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livro texto 1 economia e mercado Unip

Economia e Mercado (Universidade Paulista)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade


Baixado por Ricardo Ferreira (luizricardoferreira100@gmail.com)
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Economia e Mercado
Autores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
Prof. Claudio Ditticio
Colaborador: Prof. Adalberto Oliveira da Silva

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Professores conteudistas: Maurício Felippe Manzalli / Claudio Ditticio

Maurício Felippe Manzalli

Possui graduação em Economia pela UNIP (1995) e é mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (2000). Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração
e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade, tanto na modalidade presencial
quanto na Educação a Distância. Tem experiência em administração e finanças, notadamente nas áreas ligadas ao
setor de transporte de passageiros, atuando há 29 anos no ramo.

Claudio Ditticio

Graduado em Economia (1973) pela Universidade de São Paulo. Possui mestrado em Economia Política pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007). Participou de cursos de Especialização em Métodos Quantitativos,
Banking, Marketing, Processos Administrativos e Operacionais, Derivativos, Avaliação de Empresas e Tecnologia da
Informação. Possui uma larga experiência profissional como administrador e diretor de instituições financeiras
de varejo e atacado e em empresas comerciais. Também atuou em consultoria de economia e de análise política.
Foi professor e pesquisador da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município (TCM) de São Paulo. Atua na
Educação a Distância na UNIP como professor conteudista e coordenador do curso de Tecnologia em Gestão Pública
e ministra aulas nessa modalidade. É professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação, lecionando em
vários campi da UNIP nas disciplinas relacionadas, principalmente Economia, Finanças, Administração, Contabilidade,
Tecnologia da Informação, Matemática e Estatística.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M296e Manzalli, Maurício Felippe.

Economia e mercado. / Maurício Felippe Manzalli, Claudio


Ditticio. - São Paulo: Editora Sol, 2020.

248 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Economia e mercado. 2. Sistemas econômicos. 3. Metas para


inflação. I. Ditticio, Claudio. II. Título.

CDU 336.7

U507.20 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.

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Prof. Dr. João Carlos Di Genio


Reitor

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


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Unip Interativa – EaD

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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
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Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Vitor Andrade
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Sumário
Economia e Mercado

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 11

Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA ....................................................................................... 15
1.1 Muito mais necessidades do que recursos para atendê-las ............................................... 15
1.2 Bens para a satisfação das necessidades .................................................................................... 17
1.3 Os variados fatores de produção ................................................................................................... 18
1.4 Os agentes que atuam na economia............................................................................................ 19
1.5 A convivência com a escassez......................................................................................................... 21
1.6 Os rendimentos decrescentes.......................................................................................................... 25
1.7 Pensamento na margem ................................................................................................................... 26
1.8 O custo de oportunidade .................................................................................................................. 27
2 SISTEMAS ECONÔMICOS .............................................................................................................................. 29
2.1 O que são sistemas econômicos? .................................................................................................. 29
2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico ................... 29
2.3 Os sistemas econômicos na atualidade....................................................................................... 30
2.4 Externalidades que afetam o livre funcionamento das economias baseadas
nos livres mercados de bens e serviços e de fatores de produção .......................................... 34
2.5 Diferentes sistemas econômicos ao longo da história.......................................................... 36
2.6 Sistemas baseados na tradição ....................................................................................................... 36
2.7 Sistemas baseados no comando .................................................................................................... 37
2.8 Sistemas baseados no mercado...................................................................................................... 38

Unidade II
3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO .............................................................................. 43
3.1 A demanda por bens e serviços ...................................................................................................... 43
3.2 A oferta de bens e serviços .............................................................................................................. 48
3.3 O equilíbrio de mercado .................................................................................................................... 50
3.4 As elasticidades da demanda e da oferta de bens e serviços............................................. 53
3.5 Elasticidade-preço da demanda ..................................................................................................... 54
3.6 Elasticidade-preço cruzada da demanda ................................................................................... 59
3.7 Elasticidade-renda da demanda..................................................................................................... 59
3.8 Elasticidades da oferta ....................................................................................................................... 60

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3.9 Outras aplicações do conceito de elasticidade ........................................................................ 61


3.10 Medidas de elasticidade de alguns produtos ......................................................................... 62
4 AS ESTRUTURAS DE MERCADOS .............................................................................................................. 63
4.1 Que papel os mercados desempenham na economia? ......................................................... 63
4.2 Os grandes mercados da economia .............................................................................................. 64
4.3 Mercados em concorrência perfeita............................................................................................. 65
4.4 Mercados monopolistas..................................................................................................................... 66
4.5 O oligopólio ............................................................................................................................................ 70
4.6 Concorrência monopolística ............................................................................................................ 72
4.7 Mercados com forte concorrência pelo lado do consumidor ............................................ 72
4.8 A matriz de Stackelberg..................................................................................................................... 73

