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Economia e Mercado
Autores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
Prof. Claudio Ditticio
Colaborador: Prof. Adalberto Oliveira da Silva
Possui graduação em Economia pela UNIP (1995) e é mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (2000). Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração
e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade, tanto na modalidade presencial
quanto na Educação a Distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente nas áreas ligadas ao
setor de transporte de passageiros, atuando há 29 anos no ramo.
Claudio Ditticio
Graduado em Economia (1973) pela Universidade de São Paulo. Possui mestrado em Economia Política pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Participou de cursos de Especialização em Métodos Quantitativos,
Banking, Marketing, Processos Administrativos e Operacionais, Derivativos, Avaliação de Empresas e Tecnologia da
Informação. Possui uma larga experiência profissional como administrador e diretor de instituições financeiras
de varejo e atacado e em empresas comerciais. Também atuou em consultoria de economia e de análise política.
Foi professor e pesquisador da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município (TCM) de São Paulo. Atua na
Educação a Distância na UNIP como professor conteudista e coordenador do curso de Tecnologia em Gestão Pública
e ministra aulas nessa modalidade. É professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação, lecionando em
vários campi da UNIP nas disciplinas relacionadas, principalmente Economia, Finanças, Administração, Contabilidade,
Tecnologia da Informação, Matemática e Estatística.
CDU 336.7
U507.20 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Vitor Andrade
Elaine Pires
Sumário
Economia e Mercado
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 11
Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA ....................................................................................... 15
1.1 Muito mais necessidades do que recursos para atendê-las ............................................... 15
1.2 Bens para a satisfação das necessidades .................................................................................... 17
1.3 Os variados fatores de produção ................................................................................................... 18
1.4 Os agentes que atuam na economia............................................................................................ 19
1.5 A convivência com a escassez......................................................................................................... 21
1.6 Os rendimentos decrescentes.......................................................................................................... 25
1.7 Pensamento na margem ................................................................................................................... 26
1.8 O custo de oportunidade .................................................................................................................. 27
2 SISTEMAS ECONÔMICOS .............................................................................................................................. 29
2.1 O que são sistemas econômicos? .................................................................................................. 29
2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico ................... 29
2.3 Os sistemas econômicos na atualidade....................................................................................... 30
2.4 Externalidades que afetam o livre funcionamento das economias baseadas
nos livres mercados de bens e serviços e de fatores de produção .......................................... 34
2.5 Diferentes sistemas econômicos ao longo da história.......................................................... 36
2.6 Sistemas baseados na tradição ....................................................................................................... 36
2.7 Sistemas baseados no comando .................................................................................................... 37
2.8 Sistemas baseados no mercado...................................................................................................... 38
Unidade II
3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO .............................................................................. 43
3.1 A demanda por bens e serviços ...................................................................................................... 43
3.2 A oferta de bens e serviços .............................................................................................................. 48
3.3 O equilíbrio de mercado .................................................................................................................... 50
3.4 As elasticidades da demanda e da oferta de bens e serviços............................................. 53
3.5 Elasticidade-preço da demanda ..................................................................................................... 54
3.6 Elasticidade-preço cruzada da demanda ................................................................................... 59
3.7 Elasticidade-renda da demanda..................................................................................................... 59
3.8 Elasticidades da oferta ....................................................................................................................... 60
Unidade III
5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA........................................................................................................ 79
5.1 Medição do produto nacional ......................................................................................................... 82
5.2 Identidade entre produto, despesa e renda nacional ............................................................ 83
5.3 Valor bruto da produção e valor agregado................................................................................ 86
5.4 Demais medidas agregadas .............................................................................................................. 88
5.5 Indicadores de crescimento e de desenvolvimento econômico........................................ 90
5.5.1 Medidas de crescimento: o PNB e o PIB ....................................................................................... 90
5.5.2 Medidas de desenvolvimento: IDH, Curva de Lorenz e Índice de Gini.............................. 92
5.6 O papel do Estado na atividade econômica .............................................................................. 97
5.6.1 Falhas de mercado.................................................................................................................................. 97
5.6.2 Funções do governo ............................................................................................................................108
5.6.3 Políticas macroeconômicas e seus instrumentos .................................................................... 112
6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ECONOMIA MONETÁRIA...............................................................119
6.1 Funções e histórico da moeda ......................................................................................................119
6.2 Da moeda aos meios de pagamento ..........................................................................................123
6.3 Oferta de moeda .................................................................................................................................124
6.4 Demanda por moeda ........................................................................................................................131
6.5 As teorias de demanda por moeda .............................................................................................132
6.5.1 Teoria Quantitativa da Moeda (Fisher e Escola de Cambridge) ........................................ 132
6.5.2 A teoria monetária de Keynes ........................................................................................................ 137
6.5.3 Os modelos neoclássicos keynesianos ..........................................................................................141
Unidade IV
7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO .....................................................................................................150
7.1 Políticas de estabilização.................................................................................................................155
8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .......................................................................157
8.1 Características de uma economia subdesenvolvida.............................................................157
8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida..........................................................161
8.1.2 Considerações acerca do modelo de substituição de importações................................. 166
APRESENTAÇÃO
Na obra A Riqueza das Nações, Adam Smith destacava que o homem nasceu para viver de forma
coletiva, fazendo as relações de trocas com outros seres humanos para atender às suas necessidades.
É o contexto da divisão do trabalho, que é utilizado como importante referência para que se entenda
o aumento da produtividade na sociedade.
Na primeira parte do livro-texto, trataremos das questões relativas aos conceitos básicos e à
microeconomia, que é o estudo do comportamento dos agentes econômicos e das funções básicas
relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Observação
Subsequentemente, serão estudados os assuntos e variáveis que afetam de forma global a economia
de uma região ou país, a chamada macroeconomia, para que assimilemos temas como:
• moeda e inflação;
• desemprego;
O texto provoca a reflexão sobre os tópicos relacionados com economia, em confronto com a atual
realidade vivida pelas diferentes sociedades.
Você perceberá a relevância do conhecimento e da utilização dos conceitos trazidos pela economia,
não só para o seu dia a dia como para os planos de crescimento.
Basta ver a profusão de notícias e informações nos diferentes tipos de mídias (escrita, falada etc.)
abordando fatos e repercussões econômicas.
É vital sabermos os tipos de mercados nos quais nós e nossas empresas estamos atuando.
O que podemos esperar em termos de tópicos fundamentais para o nosso próprio desenvolvimento,
como desemprego, inflação, crescimento da renda etc.?
À medida que você conhecer melhor a Economia, perceberá que ela se relaciona com um grande
conjunto de conceitos e informações de outras ciências, como Política, Ciências Sociais, Filosofia,
Matemática, Estatística, Administração, Psicologia, Direito etc.
Esperamos que esta disciplina e, particularmente, este livro-texto possam ser de muita valia na
discussão dos tópicos de economia.
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lOMoARcPSD|30571979
INTRODUÇÃO
Assim como ocorreu com outras ciências, as mudanças trazidas pelas revoluções sociais e técnicas,
entre as quais podemos destacar a Comercial e a Industrial, a partir do século XVI até a segunda metade
do século XVIII, trouxeram uma nova dimensão aos estudos de economia.
Saiba mais
É imediata a associação com o uso mais comum do termo, que identifica procurar gastar menos do
que o que fazemos ou fazíamos no passado. A associação, aqui, é com a palavra economizar.
Contudo, a necessidade de menor utilização de recursos, sobretudo financeiros, cobre apenas uma
faceta do estudo dessa ciência.
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A palavra-chave para entender o que é objeto do estudo em economia é escassez, quando não
temos à nossa disposição tudo o que desejamos.
Essa escassez, portanto, faz com que tenhamos de fazer escolhas, entre outras, a respeito do que
produzir e consumir.
Tais escolhas (e suas correspondentes restrições) configuram o que obtemos em termos de economia
e que tipo de atendimento é prestado aos agentes sociais.
Entre as restrições que direcionam as escolhas dos agentes econômicos, podem ser entendidas as
limitações financeiras, legais, de informação etc.
É preciso ressaltar a grande interação da Economia com os conhecimentos trazidos por outras
ciências, como Administração, Filosofia e História. Temos um ótimo exemplo com a Política, que reflete
momentos de crises, e assim uma ciência influencia a outra.
Iniciou-se o estudo sistemático de economia a partir dos grandes avanços nas áreas de Física e
Biologia (séculos XVIII e XIX):
• concepções mecanicistas: relacionadas com as leis da Física, por exemplo, estática, dinâmica,
aceleração, velocidade, forças etc.
A pesquisa histórica facilita a compreensão do presente e auxilia nas expectativas para o futuro.
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A Economia tem muita influência no desenrolar dos fatos históricos. Mantém forte conexão com a
Geografia, no trato das condições geoeconômicas dos diferentes mercados, concentração espacial dos
fatores de produção, localização de empresas etc. Além da Política, interage com o Direito, haja vista as
normas jurídicas estarem ligadas ou pautadas em razões de cunho econômico. A Economia se vale da
Matemática e da Estatística, notadamente para a elaboração de previsões e para constatar adequação
dos fatos às hipóteses formuladas pelas teorias econômicas.
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ECONOMIA E MERCADO
Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA
O confronto entre as necessidades infinitas reveladas pelos desejos dos agentes econômicos e a
disponibilidade de recursos que se dispõem para atendê-las constitui o chamado problema econômico.
Surge, pois, o fenômeno da escassez, que é, nos dias atuais, cada vez mais presente nas preocupações
dos seres humanos.
Quando se analisa, por exemplo, a questão do meio ambiente, irrompe a discussão dos meios que
precisamos adotar para mantê-lo à disposição das faturas gerações – estamos destruindo as matas,
reduzindo a diversidade etc.?
Exigência individual ou social que deve ser satisfeita por meio do consumo
de bens e serviços. Para viver e reproduzir-se, o homem tem necessidades
ligadas à alimentação, vestuário, moradia, educação e lazer. Algumas dessas
necessidades (como a de alimentar-se) são de origem natural e biológica,
enquanto outras são determinadas pela sociedade (como a educação). O
meio social atua sobre as necessidades biológicas: a forma de atender à
necessidade de comer, por exemplo, é dada socialmente pela tradição de
hábitos alimentares. Há, ainda, necessidades individuais impostas pela
ocupação e pela camada social à que pertence o indivíduo. De um modo
geral, para sobreviver biológica e socialmente, o homem precisa de coisas
tão diversas como pão, carne, casa, roupa, escolas, hospitais, ônibus, navios
e trens. Essas coisas em economia são chamadas bens e são produzidas
socialmente pelo conjunto dos homens, por meio do seu trabalho, em
relação com a natureza. A satisfação das necessidades sociais não é algo
natural e imediato, como ocorre em relação ao ar que se respira...
Unidade I
Autorrealização
Status - Estima
Sociais
Segurança
Fisiológicas
Entre as necessidades fisiológicas (da base da pirâmide), temos alimentação, sono, abrigo etc.
Uma vez que estas são atendidas de forma geral, passa-se para as de segurança, como a proteção
contra violências, preservação da saúde, manutenção de emprego como garantia de obtenção de
recursos financeiros etc. Temos, a seguir, as sociais, como é o caso de formação e manutenção de
amizades, aceitação em novos grupos, intimidade sexual e outros. Como necessidades de status e
estima, podemos destacar: autoconfiança, reconhecimento, conquista e respeito dos outros. No topo
da pirâmide, estão as necessidades de autorrealização, envolvendo o atendimento de aspectos como
moralidade, criatividade, espontaneidade, autodesenvolvimento e prestígio.
É vital ressaltar que não há uma relação de transição direta de uma categoria para outra nesta
pirâmide, com a cobertura total das necessidades das faixas inferiores.
De fato, são perenes as necessidades dessas várias subdivisões. A transição para a categoria superior
significa que as necessidades anteriores foram (ou estão sendo) atendidas, ainda que não em sua
plenitude, mas em ritmo suficiente para justificar uma menor preocupação dos indivíduos, propiciando
as preocupações com as das categorias superiores.
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
As necessidades não precisam ser atendidas exclusivamente pelos bens econômicos, isto é, os que
possuem preço e são negociados nos diferentes mercados.
Há, também, os bens livres, disponíveis aos agentes econômicos, como o ar, mencionado anteriormente
por Sandroni (1999).
De forma geral, os bens livres existem na natureza em quantidade superior à necessária para a
satisfação de todas as carências dos indivíduos.
Os bens econômicos, diferentemente dos livres, são escassos, na maioria dos casos.
É ainda Sandroni (1999, p. 419) que explicita: “[...] O que determina isso [condição de escassez] é o
nível de desenvolvimento de uma sociedade e a forma como é distribuída a riqueza social produzida
pelo conjunto da população”.
• sua duração.
• de capital, voltados à produção de outros bens, finais, incluídos os diferentes tipos de insumos e
matérias-primas, suprimento de energia etc.
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Unidade I
Na economia, recurso pode ser entendido como algo que pode ser utilizado na produção de
determinado bem ou serviço.
• Terra:
• Trabalho:
• Capital:
• Capacidade empresarial:
— Esta categoria foi adicionada recentemente às três anteriores, oriundas dos estudos clássicos,
significa os esforços de coordenação dos recursos e os esforços relacionados com as diferentes
formas de empreendedorismo na sociedade.
A tecnologia, de modo geral, é responsável pelo desenvolvimento dos recursos produtivos e mede a
eficiência de sua utilização. Ela é, muitas vezes, admitida como outro recurso de produção, embora seja
melhor entendê-la como sintetizadora dos demais, tal como ocorre com a capacidade empresarial.
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ECONOMIA E MERCADO
Lembrete
Para assimilarmos as funções e transações desempenhadas por esses diferentes e variados atores,
vamos subdividi-los em:
• Famílias.
• Empresas.
• Governo.
• Setor externo.
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Unidade I
Observação
O governo, representado por todos os seus integrantes, pela sua importância e interferência nas atividades
dos agentes empresas e famílias, é tratado em um item separado. O mesmo ocorre com o conjunto de atores
que se associam com o setor externo da economia, isto é, nas suas relações com o resto do mundo.
Famílias Empresas
Ofertam Demandam
fatores de fatores de
Recebimento produção produção Pagamento
pelos fatores pelos fatores
de produção de produção
(R$) (R$)
Mercado de fatores de produção
Fluxo monetário
Fluxo real (bens e serviços)
Esse diagrama revela a interação de dois tipos de fluxos fundamentais: reais e monetários.
No primeiro caso, ocorre a troca física entre bens e produtos versus fatores de produção. No outro,
dá-se a transferência de valores monetários (dinheiro) entre os agentes.
No fluxo real, determinada família requer diversos itens para sua sobrevivência (como
alimentos, vestiário e serviços em geral – água, gás, energia etc.). Para isso, deve ir ao mercado de
bens e serviços, negócio no qual as empresas oferecem seus produtos necessários à cobertura das
necessidades das famílias.
Todavia, para que possam produzir esses bens e serviços, as empresas precisam obter fatores de
produção (terra, trabalho e capital), dirigindo-se a esse específico mercado.
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ECONOMIA E MERCADO
A troca de determinado bem ou serviço ou de fator de produção requer o emprego de dinheiro, que
explica as respectivas interações reveladas pelos fluxos monetários.
Os economistas desenvolveram modelos simplificados, que procuram, muitas vezes, com o auxílio de
gráficos, demonstrar os fenômenos fundamentais da Economia.
Uma dessas referências é a chamada Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), também conhecida
como Curva de Possibilidades de Produção (CPP).
Nesse modelo, procura-se acentuar as variações na realização de dois produtos (ou ainda de dois
conjuntos de produtos), concebendo que os fatores de produção são alocados de forma diferenciada.
O modelo admite, pois, o que varia, considerando-se o melhor uso – mais eficiente – com base na
tecnologia vigente – dos recursos de produção.
Vamos evidenciar a lógica do modelo indicando alternativas de produção de dois tipos fundamentais
de bens: vestuários e armamentos.
Iniciamos com a produção totalmente voltada para vestuários. Neste caso, a Economia, em seu atual
patamar de tecnologia, poderia executar cem toneladas de vestuários, concebendo-se que todos os
recursos estivessem voltados para a geração desses bens.
A decisão de também passar a produzir armamentos faria com que houvesse o deslocamento do
emprego dos recursos (fatores) de produção existentes na Economia.
Então, cada vez mais os recursos precisariam ser transferidos da produção de vestuários para a
de armamentos. Com isso, aumentaríamos a produção deste último tipo de bem e, em contrapartida,
abdicaríamos da execução do primeiro (vestuário).
Se considerarmos, por exemplo, o fator trabalho, é certo que cada aumento de produção de
armamentos ocorrerá às custas de um deslocamento cada vez maior de pessoal, antes empregado no
setor de vestuário.
Uma explicação vital para isso é a seguinte: à medida que o processo avança, cada vez mais são
transferidos recursos de menor produtividade – primeiro, são selecionados os trabalhadores mais hábeis.
Para ilustrar esse fenômeno, vamos admitir, por hipótese, seis alternativas de produção (de A a F) dos
diferentes tipos de bens, em certa economia, à luz da tecnologia vigente:
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Unidade I
Alternativa de produção Produção de vestuários (em toneladas) Produção de armamentos (em toneladas)
A 100 0
B 80 40
C 60 50
D 40 60
E 20 70
F 0 75
Avaliando a tabela, deve-se considerar que nessas comparações podem ser diferentes as unidades
de produção dos bens ou conjuntos de bens, que, no exemplo, foram admitidas (igualmente) como
toneladas.
Exibimos a seguir um gráfico cartesiano que permite melhor visualização dessas combinações de produção:
80
75
70
70
Produção de armamentos
60
60
(em toneladas)
50
50
40 40
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)
Observação
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ECONOMIA E MERCADO
Este modelo de gráfico, denominado cartesiano, homenageia seu criador, René Descartes. Mostra
o relacionamento entre duas variáveis: uma medida no eixo vertical, no nosso caso, a quantidade
(toneladas) de vestuários, e outra no horizontal, ou seja, a quantidade (toneladas) de armamentos.
Usualmente, tais eixos refletem os efeitos de uma variável explicativa (normalmente demonstrada
no eixo x – horizontal) em outra, explicada pelo eixo y – vertical.
René Descartes foi o maior expoente do chamado racionalismo clássico – movimento de reação ao
período do Feudalismo (quando era muito forte e dominante a lógica religiosa) do qual participaram,
entre outros, filósofos como Francis Bacon, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, John Locke
e Isaac Newton.
Saiba mais
Como foi indicado, as opções/alternativas de produção refletidas “em cima da curva” são as que
admitem, em todos os casos, o uso mais eficiente dos recursos e da tecnologia vigente na economia.
Seguindo na análise, vamos admitir, porém, uma alternativa que denominaremos H e que consiste
na combinação de 40 toneladas de armamentos e de 40 de vestuários.
O gráfico a seguir demonstra o posicionamento desse ponto, no espaço entre a curva e os eixos,
horizontal e vertical.
80
75
70
70
Produção de armamentos
60
60
(em toneladas)
50
50
40
40 H
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)
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Unidade I
Neste caso, será uma alternativa situada abaixo da curva e, portanto, ineficiente, em termos de
utilização de recursos, visto que poderíamos aumentar a quantidade de um ou de outro conjunto de
bens, mantido, por exemplo, o outro constante, isto é, podemos obter:
No ponto H (do gráfico), a Economia estará trabalhando com menor eficiência do que lhe é permitido
pela tecnologia vigente.
Essa situação pode ser constada em conflitos, guerras, cataclismas – naturais, orientações inadequadas
de condução da economia etc., que, por sua vez, refletem menor crescimento econômico.
A análise prossegue com o estudo do ponto J (gráfico a seguir), que consiste na combinação de 70
toneladas, tanto de armamentos quanto de vestuários.
Esse ponto situa-se acima da curva prevista pelo gráfico, por isso é inatingível no atual estágio de
tecnologia dessa economia. O ponto somente poderá ser alcançado com o deslocamento de toda a
curva, por exemplo, em razão de maior absorção de tecnologia pela sociedade. Tal deslocamento faria
com que o ponto J fosse incluído em cima da nova CPP.
60
60
(em toneladas)
50
50
40 40
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)
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ECONOMIA E MERCADO
Observação
Concluindo, a CPP (ou FPP) revela os efeitos de nossas decisões de uso de recursos de produção.
Outro modelo usual em Economia é a Lei dos Rendimentos Decrescentes. Trata, como no caso da
CPP, dos efeitos das escolhas entre diferentes alternativas, por exemplo, de produção de bens e serviços
em determinada economia.
O uso de alternativas de produção agrícola oferece uma boa visualização desses efeitos.
A tabela hipotética apresentada a seguir indica diferentes quantidades que podem ser produzidas de
determinado bem ou serviço – vamos usar como exemplo a produção de milho – sempre que se altera
o número de trabalhadores.
Inicialmente, com dez trabalhadores, conseguimos obter uma produção de cem toneladas de milho.
Se acrescermos mais um trabalhador (ou seja, 11), chegaremos à produção de 110 toneladas do cereal.
Nesses dois casos, verifica-se que é mantido o mesmo rendimento por trabalhador (cada um, em média,
produz 10 toneladas).
Empregando-se, por exemplo, mais um trabalhador (o 12º), a produção total de milho em toneladas
salta para 118. Contudo, verificamos que esse rendimento médio diminui com o acréscimo desse novo
trabalhador, passando a ser de aproximadamente 9,83 toneladas, isto é, 118/12.
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Unidade I
E o experimento assim prossegue. Com mais um trabalhador (o 13º), retornamos à produção inicial
de 100, reduzindo, dessa vez de forma mais drástica, o rendimento médio por trabalhador para cerca de
7,69 toneladas.
Note que já tínhamos esse total (100 toneladas de milho) quando dispúnhamos, no início do exemplo,
de dez trabalhadores.
O administrador da fazenda perceberá que não adiantou ter acrescido seus custos com salários e
encargos sociais para remunerar esses três trabalhadores contratados depois do início da empreitada.
Pelo contrário, agora seu lucro será inferior àquele que obteria se tivesse mantido o número anterior de
empregados.
Se prosseguirmos com o exemplo, a situação fica ainda pior com a seleção do 14º trabalhador
nessa produção. Tal equipe consegue produzir um total de 90 toneladas – o que é menos até do que
inicialmente se obtinha com o emprego de apenas dez pessoas.
Passamos, a partir desse ponto, mantidas as condições de produção, por exemplo, área ocupada,
tecnologia etc., a contar com rendimentos médios cada vez mais negativos. Ora, isso não justifica o
aumento do número de empregados, pois os lucros do fazendeiro seriam severamente afetados, até
transformando-se em prejuízo.
Afinal, será cada vez menor a receita pela venda do milho e maior o custo com o emprego dos
trabalhadores. Esse contexto nos conduz ao fenômeno dos valores marginais, que estudaremos a seguir.
A preferência por uma alternativa, como no exemplo descrito anteriormente, associa-se à variação
dos valores marginais.
Entendemos valores marginais como as receitas ou os custos, conforme o caso, fixados pela mudança
à variação adicional de um recurso produtivo.
Nesse exemplo anterior, que procura mostrar o efeito da Lei dos Rendimentos Decrescentes, somente
até certo ponto vale a pena contratar mais trabalhadores com o objetivo de aumentar os rendimentos
(receitas) auferidos na produção de milho.
A tabela daquele exemplo pode ser visualizada também no gráfico a seguir, que acentua a produção
obtida com um número diferenciado de trabalhadores.
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ECONOMIA E MERCADO
140
O gráfico revela um crescimento cada vez menor das receitas à medida que aumenta o número de
trabalhadores atuando na produção de milho. Desse modo, vimos que nem sempre vale a pena contratar
mais trabalhadores. Esse ponto será aquele no qual a receita marginal (adicional) por unidade cresce
mais do que o custo marginal decorrente da contratação de trabalhadores.
Afinal, não há razão para diminuirmos nosso lucro com o acréscimo de uma unidade adicional em
nossos custos que supere o que podemos receber como rendimento.
Os economistas pensam de forma marginal sempre que estão à procura de selecionar as melhores
alternativas de empregos de recursos, que são escassos em relação às necessidades dos agentes econômicos.
Refere-se ao que deve ser sacrificado para que se obtenha algo diferente.
Para ilustrar esse conceito, vamos considerar o custo de oportunidade para melhorar a educação de
um indivíduo.
Quando se decide aumentar o número de horas dedicado ao estudo, com o fito de obter um melhor
resultado nas avaliações, um ou mais objetivos são sacrificados, por exemplo, a disponibilidade em
termos de horas de lazer, praticar esportes, assistir a vídeos, filmes etc.
O custo de oportunidade, porém, difere de um para outro indivíduo (ou agente econômico).
Pensando em termos macroeconômicos (do país como um todo, por exemplo), se uma nação decide
produzir mais unidades de certos bens, deve estar atenta ao sacrifício representado pela impossibilidade
de criar outros bens alternativos.
Esse conceito é diretamente vinculado à Lei dos Rendimentos Decrescentes, já exposta neste
livro-texto. Trata-se de uma relação básica entre escassez e escolha.
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Unidade I
Pode ser visto como a diferença entre o retorno (benefício) auferido com a alternativa escolhida em
comparação com o que se conseguiria com outra abandonada – é o custo da renúncia.
Esse custo é usualmente calculado em confronto com o da melhor alternativa que foi preterida pela
opção realizada.
Lembrete
É certo que a escolha, não necessariamente como foi relatada neste exemplo, é feita exclusivamente
para a alternativa que apresente perspectivas de melhor rendimento financeiro. Afinal, há um grande
número de outras variáveis, econômicas ou não, que podem ter justificado a nossa escolha, por exemplo,
a expectativa de menores riscos, menor tempo dispendido etc.
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ECONOMIA E MERCADO
2 SISTEMAS ECONÔMICOS
Os sistemas econômicos são estudados por uma divisão da economia que analisa os métodos e
instituições pelas quais as sociedades determinam a propriedade, a direção e a alocação dos recursos
econômicos e suas respectivas trajetórias de desenvolvimento econômico.
Em linhas gerais, o sistema econômico representa a forma organizada de uma sociedade para o
desenvolvimento de suas atividades econômicas.
• tipo de propriedade;
• unidades de produção;
2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico
De forma geral, todo e qualquer sistema econômico procura respostas às seguintes indagações básicas:
Assim, deve-se produzir de modo eficiente consoante o nível da tecnologia e as escolhas propostas
pela sociedade.
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Unidade I
• Como produzir?
Retratamos nesta obra um tópico diretamente relacionado com o estágio da tecnologia na respectiva
sociedade, podendo escolher alternativas mais ou menos intensas em trabalho ou em capital.
De qualquer forma, devem ser constantemente procurados métodos e alternativas que tornem
máxima a eficiência produtiva.
Este assunto é vinculado à distribuição da renda propiciada pela atuação dos agentes na
respectiva economia.
Discutem-se, aqui, quais são as alternativas para a distribuição do produto gerado na economia. A
eficiência distributiva deve ser maximizada para que se alcance o bem-estar material e social da coletividade.
As respostas a essas questões serão mais ou menos positivas, em cada caso, conforme o tipo de
sistema econômico adotado pela sociedade.
A tabela a seguir sintetiza os focos relacionados com cada uma dessas questões:
Cabe também ao governo, neste caso, definir o quanto deve ser produzido. O que se pretende é o
planejamento de cotas para determinados tipos de produção.
Cuba e Coreia do Norte são exemplos de nações que se valem desse tipo de sistema econômico.
Comunismo ou Socialismo são termos usualmente associados com esse tipo de sistema.
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ECONOMIA E MERCADO
As grandes dificuldades sociais, trazidas pela Revolução Industrial, incentivaram a difusão de ideias
de reforma da sociedade a partir dos pensamentos de socialistas, como: Saint-Simon, Charles Fourier,
Pierre Proudhon, Karl Marx e Friedrich Engels.
Tais concepções conduziram a Revolução Russa (1917) e, depois, à ex-União Soviética, que foi extinta
em 1981.
Esse tipo de sistema contempla um número não desprezível de dificuldades, dadas as imensas variações
de tipos e, consequentemente, de preços, que precisam ser definidos pelos planejadores centrais.
Quando se fala de preços, abordam-se todos os valores que identificam as remunerações dos fatores
de produção, como ocorre com o trabalho.
Observa-se a necessidade de uma extensa burocracia capaz de atender às funções de controle desse
tipo de sistema.
Observação
Também há os sistemas pautados na liberdade de atuação dos agentes que participam da economia,
sem a intervenção do Estado ou um comando central no estabelecimento de quantidades, preços etc.
dos vários produtos componentes da economia. Capitalismo é o termo usualmente associado com esse
tipo de sistema.
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Unidade I
• formação de preços fixada pela própria atuação das forças e agentes de mercado;
Neste tipo de sistema, cabe ao governo não a operação direta, uma vez que deve garantir a ação dos
agentes econômicos atuando em livres mercados.
Para assimilarmos melhor suas características, o capitalismo pode ser subdividido em:
• financeiro: o grande comércio e a grande indústria são controlados com base no poderio econômico
dos bancos comerciais e outras instituições financeiras;
• internacional: a tecnologia de informação estabelece o padrão das mudanças sociais que ao longo
do tempo reestruturaram o modo de produção capitalista.
Observação
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ECONOMIA E MERCADO
Consoante A. Giddens, “globalização significa a intensificação das relações sociais à escala mundial
que ligam localidades distantes de tal maneira[,] que acontecimentos locais são modelados por eventos
que ocorrem a muitos milhares de quilômetros de distância e vice-versa”.
Por fim, temos os modelos mistos, que combinam elementos da economia de mercado e economia
planejada.
Lembrete
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Unidade I
Nem sempre – aliás, várias vezes – o que é bom para um agente econômico ou social não o é para outro(s).
Há, porém, os chamados custos sociais, que afetam as nossas decisões econômico-financeiras e que
são alheias ao nosso controle direto. São as chamadas externalidades – positivas ou negativas.
São variados os tipos de externalidades positivas que podem ser obtidas em ações, como Gonçalves
(2010, p. 331) exemplifica:
ECONOMIA E MERCADO
Deve, pois, ser procurada a correta atribuição desses custos e benefícios sociais aos projetos e
processos dos agentes privados.
É certo que a distribuição pode ser corrigida a partir de acordos ou de mecanismos previstos nos livres
mercados. Todavia, muitas vezes demandam a intervenção do governo, que age aplicando impostos e
multas (no caso das externalidades negativas) ou gerando subsídios (para as externalidades positivas).
O que esse conceito revela é o fato de existir determinados bens ou serviços que usualmente os
agentes privados não se interessam em fornecer em razão de:
• altos custos;
• outros aspectos – que justificam o que se entendia como monopólios naturais (serão estudados
depois neste livro-texto).
A grande questão é: Em quais circunstâncias o Estado deve atuar diretamente na produção de bens
e serviços para a sociedade?
• Não rivalidade: o custo marginal de provimento do bem é nulo para qualquer nível de produção.
• Não excludente: os indivíduos, independentemente de arcarem ou não com seus custos, não
podem ser privados de seu consumo, como é o caso dos serviços de proteção e segurança.
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Unidade I
Ocorre, então, o efeito-carona, no qual os indivíduos não têm incentivo para pagar o custo do
fornecimento do bem ou serviço.
