ou da direção do olhar. O sinalizante pode
sinalizar EU quando, na verdade, quer significar JOÃO (PIZZIO; REZENDE; QUADROS, 2009, p. 6).
É necessário compreender, no entanto, que mesmo que o sinalizante modifique a sua posição em relação ao
momento de fixação dos locais dos referentes no espaço de enunciação, os pontos antes fixados para os
referentes devem continuar os mesmos, como podemos ver a seguir:
Mudança referencial.
De acordo com Correa (2019), para essa ilustração, há a seguinte explicação para os quadros:
Primeiro quadro
O i i d (E D) t fi ã d J ã
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t [ ] M i t [b] 21/36
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O primeiro quadro (E → D) traz a fixação de João no ponto [a] e Maria no ponto [b].
Segundo quadro
O segundo quadro apresenta o sinalizador deslocado para a posição mais na direita (D) em
relação à posição originalmente ocupada no momento da fixação dos pontos de referência no
local de sinalização. Ainda assim, as posições de João e Maria continuam nos pontos [a] e [b].
Terceiro quadro
O terceiro quadro traz o sinalizador deslocado para uma posição mais à esquerda (E) em
relação à posição originalmente ocupada no momento de fixação dos pontos de referência.
Apesar disso, são mantidos os lugares ocupados por João e Maria no espaço de enunciação.
Com isso, entendemos as relações gramaticais existentes entre os referentes marcados no espaço de
sinalização. Essa marcação se dá de modo sistemático nas línguas de sinais, respeitando os referentes
postos no espaço, a fim de que se produzam sentenças coerentes e coesas.
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Referentes presentes e não presentes
No vídeo a seguir, você verá os conceitos de referente presente e não presente apresentados através de
exemplos.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Referente presente
MÓDULO 2
Referente presente
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Essa sinalização realizada pela tradutora se justifica por qual das proposições abaixo?
“Os referentes não presentes, ao serem situados no espaço, são independentes dos meios
C pelos quais a referência é estabelecida e mantida no discurso” (PIZZIO; REZENDE;
QUADROS, 2009, p. 16).
“As relações de proximidade não fazem parte da interpretação dos referentes não
D presentes não explicitamente localizados no espaço por meio de descrição linguística”
(PIZZIO; REZENDE: QUADROS, 2009, p. 16).
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starstarstarstarstar
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Para consolidar as concepções até aqui apresentadas sobre a sintaxe espacial, espaço de sinalização e
referentes presentes e ausentes, trazemos agora uma representação visual e uma breve análise de como os
mecanismos espaciais da Libras se reverberam no discurso, especificamente, no gênero musical, que se
consolidou numa interpretação poética.
Mecanismos espaciais
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A seguir, falaremos um pouco mais sobre cada um dos mecanismos espaciais, por meio de algumas
exemplificações baseadas numa tradução da música Te devoro, do Djavan.
Em alguns momentos da canção, o intérprete desloca o referente e, ao deslocar, os sinais relacionados a ele
o acompanham também. Durante quase toda a canção, o sinalizador usa esse espaço à sua direita.
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de mão com o dedo indicador, ele trouxe a apontação do referente com o polegar aberto e a mão aberta
com dedos fechados para indicar ELA, a pessoa de quem se fala na música.
De acordo com Pizzio, Rezende e Quadros (2009, p. 21) os sinalizantes brasileiros, costumeiramente, não
fazem o uso de pronomes (apontações) comuns em determinados contextos conversacionais, pois “para
este fim, há uma variedade de opções na língua brasileira de sinais que inclui a configuração de mão em B.
Essas formas são usadas quando o interlocutor já estabeleceu a atenção com foco no referente”.
Esse mecanismo é especialmente necessário por se tratar de uma transferência imagética, o que significa
dizer que o sinalizante repassa uma imagem visual, capaz de representar espaço, tamanho, forma,
intensidade etc. por meio da sua sinalização.
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Na imagem acima, podemos ver um conjunto de mecanismos: expressão facial e corporal, associada ao
uso de dois classificadores que representam uma pessoa triste por estar longe da outra.
No exemplo abaixo, trazemos o verbo OLHAR, que parte de uma segunda/terceira pessoa em direção ao
sinalizante.
Assim, o verbo é realizado pelo movimento que parte do local em que ALGUÉM foi marcado e vai em direção
ao tradutor que incorporou o personagem da canção.
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Sendo assim, é imprescindível visualizar a língua por meio de uma concepção mais ampla de linguagem,
cujo contexto e interação encontram-se intrínsecos.