Unidade III
5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA........................................................................................................ 79
5.1 Medição do produto nacional ......................................................................................................... 82
5.2 Identidade entre produto, despesa e renda nacional ............................................................ 83
5.3 Valor bruto da produção e valor agregado................................................................................ 86
5.4 Demais medidas agregadas .............................................................................................................. 88
5.5 Indicadores de crescimento e de desenvolvimento econômico........................................ 90
5.5.1 Medidas de crescimento: o PNB e o PIB ....................................................................................... 90
5.5.2 Medidas de desenvolvimento: IDH, Curva de Lorenz e Índice de Gini.............................. 92
5.6 O papel do Estado na atividade econômica .............................................................................. 97
5.6.1 Falhas de mercado.................................................................................................................................. 97
5.6.2 Funções do governo ............................................................................................................................108
5.6.3 Políticas macroeconômicas e seus instrumentos .................................................................... 112
6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ECONOMIA MONETÁRIA...............................................................119
6.1 Funções e histórico da moeda ......................................................................................................119
6.2 Da moeda aos meios de pagamento ..........................................................................................123
6.3 Oferta de moeda .................................................................................................................................124
6.4 Demanda por moeda ........................................................................................................................131
6.5 As teorias de demanda por moeda .............................................................................................132
6.5.1 Teoria Quantitativa da Moeda (Fisher e Escola de Cambridge) ........................................ 132
6.5.2 A teoria monetária de Keynes ........................................................................................................ 137
6.5.3 Os modelos neoclássicos keynesianos ..........................................................................................141

Unidade IV
7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO .....................................................................................................150
7.1 Políticas de estabilização.................................................................................................................155
8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .......................................................................157
8.1 Características de uma economia subdesenvolvida.............................................................157
8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida..........................................................161
8.1.2 Considerações acerca do modelo de substituição de importações................................. 166

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8.2 Características do desenvolvimento ...........................................................................................170


8.3 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política ...........................172
8.3.1 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro ............................................. 175
8.4 Breve história da economia brasileira contemporânea ......................................................177
8.4.1 De Collor a Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso .................................................. 178
8.4.2 Fernando Henrique Cardoso – primeiro mandato (1995-1998) ...................................... 185
8.4.3 Fernando Henrique Cardoso – segundo mandato (1999-2002) ...................................... 194
8.4.4 Proximidades das eleições de 2002 ............................................................................................... 211
8.4.5 Luiz Inácio Lula da Silva – primeiro mandado (2003-2006): a experiência
do PT na presidência .......................................................................................................................................212
8.4.6 Luiz Inácio Lula da Silva – segundo mandato (2007-2010) ............................................... 220
8.4.7 Dilma Vana Rousseff – primeiro mandato (2011-2014) ...................................................... 225
8.4.8 Dilma Vana Rousseff – segundo mandato (2015-2016) ......................................................231

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APRESENTAÇÃO

Este livro-texto traz, fundamentalmente, a discussão sobre a importância da economia para o


desenvolvimento da vida na sociedade.

Na obra A Riqueza das Nações, Adam Smith destacava que o homem nasceu para viver de forma
coletiva, fazendo as relações de trocas com outros seres humanos para atender às suas necessidades.

Como é caracterizado na obra O Livro da Economia (2013, p. 66):

No início do seu influente livro A Riqueza das Nações, Smith explica as


diferenças entre a produção de uma coisa realizada por uma pessoa em
todas as etapas e aquela realizada por diversas pessoas com uma tarefa
para cada uma. Em 1776, Smith notou que se um homem faz um alfinete
passando por todas as etapas necessárias ele “talvez não faça um alfinete
em um dia”. Mas, ao dividir o processo entre diversos homens, cada qual se
dedicando a uma só etapa, muitos alfinetes seriam feitos em um dia.

É o contexto da divisão do trabalho, que é utilizado como importante referência para que se entenda
o aumento da produtividade na sociedade.

Na primeira parte do livro-texto, trataremos das questões relativas aos conceitos básicos e à
microeconomia, que é o estudo do comportamento dos agentes econômicos e das funções básicas
relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços.

Assim, serão apresentados assuntos como:

• conceitos básicos de Economia;

• o problema econômico, concretizado no conflito entre as necessidades ilimitadas dos agentes


econômicos e os recursos disponíveis para o seu atendimento;

• as leis da demanda e da oferta e as condições de obtenção do equilíbrio de mercado, entre preços


e quantidades;

• os diferentes tipos de bens e serviços;

• as variadas estruturas de mercados.

Observação

Incluiremos modelos que, apesar de simplificados, têm forte conteúdo


explicativo dos diferentes fenômenos econômicos.
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Subsequentemente, serão estudados os assuntos e variáveis que afetam de forma global a economia
de uma região ou país, a chamada macroeconomia, para que assimilemos temas como:

• crescimento e desenvolvimento econômico;

• moeda e inflação;

• consumo e investimento agregados;

• desemprego;

• câmbio e balanças comerciais, de transações correntes e de pagamentos.

