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Exercício 2

Disciplina: Comportamento Organizacional


Discentes: Amanda Maria Santos; Rafael Melo da Silva; Marja de Abreu
Pinheiro.
Docente: Beatriz Villardi

I. Introdução

A situação atual do setor público tem levado a intensificar uma imagem negativa
dos funcionários que atuam no setor público. Na percepção dos cidadãos e usuários
das organizações públicas um funcionário público ingressa no serviço público para se
beneficiar da estabilidade e pela baixa pressão por alcance de resultados junto a
sociedade.
Ao mesmo tempo as organizações públicas têm sido cada vez demandadas
por cidadãos mais exigentes num contexto social, político e econômico mais precário
que requer do funcionário um desempenho superior de qualidade para atender com
eficácia e eficiência o país. Entender o que leva um funcionário público a se dedicar e
a se empenhar por prestar um serviço de qualidade superior é um ponto de partida.
Assim, será realizada uma pesquisa aplicada no mundo do trabalho público para
revelar: Por que um indivíduo trabalha com empenho e qualidade e se mantém no
serviço público?

II. Base teórica dos estudos realizados na disciplina

Como base teórica foram utilizados textos que abordam temas como: liderança,
motivação, clima organizacional e Síndrome de Burnout dentro das organizações.

2.1 O que é motivação para o trabalho?

Partindo do pressuposto que as pessoas fazem as coisas por diferentes razões,


ao longo dos anos foram feitos diversos estudos a respeito do que é a motivação.
Inicialmente muitos destes estudos foram feitos a partir de recolhimento de dados
estatísticos, que apresentam um conceito geral de motivação, mas não avalia a fundo
o que motiva cada indivíduo particularmente. Herzberg apresenta o conceito de
diferença entre motivação e movimento, onde no primeiro, o indivíduo age de acordo
com seus impulsos internos, e no segundo, depende de estímulos extrínsecos
presentes na organização (salário, bônus, etc.).
Foram desenvolvidas diversas teorias da motivação, divididas em dois grupos:
teorias de conteúdo e teorias de processo.

No primeiro grupo, enquadram-se as seguintes teorias:


Teoria da Hierarquia de Necessidades (Maslow): há uma divisão de categorias
hierarquizadas de necessidades (fisiológicas, segurança, sociais, estima e auto
realização), e ao serem realizadas as primeiras (base), as outras categorias passam
a ser desejadas de serem alcançadas pelo indivíduo, gerando motivação.
Teoria Bifatorial de Motivação-Higiene (Herzberg): baseada no conceito de que
o indivíduo se refere às suas experiências satisfatórias em termos de conteúdo do
trabalho em si, e os fatores extrínsecos são chamados fatores de higiene pois não
estão relacionadas às tarefas em si, mas a fatores externos que são incentivos
(remuneração, relacionamento entre colegas, etc.).
Teoria X (MC Gregor): o homem é em sua natureza desmotivado e precisa de
fatores externos para realização de suas tarefas.
Teoria Y (MC Gregor): o ser humano é motivado por suas necessidades
pessoais de realização, de aceitação em um grupo de trabalho e de alinhamento de
suas metas pessoais com as da organização que faz parte.
Teoria sobre poder, afiliação e realização (McClelland): o autor elucida que todo
indivíduo tem essas três necessidades, podendo aparecer em maior ou menor grau
em cada um. Quando a necessidade de realização é mais intensa, o trabalhador tende
a tornar-se mais esforçado em busca de altos níveis e desenvolvimento, contudo, se
esta necessidade for exacerbada, pode trazer efeitos negativos. Para que isso não
ocorra, é necessário que as duas outras necessidades estejam contrabalanceando a
primeira. A necessidade de afiliação traz ao indivíduo uma preocupação com suas
relações interpessoais, o que em excesso também pode gerar problemas em relação
à uma busca incessante por aceitação do grupo. Por último, a necessidade de poder
faz com que o indivíduo busque posições de liderança, geralmente tem boa fluência
verbal. Somadas às outras duas necessidades, indivíduos com alta necessidade de
poder, tendem a ter alto desempenho dentro das organizações.
Teoria ERG (Alderfer): baseia-se na teoria de necessidades de Maslow, com
diferença em relação ao número de categorias (apenas três), mas também em relação
ao sentido, pois para Alderfer a realização também pode se dar em sentido regressivo
(do topo para a base).
Teoria Z (Ouchi): o autor dá especial importância ao clima organizacional
presente, aos recursos humanos e à cultura organizacional como fatores importantes
para a realização do indivíduo e consequentemente sua motivação. Ele se baseia na
ideia de família organizacional, onde haveria uma harmonia na organização, com
trabalhos de equipe e boa relação interpessoal, para obter como resultado uma equipe
realmente motivada.