Assim como Bakhtin (2003, p. 283), entendemos que “aprender a falar significa aprender a construir
enunciados porque falamos por meio de enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por
palavras isoladas”. Por isso, expusemos os mecanismos espaciais a partir do texto de forma pragmática.
Exemplo
Hoje podemos nos apropriar da inovação tecnológica para introduzir aplicativos ou plataformas em nosso
estudo das línguas de sinais. Podemos mencionar pelo menos dois aplicativos (apps): o Handtalk e o
ProDeaf.
É inquestionável a relevância desses recursos para o fomento da língua, como interface de ensino,
tecnologia assistiva, estratégia de comunicação em determinados contextos, entre outras funcionalidades.
Contudo, esses apps não dão conta de vários dos elementos prescritos pelos estudos da sintaxe espacial,
como a retomada de referentes, o uso adequado das expressões faciais, marcação de referentes presentes
e ausentes e o uso de classificadores.
Isso porque o máximo que essas plataformas nos oferecem é português sinalizado, não atendendo,
portanto, às expectativas da utilização do espaço de sinalização.
Entender a língua por esse viés pragmático e contextualizado é compreender a complexidade linguística da
Libras que, apesar de seguir princípios básicos gerais das línguas orais, se constitui a partir de elementos
constitutivos de itens lexicais próprios, a partir de mecanismos morfológicos, sintáticos e semânticos por
meio de uma modalidade visuoespacial.
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Mecanismos espaciais em situações de comunicação
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Veja explicações e exemplificações dos mecanismos espaciais em situações de comunicação neste vídeo.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
MÓDULO 3
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Cabeça e olhos voltados no sentido de uma localização particular enquanto sinaliza e uso
D
da configuração de mão na constituição do sinal.
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Considerações finais
Percebemos, ao longo deste conteúdo, que há uma distinção do meio ou canal das línguas orais em relação
às línguas de sinais, dadas as características visuais e espaciais singulares do canal na constituição das
estruturas linguísticas, bem como na sua articulação e percepção.
Assim, vimos a importância de compreender e considerar, nas línguas de sinais, o espaço como uma
interface linguística, capaz de articular sentenças e enunciados a partir de uma perspectiva interativa e
contextualizada, que requer uma complexidade de saberes e habilidades no que se refere aos aspectos
gramaticais das línguas de sinais.
Referências
BERLINCK, R. A.; AUGUSTO, M. R. A.; SCHER, A. P. Sintaxe. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. Introdução à
Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2011.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
DIAS JÚNIOR, J. F.; SOUZA, W. P. A. Libras III. João Pessoa: UFPB, 2017.
LILLO-MARTIN, D. Parameter setting: evidence from use, acquisition, and breakdown in ASL. San Diego, USA:
University of California, 1986.
LILLO-MARTIN, D.; KLIMA, E. Pointing out differences: ASL pronouns in syntatic theory. In: FISCHER, S. D.;
SIPLE, P. (ed.). Theorical issues in sign language research. Chigago, USA: University of Chicago Press. 1990.
v.1: Linguistics.
PIZZIO, A. L. A variabilidade da ordem das palavras na aquisição da língua de sinais brasileira: construções
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Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
PIZZIO, A. L.; QUADROS, R. M. de; REZENDE, P. L. F. Língua Brasileira de Sinais II. Florianópolis: UFSC, 2008.
QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.
QUADROS, R. M. de; KARNOPP, L. B. Língua Brasileira de Sinais: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed,
2004.
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Para aprofundar os seus estudos, leia o capítulo 2, Línguas de Sinais, do livro de Ronice Quadros chamado
Educação de surdos: a aquisição da linguagem, publicado pela Artmed em 1997. Você pode encontrá-lo no
portal de Libras da UFSC.
Miriam Royer e Ronice Quadros trazem importantes contribuições no artigo Ordem das palavras nas
sentenças em Libras no corpus da grande Florianópolis, publicado na Revista da Abralim, v. 18, n. 1, 2020,
disponível no portal da publicação.
Assista ao vídeo 2º JLLS/O uso do mecanismo espacial: observando aspectos visuais e transcrição para
ELiS, disponível no canal Libras e Tradução – Faculdade de Letras UFG, no YouTube.
Você pode conferir o vídeo Te devoro – Libras no YouTube, com a tradução da música para língua de sinais
feita pelo intérprete Tiago Bruno, da Universidade Federal de Alagoas (UFA).
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02239/index.html#imprimir 36/36