O texto provoca a reflexão sobre os tópicos relacionados com economia, em confronto com a atual
realidade vivida pelas diferentes sociedades.

Você perceberá a relevância do conhecimento e da utilização dos conceitos trazidos pela economia,
não só para o seu dia a dia como para os planos de crescimento.

Definitivamente já se foi o tempo em que a economia era considerada um assunto de interesse


basicamente de pessoas ligadas ao mundo dos negócios, finanças ou que tenham atuação em unidades
de governo.

Basta ver a profusão de notícias e informações nos diferentes tipos de mídias (escrita, falada etc.)
abordando fatos e repercussões econômicas.

É vital sabermos os tipos de mercados nos quais nós e nossas empresas estamos atuando.

O que podemos esperar em termos de tópicos fundamentais para o nosso próprio desenvolvimento,
como desemprego, inflação, crescimento da renda etc.?

Os assuntos rivalizam em interesse com os de outras esferas do conhecimento humano.

À medida que você conhecer melhor a Economia, perceberá que ela se relaciona com um grande
conjunto de conceitos e informações de outras ciências, como Política, Ciências Sociais, Filosofia,
Matemática, Estatística, Administração, Psicologia, Direito etc.

Esperamos que esta disciplina e, particularmente, este livro-texto possam ser de muita valia na
discussão dos tópicos de economia.

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INTRODUÇÃO

Desde a Antiguidade, não passavam despercebidos os estudos de economia. Vejamos o excerto da


matéria do Diário de Notícias:

Discípulo de Platão, Aristóteles distinguiu as finanças da gestão doméstica e


do comercial, tomando o dinheiro como unidade de troca. De acordo com a
teoria aristotélica, as finanças eram naturais porque implicavam a aquisição
de bens para garantir a autossuficiência, tendo em conta as necessidades
práticas; ao passo que a gestão doméstica e o comércio permitiam alcançar
a riqueza como um fim, sem limites (DN, 2011).

Assim como ocorreu com outras ciências, as mudanças trazidas pelas revoluções sociais e técnicas,
entre as quais podemos destacar a Comercial e a Industrial, a partir do século XVI até a segunda metade
do século XVIII, trouxeram uma nova dimensão aos estudos de economia.

Saiba mais

A publicação do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith (1983) é


considerada como um marco do surgimento da economia moderna.

Afinal, o que é economia?

Wessels (2010, p. 9) indica:

Economia é o estudo de como as pessoas tomam decisões em face da


escassez e, por sua vez, coordenam suas decisões por meio dos preços.
Procura explicar o mistério de como indivíduos que nunca se comunicam
diretamente entre si, que podem estar vivendo em lados opostos do mundo
e que podem nem mesmo gostar uns dos outros se vierem a se conhecer,
ainda são capazes de produzir e trocar os bens que cada um deseja. Ela
procura examinar como bilhões e bilhões de decisões são tomadas de forma
independente e, no entanto, são reunidas no mercado em uma forma
harmoniosa e coordenada.

É imediata a associação com o uso mais comum do termo, que identifica procurar gastar menos do
que o que fazemos ou fazíamos no passado. A associação, aqui, é com a palavra economizar.

Contudo, a necessidade de menor utilização de recursos, sobretudo financeiros, cobre apenas uma
faceta do estudo dessa ciência.

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A palavra-chave para entender o que é objeto do estudo em economia é escassez, quando não
temos à nossa disposição tudo o que desejamos.

Essa escassez, portanto, faz com que tenhamos de fazer escolhas, entre outras, a respeito do que
produzir e consumir.

Tais escolhas (e suas correspondentes restrições) configuram o que obtemos em termos de economia
e que tipo de atendimento é prestado aos agentes sociais.

Entre as restrições que direcionam as escolhas dos agentes econômicos, podem ser entendidas as
limitações financeiras, legais, de informação etc.

Guimarães e Gonçalves (2010, p. 184) indicam:

Economia é a ciência que estuda como os recursos escassos das sociedades


são alocados tendo por base as decisões individuais de consumidores,
trabalhadores, firmas etc. [...] é a ciência que analisa as escolhas individuais
e suas interações.

No decorrer do texto, veremos explicações mais detalhadas sobre essas escolhas.

É preciso ressaltar a grande interação da Economia com os conhecimentos trazidos por outras
ciências, como Administração, Filosofia e História. Temos um ótimo exemplo com a Política, que reflete
momentos de crises, e assim uma ciência influencia a outra.

No período da pré-economia, anterior ao desenvolvimento da Revolução Industrial (desde o século


XVIII), a atividade econômica era vista como parte integrante da Filosofia, Moral e Ética. Tal característica
predominou durante toda a Idade Média.