Em síntese, uma externalidade ocorre quando outro agente econômico (produtor ou consumidor)
influencia os resultados das atividades de outro(s), o que não é precificado naturalmente pelas forças
de livre atuação nos diferentes mercados. Há externalidades negativas (como a poluição) e positivas
(abertura de um colégio na rua em que moro ou tenho um estabelecimento comercial).
As externalidades podem ser corrigidas através da negociação entre os próprios agentes privados ou,
se isso não for possível, por decisões coletivas, via mecanismo de eleição e/ou de definição de padrões,
cobrança de impostos, multas etc.
A adoção de um ou outro tipo de sistema econômico é fruto de intensa interação da sociedade, nem
sempre de forma pacífica, como nos mostram as opções a seguir, extraídas dos comentários de Robert
L. Heilbroner e William Milberg na obra A Construção da Sociedade Econômica.
Heilbroner e Milberg (2008) elegem três soluções adotadas para o tratamento do problema
econômico: tradição, comando e mercado.
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ECONOMIA E MERCADO
Heilbroner e Milberg (2008, p. 27) relatam que: “Provavelmente, em suas raízes, o que encontramos
é a necessidade universal dos jovens de seguirem as pegadas dos mais velhos – uma fonte profunda de
continuidade social”.
A responsabilidade pelo trabalho é transferida de geração para geração – de avós para pais, destes para
os filhos e assim por diante. Contudo, os autores fazem o seguinte alerta: “não foi somente a Antiguidade
que mostrou a tradição como elemento conservador do ordenamento produtivo na sociedade”.
Mesmo hoje, é importante a força da tradição nos países menos industrializados ou desenvolvidos.
Recorrer-se aos costumes, todavia, é uma solução estática para solver os problemas de produção e
de distribuição de bens e serviços na coletividade. Entre as justificativas para este argumento, pode ser
citada a pouca mobilidade social entre os integrantes da sociedade e o lento processo de crescimento e
de ocorrência de mudanças no tecido econômico e social.
Os autores citam vários exemplos de sociedades que se organizaram a partir dessa alternativa de
sistema e relatam que até há pouco tempo tal opção foi exercida na ex-União Soviética.
Muitos atribuem a esse tipo de organização, mesmo em sistemas de maior liberdade e democracia,
a cobrança abusiva de impostos pelo comando econômico.
Unidade I
Novamente, é vital entender que essa é uma alternativa de estruturação da sociedade sob a
ótica econômica.
Uma sociedade desse tipo é capaz de ao menos por determinado período acelerar a implementação
de medidas que podem levar ao crescimento e/ou à diversificação da economia. A manipulação de
recursos pode, também, conduzir a significativas alterações na distribuição dos bens e serviços entre os
diferentes agentes econômicos e sociais.
Comparativamente aos modelos da tradição e do comando, esta é uma solução relativamente nova,
surgida a partir da expansão do capitalismo, que garante uma mínima interferência no comando da
economia.
Como já abordamos, é sobre esse modelo que a maioria dos economistas se volta para tentar explicar
o funcionamento das economias.
Lembrete
É através da sua interação que a teoria procura explicar os fenômenos de formação dos preços dos
variados bens e serviços.
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ECONOMIA E MERCADO
Resumo
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Unidade I
Exercícios
A) Um ponto à esquerda da curva representa uma combinação da produção de dois bens que não
pode ser alcançada pela economia no curto prazo.
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ECONOMIA E MERCADO
B) A produtividade física marginal de cada recurso produtivo decresce com a maior utilização de
cada um deles pela economia.
D) O custo de oportunidade da produção de um bem diminui à medida que mais recursos produtivos
da economia são utilizados na produção do outro.
E) Ela expressa as combinações de produção de dois bens que correspondam à máxima utilidade
possível para os consumidores.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa correta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a curva mostra a limitação de produção numa dada economia, assim, para aumentar a
produção de um bem, devemos produzir menos de outros.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: quando abrimos mão da produção de um bem, em relação a outro, seu custo de
oportunidade aumenta ao longo do tempo.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a curva de possibilidade de produção mostra a máxima produção de dois bens dadas as
quantidades de insumos em uma economia.
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Unidade I
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Livro-Texto - Unidade II
ECONOMIA E MERCADO
Unidade II
3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO
Apregoa a teoria econômica que, nos sistemas baseados no livre funcionamento dos mercados, a
procura por bens e serviços tem o intuito de identificar as alternativas que otimizem a satisfação do
consumidor.
O consumidor visa maximizar sua satisfação consumindo os bens e serviços que julga serem mais
úteis, em conformidade com suas próprias preferências e gostos. Vai buscar uma certa quantidade com
base no preço em vigor do respectivo bem ou serviço e a sua própria renda pessoal.
O consumidor também levará em conta em sua decisão os preços de outros bens – substitutos e
complementares – em relação àquele em que está particularmente interessado.
Naturalmente, há uma série de fatores, além do próprio preço do bem ou serviço, que definem a
quantidade que os consumidores pretendem adquirir de cada bem ou serviço, em um determinado
período, como:
• os processos de urbanização;
• o marketing (propaganda);
• a disponibilidade de mercadorias;
• a moda;
• a geografia e o clima;
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Unidade II
• o sexo;
• a ocupação;
• as estações do ano;
• a religião;
• a origem étnica.
Na maioria dos casos, porém, o preço é, de fato, a variável mais relevante para explicar o
comportamento da quantidade procurada (demandada) de um bem ou serviço pelos consumidores.
Assim, com todas as demais coisas permanecendo iguais (coeteris paribus), a demanda do consumidor
por um bem (X) indica as quantidades desse bem, que ele está disposto a adquirir, quando varia o seu
preço de mercado.
Observação
50,00 30
100,00 20
150,00 15
200,00 10
250,00 5
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ECONOMIA E MERCADO
25
20
20
15
15
10
10
5 5
0
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00
Diferentes preços do bem
Este gráfico apresenta a curva de demanda, mostrando a relação inversa entre as quantidades
procuradas e diferentes alternativas de preços de certo bem ou serviço.
Essa relação explicita que, conforme diminui o preço, aumenta a quantidade demandada do produto.
Se o preço for muito alto, cessará a demanda pelo bem, que pode ser coberta com a procura por
bens substitutos.
É possível também a constatação de que a demanda é feita até um determinado limite superior de
quantidades, após atingirmos o que chamamos de nível de saciedade.
Observação
A partir do que foi verificado, chega-se à definição da Lei da Demanda: as quantidades demandadas
de um bem (X) variam, inversamente, com o seu preço, permanecendo constantes os preços dos demais
bens, os gostos e a renda disponível do consumidor.
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Unidade II
Para alguns bens, não essenciais, é possível que ocorra uma relação direta, não inversa entre as
quantidades demandadas e os preços dos bens ou serviços. Essa relação inversa é válida tanto para a
demanda do consumidor individual como para a do conjunto do mercado.
A demanda total para um determinado grupo de consumidores, uma região, cidade, país etc. é
obtida a partir da soma das quantidades demandadas pelos consumidores individualmente (com os
mesmos preços).
Na prática, é difícil obtê-la por esse método considerando a grande quantidade de agentes econômicos.
Lembrete
No nosso exemplo, admitindo que os dados da tabela revelam um consumidor típico e que são dez,
no total, teríamos a seguinte tabela para a demanda total para o bem X:
Tabela 4
Diferentemente do que ocorreria se adotássemos o processo da soma de cada uma das demandas, a
curva da demanda total (isto é, do mercado) terá o mesmo formato e inclinação daquela que identifica
o consumidor admitido como médio do mercado).
Assim, a cada preço teremos uma quantidade demandada, seja do consumidor individual, seja de
todo o mercado.
No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade
demandada individualmente diminuirá para 20 unidades.
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ECONOMIA E MERCADO
E, se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$ 150,00, haverá expansão da quantidade
demandada de dez para 15 unidades e vice-versa.
Figura 8
O gráfico da demanda, seja para o consumidor (individualmente), seja para um conjunto, explicita
a relação entre duas variáveis (no caso, preço e quantidade demandada para o bem X), mantidas todas
as demais condições.
Contudo, é possível que ocorram mudanças em outras variáveis, o que afetaria o nosso gráfico.
Assim, eleva-se a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando
um maior poder aquisitivo do consumidor, como decorrência do crescimento de sua renda (aumento de
salário, por exemplo).
Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, agora poderia, por hipótese, ser a seguinte:
Tabela 5
Naturalmente, poderia ter ocorrido uma situação diversa, com, por exemplo, a queda da renda do
consumidor individual ou típico/médio, o que deslocaria toda a curva de demanda no sentido contrário,
para baixo e à esquerda.
Assim, diminui a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando
um menor poder aquisitivo do consumidor, como decorrência da queda de sua renda (situação de
desemprego, por exemplo).
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Unidade II
Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, poderia ser representada da seguinte maneira:
Tabela 6
De fato, os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não o preço do bem
X, se alteram, por exemplo, além da renda mencionada anteriormente, os gostos e as preferências dos
agentes econômicos e aspectos relacionados com a propaganda para o bem ou serviço.
Nos gráficos cartesianos de duas dimensões, que identificam relacionamentos entre duas variáveis –
uma explicativa e outra explicada/dependente), – sempre que ocorrerem mudanças em outras variáveis
– não explicitadas no gráfico, em seus eixos horizontal e vertical, haverá deslocamentos para cima ou
para baixo (ou para a direita e à esquerda) de toda a curva.
Finalmente, ainda a respeito da demanda, deve ser considerado o seguinte: dependendo do tipo de
bem que se está analisando, seu comportamento poderá ser muito diferente. Neste caso, costumam ser
identificados os bens ditos normais, cuja demanda diminui no caso de aumento do preço do bem. Se o
preço da carne, por exemplo, aumentar, o indivíduo deverá consumir menos esse bem e vice-versa.
Entretanto, se os bens forem considerados inferiores, a sua demanda poderá diminuir mesmo no
caso de diminuição do preço se, por exemplo, o consumidor contar com um maior poder aquisitivo. É o
caso do consumo pretendido para a chamada carne de segunda (categoria).
Nossa análise, agora, é feita para o comportamento do produtor (ou vendedor) de um bem ou serviço.
Todos os que decidem abrir um negócio têm como objetivo otimizar seus lucros e, para tanto,
precisam obter receitas com as vendas de seus produtos e incorrer em custos em sua fabricação.
Para a grande maioria dos bens, ditos normais, existe uma relação direta entre os seus preços e as
respectivas quantidades ofertadas, que expandem junto com os acréscimos dos primeiros.
Figura 9
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ECONOMIA E MERCADO
Tal como fizemos no caso da demanda, vamos admitir, na tabela a seguir, as alternativas de oferta
para um determinado bem ou serviço, consoante seu preço praticado no mercado:
O gráfico a seguir mostra a curva de oferta – considerando os dados indicados na tabela anterior.
35
Quantidades ofertadas do bem X
30
30
25
20
20
15
15
10
10
5 5
0
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00
Alternativas de preços do bem X
A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam, diretamente, com o seu
preço, permanecendo constantes os custos de produção.
Tal como ocorre no caso da demanda, essa relação é válida tanto para a oferta do produtor individual
como para a do conjunto do mercado.
Naturalmente, há uma série de aspectos, além do preço do próprio bem ou serviço, que determinam
a quantidade que os fornecedores pretendem produzir e vender de cada bem ou serviço em um
determinado período, por exemplo:
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Unidade II
• custos de comercialização e de vendas do bem ou serviço e de outros que lhe sejam substitutos
ou complementares;
Na maioria dos casos, contudo, o preço é a variável mais relevante para explicar o comportamento
da quantidade ofertada (oferecida) de um bem ou serviços pelos vendedores/produtores.
Os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não os explicitados nos eixos
(horizontal e vertical) dos gráficos cartesianos, influem no objeto (no caso, a oferta) em estudo.
Toda mudança, aumento ou diminuição em outra variável, que não seja a do próprio preço do bem
ou serviço, desloca toda a curva de oferta para a direita ou para a esquerda, conforme o caso.
Naqueles que não sejam completamente competitivos, diferentes vendedores podem cobrar
variados preços.
Ao discutirmos determinado mercado, devemos ser claros a respeito de sua extensão tanto em
termos de limites geográficos como em relação à gama de produtos que nele são transacionados.
Alguns mercados, por exemplo, o imobiliário, são tipicamente locais, enquanto outros são mundiais,
como é o caso do ouro.
Outro aspecto relevante diz respeito à questão da prevalência dos preços ao longo do tempo.
Para eliminar os efeitos da inflação, comparamos preços reais (ou preços em moeda constante), em
vez de preços nominais (ou preços em moeda corrente).
Os preços reais são calculados por meio de um índice agregado de preços, por exemplo, o Índice
de Preços ao Consumidor (IPC), subtraindo-se os efeitos inflacionários ou, em outras palavras,
deflacionando-se os preços nominais pelo uso de um deflator de preços.
No Brasil, o índice que mede oficialmente a variação de preços é o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
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ECONOMIA E MERCADO
As transações reais de mercado pressupõem certas condições: todos os compradores podem comprar
o que planejam, ao preço corrente e sob as contingências vigentes do mercado; e todos os vendedores
podem vender o que planejam ao mesmo preço e sob as mesmas contingências.
Assim, o mercado estará em equilíbrio quando, ao preço estabelecido e sob as condições existentes,
todos os compradores e vendedores podem realizar seus planos.
Caso alguns compradores não consigam comprar tudo o que queriam, ou se alguns vendedores não
puderam vender tudo o que desejavam, o mercado está em desequilíbrio.
Nossa análise básica do mercado se baseia no pressuposto de que todas as transações realmente
executadas constituem transações feitas em condições de equilíbrio, nas quais os planos de ambos os
lados são realizados.
Então, os recursos escassos são eficientemente alocados para a satisfação das necessidades ilimitadas
dos inúmeros agentes econômicos que atuam neste mercado.
Nesse particular estado de equilíbrio, os preços e quantidades nem sempre são efetivamente aqueles
que se desejaria praticar, indicando o bem-estar econômico, ou seja, aquele estado de satisfação geral
pelas transações efetuadas pelos agentes envolvidos no mercado.
Entretanto, é fato que tanto produtores como compradores se beneficiam ao participar do mercado,
oferecendo e adquirindo produtos e insumos.
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Unidade II
8,00
B
6,00
E Ex
ce
4,00 sso
A de
D
eO
2,00 zd
sse
ca D
Es
O equilíbrio neste exemplo ocorre quando o preço praticado no mercado for R$ 6,00 e a quantidade
transacionada for 6 mil. Isso é evidenciado pelo ponto E (equilíbrio), situado no cruzamento/intersecção
das curvas de demanda (D) e oferta (O).
No caso do bem X, que usamos anteriormente como exemplo neste livro-texto, há a igualdade
entre as intenções de compra (demanda) e de venda (oferta) quando o preço do mercado é igual a
R$ 150,00.
Apenas nesse preço ocorrerá uma transação de compra e venda no mercado, e a quantidade
negociada (entendida como quantidade de equilíbrio) será de 15 unidades.
Em qualquer outra hipótese, não haverá coincidência de desejos e intenções entre compradores e
vendedores, não se configurando uma real transação de compra e venda para o bem.
Se o preço praticado no mercado for superior ao de equilíbrio (R$ 150,00), haverá um excesso de
oferta (ou escassez de demanda) em relação à demanda.
Quando o preço for inferior ao de equilíbrio, teremos um excesso de demanda (e escassez de oferta)
em relação à oferta para o bem ou serviço.
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ECONOMIA E MERCADO
Lembrete
Vimos a importância de se conhecer aspectos associados com a demanda e a oferta para bens e
serviços comercializados na economia.
As decisões dos agentes (das próprias empresas ou de uma região ou país) serão melhoradas quando
se conseguir determinar as respectivas demandas e ofertas para os diferentes bens ou serviços.
Saiba mais
Sandroni (1999, p. 206) conceitua elasticidade como a “relação entre as diferentes quantidades de oferta
e procura de certas mercadorias, em função [razão] das alterações verificadas em seus respectivos preços”.
A) B)
Demanda
Demanda
Quantidade Quantidade
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Unidade II
É fácil distinguir dois diferentes formatos nesses dois exemplos, independentemente de constatar,
em ambos os casos, uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. A diferença concentra-se
na inclinação das curvas.
No caso da demanda, essa inclinação é afetada por outros fatores, além do preço do bem ou serviço,
como as preferências do consumidor e a disponibilidade de outros bens – substitutos ou complementares.
As mudanças de preço no caso da curva A deste exemplo provocam variações em menor intensidade
da quantidade demandada, conforme o preço do mercado. No caso da B, elas provocariam variações de
outra intensidade, isto é, mais do que proporcionais na quantidade demandada.
A economia oferece alternativas de medição da elasticidade com relação aos fatores que afetam a
demanda ou a oferta de bens e serviços.
Entre os vários tipos de elasticidade, a associada com o preço do bem ou serviço é uma das mais
importantes.
A maior (ou menor) magnitude da elasticidade-preço da demanda está vinculada, entre outros
fatores, com:
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ECONOMIA E MERCADO
∆ %Q d
Ed =
∆ %P
Sendo:
Ed: elasticidade_preço_demanda
∆%Qd: variação_percentual_quantidade_demandada
∆%P: variação_percentual_preço
No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade
demandada diminuirá para 20 unidades. E se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$
150,00, haverá expansão da quantidade demandada de dez para 15 unidades.
Neste caso, o preço teria dobrado (aumentou em 100%), enquanto a quantidade demandada
diminuiu de 30 para 20 unidades (ou 33%), o valor da elasticidade (Ed) será:
−33%
Ep =
100%
Ep = - 0,33
O cálculo da variação percentual do preço (vale também para o da quantidade demandada) é obtido
pela divisão entre o que mudou de um ponto para outro – aumento ou diminuição – e o valor anterior.
O resultado obtido dessa divisão é multiplicado por 100 para que o resultado seja expresso em
notação percentual.
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Unidade II
O resultado de Ed será sempre negativo, dado que há uma relação inversa entre preço e quantidade
demandada.
Se a curva de demanda para um bem Y indicar um aumento do preço de R$ 1,00 para R$ 1,10
(10% em relação ao preço original), ocorrerá uma diminuição da quantidade demandada, 100 para 80
unidades (20% em relação à quantidade anterior). Então, a elasticidade-preço da demanda, nesse ponto
da curva, será:
−20%
Ed =
+10%
Ed = - 2
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ECONOMIA E MERCADO
Há, também, a possibilidade de calcular a elasticidade para um intervalo entre dois pontos da curva
de demanda.
A demanda será considerada elástica em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade
demandada for mais do que proporcional à queda percentual dos preços.
A demanda será inelástica em relação a preço quando a expansão percentual da quantidade demandada
for menor do que a queda percentual dos preços. Visto de outra forma, ela será inelástica quando a
diminuição percentual da quantidade demandada for menor do que a elevação percentual dos preços.
A demanda terá elasticidade unitária em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade
demandada se der na mesma proporção da variação dos preços.
Neste último caso, se a resposta da quantidade demandada for extremamente maior do que a queda
percentual dos preços: Ed tende para o infinito.
Vejamos os gráficos que apresentam situações em que a demanda será elástica ou inelástica em
relação do preço do respectivo bem:
Preço Preço
A) B)
Ed > |1| Ed < |1|
P1 P1
∆p
P0 Demanda P0
Demanda
Q1 Q0 Quantidade Q1 Q0 Quantidade
Figura 13 – Representações de demanda elástica (A) e inelástica (B) em relação ao preço do bem
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Unidade II
Elástica
Preço P
ED > 1
Unitária
Inelástica ED = 1
ED < 1
Quantidade Q
Para verificar melhor os efeitos dos índices de elasticidades de bens ou serviços, destacamos o
exemplo a seguir. Nele, procuramos mostrar o efeito na receita total (RT) de uma empresa, dependendo
da sensibilidade (elasticidade) da demanda de seu produto (s).
A RT da firma é dada pela multiplicação do preço unitário (P) pela quantidade vendida (Q do produto):
RT = P x Q
RTo = Po x Qo
RT1 = P1 x Q1
Se a demanda é elástica, uma diminuição no preço do produto ocasiona um aumento mais do que
proporcional da quantidade vendida e, portanto, uma elevação da receita total da firma. Desse modo,
aumentos no preço de venda do produto poderão provocar uma contração da receita da firma.
Se, porém, a demanda for inelástica em relação a preço e ocorrer uma diminuição do preço do
produto, o aumento da quantidade demandada será proporcionalmente inferior à redução percentual
praticada no preço, consequentemente, diminuindo a receita total da firma.
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ECONOMIA E MERCADO
Há outras medições de elasticidade da demanda, por exemplo, a que mede a variação da quantidade
demandada em relação ao preço não do próprio, mas de outro bem que lhe é complementar ou substituto.
Assim, a elasticidade cruzada da demanda, que denominaremos Ex, mede as variações percentuais
de quantidade procurada de um bem n em relação às variações percentuais no preço de outro bem k:
Para bens complementares – automóvel e combustível –, Ex será negativo. Para bens substitutos –
manteiga e margarina –, Ex será positivo.
Assim como no caso da medição da elasticidade-preço, se Ex for igual a zero, não haverá qualquer
relação entre os bens, nem de substituição, nem de complementaridade.
A medição desse tipo de elasticidade nos permite determinar a intensidade e os efeitos da concorrência
por meio dos produtos substitutos ou complementares, e, com isso, podermos elaborar estratégias de
mercado mais refinadas para o crescimento da empresa ou do setor ou região.
Neste caso, procura-se conhecer as repercussões sobre a quantidade demandada em razão de uma
variação na renda do consumidor.
Os bens normais ou bens superiores apresentam reação positiva a incrementos de renda do consumidor.
O valor de Er pode, ainda, ser um indicador de um subtipo de bem normal. Se Ex for maior do que
zero, porém menor do que 1, trata-se de um bem essencial.
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Unidade II
Os bens inferiores têm sua quantidade demandada diminuída quando aumenta a renda do consumidor.
Vasconcellos (2007, p. 419) comenta a respeito dos chamados bens de Giffen, acentuando tratar-se
da única exceção à regra da relação direta da demanda, em relação à renda do consumidor, coeteris
paribus. Neste caso, a relação é inversa, pois se refere a um bem de tipo inferior. O autor ainda menciona
como exemplo desse tipo de bem o comportamento de uma sociedade inglesa no século XVIII, muito
pobre e grande consumidora de batatas. Com uma expressiva queda de preços da batata, aumentou
o poder aquisitivo dos consumidores, que, saciados pelo consumo, passaram a gastar com outros
alimentos, e a curva de demanda de batatas passou a ser inclinada positivamente, e não negativamente.
Heilbroner (2008), ao analisar as causas que provocaram a Grande Depressão americana – uma
grande paralisação decorrente da longa tendência de crescimento, que durou quase uma década,
com início em 1929 – cita, dentre outros motivos, uma deterioração inexorável do poder aquisitivo na
agricultura, agravada pela demanda inelástica de produtos agrícolas.
Esse comportamento da demanda também levou a Comissão Econômica para a América Latina
(Cepal) a incentivar os países da região a se industrializarem, dado que haveria deterioração dos termos
de troca dos que mantivessem a produção concentrada em bens primários, como as commodities.
Tal como a demanda, a oferta pode apresentar diferentes possibilidades de elasticidade (maior,
menor, unitária etc.) em relação aos fatores que a impactam, como os preços do respectivo bem ou
serviço, os custos das matérias-primas etc.
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ECONOMIA E MERCADO
∆ %(quantidade ofertada)
Eo =
ç
∆ %(preco)
• perfeita elasticidade;
• elástica;
• inelástica;
• elasticidade unitária.
Se o preço de um bem for alterado de R$ 4,00 para R$ 5,00 (aumento de 25%), enquanto a
quantidade ofertada se alterar de 100 para 200 unidades (100%), estaremos diante de uma situação de
oferta elástica.
Contudo, se houver essa mesma mudança de preço (de R$ 4,00 para R$ 5,00), mas que ocasione um
aumento da quantidade ofertada, por exemplo, de 100 para 110 unidades (10%), haverá a oferta inelástica.
Além do que foi visto no que tange ao dimensionamento das mudanças da demanda e da oferta em
relação a fatores que as impactam, esse conceito pode ser adotado em outros tipos de estudos, por exemplo:
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Unidade II
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ECONOMIA E MERCADO
4 AS ESTRUTURAS DE MERCADOS
A interação dos agentes econômicos dá-se nos mercados da economia, seja pelos compradores, seja
pelos vendedores de bens e serviços. É por isso que a adequada participação no sistema econômico
demanda o conhecimento das estruturas de mercado vigentes.
O objetivo é utilizar os conhecimentos, por exemplo, nas decisões do agentes econômicos – nos
processos de formação de preços dos bens e serviços.
Encontramos várias estruturas de mercados, inclusive aquela em que um grande número de empresas
oferece produtos idênticos (e a concorrência entre os ofertantes é considerada perfeita).
Entretanto, há situações em que um produto único, sem substitutos, domina o mercado, o que
caracteriza um monopólio.
• Informações dos consumidores e dos vendedores sobre os demais produtos transacionados nesse
mercado, em termos, por exemplo, de preços e condições comerciais.
• Grau de habilidade que as organizações individuais dispõem para influenciar a procura no mercado
como um todo, pelas mais diversas formas, como a promoção do produto, aspectos qualificativos,
facilidades de comercialização etc.
• Facilidade com que as firmas entram e saem da indústria (setor – ou ramo de produção).
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Unidade II
Quando falamos em mercado, estamos tratando do local onde se dá a interação entre os agentes
para a realização de transações como as de compra e venda de produtos.
O local, aqui indicado, não se refere sempre a um espaço, lugar físico, pois grandes mercados se
situam de modo virtual.
O primeiro caso identifica os mercados nos quais ocorrem as transações diretas com produtos.
• Mercados monetários: trocas de curto e curtíssimo prazo, visando oferecer liquidez aos agentes
econômicos. O grande indicador para esses mercados é a taxa de juros.
Observação
ECONOMIA E MERCADO
• Mercados de câmbio: possibilitam, através das variações da taxa de câmbio, as trocas entre a
moeda nacional e externas (como o dólar norte-americano).
No primeiro caso, pode ser destacado o mercado imobiliário, de transações de bens imóveis. As
negociações envolvendo as trocas de moedas de diferentes países, entre os agentes econômicos, são
exemplo de mercado mundial, havendo grande influência de bolsas internacionais. As transações entre
a moedas são determinadas pelas variações na taxa de câmbio entre elas, que vigora em cada mercado.
Considera a teoria que estuda os livres mercados (capitalistas) que a economia será mais eficiente
quanto maior for o nível de concorrência entre os agentes econômicos, sejam eles consumidores, sejam
produtores.
Nessa estrutura, que é considerada a ideal para o funcionamento de uma economia, nenhum
dos agentes é capaz, isoladamente, de influenciar o preço e a quantidade de produtos que serão
transacionados no mercado.
• Homogeneidade dos produtos. Supõe que não existem significativas diferenças entre os produtos
oferecidos. Os compradores podem, assim, adquirir o produto de qualquer ofertante.
Unidade II
são conhecidos, o que faz com que não haja interesse por venda a preço abaixo daquele
vigente no mercado.
• Inexistem direitos de propriedade ou patentes, por exemplo, que, muitas vezes, impedem a entrada
de novos ofertantes.
• Não existem barreiras legais resultantes da ação governamental, como a exigência de determinadas
condições para o estabelecimento de empresas em diversos mercados.
Todas as hipóteses aqui apresentadas são válidas também para o mercado de fatores de produção
sob a forma de concorrência perfeita.
Nesse tipo de estrutura, há uma única grande empresa atuando como fornecedora do bem.
Usualmente, o mercado consumidor é constituído por agentes de menor porte. Constitui o extremo
oposto da concorrência perfeita.
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ECONOMIA E MERCADO
O bem ou serviço oferecido não conta com um substituto próximo, ou seja, inexiste concorrente no
mercado em questão.
Assim, o monopolista exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado do comprador.
• Direitos autorais e patentes de produção, muitas vezes pelo privilégio de obtenção de uma
carta-patente, que impede o acesso de outros fabricantes à tecnologia de produto ou de processo.
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Unidade II
— Controle de inputs e outlets: a empresa presente no mercado controla o acesso aos fatores
produtivos e aos postos de vendas, dificultando a entrada de outras entidades no canal de
distribuição.
Finalmente, cabem algumas considerações sobre o que se entende por monopólios naturais.
Isso acontece, como já vimos, pelo alto custo inicial necessário para o fornecimento dos
produtos ou serviços, como ocorre, por exemplo, com as companhias ferroviárias, de energia
elétrica ou telefonia.
Consumado o investimento, os custos para oferecimento dos serviços serão decrescentes para o
atendimento a uma extensa quantidade de consumidores e usuários.
O fato de serem monopolistas, porém, não propicia a esses agentes condições de requerer o preço que
desejarem para a comercialização desses produtos pelas seguintes razões: controle e regulamentações
governamentais e limitações impostas pela demanda dos consumidores.
São estabelecidos limites para a liberdade de atuação nos mercados, com a intervenção do Estado
nos casos de concentração que determinem excesso de poder econômico.
As empresas são vigiadas com o intuito de incentivar a concorrência e não podem, por exemplo,
firmar acordos ilícitos para aumento dos preços dos produtos.
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ECONOMIA E MERCADO
Ainda é preciso considerar a atuação das agências reguladoras, a quem cabe o controle dos mercados,
de forma a evitar práticas inadequadas de preços ou de quaisquer ações que prejudiquem a sociedade.
Elas são criadas por leis. Entre suas principais obrigações, destacam-se:
A atuação das agências reguladoras deve ser fortalecida, tendo em vista o atendimento dos
seguintes objetivos:
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Unidade II
No Brasil acentuam-se as seguintes agências reguladoras e suas atribuições: Aneel (energia elétrica),
ANP (petróleo), ANA (água), Anatel (telecomunicações).
4.5 O oligopólio
Muitos consideram que o que se produz no mercado oligopolista é utilizado para o controle do setor
com base em um pequeno número de instituições, podendo gerar abusos em termos de práticas de
preços, por exemplo.
Existe, pois, colaboração mútua, mas voltada à manutenção do poder e eliminação da livre concorrência.
A concorrência entre os oligopolistas dá-se por meio da qualidade, design do produto ou, ainda,
propaganda e prestação de serviços ao cliente.
Observação
ECONOMIA E MERCADO
Observação
O combate aos processos oligopolistas iniciou-se no fim do século XIX e início do XX, a partir da
constituição de grandes conglomerados industriais e financeiros.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), criada na década de 1960, é uma
organização intergovernamental de cunho permanente para administrar – de modo centralizado
– a política de produção e exportação dos países-membros (Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita,
Venezuela etc.). Controla os volumes de produção dos países-membros visando obter melhores
preços da commodity nos mercados mundiais. Desenvolve estratégias geopolíticas na produção e
exportação do petróleo.
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Unidade II
Essa estrutura está relacionada com a interdependência econômica, afetando as decisões sobre
preços e quantidades. A decisão de um vendedor influi no comportamento econômico de outros.
Nesse tipo de estrutura de mercado, verifica-se a presença de muitas empresas (em grande
número, porém ainda assim menor do que na concorrência perfeita) oferecendo produtos
diferenciados, mas substitutos próximos entre si, definindo especificidades nos produtos, como
roupas, restaurantes, pastas de dentes e refrigerantes com marcas específicas que as identificam
perante os consumidores.
Nesses mercados, diferentemente do que ocorre com os monopólios e os oligopólios, há livre entrada
de agentes (participantes) no mercado.
