Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Universidade de Uberaba
Reitor
Marcelo Palmério
Editoração e Arte
Produção de Materiais Didáticos-Uniube
Revisão Textual
Márcia Regina Pires
Diagramação
José Roberto Rodrigues Junior
Projeto da capa
Agência Experimental Portfólio
Edição
Universidade de Uberaba
Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário
ISBN 978-85-7777-658-0
Prezado(a) aluno(a).
Você verá que, neste capítulo, a linguagem será vista como uma forma
de interação social que se estabelece entre indivíduos socialmente
organizados e inseridos numa situação concreta de comunicação. Nessa
perspectiva, a concepção interacionista da linguagem contrapõe-se às
visões conservadoras da língua, que a consideram como um objeto
autônomo, sem história e sem interferência do social. Assim, em oposição
às concepções tradicionais, a linguagem é considerada como um lugar
de interação humana, como o lugar de constituição de relações sociais.
Em decorrência dessa mudança no modo de ver a linguagem, alguns
UNIUBE XI
O que se espera do estudo deste capítulo, bem como dos outros três,
é que você, enquanto professor, possa compreender de que forma
esses conhecimentos podem influenciar em sua prática pedagógica.
No que respeita especificamente, ao último capítulo, se for perguntado,
certamente saberá dizer que, nessa nova perspectiva, a prática
pedagógica não pode ser feita de forma descontextualizada, com vistas
ao domínio da norma culta, mas que, ao contrário, deve oportunizar ao
aluno o domínio das habilidades de uso da língua em situações concretas
de interação, de forma a entender e produzir textos e a perceber as
diferenças entre uma forma de expressão e outra. Não se abdica da
descrição da língua, mas ela é feita em momentos contextualizados,
contribuindo para a melhoria da produção de textos dos alunos, para a
sua adequação aos objetivos pretendidos junto aos interlocutores.
Bons estudos!
Capítulo
O dinamismo das
línguas – a variação e a
1
mudança linguística
Introdução
Caro(a) aluno(a),
Objetivos
Após o estudo deste capítulo, você deverá ser capaz de:
Esquema
1.1 Considerações iniciais
1.2 Por que as línguas mudam?
1.3 Por que há diferenças linguísticas em regiões diferentes de
um mesmo país?
1.4 Relevância das variáveis linguísticas e não linguísticas.
1.5 As variáveis linguísticas.
1.6 As variáveis não linguísticas.
1.7 A questão do preconceito linguístico e a Sociolinguística na
escola.
Já nos séculos XIII e XIV, por exemplo, Dante Alighieri, além de ser um
importante poeta italiano, realizou importantes estudos comparativistas,
os quais estão descritos em sua obra De vulgari eloquentia (1304‑06).
Segundo Robins (2004, p. 133), "Dante tinha profundo conhecimento das
diferenças dialetais existentes dentro de cada área linguística. Em alguns
capítulos de sua obra, faz pormenorizado e bem documentado estudo
dos dialetos italianos". Lyons (1987) afirma que a consciência de que a
mudança linguística existia era consenso entre diversos estudiosos do
passado, no entanto, não havia ainda a ideia de que a mudança linguística
constituía um fato universal, comum a todas as línguas, ideia que se
desenvolveria posteriormente, a partir do movimento neogramático.
UNIUBE 5
SAIBA MAIS
Dante Alighieri foi um importante poeta italiano. Nascido em 1265, Dante foi
o autor do poema épico A divina comédia, que representou um marco da
língua italiana, em uma época em que apenas os textos escritos em latim
eram valorizados.
SAIBA MAIS
Lesbos é uma ilha grega situada no lado nordeste do mar Egeu, onde
nasceu a poetisa Safo, cujos poemas faziam referência ao amor entre
ela e outras mulheres. Daí o termo “lésbica” para designar uma mulher
homossexual.
EXEMPLIFICANDO!
1. fatores condicionantes;
2. transição;
3. encaixamento;
4. avaliação;
5. implementação.
PESQUISANDO NA WEB
<http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond07.htm>.