Iniciou-se o estudo sistemático de economia a partir dos grandes avanços nas áreas de Física e
Biologia (séculos XVIII e XIX):

• concepções organicistas: considerando funções, circulação, fluxos.

• concepções mecanicistas: relacionadas com as leis da Física, por exemplo, estática, dinâmica,
aceleração, velocidade, forças etc.

Desenvolveu-se, posteriormente, a concepção humanística, admitindo maior impacto dos


motivadores psicológicos da atividade humana e reforçando a característica da economia como uma
ciência social.

A pesquisa histórica facilita a compreensão do presente e auxilia nas expectativas para o futuro.

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A Economia tem muita influência no desenrolar dos fatos históricos. Mantém forte conexão com a
Geografia, no trato das condições geoeconômicas dos diferentes mercados, concentração espacial dos
fatores de produção, localização de empresas etc. Além da Política, interage com o Direito, haja vista as
normas jurídicas estarem ligadas ou pautadas em razões de cunho econômico. A Economia se vale da
Matemática e da Estatística, notadamente para a elaboração de previsões e para constatar adequação
dos fatos às hipóteses formuladas pelas teorias econômicas.

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ECONOMIA E MERCADO

Unidade I
1 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA

1.1 Muito mais necessidades do que recursos para atendê-las

O confronto entre as necessidades infinitas reveladas pelos desejos dos agentes econômicos e a
disponibilidade de recursos que se dispõem para atendê-las constitui o chamado problema econômico.

Surge, pois, o fenômeno da escassez, que é, nos dias atuais, cada vez mais presente nas preocupações
dos seres humanos.

Quando se analisa, por exemplo, a questão do meio ambiente, irrompe a discussão dos meios que
precisamos adotar para mantê-lo à disposição das faturas gerações – estamos destruindo as matas,
reduzindo a diversidade etc.?

Sandroni (1999, p. 419) define necessidade como:

Exigência individual ou social que deve ser satisfeita por meio do consumo
de bens e serviços. Para viver e reproduzir-se, o homem tem necessidades
ligadas à alimentação, vestuário, moradia, educação e lazer. Algumas dessas
necessidades (como a de alimentar-se) são de origem natural e biológica,
enquanto outras são determinadas pela sociedade (como a educação). O
meio social atua sobre as necessidades biológicas: a forma de atender à
necessidade de comer, por exemplo, é dada socialmente pela tradição de
hábitos alimentares. Há, ainda, necessidades individuais impostas pela
ocupação e pela camada social à que pertence o indivíduo. De um modo
geral, para sobreviver biológica e socialmente, o homem precisa de coisas
tão diversas como pão, carne, casa, roupa, escolas, hospitais, ônibus, navios
e trens. Essas coisas em economia são chamadas bens e são produzidas
socialmente pelo conjunto dos homens, por meio do seu trabalho, em
relação com a natureza. A satisfação das necessidades sociais não é algo
natural e imediato, como ocorre em relação ao ar que se respira...

São vários os estudos a respeito das necessidades, considerando-as fundamentalmente como


individuais e coletivas.

Estudando os fatores que interferem na motivação dos indivíduos, o psicólogo norte-americano


Abraham Maslow hierarquizou as necessidades, da base ao topo de uma pirâmide, representando-as do
seguinte modo:
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Unidade I

Autorrealização

Status - Estima

Sociais

Segurança

Fisiológicas

Figura 1 – Hierarquia das necessidades de Maslow

Entre as necessidades fisiológicas (da base da pirâmide), temos alimentação, sono, abrigo etc.
Uma vez que estas são atendidas de forma geral, passa-se para as de segurança, como a proteção
contra violências, preservação da saúde, manutenção de emprego como garantia de obtenção de
recursos financeiros etc. Temos, a seguir, as sociais, como é o caso de formação e manutenção de
amizades, aceitação em novos grupos, intimidade sexual e outros. Como necessidades de status e
estima, podemos destacar: autoconfiança, reconhecimento, conquista e respeito dos outros. No topo
da pirâmide, estão as necessidades de autorrealização, envolvendo o atendimento de aspectos como
moralidade, criatividade, espontaneidade, autodesenvolvimento e prestígio.

É vital ressaltar que não há uma relação de transição direta de uma categoria para outra nesta
pirâmide, com a cobertura total das necessidades das faixas inferiores.

De fato, são perenes as necessidades dessas várias subdivisões. A transição para a categoria superior
significa que as necessidades anteriores foram (ou estão sendo) atendidas, ainda que não em sua
plenitude, mas em ritmo suficiente para justificar uma menor preocupação dos indivíduos, propiciando
as preocupações com as das categorias superiores.

Saiba mais

Mais detalhes a respeito da hierarquia de necessidades de


Abraham Maslow podem ser obtidos na seguinte publicação:

LA PIRÁMIDE de Maslow: conozca las necesidades humanas para


triunfar (Gestion & Marketing). Espanha: 50Minutos, 2016.