No oligopsônio há uma situação parecida (mas inversa) à do oligopólio. Neste caso, poucos
compradores interagem no mercado com um grande número de vendedores.
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ECONOMIA E MERCADO
Trata-se de um modelo simplificado que classifica as estruturas de mercado com base no número de
agentes envolvidos em cada um dos dois lados – o da procura e o da oferta.
A combinação dessas três situações conduz à construção de uma matriz de nove diferentes estruturas
possíveis, conforme demonstrado na figura a seguir:
Consumidores
O gráfico cartesiano foi adotado com três faixas verticais e três horizontais, identificando os portes,
respectivamente, de vendedores e consumidores, sempre considerando:
• apenas um participante;
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Unidade II
Na parte superior esquerda da matriz, está situada a estrutura de monopólio, caracterizada pela
interação entre um grande número de consumidores e um único vendedor.
Ela é oposta à concorrência perfeita, marcada por um grande número, tanto de vendedores quanto
de compradores.
Notam-se, ainda, outras estruturas que combinam diferentes condições de participação entre os
agentes vendedores e compradores, como:
• quase-monopólio;
• monopólio bilateral;
• quase-monopsônio;
• oligopólio bilateral.
Observação
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ECONOMIA E MERCADO
Quadro 2
Acesso
Objetivo da Número de Tipo de de novas Lucros a longo Exemplos
Estrutura empresa firmas produto empresas ao prazo (aproximados)
mercado
Concorrência Maximização Infinitas Homogêno Não existem Lucros normais Hortifrúti-
perfeita de lucros(1) barreiras -granjeiros
Maximização Lucros Palhas de aço
Monopólio Uma Único Barreiras
de lucros(1) extraordinários (Bom-bril)
Concorrência Maximização Muitas Diferenciado(3) Não existem Lucros normais Médicos
monopolística de lucros(1) barreiras dentistas
Oligopólio
Oligopólio Maximização concentrado: Homogêneo:
poucas empresas alumínio (CBA,
de lucros(1)
Modelo clássico Homogêno ou Barreiras (4) Lucros Alcan, Alcoa)
Oligopólio diferenciado(3) extraordinários
Maximização
Modelo de mark-up(2) competitivo: Diferenciado:
mark-up poucas dominam automóveis
o setor
1. Maximixação de lucro: RMg = CMg
2. Mark-up = receita de vendas - custos diretos
3. Diferenciação devido a:
— características físicas (potência, composição química);
— promoção de vendas (propagandas, atendimentos, brindes);
— embalagem;
— manutenção.
4. Barreiras à entrada:
— monopólio/oligopólio puro ou natural, devido à grande escala de produção;
— reserva de patentes;
— controle de matérias-primas básicas;
— tradição.
Resumo
Nesta unidade abordamos as questões relacionadas com a formação
de preços e a atuação nos mercados pelos agentes econômicos, sejam
consumidores, sejam produtores de bens e serviços.
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Unidade II
ECONOMIA E MERCADO
Exercícios
E) Quando o preço sobe, os consumidores irão deslocar suas compras para bens complementares.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: quando ocorre uma mudança no preço, temos uma mudança na quantidade demandada
por um bem, não de sua demanda.
C) Alternativa correta.
Justificativa: sempre quando temos uma mudança no preço do bem sua quantidade
demandada responde num sentido inverso: sobe o preço, logo a quantidade demandada cai,
sendo o inverso verdadeiro.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: as mudanças no preço de um bem têm impactos na sua quantidade demandada, logo,
sem mudanças na demanda.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: no caso de bens complementares, uma elevação no preço de um dos bens levará à
diminuição das compras dos dois bens complementares.
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Unidade II
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ECONOMIA E MERCADO
Unidade III
Apresentamos alguns assuntos relacionados à Teoria Macroeconômica, seus questionamentos
centrais e sua importância. Vamos estudar a contabilidade social, notadamente as medidas de atividade
econômica, a identidade entre renda e produto, bem como os conceitos de valor bruto da produção e
valor agregado até chegar à medida maior, que é o PIB e suas variantes. Também assinalaremos como o
governo interfere na atividade econômica, via políticas econômicas, e nas questões monetárias.
5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
A Teoria Macroeconômica tem por objetivo fundamental analisar como são determinadas as
variáveis econômicas em sua forma agregada. Essa teoria, conhecida como abordagem de equilíbrio
geral, procura avaliar se o nível de atividade econômica tem crescido ou diminuído e se os preços das
mercadorias, conjuntamente, indicam elevação ou diminuição.
Essa teoria preocupa-se, portanto, em estudar o grupo dos consumidores de uma sociedade, assim
como o seu conjunto de empresas. O interesse é designar os fatores que influenciam o nível total de
renda e do produto do sistema econômico.
Os fatos macroeconômicos afetam a vida de todos nós. Muitos empresários planejam a elevação
ou diminuição das quantidades produzidas de seus bens levando em conta qual será, por exemplo, o
comportamento da renda da sociedade durante um determinado período de tempo.
Observação
Unidade III
Pense que, em um determinado momento, uma empresa de grande porte do ramo farmacêutico
esteja com problemas em suas finanças. Possui aproximadamente 250 funcionários diretos e, para ajustar
sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão de 80 colaboradores. Como essas pessoas
perderam seus empregos, não têm mais renda. Assim, como conseguirão atender às suas necessidades
de consumo? Suponhamos que essas 80 pessoas sejam chefes de família e que essas famílias sejam
compostas de quatro membros: pai, mãe e dois filhos. Esse indivíduo não tem condições de pagar o
estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, eles passarão a estudar no
ensino público. A família possuía convênio médico (seguro-saúde), que também será cancelado, e a
família dependerá do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão cortadas,
assim como os refrigerantes e o sorvete no fim de semana. Quem foi afetado com a demissão efetuada
pela indústria farmacêutica? Vejamos:
ECONOMIA E MERCADO
• a escola dos filhos, que deixará de receber as mensalidades e poderá ter dificuldades para manter
sua estrutura de custos;
• a empresa que administrava o convênio médico desta família, que terá menos recursos para
remunerar os médicos conveniados;
• o governo, e duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em razão da queda
de consumo; segundo, pelo aumento das despesas da rede pública de ensino e do Sistema Único
de Saúde, pois elevarão os atendimentos;
• a instituição que exibe filmes nos cinemas, já que algumas famílias não terão esse tipo de lazer;
As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o número de alunos
diminuir, o mesmo ocorrerá com o quadro de professores, de assistentes e demais trabalhadores, e já
destacamos o que acontecerá. A empresa que administra convênio médico terá o mesmo problema: mais
pessoas sem renda. Nesse ponto, você já é capaz de pensar no cenário dos demais setores da economia.
Em uma situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a
ser operante, bem como os empregos retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz
presente na análise macroeconômica. É a partir do exame de equilíbrio geral que são formuladas as
diretrizes da política econômica. Portanto, o conhecimento da macroeconomia ajuda as autoridades
públicas a avaliarem políticas alternativas, por meio dos instrumentos de intervenção, por exemplo,
através de parte fiscal, monetária, cambial, de rendas ou demais mecanismos de política.
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Unidade III
Economia
Dividide-se em:
Microeconomia Macroeconomia
Saiba mais
Nesse momento, é pertinente perguntar como medir a produção realizada pelo sistema econômico,
tendo em mente que ela é contínua no tempo: os bens e serviços são produzidos e consumidos, sendo
necessário produzi-los novamente, pois grande parte das necessidades humanas exige um consumo
ininterrupto, como é o caso da alimentação, que precisa ser feita diariamente (SILVA; LUIZ, 2010).
É neste contexto que surge a contabilidade nacional: “[...] método de mensuração e interpretação da
atividade econômica que tem como objetivo medir a produção que se realiza em um sistema econômico
em um determinado período” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 44). Para medir o produto de uma nação, temos que
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ECONOMIA E MERCADO
examinar as quantidades de mercadorias que são vendidas em determinado período de tempo e seus
respectivos preços. Quando são usados os preços de mercado, pares de sapatos, quilos de maçãs e litros
de leite podem ser somados e comparados:
Com o exemplo apresentado, podemos chegar à medida de produto nacional, que será dada pelo
valor monetário dos bens e serviços finais produzidos durante um determinado período de tempo, em
geral um ano. Nesse exemplo, o produto nacional dessa nação hipotética seria de R$ 55.500,00.
Observação
Não é possível somar unidades com quilos mais litros, mas é possível
somar o valor monetário que representam.
Já sabemos que o fluxo circular da renda mostra os fluxos reais e monetários. No fluxo real, temos de
um lado bens e serviços sendo destinados das empresas para as famílias. Quanto ao fluxo monetário, as
famílias geram receitas às organizações como pagamento da aquisição de bens e serviços, e estas geram
rendas às famílias como remuneração à utilização dos fatores de produção.
Gasto (R$) (= PIB) Receitas (R$) (= PIB)
Mercado de produtos
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Unidade III
Assim, o fluxo circular da renda, na forma apresentada, é uma versão bem simplificada da realidade
ou do funcionamento de uma economia. No entanto, apesar de simples, podemos retirar a partir dele
vários conceitos, como os de produto nacional e de renda nacional.
O produto nacional (PN) é o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos na
economia em determinado período de tempo. Portanto, a renda nacional (RN) será o total de pagamentos
efetuados aos fatores de produção que foram usados para a obtenção desse produto.
Vejamos um exemplo.
Produção Renda
Sapatos R$ 40.000,00 Salários R$ 25.900,00
Maçãs R$ 9.000,00 Juros R$ 10.480,00
Leite R$ 6.500,00 Aluguel R$ 8.430,00
Lucros R$ 10.690,00
Total R$ 55.500,00
Total R$ 55.500,00
Conforme o exemplo, sabemos que o produto total da economia, o produto nacional, foi de R$
55.500,00 e, para que fossem produzidos sapatos, maçãs e leite nesse país, foi necessário utilizar
trabalhadores, capital, terra e capacidade empresarial. Se esses fatores de produção foram aplicados,
então eles foram remunerados.
Lembrete
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ECONOMIA E MERCADO
O total de produção de sapatos, maçãs e leite gerou R$ 25.900,00 em salários, R$ 10.480,00 de juros,
R$ 8.430,00 de pagamentos pelo aluguel e, por fim, R$ 10.690,00 de lucros, que foram reinvestidos
na própria produção. No entanto, essa renda que foi gerada na produção deve retornar à produção na
forma de consumo.
Observação
De outra forma:
PN = RN = DN
Vejamos:
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Unidade III
Observação
Além dos conceitos de produto nacional, renda nacional e de dispêndio nacional, devemos proceder
ao conhecimento de outros conceitos, que também surgem por meio do fluxo circular da renda.
Vamos supor que essa economia hipotética da qual estamos tratando também produza pães, já que
existem gastos com alimentação, conforme demonstrado pelas categorias de dispêndio.
Sabemos que o pão que consumimos em nosso café pela manhã não surge do nada, é fabricado
por meio da combinação de fatores de produção, e um deles bastante importante à produção de pães
é a farinha, derivada do trigo. O trigo, por sua vez, é proveniente da atividade agrícola, setor primário
da economia, e será transformado em farinha por meio do processo de industrialização, categorizando,
então, o setor secundário da economia. Depois, a farinha será utilizada para fazer o pão e será
comercializada pelo setor terciário da economia.
Vamos admitir que quem transforma o trigo em farinha não produz esse cereal, mas sim o adquire,
e que o mesmo acontece com o produtor de pães. Ele não produz farinha, mas a compra para usá-la.
Então, estão inclusos no preço do pão os custos de fabricação; da mesma forma, o gasto com a aquisição
de trigo está inserido no preço da venda final da farinha.
Acentuamos um exemplo que destaca as relações entre diferentes setores de atividade econômica:
Vamos ao exemplo:
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ECONOMIA E MERCADO
Vimos que o trigo foi vendido ao mercado pelo valor de R$ 30,00. Portanto, quem o comprou
teve um dispêndio total de R$ 30,00. Provavelmente, quem o adquiriu é a indústria que o
transformará em farinha. Após esse processo, a farinha é vendida ao mercado por R$ 50,00. Como
nesse preço de venda está embutido o custo de produção, ou seja, o custo com a aquisição de
fatores de produção, o que o setor secundário agregou ao produto dessa economia foi somente
R$ 20,00, isto é, a diferença entre o preço de venda de sua mercadoria e os valores gastos com
bens intermediários.
Seguindo esse raciocínio, a farinha foi vendida no mercado por R$ 50,00, e quem a adquiriu incorreu
em um dispêndio total de mesmo valor. Contudo, quem comprou a farinha vai transformá-la em pão,
que será o produto da venda do setor terciário da economia. O pão, de acordo com o exemplo, será
vendido por R$ 90,00, mas como foram gastos R$ 50,00 em custos de fatores de produção, foram
agora agregados ao produto nacional dessa economia somente R$ 40,00. Portanto, chegamos a novos
conceitos: valor bruto e valor agregado.
Entende-se por valor bruto da produção o cálculo do que cada ramo de atividade recebeu com
as vendas de bens, que no exemplo anterior representaria R$ 170,00. Já o valor agregado ou valor
adicionado é o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada
etapa do processo produtivo, que nesse exemplo é de R$ 90,00.
Assim, o valor do produto agregado dessa economia é R$ 90,00, que corresponde à produção
do último bem final dessa economia. Esse valor pode também ser obtido somando-se o valor
adicionado em cada etapa do processo produtivo. Já o valor bruto da produção é a soma do
valor de cada um dos bens na economia, que, em nosso exemplo, é igual a R$ 170,00. Esse
valor apresenta o problema da dupla contagem, pois no valor de cada produto também foram
incluídos os valores dos insumos necessários à sua produção, ou seja, o chamado consumo
intermediário. Então,
VBP – VBI = VA
Onde:
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Unidade III
A partir da identidade macroeconômica básica em que o produto é igual à renda, que é igual ao
dispêndio, podemos verificar como são demonstradas as demais medidas agregativas de um sistema
econômico. Iniciaremos pelo Produto Interno Bruto (PIB).
O PIB refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território
econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras
desses bens e serviços, excluindo as transações intermediárias. É obtido por meio da seguinte fórmula:
PIB = C + I + G + X + M
Onde:
G = gastos do governo.
X = exportações.
M = importações.
Outra medida agregada é o Produto Nacional Bruto (PNB), que é obtido pelo valor de mercado de
todos os bens e serviços finais produzidos na economia em um dado período de tempo. Sua fórmula é:
PNB = C + I + G + (X – M)
Onde:
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ECONOMIA E MERCADO
G = gastos do governo.
(X – M) = exportações líquidas.
Exemplo de aplicação
Faça uma pesquisa nos mais diversos meios de informação para verificar por que motivo o Brasil
anuncia PIB e os Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.
Saiba mais
<www.ibge.gov.br>.
Definido o PNB como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na economia, em um
determinado período de tempo, e que, portanto, é avaliado em termos monetários, precisamos observar
um aspecto bastante importante.
Se, por exemplo, anunciamos que de um ano para outro houve aumento da ordem de 25% no PNB
de um país, resta descobrir sua causa: as quantidades de mercadorias aumentaram? Ou os preços das
mercadorias que sofreram elevação? Para tanto, precisamos diferenciar PNB nominal de PNB real. O PNB
nominal mede o valor da produção associado aos preços prevalecentes no período durante o qual o bem
é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em qualquer período com relação aos preços de
um ano-base. Ele nos mostra uma estimativa real ou física na produção entre anos específicos.
Outra medida de atividade econômica pode ser verificada por meio do Produto Nacional Líquido
(PNL), que é o agregado econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados
à riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período
de um ano. Ele se diferencia do PNB por conceber apenas os investimentos líquidos, ou seja, exclui
dos investimentos brutos da depreciação e desconsidera o desgaste de fatores de produção fixos da
economia. Dessa forma,
PNL = C + Il + G + (X – M)
89
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Unidade III
Onde:
G = despesas do governo.
(X – M) = exportações líquidas.
O Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB) são medidas que possibilitam mensurar
o tamanho do bolo, ou seja, o que foi produzido de renda em determinado país. O PNB per capita e o PIB
per capita dão a noção de média de apropriação do produto por habitante: o PNB per capita dá o valor
de cada parcela de PNB apropriada por habitante; da mesma forma, o PIB per capita dá o valor de cada
parcela do PIB apropriada por habitante. Vejamos, então, a diferença entre os dois conceitos.
O PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos no
país (ou na região considerada) em determinado período de tempo. Para o seu cálculo, ele descarta a
renda do exterior, tanto a recebida quanto a enviada. Sendo N o número de habitantes, o PIB per capita
será dado por:
O PNB difere do PIB porque ele abrange tanto as rendas enviadas para o exterior quanto as recebidas
pelo exterior. Assim:
PNB = PIB – REE (Receita Enviada para o Exterior) + RRE (Receita Recebida do Exterior).
Nos países em desenvolvimento, o PNB é menor do que o PIB. Isso ocorre porque, nesses países, há
considerável remessa de lucros para o exterior.
90
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ECONOMIA E MERCADO
No que diz respeito ao desenvolvimento, há controvérsias quanto ao seu real significado. Para
Souza (2009), há uma corrente de economistas que explicam o desenvolvimento como subproduto do
crescimento. Aqui residem modelos que enfatizam a acumulação de capital e sua igual repartição como
forma de desenvolvimento e melhoria das condições de uma nação. A ideia é a de que o crescimento
econômico, distribuindo diretamente a renda entre os proprietários dos fatores de produção, quaisquer
deles, leva à melhoria dos padrões de vida e ao desenvolvimento econômico.
No mundo contemporâneo, vê-se que a coisa não é tão simples assim: o desenvolvimento econômico
não pode ser confundido com crescimento, porque os frutos dessa expansão nem sempre beneficiam a
economia como um todo e com o conjunto da população. Por mais que haja crescimento exacerbado
da produção industrial, isso pode ser reflexo tanto da elevação da produtividade da mão de obra quanto
da expansão da demanda de mercados internos ou internacionais. Ainda, a expansão do produto pode
atender também à elevação da produtividade industrial como derivado da mecanização da produção,
experiência vivida por diversas economias que conseguiram superar os entraves do subdesenvolvimentismo
e conheceram a tecnologia como forma de produção poupadora de mão de obra.
Associado ao crescimento econômico, outros efeitos perversos podem estar ocorrendo, tais como:
• Transferência de renda para outros países: reduz a capacidade de importar por parte da
economia doméstica e mesmo de realizar investimentos tecnológicos.
Unidade III
Por essa visão, entende-se desenvolvimento econômico como um processo de longo prazo em que
ocorre a acumulação de capital, e o progresso técnico é incorporado tanto para elevar a produtividade
do capital quanto da força de trabalho em termos de produtividade.
Alguns indicadores permitem avaliar o grau de desenvolvimento econômico de uma nação. Agora
vamos estudá-los.
5.5.2.1 O IDH
O índice, desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen, é construído levando-se
em conta:
• a Renda Nacional Bruta per capita (corrigida pela paridade do poder de compra, tendo como base
o ano de 2005);
• a educação (avaliada por dois indicadores: média de anos de educação de adultos e expectativa
de anos de escolaridade para crianças em idade de iniciar a vida escolar).
Observação
ECONOMIA E MERCADO
Não é a primeira vez que o IDH passa por mudanças. A disponibilidade de novos dados e
as sugestões de alguns críticos fizeram com que o índice se adaptasse ao longo das últimas
décadas. A fim de possibilitar que sejam verificadas tendências no desenvolvimento humano,
a equipe responsável pelo relatório usou uma nova metodologia para calcular o IDH de 2010
e dos anos subsequentes.
Os pilares do IDH não foram alterados: o índice varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1,
maior) e engloba três dimensões fundamentais do desenvolvimento humano: conhecimento
(mensurado por indicadores de educação), saúde (medida pela longevidade) e padrão de
vida digno (medido pela renda). Mas houve modificações em alguns indicadores e no cálculo
final do índice.
Subíndice de longevidade
Subíndice de educação
É o único que engloba dois indicadores, e ambos foram alterados. Sai a taxa de
alfabetização, entra a média de anos de estudo da população adulta (25 anos ou mais).
Para averiguar as condições da população em idade escolar, em vez de taxa bruta de matrícula
passa a ser usado o número esperado de anos de estudos (expectativa de vida escolar, ou
tempo durante o qual uma criança ficará matriculada se os padrões atuais se mantiverem
ao longo de sua vida escolar). Essas alterações foram feitas porque alguns países, sobretudo
os do topo do IDH, haviam atingido níveis elevados de matrícula bruta e alfabetização –
assim, esses indicadores vinham perdendo a capacidade de diferenciar o desempenho dessas
nações. Na avaliação do Relatório de Desenvolvimento Humano, as novas variáveis captam
melhor o conceito de educação e permitem distinguir com mais precisão a situação dos países.
No entanto, assim como os indicadores anteriores, os novos não consideram a qualidade da
educação. No método antigo, a taxa de analfabetismo tinha peso 2 nesse subíndice e a taxa
de matrícula, peso 1. Agora, os dois novos indicadores têm pesos semelhantes.
Subíndice de renda
O PIB (Produto Interno Bruto) per capita foi substituído pela RNB (Renda Nacional Bruta)
per capita, que abrange os mesmos fatores que o PIB, mas também leva em conta recursos
enviados ou recebidos do exterior – a RNB acaba por ser uma maneira de captar melhor as
remessas vindas de imigrantes (seu cálculo não inclui o lucro enviado por empresas para
o exterior) e de computar a verba de ajuda humanitária recebida pelo país, por exemplo.
Antes se usava o logaritmo natural do PIB per capita, agora se usa o logaritmo natural da
renda. Também foi mantido o modo como os valores são expressos: em dólar corrigido pela
paridade do poder de compra (PPC), considerada a variação do custo de vida entre os países.
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Unidade III
Cálculo
Até a edição de 2009, o IDH era calculado como a média simples dos três subíndices
(somavam-se os três e dividia-se o resultado por três). A partir do relatório de 2010,
recorre-se à média geométrica: multiplicam-se os três subíndices e calcula-se a raiz cúbica
do resultado. Antes, um desempenho baixo em uma dimensão poderia ser diretamente
compensado por um desempenho melhor em outra. Com o novo cálculo, essa compensação
perde força – um valor ruim em um dos subíndices tem impacto maior em todo o índice.
Além disso, a metodologia permite que 1% de queda na expectativa de vida, por exemplo,
tenha o mesmo impacto que 1% de queda na renda ou na educação.
A tabela a seguir apresenta indicadores selecionados pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) para a economia brasileira para o período 2000-2013 no que diz respeito à
expectativa de vida ao nascer, expectativa de anos de estudo e média de anos de estudo.
Tabela 13
Indicadores do Brasil
Ano Expectativa de vida ao nascer (anos) Expectativa de anos de estudo Média de anos de estudo
2000 70,3 14,3 5,6
2005 71,7 14,2 6,6
2010 73,1 15,2 7,2
94
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ECONOMIA E MERCADO
A próxima tabela assinala dados, referentes ao ano de 2011, sobre a expectativa de vida ao nascer,
expectativa de anos de estudo, bem como a média de anos de estudo e renda per capita, de acordo com
as estatísticas do PNUD.
Tabela 14
O Brasil entra, na década de 2010, em forte queda no índice de IDH, o que faz interromper a evolução
conquistada no período anterior.
Os gráficos a seguir relacionam renda per capita e IDH, no Brasil, para período selecionado. É possível
perceber forte correlação entre crescimento de renda e elevação do IDH.
15.000
0,739 0,744
14.000
13.000
12.000
11.000
10.000
0,545
9.000
8.000
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013
95
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Unidade III
0,800
0,739 0,744
0,800
0,800
0,800
0,800
0,800
0,545
0,800
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013
Figura 20 – IDH
A Curva de Lorenz, representada a seguir, forma-se pela união dos pontos bidimensionais obtidos
pelos eixos X e Y: no eixo X temos a proporção acumulada da população; no eixo Y, a proporção
acumulada da renda apropriada (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2015).
100% B
90%
80%
70%
60%
y 50%
40% α
30%
20% β
10%
0% C
A 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
x
Se a distribuição for perfeita, teremos a curva na forma de uma reta de 45º: por exemplo, 20% da
população se apropriarão de 20% da renda. Assim, quanto maior for a “barriga” (a área representada
por α), mais desigual será a distribuição de renda. No gráfico, por exemplo, aproximadamente 50% da
população se apropriam de 20% da renda.
ECONOMIA E MERCADO
Assim, o índice é uma medida que objetiva “corrigir” os valores médios obtidos por meio do quociente
entre produto e população. Ele não representa o “tamanho médio da fatia do bolo”, mas o quão justa é
a divisão do bolo.
Agora voltemos ao gráfico da Curva de Lorenz. Geometricamente, o Índice de Gini é obtido pelo
quociente entre α e a soma entre α e ß, da seguinte forma:
G = α / (α + ß)
Se a desigualdade é zero, quer dizer, se a distribuição de renda é perfeita, α é igual a zero; portanto,
G = 0. Se, hipoteticamente, um único indivíduo se apropriar de toda a renda, ß tenderá a zero e G
tenderá a 1. Quanto maior a “barriga” representada por α, maior será o valor de G.
É fato que os governos existem na vida das pessoas, gostemos ou não. Independentemente da posição
política adotada por um governante, ele poderá alegrar a sociedade de um país ou desagradá-la por
completo. Tal fato deve-se claramente ao tipo de atitude política escolhida, que, para efeito deste estudo,
devemos considerar as opções pela política econômica adotada em determinado tempo. Uma política
econômica mais desenvolvimentista tende a agradar boa parte da população, sobretudo empresários,
para quem novas oportunidade de investimentos são avistadas, inclusive favorecendo camadas das
classes mais baixas da população com novas oportunidade de emprego. Por outro lado, uma política
econômica mais austera, aquela em que a opção governamental é por uma política contracionista, não
é de todo agradável quando se espera crescimento de renda no curto prazo e elevação dos empregos
e gastos públicos. O fato é que a opção pela política econômica dá-se de acordo com as circunstâncias
que se apresentam ao governante ou simplesmente permeia sua formação e opção política.
Deixando de lado questões normativas das políticas públicas, bem como da presença do Estado
nas economias modernas, o fato é que devemos considerar elementos racionais que fundamentam
a presença dos governos nas sociedades e sua intervenção por planejamento ou não. Nesse sentido,
Giambiagi e Além (2008) chamam a atenção para a existência de falhas de mercado que impedem a
situação de Ótimo de Pareto.
97
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Unidade III
Saiba mais
Giambiagi e Além (2008) acentuam que as falhas de mercado são: existência de bens públicos, de
monopólios naturais, externalidades, mercados incompletos, falhas de informação e, por último, mas
não menos importante, a ocorrência de desemprego e inflação.
Com base nas pesquisas de Giambiagi e Além (2008), e de Riani (2012), estudaremos
pormenorizadamente a importância de cada uma das falhas de mercado que exigem a interferência do
governo nos mercados.
Os bens públicos são aqueles cujo consumo e uso são indivisíveis, ou, ainda, não rivais. Significa que
o consumo do bem por parte de um indivíduo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais
integrantes da sociedade. Parte-se do seguinte princípio: existindo o bem público, todos se beneficiam
de sua existência, independentemente se uns mais e outros menos. Outra característica importante do
bem público é a da não exclusão no consumo. Para poder exemplificar, pense no caso de uma cidade
onde as ruas ainda não estejam todas pavimentadas, algumas são de terra e outras de asfalto. O governo
dessa cidade decide asfaltar todas as ruas ainda sem asfalto. Assim, todas as pessoas (moradoras ou não)
que utilizam a rua serão beneficiadas.
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ECONOMIA E MERCADO
Pois bem, as ruas estão asfaltadas e a população usufruirá desse investimento público, mas como
custear esse investimento entre a população? Quem deverá pagar mais ou menos pelo uso das ruas
asfaltadas? Somente as pessoas que residem naquela rua? Contando a quantidade de vezes que um
indivíduo e seu automóvel utilizam a rua em um determinado período? A nós parece difícil poder ratear
o custo desse bem entre os beneficiados.
Em uma oferta pública como essa, Riani (2012) destaca que, se levarmos em conta a viabilidade
econômica do projeto, a pavimentação de uma cidade não faz sentido em termos de investimentos privados,
mas apenas nos públicos. É notório que todo investimento, seja público ou privado, almeja algum tipo de
retorno. Se pensarmos na iniciativa privada, o retorno do investimento se dá na forma de lucros, que serão
acumulados incialmente para depois serem reinvestidos ou alocados para alguma outra atividade, também
na forma de investimentos. Quanto aos investimentos públicos, estes também são efetuados visando
retorno no futuro, só que não necessariamente na forma de lucros monetários que serão acumulados. O
retorno desejado é o social: a melhoria das condições sociais – de diferentes fontes e formas.
[...] justamente o princípio da não exclusão no consumo dos bens públicos que
torna a solução de mercado, em geral, ineficiente para garantir a produção
da quantidade adequada de bens públicos requerida pela sociedade. É por
esta razão que a responsabilidade pela provisão de bens públicos recai
sobre o governo, que financia a produção desses bens através da cobrança
compulsória de impostos.
Observação
Unidade III
Para existir monopólio, deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado.
Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo uma delas o monopólio puro ou natural. Este
caso ocorre quando o mercado, por suas próprias características, exige a instalação de grandes plantas
industriais, que em geral operam com economias de escala e ínfimos custos unitários, possibilitando à
empresa cobrar preços baixos por bem ou serviço, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de
novos concorrentes.
• marcas e patentes;
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ECONOMIA E MERCADO
• instituições.
5.6.1.3 Externalidades
As externalidades implicam custos e benefícios sociais diferentes dos privados. Enquanto os custos e
benefícios privados são medidos em termos de preço – quanto custou para fabricar; quanto custou para
adquirir –, os custos e benefícios sociais são diferentes. Por qual motivo? Porque estamos tratando de um
assunto que analisa os impactos causados em um agente alheio àquele tomador da decisão individual.
Exemplifiquemos: pense em um empreendedor que abra uma casa noturna na rua onde você reside. A
legislação permite casas comerciais no local, mas o empreendedor montou uma em que o som ao vivo seja o
chamariz da freguesia. O volume e a qualidade do som – da música – pode agradar quem frequenta o local
por uma questão de diversão. Todavia, pode aborrecê-lo por diversos motivos: você não aprecia a música que
é tocada ali, o volume do som incomoda, há maior quantidade de carros estacionados na rua, impedindo que
algum parente que venha visitá-lo deixe seu automóvel em frente ao portão de sua casa etc.
Pois bem, elencamos aqui efeitos negativos causados pela nova casa noturna. A isso chamamos de
externalidade negativa. Ela ocorre quando algum agente toma determinada decisão que lhe favorece –
no caso o empreendedor – e que retire bem-estar de outro agente – no caso, você.
Por outro lado, há as externalidades positivas. Pense que seu vizinho de frente contrate um segurança
particular e instale uma guarita à frente da casa dele. Esse agente particular cuidará da vigilância da casa
de quem o contratou, o que, por consequência, trará mais segurança aos demais moradores daquela
rua. Caso esse agente perceba algo de diferente na rua, tratará de avisar aos demais moradores do local.