EXPLICANDO MELHOR
Mollica e Braga (2003, p. 12) comentam que uma língua está sujeita a
pressões tanto no sentido de variação e mudança quanto no sentido
da unidade. Isto é, se por um lado há um sistema que precisa de certa
unidade estrutural para funcionar corretamente, por outro há forças
externas à língua que a "empurram" no sentido da variação e da mudança
linguística.
EXPLICANDO MELHOR
e não “fexta”. Se por um lado há fatores sociais nessas duas regiões que
provocam esse tipo de fenômeno no Rio de Janeiro, empurrando a língua no
sentido da variação, por outro lado o próprio sistema da língua portuguesa
obriga os falantes a não usarem formas inaceitáveis. Nesse sentido, se um
único indivíduo começar a pronunciar a palavra “faca” como “michlt”, esta
continuaria sendo uma forma inaceitável na língua portuguesa, porque não
é compreendida por nenhum de seus falantes.
que constituía o núcleo dos ditongos [ay] e [aw]. Assim, palavras inglesas
como light e house, cuja pronúncia é algo como "lait" e "rrauz", eram
pronunciadas pelos falantes viniardenses como "leit" e "rreuz".
RELEMBRANDO
Antes de continuarmos nosso estudo, deve ficar claro para você os seguintes
pontos:
• desde a Antiguidade, o homem já havia percebido que as línguas sofrem
mudança, e que há variação em diferentes regiões que falam a mesma
língua;
• variação linguística são as diferenças existentes entre o falar de regiões
diferentes, de mesma língua. Por exemplo, a língua oficial do Brasil é
o português, mas há diferenças entre o português falado na Bahia e o
18 UNIUBE
EXEMPLIFICANDO!
a) Maria obteve boas notas no exame, por isso ela conseguiu ocupar o
cargo.
b) Maria obteve boas notas no exame, por isso Ø conseguiu ocupar o
cargo.
Isso significa afirmar que o sujeito constitui uma variável, cujas variantes
são o preenchimento do sujeito, chamado de "forma plena", e o não
preenchimento do sujeito, chamado de "forma nula". No português
arcaico, quase não se usava a forma plena do sujeito, porque as
desinências verbais davam conta de possibilitar que os falantes
compreendessem a qual pessoa estava‑se fazendo referência. Assim,
se alguém dizia "comeu muito", era possível identificar que quem comeu
muito foi ou ele ou ela. Porém, no atual estágio do português brasileiro,
cada vez mais, os falantes sentem necessidade de preencher o sujeito,
porque a sentença "comeu muito" poderá se referir tanto a ele/ela quanto
a eles/elas e a você/vocês ou, ainda, tu, no caso de algumas variantes
das regiões Norte, como o Maranhão, e Sul, como é o caso do Paraná.
ele
ela
eles
elas comeu muito
tu
você
vocês
IMPORTANTE!
É bom que fique claro que estamos tratando aqui de situações de fala, e não
da forma escrita da língua. As diferenças entre fala e escrita você estudará
mais adiante.
substituídas por formas "corretas", algo como "Maria não irá mais viajar",
"A tia de Marcinha esteve muito ocupada ultimamente" e "Pedro, marido
de Maria, não quis pagar a dívida". No entanto, o fenômeno existe, e
qualquer falante nativo da língua portuguesa não terá dificuldade em
entender qualquer uma das sentenças topicalizadas.
EXPLICANDO MELHOR
SAIBA MAIS
EXEMPLIFICANDO!
Quando o aluno diz ou escreve algo que foge à norma culta, o papel do
professor é mostrar a ele, sem, contudo, puni‑lo, que o que ele disse ou
escreveu é adequado em determinadas situações de comunicação, e
não em outras. Vejamos um exemplo: suponhamos que na sala de aula,
em determinado momento, a professora anuncie aos alunos que irá olhar
quem fez a tarefa de casa. De repente, um aluno diz a frase a seguir:
Professora, não deu pra mim fazer a tarefa.