No segundo grupo, estão as teorias de processo, que são as seguintes:


Teoria da Dissonância Cognitiva (Festinger): defende-se a ideia de que o
indivíduo constitui sua própria autoimagem e utiliza-a como padrão para sua auto
apreciação, quando ao se comparar com outras pessoas, sua autoimagem é afetada,
há o fenômeno da dissonância cognitiva, que ocasiona em stress em virtude da busca
pela consonância.
Teoria da Equidade: o trabalhador constantemente faz comparações entre suas
contribuições e suas compensações, com as dos colegas, quando há uma percepção
de inequidade, o trabalhador tende a buscar a equidade, modificando seu
comportamento dentro da organização.
Teoria da Expectância (Vroom): a percepção da relação entre os esforços que
o indivíduo faz para realizar suas atividades e o valor atribuído a este esforço
dependerá da multiplicação dos três fatores (valência x instrumentalidade x
expectância). A multiplicação entre estes fatores, é o que resultará no grau de
motivação este indivíduo.
Teoria do Estabelecimento de Metas (Locke): alguns fatores determinam a
como o indivíduo irá realizar suas tarefas. Os seus valores influenciam as suas metas,
que, por conseguinte influenciam nas suas ações, que ocasionam em resultados e no
feedback. A partir daí o processo se reinicia a partir dos valores e assim por diante.
Teoria de Desempenho-Satisfação (Porter e Lawer): é dado grande valor a
aspectos cognitivos, que podem influenciar na busca do trabalhador para realizar suas
tarefas, é um modelo complexo pois depende de diversas variáveis para medir o grau
de motivação do trabalhador.
Teoria de Atribuição Causal (Kelly): assim como a teoria do Desempenho-
Satisfação, há uma valorização dos aspectos cognitivos, assim, onde alguns fatores
podem ser atenuados pela presença de outros. Assim, fatores extrínsecos servem
como incentivadores ou não, para a atenuação de outros fatores, definindo assim o
grau de motivação do trabalhador.
Teoria da Avaliação Cognitiva (Heider): destaca-se a importância de fatores da
interação entre os fatores de caráter individual e ambiental para explicar o que motiva
o trabalhador.
Teoria da Auto percepção (Bem): as pressões externas são tão intensas que o
empregado chega a sentir como se viesse de forma intrínseca, assim como um bom
clima organizacional faz com o que o empregado tenha a necessidade de sentir-se
realizado.

2.2 Tipos de motivação para o trabalho

De acordo com os textos estudados, há diversos tipos de motivação que fazem


com que um funcionário realize seu trabalho com eficiência, há motivações advindas
na possibilidade de desenvolver criatividade no trabalho realizado, da possibilidade
de realização de crescimento pessoal e profissional, da possibilidade de realizar-se
na vida pessoal, de obter segurança, boas relações interpessoais em seu ambiente
organizacional, possibilidade de suprir suas carências básicas (higiene, moradia,
alimentação, etc.), reconhecimento da comunidade, entre outros.

2.3 Como um indivíduo percebe sua carreira profissional no serviço


público e nele continua

Ao realizarmos a entrevista com “Ana”, é notável que alguns fatores contribuem


para sua permanência no serviço público. Através de sua remuneração consegue
suprir suas necessidades básicas, e caso decidisse sair do serviço público, sofreria
uma redução, segundo ela, de cerca de 60% de sua remuneração atual, o que
implicaria em novos padrões de vida e consumo.
A entrevistada também apresenta o fator “relações interpessoais” como
motivador para permanecer no serviço público, pois possui boa relação com
funcionários e uma equipe de trabalho que busca alcançar os objetivos exigidos pela
organização.
Há ainda o fator “realização pessoal” e “segurança” presentes em seu discurso,
visto que ela aponta a possibilidade de ter realizado muitos cursos para
aprimoramento como fatores positivos no serviço público, além da segurança que a
estabilidade traz.

III. BASE EMPÍRICA DA ENTREVISTA REALIZADA COM O


FUNCIONÁRIO

3.1 Dados gerais do entrevistado e da organização onde trabalha

Entrevistamos uma funcionária da Secretaria de Educação do Estado do Rio


de Janeiro (SEEDUC), que hoje tem o cargo de secretária em um colégio estadual no
bairro de Campo grande (Rio de Janeiro/RJ). Com a finalidade de manter sua
privacidade, chamaremos a entrevista de “Ana” ao longo da entrevista e sua análise.
O roteiro foi montado pelo grupo composto pelos discentes: Marja, Rafael e
Amanda, e a entrevista foi feita pela integrante Marja no dia 6 de agosto de 2021.