Vemos aqui a ocorrência de externalidade positiva. Para Giambiagi e Além (2008, p. 7),
Unidade III
Saiba mais
Uma das principais características dos mercados incompletos é aquela em que o setor privado não
esteja totalmente à vontade quanto à oferta de um bem ou serviço. O que o faz não estar totalmente à
vontade? Segurança quanto ao futuro e quanto ao retorno do investimento que foi efetuado. É o que
Riani (2012) chama de riscos e incertezas na oferta dos bens.
Nesse aspecto, Giambiagi e Além (2008) citam o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) como principal órgão brasileiro de financiamento de longo prazo para investimentos
em todos os segmentos da economia. Vários investimentos produtivos, seja na agricultura, seja na
indústria ou no comércio, para todo tamanho de empresa, podem requerer elevado volume de recursos
nos investimentos iniciais, e muitas vezes a iniciativa privada – os bancos privados – ficam receosos em
efetuar os empréstimos, pois não sabem se o tomador terá condições ou não de honrar com a devolução
dos recursos tomados. Dessa forma, procurando mitigar o risco de uma possível inadimplência, os
bancos privados elevam as taxas de juros de empréstimos, dificultando os investimentos privados. É
nesse âmbito que o BNDES entra como empresa pública federal: oferecendo empréstimos por vezes
subsidiados pelo governo, fomentando os investimentos produtivos e ativando a economia.
102
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
<http://www.bndes.gov.br>.
A falta de conhecimento perfeito por parte dos vendedores e dos compradores sobre os riscos do
mercado, a falta da perfeita mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros por
parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, particularmente os naturais, são
características do mundo real que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos
requeridos para atingir a produção ótima de todos os bens econômicos necessários e desejados pela
sociedade. Nisso reside outra falha de mercado, a falha de informação.
Nos casos de falhas de informação, a intervenção do Estado justifica-se em razão de o mercado por
si só não fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente.
Como exemplo, considere o mercado de automóveis usados. Pense na seguinte situação: você está
interessado em adquirir um carro usado e encontra no jornal um anúncio exatamente do veículo
que procura. Liga para o anunciante para verificar preços, condições do automóvel, quilometragem
percorrida e coisas do tipo. Quem dos dois agentes tem mais informações sobre o carro? Você ou a
pessoa que pretende vendê-lo? Será que o vendedor lhe oferecerá todos os dados necessários, e reais,
para que você tome a decisão pela compra ou não? Caso o automóvel tenha ficado imerso em alguma
enchente, o vendedor vai contar ou omitir a questão? Estamos chamando a atenção para o fato de
que em determinados mercados alguns têm mais informações do que outros. Fernando Rezende (2012)
chama isso de assimetria de informações.
Para esses casos, o modo de atuação do Estado pode ser mediante a introdução de uma legislação
que induza a uma maior transparência, com maior proteção tanto para vendedores quanto para
consumidores, e o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é um bom exemplo.
O que vem a ser inflação? Caracteriza-se pelo generalizado e persistente crescimento nos níveis
de preços, ou seja, ocorre inflação em um período em que um elevado volume de mercadorias têm
seus preços majorados sequencialmente, de forma que dia a dia, mês a mês, os preços sobem sem
que, necessariamente, seus custos de produção tenham sofrido elevação. Assim, quando há inflação,
é preciso haver maior quantidade de moeda para adquirir os mesmos produtos. Resultado: perda do
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Unidade III
poder aquisitivo da moeda, o que pode causar sérios distúrbios à economia e à sociedade de modo geral
(SILVA; LUIZ, 2010).
Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções,
que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em períodos de inflação elevada, como viveu a sociedade
brasileira em boa parte dos anos 1970 e 1980, a moeda perde seu valor assim que é recebida!
Suponha o seguinte: uma pessoa recebe hoje seu salário (R$ 1.500,00) e o índice de inflação no mês
corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de 40% ao mês. Se essa pessoa
deixar guardado esse dinheiro, digamos, no bolso de algum paletó no armário e for usar tal recurso
daqui a 30 dias, os R$ 1.500,00 representarão poder de compra de R$ 900,00. Receber um valor, dentro
de um período inflacionário e não utilizá-lo o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor.
Em nosso exemplo hipotético, perda de R$ 600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40%
mais elevados e a quantidade de moeda disponível não será mais capaz de adquirir a mesma quantidade
de mercadoria que era obtida antes. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta Mankiw
(2010), a população de baixa renda.
Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas.
Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw
(2010, p. 636):
Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e sua oferta, assim como
é definido o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o preço
do tomate será relativamente baixo; caso exista pequena quantidade de tomate sendo ofertada, ou seja,
disponível à sociedade, seu preço tende a ser relativamente mais elevado.
104
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ECONOMIA E MERCADO
Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre em
períodos de expansão da economia, a exemplo do experimentado pelo milagre econômico brasileiro,
no qual o governo investiu fortemente na industrialização do País, elevando os níveis de produção e
superando tempos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo renda e consumo.
Outro tipo de inflação é o de oferta, ou seja, explicado ou pelas condições de oferta de produtos, ou
pelo comportamento de seus custos de produção, ou mesmo pela disponibilidade de fatores de produção
que são utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos de produção
aumentam, isto é, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar determinados
serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de:
• alta dos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária do
período ou por convenção coletiva e sindical;
105
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Unidade III
• demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e
seu preço.
O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois nesta há tendência à perpetuidade. Significa
que a inflação de um período é automaticamente repassada para o tempo que se segue. De que forma?
Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos, ou valores futuros, pela inflação do presente.
Observe o exemplo a seguir, muito bem desenvolvido por Silva e Luiz (2010, p. 116-117):
Por conta desses fatores, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, é que são
feitos contratos de trabalho e de aluguel com a proteção de preços de mercadorias e valores de outras
transações. Com o uso da indexação, evita-se a corrosão monetária.
Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado
patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza-se em um novo
patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes
por um tempo específico, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda.
106
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Destacamos as razões pelas quais o governo, através dos diversos instrumentos de políticas à
sua disposição, surge como alternativa para a intervenção na alocação de recursos da economia a
fim de contribuir para que a sociedade alcance o maior nível de bem-estar possível. Acentuaremos
a seguir as funções que poderão ser desenvolvidas pelo governo para corrigir ou minimizar as
falhas ocorridas no sistema de mercado, buscando atender às demandas que compõem o conjunto
de bens e serviços da sociedade. É aqui, portanto, que trataremos das finanças públicas. Conforme
Nascimento (2014, p. 79),
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Unidade III
É consenso entre Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagi e Além (2008), Riani (2012) e
Matias-Pereira (2012) que se deve a Richard Musgrave a definição do que sejam as funções do governo.
Segundo Giacomoni (2012, p. 22),
Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa
privada ou quando a natureza da atividade indicar a necessidade da presença do Estado. A
intervenção estatal na alocação de recursos justifica-se quando o setor privado não tiver interesse
neles. É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado,
oferecendo bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação e saúde
aos cidadãos. Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos
adequadamente pelo sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Nesse sentido, cabe ao governo
decidir pelo tipo e pela quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a qual(is) tipo(s) de
necessidade(s) atenderá.
Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não
precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê-lo ou induzir a oferta pelo
setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação do governo:
• Alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção: a oferta dos bens. Por
exemplo: a Defesa Nacional e seus serviços de segurança pública.
• Compras governamentais: o governo adquire a produção efetuada por outras empresas e repassa
os bens à sociedade. Por exemplo: medicamentos, merenda escolar e campanhas de vacinação.
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ECONOMIA E MERCADO
Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus
pertencentes, o que, por vezes, cria a desigualdade social. Riani (2012, p. 22) esclarece que:
Diante do exposto, vê-se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por
intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Tal afirmação apoia-se em
Nascimento (2014, p. 80), e o autor diz que a “função distributiva refere-se à distribuição, por parte do
governo, de rendas e riquezas”. Por outro lado, Rezende (2012), bem como Giambiagi e Além (2008),
acentuam que, além dos gastos governamentais, a exemplo de transferências, a tributação progressiva,
aliada aos subsídios, auxilia no processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de
transferência apresentam-se de forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece
condições de o governo arrecadar recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá-los como
forma de financiamento de programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a
forma de redistribuição seria por melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo
aplicados para financiamento da construção de moradias populares.
Giacomoni (2012, p. 25) complementa que, por mais que as políticas distributivas estejam inseridas
no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas
de política e de filosofia social”, pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva.
Concordando que a distribuição de renda também seja uma questão de orçamento público, educação
gratuita, capacitação profissional e programas de desenvolvimento comunitário são também exemplos
de política pública com efeito distributivo.
Unidade III
Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego – enquanto falha de
mercado pela elevação dos gastos públicos – ampliando a quantidade de dinheiro no sistema econômico,
o que incentiva a sociedade a elevar o consumo bem como as empresas a aumentarem seus níveis de
produção. Desse modo, com maior produção, as empresas passam a contratar mais pessoas, o que
expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação.
Todavia, com a expansão da demanda, os preços sobem, gerando inflação. Assim, paralelamente, o
governo pode utilizar demais instrumentos, a exemplo da política monetária, para manter a estabilidade
de preços.
Do que foi apresentado até o momento, caro aluno, é possível perceber certa relação entre as falhas
de mercado e as funções do governo. As falhas de mercado são decorrência, em parte, da liberdade que
os agentes econômicos detêm na sociedade e, em parte, pela própria existência de recursos disponíveis
nessa sociedade. Então, quando há falhas do sistema, o governo é chamado para estabelecer ordem. Pois
bem: como se dá esta ordem? Parte dela por leis, regulamentos e decretos que cerceiam a liberdade de
alguns. Por outro lado, há que se preocupar com o desenvolvimento dessa mesma sociedade no sentido
de conduzi-la para a modernidade, ao progresso e, nesse aspecto, a política pública se faz presente.
Contudo, somente é possível fazer política pública diante de alguns objetivos a serem alcançados.
De forma genérica, a literatura até aqui utilizada salienta que todos os governos, em maior ou menor
grau, têm os mesmos objetivos: crescimento e desenvolvimento econômico, manutenção do emprego
e da renda, estabilidade monetário-financeira e distribuição equitativa da renda, para citar alguns. No
entanto, para que o governo consiga atingir seus objetivos, torna-se necessário planejamento como
visão de futuro. Trata-se, portanto, de imaginar hoje como seria o amanhã, caso algumas medidas
fossem adotadas.
Nesse sentido, o planejamento governamental que se faz por política pública requer, de um lado,
recursos monetários para pôr em prática determinada ação e, de outro, as fontes de tais recursos.
Podemos claramente efetuar analogia como um indivíduo comum. Suponha que você tem um amigo
que está prestes a casar e deseja adquirir sua casa própria. Para obter o patrimônio, algumas ações
podem ser tomadas. Entre elas, a do planejamento financeiro. Vejamos o que deve ser estudado:
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ECONOMIA E MERCADO
• valor e localidade;
• tipo de aplicação financeira na qual esse recurso disponível está alocado e quanto ainda
falta acumular;
Observação
Agora destacaremos um exemplo de uma empresa e as tomadas de decisão que precisa efetuar.
Pense em uma empresa do setor de bebidas com queda de vendas de um de seus principais produtos:
refrigerante “Sabor gostoso”. Ao pesquisar o motivo da queda, verificou-se que uma nova marca
concorrente estava atraindo consumidores que antes eram fiéis àquela marca. Trata-se de um problema
de vendas, ou seja, falta de entrada de recursos na entidade. Se há diminuição de vendas, haverá, por
consequência, menos receita.
Diante dessa situação, a organização decide fazer uma campanha de marketing para atrair novamente
esses consumidores que perderam. Os clientes passaram a comprar o refrigerante “Sabor quase gostoso”.
Para tal, precisará efetuar investimentos, dispor de algum recurso monetário que está na empresa ou
fazer um empréstimo. Deverá saber a quantidade exata de recursos que poderá aplicar na campanha
de marketing, pois tem a obrigação de manter o departamento financeiro, o RH, manter os gastos fixos
de produção etc. Estamos chamando atenção para o fato de que uma nova fonte de gasto deverá fazer
parte do orçamento da empresa. Por qual motivo? A organização gastará certa quantia monetária com
a campanha de marketing esperando retorno de tal investimento. Independentemente de o retorno ser
o esperado, o fato é que o dinheiro saiu de algum lugar, e é vital saber que fonte financiará essa saída
monetária. Portanto, planejamento financeiro e orçamento são extremamente necessários.
Lembrete
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Unidade III
A lista de objetivos governamentais parece pequena. Contudo, se avaliada com mais cuidado, vê-se
grande infinidade de ações a serem tomadas para cada um dos objetivos serem alcançados. Vamos
tomar como exemplo o caso do Brasil, sua extensão territorial, as necessidades prementes e específicas
de cada região. Cada governo, com sua política, sua ideologia, suas crenças e, por vezes, interesses, pode
privilegiar determinada sociedade instalada em uma região que receberá recursos de política pública em
detrimento de outra. Todavia, não se pode generalizar para o caso brasileiro. O fato é que os governos
devem adotar critérios racionais no desenho de suas políticas públicas, privilegiando a técnica como
decisão estratégica no estabelecimento das prioridades sociais.
Com o conteúdo abordado até então, temos condições de tratar das questões associadas à política
monetária. Entende-se por política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação
ao padrão monetário de um país. O Banco Central, autoridade monetária em qualquer país, além de
atividades rotineiras, tem a função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo
controle direto da liquidez no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central exercer
suas funções, pode adotar alguns instrumentos de política monetária. São eles:
• emissão de moeda;
• operação de redesconto;
• seleção do crédito.
• Executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado, bem como efetuar as operações
de compra e venda de títulos públicos e federais.
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ECONOMIA E MERCADO
A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande
e contrai o volume de moeda disponível na economia de acordo com seus objetivos. Assim, é possível
controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos
comerciais expandirem meios de pagamento – também é controlado.
Entende-se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central. Trata-se
da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao Banco
Central. Para que você entenda melhor: os bancos comerciais são obrigados por lei a repassar ao Banco
Central certa quantidade dos depósitos à vista que a coletividade efetua. Então, o Banco Central regula
a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm à sua disposição e
exercita a sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos correntistas (JUDENSNAIDER;
MANZALLI, 2011).
Da mesma forma que os bancos comerciais estão obrigados a repassar parte de seus saldos monetários
captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências,
solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam-se da operação de redesconto.
Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar
instituições financeiras em dificuldades monetárias. Ele é acionado por bancos comerciais que já
recorreram ao mercado interbancário na tentativa de cobrir seus saldos deficitários e não obtiveram
sucesso por motivo justificado. Portanto, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária,
junto ao Banco Central.
Nesse aspecto, o Banco Central desempenha outro papel, que é o de ser emprestador de última
instância. Motivo: quando um banco comercial recorre a ele para cobrir possível déficit de caixa, faz
com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os
recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas.
Outro instrumento de política monetária é a operação de open market, ou, se preferir, operação de
mercado aberto. É com ele que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de títulos públicos para
arrecadar recursos com a sociedade, para efetuar gastos ou simplesmente diminuir liquidez, ou para
recomprar os títulos vendidos anteriormente.
Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos
públicos, colocando-os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando
moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra maneira, será
expansionista quando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os
recursos tomados emprestados.
Unidade III
disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando
necessitam de recursos que são de outra pessoa.
O juro é uma variável vital na economia e, por essa razão, um dos mais importantes instrumentos de
política monetária. São trabalhados como taxa, taxa de juros, e toda vez que essa taxa sobe, investimentos
industriais produtivos são freados, desencorajados. Por que isso ocorre? Um empresário que toma junto
a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o quanto
pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucro pelo investimento produtivo efetuado.
Assim, dada uma taxa de juros mais elevada em um tempo qualquer, o custo do dinheiro também fica
mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante de uma taxa de juros mais elevada,
o crédito ao consumidor sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado pelo
montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: subtração dos investimentos na produção, conforme
o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão tomador de
crédito. Quando os empresários não investem na produção e os consumidores não adquirem produtos,
temos a queda da produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia entra,
então, em um processo recessivo, contracionista (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Saiba mais
<www.bcb.gov.br>.
Observação
A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o orçamento do setor
público. Ela definirá quanto o governo irá arrecadar e quanto poderá gastar. O Estado adquire receita via
impostos, tributos e taxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os serviços providos
pelo governo.
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ECONOMIA E MERCADO
O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela
iniciativa privada. Entre esses gastos, estão:
Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando
diminui a carga tributária sobre a sociedade. Ou seja, quando repassa maior volume de recursos
monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume
de dinheiro, diminuindo sua arrecadação.
Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados:
• descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às
receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança;
• aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, elevando o
consumo e os preços dos produtos;
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Unidade III
• elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança
administrativa;
O governo necessita da política fiscal para prover a sociedade de bens públicos. Os bens públicos
são aqueles cujo uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte de um indivíduo ou de
um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Ou
seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos, mesmo que, eventualmente, alguns mais do
que outros. As ruas e a iluminação pública são exemplos de bens públicos – bens tangíveis; como bens
intangíveis, temos a Justiça, a Segurança Pública e a Defesa Nacional.
Ademais, para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo precisa
gerar recursos. Como vimos, entre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação tributária. A
fim de aproximar um sistema tributário do “ideal”, é importante que alguns aspectos sejam observados.
Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam
pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta
tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens
para o agente que o adquire.
Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados
de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas noções
de equidade: a equidade horizontal, preceituando que contribuintes com capacidades de pagamento
similares devem pagar a mesma quantia; e a equidade vertical, afirmando que contribuintes com maior
capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia
ao princípio da progressividade.
Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da
alocação de recursos, e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema.
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ECONOMIA E MERCADO
O sistema tributário brasileiro está longe de representar um Ótimo de Pareto, ou seja, está longe
da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à
incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços
também não é muito transparente. No tocante à tributação direta e indireta, algumas considerações
devem ser feitas:
• Impostos indiretos: são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda, compra
ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em vários estágios
do processo de produção e venda, e seus efeitos sobre os preços pagos pelo consumidor final na
cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os preços, diante da tributação indireta,
depende não apenas da medida em que os impostos são transferidos em cada estágio de produção,
mas também da estrutura precisa das transações interindustriais.
• Impostos diretos: a exemplo do imposto sobre o patrimônio, podem ser cobrados regularmente
em razão do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período. É o caso do IPTU
(imposto predial territorial urbano) e do IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores),
que atendem ao princípio da equidade e da progressividade.
Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo, mas nem sempre estão associados à capacidade de
pagamento de cada contribuinte. O imposto de renda pessoa física é o imposto pessoal por excelência
e, assim, é aquele que se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que permite,
de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de pagamento
(JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Do lado das empresas, o imposto de renda pessoa jurídica incide sobre o lucro e apresenta um
problema: ele pode contrariar os princípios da equidade e da progressividade, tendo em vista que não
se pode ter certeza de que o ônus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Em
outras palavras, a empresa pode reagir à cobrança do imposto sobre os lucros repassando-o, pelo menos
em parte, para os preços finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores.
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Unidade III
Portanto, a taxa de câmbio reflete as necessidades de unidades monetárias nacionais para adquirir
uma unidade monetária de uma moeda estrangeira. É no mercado cambial que são fixadas as taxas de
câmbio, variável nominal, sob diferentes regimes cambiais: câmbio fixo, câmbio flutuante, dirty floating
ou ainda o currency board. Em um regime cambial fixo, a taxa de câmbio é administrada pelo Banco
Central, que define o valor do câmbio para um período específico. Já no câmbio flutuante, ou flexível, a
taxa de câmbio é determinada pelo mercado, ou seja, pelas interações entre demanda e oferta de divisas
internacionais (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
Admite-se por dirty floating câmbio com flutuação suja. O que isso quer dizer? Significa que o Banco
Central de um país pode, mesmo em um câmbio flutuante, exercer pressão sobre a taxa de câmbio, ou
seja, pode fazê-la flutuar até que seja fixada em uma meta estabelecida. Exemplo: suponha um país
onde o regime cambial seja flutuante, e que as interações entre demandantes e ofertantes de divisas
internacionais tenha conduzido a taxa de câmbio para um nível que somente favorece o importador
de mercadorias. Assim, se o volume de importações de mercadorias de um país aumenta, menor será a
produção interna dele e, portanto, pode ter elevada sua taxa de desemprego. Diante de tal preocupação,
o Banco Central pode interferir no mercado cambial e, por meio de compra e/ou venda de divisas
internacionais, fazer flutuar a taxa de câmbio até um ponto em que sejam favorecidas as exportações.
Por sua vez, o currency board é um regime cambial em que um país adota como moeda corrente
a moeda estrangeira, na qual está ancorada, quando atravessa ou adota políticas de estabilização
monetária para controlar a inflação. Há ainda que acrescentar outra diferença: a disparidade entre a
taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal, que reside na divergência de inflação entre os países e
entre uma e outra.
A política de rendas é um tipo de política utilizada pelo governo que procura melhorar a distribuição
da renda e a justiça social. Ela atua diretamente sobre os fatores de produção e tenta reduzir os conflitos
entre o capital e o trabalho. Melhorias nas condições de salários e trabalho, encargos trabalhistas
mais justos, distribuição de resultados por parte das empresas aos seus funcionários são alguns de
seus objetivos, assim como a proposta de um sistema de preços mínimos garantidores de consumo à
população de baixa renda.
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. A moeda é um artigo utilizado para efetuar
trocas. Dá-se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo designa moedas
metálicas e papel-moeda as cédulas que usamos no dia a dia.
Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas de sua
cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes da resposta,
reflita mais um pouco. Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale uma nota de R$ 100,00?
Qual o valor de uma moeda metálica de R$ 1,00? Parece estranho dizer, mas, nas economias modernas, as
notas e as moedas não têm nenhum valor, elas representam valor! Representar valor significa ter poder
aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 possui um poder de compra de cinquenta unidades monetárias. Uma
cédula de R$ 10,00 tem um poder de compra de dez unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser
o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas ruas vendendo moedas, pois ninguém aceitaria vender
uma nota de R$ 100,00 por um valor mais baixo do que ela vale e ninguém aceitaria pagar mais do que
esse valor pela nota.
Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer uma. Uma mercadoria específica,
que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra. Basta ter em mãos cédulas ou moedas
metálicas para poder trocá-las por qualquer artigo que represente exatamente as unidades monetárias
incorporadas na moeda. Se tivermos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria que tenha um
preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente.
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Unidade III
A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um
exemplo: seria muito difícil, em uma economia moderna, adquirir mercadorias pagando, ou trocando,
por outras mercadorias como à época do escambo. Se quiser um sapato novo, você não conseguirá
obtê-lo fazendo a troca no mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla
coincidência de desejos: o seu desejo em ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de
trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que
você quer, basta que você tenha poder de compra, representado pela moeda, e os compre, pagando
em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda por mercadoria, no caso do comprador, e
mercadoria por moeda, no caso do vendedor.
Observação
Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma
mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções.
A função de intermediária de trocas, ou, se preferir, meio de troca, ou ainda meio de pagamento,
permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender
da coincidência de desejos. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce ainda outras
duas funções básicas: servir como unidade de conta e como reserva de valor.
A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na
economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, ela aparece no valor do salário ali grafado: x
unidades monetárias. Em um contrato de prestação de serviços, também desempenha sua função
unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado mediante o serviço prestado.
Está ainda representada nos preços dos produtos. Por exemplo: quando vemos uma camisa à disposição
na vitrine de uma loja qualquer, possivelmente há uma etiqueta com a indicação do valor daquele
produto. Ali está, portanto, a moeda exercendo sua função de unidade de conta. Outro nome que pode
ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. Esta, que aparece ou nos contratos ou nos
preços dos produtos, determina qual o montante de moeda corrente necessário para aquela troca.
Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades
monetárias, e dada a existência de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar
tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem
inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do
tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência.
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ECONOMIA E MERCADO
Para que a moeda desempenhe suas funções, alguns aspectos particulares devem ser reunidos.
Como exemplo, temos as características econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de
transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda
seu custo é zero e que transportar moeda também tenha um custo zero. As outras características da
moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que haja dificuldade em falsificação,
que exista manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo
características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas,
unidade de conta e reserva de valor (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
É necessário viajar pela História para conhecer as diversas formas que a moeda assumiu ao longo dos
tempos. Desde a Antiguidade, os povos utilizam moeda para efetuar trocas de mercadorias. Inicialmente
as trocas eram feitas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades, nas mais primitivas
culturas – a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a coincidência de desejos, pois
apenas produtos encontravam-se disponíveis para trocas. Conforme Passos e Nogami (2003, p 446):
[...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria uma
coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que tivesse
gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e comprar maçãs.
Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia de que os desejos das
duas partes, no que se refere às quantidades e aos termos de troca exatos,
coincidam. Da mesma forma, a menos que um alfaiate faminto encontre
um fazendeiro nu que tenha alimentos e o desejo de ter um par de calças,
nenhum dos dois pode realizar o negócio.
Observação
Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava
da vegetação e da caça disponíveis na região que habitava. Esses recursos eram os únicos com os
quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz
cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Contudo, tal agricultor e sua família não vivem só
de cenouras, eles dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu
excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que esse agricultor precise adquirir
carne para sua alimentação. Ele só tem cenouras para trocar e precisará encontrar no mercado algum
produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil! E o manuseio?
Como será o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? De fato
uma operação complexa.
Unidade III
passa a ser intermediado por algum bem que represente aceitação e curso geral. Estamos tratando
da mercadoria-moeda ou, simplesmente, moedas-mercadorias. Foram utilizadas como moedas-
mercadorias o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos, o sal, entre outros.
Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, deve apresentar as características
de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade, bem como facilidade no manuseio e transporte,
aspectos que não eram reunidos em alguns dos exemplos citados neste livro-texto, apesar de as
moedas-mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes.
Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando
a moeda metálica ou o metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram parte
desse período o cobre, o bronze e o ferro. O ouro em barra tem um valor incorporado. O mesmo ocorre
com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam seu valor
ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá-las para serem utilizadas em trocas de mercadorias
no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem com as funções e características da moeda, são
mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência de desejos. Novamente:
e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? Parece
que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas para a moeda, por isso a sociedade
caminhou para outra alternativa: a moeda-papel (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).
ECONOMIA E MERCADO
Vamos entender melhor isso. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde
alguns agentes depositavam barras de ouro, bem como suas peças de prata e, em troca, recebiam um
papel representando aquele valor. Vejamos:
Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar como ela
se comporta em uma economia moderna como a de hoje. Assim, podemos dizer que, sobre o montante
de moeda que temos à nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem-se em papel-moeda em
poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto,
MP = PMPP + DVbc
Ademais, podemos considerar ser PMPP a moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc a
moeda escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas-correntes).
Para que o PMPP seja efetivamente utilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de
autoridade monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, papel-moeda emitido. No entanto, nem todo
PME converte-se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Desse modo,
Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume
monetário de que o Banco Central injetou. Parte desses recursos os bancos comerciais retêm em encaixe
técnico. Assim,
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Unidade III
Vimos que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade
via bancos comerciais. Esses últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento
por meio da criação de moeda escritural. A moeda escritural é criada pelos bancos comerciais a partir
do recebimento de depósitos à vista. Através de uma operação contábil, dá-se a criação de meios
de pagamento, e tal atividade aparece no balancete do banco comercial. Nesse arquivo, a título de
exemplo, são registrados valores de depósitos recebidos no lado do passivo; no lado do ativo, todos os
empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista.
Para tratar da oferta de moeda, torna-se necessário compreender o papel que o Banco Central
exerce na economia. Um de seus principais papéis é ser o órgão responsável pelo controle da oferta
monetária na economia, bem como o de zelar pela qualidade da moeda nacional, ou seja, pelo seu
poder de compra, por sua estabilidade. É por esse motivo que dizemos ser o Banco Central o emissor
da moeda nacional. Entre outros papéis, que também podemos considerar como funções, estão o de
ser o banco dos bancos, regulando e supervisionando as operações que por estes são efetuadas, ser o
banco do governo, no caso representado pelo Tesouro Nacional, além de ser depositário de reservas
internacionais, ou seja, guardião do volume de moeda estrangeira à disposição no País.
Considerando os papéis desempenhados pelo Banco Central, bem como sua existência na economia
moderna e suas relações com os bancos comerciais, estes dois agentes compreendem o sistema monetário
nacional. Por seu turno, os bancos comerciais – como vimos anteriormente – têm a tarefa de efetuar
a intermediação financeira entre diferentes agentes econômicos com a principal característica de criar
moeda, ou seja, meios de pagamento. Para tanto, devem ser legalmente autorizados pelo Banco Central
a exercer tal função. Assim, obtêm permissão para receber depósitos à vista, que se transformam em
reservas dos bancos, ou, como alguns preferem, de encaixes, que serão de alguma forma emprestados.
Nessas operações, uma das obrigações impostas ao Banco Central aos bancos comerciais é: ao realizar
uma operação de empréstimo, o banco deve certificar-se de que terá como garantir os recursos de seus
depositários se estes desejarem exercer o direito de saque.
Nesse sentido, tanto o banco comercial como o Banco Central dispõe de estimativas de
movimentações diárias que são efetuadas pelos agentes econômicos. Cada agente econômico tem um
comportamento diferente em relação aos saldos mantidos em suas contas, assim os bancos podem
efetuar uma estimativa do comportamento de seus agentes de quando e quanto exercem seu direito
de utilizar os saldos que estão ali depositados. Mesmo que ocorram operações de empréstimos, aos
depositários não há diminuição de seus saldos, pois os recursos emprestados continuam sendo daqueles
que o depositaram, e é um dever do banco comercial efetuar tal garantia ao depositário.
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ECONOMIA E MERCADO
Lembrete
É importante perceber que o Banco Central e os bancos comerciais, aqueles autorizados a receber
depósitos à vista, exercitam a oferta de moeda na economia e são instituições representantes do sistema
monetário nacional, já o sistema financeiro é formado pelo sistema monetário mais o não monetário.
Por outro lado, no sistema de intermediação, que também pode ser chamado de operativo, é formado
por instituições que atuam em operações de intermediação financeira, ou seja, os atores. Vejamos:
• Instituições financeiras bancárias, a exemplo dos bancos comerciais, múltiplos e caixas econômicas.
• Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (Sepe), representado pela Caixa Econômica Federal,
Sociedade de Crédito Imobiliário, Associações de Poupança e Empréstimos e Bancos Múltiplos.
• Instituições auxiliares, a exemplo das Bolsa de Valores, Sociedades Corretoras de Valores Mobiliários,
Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários e Agentes Autônomos de Investimento.
• Instituições não financeiras, que são as Sociedades de Fomento Comercial – factoring – e Seguradoras.
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Unidade III
Assaf Neto (2012, p. 52) destaca que o Banco Central propõe ao Sistema Financeiro Nacional a
seguinte composição:
Quadro 4
Entidades
Órgãos normativos Operadores
supervisoras
Instituições Demais instituições
Banco Central do financeiras financeiras
Conselho Monetário Brasil (Bacen) captadoras de Outros intermediários
Nacional (CMN) depósitos à vista Bancos de câmbio financeiros e administradores de
recursos de terceiros
Comissão de Valores Bolsas de Bolsas de valores
Mobiliários (CVM) mercadorias e futuros
Entidades
Conselho Nacional Superintendência Sociedades Sociedades de abertas de
de Seguros Privados de Seguros Privados Resseguradores seguradoras capitalização previdência
(CNSP) (Susep) complementar
Conselho Nacional Superintendência
da Previdência Nacional de Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Complementar Previdência
(CNPC) Complementar (Previc)
No âmbito dos objetivos e alcance desta disciplina, não cabe tratamento pormenorizado de cada um
dos agentes indicados anteriormente.