No entanto, a sentença “não deu pra mim fazer” está correta porque é
inteligível, qualquer falante nativo do português é capaz de entendê
‑la. Ela só estaria errada se o aluno dissesse algo inaceitável na língua
portuguesa, algo como “tarefa eu de fazer deu o casa”, porque não faria
sentido a nenhum falante que a ouvisse. Em uma situação como essa,
a melhor atitude a ser tomada pela professora seria tentar responder ao
aluno usando uma sentença semelhante, algo como o diálogo a seguir:
EXEMPLIFICANDO!
Causo mineiro
Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e
cuzinhando um kidicarne com mastumate pra fazer uma macarronada com
galinhassada.
PONTO-CHAVE
Resumo
Atividades
(1)
– Não se diz "nóis mudemo", menino! A gente deve dizer: nós mudamos,
tá?
–Tá, fessora!
No recreio, as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis
mudemo! No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.
(2)
Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós muda-
mos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos… Superusada, mal usada,
abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e
sapato da língua materna – a língua que a criança aprendeu com seus pais
e irmãos e colegas – e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular
e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas
de regrinhas estúpidas para aquela idade.
Atividade 1
Depois de ler o fragmento (1) do texto "Nóis mudemo", diga qual deveria
ser a atitude da professora em relação ao aluno, o qual chegou à
escola conhecendo apenas uma variante da língua portuguesa, que era
estigmatizada socialmente. Fundamente sua resposta a partir do texto
da unidade.
Atividade 2
Referências
Introdução
Objetivos
Ao final do estudo proposto neste capítulo, você deverá ser capaz de:
Esquema
2.1 O que é a coesão textual?
2.2 Conceituando o fenômeno da referenciação
2.3 Tipos de referenciação
2.3.1 A dêixis
2.3.2 A anáfora
2.4 Mecanismos linguísticos de construção da referência
2.4.1 Dêiticos
2.4.2 Anafóricos
2.5 A referência na fala e na escrita
EXPLICANDO MELHOR
Processos de sequencialização
Mecanismos e/ou elementos que asseguram (ou tornam recuperável) uma
ligação linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície
textual, “ligando” as ideias novas às outras, fazendo o texto progredir.
Superficie textual
Sequência linguística linear, na qual os elementos da língua encontram-se
interrelacionados, formando um enunciado que possui sentido completo.
40 UNIUBE
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXPLICANDO MELHOR
EXPLICANDO MELHOR
Antonio Fagundes faz parte do elenco da nova novela das sete. O ator
parece estar adorando o seu personagem na trama.
EXEMPLIFICANDO!
4. Vinícius viajou de férias sozinho pela primeira vez. Seus pais estão
apreensivos.
2.3.1 A dêixis
EXPLICANDO MELHOR
Enunciação
A enunciação é o momento no qual o discurso é recebido/enviado/
materializado, não importando que forma ele tenha. Mas ela depende de
um elemento fundamental para existir, que é o enunciado. O enunciado é,
muitas vezes, o eixo do discurso, pois é a ideia central e pode ter muitas
formas. Muitas vezes ele apresenta uma ideia complexa, em outras é apenas
uma palavra, ou pode ser as duas coisas: uma palavra que expõe uma ideia
complexa.
UNIUBE 45
SINTETIZANDO...
2.3.2 A anáfora
A anáfora pode ser definida como a relação existente entre termos que
retomam o mesmo referente. Esse processo não se limita, portanto, ao
uso de pronomes, com função substitutiva, mas reside no emprego de
dois vocábulos ou sintagmas com identidade referencial. Entretanto, o
UNIUBE 47
EXEMPLIFICANDO!
Luiz Inácio Lula da Silva vai viajar outra vez. O presidente tem saído muito
do país ultimamente.
EXPLICANDO MELHOR
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXPLICANDO MELHOR
Correferencialidade
Quando uma forma remissiva retoma um referente, estabelecendo uma
relação de conexão e/ou sentido. Ex: O carro de João é vermelho, mas o
meu não é. (Não há correferencialidade entre o carro de “João” e “o meu”,
pois o meu carro não é o carro de João, mas trata-se de um carro, embora
não seja o mesmo.)
EXEMPLIFICANDO!