3.2 Análise e interpretação das respostas dadas.

A servidora Ana apresentou respostas bem completas ao ser questionada


sobre seu trabalho, iniciou no mercado de trabalho informal aos 10 anos de idade
como cuidadora de crianças e arrumadeira junto à sua mãe. Sempre procurou
trabalhar, mas teve dificuldades em entrar para o mercado formal, até que conseguiu
ingressar numa vaga em um supermercado. No entanto, na mesma época já havia
feito concurso para a SEEDUC e quando completou 3 meses em sua função no
Supermercado, foi convocada para tomar posse como servidora do Estado. Ela
apresenta como razões para esse ingresso, a oportunidade de emprego e a
estabilidade oferecida pelo serviço público.
Embora duvidasse de sua capacidade de passar em um vestibular, conseguiu
ingressar na UFRRJ, onde cursou Administração com graduação dupla em
Administração de Empresas e Administração Pública.
Iniciou seu trabalho no serviço público como agente de pessoal em um CIEP,
de onde saiu por se tratar deu um local perigoso e também para que pudesse ficar
mais próxima da universidade. Passou a integrar a equipe do atual colégio onde
trabalha ainda como agente de pessoal, e após cursos de especialização assumiu a
função de Secretária.
No setor privado, Ana teve experiência de apenas três meses, mas afirma ter
aprendido muito sobre relacionamentos interpessoais, um aprendizado que lhe foi
muito útil para seu trabalho no serviço público.
Ana apresenta como vantagens de trabalhar no serviço público, as
oportunidades de se especializar e estudar podendo desenvolver seu lado
profissional, além de ampliar sua visão de mundo e a desenvolver sua capacidade de
relacionamento com as pessoas. Além disso, ela vê o serviço público como uma forma
de ajudar as pessoas.
Sobre as desvantagens do serviço público, ela aponta que antes era a falta de
verbas, que fazia com que ela gastasse dinheiro de seu próprio bolso para comprar
materiais e conseguir desenvolver seu trabalho. Atualmente, ela diz que o problema é
outro, se trata de falta de pessoal, pois o Estado não faz concurso para a área há
muitos anos, o que acaba sobrecarregando-a e fazendo com que trabalhe de casa até
mesmo em suas folgas e lamenta que o Estado não reconheça este esforço.
A entrevistada está satisfeita com sua função, pois gosta de trabalhar na parte
administrativa, e sente-se realizada ao conseguir cumprir com seu trabalho dentro dos
prazos. Não tem intenção de sair da função, mas pensa que pode desenvolver mais
seu lado profissional fazendo uma outra graduação e mais cursos. Ela tem uma
percepção de que seu trabalho faz parte de um grande processo em que ajuda os
alunos da escola a progredirem na vida, podendo enfim entrar no mercado de trabalho,
mesmo diante da dificuldade que muitos deles enfrentam.
Ana dá especial valor às relações e ao clima organizacional, apontando que
este é um dos motivos também para que não se aposente no momento, mesmo já
podendo fazer isso pelo tempo que trabalha no serviço público. Outras razões
apontadas para não se aposentar são a remuneração que sofreria uma considerável
redução e também o receio de que outra pessoa que assumisse o lugar dela, não
fizesse o serviço da forma correta.
A razão que faria a entrevistada sair do serviço público através de exoneração,
ou pedisse redistribuição de cargo seria uma mudança para um clima organizacional
ruim, em que as pessoas não se relacionassem de uma forma positiva ou caso tivesse
que mudar de escola.

IV. DISCUSSÃO, CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

4.1 Discussão da resposta contida em 3.2

Levando em consideração os conceitos apresentados pela pirâmide de


necessidades de Maslow, a entrevistada apresenta como motivo para o ingresso no
serviço público as necessidades fisiológicas da base (comida, água, sono, abrigo),
visto que ela afirma que sempre trabalhou com o objetivo de ajudar em casa:

“[...]eu trabalhava tomando conta de criança, [...]mas ganhava dinheirinho para


poder ajudar em casa. [...]”.

Em seguida, outras necessidades são satisfeitas através de seu trabalho, pois


ao mencionar o fator estabilidade que o serviço público traz, há uma satisfação de
suas necessidades de segurança:

“[...]eu acho que o serviço público [...], aquela tranquilidade de você ter um
emprego[...]”

Suas necessidades sociais também são satisfeitas, tendo em vista que ela
valoriza em seu discurso as relações com colegas de trabalho e também os
aprendizados que obteve através da relação com os contribuintes e com outros
funcionários:

“[...]meu relacionamento com as pessoas, isso é muito bom, a gente tem um


grupo muito bom. [...]”

E também no trecho:
“[...]tanto que o grupo que eu trabalhei na primeira escola, a gente continua se
encontrando, a gente tem o mesmo grupo, a direção, os outros funcionários,
tudo...[...]”.

Ainda seguindo a pirâmide de Maslow, embora a entrevistada queixe-se da falta


de reconhecimento do Estado, sente-se bem com o que faz e respeitada pelo seu
trabalho, como é apontado no trecho em que diz:

“[...]as pessoas respeitam meu trabalho, entendeu? [...]”

E por fim, seu reconhecimento nas realizações pessoais também estão


satisfeitos, pois a entrevistada aponta como vantagens do serviço público, as
possibilidades que teve de fazer cursos de aperfeiçoamento e com isso sentir-se uma
profissional de mais valor:

“[...]eu fiz muita coisa no serviço público, [...] muito curso que eu fiz também.
Entendeu? Curso de secretaria, agente pessoal, [...] tudo para proporcionar pra você
ser um funcionário do estado e eu acho, como já te falei, tudo é válido (risos). Eu acho
que assim, como pessoa, nossa... eu me valorizei. [...]”.

Assim, ao considerar a Teoria das Necessidades de Maslow, chega-se à


conclusão que Ana é uma funcionária motivada, pois consegue suprir cada nível de
suas necessidades através de seu trabalho como servidora pública.

Na Teoria Y, Mc Gregor defende o conceito de que “o ser humano é motivado


por suas necessidades pessoais de realização, de aceitação em um grupo de trabalho
e de alinhamento de suas metas pessoais com as da organização que faz parte”, o
que indica que a funcionária entrevistada é motivada, pois suas necessidades são
satisfeitas em todos os âmbitos (realização, aceitação no grupo e metas pessoais), e
ela associa isso à sua ocupação no serviço público, como já apontado nos trechos
citados anteriormente da entrevista.

A Teoria Z (Ouchi) dá especial importância ao clima organizacional como fator


de motivação para o funcionário. Ana dá essa percepção ao mencionar em diversos
trechos da entrevista, o fator de relacionamento como razão para continuar realizando
seu trabalho, e até mesmo para não se aposentar, mesmo diante das dificuldades
apresentadas pela mesma em sua entrevista. Como podemos confirmar nos seguintes
trechos:

“Meu relacionamento com as pessoas, isso é muito bom, a gente tem um grupo
muito bom. E assim brigar no ambiente de trabalho [...] se a gente precisa ficar tanto
tempo junto? Entendeu? Tem as pessoas mais difíceis, mas cada um é cada um,
então você respeita as pessoas na sua individualidade, que eu acho que tu vai,
entendeu? Ela não vai mudar e nem você, mas você vai poder chegar e “Bom dia”
(risos). [...]”