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
Quadro 5
Saiba mais
Vimos que uma das principais funções do Banco Central é a de controlar a oferta monetária, o que
envolve certamente a preocupação da existência ou não de liquidez necessária para que os agentes
econômicos continuem suas atividades no sistema, ou seja, para que o fluxo da renda funcione de forma
tranquila, sem interrupções por parte do fluxo monetário. Acrescenta-se a tal fluidez a capacidade de
os bancos comerciais na criação e multiplicação dos meios de pagamento, o que também auxilia no
desenvolvimento do fluxo circular da renda, impulsionando o fluxo monetário. Assim, em termos de
economia monetária e com o emprego de termos técnicos, tanto a moeda manual quanto a escritural –
que denominamos meios de pagamentos – são também chamados de agregados monetários, e possuem
diferentes classificações.
A classificação dos agregados monetários atende aos graus de liquidez, da maior liquidez para a
menor, e eles podem variar ao longo do tempo, dependendo da intenção da autoridade monetária e
do relacionamento da coletividade com a moeda. Sobre este último evento, Carvalho et al. (2007, p. 6),
destacam que
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Unidade III
Portanto, em razão da rapidez e velocidade com que ativos se transformam em liquidez, o Banco
Central necessita trabalhar com classificações de determinados ativos para operar seus instrumentos de
política monetária e cumprir com seus objetivos e funções.
A necessidade de classificação dos meios de pagamento dá-se então, a partir do que foi admitido,
para que o Banco Central faça, digamos, uma previsão do comportamento dos agentes econômicos com
relação à moeda enquanto liquidez e seus ativos que rendem juros.
É sabido que uma das principais dificuldades de um economista está em acertar em definitivo qual o
comportamento dos agentes face a diversas situações. Para tanto, utiliza-se daquilo que se convenciona
adotar: o comportamento do agente racional, representativo. Em períodos de elevada inflação, o agente
econômico tende a adquirir rapidamente seus bens para proteger o poder de compra da moeda, e a
reserva monetária não utilizada será protegida em aplicações financeiras.
O nível de taxa de juros também influencia o comportamento dos agentes em relação aos seus saldos
monetários. Via de regra, taxa de juros elevada influencia o agente a efetuar aplicações financeiras em
vez de consumir: afinal, sua recompensa em termos de rendimento pode ser mais atrativa quanto ao
consumo presente. O contrário também é verdadeiro. Contudo, nada podemos asseverar, e sim estimar
o comportamento. Quem afirma com total segurança quando os bancos comerciais vão diminuir as
taxas de juros dos empréstimos? E se os empresários elevarão a demanda por moeda para investimentos
produtivos? Quem pode alegar que na mesma situação algum agente econômico preferirá não efetuar
aplicações financeiras, mas sim elevar seu consumo? São apenas previsões, mas elas devem ter alguma
fundamentação. E é para isso que o Banco Central se utiliza de estatísticas quanto aos meios de
pagamento, seja no sentido restrito, seja no sentido ampliado.
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ECONOMIA E MERCADO
Considerar papel-moeda em poder do público bem como os depósitos à vista nos bancos comerciais
como meios de pagamento (M1) é considerar os meios de pagamento em seu sentido restrito. Em
seu sentido ampliado, é isso que é importante em termos de economia monetária, é trabalhar com
indicadores que antecedem possíveis complicações sobre o mercado real que a demanda por moeda
pode provocar. Para a autoridade monetária, é vital entender que os saldos mantidos como M1 devem
ser aqueles correspondentes às transações necessárias e corriqueiras que a coletividade efetua ao longo
do tempo, sem que se comprometa a utilização de saldos de outros ativos que não são concebidos
como instrumento de troca, função da moeda. Mesmo com o avanço da economia monetária e dos
instrumentos de intervenção monetária adotados pelo Banco Central, notadamente o controle das
taxas de juros, têm-se que os agregados monetários devidamente classificados apresentam-se como
importantes instrumentos para controle da liquidez do sistema.
Tal classificação não atende somente ao uso da autoridade monetária, no caso do Banco Central,
mas também aos próprios participantes do sistema monetário, digam-se os bancos comerciais. De
conhecimento de suas estatísticas, e da forma como que seu depositário mantém seus ativos nos
bancos comerciais, estes podem desenvolver com maior certeza linhas de empréstimos que auxiliam na
multiplicação dos meios de pagamento. Nos conceitos anteriores, aqueles válidos até o ano de 2000, os
meios de pagamento estavam assim classificados, por graus de liquidez: no maior grau de liquidez ao
menor grau de liquidez:
• M3 = M2 + depósitos de poupança
Observação
Os novos conceitos, que passaram a vigorar no Brasil a partir do ano de 2001, adotam, em seu
conceito de meios de pagamento ampliado, a classificação por seus sistemas emissores, e não mais a
simplificação por grau de liquidez.
Unidade III
Com a adoção dos novos critérios, os meios de pagamento ficam classificados assim:
• Poupança financeira
Avançando em termos de classificação, assim como o M2, os saldos de M3 também sofrem alteração
ante a nova regra: englobam os saldos de M2 bem como os saldos dos fundos de renda fixa e das
carteiras de títulos registradas no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Por fim, mas não
menos importante, o M4 passa a ser denominado poupança financeira: representa os saldos de M3 e os
títulos públicos de alta liquidez. O quadro a seguir acentua tanto os componentes dos agregados quanto
seus emissores.
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ECONOMIA E MERCADO
Sistema emissor: consolidado monetário (passivo monetário restrito do Banco Central e bancos criadores de
M1 moeda escritural: bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas econômicas).
M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista
Sistema emissor: consolidado bancário menos fundos de renda fixa (passivo monetário restrito do Banco
Central e passivo monetário ampliado emitido principalmente pelas instituições depositárias).
M2
M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições
depositárias
Sistema emissor: consolidado bancário (passivo monetário restrito do Banco Central e passivo monetário
M3 ampliado das instituições depositárias e fundos de renda fixa).
M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas registradas no Selic
Sistema emissor: consolidado bancário mais governo (passivo monetário ampliado do Banco Central,
M4 instituições depositárias, fundos de renda fixa e tesouros nacional, estaduais e municipais)
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez
Saiba mais
Como estudamos os principais determinantes das condições de oferta de moeda nas economias
modernas, podemos tratar das condições da demanda também apoiados em teorias, afinal, o que faz
os agentes econômicos a demandar moeda? Qual o principal motivo que leva parte da coletividade
em manter seus saldos monetários em ativos que não geram algum rendimento a seu possuidor?
Outra pergunta que desponta é: qual a quantidade de moeda que os agentes desejam reter em
determinado momento de tempo? Não são questões para respostas rápidas, faz muito tempo que
vários economistas se empenham em buscar respostas que por algum momento foram satisfeitas
à comunidade especializada em teoria econômica e que passaram a ser questionadas por outros
teóricos. É o que passaremos a fazer.
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Unidade III
Iniciaremos a análise das teorias explicativas da demanda por moeda com base na teoria quantitativa
da moeda que se encontra também entre as teorias desenvolvidas pelos chamados economistas clássicos.
Como sabemos, a escola clássica foi uma das mais importantes escolas do pensamento econômico
por procurar criticar o pensamento mercantilista até então dominante. O principal destaque da escola
clássica está calcado na questão do liberalismo econômico, que possui expoentes como Adam Smith,
John Stuart Mill, Alfred Marshall, só para citar alguns. É nesse ambiente que se desenvolve a teoria
quantitativa da moeda.
A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), em sua versão original, foi concebida em torno do pensamento
da escola do liberalismo clássico encontrada nas principais contribuições de Pigou, Marshall, Knut
Wicksell e Irving Fisher, este último é o de maior relevância para o assunto. A princípio, a pergunta é a
seguinte: quais são as razões que levam os agentes econômicos a demandar moeda?
Para os economistas clássicos que empreendem sua visão acerca da economia monetária, uma das
razões está na não existência de sincronia entre os fluxos de recebimentos e pagamentos a que os
agentes econômicos estão expostos. Um trabalhador, por exemplo, recebe seu salário e não o gasta no
mesmo momento, mas sim em um período determinado, aguardando até que o próximo seja recebido.
Como o pagamento de suas despesas está dividido ao longo deste tempo, deve manter um encaixe
monetário para poder efetuar bem suas transações.
Outra razão reside no fato de que os agentes econômicos não têm certeza quanto ao futuro, portanto,
suas previsões não são as mais corretas possíveis. Eventos inesperados podem ocorrer, e o montante de
despesas que tais eventos ensejarão não é calculado com assertividade, ou seja, é preciso manter saldos
monetários para cobrir tais contingências, é uma questão de precaução.
Até aqui, a moeda é entendida apenas como um ativo usado como forma de transação para
pagamentos das despesas que são previstas, as diárias, previsíveis, bem como utilizada como medida
de prevenção. As pessoas não tinham a noção de que a moeda poderia gerar a seu possuidor um
fluxo monetário via rendimentos, preservando seu valor ao longo do tempo. Conforme explica
Berchielli (2003, p. 109),
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ECONOMIA E MERCADO
A teoria quantitativa da moeda tem sua origem naquilo que os economistas convencionam chamar
de equação de trocas, representada por uma identidade que relaciona, de um lado, o fluxo monetário
disponível a ser conhecido pela multiplicação do estoque de moeda na economia, M, e sua velocidade
de circulação, V, e, de outro, o uso do mesmo fluxo, só que agora expresso em termos da multiplicação
do nível geral de preços da economia, P, com a quantidade de transações efetuadas entre os agentes
econômicos, T. Assim, sua formação será:
MV = PT
onde:
O lado esquerdo da equação indica o total das transferências de moeda entre os agentes econômicos,
o lado direito corresponde ao total das transferências de bens e serviços entre os agentes econômicos.
A equação de trocas reflete exatamente o fluxo circular da renda: do lado esquerdo, o fluxo monetário;
do lado direito, o fluxo real.
Da forma como foi apresentada e até então desenvolvida pela Escola de Chicago e popularizada na
versão de Irving Fisher, demonstra que os preços sofrem variação como razão direta da quantidade de
moeda em circulação, considerando como constante a velocidade de circulação da moeda, bem como o
volume de transações que a coletividade exerce. Sobre este aspecto, para que a equação de trocas seja
efetivamente transformada em teoria,
Considerada pelos principais autores de economia monetária mais como uma teoria que procura
causa e efeito entre variação de preços e volume de moeda em circulação do que efetivamente uma teoria
que busca compreender os fatores que determinam a demanda por moeda por parte da coletividade, a
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Unidade III
Teoria Quantitativa da Moeda assume neutralidade da moeda no longo prazo, e no curto prazo o volume
de moeda afeta variáveis reais com possibilidade de inflação.
Como a teoria foi desenvolvida antes de Keynes, está claramente apoiada na lei de Say, aquela que
apregoa que a oferta cria sua própria procura, portanto, é uma teoria que analisa a economia pelo lado
da oferta, no caso, o lado da oferta monetária com tendências de equilíbrio no longo prazo, assim como
assumido pelos clássicos.
A primeira versão dessa teoria foi formulada por Simon NewComb, em 1885,
e difundida por Irving Fischer, em 1911. Parte-se de uma identidade entre
o total de meios de pagamento em moeda e o total de bens e serviços
transacionados, ou seja, a cada troca de bens e serviços, o pagamento
por essa compra e venda em moeda e o preço desses produtos são iguais,
portanto, a quantidade de moeda paga nas transações é idêntica ao valor
monetário dos produtos (CARVALHO et al., 2007, p. 31).
Avaliando a equação de trocas, vê-se que o volume de moeda em circulação é uma variável de
possível mensuração devido ao controle de emissão por parte da autoridade monetária. O nível de
preços é dado, mesmo que variável ao longo do tempo, bem como uma variável da equação passível de
controle e mensuração. A velocidade de circulação da moeda também pode ser conhecida através de
dados e mensurações estatísticas. Assim, a mensuração das quantidades transacionadas era de difícil
operação à época, o que ensejou a reformulação da própria equação.
Uma dessas alterações seria entendê-la do ponto de vista da renda, e foi chamada versão renda:
MVy = PyY
Assim, M indica o estoque agregado de moeda, Vy a velocidade renda, Py um índice de preços de bens
e serviços finais e Y um índice de quantidade representativo da produção real final. Esta própria versão
efetua outra revisão. O que se altera em relação à primeira versão é o seguinte: do lado direito, em vez
de expressar preços multiplicado pelo volume de transações, PT, passou-se a utilizar a mesma relação
em termos do PIB real, PY. Então, a nova equação é indicada da seguinte forma:
MV = PY
ECONOMIA E MERCADO
Pela versão conhecida até então, o que se assume é que a coletividade utiliza em suas trocas todo
o montante monetário que tem a sua disposição sem qualquer possibilidade de retenção da moeda,
afinal, está de acordo com os economistas clássicos, notadamente Say, em que o entesouramento não
era apreciado. Considerando a possibilidade de os agentes econômicos em efetuar retenção, reservar
parte da moeda consigo, mesmo que por períodos bastante temporários, curtos, torna-se necessário
assumir que aquela parte da moeda que não foi colocada em circulação pela coletividade, portanto,
não transformada em consumo, interfere no bom desenvolvimento do sistema, causando inclusive
imperfeições na lei, em que a oferta gera a procura correspondente.
Com base nisso, surge uma nova versão da teoria – cash-balance ou versão de Cambridge –,
incorporando a noção de que os agentes possam usar a moeda como reserva temporária de valor.
Observação
M = kPy
Onde:
Py = PIB nominal.
Unidade III
Tomando a TQM em sua versão de Cambridge quanto ao parâmetro k, também chamado de constante
marshalliana, admitindo-se seu valor como fixo no curto prazo, o questionamento que se fez à época
era saber quais os fatores que explicavam a decisão do público em reter moeda. Lopes e Rossetti (2005)
elencam alguns destes motivos:
• nível de acesso da sociedade ao crédito, observando que em períodos de fácil concessão a demanda
por moeda para gastos não programáveis se retrai;
• grau de eficiência do sistema de compensação, bem como dos processos de comunicação entre os
débitos e créditos que ampliam ou diminuem a ociosidade da moeda estrutural;
• a taxa de inflação.
Independentemente da forma que se observa a teoria quantitativa da moeda, ela não deixa de ser
uma tautologia: os resultados obtidos em um lado da equação serão iguais ao resultado a ser obtido
do outro lado. Ela representa uma identidade contábil de causa-efeito. Por qual motivo? Simples: a
moeda é neutra no curto prazo. Os economistas desenvolvedores de tal teoria partem do princípio de
que a economia se encontra em pleno emprego, e não é possível elevar o nível de produção por conta
das condições da economia, sendo certo que a elevação na demanda nominal provoca aumento no
nível geral de preços, sem que seja alterada a renda real da economia, dado que a oferta de moeda é
constante no curto prazo. O gráfico a seguir reflete o que afirmamos: M representa o estoque de moeda,
Md a demanda por moeda, p o nível de preços e y a renda.
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ECONOMIA E MERCADO
Md = Md0
Y
M
Figura 25
Com o passar dos tempos, percebeu-se que era necessário avaliar os efeitos da velocidade das
transações em razão da velocidade-renda da moeda, e não simplesmente da quantidade de vezes que a
moeda era trocada de mão em mão. Deve-se levar em consideração que o nível de renda da coletividade
também impacta no volume de transações que esta mesma coletividade está apta a efetuar. Então, a renda
dependeria da quantidade de moeda em circulação assim como a quantidade de moeda em circulação
também dependeria da renda da coletividade. No entanto, conforme bem destaca Berchielli (2003, p. 111),
Quais são os mecanismos que fazem com que aumentos no estoque de moeda
impliquem elevação da demanda agregada? Por que agentes com mais moeda
nos bolsos gastarão em bens, e não em títulos ou em ativos? Essas questões
não foram satisfatoriamente resolvidas pelos economistas clássicos.
Com base nisso, a quantidade de moeda disponível na economia afeta as variáveis reais da economia,
a exemplo do emprego, da produção, do consumo e do próprio investimento que a gerou. Em Keynes,
também não deixa de lado outra importância da moeda, qual seja, ser o ativo mais líquido que existe na
economia. Carvalho et al. (2007, p. 46) destacam muito bem o que afirmamos.
Unidade III
Segundo o excerto, para Keynes o futuro está repleto de incerteza e os agentes decidem seu futuro
com base naquilo que percebem e agem no presente com base nas informações que detêm. Como a
moeda está no centro das decisões dos agentes, eles devem decidir como efetuar a melhor alocação
de seus recursos monetários. Estamos acentuando o que Keynes chamou de motivos que levam a
coletividade a demandar moeda. Para ele, são três motivos: transação, precaução e especulação.
O motivo transação remete à moeda exercendo sua função meio de troca, intermediária de
trocas totalmente dependente do nível de renda do agente econômico. Quanto maior o nível de
renda, maior será a demanda por moeda neste motivo. Em períodos recentes, representaria o
montante de moeda que um agente econômico necessita para efetuar seus gastos corriqueiros,
aqueles considerados fixos, que sempre acontecem até que se receba outro volume monetário
igual àquele preservado para este motivo. A esse respeito, Lopes e Rossetti (2005) esclarecem que
este motivo foi dividido em duas partes na teoria de Keynes: a primeira – motivo renda, refere-se
à necessidade de os indivíduos manterem saldos que garantam os pagamentos de suas despesas
até que os recebem novamente. A segunda – giro de negócios – está no âmbito das empresas e no
intervalo em que recebem por suas vendas e pagam os insumos utilizados na produção, bem como
remuneram sua força de trabalho.
Já o motivo precaução versa que, como o agente econômico não sabe com certeza o que acontecerá
no futuro, deve preservar algum volume monetário para algum infortúnio, algum evento que não estava
esperando, ou seja, teria que gastar com o que não esperava ou apostar monetariamente em alguma
aplicação financeira temporária.
Devemos admitir que os motivos transação e precaução já estavam explicitados na teoria quantitativa
da moeda dos clássicos. Keynes também admite tais motivos, mas o que difere as visões dos teóricos
é a procura motivada por especulação, isto é, o uso da moeda como forma de produzir rendimentos
presentes e principalmente futuros. É aqui que surge outro motivo, e assim Keynes consegue avançar
em seus estudos de uma teoria monetária, onde agirá a política monetária. Estamos nos referindo ao
motivo especulação: neste, a demanda por moeda por parte de um agente econômico será maior
ou menor não só por causa de seu nível de renda, mas sobretudo em razão das taxas de juros do
mercado, não sendo irracional manter ativos monetários para satisfazer oportunidades especulativas.
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ECONOMIA E MERCADO
Se os juros estiverem elevados, os agentes econômicos preferirão adquirir títulos a manter a moeda em
sua forma manual. O contrário também será verdadeiro, assumindo a relação inversa entre demanda
por moeda pelo motivo transação e taxa de juros – quanto maior (menor) for a renda, maior (menor)
será a demanda por moeda; quanto maior (menor) for a taxa de juros nominal, menor (maior) será a
demanda por moeda.
Assim, a função demanda por moeda keynesiana pode ser expressa da seguinte maneira:
L = Lt (Y) + Ls (i)
Na equação, L indica a demanda por moeda, Lt (Y) a demanda por moeda pelo motivo transação
como dependente do nível de renda, e Ls (i) a Ls (i) demanda por moeda pelo motivo especulação,
dependente do nível de taxa de juros.
Observação
A função demanda por moeda pelo motivo transação pode ser assim representada:
A) B)
Y0 Y1 Y2
Lt i
RN = Y Lt
Figura 26
Observando o gráfico (a), é possível perceber que a demanda por moeda pelo motivo transação
depende do nível de renda: elevação no nível de renda aumenta a necessidade de demanda para
transações e precaução, ao passo que queda da renda provoca queda na demanda pelos mesmos motivos.
Como tais razões não apresentam, do ponto de vista dessa teoria, nenhuma ligação com as taxas de
juros, em (b) fica claro que deslocamentos positivos na demanda por moeda pelo motivo transação são
verificados quando o nível de renda também se desloca.
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Unidade III
[...]
Ls
Figura 27
140
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ECONOMIA E MERCADO
Desse modo, vê-se a relação inversa entre Ls e i. Há uma explicação para isso.
Da mesma forma que Keynes inova ao ampliar a discussão acerca do motivo especulação em sua
teoria demanda por moeda, outros teóricos também destacam algumas imperfeições nela. Por exemplo:
se o agente opta por manter moeda para transação, deve abrir mão da especulação. Assim, coloca as
opções como excludente uma da outra. Outra irregularidade é que o motivo especulação não mais
existiria no caso de estabilidade por tempo prolongado da taxa de juros e a um nível que os agentes
econômicos consideram baixos. Keynes acentua outra imperfeição. Para ele, os agentes econômicos não
têm certeza quanto ao futuro, pois este é incerto: do ponto de vista da realidade, parece que os agentes
conhecem o futuro porque tomam suas decisões no presente dotados de certeza. Conforme despontam
imperfeições teóricas, surgem análises alternativas.
• o retorno total dos títulos que possui é advindo da soma da taxa de juros mais os ganhos de
capital;
• quanto maior a quantidade de títulos na formação da carteira do agente, maior o risco de seus
investimentos;
• o agente requer maior retorno de seus ativos, que deverão compensar o risco incorrido;
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Unidade III
Observação
O modelo de Tobin descreve as opções que são colocadas a um agente, que deve fazer suas escolhas
entre manter moeda e títulos sabendo que a moeda, ao mesmo tempo que não gera incerteza, também
não rende qualquer retorno ao longo do tempo, enquanto o título rende um retorno chamado juros
(i). Contudo, sua posse implica risco, pois quando da venda deste título, seu preço poderá ser maior ou
menor que quando adquirido: está aí mais uma variável influenciando a remuneração total a ser obtida,
ou seja, g, o ganho ou perda do capital. Tendo isso em mente, o que se coloca no modelo de Tobin é saber
qual proporção tal agente dividirá sua carteira entre moeda e título, ou seja, de que forma montará seu
portfólio sabendo que a remuneração esperada e gerada por uma carteira de títulos e moeda será i + g?
[...]
ECONOMIA E MERCADO
Assumindo que expansão de taxa de juros induz à maior colocação de títulos na carteira do agente,
portanto, em maior risco combinado com maiores retornos esperados, a função de demanda de moeda
para especulação apresenta-se inversa à taxa de juros, de forma semelhante à da versão keynesiana.
Vejamos como é representada a função demanda agregada de moeda de Tobin. Em (a) temos a quantidade
de renda que o agente dedica para a aquisição de títulos e a relação entre a taxa de juros e os riscos
assumidos. Em (b) vemos a demanda por títulos em função das taxas de juros.
A) B)
i i
i1 i1
i0 i0
R0 R1 Ls Ls
1 0
Figura 28
Outra abordagem que se insere neste debate é aquela desenvolvida por Tobin-Baumol.
Iniciaremos com a principal motivação de Baumol: a de que manter saldos em moeda corrente faz
o agente econômico ter a noção de existir em mãos um estoque de instrumento de troca como se este
estoque fosse de uma mercadoria qualquer.
No modelo desenvolvido por William Baumol, também conhecido como modelo Tobin-Baumol,
o agente recebe, no início do período, uma determinada renda e a mantém depositada em uma
conta-corrente de elevada liquidez; nesta podem ser efetuados saques de qualquer valor a qualquer
momento, mas há um custo fixo para cada um, independentemente do valor.
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Unidade III
Aqui, os agentes podem em um determinado período de tempo, preferir aplicar parte de seus recursos em
títulos na busca de juros como forma de rendimento, preservando outra parte de moeda na forma líquida para
transações correntes conforme se altera a taxa de juros. A ideia subjacente é a de que o agente econômico
deve manter o mínimo possível de moeda corrente para procurar melhores rendimentos nas aplicações,
transformando moeda líquida em quase-moeda ou mesmo manter saldos para suas transações. Daí o nome
desta abordagem: moeda transacional. Nela, temos o volume monetário que o agente deverá utilizar ao
longo de algum tempo, e o que não for usar hoje deverá estar aplicado para ser resgatado quando necessário.
Tal aplicação é remunerada conforme os saldos médios mantidos durante o período, e os gastos do
agente são distribuídos uniformemente ao longo do tempo, de forma que renda e gastos estão em um
mesmo período. Então, o agente terá que decidir a quantidade de vezes que deverá ir ao banco para
fazer seus saques da aplicação. Caso vá ao banco no mesmo dia em que acontecer o depósito em sua
conta e efetuar o saque do saldo total, não precisará retornar, e seu custo será minimizado.
Em outras palavras, o que o modelo Tobin-Baumol quer explicar é: como o agente tem à sua disposição
a oportunidade de deixar saldos monetários aplicados e que renderão (caso não utilizados), a taxa de juros
influenciará o montante que deixará aplicado. Assim, a existência dos juros e a oportunidade de deixar
seus saldos monetários em aplicações retarda a transformação da moeda, exercendo sua função reserva
de valor no motivo especulação em moeda manual para que exerça sua função intermediária de trocas.
Por complicações do modelo, não se pode afirmar qual será a quantidade ótima de vezes que um
agente econômico deve ir ao banco efetuar suas conversões e seus saques, pois cada agente representa
um relacionamento diferente no tocante aos seus saldos, o modelo trabalha em termos de saldos médios.
Essa hipótese seria expressa do seguinte modo:
y
2
Tempo
1 2
Figura 29
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ECONOMIA E MERCADO
A que juros estaria tal remuneração? O valor nominal dos juros seria:
Y
C1 . i
2
Assim, i é a taxa de juros nominal, e C1 indica o custo de efetuar a transferência da aplicação para a
conta-corrente, portanto, de efetuar o saque.
A demanda transacional apresenta-se como uma função direta do nível de renda e inversa em
relação à taxa de juros.
A principal conclusão da abordagem de Tobin-Baumol para a demanda de moeda para transações é que
Lt = f (y,r)
A demanda por moeda Lt é uma função da renda (y) e da taxa de juros (r).
Resumo
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Unidade III
ECONOMIA E MERCADO
Exercícios
Questão 1. (ENADE 2012) O Brasil produz e distribui cerca de 44 milhões de metros cúbicos de água
por dia. Destes, 15 milhões são coletados através de redes gerais, mas apenas 5 milhões de metros cúbicos
são retornados ao meio ambiente com tratamento adequado. Cerca de 39 milhões de metros cúbicos de
água não são retornados com tratamento, sendo, em grande parte, despejados in natura no solo ou em
cursos d’água. O volume de água que, a cada mês, é distribuído para consumo e que não retorna ao ciclo
natural com o tratamento adequado equivale à metade do volume de água contido na Baía da Guanabara.
A cada ano, esse volume tem a ordem de grandeza equivalente a seis baías da Guanabara.
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Unidade III
Considerando o texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
I. As consequências a que se referem os autores no texto acima podem ser denominadas como
externalidades e constituem falhas de mercado.
PORQUE
II. O uso de mecanismos de regulação é recomendado como forma de eliminar falhas de mercado.
Análise da questão
I. A moeda é usada como reserva de valor, pois é o ativo com maior liquidez na economia.
II. A moeda é utilizada como unidade de conta, pois é aceita pela coletividade, possibilitando que
todos os bens, serviços e fatores de produção sejam expressos em unidades monetárias.
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ECONOMIA E MERCADO
III. A moeda é utilizada somente para intermediar o fluxo de bens, serviços e fatores de produção.
IV. A moeda é utilizada como meio de troca, o que facilita as transações de bens, serviços e fatores
de produção.
B) II e III.
C) I, II e III.
D) I, II e IV.
E) III e IV.
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Livro-Texto - Unidade IV
Unidade IV
Unidade IV
7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO
Entender o regime de metas para inflação implementado em diferentes economias durante a década
de 1990 é compreender uma mudança de postura dos governos e, principalmente, da autoridade
monetária quanto à adoção da política monetária, que passa a ser pautada na busca de estabilidade de
preços e na transparência de todo o processo. Isso foi feito para obter maior credibilidade por parte da
autoridade monetária junto à sociedade para que os reais objetivos da autoridade sejam conquistados.
O outro pressuposto, que de certa forma não está dissociado do primeiro, é o seguinte:
independentemente da influência provocada pela política econômica, existe nas economias uma taxa
natural de desemprego que é determinada tanto por fatores reais como institucionais.
Se o monetarismo até então vigente parece não mais apresentar importância em termos de
formulação de política econômica, tal regime receberá forte influência dos economistas teóricos da
escola novo-clássica e suas hipóteses das expectativas racionais. Como os agentes econômicos detêm
informações, mesmo que assimétricas, é com elas que criam suas expectativas quanto às reais razões da
adoção da política monetária (por parte do formulados) e, a partir daí, tomam suas decisões com relação
à moeda e aos investimentos. Como bem explica Carrara e Correa (2012, p. 443),
ECONOMIA E MERCADO
Para os teóricos da escola novo-clássica, a política monetária é ineficaz para afetar variáveis
reais da economia pelas seguintes razões: os agentes econômicos formam suas expectativas com
bases racionais; existe uma inconsistência temporal da política monetária; e o viés é inflacionário.
O que isso significa? Que a autoridade monetária anuncia uma direção da política monetária,
se expansionista ou contracionista e, com base em tal nota, os agentes econômicos formulam
suas posições – reação à política – ancorados no registro. Bastaria então à autoridade monetária
realmente adotar a postura anunciada, sem criar desconfiança por parte do mercado de como
agirá. Isso tem uma ligação direta com a questão da credibilidade a ser conquistada pela
autoridade monetária para que seus objetivos logrem êxito. Do contrário, se não adotar a postura
que informou aos agentes, o mercado reagirá de forma oposta aos objetivos pretendidos e a
reputação piora o quadro da economia.
Nesse contexto, sabemos que esses compromissos relacionam-se à inflação, que deve ser baixa e
estável, mas quão baixa? Qual estabilidade manter? É aqui que uma meta numérica para inflação vem,
anunciada, bem como o tempo necessário para alcançá-la. Segundo Carvalho et al. (2007, p. 140),
Observação
E qual será o instrumento de política monetária a ser utilizado para conquistar o nível de
inflação desejado? Trata-se da taxa básica de juros, que atuará de forma a fazer com que a inflação
tenda a convergir para a meta estabelecida. Contudo, por essa vertente, a administração da taxa
de juros da economia deve estar conforme as condições de mercado e não deve interferir no bom
funcionamento do mercado de bens, a não ser que este esteja provocando inflação, algo totalmente
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Unidade IV
contrário aos objetivos da política monetária. Para os adeptos desse regime, a política fiscal deverá
estar subordinada aos objetivos e compromissos da política monetária, e não o inverso. Como
sabemos, os efeitos expansionistas ou contracionistas provocados em uma economia pela política
fiscal são mais ágeis do que os da política monetária. Com essa mudança de postura e com a visão
e alcance de longo prazo, a eficácia da política monetária dependerá da transparência na condução
da política e de seus mecanismos de ação a serem executados ao longo do tempo. Isto requer
melhoria na comunicação entre autoridade monetária e coletividade de forma geral para que todos
estejam alinhados.