O filho deu o livro de presente para a mãe, porque ela queria muito lê‑lo.
Nesse caso, o pronome ela faz remissão à mãe e “-lo” a livro, que se
tornam referentes fáceis de serem identificados por meio do gênero
(feminino e masculino) do pronome, do número (singular) e da
proximidade na sequência linguística.
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
2.4.1 Dêiticos
Ainda segundo Castilho (1993, p. 121-122), por esse rótulo, ele pretende
“enfatizar as propriedades semânticas básicas dessas classes: a de
retomar conteúdos e a de indicar a posição espacial, temporal ou textual
ocupada pelo referente”. Assim, afirma que “os demonstrativos e os
artigos são classes definidas pelo seu ‘papel fórico’ (termo que utiliza
no lugar de referência, dada à ambivalência que o termo tem assinalado
nos textos atuais) e “pelo seu papel dêitico na linguagem”.
EXPLICANDO MELHOR
Papel fórico
Trata-se da função das formas remissivas de retomar um referente já
expresso (anáfora) ou de referir-se a um referente introduzido depois dela
na superfície textual (catáfora).
Papel dêitico
Trata-se da função de mostrar ou de apontar para fora do universo textual,
ou seja, para a situação concreta de enunciação. Os pronomes de primeira
e de segunda pessoa são, por excelência, vocábulos dêiticos, pois situam-se
na dimensão pragmática da linguagem e funcionam como indicadores dos
participantes de um ato de fala: “eu” é o locutor e “tu” é o seu interlocutor.
EXEMPLIFICANDO!
Pedro e Tiago são irmãos, mas esse gosta de estudar, aquele, não. (Papel
fórico ou anafórico.)
UNIUBE 55
A dêixis é, pois, um processo amplo, uma vez que não designa uma
classe de palavras, mas vários elementos da língua, pertencentes
tradicionalmente a classes diferentes, que desempenham a função de
mostrar, tais como os pronomes, os advérbios demonstrativos de lugar
e de tempo, o tempo verbal, certos adjetivos, dentre outros.
2.4.2. Anafóricos
EXPLICANDO MELHOR
Pró‑formas
Trata-se de elementos linguísticos de baixa densidade sêmica e que, por
isso, fornecem pouca instrução de sentido, isto é, têm sentido indeterminado
e podem, assim, referir-se a vários referentes diferentes, de acordo com o
contexto.
Pró‑sintagma
É uma pró-forma que retoma um sintagma. Ex: Pedro é um menino alegre,
e João também o é.
Pró‑constituinte
É uma pró-forma que retoma um constituinte frasal. Ex: A professora
distribuiu as provas rapidamente e os alunos a resolveram do mesmo modo.
Pró‑oração
É uma pró-forma que retoma uma oração inteira. Ex: Empresto-lhe meu
barco, mas é porque sei que você é responsável.
UNIUBE 57
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
O aluno entrou na sala e avisou que o seu trabalho estava pronto. (“Seu”
acompanha “trabalho” – função de artigo – e refere-se a “o aluno”.)
EXEMPLIFICANDO!
Celso Cunha (1976) também concorda com essa função dos artigos,
pois, para ele, a presença do artigo definido é sinal de notoriedade,
de conhecimento prévio, por parte dos interlocutores, do ser ou objeto
mencionado, enquanto o artigo indefinido indica falta de notoriedade, é
índice de desconhecimento individualizado por parte dos interlocutores
do ser ou objeto mencionado. Para esse autor, na medida em que se
emprega o artigo definido em vez do indefinido e, ainda, utiliza-se o
demonstrativo pelo indefinido, a determinação do substantivo vai se
tornando cada vez mais precisa.
60 UNIUBE
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXPLICANDO MELHOR
Nomes deverbais
Nomes derivados de verbos.
Exemplo: O cachorrinho correu até o carro. Na corrida, derrubou a vovó.
EXEMPLIFICANDO!
Além das formas remissivas, Koch (1989), tal como Fávero (1991), aponta
a elipse como recurso anafórico, argumentando que, em português, ela
tem frequentemente valor referencial.