“[...] como eu te falei, é um ambiente bom, né... eu tô ali dentro da secretaria,


eu tô no meu lado dali, trabalho, as pessoas respeitam meu trabalho, entendeu? [...]
pelo dinheiro, se eu ganhasse isso, também não me aposentaria não, entendeu?
Porque eu gosto muito disso que eu faço. [...]”

“[...] eu acho que se o ambiente ficasse ruim, eu acho que eu sairia, entendeu?
Porque fica difícil, a gente tem uma rotina extenuante, já está numa idade sentida e
você tendo que brigar com pessoas ou ter um mal humor de pessoa, isso é muito ruim,
eu nunca trabalhei assim. [...]”

A Teoria da Atribuição Causal (Kelly) dá o conceito de que alguns fatores


positivos atenuam fatores negativos, e baseado nisso é possível medir o grau de
motivação do funcionário. Na entrevista de Ana, notamos que há fatores apresentados
que são negativos: sobrecarga de trabalho e falta de pessoal, mas que são atenuados
por fatores positivos na visão da entrevistada, como o bom relacionamento com os
colegas, possibilidade de realização profissional, trabalho respeitado pelos colegas,
remuneração que possibilita realizar-se no âmbito pessoal. Assim, há mais fatores
positivos do que negativos, com os primeiros atenuando os outros, e assim, resultando
em um balanço em que a funcionária apresenta motivação no trabalho.
No artigo “Relação entre a Percepção do Clima Organizacional e o
Comportamento Organizacional Positivo: Estudo no Setor de Obras da Prefeitura de
Tamboara-PR”, os autores analisam a relação do clima organizacional com o
comportamento organizacional positivo. Este fator de influência é facilmente
identificável durante a entrevista com Ana, pois o clima organizacional influencia tanto
para que ela se mantenha no serviço público, como também para ter mais empenho
em realizar suas tarefas, visto que ela afirma:

“[...]você trabalha com equipes também engajadas com a coisa, você acaba
sendo levada, aquela onda né...[...]”

Ana também mostra ter boa relação e feedback com outros setores, visto que
em trechos já citados, a entrevistada afirma ter seu trabalho respeitado pelos colegas.
No entanto, ao falar sobre a falta de reconhecimento do Estado, isso é apresentado
como um fator negativo, que poderia melhorar e gerar mais motivação para a equipe.

Ana ocupa um cargo de liderança de setor na escola em que trabalha


(secretaria), e mostra ser uma líder que acompanha e inspira seus liderados, porque
mais do que resolver problemas administrativos, mostra-se uma pessoa engajada e
que entende o propósito do trabalho realizado na organização, além de entender a
importância do bom relacionamento interpessoal entre os integrantes da equipe.

4.2 Recomendações para manter a motivação para o trabalho e reter na


organização o funcionário entrevistado

A contratação de pessoal para a equipe, de forma a atenuar a sobrecarga de


trabalho no setor e na funcionária supracitada colaboraria para sua permanência por
mais tempo em sua função. Assim, não seria necessário “levar trabalho para casa”
como forma de suprir a carência de pessoal. E a realização de eventos de
confraternização entre os funcionários reforçam a boa relação da equipe,
consequentemente mantendo as razões para a entrevistada permanecer na
organização.

ANEXOS

ANEXO I – Roteiro Utilizado

DADOS GERAIS:

NOME – IDADE – GENERO – No. De DEPENDENTES-


FORMAÇÂO ACADEMICA - ORGANIZAÇÃO – TEMPO DE
CASA – TEMPO NA UNIDADE – CARGOS OCUPADOS

1. Como foi sua trajetória profissional até chegar a


esta unidade?
Quais cargos exerceu? Quais funções realizou?

2. Você teve alguma experiência de trabalho no setor


privado? (Se positivo, como foi? Se negativo, por que?)

3. Em que ponto da sua vida, você decidiu ingressar


no serviço público e por que essa decisão?

4. De que forma trabalhar no serviço público impacta


positivamente na sua vida pessoal? O que te proporciona?

5. Considerando suas condições de trabalho (folgas,


remuneração, férias, relação com colegas de trabalho, etc.)
você diria que esses fatores mais ajudam ou atrapalham
suas realizações na esfera pessoal? Por que?

6. Quais dificuldades você encontra no dia-a-dia no


seu trabalho que lhe deixam frustrada? E desses fatores, o
que você gostaria e ter mais autonomia para mudar?

7. Você se sente um profissional realizado no que faz,


ou ainda tem horizontes que almeja ou que desejava
alcançar, mas não acha que seja mais possível? Por que?

8. O que lhe provoca mais orgulho em seu trabalho


atual? Por exemplo?

9. Pelo seu tempo de trabalho, você já poderia se


aposentar? (Se positivo, o que faz com que você continue
trabalhando?)
10. O que levaria o senhor a pedir demissão/ exoneração
ou redistribuição do atual cargo? Por que?