Quanto à transparência e comunicação, o uso da mídia, não só impressa, é essencial. Por exemplo:
a autoridade monetária deve fazer a publicação de relatórios com os dados históricos dos níveis de
inflação, ressaltando os instrumentos de política monetária que foram usados para obtê-los. Nessas
comunicações, o foco está na apresentação das razões técnicas e nos reais motivos de a autoridade
monetária tomar este ou aquele caminho, a fim de que a sociedade siga o mesmo rumo.
Quando o Banco Central vem a público esclarecer sua posição, sempre o faz para avisar a
sociedade de que manterá a mesma trajetória de taxa de juros (caso a inflação esteja perto da meta)
ou se deverá mudar de rota – em caso contrário. Se o plano falhar, o Banco Central explica quais
os motivos que fizeram a inflação fugir da meta estipulada e depois anuncia a rota de correção.
Muitas vezes, a o erro está na própria política econômica adotada, suas formas e períodos, o que
fará com que a autoridade monetária reconheça junto ao público que errou em suas previsões e
tomadas de atitude.
Aplicando tais medidas, a autoridade monetária, ao assumir compromissos com a sociedade, terá
que deixar de atuar de forma discricionária e apenas a seu intento. Assim, a margem de manobra para
que a autoridade monetária traia a sociedade parece diminuir. Pelos teóricos da escola novo-clássica
e adeptos do regime de metas de inflação, vieses inflacionários sempre são criados quando o órgão
competente não adota a política econômica da forma como foi anunciada, portanto, ferem a
credibilidade de sua atuação e da política. Então, incrédulos, os agentes econômicos tomam suas
decisões, independentemente da política econômica. Qual o resultado? Política econômica com um
objetivo e sociedade com outro.
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Primeiramente, é preciso escolher uma meta que seja pontual ou mesmo de uma banda.
Uma meta estabelecida pode ser mais bem compreendida pela população diante do anúncio
de um número específico, no caso um percentual de inflação aceitável e requerido, e o uso de
bandas não é tão simples. Nesse expediente, o anúncio não se faz apenas com um número, ou
um nível, se preferir, mas sim com um intervalo de aceitação, com teto máximo e teto mínimo.
Enquanto a primeira opção é mais palatável no quesito público, engessa a política monetária em
termos de compromissos críveis. Já a segunda alternativa permite o inverso: é mais difícil de a
sociedade compreender e seguir os compromissos institucionais, mas promove maior flexibilidade
à autoridade monetária quanto ao manejo da política econômica, notadamente a monetária, em
direção aos objetivos firmados.
Depois, é preciso escolher o período para a meta ser alcançada. A autoridade monetária tem algumas
opções: a adoção de metas curtas, digamos anuais, representa uma condição maior de compromisso por
parte da autoridade monetária quanto à estabilidade dos preços. Nesse caso, a autoridade monetária
busca credibilidade e abre mão de flexibilidade. Se a opção for pela adoção de metas em horizontes
temporais mais alongados, possíveis choques endógenos ou exógenos contra a inflação podem ser
amenizados, pois o Banco Central optou pela flexibilidade em vez de reputação, não que esta também
deixe de ser considerada pelo mercado.
Por fim, mas não menos importante para que o regime de metas de inflação seja efetivo, é vital
definir um índice de preços a ser adotado como referência para a meta. Então, há algumas opções,
ou a autoridade monetária optará por um índice do tipo preços ao consumidor, no caso, um índice
cheio, ou adotará um núcleo de inflação – core inflation: “esta opção exclui do índice de preços
ao consumidor os itens que causam perturbações transitórias ou autocorrigíveis e que têm pouca
relação com os movimentos mais permanentes de preços” (CARVALHO et al., 2007, p. 141). Aqui
também temos um conflito de escolha (trade-off): o core inflation tem a vantagem de expurgar da
inflação choques temporários e oferece à autoridade monetária condições mais certeiras quanto
à conquista da meta fixada, abrindo mão de certa credibilidade por causa do entendimento da
população quanto à composição do índice. Há uma questão de percepção: o Banco Central pode
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Unidade IV
estar correto no tocante à meta para inflação, estar na trajetória correta e a sociedade ainda sentir
seus efeitos, em caso de sua existência. Essa interpretação pode causar confusão e a perda de
credibilidade da autoridade monetária.
No Brasil, tal regime foi adotado quando o governo de Fernando Henrique Cardoso e sua equipe
econômica sofreram fortes desvalorizações da moeda, o que ocorreu por causa de ataques especulativos
contra o Real e seu programa de estabilização em condições de economia aberta.
Saiba mais
No âmbito do Banco Central do Brasil, estão a cargo de seus dirigentes as decisões acerca da política
monetária, acenando certa independência deste órgão, mas não de forma totalmente declarada. O
que se vivencia em termos de economia brasileira moderna é que tais decisões não sofrem influência
política por parte do Governo Federal, sendo certo que as decisões de política monetária são adotadas
em razão de técnica econômica e racionalidade. Por seu turno, o Banco Central usa o Comitê de Política
Econômica (Copom), e o Banco Central faz parte de sua diretoria. Desde de que foi instituído, em
meados de 1996, os objetivos do Copom são:
Para cumprir com seus objetivos, os membros do Copom se reúnem a cada 45 dias, efetuam análise
do comportamento da economia do último período, fazem suas projeções para o período seguinte com
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ECONOMIA E MERCADO
base nas informações do passado e do presente e tomam suas decisões. Tais decisões serão veiculadas
pela mídia, depois são formalmente trazidas às claras à sociedade por meio de suas atas.
Saiba mais
Para verificar todas as atas das reuniões do Copom, leia:
<https://www.bcb.gov.br/?ATACOPOM>.
Tratar das políticas de estabilização da inflação da economia brasileira requer estudar um vasto
período, pois a inflação no Brasil sempre foi um problema. Para tal, iniciaremos pela década de 1980,
mostrando como os governos brasileiros adotaram as mais variadas formas de controle da inflação.
A década de 1980 encerraria o período do regime militar, que persistiu no Brasil por longos anos.
A passagem de um governo militar para um presidente civil (José Sarney foi empossado em março de
1985) impulsionaria a Nova República, que se constituiria em um novo ciclo histórico. Sarney inicia seu
governo com a equipe econômica, composta de Francisco Dornelles como ministro da Fazenda e João
Sayad no Planejamento, adotando posicionamento de austeridade sob a bandeira “é proibido gastar”
(BRUM, 2000, p. 403).
Sob seu governo, o primeiro plano de estabilização foi o Plano Cruzado, executado em fevereiro de
1986. De raiz heterodoxa, a ideia central desse plano era que a inflação brasileira era inercial. As principais
medidas do Plano Cruzado foram: “congelamento de preços e salários e reforma monetária, com a
alteração do nome da moeda de Cruzeiro para Cruzado, passando então a representar, respectivamente,
Cr$ 1.000,00 e Cz$ 1,00” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 120-121).
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Unidade IV
Outra frente de ataque do plano seria o déficit público: o intuito era diminuí-lo para 2% do PIB até o
fim de 1987. Na tentativa de frear o consumo, as taxas de juros foram mantidas elevadas, em patamares
superiores ao da inflação, para incentivar poupança por parte dos agentes econômicos. Assim, com
medidas tanto ortodoxas como heterodoxas adotadas pelo plano, a inflação, que no primeiro semestre
de 1987 apresentou índice de 186%, passou para 63% no acumulado do segundo semestre do mesmo
ano (FURTADO, 2000).
Independentemente dos índices de inflação terem recuado consideravelmente diante das medidas
aplicadas pelo Plano Bresser, a maior dificuldade encontrada pelo governo foi o controle dos gastos
públicos, portanto, do déficit público. Tais despesas aumentaram por causa do reajuste salarial de
funcionários públicos, repasses de verbas do Governo Federal a estados e municípios e elevação de
subsídios às empresas estatais, diminuindo a arrecadação da Fazenda de modo substancial.
Há que se considerar o que salienta Furtado (2000), de que o fracasso do plano em seu intento deu-se,
principalmente, à falta de apoio político para adoção de políticas restritivas, pois Sarney procurava
apoio do Congresso para aumentar para cinco anos seu mandato na Presidência da República. Em
dezembro de 1987, Bresser-Pereira deixou o governo, e Mailson da Nóbrega o substituiu. Em janeiro de
1989, foi implementado o Plano Verão, que consistiu novamente em congelamento de preços e salários
e nova reforma monetária, dessa vez tendo a moeda novo nome – Cruzado Novo –, e novamente foi
dividida por mil. Assim, Cz$ 1.000,00 passou a ser NCz$ 1,00. A essas medidas soma-se a eliminação de
indexação, exceto para depósitos de poupança como desestímulo ao consumo e restrição à expansão
monetária e creditícia (BAER, 1995).
No decorrer de 1988, Mailson da Nóbrega adotou a chamada política “feijão com arroz”, que significa
a rejeição às políticas heterodoxas de combate à inflação. O objetivo era estabilizar a inflação em torno
de 15% a.m., além de reduzir o déficit do governo de 8% do PIB para 4%.
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ECONOMIA E MERCADO
O Plano Verão conseguiu manter a inflação abaixo dos 20% no primeiro semestre de 1988, mas a
partir do segundo semestre a recomposição das tarifas públicas e a promulgação da nova Constituição
elevou a inflação.
Havia elementos ortodoxos e heterodoxos no Plano Verão: os primeiros visavam conter a demanda
através da diminuição dos gastos públicos e da elevação da taxa de juros; os heterodoxos tentavam
acabar com a indexação da economia, por isso novamente fixou o congelamento dos preços.
O câmbio foi desvalorizado em 18% e foi feita uma nova reforma monetária com corte de tres zeros
do Cruzado, que passou a se chamar Cruzado Novo.
O Plano Verão, assim como seu antecessor (Plano Bresser), durou pouco tempo. O governo não
realizou nenhum ajuste fiscal e os déficits orçamentários permaneciam muito altos, provocando total
descontrole monetário. A inflação se acelerou rapidamente, tendo seu pico – de 80% – no último mês
do governo.
Na sequência, houve troca de presidente e outra política – o Plano Collor, com confisco de liquidez.
Fernando Collor de Mello foi eleito nas eleições de 1989 por um partido ainda desconhecido por boa
parte da sociedade. Ele prometia, sobretudo, modernizar o mercado seguindo a tendência mundial
pós-queda do Muro de Berlim e combater a inflação utilizando a experiência proporcionada pela
heterodoxia dos planos anteriores.
O subdesenvolvimento pode ser estudado sob dois prismas. Um deles trata a questão de maneira
ideológica, como uma mera classificação no tempo das condições sociais e econômicas de um país
comparado a outros, mesmo que de estruturas diferentes. Por este olhar, a caracterização se daria por
análises conjunturais, sem que uma raiz econômica fosse, de fato, concreta. Outra perspectiva reside na
escolha de fatos mais concretos ligados à estrutura econômica e social de uma nação e que permitam
sua classificação como subdesenvolvido. Aos fatos concretos são atribuídos fatores históricos, territoriais
e regionalização, acesso aos meios de produção e geração de renda, para citar alguns.
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Unidade IV
Conforme destaca Souza (2009), a definição de subdesenvolvimento passa pela noção de que o
crescimento demográfico ocorre de forma mais rápida do que o econômico e, ante tal irregularidade,
não tarda para que a renda e a riqueza se concentrem nas mãos de poucos, o que gera, por consequência,
pobreza e miséria para as classes menos favorecidas. Ademais, indicadores sociais e ambientais
apresentam menor qualidade em relação aos de países considerados desenvolvidos, e as estruturas
econômicas, no que diz respeito à inovação tecnológica, não se mostram totalmente adequadas para
que sejam superados tais entraves.
No mundo contemporâneo, uma questão que vem à tona quanto à classificação de países como
subdesenvolvidos e desenvolvidos é que, uma vez classificados como tal, seria para todo o sempre.
O que estamos tentando dizer? É que, uma vez que um país atinja tal índice, isso lhe dá uma marca,
independentemente se por determinação ideológica ou por condições reais de classificação. Da mesma
forma que em algumas épocas a classificação dos países atendia à denominação de centro-periferia, a
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ECONOMIA E MERCADO
literatura econômica passou a adotar uma nova designação: desenvolvido e emergente, em que aos
primeiros dá-se uma conotação permanente e, aos segundos, uma condição não permanente, mas de
possibilidades de conquista ao desenvolvimento.
Observação
É, portanto, com base em tal ideia que reside a tese, também desenvolvida pela Cepal, da
deterioração dos termos de troca, pois, enquanto o progresso técnico ocorre nos países ditos já
industrializados, aquelas economias em processo de industrialização estão produzindo bens primários
e seus preços relativos de troca são bastante díspares: a economia da periferia exporta bens de baixo
valor agregado para importar bens de elevado valor agregado, fazendo com que haja transferência
de excedente e de ganhos de produtividade para o centro. Assim, a divisão internacional do trabalho
somente faria acirrar a disparidade entre os polos, visto que o centro apresenta tendência a reduzir
sua taxa de expansão das importações de bens primários conforme seu progresso técnico avança para
a forma poupadora de bens primários.
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Unidade IV
De acordo com a reportagem da BBC Brasil, a metodologia para classificação considerou indicadores
econômicos, financeiros e sociais de 100 países, tanto desenvolvidos quanto emergentes. Após a análise,
a classificação dos países atendeu ao agrupamento dos estatisticamente próximos em termos de
condições apresentadas (NOVO...).
• estabilidade monetária;
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Conforme destaca Souza (2009), na economia subdesenvolvida, considerada em sua forma mais
simples – chamada primitiva, é possível entender alguns setores, como o de subsistência, de mercado
interno e de mercado externo, e há relações entre eles.
Observação
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Unidade IV
Figura 31 – Colheita de café no Estado de São Paulo em 1902, caracterizando a economia agroexportadora
A figura a seguir mostra a estrutura de uma economia subdesenvolvida. Contudo, para compreendê-la,
Souza (2009, p. 19) adverte que algumas considerações devem ser efetuadas:
ECONOMIA E MERCADO
(e) o meio urbano e industrial possui um superávit com o meio rural, ou seja,
o valor da produção do meio urbano e industrial destinado ao meio rural
(MUR) supera o valor da parcela da produção do meio rural endereçada ao
meio urbano e industrial (YRU).
XR
Setor
externo
MR
XU MU
YRR Meio rural
YRU
Meio urbano
e industrial
YUR
YUU
Podemos notar que a produção exercida pelo setor denominado meio rural (YR) tem três vias de
destino: a primeira é seu próprio consumo, aquele considerado de subsistência devido a atividades
pouco monetizadas, (YRR); o outro é para exportação (XR); o restante é reservado para ser consumido
no meio urbano e industrial (YRU), sendo que a produção destinada a esses mercados (YRU + XR) é
majoritariamente composta de alimentos e matérias-primas com baixo valor agregado. Em termos de
equilíbrio do meio rural, este será conquistado quando as exportações do setor rural forem maiores do
que suas importações e a renda do setor urbano for superior à renda do setor rural. A identidade a seguir
ilustra o que acabamos de afirmar:
[...] diz que, no equilíbrio, o déficit do meio rural com o meio urbano
e industrial (YUR> YRU) fica financiado por seu superávit com o exterior
(XR> MR). Por seu turno, a produção do meio urbano e industrial (YU)
destina-se ao próprio meio urbano (YUU), à exportação (XU) e ao meio
rural (YUR). A produção destinada ao mercado externo e ao meio urbano
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Unidade IV
Da tautologia (XR> MR) = (XU <MU), pode-se concluir que, em condição de equilíbrio da balança
comercial (X = M), um superávit produzido pelo meio rural com relação ao exterior será igualado ao
déficit externo provocado pelas importações do meio urbano e industrial. Considerando uma economia
em que impere o modelo de substituição de importações, vê-se que a produção e a exportação daquilo
que é exercido pelo meio rural deve financiar as importações exercidas tanto pelos meios urbanos
quanto pelos industriais. Além disso, deve financiar o desenvolvimento desses meios.
Observação
Várias são as formas de extração do excedente produzido pelo setor rural em favorecimento dos
setores urbano e industrial. Entre elas, temos:
• Elevação da tributação sobre produtos que devem ser importados pelo setor rural e que tenham
como origem de produção os setores urbanos e industriais ou mesmo para aqueles produtos
oriundos do setor exportador, para o caso de importação pelo setor urbano.
• Confisco cambial representado pela quantidade de dólares que é apropriada pelo governo diante
daqueles obtidos pelos exportadores de produtos específicos, a exemplo do que fez o Brasil em
1953 com as exportações de café (SANDRONI, 1999).
• Deterioração dos termos de troca entre setor urbano e industrial, em que o volume de dólares
necessários para importação de bens pelo setor rural é maior do que o exigido para que o setor
urbano importe os bens produzidos por aquele setor.
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
É vital destacar que o setor externo representa a agricultura comercial voltada à exportação, bem
como às atividades comerciais ligadas ao comércio de importação e de exportação da economia urbana.
Observação
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Unidade IV
Por sua vez, como o setor externo não é produtor, seu dinamismo está completamente dependente
da demanda do mercado internacional no que diz respeito à necessidade de bens primários, de que é
majoritariamente exportador. Como o bom desempenho do setor externo depende dos bons ventos da
economia internacional, os preços de exportação são influenciados por dois fatores: demanda externa
– que impulsiona para cima em época de aquecimento e para baixo em período de recessão –, e pelo
potencial produtivo quanto à oferta de bens pelos setores de subsistência nos países subdesenvolvidos
(excesso de oferta influencia os preços negativamente e os eleva em períodos de escassez).
Para um país com pauta de exportações bastante restrita, ou seja, concentrada em poucos produtos,
há baixa oportunidade de manipulação dos preços internacionais, o que dificulta o desenvolvimento do
setor de mercado interno. Contudo, se a economia diversifica sua pauta de exportações, a situação pode
vir a ser diferente.
Como bem destaca Sandroni (1999, p. 581), entende-se por substituição de importações o
Figura 33 – Operários italianos em uma fábrica de latas em São Paulo: início do século XX
Podemos dizer tratar-se de um modelo de crescimento voltado para dentro. Entendido ser o
processo de substituição de importações aquele em que a economia doméstica passa a produzir
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ECONOMIA E MERCADO
internamente o que antes era adquirido por importações, é interessante acentuar as características
fundamentais de tal processo:
— elevação das tarifas de importações para produtos entendidos pelo governo como os
merecedores de proteção;
Observação
Unidade IV
Para que o modelo possa levar a economia ao crescimento econômico, exige-se a formação de
poupança interna ou que sejam abertas linhas de crédito, ou por parte dos bancos governamentais ou
daqueles comerciais, como forma de impulsionar os investimentos necessários ao desenvolvimento
tecnológico correspondente ao nível de industrialização. Nesse sentido, o modelo de substituição de
importações coloca-se como alternativa de promoção do crescimento econômico e desenvolvimento
tecnológico como forma de antecipação das condições em que a economia se encontraria somente
no longo prazo.
Via poupança interna ou mesmo financiamentos dos investimentos subsidiados pelo governo,
a economia conseguirá atingir certo nível de base industrial com possibilidade de diversificação da
produção, e as condições produzidas pela economia podem gerar especialização em determinados
setores, que, com sorte, transformam-se em vantagens comparativas para a nação, ampliando sua
competitividade internacional. Se for possível extrapolar o raciocínio para o longo prazo, cada setor
da industrialização diversificada terá condições de produzir para exportação. Com o uso dos recursos
oriundos da base exportadora, de forma gradual poderá haver liberalização de importações devido à
existência de superávit comercial suficiente para pagamento das importações. Nesse ponto, Souza (2009,
p. 154) afirma que ocorreu “a maturidade da indústria”. Agora, com a economia aberta ao exterior, não
mais apenas com vistas às exportações, mas também a importações, temos o aumento da concorrência
e maior disponibilidade interna de bens. Resultado: crescimento do bem-estar da sociedade. A economia
está mais madura e moderna.
Entretanto, como nem tudo é perfeito, pode haver distorções do modelo de substituição de
importações quando adotado de modo irrestrito.
Da mesma forma que pontos positivos são destacados na literatura acerca do assunto, uma das
maiores críticas que o modelo recebe reside no fato de a renda ser bastante concentrada e que, em seu
início, a diminuição da disponibilidade de recursos internos do que haveria no caso de livre concorrência
faz com que os preços aumentem, causando perda de bem-estar para a sociedade devido à elevação dos
lucros empresariais.
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ECONOMIA E MERCADO
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Unidade IV
No modelo, nada funciona sem a existência do elemento-chave, a demanda externa por produtos
primários. É tal demanda que oxigena o empresário do setor de mercado interno a diminuir gradualmente
a produção de subsistência no produto nacional. Percebe-se um deslocamento do eixo dinâmico da
economia em que o setor de mercado interno passa paulatinamente a ter como foco de sua produção
aqueles bens que antes eram importados e inclusive destinados ao consumo do meio rural.
Vimos que o volume de exportações de bens primários por uma economia subdesenvolvida é vital
para o surgimento ou transformação dessas economias desenvolvidas ou em via de desenvolvimento.
O que irá, de certa forma, diferenciar uma da outra – subdesenvolvida da desenvolvida – é o grau de
industrialização desta última, que necessita de elevados níveis de investimentos, portanto, de capital,
que muitas vezes é produzido no âmbito das exportações de bens primários. Nesse aspecto, conforme
ressalta Souza (2009), como os investimentos são constituídos, em grande parte, por bens de capital
importados, são as exportações que representam a contrapartida da poupança para seu financiamento.
Assim, “[...] há uma mudança no caráter da base exportadora, e foi isso que ocorreu no Brasil após 1950:
as exportações, de fator determinante do nível de renda, passaram a ser o elemento estratégico no
processo de formação de capital” (SOUZA, 2009, p. 23).
Para uma economia já industrializada, a importância de base exportadora tem efeitos sobre o
multiplicador do setor de mercado interno, bem como na necessidade de financiamento de importação
de bens de capital, se assim necessário. O que é crucial perceber é que somente haverá exportação
de bens em duas condições: a primeira é a demanda externa e a segunda, a produção interna com
excedente. O aumento das exportações de bens produzidos internamente injeta recursos na economia
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ECONOMIA E MERCADO
doméstica, que tanto podem ser utilizados para ampliar o consumo interno por bens internos, como
para expandir as condições de aquisição de bens de capital que são importados e, dessa forma, saldos
comerciais positivos impulsionam o acesso à tecnologia, gerando economias de escala e elevação da
produtividade da economia doméstica.
Até que não sejam superados os entraves do subdesenvolvimentismo, a base exportadora estará
restrita a poucos bens agrícolas e, por consequência, seus efeitos multiplicadores estarão instáveis.
Assim, o decolar da economia em desenvolvimento estará na dependência:
Unidade IV
tamanho do “bolo” (representativo da produção de bens e serviços), mas o quanto ele poderia saciar a
fome das pessoas.
O raciocínio é simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno não significa que ele tem
condições de saciar a fome do povo. Se forem poucos indivíduos, é possível que todos fiquem
satisfeitos. Contudo, se o bolo for pequeno e proporcional aos dependentes, mas um deles ficar com
metade de um pedaço, a satisfação será menor. O mesmo raciocínio vale para um bolo grande e um
contingente enorme de pessoas. Se o bolo crescer e o número de pessoas aumentar mais do que o
crescimento do bolo, é bem provável que a insatisfação persista. Dessa forma, o crescimento seria
dado pelo tamanho do bolo; em contrapartida, o desenvolvimento seria dado pela saciedade das
pessoas ao se alimentarem do bolo. Mais: não seria suficiente o tamanho médio de cada fatia do
bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou não dos indivíduos; seria preciso saber o quanto
de justiça foi utilizado para a divisão do bolo.
As discussões acerca do desenvolvimentismo nas economias capitalistas surgiram por volta dos
anos 1930, por causa da Grande Depressão. As políticas de desenvolvimento passam a enfatizar a
industrialização via substituição de importações, com incentivos eventuais às exportações. Trata-se,
além disso, de pensar o desenvolvimento econômico das nações liderado por políticas governamentais
que impulsionam a demanda agregada, bem como a produção.
Do ponto de vista da teoria econômica, haverá uma mudança de eixo em termos de análise econômica:
enquanto as economias capitalistas antes da Grande Depressão eram analisadas pelo lado da oferta –
valendo a máxima de Jean Baptist Say de que a oferta cria sua própria procura, bem como a noção de
magic hands smithiana –, com a Depressão e seus efeitos, e no luminar das teorias keynesianas, a análise
econômica volta-se, agora, para o lado da demanda, a demanda efetiva.
Observação
• Controle quantitativo de importações, a fim de evitar a fuga de divisas com gastos supérfluos e
proporcionar mercado para a indústria nacional nascente.
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ECONOMIA E MERCADO
• Aumento do poder de compra das populações rurais por meio de políticas agrícolas, envolvendo
crédito, seguro, preços mínimos, estoques reguladores, investimentos em estradas rurais,
comercialização da produção e reforma agrária.
Para que haja diversificação da produção, o empresário deve buscar novas alternativas em produzir
aquilo que o mercado deseja. Mais do que isso: é necessário o tino empreendedor, criativo, arrojado e
visionário para verificar e acompanhar o que a demanda está esperando de sua produção. Não apenas
a demanda interna, mas em especial a internacional. Em um ambiente de economia no qual as relações
internacionais não são tão fortes, o acesso a novos meios de produção e novas formas de invenção se
apresenta como obstáculo ao empreendedorismo e à criação.
Unidade IV
Deve-se a Rostow (1974) a noção de que o desenvolvimento ocorre por etapas em que a economia
apresenta a dinâmica como característica. Para ele, o desenvolvimento pode ser visto como um processo
de evolução de economia de subsistência, primitiva, a uma forma mais avançada, com tecnologia
avançada e de consumo de massa. O pensamento rostowiano está enraizado em considerações de que
nações insuficientemente desenvolvidas conseguem superar seus entraves até conseguir alcançar o
desenvolvimento econômico dito satisfatório (SARMENTO, 2008). O modelo de desenvolvimento estaria
dividido em cinco etapas:
• Segunda etapa: etapa chamada de criação das pré-condições para o arranco ou para a decolagem
rumo ao crescimento. Aqui, já se verifica avanço tecnológico na produção do setor primário e
alguns insights na indústria ainda modesta e leve expansão da demanda em mercados mundiais.
Há uma demanda social por melhores níveis educacionais devido à ascensão da classe média
e aquela classe dominante tradicional passa a sofrer com a concorrência de grupos industriais
urbanos. O Estado é induzido a efetuar gastos em benefício do bem-estar da população e
se verificam aumentos nos investimentos em infraestrutura de transporte, comunicações e
energia, bem como na produção de matérias-primas estratégicas para a indústria, favorecidas
pelo crédito bancário por causa do surgimento de tal atividade. Pelas palavras de Souza (2009,
p. 247), “criam-se, desse modo, forças endógenas e autônomas para o crescimento econômico
autossustentado” em que prevalece a ideia da valorização da expertise individual do ser humano
quanto ao seu potencial criativo.
• Terceira etapa: fase do arranco ou decolagem propriamente dita, em que foram superados os
entraves até então vigentes. É um período no qual o desenvolvimento nasce com normalidade
e tem-se o surgimento de novas indústrias, tecnologicamente interligadas, com seus lucros
reinvestidos na criação de outras condições de produção. Verifica-se a criação de grupos
empresariais, o que favorece o crescimento do emprego, inclusive no setor de serviços, apoiando
o bom desenvolvimento do comércio e da indústria do setor produtor de bens de consumo. Não
tardam a aparecer as inovações tecnológicas e fabricação de produtos modernos, bem como
acesso a novas fontes de insumos de produção, inclusive no campo agrícola, que agora também
consome bens industrializados.
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ECONOMIA E MERCADO
• Quinta etapa: é chamada fase do consumo em massa, na qual a economia é liderada pelos setores
produtores de bens de consumo duráveis e setor de serviços que facilitam a vida da população. Há
ligeira queda de preços da economia devido a melhores condições de oferta e maior competitividade
entre as empresas, fazendo com que o salário real se eleve, permitindo, assim, o consumo em massa.
“Nesta fase, o Estado investe mais na assistência social. É o chamado Estado de Bem-Estar Social,
característico dos anos 1950-1970 nos países desenvolvidos” (SOUZA, 2009, 247).
Bielschowsky (2000) indica haver, para o Brasil, duas linhas de interpretação acerca do
desenvolvimentismo: uma ligada ao setor privado e outra ao setor público. No que diz respeito ao
setor privado, a ideia prevalecente era a da proteção aos interesses da classe empresarial, propondo
uma visão nacionalista, enquanto economistas que trabalhavam no setor público apresentavam certa
dualidade: enquanto uns, os não nacionalistas, propunham que as ações desenvolvimentistas deveriam
ser tomadas pelo mercado, a partir dos interesses empresariais, outros, chamados de nacionalistas,
preconizavam a estatização de setores estratégicos, a exemplo de energia, mineração e transporte, além
do favorecimento à indústria de base.
Unidade IV
• Uma das formas de dizimar a pobreza seria por meio da industrialização integrada.
• A industrialização somente avançaria com apoio das correções pelo Estado, das falhas de mercado:
para tanto, protecionismo e intervenção estatal seriam indispensáveis.
• A intervenção estatal deveria ir além dos instrumentos triviais de políticas públicas: deveria incluir
investimentos em setores estratégicos.
Pelo lado do setor público, conforme adiantado, havia duas correntes: dos não nacionalistas e dos
nacionalistas. Como bem afirma Bielschowsky (2000, p. 103),
De visão não nacionalista, destaca-se Roberto Campos, considerado o economista de maior expressão
no período em que a economia brasileira passava de sua estrutura agroexportadora para a industrial,
agora internacionalizada. Tal projeto de desenvolvimento deveria incluir a questão do planejamento da
industrialização. Propunha que
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Unidade IV
1998 e 1999-2002). Nesse aspecto, a discussão está no Plano Real, sua arquitetura e consequências, no
entendimento do processo inflacionário no Brasil, no papel exercido pela política cambial e a diplomacia
do dólar, bem como no novo papel do governo. Os dois mandatos de Lula (2003-2006 e 2007-2010) e o
governo de Dilma também são abordados no contexto político e econômico.
Figura 34 – Fernando Collor de Mello no momento em que assina a renúncia ao cargo de presidente da República
Esse novo governo depara-se com importantes acontecimentos na economia brasileira, um deles, na
área política, deveria fazer cumprir um dispositivo constitucional quanto ao plebiscito acerca do regime
instituído no Brasil: a manutenção do regime republicano ou o retorno da monarquia, ainda que sob
a forma presidencialista ou parlamentarista, na qual as urnas apresentam a república presidencialista
como vontade popular. Na esfera econômica, havia o enfrentamento do já conhecido problema: a
hiperinflação. Após algumas tentativas de designar alguém para o cargo de ministro da Economia, o
novo presidente trata de nomear Fernando Henrique Cardoso, primeiramente para o Ministério das
Relações Exteriores, para logo depois assumir o Ministério da Economia. Ele teve a chance de enfrentar
a estabilização econômica com o lançamento de seu bem-sucedido Plano Real, também chamado de
Programa de Estabilização Econômica.
A taxa de inflação, que tinha atingido 2.851,3% em 1993, foi controlada a partir de julho de 1994.
O Plano Real pode ser entendido em duas trajetórias distintas: uma vai da implementação executada
ainda no Governo Itamar e segue até a crise financeira de 1998; a outra iniciando-se em 1999, época em
que ocorre a mudança no regime fiscal e cambial e surge o regime de metas para inflação (NAKATANI;
OLIVEIRA, 2010).