EXEMPLIFICANDO!
A atitude dos alunos foi nobre. (Ø) Pediram ao diretor que perdoasse o
colega agressor.
EXEMPLIFICANDO!
Os referentes podem ser introduzidos num texto por designação, por uma
atividade de nominalização explícita; alguns podem ser inferidos por
relações entre os elementos já introduzidos, por meio de processos de
associação ou outros, aos quais se dá o nome de inferenciação; e, ainda,
outros podem ser o resultado de uma alusão referencial, em que a
referenciação é construída no processamento de informações variadas,
sem que haja a necessidade de identificação de elementos discretos
especificáveis, como no caso de “brutamontes”, no exemplo anterior.
Esse processo é chamado de construção referencial, uma vez que são
construídos discursivamente classes ou conjuntos de fenômenos. Como
exemplo da inferenciação, podemos mencionar o trecho a seguir.
EXPLICANDO MELHOR
Alusão referencial
Ocorre quando a referenciação é construída no processamento de
informações variadas, sem que haja a necessidade de identificação de
elementos discretos especificáveis.
EXEMPLIFICANDO!
Dessa forma, observa‑se que, nos textos escritos mais formais ou que
exigem a identificação de fatos, as estratégias de retomada explícita de
antecedente por repetição de item lexical (estratégia 1) e por pronome
(estratégia 2), além da retomada implícita de antecedente por sinonímia,
paráfrase, associação ou metonímia (estratégia 3), são muito utilizadas
nos processos de referenciação e construção de referentes, enquanto
em textos escritos que visam a efeitos de sentido e operam com atos
de fala e forças ilocucionárias, tais como as piadas e os textos irônicos,
as estratégias (3) e a repetição lexical (4) são mais comuns. Embora a
estratégia (2), que se refere à retomada anafórica de antecedente por
pronome, ocorra muito frequentemente na escrita, não se constitui como
a preferida ou a mais adequada a essa modalidade, sendo mais comum
na fala.]
EXEMPLIFICANDO!
Era uma vez um homem que tinha uma galinha. Era uma galinha como as
outras. Um dia, a galinha botou um ovo de ouro. (...) E a mulher começou a
tratar bem da galinha. Todos os dias a mulher dava mingau para a galinha.
(...) E a galinha todos os dias botava um ovo de ouro (ROCHA apud
POSSENTI, 1988).
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
dois ano
até deiz ano/ depende da criança.
se ela for muito boazinha comigo eu gosto dela
I: e neta casa?
S: bom nessa qui eu gosto BAStante da casa...
gosto dela
minha patroa é muito boa...
não tenho o quê dize dela
I: e das crianças?
S: gosto realmente também
I: quais as idades?
S: essa aui éh: se::is ano... só tem uma
I: uma?
S: só sim senhora.”
(MARCUSCHI, 1998, p. 16)
Resumo
Atividades
Atividade 1
Atividade 2
Aqui, não!
Newton Luiz Mamede
Quem já viu alguns desses programas sabe que eles são degradantes
espetáculos de mau gosto, autênticas palhaçadas, doloridos
sopapos na cara e na inteligência das pessoas normais. Mocinhas
subnutridas ou rapazes com aparência de marginais são as moradas
preferidas do capeta, para atrair mais telespectadores. Alguns desses
“endemoninhados” são até bons atores. Com um pouco de trato,
poderiam seguir carreira na arte de representar. Esbugalham os olhos,
incham as caras, babam e uivam como loucos, rolam no chão como
cobras e saltam como macacos, e, invariavelmente, engrossam a voz e
vomitam palavras pastosas e fantasmagóricas.
ignorante. Pois o tal caboclinho desta história, naquela noite, viu uma
dessas sessões e aí é que perdeu o sono de vez. Amanhecendo o dia,
contou aos parentes o que vira e, para seu espanto, ficou sabendo que
“isso existe mesmo”... Ficou em dúvida, não acreditou nem desacreditou.
Confiava em Deus, tinha fé, aprendera um pouco de religião, mas não
sabia dessas coisas. Todavia, não convinha abusar.