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ECONOMIA E MERCADO

Referências a esse modelo são disponíveis em vários escritos sobre


ciências humanas, não somente os que se referem ao estudo de Economia,
mas também Psicologia, Sociologia etc.

O atendimento às necessidades descritas dá-se com o acesso a bens e serviços.

1.2 Bens para a satisfação das necessidades

As necessidades não precisam ser atendidas exclusivamente pelos bens econômicos, isto é, os que
possuem preço e são negociados nos diferentes mercados.

Há, também, os bens livres, disponíveis aos agentes econômicos, como o ar, mencionado anteriormente
por Sandroni (1999).

De forma geral, os bens livres existem na natureza em quantidade superior à necessária para a
satisfação de todas as carências dos indivíduos.

Os bens econômicos, diferentemente dos livres, são escassos, na maioria dos casos.

É ainda Sandroni (1999, p. 419) que explicita: “[...] O que determina isso [condição de escassez] é o
nível de desenvolvimento de uma sociedade e a forma como é distribuída a riqueza social produzida
pelo conjunto da população”.

Os bens – e serviços – econômicos são classificados em diferentes tipos e categorias em razão de


algumas variáveis, por exemplo:

• sua natureza (tangível ou intangível);

• sua função (condições de utilização):

• sua duração.

Temos, então, os bens:

• de consumo, que procuram atender a necessidades como alimentação, vestuário etc.;

• de capital, voltados à produção de outros bens, finais, incluídos os diferentes tipos de insumos e
matérias-primas, suprimento de energia etc.

Utilizamos fatores (ou recursos) para a obtenção dos bens econômicos.

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Unidade I

1.3 Os variados fatores de produção

Na economia, recurso pode ser entendido como algo que pode ser utilizado na produção de
determinado bem ou serviço.

Tais recursos são classificados como:

• Terra:

— Compreende os recursos naturais.

• Trabalho:

— Refere-se ao conjunto de atributos humanos produtivos, incluídos os de natureza intelectual.

• Capital:

— Tratam-se dos equipamentos, máquinas ou instalações que permitem a produção de bens e


serviços. Vemos este tipo de recurso subdividido em suas diferentes concepções, como capital
físico, financeiro, humano etc.

• Capacidade empresarial:

— Esta categoria foi adicionada recentemente às três anteriores, oriundas dos estudos clássicos,
significa os esforços de coordenação dos recursos e os esforços relacionados com as diferentes
formas de empreendedorismo na sociedade.

A tecnologia, de modo geral, é responsável pelo desenvolvimento dos recursos produtivos e mede a
eficiência de sua utilização. Ela é, muitas vezes, admitida como outro recurso de produção, embora seja
melhor entendê-la como sintetizadora dos demais, tal como ocorre com a capacidade empresarial.

Os recursos de produção são também denominados fatores de produção.

Sandroni define os fatores de produção como:

Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais.


Tradicionalmente, desde Say [economista clássico], são considerados fatores
de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho)
e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas).
Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização empresarial
e o conjunto ciência-técnica [...]. De modo geral, os fatores de produção são
limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local
e a situação histórica (SANDRONI, 1999, p. 235, grifo do autor).

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ECONOMIA E MERCADO

A propósito da diversidade indicada, o autor indica que na moderna agricultura o emprego de


máquinas diminui o peso relativo específico dos fatores terra e trabalho. No período que define como
manufatureiro, sobressaía-se o fator trabalho, visto que a produção era mais artesanal, sendo substituído
pelo capital na nova configuração produtiva.

A maneira como são distribuídos os fatores de produção é determinante para a fixação e o


desenvolvimento das teorias de custos de produção, afetando a produtividade e, consequentemente, a
rentabilidade das empresas.

Lembrete

Em qualquer situação, é importante sempre lembrar o problema


econômico, representado pelo confronto entre as necessidades e os
recursos disponíveis para o seu atendimento.

Nesse contexto, é essencial apresentar a diferença entre os conceitos de valor-trabalho e


valor-utilidade. No primeiro caso, o valor de um bem ou serviço é formado a partir dos custos da mão
de obra incorporada ao bem, e o valor do bem é constituído pelo lado da oferta. Já o segundo é aquele
em que o valor de um bem ou serviço é formado com base na satisfação que proporciona ao consumidor
e é, pois, determinado pela demanda.

Antes de prosseguirmos, vamos apreender quem são os agentes econômicos.

1.4 Os agentes que atuam na economia

Para assimilarmos as funções e transações desempenhadas por esses diferentes e variados atores,
vamos subdividi-los em:

• Famílias.

• Empresas.

• Governo.

• Setor externo.

Admitamos, genericamente, o seguinte: enquanto as empresas são responsáveis pela geração de


bens e serviços, em qualquer segmento de atividade (indústria, comércio etc.), as famílias englobam
os agentes consumidores, isto é, são elas que detêm a posse dos fatores de produção, necessários às
empresas para a criação de bens e serviços.