ANEXO II – Transcrição literal na íntegra da entrevista

Marja: Boa tarde, estou aqui entrevistando a Helena, para poder fazer este
trabalho da disciplina de Comportamento Organizacional. Helena, por favor
você pode se identificar com seu nome e idade?

Entrevistada: Maria Helena dos Santos Martins. Tenho 56 anos.

Marja: Quantas pessoas são dependentes de você?

Entrevistada: Ninguém (risos)

Marja: Qual sua formação acadêmica?

Entrevistada: Eu me formei em administração né...

Marja: De empresas?

Entrevistada: De empresas e pública, pela Rural mesmo e estou


agora...estou/sou agora servidora pública, trabalhando aqui no Colégio
Estadual Doutor Albert Sabin, como secretária agora, nessa função.

Marja: E quanto tempo você tem de casa?

Entrevistada: 34 anos de estado né, e aqui no Sabin eu devo estar com...


desde 94 (gargalhadas) ...

Marja: Tem que fazer os cálculos... (risos)


Entrevistada: E como secretária a partir de 2005, passei a ser secretária aqui.

Marja: Antes disso quais foram os cargos que você ocupou?

Entrevistada: Eu ocupei cargo de agente pessoal, a parte de pessoal aqui,


trabalhava aqui mesmo né...trabalhei 7 anos num CIEP e depois eu vim para
cá por conta mesmo da faculdade, trabalhava numa escola que... bastante
perigosa e tive que sair de lá e vir para cá.

Marja: Justamente essa era a próxima pergunta. Como foi a sua trajetória
profissional até chegar aqui? Você chegou a trabalhar em algum outro cargo
em outro lugar? Como foi? Como é que foi o início de tudo?

Entrevistada: Bom eu sempre trabalhei a vida inteira, a gente morava num


condomínio e minha mãe era uma das caseiras desse lugar e a gente
trabalhava também, ralava né, ralava arrumando casa de madame, essas
coisas todas né, assim que eu sempre trabalhei. E quando eu tinha assim uns
10 anos, eu trabalhava tomando conta de criança, ficava com uma outra
criança, mas ganhava dinheirinho para poder ajudar em casa. Aí fiquei até...
antigamente não tinha essa coisa de jovem aprendiz, então o menor não
arranjava emprego, era muito difícil né, então a gente tinha esse serviço:
arrumar a casa de madame né e fazer essas coisinhas que todo mundo sabe.
Minha mãe era doméstica, minha mãe passava, minha mãe era funcionária,
mas ralava pra caramba também e ela nunca deu mole para os filhos (risos).
Depois foi quando...aí eu fiz 18 anos e terminei ensino médio e eu fui trabalhar,
tentar trabalhar porque emprego era muito difícil, até que eu consegui em um
supermercado...trabalhar, cheguei a três meses no supermercado e aí o estado
me chamou (entrevistada ri) ...aí saí fora (risos). E vim pro estado e nunca mais
parei. Eu tinha 23 anos nessa época, 22 por aí...

Marja: Então no setor privado você teve essa experiência do mercado,


basicamente foi isso ou teve outras?

Entrevistada: Não, Só essa... mercado eu trabalhei três... agora, mercado que


você fala é o que?

Marja: Em empresas privadas...


Entrevistada: Não não, ... trabalhei aqui, trabalhei na FAETEC em um período
de mais ou menos 4 anos, mas concomitante aqui ,Eu trabalhava lá na
prefeitura ia lá para Quintino trabalhar num horário ou outro, saia de lá e vinha
para cá, nossa! (risos)

Marja: Como você classifica essa experiência que você teve no setor privado,
no mercado, foi bom, foi ruim?

Entrevistada: Não deu para sentir muito não, eram só três meses né, foi muito
pouco tempo, mas eu tava aprendendo muita coisa né, essa coisa de
relacionamento é muito bom, tudo é muito bom, tudo é muito válido, você lidar
com gente dá experiência na tua vida né, eu acho que tudo na nossa vida é
aproveitado, tudo na nossa vida a gente tem que tirar alguma coisa e já deu
abertura pra quando eu comecei no estado eu estar preparada para lidar com
gente também né...

Marja: sim

Entrevistada: Porque antes era aquela vidinha de mãe do lado e não sei o que,
era trabalho, mas assim você tinha né...as patroas viram a gente crescer né.
Eu fui morar nesse condomínio que a gente falou, é... eu tinha 1 ano, eu saí de
lá com 15 (risadas). Então as patroas conheciam a gente desde criança, aquela
coisa... era trabalho, ralava, mas era aquela coisa, meio protetor e quando você
sai para o mercado de trabalho é outra coisa, é você e você não tem mãe
(risos). Daí vim parar no serviço público.

Marja: E em que ponto da sua vida... por que você decidiu ingressar no serviço
público? O que que fez... o que te motivou a fazer isso?

Entrevistada: Bom, na época eu não conhecia nada, na verdade foi uma


oportunidade de emprego mesmo, entendeu? Você querer trabalhar, querer ir
e vambora... (risos)

Marja: Entendi..., mas por que você tomou essa decisão e, não, por exemplo,
foi procurar emprego no setor privado?
Entrevistada: Eu acho que foi mais por causa da estabilidade mesmo, pois na
minha época né, lá quando a gente começou, era muito difícil ô Marja, tudo era
muito difícil, emprego era difícil, era muito complicado, o primeiro emprego
então, era muito complicado. Então assim eu penei alguns anos para conseguir
um emprego, aí quando eu consegui nesse supermercado (risos) ...aí veio a
oportunidade de você entrar no estado e ter uma estabilidade, então eu acho
que foi proveitoso. Eu acho...