Anos depois, ele foi à cidade, viu uma igreja aberta e entrou, para rezar
um pouquinho. Lá na frente, perto do altar, uma aglomeração de fiéis.
“Uai, o que é aquilo?”, ele pensou. E foi verificar. Era uma sessão de
exorcismo. O capiau esfriou. Nunca imaginara que iria assistir àquilo, de
verdade. Ressabiado e curioso, chegou mais perto e prestava atenção.
De repente, já se dando por vencido, o capeta disse ao exorcista que só
sairia do corpo daquele infeliz se entrasse no corpo de outro. O padre,
então, perguntou‑lhe em quem ele queria incorporar‑se. O possesso
levantou‑se, rosnou, percorreu com os olhos os circunstantes e viu o
caipirinha suado e amedrontado. E informou, apontando‑o: “Quero entrar
no traseiro desse sujeito!”.
(...)
UNIUBE 77
Referências
Introdução
RELEMBRANDO
Isso quer dizer que as partes do texto devem estar de tal modo
relacionadas que formem um todo indivisível, já que uma não
pode ser compreendida sem as outras. Assim, num texto, tudo se
encontra relacionado, pois um enunciado se subordina a outros
na proporção que, além de não ser possível compreendê-lo por si
mesmo, ele auxilia na compreensão dos demais. Dizemos então
que há, em qualquer texto, uma interdependência de sentido,
80 UNIUBE
Objetivos
Ao final do estudo proposto neste capítulo, você deverá ser capaz de:
Esquema
IMPORTANTE!
a) Recorrência de termos
EXEMPLIFICANDO!
1. Só quem faz um chocolate tão gostoso pode fazer um biscoito tão tão
tão delicioso. (IstoÉ, 21 abr. 1999, Biscoitos Suíços)
2. Vermelhos Especiais de Koleston. Cores mais quentes que duram,
duram, duram. (Claudia, set. 2001, Koleston)
84 UNIUBE
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
(...)
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(BANDEIRA, 1977, p. 236)
UNIUBE 87
Observe:
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
(BANDEIRA, 1977, p. 236)
88 UNIUBE
SAIBA MAIS
Aspecto verbal é uma noção que diz respeito à oposição entre ação acabada
e inacabada ou contínua, na expressão dos tempos verbais.
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
Chapeuzinho Vermelho era uma linda garotinha que morava com sua mãe
na cidade. Ela gostava muito de sua avó, que morava na floresta e onde ela
costumava ir todos os dias, levando uma grande cesta cheia de guloseimas.
(...)
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
4. Progressão temática
por desenvolvimento Desenvolvimento das partes de um rema
de partes de um rema superordenado.
subdividido
EXEMPLIFICANDO!
Quando há omissão de um
5. Progressão segmento intermediário da cadeia
com salto temático de progressão temática, deduzível
facilmente do contexto.
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
2. (...) Mais além, do lado direito, havia um enorme castelo medieval, com
toda a sua imponência.
EXEMPLIFICANDO!
1. Você tem razão, o novo professor de Química é muito bom! Mas voltando
ao assunto, quando é que você vai me ensinar a matéria nova, que eu não
entendi bem?
2. Ontem houve uma reunião geral dos alunos ingressantes com o reitor
da Universidade. Fazendo um parênteses: você viu quanta garota bonita?
96 UNIUBE
a) Relação de condicionalidade
EXEMPLIFICANDO!
b) Relação de causalidade
Quando há conexão de duas orações, uma das quais encerra a causa que
acarreta a consequência contida na outra, temos a relação de causalidade.
Essa relação pode ser expressa sob diversas formas estruturais.
UNIUBE 97
EXEMPLIFICANDO!
consequência causa
causa consequência
causa consequência
causa consequência
c) Relação de mediação
EXEMPLIFICANDO!
d) Relação de disjunção
EXEMPLIFICANDO!
e) Relação de temporalidade
EXEMPLIFICANDO!
Quando
Mal
Nem bem
o jogo teve início, parte da arquibancada ruiu.
Assim que
Logo que
No momento em que
EXEMPLIFICANDO!