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Unidade I

Observação

O termo famílias pode incluir qualquer número de agentes, sendo até


mesmo um.

O governo, representado por todos os seus integrantes, pela sua importância e interferência nas atividades
dos agentes empresas e famílias, é tratado em um item separado. O mesmo ocorre com o conjunto de atores
que se associam com o setor externo da economia, isto é, nas suas relações com o resto do mundo.

O fluxo circular da renda/riqueza (figura a seguir), em sua versão simplificada, procura


demonstrar a interação dos agentes empresa e família ao participar dos mercados de bens e
serviços e de fatores de produção.

Mercado de bens e serviços

Despesas Demandam Ofertam bens Receitas (R$)


(R$) bens e serviços e serviços

Famílias Empresas

Ofertam Demandam
fatores de fatores de
Recebimento produção produção Pagamento
pelos fatores pelos fatores
de produção de produção
(R$) (R$)
Mercado de fatores de produção

Fluxo monetário
Fluxo real (bens e serviços)

Figura 2 – Fluxo circular da renda/riqueza em uma economia

Esse diagrama revela a interação de dois tipos de fluxos fundamentais: reais e monetários.

No primeiro caso, ocorre a troca física entre bens e produtos versus fatores de produção. No outro,
dá-se a transferência de valores monetários (dinheiro) entre os agentes.

No fluxo real, determinada família requer diversos itens para sua sobrevivência (como
alimentos, vestiário e serviços em geral – água, gás, energia etc.). Para isso, deve ir ao mercado de
bens e serviços, negócio no qual as empresas oferecem seus produtos necessários à cobertura das
necessidades das famílias.

Todavia, para que possam produzir esses bens e serviços, as empresas precisam obter fatores de
produção (terra, trabalho e capital), dirigindo-se a esse específico mercado.

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ECONOMIA E MERCADO

A troca de determinado bem ou serviço ou de fator de produção requer o emprego de dinheiro, que
explica as respectivas interações reveladas pelos fluxos monetários.

1.5 A convivência com a escassez

Os economistas desenvolveram modelos simplificados, que procuram, muitas vezes, com o auxílio de
gráficos, demonstrar os fenômenos fundamentais da Economia.

Uma dessas referências é a chamada Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), também conhecida
como Curva de Possibilidades de Produção (CPP).

Nesse modelo, procura-se acentuar as variações na realização de dois produtos (ou ainda de dois
conjuntos de produtos), concebendo que os fatores de produção são alocados de forma diferenciada.

O modelo admite, pois, o que varia, considerando-se o melhor uso – mais eficiente – com base na
tecnologia vigente – dos recursos de produção.

Vamos evidenciar a lógica do modelo indicando alternativas de produção de dois tipos fundamentais
de bens: vestuários e armamentos.

Iniciamos com a produção totalmente voltada para vestuários. Neste caso, a Economia, em seu atual
patamar de tecnologia, poderia executar cem toneladas de vestuários, concebendo-se que todos os
recursos estivessem voltados para a geração desses bens.

A decisão de também passar a produzir armamentos faria com que houvesse o deslocamento do
emprego dos recursos (fatores) de produção existentes na Economia.

Então, cada vez mais os recursos precisariam ser transferidos da produção de vestuários para a
de armamentos. Com isso, aumentaríamos a produção deste último tipo de bem e, em contrapartida,
abdicaríamos da execução do primeiro (vestuário).

Essa remoção oferece diferentes impactos, dependendo do estágio de produção e da tecnologia


predominante na Economia.

Se considerarmos, por exemplo, o fator trabalho, é certo que cada aumento de produção de
armamentos ocorrerá às custas de um deslocamento cada vez maior de pessoal, antes empregado no
setor de vestuário.

Uma explicação vital para isso é a seguinte: à medida que o processo avança, cada vez mais são
transferidos recursos de menor produtividade – primeiro, são selecionados os trabalhadores mais hábeis.

Para ilustrar esse fenômeno, vamos admitir, por hipótese, seis alternativas de produção (de A a F) dos
diferentes tipos de bens, em certa economia, à luz da tecnologia vigente:

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Unidade I

Tabela 1 – FPP (Fronteira de Possibilidades de Produção)

Alternativa de produção Produção de vestuários (em toneladas) Produção de armamentos (em toneladas)
A 100 0
B 80 40
C 60 50
D 40 60
E 20 70
F 0 75

Avaliando a tabela, deve-se considerar que nessas comparações podem ser diferentes as unidades
de produção dos bens ou conjuntos de bens, que, no exemplo, foram admitidas (igualmente) como
toneladas.