Marja: De que forma trabalhar no serviço público impacta positivamente na sua


vida pessoal, o que que te proporciona, o que que você acha que seria
diferente? Entende? Se fosse privado não seria assim? O que te traz de
positivo?

Entrevistada: Eu acho que basicamente o serviço público é um serviço


complicado, aquela tranquilidade de você ter um emprego (risos). Você tem a
função, você tem... você ganha pouco mas ganha. Entendeu? Eu acho que
assim, isso dá uma tranquilidade pra você até fazer outras coisas. Eu fiz muita
coisa no serviço público, muita coisa…muito curso que eu fiz também.
Entendeu? Curso de secretaria, agente pessoal, de vez em quando você tá
fazendo um cursinho ali um cursinho... tudo para proporcionar pra você ser um
funcionário do estado e eu acho, como já te falei, tudo é válido (risos). Eu acho
que assim, como pessoa, nossa... eu me valorizei, porque você veja bem, você
trabalhar em um ambiente de mercado e um ambiente de escola (entrevistado
faz sinal com as mãos comparando as duas coisas), te dá uma outra… as
pessoas tem uma outra visão. Eu já tinha terminado, eu quando comecei na
faculdade, é...eu não sabia que ia conseguir passar no vestibular, eu não tinha
essa visão, para mim não, vestibular é quem pode. Você tá entendendo? Aí
quando eu estava lá, um amigo e o pessoal da escola: "Helena faz que você
vai conseguir" e eu falei “eu não vou conseguir”, e consegui (risos), consegui o
vestibular, passei, até me emociono quando eu falo (risos). E passei e consegui
entrar...não...a gente naquela época não tinha ENEM, não tinha nada. Você
passa ou passava entendeu? E eu consegui graças a Deus. E aí você vai
melhorando, vai estudando, as coisas vão melhorando, né.... Quando pessoa,
você vê o macro é diferente... você começa a ver a tua situação maior, não
aquela coisinha, aquela vidinha que eu preciso ganhar dinheiro, você começa
a ver as pessoas, começa a ver a sociedade, e trabalhando no estado eu pude
aplicar isso também né... embora ganhando pouco (risos), isso aí é outra coisa
que a gente vai... (risos)

Marja: Mas isso é uma coisa que te proporciona uma motivação, essa
relação....
Entrevistada: Eu já tinha essa visão né, você tem que ajudar o seu próximo,
poder fazer isso...e assim, foi uma oportunidade na minha vida pra eu ajudar.
Tem gente que ajuda na igreja, a gente ajuda no trabalho... (risos)

Marja: Considerando suas condições de trabalho: folga, remuneração, férias,


relação com colegas de trabalho, tudo isso...ambiente também, as instalações,
a forma... a sala que você trabalha. Você acha que esses fatores ajudam mais
o seu trabalho ou atrapalham e por quê? Na esfera pessoal que eu tô falando....
Como essas coisas atrapalham na sua vida? A forma como atrapalham?

Entrevistada: Veja bem, o estado... não sei se vou conseguir te responder... o


Estado não faz concurso há muito tempo, muitos anos, a última vez que ele fez
concurso foi 95 pra trabalhar em escola, então você acaba tapando buraco na
escola e isso você vai levando pra sua casa, você acaba trabalhado... você
compra ferramenta, já comprei é... computadores pra trabalhar pela escola, pra
poder adiantar meu serviço, na época que o estado pagava pouco mas você
tinha que andar com teu serviço né, e assim ajudar, você trabalha com equipes
também engajadas com a coisa, você acaba sendo levada, aquela onda né...
pessoa quer... não, vamo fazer, vamo acontecer, vamos usar computador,
entendeu? Nossa escola foi uma das primeiras a usar computador aqui pra
gente, e eu sou uma das primeiras pessoas a usar computador, eu sempre quis
aprender, então eu acho que essa coisa entendeu? De você levar pra casa...
entendeu? Eu acho... não sei se me fiz entender...

Marja: Tá respondido... acaba atrapalhando porque você leva trabalho pra


casa...

Entrevistada: Isso! Eu levo trabalho pra casa, você acaba... telefone, não tem
hora... entendeu? Não tem hora, você tá qualquer hora tá lá, não sei o que...
domingo, sábado, a gente tá trabalhando, por que? A gente quer ver o final, e
o final é o aluno... no meu caso é o aluno (risos), entendeu?

Marja: Entendi. É... Quais dificuldades você encontra no dia a dia no seu
trabalho que te deixam muito frustrada? E desses fatores, o que você gostaria
de ter mais autonomia para poder mudar?

Entrevistada: Poxa vida (risos), esbarra no pessoal, eu acho que a pior coisa
que tem no Estado é a parte de pessoal, porque hoje você tem uma escola que
você se precisar de um computador você tem dinheiro para comprar,, a escola
tem dinheiro pra comprar, precisou de qualquer material... que já teve de eu
comprar pra poder suprir essa ausência de material, um lápis, uma caneta, uma
pasta, caixa box, isso tudo a gente já comprou com nosso próprio dinheiro e
hoje não há essa necessidade, mas a parte de pessoal acaba pegando, eu
acho que as piores coisas no Estado agora é essa parte de recursos humanos
mesmo, tá faltando gente e a gente acaba se desdobrando nesse momento. Já
teve época que a gente se desdobrava... tinha pessoal, mas não tinha dinheiro
(risos) e agora a escola tem tudo, mas não pode contratar, não pode fazer nada
e a gente esbarra nisso e eu acho que se tivesse isso, ia ser um pouquinho
mais, pra gente respirar, porque tá muito difícil... (risos)

Marja: Você se sente uma profissional realizada no que faz ou ainda tem coisas
que você almeja ou que você almejava alcançar, mas acha que não é mais
possível? E por que você queria essas coisas?