1. Antes que o namorado lhe enganasse outra vez, Márcia terminou sua
relação com ele.
EXEMPLIFICANDO!
f) Relação de conformidade
EXEMPLIFICANDO!
g) Relação de modo
Relação por meio da qual se expressa, numa das orações, o modo como
se realizou a ação ou o evento contido na outra.
EXEMPLIFICANDO!
a) Relação de conjunção
EXEMPLIFICANDO!
b) Relação de disjunção
EXEMPLIFICANDO!
c) Relação de contrajunção
EXEMPLIFICANDO!
Os dois irmãos estudaram todos os dias do ano, horas a fio, mas não foram
aprovados no concurso para o Ministério Público Federal.
IMPORTANTE!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
1. Deve ter chovido a noite inteira, pois as ruas estão muito molhadas.
(Explicação.)
e) Relação de comprovação
EXEMPLIFICANDO!
f) Relação de conclusão
EXEMPLIFICANDO!
g) Relação de comparação
h) Relação de generalização/extensão
EXEMPLIFICANDO!
i) Relação de especificação/exemplificação
EXEMPLIFICANDO!
2. Pat trabalha muito e tem conseguido tudo o que quer, como o carro zero
que comprou.
j) Relação de contraste
EXEMPLIFICANDO!
k) Relação de correção/redefinição
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
Resumo
Atividades
Atividade 1
Texto 1
Texto 2
(...)
Atividade 2
“Aluno” ou “estudante”?
Newton Luís Mamede
Agora, a coisa piorou! No início deste ano, fui procurado, por alguns
professores, para explicar a etimologia da palavra aluno, já que um dos
conteúdos que leciono, dentro das disciplinas de Língua Portuguesa, é,
numa denominação genérica e bastante conhecida, gramática histórica.
E, em denominação mais sofisticada, filologia românica. Conteúdo que
trata, dentre outros, da origem da língua portuguesa, em especial das
UNIUBE 113
Aí, sim: quanta “falta de luz”!... Fiquei surpreso, tomei a explicar (agora,
com mais detalhes) a etimologia da palavra, apresentei aos alunos
dicionários de língua portuguesa e de língua latina, teci comentários sobre
o absurdo que lhes fora ensinado. E parei por aí. Já no fim do primeiro
semestre, fiquei sabendo que a heresia (empregar o termo estudante,
em lugar de aluno, devido ao significado acima citado) estava ganhando
campo, na Uniube, tendo sido “ensinada” e “exigida” até em algumas
reuniões ou sessões de estudos, por alguns diretores e professores.
Isso começou a me preocupar, ou a me assombrar, mas deixei passar.
fortalecer etc.’ E então? Como pode alguém inventar que aluno é uma
palavra formada pelo prefixo a‑, que significa negação, e pelo elemento
lun‑, adulteração de lumen, luminis (em latim: luz)? Isso é até “bonito”,
como invenção engenhosa... Mas é puro engodo, mentira, leviandade!
Já pensaram se todo a‑ inicial de palavras em português for o prefixo a‑
com o sentido de negação? O que significaria, então, a palavra amarelo?
E abacaxi? E azul? E abacate?... (Para esta, poderia até ser “inventada”
uma etimologia pornográfica: abacate significaria “não prostituta”, ou,
pior, “sem puta”..., se se entender descaradamente que o a‑ inicial é
prefixo com o sentido de negação, e o elemento bacate é deturpação,
ou adulteração de bacante, mulher adepta do deus do vinho, Baco, de
onde se originaram bacante, bacanal...). Não é uma bela invenção?...
Um criminoso ensinamento?
Atividade 3
Referências
Introdução
Discurso
É a linguagem posta em ação, a língua assumida pelo
falante. Realizar uma atividade discursiva significa interagir
pela linguagem: dizer alguma coisa a alguém, de uma
determinada forma, num determinado contexto histórico
e em determinadas circunstâncias de interlocução. Isso
significa que as escolhas feitas ao produzir um discurso não
são aleatórias, ainda que possam ser inconscientes, mas
decorrentes das condições em que o discurso é realizado.