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ECONOMIA E MERCADO
Sétima tentativa de estabilização da economia brasileira em mais de dez anos de intenções frustradas,
o Plano Real é considerado por muitos a primeira empreitada bem-sucedida. Todavia, é vital ilustrar o
que ocorria não só na economia brasileira, mas também na mundial.
A elevação das taxas de juros nos Estados Unidos provoca crescimento do custo de capital em todo
o mundo e a consequência foi a queda dos lucros das empresas endividadas em dólar. Nesse cenário,
como os custos de produção já haviam subido devido às crises do petróleo da década de 1970, a inflação
brasileira volta a persistir. Com trajetória de queda entre as décadas de 1960 e 1970, a inflação cresce
no início de 1980, chegando, em 1981, a mais de 100% ao ano. Mesmo com as tentativas de debelar a
inflação durante essa década, ela persistia, bem como seu componente inercial, até que às vésperas do
Plano Real o Brasil está novamente ameaçado pela hiperinflação (PAULINO, 2010).
Há muitas teorias sobre a inflação. Para o que aqui nos interessa examinar,
ou seja, o Plano Real, um aspecto desse debate tem especial relevância. Diz
respeito à relação entre inflação e taxa de câmbio. Mais precisamente: a
inflação é essencialmente um fenômeno interno da economia e se revela
ao mundo por meio das mudanças da taxa de câmbio ou, ao contrário, são
os desequilíbrios externos da economia, que, ao alterar as taxas de câmbio,
desencadeiam internamente o processo inflacionário?
Para os formuladores do Plano Real, a inflação era advinda do desequilíbrio nas contas do governo.
Quanto a isso, vejamos o pronunciamento do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso:
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Unidade IV
Diante de tal constatação, é possível notar que o controle dos gastos públicos levaria a economia
brasileira à estabilidade, pois cessaria a emissão de moeda ou de títulos, e as pessoas voltariam a confiar na
moeda, deixando de exigir mais dinheiro pelos produtos ou serviços vendidos. Para Paulino (2010, p. 288),
Além disso, o processo de privatização das empresas públicas, iniciado no Governo Collor, foi acelerado
e estendido para novas áreas, como telecomunicações, geração, transmissão e distribuição de energia
elétrica, mineração estatal, inclusive o petróleo. Quanto ao assunto, Araújo (2005, p. 67) salienta que
ECONOMIA E MERCADO
O Plano Real seria implementado em três etapas: inicialmente, com o equilíbrio nas contas do
governo, pois entendia-se que essa era a fonte principal da inflação brasileira; na sequência, criou-se
um padrão monetário estável – Unidade Real de Valor, a conhecida URV; por fim, transformou-se esse
novo padrão monetário em uma moeda pura e sem inflação, o Real propriamente dito (LACERDA, 1999).
Agora vamos entender as etapas do Plano.
A primeira etapa foi a do ajuste fiscal, que contou com o Fundo Social de Emergência. Foi
implementada em 14 de junho de 1993 e foi chamada de Programa de Ação Imediata (PAI). Nessa fase,
de âncora cambial e juros elevados, o foco era reorganizar as contas do governo. Para tal, previa-se
drástica redução dos gastos públicos já naquele ano e a revisão das possibilidades de recuperação de
receitas tributárias, incluídas aqui as dívidas de estados e municípios com o Governo Federal. Houve
maior controle nos bancos estaduais, e os bancos federais deveriam ser saneados. Era preciso ampliar o
processo de privatização de estatais, diminuindo a participação do Estado na economia. Para a equipe
econômica da época, o equilíbrio fiscal era condição necessária para retomar a estabilidade econômica
e, em decorrência, o processo de desenvolvimento tão almejado. Lacerda (1999, p. 199) destaca as
medidas iniciais do Programa de Ação Imediata:
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Unidade IV
Tais iniciativas seriam inócuas se o Governo Federal não alterasse seu relacionamento com estados
e municípios. Neste aspecto, os repasses de recursos da União foram alterados, e novos critérios de
endividamento público foram anunciados. Os bancos estaduais também não ficaram de fora do ajuste fiscal,
e o Banco Central foi o grande fiscalizador quanto ao cumprimento rígido das normas que diziam respeito
ao capital mínimo que tais instituições deveriam manter como garantia de sua solvência. O processo
de privatização também integrou as medidas do PAI. Sobre as privatizações, algo necessário para uns e
controverso para outros, o argumento favorável a seu aprofundamento residia basicamente sobre dois
pontos de vista: primeiro, o Estado deixaria de gastar com a manutenção das empresas ora privatizadas;
segundo, transferindo o patrimônio ao setor privado, que teria condições de fazer investimentos arrojados,
o que contribuiria para o desenvolvimento infraestrutural e econômico do Brasil.
A segunda etapa do Plano consistia na criação de um padrão monetário estável e que traria de
volta uma das funções da moeda, qual seja, a de reserva de valor, que havia se perdido durante o período
da inflação inercial. Esse novo padrão monetário foi denominado Unidade Real de Valor (URV), e serviria
de transição para a introdução de uma nova moeda, o Real.
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Qual o papel da URV na economia brasileira? Ela foi referência para empresários formarem seus
preços de mercado, firmarem seus contratos e estabelecerem salários dos trabalhadores, tudo em URV,
sem que as desvalorizações provocadas pela inflação exercessem influência sobre esses novos preços.
Então, a referência de preços para a sociedade era a URV.
A terceira etapa, Fase Três do Plano Real, deu-se em 1º de julho de 1994, com a exposição de
motivos da Medida Provisória do Real. Acentuavam-se as razões e as regras para a introdução da nova
moeda, uma vez que boa parte dos valores da economia já havia sido convertida para a URV. Assim,
durante um curto período, de 27 de fevereiro de 1994 – quando da implantação da URV, até 1º de julho
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Unidade IV
de 1994 – época da substituição da URV pela nova moeda, o Real, o Brasil conviveu com duas moedas:
o Cruzeiro Real, cumprindo a função de meio de trocas, e a URV, funcionando como unidade de valor.
Nesse sentido, a nova moeda seria lastreada nas reservas internacionais, e o regime de câmbio
fixo deveria prevalecer, desde que permitida sua flexibilidade para baixo como forma de promover a
valorização do Real. Daqui em diante, a introdução da nova moeda seria a nova fase a ser seguida em
substituição ao Cruzeiro Real. Assim, com a extinção da URV, deixa de existir um indexador de preços na
economia, estes passam a ser cotados em reais. Segundo Nakatani e Oliveira (2010, p. 30),
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
Com a Medida Provisória que integra a terceira fase do Real, vimos que a valorização da nova
moeda frente ao dólar apresenta o ponto crucial do Plano, qual seja, a âncora cambial como controle
da inflação. A valorização do câmbio auxilia na queda dos preços internos influenciados pelo aumento
das importações. Notam-se dois efeitos: a desvalorização causa crescimento das importações, e estas
ampliam a oferta de bens no mercado interno, impondo, via concorrência, pressão aos empresários
nacionais para que diminuam seus preços de venda. Mais: aumentam a qualidade e produtividade de
sua produção. Quem ganha? Consumidores internos.
Entretanto, o aumento das importações provoca elevação de déficit na balança comercial e obriga o
governo a continuar na trajetória de juros elevados para conter os investimentos e o consumo interno,
bem como captar recursos do exterior, que, ingressando via conta de capitais em balanço de pagamentos,
permite a quantidade de dólares para fazer pagamento de importações vindouras. Tal política de permissão de
ingresso de dólares via juros elevados, portanto, dívida futura, mostra-se insuficiente. Em dezembro de 1994,
o governo já havia gasto aproximadamente 25% daquelas reservas que foram acumuladas à época pré-Real,
conquistadas com algumas privatizações e saldos positivos em balança comercial (FILGUEIRAS, 2006).
A crise do México que ocorre no fim de 1994 ascende a luz amarela aos formuladores da política
econômica brasileira do que poderia acontecer com o país. Para Filgueiras (2006, p. 125-126),
Anunciada a crise do México, ocorre no Brasil uma fuga de capitais derivada das aplicações dos
especuladores, causando uma perda das reservas internacionais. O cenário piora. Os saldos negativos da
balança comercial deterioram o saldo da conta de transações correntes.
Unidade IV
cair nas malhas do velho populismo, nem do novo neoliberalismo que vinha
do Norte. Entre essas duas alternativas polares, o novo governo surgia como
uma esperança (BRESSER-PEREIRA, 2003, p. 333).
Diante dessa situação, não restou outra alternativa ao governo brasileiro senão agir rapidamente. A
deterioração das reservas internacionais foi motivo mais que suficiente para nova intervenção. Filgueiras
(2006, p. 126) esclarece o momento:
Tabela 16
Mesmo com a elevação da taxa de juros, a economia brasileira não teve posição favorável quanto ao
seu objetivo principal (valorização do câmbio e estabilidade), e a equipe econômica lança um pacote de
medidas. Filgueiras (2006) destaca algumas delas:
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• elevação de impostos de importação para produtos de consumo durável, com a alíquota chegando
a 70% em alguns casos;
• redução do IOF para facilitar a entrada de capitais especulativos e melhorar sua rentabilidade;
O lado fiscal da economia também não ficou de fora dos novos ajustes. Verificou-se o seguinte:
• os salários dos funcionários do setor público ficaram sem reajuste por um período de três anos,
com alteração na data de seu pagamento;
• foi anunciada a inclusão da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) no programa de privatizações.
Para Cano (2000), tanto a abertura comercial irrestrita quanto os demais problemas causados pela
condução da política econômica que, de certa forma, havia estimulado o aumento do crédito à época
da valorização do câmbio e estabilização, provocaram elevação no consumo interno. A consequência
foi a elevação de preços já em 1995, causada principalmente pela demanda de bens duráveis. A
facilidade do crédito acarretou um aumento da inadimplência de 8% em 1994 para 12% em 1995, o
que desencadeou uma crise bancária e levou o governo a criar um programa chamado Programa de
Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que tinha por
finalidade a reestruturação do setor. Tal programa consumiria aproximadamente 5% do PIB.
Saiba mais
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Unidade IV
Lembrete
Com tais ações, o que deveria acontecer de 1996 em diante? Haveria estabilidade ou a economia
brasileira sofreria novamente com os acontecimentos no mercado internacional? Parecia que o Plano
Real ainda sofreria em sua trajetória de consolidação, pois várias crises foram anunciadas a partir de
1997, e novas medidas foram necessárias. Nesse aspecto, como ficariam as condições dos acordos com
o FMI? Quais suas consequências?
Em termos de resultado de crescimento econômico diante dos ajustes efetuados durante o ano de
1995, os números foram favoráveis tanto para o segundo semestre de 1996 quanto para os três primeiros
trimestres de 1997. Gonçalves (2010) destaca que esse bom desempenho da economia deve-se aos
ajustes feitos pelo governo e às eleições municipais, que elevaram os gastos públicos. Isso possibilitou
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ECONOMIA E MERCADO
ao País um crescimento do PIB de 2,7% em 1996 e também deu suporte para a economia ter bons
resultados nos três primeiros trimestres de 1997. Apesar da mudança nos rumos da economia a partir
do quarto trimestre, o País fechou o ano com um crescimento do PIB de 3,6%. Depois, a crise asiática
interrompe essa trajetória de progresso que se apresentava.
Com a nova crise, decerto a balança de pagamentos brasileira seria afetada, pois haveria fuga
dos capitais especulativos. Resultado: queda acumulada de 13% nas reservas internacionais em
dezembro. Em 1997, a balança de pagamentos acumulou perda de 168,42% em seu fechamento
anual em relação ao ano anterior, levando-a a apresentar déficit de 7,8% – contra um superávit de
11,4% de 1996. As perdas foram causadas sobretudo pela Balança Comercial, que aumentou seu
déficit em 48,21%. O gráfico a seguir apresenta a trajetória de balanço de pagamentos no período
1995-2003 para os meses selecionados.
15000
10000
5000
0
1995.01
1995.06
1995.11
1996.04
1996.09
1997.02
1997.07
1997.12
1998.05
1998.10
1999.03
1999.08
2000.01
2000.06
2000.11
2001.04
2001.09
2002.02
2002.07
2002.12
2003.05
2003.10
-5000
-10000
-15000
-20000
-25000
A tabela a seguir demonstra os resultados das diversas contas do balanço de pagamentos do Brasil
no período 1996-1998.
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Unidade IV
Tabela 17
A questão a ser feita é: qual seria a atitude a ser tomada pelo governo sem que fosse necessário abrir
mão da política cambial vigente? Novamente, aumento da taxa de juros, que indicaram 43% ao ano,
facilitando o ingresso de capitais. Como se não bastasse, o governo ainda anuncia o Pacote 51. Sobre
este, Filgueiras (2006, p. 137) acentua o seguinte:
ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Os reflexos iniciais do pacote produziram resultados positivos nas reservas internacionais, pois além
do aumento da taxa de juros brasileira, o FMI emprestou dinheiro aos países asiáticos que estavam
em crise, tranquilizando o mercado internacional. Resolvido novamente o desequilíbrio externo, a
questão fiscal da economia doméstica ainda era preocupante. Então, o governo promove outro ajuste,
assinalando que o regime fiscal buscado desde 1993 ainda não estava concluído. Os primeiros efeitos da
crise já se fazem perceber no Brasil. O desaquecimento da economia provoca queda de 0,51% do PIB no
último trimestre de 1997 – comparado ao trimestre anterior. O desemprego se alastra em 1998 como
resposta às novas elevações nas taxas de juros e dos déficits gêmeos. Os indicadores para 1998 não eram
dos melhores, pois o governo acabara de fazer ajustes para superar a crise asiática, e antes mesmo que
a economia se recuperasse por completo, desponta mais uma crise no mercado financeiro internacional,
que leva o governo a uma nova intervenção já no segundo semestre de 1998 – devido à instabilidade
no mercado financeiro da Rússia (FILGUEIRAS, 2006; GONÇALVES, 2010).
É possível dizer que a previdência social, notadamente a pública, seria a responsável pelo desempenho
ruim dos resultados fiscais do setor público. Assim, o Programa de Estabilidade Fiscal (PEF) fixa metas
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Unidade IV
de superávit orçamentário de 2,6% do PIB para 1999, 2,8% para 2000 e 3% para o ano seguinte. As
metas para o superávit primário seriam de 1,8%, 2% e 2,3% do PIB para os anos de 1999, 2000 e 2001,
respectivamente. Ademais, houve uma projeção de redução dos gastos públicos de R$ 8,7 bilhões para
o ano de 1999. Para ampliar as receitas, o governo subiu os impostos mais uma vez, elevando a CPMF
e a Cofins; ainda aumentou a contribuição para o plano de aposentadoria do setor público e criou a
contribuição para inativos (GONÇALVES, 2010).
Os esforços orçamentários não deveriam gerar resultados positivos somente do ponto de vista da
União. Estados e municípios também deveriam contribuir, cada um a sua maneira, mudando seu resultado
primário de déficit de 0,4% do PIB em 1998 para um superávit de igual magnitude em 1999 e para 0,5%
do PIB em 2000 e 2001. Com isso, foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – Lei Complementar nº
101 (BRASIL, 2000), prevendo que estados e municípios não poderiam mais se endividar nem refinanciar
suas dívidas junto ao Governo Federal (NASCIMENTO, 2014).
Faltando poucas semanas para as eleições presidenciais de 1998, o governo brasileiro começou a
negociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional para poder enfrentar um quadro externo muito
adverso, caracterizado pelo esgotamento da disposição do resto do mundo em continuar a financiar déficits
em conta-corrente na ordem de US$ 30 bilhões. Isso, por sua vez, estava gerando uma fuga de capitais,
porque o temor de uma desvalorização vista como iminente estimulava a troca de R$ por US$ antes que
ocorresse a mudança cambial ou adoção de algum tipo de controle de capitais (GIAMBIAGI et al., 2016).
Até então, os ajustes promovidos no segundo semestre de 1998 tinham como objetivo conquistar
a estabilidade econômica para os próximos três anos, e não apenas para o ano vigente. Para que o
acordo com o FMI fosse concretizado – diga-se, o Brasil não entrar em moratória –, o governo deveria
tomar algumas atitudes comprobatórias: capacidade de pagamento da dívida que viria a fazer e da
dívida interna, que já era bem expressiva – devido à política monetária contracionista de juros elevados
(GONÇALVES, 2010). O acerto das contas internacionais era novamente urgente, pois em outubro de
1998 o déficit em transações correntes atingira 4,4% do PIB e fechara o ano com um déficit de 33,2
bilhões, resultando em perda de 24,55% das reservas internacionais em 1998.
No novo acordo, que foi firmado em 2 de dezembro de 1998, o Brasil se compromete com a manutenção
do regime cambial, prosseguir com a abertura comercial, acelerar as privatizações, realizar um ajuste
fiscal para os próximos três anos, assumindo metas na obtenção de superávits fiscais e primários, bem
como quanto ao pagamento de juros. O principal ponto do acordo foi o de diminuir o déficit nominal,
que atingia mais de 8% do PIB em 1998, para 4,7% do PIB em 1999. Nesse sentido, os gastos com os
juros da dívida também deveriam ser revistos e seus limites jogados para baixo (FILGUEIRAS, 2006).
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ECONOMIA E MERCADO
Vejamos os pontos que faziam parte do compromisso do governo brasileiro nesse acordo:
Apesar de necessário diante dos dados até então produzidos pela economia, o acordo não foi
bem-aceito pela comunidade econômica e dois grandes obstáculos se revelaram, de alguma forma,
insuperáveis. O primeiro diz respeito ao ceticismo com que foi recebido pelo mercado, que já não
acreditava que a política de câmbio valorizado seguiria com folga. O segundo remete, por parte do
Congresso, à rejeição da cobrança de contribuição previdenciária dos servidores públicos inativos,
medida esta que já havia sido anunciada quando dos ajustes efetuados ainda em 1998. Tal medida foi
rejeitada pelo Congresso nos últimos dias de 1998, dando a ideia de que o governo não conseguiria ter
apoio para a efetivação de suas propostas. Resultado: novamente há pessimismo externo, o que acelera
a perda das divisas internacionais. Houve semanas em que a queda de reservas chegou, em certos dias,
entre US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão (GIAMBIAGI et al., 2016).
No tocante a todo o primeiro período da economia brasileira sobre a regência de FHC, vale destacar
o que analisa Bresser-Pereira (2003, p. 337):
Unidade IV
O autor continua:
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ECONOMIA E MERCADO
O novo acordo com o FMI oferece à economia brasileira certa calmaria, mas passageira, garantindo a
reeleição de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). A estabilidade da moeda vinha sendo preservada
e naquele momento era o que importava à sociedade. Mesmo com baixo crescimento econômico, média
de 2,1% no período de 1994-1998, e uma disparada nas taxas de desemprego, o período serviu de
trunfo para o governo (PAULINO, 2010, p. 302).
A sobrevida que o acordo com o FMI deu à âncora cambial foi curta. Depois da
queda do México, em 1994, da Tailândia, da Indonésia, das Filipinas e da Coréia
do Sul, em 1997, e da Rússia, em 1998, o Brasil era a bola da vez. Em janeiro de
1999, o ataque especulativo contra o Real intensificou-se; o governo tentou
resistir. Em pouco mais de uma semana, o Banco Central vendeu 3 bilhões
de dólares na tentativa de sustentar a cotação do Real. Tentou manobrar
para segurar o câmbio, modificando o sistema de bandas de flutuação, mas
não conseguiu e, finalmente, em 13 de janeiro de 1999, o mercado impôs a
flutuação do Real, pois o Brasil encontrava dificuldades para manter a política
cambial dos últimos anos. Mesmo com a liberação da primeira parcela dos
recursos do FMI equivalente a US$ 9,324 bilhões, a fuga de capitais continuou
a ocorrer devido à desconfiança dos investidores quanto às incertezas do
mercado internacional (FILGUEIRAS, 2006, p. 186-187).
Com a nova crise cambial, há troca na Presidência do Banco Central: sai Gustavo Franco, entra Armínio
Fraga Neto. Após organizar nova equipe econômica, procede aos anúncios das medidas emergenciais a
serem adotadas: elevação da taxa básica de juros e início dos estudos para a adoção do sistema de metas
de inflação, que passa agora a ser a “nova” âncora do programa de estabilização.
Saiba mais
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Antes, o teto do regime cambial era de 1 R$ / 1 US$, agora passa para um sistema de bandas, elevando a
taxa para R$ 1,32 / 1 US$. Contudo, esse teto foi mantido por apenas dois dias. Em 15 de janeiro, o governo
admite que o melhor a ser feito era deixar o câmbio flutuar de vez. Tomou essa medida devido à falta de
aporte financeiro para intervir na cotação da moeda estrangeira diariamente, e também para cumprir uma
das cláusulas do acordo com o FMI: manter o mínimo de US$ 20 bilhões de reservas em caixa (GIAMBIAGI;
ALÉM, 2008). A tabela a seguir acentua os saldos de reservas internacionais mantidos no período 1999-2001.
Tabela 18
Reservas Internacionais
Saldo em (US$ Bilhões)
Referência 1999 2000 2001
Janeiro 35.177 36.771 35.347,71
Fevereiro 34.643 37.590 35.399,93
Março 32.873 38.429 34.407,13
Abril 43.380 28.031 34.652,98
Maio 43.362 27.888 35.445,66
Junho 40.417 27.381 37.308,03
Julho 41.346 28.625 35.332,50
Agosto 41.126 30.978 36.263,47
Setembro 41.943 31.154 40.036,91
Outubro 39.255 30.239 37.481,45
Novembro 41.379 32.477 37.220,36
Dezembro 35.554 32.949 35.844,12
Nessas circunstâncias, a taxa de câmbio no fim de janeiro alcança o patamar de R$ 1,98, dando
continuidade à desvalorização do Real, que em fevereiro chegou a R$ 2,06 e atingiu um pico de R$ 2,16
em março (GIAMBIAGI; ALÉM, 2008).
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ECONOMIA E MERCADO
No tocante à nova política cambial, o câmbio semifixo dá lugar ao flutuante. Passa a ser determinada
pelas forças de mercado e interação dos agentes no mercado cambial, sem que o Banco Central
efetuasse alguma interferência, a não ser pelo lado da política monetária – para garantir as metas
de inflação –, bem como pelo lado fiscal – quanto aos superávits primários. Para Filgueiras (2006), a
situação de oscilação na cotação do dólar e sua tendência à desvalorização origina-se em especial
por causa do acordo firmado com o FMI em dezembro de 1998, que limitava o uso das reservas como
instrumento de intervenção no mercado de câmbio. Vejamos os motivos que causaram a depreciação
do Real e os impactos gerados por essa elevação do preço do dólar em 1999.
Nesse quadro, foi necessário rever o acordo com o FMI para frear os efeitos negativos da alta do
dólar e favorecer, novamente, mais ingressos de capital no País. Em março, o governo adotou algumas
medidas a fim de atrair capital especulativo. Destacamos as principais ações tomadas:
Com tais medidas, a cotação do dólar chega a R$ 1,72 no fim do mês, o que permite o início de
queda da taxa de juros ao longo do ano e em cada uma das reuniões do Copom.
Tabela 19
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As metas fiscais do acordo com o FMI e que foram revistas estão na tabela a seguir.
Tabela 20
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ECONOMIA E MERCADO
Importantes reformas foram adotadas com o intuito de diminuir o ainda recorrente déficit
público. Houve reforma parcial da Previdência Social em 1999, aumentando o tempo de contribuição
para o trabalhador fazer jus ao benefício da aposentadoria. Em 2000, o Congresso aprova a Lei da
Responsabilidade Fiscal (LRF), que fixa compromissos nos três níveis de governo, e todos teriam de
seguir regras rígidas e controlar seus gastos (GIAMBIAGI; ALÉM, 2008).
Saiba mais
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Unidade IV
Poderes no País. Também fixa normas de finanças públicas voltadas à responsabilidade na gestão fiscal,
mediante ações para prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas,
destacando-se o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização como premissas básicas.
A Lei Complementar criou uma série de procedimentos fiscais e orçamentários a fim de padronizar a
apresentação das informações sobre as receitas e despesas fiscais no Brasil. Além disso, fez uma série
de condicionamentos com o objetivo de conter os desperdícios e os dispêndios destituídos de amparo
financiador (BRASIL, 2000).
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Como um código de conduta para os administradores públicos de todo o País, a LRF brasileira teve
quatro fontes de inspiração em sua construção. Uma delas foi o Fundo Monetário Internacional e
suas recomendações de gestão pública em todo o mundo, em especial no quesito transparência nas
contas públicas. Outro exemplo veio da Nova Zelândia e seu Fiscal Responsability Act, que enfatizava
limites e restrições quanto aos gastos públicos. A Comunidade Econômica Europeia e sua definição de
metas estáveis na relação dívida/PIB também foi considerada. Por fim, mas não menos importante, o
Budget Enforcement Act do governo americano, que trata da administração financeira orçamentária
(NASCIMENTO, 2014; MATIAS-PEREIRA, 2012).
No tocante aos instrumentos de controle da LRF, temos: o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes
Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. Assim, a LRF busca o reforço do papel da atividade de
planejamento e vinculação entre as atividades de planejamento e de execução do gasto público. Outra
questão de extrema importância apontada pela LRF é a transparência a ser alcançada tanto pela
publicação de tais documentos quanto pela participação da sociedade. Para tanto, Nascimento (2014, p.
217) ressalta que diversos mecanismos foram instituídos pela LRF, entre eles:
Giambiagi e Além (2008, p. 182) revelam que o ajuste fiscal de 1999 foi beneficiado por alguns fatos.
Vejamos quais são:
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Unidade IV
Os resultados alcançados com o ajuste não são provenientes apenas da política econômica até então
adotada. Segundo Filgueiras (2006), o controle da inflação pode ser explicado, em parte, pelo crescimento
de 6% do produto agrícola no primeiro semestre de 1999. Nesse ano o governo ainda conseguiu um
leve crescimento do PIB. Logo após expressiva elevação no endividamento do setor público no período
1994-1998, registra-se novo aumento em 1999, mesmo com superávit primário de 2,92% do PIB. Em
2000, a relação dívida-PIB mantém-se estável, 45%-50%, sendo beneficiada pelo crescimento de 4,3%
do PIB e pelo comportamento favorável do câmbio e dos juros (BRESSER-PEREIRA, 2003).
A balança comercial brasileira, que sempre teve déficits desde o início do Plano Real, passou a
apresentar superávit após o fim da âncora cambial. No primeiro mandato de FHC, houve déficit, em
média, de US$ 24,4 bilhões; no segundo mandato, o acumulado do superávit chegou a US$ 13,9 bilhões.
Os dados demonstram o quanto o uso da âncora cambial, aliada à abertura comercial indiscriminada,
elevou a dívida externa do País, elevando os gastos do governo com o serviço de juros da dívida pública
(GONÇALVES, 2010).
Observação
Com a taxa de inflação relativamente administrada com o regime de metas, taxa de juros em
patamares mais baixos do que os vivenciados no período anterior à liberação do câmbio, política fiscal
baseada na definição de superávit primário e câmbio flutuante, havia maior margem de manobra para
o governo em caso de novas necessidades intervencionistas do ponto de vista da política econômica. É
o que destacam Giambiagi e Além (2008, p. 186).
ECONOMIA E MERCADO
Em 2001, a economia nacional é afetada por uma conjugação de eventos. Crise de energia elétrica,
o chamado apagão, os efeitos negativos da crise argentina e os atentados terroristas de 11 de setembro
nos Estados Unidos. Mais uma vez a trajetória de crescimento da economia brasileira é interrompida, e
os juros domésticos voltam a apresentar tendência de crescimento, o que foi causado pela subtração de
ingresso de capitais no Brasil – o mercado financeiro internacional tinha muitas incertezas.
O primeiro grande problema do ano foi a crise argentina, pois o país adotou uma política
macroeconômica de manutenção da paridade e conversibilidade do peso com o dólar. Como o regime
era de câmbio sobrevalorizado, há déficits comerciais e da balança de pagamentos em trajetória
ascendente, mostrando aos investidores que a Argentina não conseguiria honrar seus compromissos em
dólar. Resultado: fuga de capitais em dólares. Então, o Banco Central argentino, em meados de 2001,
abandona a paridade e declara a moratória da dívida.
Lembrete
Martins (2010) destaca que a Argentina era, até a crise, o segundo maior parceiro comercial do
Brasil e seu maior parceiro no Mercosul. Depois, as exportações brasileiras para lá declinam, e o mercado
internacional vê risco no Brasil. Os investidores passaram a exigir um prêmio maior para os títulos
brasileiros para continuar com os negócios no País. No entanto, os investimentos diretos estrangeiros
apresentam retração no período 1999-2001. Em todo o ano de 2001, os investimentos diretos têm
queda em comparação a 2000, ocasionando queda no PIB potencial do Brasil para 2001. Para piorar,
houve o apagão e a crise americana – derivada dos ataques terroristas às torres gêmeas em 11 de
setembro do mesmo ano.
203
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Unidade IV
O que dizer sobre a crise do apagão, a crise da energia elétrica? À época, o Brasil concentrava seu
sistema de geração de energia nas hidrelétricas, ou seja, muito dependente de reservas de água. No meio
de 2001, a situação era bastante complicada: a maioria dos reservatórios de água estavam bem abaixo do
desejável. Em março, os reservatórios na região Sudeste e Centro-Oeste trabalhavam com apenas 30%
de sua capacidade. Giambiagi (2011, p. 179) salienta ser essa uma crise anunciada, independentemente
das condições climáticas. Vejamos seus argumentos:
A rigor, as raízes dessa crise tinham sido plantadas em anos anteriores, porque
o governo programou uma privatização completa das usinas hidrelétricas,
que acabou não ocorrendo. Prevendo que as empresas seriam privatizadas,
o governo não ampliou os investimentos, esperando que o setor privado o
fizesse. Porém, a venda das empresas não ocorreu e, portanto, não houve
grandes inversões em novas obras no setor, nem estatais, nem privadas,
com exceção da conclusão das obras em curso. Enquanto isso, o consumo
de energia elétrica continuava aumentando, em um contexto marcado por
grandes inovações tecnológicas e dos hábitos de consumo – massificação
do uso de computadores, multiplicação do número de aparelhos de TV nas
residências, uso intensivo de aparelhos de freezer etc.
Para manter o fornecimento tanto de água quanto de energia, o governo adota uma política de
racionamento do uso da energia, obrigando as empresas e o povo a diminuir 20% de seu consumo
em relação à média do ano anterior. Do contrário, incidiria sobre a conta uma penalidade monetária.
Para se enquadrar no plano de maneira rápida, muitas instituições tiveram que diminuir sua produção
ou ao menos deixar de aumentá-la. Com essa subtração, a renda nacional obviamente foi afetada, e o
racionamento seguiu até o início de 2002.
O ano de 2001 ainda contou com o ataque terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos.
ECONOMIA E MERCADO
O que esperar em desempenho econômico diante desse quadro? Martins (2010) destaca que esse tipo de
acontecimento diminui a confiança das pessoas, sobretudo quanto às viagens de avião. Após os atentados,
algumas empresas fabricantes de aviões e operadoras aéreas entraram em crise. Os Estados Unidos, principal
alvo dos ataques terroristas, entram em um período de desaceleração, oferecendo mais uma condição negativa
para a economia brasileira. Com tantos revezes, a economia brasileira teve baixas taxas de crescimento em
2001 e em 2002, conforme gráfico adiante. Em especial, a crise de energia foi vista pela população como uma
consequência da incompetência do governo. Assim, qualquer candidato da situação nas eleições presidenciais
de 2002 partiria enfraquecido, e os candidatos da oposição teriam um grande trunfo.