Entrevistada: Eu sinceramente, eu acho que pra mim o que eu tô, tá legal


(gargalhadas). Se viesse um dinheirinho bom, mas assim o que eu ganho tá
dando pra eu viver, pra eu fazer o que eu quero´, claro que não é tudo que eu
quero, mas nem tudo a gente precisa né...nem tudo que você quer é o que você
precisa né? Ou seja, o que dá pra fazer, você dá, né? Talvez estudar um
pouquinho mais, quem sabe né, só fiz a graduação, não fiz outras coisas, você
fica enterrado aqui. Eu tive outra diretora: “Helena vai fazer uma faculdade para
ir pra sala de aula. ”. Mas engraçado, a parte, muito cedo eu já sabia que eu
queria trabalhar com essa parte administrativa, engraçado... quando eu fui
trabalhar no... em supermercado...

Marja: Você realmente gosta dessa parte...

Entrevistada: Eu gosto dessa parte, entendeu? Assim... aula? Eu


sinceramente (entrevistado dá risada e faz sinal e negativo com a cabeça). Mas
assim, as pessoas que estão de fora: “ah, mas você tem..”... Até pra ganhar
mais dinheiro, professor ganha melhor do que a gente né... e assim, tem muito
mais vantagens, muito mais cursos, até por isso, mas assim isso nunca me
tocou. Eu, assim... se Deus me quiser vou aprender, como eu já aprendi muita
coisa, fiz muita coisa também graças a Deus. Poderia até fazer mais, mas é o
que deu pra fazer, entendeu? E to satisfeita, eu acho que dá pra ir. Se por acaso
eu for me aposentar, quem sabe eu posso pensar em fazer mais outras coisas,
entendeu? Mas assim o que eu tenho agora e o que eu to fazendo pra mim,
entendeu? Tem gente que diz que eu durmo e só acordo Sabin (gargalhadas).
Mas é um veneno que eu gosto, entendeu? É uma pena que o Estado não
tenha esse olhar pra gente, é uma pena. Sinceramente...
Marja: O que lhe provoca mais orgulho no seu trabalho?

Entrevistada: Ai Jesus! Quando eu entrego um certificado pro aluno


(gargalhadas), é uma sensação de dever cumprido né. Porque é assim, o aluno
vem, entra, fazem primeiro, segundo, “nãnãnã”, terminam e esse é o trabalho,
quando você consegue fazer eles passarem, você consegue trabalhar, você
consegue fazer... apesar de muita dificuldade desse pessoal, e você entregar...
isso me dá uma satisfação muito grande. Entendeu? Quando vem ex-aluno:
“Oi, eu me lembro da senhora” (gargalhadas). Eu falo: “Que bom, a gente não
ta tão velha assim” (risos). Mas assim o lembrar não é lembrar, é lembrar de
você passou na sua vida e você também foi importante na minha vida...

Marja: Marcou de alguma forma...

Entrevistada: Exatamente, que senão eles falariam: “pô a senhora fez isso”, e
não, a gente realmente ajudou, de uma certa forma cada um na sua função, a
gente acaba empurrando essas crianças né...

Marja: Seria de que como se fosse a sensação de que você está colocando
eles na linha pro mercado de trabalho...?

Entrevistada: Isso, exatamente, isso me á uma satisfação muito grande, é o


último documento que eles levam. Tem aqueles que perdem né (risadas) ... e
você tem que dar de novo (risos): “Mas tia to precisando” aí você briga, não sei
o que, mas acaba fazendo. E isso me dá uma satisfação muito grande, esse
final, entendeu? Meu relacionamento com as pessoas, isso é muito bom, a
gente tem um grupo muito bom. E assim brigar no ambiente de trabalho...eu
sempre fui assim: “Por que brigar? Se a gente precisa ficar tanto tempo junto?
”. Entendeu? Tem as pessoas mais difíceis, mas cada um é cada um, então
você respeita as pessoas na sua individualidade, que eu acho que tu vai,
entendeu? Ela não vai mudar e nem você, mas você vai poder chegar e “Bom
dia” (risos). Pelo menos isso eu acho que dá pra fazer, eu acho...

Marja: Até pelo tempo que fica aqui dentro...

Entrevistada: Exatamente. Você vai ficar brigando, “eu não gosto de fulano,
eu não de ciclano”... Não tem aluno mais difícil, gente... aluno que não é difícil
você não se lembra dele (risos). “A senhora lembra de mim? ”. “Não, o que que
você fez aqui? ” (Gargalhadas). É mais ou menos isso, entendeu? Que você...
você tem que tornar a vida, assim... no trabalho, melhor que você puder fazer,
o melhor! É uma coisa até que eu te falo, faz isso...o melhor que você puder...
é um bom dia, é falar, é perguntar, um falar, porque as pessoas precisam.

(Alguém interrompe a entrevista, a entrevistada ri e faz sinal de que está sendo


entrevistada)

Entrevistada: Mais alguma coisa que queira esclarecer?