Exibimos a seguir um gráfico cartesiano que permite melhor visualização dessas combinações de produção:
80
75
70
70
Produção de armamentos

60
60
(em toneladas)

50
50
40 40

30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)

Figura 3 – Curva de possibilidades de produção (CPP) em uma hipotética economia

Observação

Percebe-se uma relação inversa (sobe um, desce outro) entre


as quantidades possíveis de serem produzidas nessas alternativas.
Constata-se, também, que o declínio não ocorre à mesma taxa de
substituição entre eles, revelando a situação de cada particular estágio
de produção.

As alternativas (A a F) mostram desde os extremos – produção de apenas em um bem e nada de


outro – até as variações entre elas. Essas alternativas estão refletidas em cima da curva, na qual ocorrem
as possibilidades de uso eficiente dos recursos produtivos.

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ECONOMIA E MERCADO

Este modelo de gráfico, denominado cartesiano, homenageia seu criador, René Descartes. Mostra
o relacionamento entre duas variáveis: uma medida no eixo vertical, no nosso caso, a quantidade
(toneladas) de vestuários, e outra no horizontal, ou seja, a quantidade (toneladas) de armamentos.

Usualmente, tais eixos refletem os efeitos de uma variável explicativa (normalmente demonstrada
no eixo x – horizontal) em outra, explicada pelo eixo y – vertical.

René Descartes foi o maior expoente do chamado racionalismo clássico – movimento de reação ao
período do Feudalismo (quando era muito forte e dominante a lógica religiosa) do qual participaram,
entre outros, filósofos como Francis Bacon, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, John Locke
e Isaac Newton.

Saiba mais

Descartes lançou as bases do pensamento que viria modificar toda a


história da Filosofia com a seguinte obra:

DESCARTES, R. Discurso do método. São Paulo: Saraiva, 2005.

Como foi indicado, as opções/alternativas de produção refletidas “em cima da curva” são as que
admitem, em todos os casos, o uso mais eficiente dos recursos e da tecnologia vigente na economia.

Seguindo na análise, vamos admitir, porém, uma alternativa que denominaremos H e que consiste
na combinação de 40 toneladas de armamentos e de 40 de vestuários.

O gráfico a seguir demonstra o posicionamento desse ponto, no espaço entre a curva e os eixos,
horizontal e vertical.
80
75
70
70
Produção de armamentos

60
60
(em toneladas)

50
50
40
40 H
30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)

Figura 4 – Ponto interno à CPP (Curva de Possibilidades de Produção)

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Unidade I

Neste caso, será uma alternativa situada abaixo da curva e, portanto, ineficiente, em termos de
utilização de recursos, visto que poderíamos aumentar a quantidade de um ou de outro conjunto de
bens, mantido, por exemplo, o outro constante, isto é, podemos obter:

• 40 toneladas de armamentos e 80 de vestuários, empregando-se de forma eficiente os recursos


disponíveis para a produção dos dois bens;

• 60 toneladas de vestuários e 40 de armamentos.

No ponto H (do gráfico), a Economia estará trabalhando com menor eficiência do que lhe é permitido
pela tecnologia vigente.

Essa situação pode ser constada em conflitos, guerras, cataclismas – naturais, orientações inadequadas
de condução da economia etc., que, por sua vez, refletem menor crescimento econômico.

A análise prossegue com o estudo do ponto J (gráfico a seguir), que consiste na combinação de 70
toneladas, tanto de armamentos quanto de vestuários.

Esse ponto situa-se acima da curva prevista pelo gráfico, por isso é inatingível no atual estágio de
tecnologia dessa economia. O ponto somente poderá ser alcançado com o deslocamento de toda a
curva, por exemplo, em razão de maior absorção de tecnologia pela sociedade. Tal deslocamento faria
com que o ponto J fosse incluído em cima da nova CPP.

O gráfico a seguir destaca o posicionamento desse ponto – acima da CPP.


80
75
70
70 J
Produção de armamentos

60
60
(em toneladas)

50
50
40 40

30
20
10
0 0
0 20 40 60 80 100 120
Produção de vestuários (em toneladas)

Figura 5 – Ponto externo à CPP (Curva de Possibilidades de Produção)

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ECONOMIA E MERCADO

Observação

Os efeitos das mudanças em variáveis dentro de um gráfico cartesiano


serão mais bem explicadas neste livro-texto quando abordarmos os gráficos
de demanda e de oferta de bens e serviços.

Concluindo, a CPP (ou FPP) revela os efeitos de nossas decisões de uso de recursos de produção.

1.6 Os rendimentos decrescentes

Outro modelo usual em Economia é a Lei dos Rendimentos Decrescentes. Trata, como no caso da
CPP, dos efeitos das escolhas entre diferentes alternativas, por exemplo, de produção de bens e serviços
em determinada economia.

Costuma-se demonstrar os efeitos dessa lei natural admitindo-se, em diferentes alternativas de


produção, o emprego de quantidades adicionais de um fator necessário à produção de determinado
bem ou serviço.