7,00%
6,00%
5,00%
4,00%
3,00%
2,00%
1,00%
0%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
205
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Unidade IV
O governo FHC teve seus pontos positivos e negativos como qualquer outro. Ficou marcado como o
governo que projetou o País para o crescimento econômico, controlando a inflação e criando meios para
lidar com as externalidades que abalam a estrutura econômica de uma nação.
O período anterior às eleições de 2002 foi bastante conturbado do ponto de vista econômico no
Brasil e no mundo.
Era a quarta candidatura de Lula para presidente da República. Em sua primeira disputa, não
demonstrava conhecer os agentes econômicos em seus planos. Àquela época pairava a incerteza quanto
ao que dizer de Fernando Collor de Mello, figura nova e emblemática. Vejamos o que Moraes (1999, p.
174-175) relata.
ECONOMIA E MERCADO
Lula havia começado sua trajetória política como grande representante sindical do setor
metalúrgico no ABC, localizado na grande São Paulo. Era bastante conhecido dos dois lados das
relações de trabalho, quais sejam, patrões e trabalhadores, pois havia liderado diversas greves na busca
por melhores salários e melhores condições de trabalho, além de ser um dos principais fundadores do
Partido dos Trabalhadores, que empunhava objetivos e ideais socialistas. Assim, o ex-sindicalista foi
candidato em 1989, na primeira eleição direta para presidente desde os acontecimentos da década
de 1960. Conforme destaca Paulino (2010, p. 314),
Moraes (1999, p. 175) justifica porque a conquista de votos nas urnas não foi tão expressiva:
Observação
A postura será alterada quando da nova tentativa à presidência, agora em 2002. Vejamos o que
Paulino (2010, p. 314) acentua:
Unidade IV
Em 1979, o PT publicou a sua Carta de Princípios. Nela, o partido demonstra suas ideias, algumas
das quais contrárias à economia de mercado. Vejamos: “O Partido dos Trabalhadores defende a volta
das empresas estatais à sua função de atendimento das necessidades populares e o desligamento das
empresas estatais do capital monopolista” (PT, 1979).
O que é possível depreender de tal declaração? Subentende-se que a intenção do partido, e de seus
idealizadores, é de que estatais não deveriam almejar lucro capitalista, mas voltarem-se às necessidades
do povo, portanto, deveriam estar direcionadas às ações sociais. Do ponto de vista de uma economia
com características capitalistas, a exemplo da brasileira, o mercado avalia com maus olhos esse tipo
de objetivo. Tal análise, em tom de reprovação, pauta-se na própria experiência brasileira da operação
dos grandes monopólios estatais. O que falar deles? Denotam morosidade, falta de investimentos em
produtividade e qualidade, excesso de cargos públicos e baixa competitividade.
No mesmo documento, o PT explicita total oposição aos empresários e à burguesia nacional via
ataque a um específico partido de oposição, o Movimento Democrata Brasileiro (MDB). Para aqueles, o
MDB seduzia a classe trabalhadora a fim de controlá-la e então ditar as leis. O Partido dos Trabalhadores
abria as portas à classe operária dizendo “aqui não há patrões”.
Observação
As incertezas dos investidores toda vez que Lula concorria nas eleições
presidenciais não causam surpresa.
A pretensão explícita de o PT chegar ao poder maior e levar “seu povo consigo” fica bem clara noutro
documento de igual importância ao anteriormente citado. Neste, denominado de “Manifesto” e lançado
em 1980, há a declaração de que
O Partido dos Trabalhadores pretende que o povo decida o que fazer da riqueza
produzida e dos recursos naturais do País. As riquezas naturais, que até hoje só
têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão
ser postas a serviço do bem-estar da coletividade (PT, 1980).
Entre a década de 1980 e 1990, as declarações de Lula em rádio, TV, jornais e diferentes meios de
comunicação, inclusive nos debates de que participava, estavam repletas de chamadas nacionalistas e
concentradoras de poder: Vejamos:
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ECONOMIA E MERCADO
• estatização de algumas empresas que estavam nas mãos do mercado, pois almejava uma questão
patrimonialista do Estado;
• reestatização de outras empresas que haviam sido privatizadas nos governos anteriores, a exemplo
da Vale do Rio Doce, da Embraer e daquelas que compunham o sistema Telebras;
Souza (2009) explica que o que afastou Lula das intenções de voto por parte do eleitorado nas
eleições de 1994 nem foi tanto seu discurso radical, mas sim os efeitos provocados pelo Plano Real,
que, a partir do meio daquele ano, conseguiu controlar a inflação. O candidato do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), Fernando Henrique Cardoso, tinha a vitória como certa. As declarações
de Lula não foram expressivas a ponto de interferir no mercado financeiro internacional tão pouco na
variabilidade da cotação das ações em bolsa de valores.
Para Martins (2010), o trecho é bem direto. O partido propunha a adoção do socialismo no lugar do
capitalismo assim que chegasse ao poder. O discurso anticapitalista está acentuado no seguinte excerto:
Não é difícil imaginar o sentimento dos detentores do capital ao ler declarações como essas. Quanto
aos investidores externos, aqueles que acreditavam nos papéis do governo brasileiro e no mercado
acionário, começam a rever suas posições ao verem uma possível confirmação da candidatura do petista.
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Unidade IV
A conclusão lógica a que chegariam os leitores de tais documentos é a de que, com o PT no poder, os
detentores do capital no Brasil perderiam muito dinheiro.
Observação
Em junho de 2002, esse receio destacado pelos investidores como possibilidade já é percebido em
termos de atitude. É o que revela Elena Soihet na revista Conjuntura Econômica:
A autora continua:
210
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ECONOMIA E MERCADO
Em 2002, o candidato Lula passa a adotar uma postura contrária àquela de fim dos anos 1980
e início da década de 1990, diga-se mais adepta às ideias neoliberais. No documento Carta ao povo
brasileiro (LULA DA SILVA, 2002), ele já admitia cumprir contratos que haviam sido firmados no governo
FHC. Tal mudança de discurso não é suficiente para acalmar os ânimos dos mercados. Erber (2011, p. 37)
confirma essa incerteza:
É certo que a campanha eleitoral para 2002 foi bem diferente das anteriores, Lula não se mostrava
mais como socialista radical. Ao contrário, adota uma postura muito mais light ou “paz e amor”, conforme
extratos da sociedade o classificavam à época. Almeida (2002, p. 18) destaca tal mudança.
As recentes declarações de Lula foram claras: há um novo pensamento, mais moderno, pois
o candidato entendeu que o socialismo seria um retrocesso à sociedade brasileira. Contudo, alguns
questionavam se tal discurso não seria uma espécie de encantamento; os receosos pensavam que, uma
vez empossado, ele poderia retomar a ideologia historicamente pregada. Essa dúvida pairava sobre os
mercados e os investidores, tanto é que foi possível perceber o início de um processo de fuga de capitais
do Brasil, resultando em desvalorização do Real e queda no índice Ibovespa.
Como vimos, o período que antecede as eleições de 2002 foi demasiado conturbado: no contexto
econômico interno e desde a implantação do Plano Real, a opção pelo câmbio fixo trouxe consequências
positivas e negativas, obrigando o governo a alterar sua estratégia em nome da estabilidade macroeconômica
– no início de 1999, as reservas internacionais eram muito baixas. A consequência foi a retração econômica,
desde o último trimestre de 1998 até o quarto trimestre de 1999. A economia só começa a apresentar sinais
de recuperação de 2000 para 2001. Entretanto, o ano de 2001 freia o caminho do crescimento brasileiro.
No campo político, iniciam-se as pesquisas de intenção de voto para presidente.
Unidade IV
Em 2002, mesmo com a economia apresentando certa recuperação em comparação ao ano anterior,
não foi o suficiente para mudar a visão dos investidores sobre os rumos dali em diante. A desconfiança
aumentou ao longo de 2002, no calor da campanha eleitoral. Por mais que algumas previsões procurassem
fugir ao pessimismo, boa parte dos observadores internacionais temia pela decretação de alguma forma
de moratória já em 2003, quando das possíveis políticas populistas na eminência do novo governo
(GIAMBIAGI, 2011).
Com a forte saída de recursos do País, a queda das cotações das ações no mercado financeiro e as
baixas negociações no mercado de ações, o mercado de dólar também seria afetado: em setembro de
2002, o preço do dólar atingiu sua cotação máxima desde a criação do real. Veja o gráfico a seguir.
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
2001.11
2002.01
2002.03
2002.05
2002.07
2002.09
2002.11
2003.01
2003.03
2003.05
2003.07
2003.09
2003.11
2004.01
2004.03
2004.05
2004.07
2004.09
2004.11
2005.01
2005.03
2005.05
O governo de Lula, que vence José Serra, permanece no poder por dois mandatos. Sob o signo da
mudança, tendo como principal programa o Fome Zero – que daria lugar ao Programa Bolsa Família – e
o lema “se, ao fim do meu mandato, cada brasileiro puder se alimentar três vezes por dia, terei realizado
a missão de minha vida”, Lula é eleito com mais de 50 milhões de votos, e o povo esperava mudanças
na condução da política e da economia (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010, p. 38). Após esse período, eleita
também pelo PT, o Brasil teria uma presidenta, ou, se preferir, uma presidente: Dilma Roussef, que
também seria eleita duas vezes.
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ECONOMIA E MERCADO
Figura 40 – Em Brasília, 5 de janeiro de 2004: o ex-presidente FHC e seu sucessor eleito, Lula
Uma das principais características da gestão Lula foi uma política de continuidade do Plano Real,
mas dito um governo voltado para as questões sociais e para a retomada do crescimento do País.
Os principais nomes do governo foram: Antonio Palocci, até então ministro da Fazenda, deixando o
cargo após denúncias de escândalo e corrupção. Seu sucessor, o economista Guido Mantega, teve
papel significativo na condução da política econômica ao lado de Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central.
Durante seu mandato, a inflação também foi controlada com rigor pela administração da taxa de
juros e pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que adotaram uma política monetária bastante
conservadora, devido à manutenção de altas taxas de juros.
Desde a posse de Lula, a política macroeconômica foi anunciada e executada com o objetivo de
alcançar a autossustentabilidade das contas públicas, dando continuidade ao regime de câmbio flexível
e metas de inflação sem que fosse necessário elevar a carga tributária, bastante penosa para a sociedade
brasileira (NASCIMENTO, 2014). Tais medidas visavam à sustentação do superávit primário de 4,25% do
PIB ao mesmo tempo em que se reduzia o gasto com o serviço de dívida.
A política fiscal com vistas à estabilidade da dívida pública e ao controle das contas governamentais
é projetada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e houve maior atenção à Lei de Responsabilidade
Fiscal, criada na época de Fernando Henrique Cardoso.
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Unidade IV
Como vimos, na medida em que o candidato principal do Partido dos Trabalhadores mais verificava as
possibilidades de eleição, um processo de mudança moderada de aproximação com o centro político ficou
mais evidente. Ainda que importante, esse processo de conversão do PT, até 2002, ainda era incipiente.
Segundo Giambiagi (2011), é possível fazer uma longa listagem de declarações e/ou atos, desde economistas
simpatizantes até o seu próprio líder, passando por deputados e representantes diversos do partido, cujo
teor trazia preocupação aos mercados no início da década. Citaremos alguns casos.
É bem verdade que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) havia levantado a bandeira
acerca de um possível plebiscito cujo teor pairava em torno de três questões, e as principais lideranças
do Partido aproveitaram o ensejo e rumaram na mesma direção. Vejamos as questões:
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ECONOMIA E MERCADO
Na execução da política econômica adotada até então por FHC e que supostamente poderia ser
conduzida na gestão Lula, em especial quanto à manutenção de superávits orçamentários, houve
manifestações nada agradáveis. É o que reproduz Giambiagi (2011, p. 199):
A advertência efetuada por Mantega corrobora o que Lula anunciava nos debates dos presidenciáveis
em TV aberta, quando afirmava com veemência que a condução das políticas fiscais e monetárias deveria
estar nas mãos do governo, e não dos organismos internacionais – como estavam à época. Dizia que o
País não poderia mais continuar vítima da insanidade da política econômica para pagar juros ao capital
rentista, e não aos salários aos trabalhadores. Um momento importante do debate programático se deu
em 2001, com a divulgação do primeiro documento oficial do Partido com vistas às eleições de 2002.
O plano econômico Um outro Brasil é possível (PT, 2001) é, segundo Giambiagi (2011), as propostas
principais eram:
O programa econômico que seria revisto seria também rebatizado – A ruptura necessária, aprovado
no fim de 2001 e lançado em 2002. É vital destacar o seguinte: quando aparecem nos documentos as
expressões “renegociação de dívida externa”, “limitação de pagamento de juros” ou mesmo “ruptura”,
grande parte do mercado financeiro tem preocupação. Seguindo, o programa de governo seria
complementado com o projeto denominado Fome Zero, que propunha, entre outras atitudes:
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Unidade IV
Em outras palavras, o documento, cuja página inicial era assinada pelo próprio Lula, propunha
aumentar o gasto público, assistencial e previdenciário com medidas que, somando as citadas
com outras propostas, representavam uma variação do gasto da ordem de 5% do PIB em relação à
situação da época.
Saiba mais
Não tardaria para que Palocci fosse indicado para o Ministério da Fazenda, já no início do governo,
em 2003. Em abril, é divulgado o documento oficial Política Econômica e Reformas Estruturais (2003).
Saiba mais
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ECONOMIA E MERCADO
O autor continua:
• revisão da meta do superávit primário, passando de 3,75% para 4,25% do PIB em 2003;
• anúncio de cortes do gasto público como forma de viabilizar o desempenho fiscal, mesmo que
isso contrariasse compromissos de investimentos anteriormente anunciados;
• compromisso perante a Lei de Diretrizes Orçamentárias de manter a mesma meta fiscal, de 4,25%
do PIB de superávit primário, para o período de 2004-2006.
Unidade IV
E acrescenta:
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ECONOMIA E MERCADO
Saiba mais
Do que se pode inferir sobre o primeiro mandato de Lula, e que foi bem explicitado pelos policy
makers do governo, é que o presidente optou pela vertente de fé no mercado como promotor do
crescimento equilibrado e sustentável da economia, o que é condizente com o receituário do Consenso
de Washington, que ronda a política macroeconômica brasileira desde os idos de Fernando Collor.
Segundo tal receituário, não se vislumbram oportunidades de desenvolvimento que não sejam pela
busca insistente da estabilidade monetária, o que exige, sem qualquer tipo de discussão, política
monetária altamente restritiva e a substituição da intervenção estatal pelo livre jogo do mercado. Do
contrário, não se sai do lugar. Foi justamente assim que se comportou o Banco Central durante tal
gestão: prosseguindo na mesma trajetória do governo anterior, o novo Copom, nomeado por Lula,
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Unidade IV
Por outro lado, mesmo com a economia com bom desempenho, não faltaram críticas ao modelo pelo
lado da heterodoxia. A política de juros elevados até pode estimular o ingresso de capitais estrangeiros;
no entanto, produz péssimos efeitos à economia: desestimula investimentos privados e o consumo,
reduz o crescimento econômico, com impactos negativos sobre o emprego, aumenta o endividamento
interno e, por consequência, os encargos da dívida.
O Ministério da Fazenda era conduzido por Guido Mantega desde o fim do primeiro governo.
Mantega foi assessor de Lula por vários anos. Ex-ministro do Planejamento, também foi presidente do
BNDES na época da mudança na condução da Fazenda.
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ECONOMIA E MERCADO
De forma similar ao mandato anterior, o atual governo foi beneficiado pelos bons ventos
provenientes da economia internacional. Ainda: países emergentes, a exemplo de Rússia, Índia e China
tratarão de puxar a expansão econômica de seus parceiros, de que o Brasil, de alguma forma, tem
proveito. Outro ponto a acentuar está com o crescimento dos preços das commodities no mercado
internacional, oferecendo conquistas em termos de saldos comerciais graças ao ingresso de divisas
via exportações. Nesse cenário de otimismo, não se pode deixar de destacar as grandes promessas
das novas jazidas de petróleo na camada pré-sal dos campos marítimos que foram descobertas.
Como não apostar que o porvir seria bom? Ademais, o País sediaria a Copa do Mundo de 2014 e as
Olímpiadas de 2016, no Rio.
Observação
Mesmo que a economia brasileira pudesse enfrentar crises internacionais, a contração da demanda
externa e do crédito, a forte desvalorização do Real frente ao dólar e pressões inflacionárias como dela
decorrente frearam novamente a confiança dos agentes econômicos, que já viam impactos negativos
no setor exportador e na contração do crédito para consumo de bens duráveis.
Diante desse quadro, ao fim de 2008, caberia ao Banco Central imediatamente elevar a taxa de juros
para conter o impacto inflacionário no câmbio para, depois, iniciar uma trajetória de diminuição da
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Unidade IV
taxa de juros, que atingiu 8,75% ao ano. Como forma de incentivar o crédito e aumentar a liquidez da
economia, flexibilizou o recolhimento compulsório.
Do lado da política fiscal, iniciativas expansionistas também foram adotadas pelo Ministério da Fazenda:
• alavancagem do crédito dos bancos públicos, a exemplo do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal;
Observação
A intensidade da crise, que não se manifestou como preocupante no Brasil, pode ser explicada
pelos níveis elevados de reservas internacionais. Em setembro de 2008, o volume era de US$ 207
bilhões, passa para US$ 199 bilhões em fevereiro de 2009 e sobe para US$ 219 bilhões no início do
segundo semestre do ano.
Outro importante programa do governo Lula no período, que também ganha espaço no mandato
do próximo governante, é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com o objetivo de sustentar
uma taxa de crescimento de 5% ao ano, em janeiro de 2007 foi lançada uma prévia de investimentos
de cerca de R$ 500 bilhões para os próximos quatro anos em áreas selecionadas, a exemplo de energia
(incluindo petróleo), infraestrutura social e urbana, e logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos,
hidrovias). O PAC teve como objetivo anunciado romper barreiras e superar limites ao crescimento
econômico, a fim de manter uma taxa de crescimento de 5% ao ano. Nakatani e Oliveira (2010, p. 44-
45) esclarecem que
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ECONOMIA E MERCADO
Quanto ao PAC, e o que está declarado no Plano Plurianual (PPA) deste governo, destaca-se que
compreendia um
Saiba mais
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Unidade IV
Desvinculada das estratégias de estabilização empreendidas pelo lado monetário, mas não conflitando
com o planejamento de longo prazo do governo, a Medida Provisória nº 428 é lançada em 12 de maio
de 2008 e encaminhada para apreciação do Congresso Nacional. Criava a Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP), chamada por alguns de PAC da indústria (BRASIL, 2008). Nesse documento, eram
previstas algumas metas a serem conquistadas até 2010, entre elas:
• expansão dos investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento para 0,65% do PIB contra os
0,51% previstos para 2006;
Pode-se entender a PDP como um desdobramento do PAC? Em certa medida, sim, pois aqui estão
declaradas também intenções desenvolvimentistas com bases em condições macroeconômicas sólidas.
Diante do que foi acentuado, há possibilidade de abrir espaço para considerar o Plano Plurianual do
atual governo.
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ECONOMIA E MERCADO
No fim de abril de 2008, como prêmio pelo desempenho macroeconômico que vinha apresentando,
o Brasil recebeu selo de grau de investimento da agência Standard & Poor’s, status que, em tese, abriria
ainda mais a economia para receber maiores investimentos do resto do mundo, sobretudo de fundos
institucionais, cujas aplicações só podem ser realizadas em países que possuem essas condições. E, no
fim de maio, esse mesmo status lhe seria atribuído pela agência Fitch, reforçando a sua condição de
país confiável para o investidor estrangeiro. No entanto, esse processo foi interrompido pelo avanço da
crise financeira internacional, que, apesar de desencadeada no centro do capitalismo mundial de 2007,
começaria a se espalhar pelo resto do mundo no primeiro semestre de 2008, exatamente quando o
Brasil se preparava para colher os frutos por seu bom comportamento.
Lembrete
Primeira mulher a ocupar o cargo de presidente no Brasil, Dilma Vana Rousseff ganhará, pelo Partido
dos Trabalhadores e em segundo turno, as eleições de outubro de 2010, tendo como rival o candidato
do PSDB, José Serra que conquistou, no embate, 43,95% dos votos. Seu primeiro mandato compreende
o período 2011-2014.
Figura 42
Como havia sido ministra de Minas e Energia e, depois, ministra-chefe da Casa Civil durante o
segundo mandato do presidente Lula, era, de alguma forma, conhecida nos meios de comunicação e
forte aliada ao governo, que fez o possível para que seu plano de governo tivesse continuidade. Assim,
Dilma surgirá como a presidente que dará sequência aos programas já delineados.
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Unidade IV
É possível destacar algumas de suas propostas de campanha que certamente estavam vinculadas às
do governo Lula:
• aprofundar os investimentos infraestruturais previstos no Programa Luz para Todos, cujo objetivo
era o de levar energia elétrica ao maior número possível do povo da zona rural;
Para que seu governo seguisse, a equipe econômica faria diferença: Alexandre Tombini foi indicado
para a Presidência do Banco Central no lugar de Henrique Meirelles, e lá permaneceu durante os oito
anos de Lula, enquanto Guido Mantega foi mantido no Ministério da Fazenda. Com a mesma política
macroeconômica de seu antecessor e ancorada nas metas de inflação e no superávit fiscal e regime de
câmbio flutuante, taxas elevadas de crescimento foram objetivos dessa política para os anos de 2011 e
2012, o que contaria com a sintonia fina e bem coordenada entre o Tombini e Mantega.
Muito se diz que a presidente eleita não tinha um projeto de governo, ou que dele não
necessitava, pois continuaria o que foi proposto por Lula. O fato é que temos um documento oficial
de intenções, ou ao menos propostas de intenções para seu governo. Nesse aspecto, podemos
destacar seu Plano Plurianual, que pode dar uma base de como seria seu período. A partir do
exercício financeiro de 2012, o Plano Plurianual Federal passou a ter uma nova configuração,
voltada para os resultados na gestão pública, consolidando uma visão estratégica, participativa e
territorializada para o planejamento governamental. Com a nova configuração, o PPA apresenta-se
nas seguintes dimensões:
ECONOMIA E MERCADO
O Programa Temático retrata no PPA a agenda de governo organizada pelos temas das políticas
públicas e orienta a ação governamental. Sua abrangência deve ser a necessária para representar os
desafios e organizar a gestão, o monitoramento, a avaliação, as transversalidades, as multissetorialidades
e a territorialidade. O Programa Temático desdobra-se em “Objetivos” e “Iniciativas”.
O “Objetivo” expressa o que deve ser feito, refletindo as situações a serem alteradas pela
execução de um conjunto de iniciativas, com desdobramento no território. O objetivo possui as
seguintes características:
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Unidade IV
— Define Iniciativas que declaram aquilo que deve ser ofertado na forma
de bens e serviços ou pela incorporação de novos valores à política
pública, considerando como organizar os agentes e os instrumentos
que a materializam.
• Fontes de financiamento:
Dentro dessa nova estrutura, o Plano Plurianual para o período 2012-2015 representa as diretrizes
do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff e segue a nova configuração. É importante destacar
os principais pontos de discussão da dimensão estratégica do Plano Mais Brasil, bem como seus
macrodesafios (BRASIL, 2011).
• Cenário regional.
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ECONOMIA E MERCADO
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Unidade IV
Para que os dispêndios pudessem ser efetuados, o financiamento do PPA do período contava
com recursos da ordem de R$ 5,4 trilhões, provenientes de orçamento fiscal, da seguridade social,
de investimentos das estatais e dos recursos extraordinários, a exemplo de renúncia fiscal, planos de
dispêndios das empresas estatais, agências oficiais de crédito e parcerias com o setor privado. A tabela
a seguir acentua a fonte de recursos e seu percentual no orçamento.
Quanto à alocação dos recursos, os Programas Temáticos representam 80% do total de gastos,
distribuídos em quatro macroáreas: social (57%), infraestrutura (26%), desenvolvimento produtivo e
ambiental (15%) e especiais (2%).
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ECONOMIA E MERCADO
• Energia: 25,1%.
• Transportes: 9,8%.
• Minerais: 5,0%.
• Demais: 8,4%.
• demais (13%).
• Política Nacional de Defesa recebendo 51% dos recursos destinados para a área.
• Desenvolvimento regional, territorial sustentável e economia solidária com 42% dos recursos.
É notório verificar que o governo da época manteve a política do anterior, mas com um apego
social maior do que tinha. Agora, resta-nos acompanhar a história que estamos, de certa forma,
ajudando a construir.
Em que pese os erros e acertos cometidos durante o período de seu primeiro mandato, o fato é que
a presidente Dilma é reeleita em 2014. Desde o primeiro dia de posse até seu impeachement, 31 de
agosto de 2016, não apresenta condições de governabilidade, seja por questões políticas, por questões
econômicas, por pressão de parte da opinião pública ou mesmo das acusações, verdadeiras ou não, de
ter cometido crime de responsabilidade fiscal no mandato anterior. Não cabe a este livro-texto julgar.
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Unidade IV
Com a destituição, assume o vice-presidente, Michel Miguel Elias Temer Lulia, ou apenas Michel Temer,
que, assim como nós, está escrevendo o desenrolar da economia brasileira de nosso tempo.
Saiba mais
Resumo
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ECONOMIA E MERCADO
Exercícios
Questão 1. (ENADE 2012) No Brasil, o regime de metas de inflação foi instituído pelo Decreto nº
3.088, de 2 de julho de 1999, após a adoção do regime de câmbio flutuante, em janeiro daquele ano.
Desde sua adoção até 2005, a política monetária foi consideravelmente restritiva: a Selic foi mantida
em níveis muito elevados, principalmente se comparada com as taxas de juros internacionais. Nesse
período, o PIB apresentou taxa média de crescimento de apenas 2,3% a.a. e, entre os anos de 1999 e
2003, os preços administrados acumularam variação de 93%, muito acima da inflação medida pelo IPCA,
acumulada em 53% no mesmo período. A partir de 1999, tornou-se claro o efeito perverso da política
monetária sobre as contas públicas, ou seja, como o pagamento de juros era muito alto, verificaram-se
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Unidade IV
déficits nominais superiores a 3,5% do PIB, a despeito dos elevados superávits primários, cuja média foi
de quase 4% do PIB. Isso ocorreu devido à elevada participação das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs
– indexadas à Selic) na dívida pública, cerca de 50%. Assim, a manutenção da Selic em níveis elevados
resultou em custo financeiro igualmente elevado: a despesa com juros da dívida foi em média 8,1% do
PIB, de 1999 a 2005.
DE CARVALHO, F. J. C. et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de Janeiro: Campus, 2 ed., 2007 (adaptado).
I. De 1999 a 2005, a política monetária restritiva e a apreciação da taxa nominal de câmbio reduziram
a eficácia do único instrumento utilizado no país para estabilizar preços: a taxa de juros.
II. De 1999 a 2005, a alta participação das LFTs na dívida pública dificultou a queda da taxa de juros.
III. De 1999 a 2003, a indexação de parte do IPCA aos preços administrados, que respondem por,
aproximadamente, 30% de sua composição, tornou evidente que parcela considerável da inflação estava
fora do alcance da política de juros do Banco Central do Brasil.
IV. De 1999 a 2003, as informações sobre inflação demonstram que, para assegurar o cumprimento
das metas de inflação, é necessário que os preços livres – determinados pelas condições de oferta e
demanda – sejam excessivamente represados para compensar a forte pressão exercida pelos preços
administrados sobre o IPCA.
A) I e II.
B) I e III.
C) III e IV.
D) I, II e IV.
E) II, III e IV.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: a forma de redução encontrada para a estabilização dos preços foi o controle da taxa
de juros. No período considerado, há mudança de âncora de estabilização. Inicialmente, a estabilização
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ECONOMIA E MERCADO
está ancorada na taxa de câmbio. Após 1999, a âncora passa a ser os juros, ou seja, inflação administrada
via taxa de juros. Foi uma decisão de política econômica dentro do modelo desenvolvido.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: as LFTs foram utilizadas como forma de diminuir a liquidez da economia com efeitos
positivos para a queda da inflação.
Justificativa: a afirmativa diz que parte da inflação é controlada via juros. Outra parte depende de
demais fatores. Como preços administrados são majorados em função do IPCA, tal efeito provoca pico
inflacionário. Então, resta aos preços livres apresentarem queda.
IV – Afirmativa correta.
Justificativa: como os preços administrados geram crescimento do IPCA e, portanto, inflação, resta
aos preços livres cumprirem o papel contrário. Para que haja queda de preços livres, o consumo deve ser
represado.
Questão 2. Na década de 1980, o Brasil buscou combater o processo crônico de inflação ao adotar
um conjunto de planos econômicos. O primeiro desses planos foi o Cruzado, sob o governo de José
Sarney, que tinha como característica(s) básica(s)
B) A criação do gatilho salarial e das OTNs, com a retirada da tablita para os contratos prefixados.
C) A redução imediata dos gastos do Governo Federal e o aumento da tributação direta via imposto
de renda.
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FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 15
Figura 18
CARVALHO, S. Inverno Econômico Prolongado. Wordpress, 11 set. 2015. Disponível em: <https://
analisesmacroeconomicas.wordpress.com/author/suellencs/>. Acesso em: 23 jan. 2018.
Figura 19
Figura 20
Figura 21
Figura 24
Figura 27
NOVO método para classificação de países acaba com conceito de “emergentes”. BBC Brasil, 19
ago. 2015. Adaptada. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150814_
economia_paises_hb>. Acesso em: 11 jan. 2018.
Figura 28
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Figura 29
Figura 30
Figura 31
Figura 32
Figura 33
Figura 34
Figura 35
Figura 36
Figura 37
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Figura 38
Figura 39
REFERÊNCIAS
Textuais
ALÉM, A. C. D. de. Macroeconomia: teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsevier, 2010.
ALMEIDA, C. A. A ideologia do voto para presidente. 1998 é o inverso de 1989! E 2002, é o inverso de
1994? Conjuntura Econômica, n. 9, p. 18, set. 2002.
ANGELO, V. A. de. 11 de setembro de 2001: o maior atentado terrorista de todos os tempos. UOL, 5 set.
2011. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/11-de-setembro-de-2001-o-
maior-atentado-terrorista-de-todos-os-tempos.htm>. Acesso em: 10 jan. 2018.
ARISTÓTELES: as teorias mais relevantes do caos financeiro. (Economia). Diário de Notícias (DN), 24
out. 2011. Disponível em: <http://www.dn.pt/economia/interior/aristoteles-as-teorias-mais-relevantes-
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Unidade II – Questão 1: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS (FCC). Concurso Público para Analista PGE –
Economista 2016: Economia. Conhecimentos Específicos. Questão 44. Disponível em: <https://www.
qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/52383/fcc-2016-pge-mt-analista-economista-prova.
pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.
Unidade II – Questão 2: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS (FCC). Concurso Público para Analista PGE –
Economista 2016: Economia. Conhecimentos Específicos. Questão 36. Disponível em: <https://www.
qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/52383/fcc-2016-pge-mt-analista-economista-prova.
pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.
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