Quer dizer: quando um sujeito interage verbalmente com
outro, o discurso se organiza a partir das finalidades e
intenções do locutor, dos conhecimentos que acredita que
o interlocutor possua sobre o assunto, do que supõe serem
suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias, da
relação de afinidade e do grau de familiaridade que têm,
da posição social e hierárquica que ocupam. Isso tudo
determina as escolhas do gênero no qual o discurso se
realizará, dos procedimentos de estruturação e da seleção
de recursos linguísticos. Em geral, é durante o processo
de produção que as escolhas são feitas, nem sempre (e
nem todas) de maneira consciente. O discurso, quando
produzido, manifesta-se linguisticamente por meio de textos
(BRASIL, 1998, p. 20-21).
EXPLICANDO MELHOR
Gêneros do discurso
Para Bakhtin (2003), a maneira como o ser humano se utiliza de sua
língua leva sempre em conta as especificações de cada situação de
comunicação, que se realiza em uma determinada esfera da atividade
humana, resultando em enunciados linguisticamente diferentes,
próprios dessa esfera, a que o autor chama de gêneros do discurso.
Objetivos
Ao final do estudo proposto neste capítulo, você deverá ser capaz de:
Esquema
EXEMPLIFICANDO!
arg. 1 – é educada
classe
arg. 2 – tem muita responsabilidade com seus estudos
argumentativa arg. 3 – ajuda a mãe nas tarefas domésticas etc.
(Todos os argumentos têm a mesma força para levar o
alocutário a concluir P.)
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
Esquematizando, teríamos:
a” – ?
a’ – ?
a – diretora da escola.
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
A tinta ainda estar molhada justifica o pedido de que não se encoste nas
paredes.
EXEMPLIFICANDO!
MAS
EXEMPLIFICANDO!
EMBORA
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
1. Desde que começou a namorar, Mirela nem liga mais para as amigas.
2. Visto que você já entendeu esse conteúdo, vamos passar para o próximo.
EXEMPLIFICANDO!
• “é + adjetivo”;
• advérbios ou locuções adverbiais, como talvez, provavelmente,
certamente etc.;
• verbos auxiliares modais, tais como poder, dever etc.;
• construções de auxiliar + infinitivo. Por exemplo, deverão apresentar,
terão de esperar etc.;
• orações modalizadoras (tenho a certeza de que..., não há dúvida
de que... etc.).
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXEMPLIFICANDO!
EXPLICANDO MELHOR
Mundo narrado
Quando o falante narra o mundo, ele se utiliza dos elementos da linguagem
que fazem que a mensagem seja compreendida como um relato, quais
sejam os tempos verbais do modo indicativo: o pretérito perfeito simples,
o pretérito imperfeito, o pretérito mais-que-perfeito, o futuro do pretérito
e as locuções verbais que têm a mesma função desses tempos. Esses
elementos instauram um locutor narrador e levam o seu interlocutor a tornar-
se um simples ouvinte, que acaba por adotar uma atitude passiva, de puro
relaxamento.
Mundo comentado
Todas as vezes que a manifestação linguística não constituir um relato,
empregam-se os elementos do mundo comentado, os quais, quando
empregados, apontam que o locutor está em tensão, uma vez que trata
de assuntos que o afetam diretamente, além de advertirem o ouvinte de
que ele tem de reagir, dar uma resposta, seja ela verbal ou não verbal.
São elementos próprios do desse mundo o presente, o pretérito perfeito
composto, o futuro do presente simples e composto, além das locuções que
também exercem a mesma função desses tempos.
EXEMPLIFICANDO!
EXPLICANDO MELHOR
Proposição
EXEMPLIFICANDO!
Meu marido não é sem educação. Pelo contrário, trata a todos com
deferência e cortesia.
EXEMPLIFICANDO!
Resumo
Atividades
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
A “importância do título”
Newton Luís Mamede
Referências
AUSTIN, J. L. How to do things with words. Oxford: Oxford University Press, 1962.
FÁVERO, Leonor Lopes. A coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 1997.