Marja: Não, tá ótimo... é... pelo seu tempo de trabalho, você já poderia se
aposentar, correto?

Entrevistada: Sim...

Marja: E o que faz com que você continue trabalhando?

Entrevistada: Os certificados que não ficam prontos! (Gargalhadas). Assim,


você trabalha muitos anos numa empresa, é complicado isso né, aí você ainda
tem muito o que fazer, a gente vê que se largar assim (risos), se você largar
agora no meio do caminho, as coisas ainda estão sendo feitas, certo? Aí você
fica assim: “Poxa, será que a pessoa vai dar encaminhamento nisso aqui? ”.
Entendeu? E também tem o salário ô Marja, também isso passa também por
isso. O Estado, ele te paga muitas gratificações, mas não te dá o salário... então
por exemplo, o servidor público por causa dessa estabilidade você não tem
fundo de garantia, né... então você sai daqui com um mísero PIS PASEP, uma
coisa bem pequenininha, e só o que você leva desses 30 e poucos anos.
Entendeu? Então você fica assim: “não, eu tenho que fazer tudo”. Tudo que
você tem que fazer com esse dinheiro que você tem agora, e sem falar que
você vai trabalhando e quando você vê: “Ih, tô aposentando... (risos) Jesus, o
que eu fiz da minha vida? ”. E passa também por isso, você…o quanto você
der pra você levar, eu acho que... como eu te falei, é um ambiente bom, né...
eu tô ali dentro da secretaria, eu tô no meu lado dali, trabalho, as pessoas
respeitam meu trabalho, entendeu? E eu tô levando, ainda estou com 56 anos,
eu sinceramente é... pelo dinheiro, se eu ganhasse isso, também não me
aposentaria não, entendeu? Porque eu gosto muito disso que eu faço.
Infelizmente a gente trabalha muito porque está faltando esses recursos
humanos, mas independente disso eu acho que eu seguiria. Entendeu?
Enquanto for dando, eu gosto muito desse veneno (risos) e tem muita coisa pra
fazer ainda. Entendeu? Aí eu não sei, minha diretora é que tá querendo ir
embora né (risos). Ela disse que vai se aposentar, mas eu gosto muito... e
passa também por essa coisa de dinheiro, que você cai assim, tipo... 60% é
gratificação do seu salário, então imagina você ficar sem isso, sem essa grana.

Marja: Uma mudança de padrões...

Entrevistada: Tudo bem que eu posso até ficar, e de repente entra um diretor,
você não vai ficar mais com a diretora... porque cada escola tem uma
classificação, e cada uma tem uma, é... de acordo com a classificação dela,
você tem a gratificação A, gratificação B e a gratificação C. A nossa escola é
gratificação A, então eu ganho o máximo que poderia... é uma escola grande.
Mas de repente acontecer alguma coisa: “ah você tem que sair daqui”, de
repente eu até me aposente... “ah, eu não quero ir pra outro lugar”, porque eu
só trabalhei nesses dois lugares.

Marja: Era isso que eu ia perguntar... (entrevistado e entrevistador dão


risadas). O que te levaria a você pedir uma exoneração ou aposentadoria
também é válido essa pergunta, é... ou uma redistribuição de cargo? Tipo “ah,
não quero mais trabalhar aqui”. Vamos focar mais sem ser a aposentadoria,
vamos falar uma coisa mais extrema: exoneração ou uma redistribuição de
cargo? “Ah eu quero trabalhar em outro lugar”. O que poderia fazer você fazer
isso?

Entrevistada: Ah, eu acho que se o ambiente ficasse ruim, eu acho que eu


sairia, entendeu? Porque fica difícil, a gente tem uma rotina extenuante, já está
numa idade sentida e você tendo que brigar com pessoas ou ter um mal humor
de pessoa, isso é muito ruim, eu nunca trabalhei assim. Eu sempre, graças a
Deus, sempre...todos os lugares que eu...aqui ou em outro lugar…tanto que o
grupo que eu trabalhei na primeira escola, a gente continua se encontrando, a
gente tem o mesmo grupo, a direção, os outros funcionários, tudo... entendeu?
A gente continua se encontrando. Entendeu? Então eu nem saberia trabalhar
com alguém que fica me olhando atravessado (risos), eu não saberia o que
fazer. Falar: “gente, que coisa complicada”. Então a gente procura... porque a
gente tem pessoas difíceis aqui também, sempre tivemos né, qualquer
ambiente você tem. Mas a gente tenta levar. Você não vai mudar o humor dele,
mas você vai falar com ele. “Cê” imagina uma pessoa ali, você não o que que
tá pensando, o que que ela quer, né... às vezes é uma palavra amiga, às vezes
não é nem com a gente, a gente às vezes também interpreta as coisas de uma
forma errada, então você tem que ouvir as pessoas. Tem que ouvir o pai,
mesmo o pai também vem grosseiramente, como já veio aluno assim, e depois:
“Não tia, desculpa, não era nada com você. ” E falei assim: “eu sabia que não
era nada comigo” (risos). Você explodiu tanto que aquele motivo não era pra...
entendeu? Pra tanto...mas assim eu acho que é uma habilidade que a gente
tem que ter e eu acho que ao longo dos anos a gente acaba lapidando essa
coisa, tanto do funcionário quanto do aluno.

Marja: Entendi, perfeito Helena. Muito obrigada.

Entrevistada: Deu certo? (Risos)

Marja: Deu certo, muito obrigada.

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