O uso de alternativas de produção agrícola oferece uma boa visualização desses efeitos.

A tabela hipotética apresentada a seguir indica diferentes quantidades que podem ser produzidas de
determinado bem ou serviço – vamos usar como exemplo a produção de milho – sempre que se altera
o número de trabalhadores.

Tabela 2 – Lei dos Rendimentos Decrescentes

Número de trabalhadores Toneladas produzidas de milho


10 100
11 110
12 118
13 100
14 90

Inicialmente, com dez trabalhadores, conseguimos obter uma produção de cem toneladas de milho.
Se acrescermos mais um trabalhador (ou seja, 11), chegaremos à produção de 110 toneladas do cereal.
Nesses dois casos, verifica-se que é mantido o mesmo rendimento por trabalhador (cada um, em média,
produz 10 toneladas).

Empregando-se, por exemplo, mais um trabalhador (o 12º), a produção total de milho em toneladas
salta para 118. Contudo, verificamos que esse rendimento médio diminui com o acréscimo desse novo
trabalhador, passando a ser de aproximadamente 9,83 toneladas, isto é, 118/12.

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Unidade I

E o experimento assim prossegue. Com mais um trabalhador (o 13º), retornamos à produção inicial
de 100, reduzindo, dessa vez de forma mais drástica, o rendimento médio por trabalhador para cerca de
7,69 toneladas.

Note que já tínhamos esse total (100 toneladas de milho) quando dispúnhamos, no início do exemplo,
de dez trabalhadores.

O administrador da fazenda perceberá que não adiantou ter acrescido seus custos com salários e
encargos sociais para remunerar esses três trabalhadores contratados depois do início da empreitada.
Pelo contrário, agora seu lucro será inferior àquele que obteria se tivesse mantido o número anterior de
empregados.

Se prosseguirmos com o exemplo, a situação fica ainda pior com a seleção do 14º trabalhador
nessa produção. Tal equipe consegue produzir um total de 90 toneladas – o que é menos até do que
inicialmente se obtinha com o emprego de apenas dez pessoas.

Passamos, a partir desse ponto, mantidas as condições de produção, por exemplo, área ocupada,
tecnologia etc., a contar com rendimentos médios cada vez mais negativos. Ora, isso não justifica o
aumento do número de empregados, pois os lucros do fazendeiro seriam severamente afetados, até
transformando-se em prejuízo.

Afinal, será cada vez menor a receita pela venda do milho e maior o custo com o emprego dos
trabalhadores. Esse contexto nos conduz ao fenômeno dos valores marginais, que estudaremos a seguir.

1.7 Pensamento na margem

A preferência por uma alternativa, como no exemplo descrito anteriormente, associa-se à variação
dos valores marginais.

Entendemos valores marginais como as receitas ou os custos, conforme o caso, fixados pela mudança
à variação adicional de um recurso produtivo.

Nesse exemplo anterior, que procura mostrar o efeito da Lei dos Rendimentos Decrescentes, somente
até certo ponto vale a pena contratar mais trabalhadores com o objetivo de aumentar os rendimentos
(receitas) auferidos na produção de milho.

A tabela daquele exemplo pode ser visualizada também no gráfico a seguir, que acentua a produção
obtida com um número diferenciado de trabalhadores.

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ECONOMIA E MERCADO

140

Toneladas produzidas de milho


120
100
80
60
40
20
0
10 11 12 13 14
Número de trabalhadores

Figura 6 – Rendimentos decrescentes na produção de milho

O gráfico revela um crescimento cada vez menor das receitas à medida que aumenta o número de
trabalhadores atuando na produção de milho. Desse modo, vimos que nem sempre vale a pena contratar
mais trabalhadores. Esse ponto será aquele no qual a receita marginal (adicional) por unidade cresce
mais do que o custo marginal decorrente da contratação de trabalhadores.

Afinal, não há razão para diminuirmos nosso lucro com o acréscimo de uma unidade adicional em
nossos custos que supere o que podemos receber como rendimento.

Os economistas pensam de forma marginal sempre que estão à procura de selecionar as melhores
alternativas de empregos de recursos, que são escassos em relação às necessidades dos agentes econômicos.

1.8 O custo de oportunidade

Refere-se ao que deve ser sacrificado para que se obtenha algo diferente.

Para ilustrar esse conceito, vamos considerar o custo de oportunidade para melhorar a educação de
um indivíduo.

Quando se decide aumentar o número de horas dedicado ao estudo, com o fito de obter um melhor
resultado nas avaliações, um ou mais objetivos são sacrificados, por exemplo, a disponibilidade em
termos de horas de lazer, praticar esportes, assistir a vídeos, filmes etc.

O custo de oportunidade, porém, difere de um para outro indivíduo (ou agente econômico).

Pensando em termos macroeconômicos (do país como um todo, por exemplo), se uma nação decide
produzir mais unidades de certos bens, deve estar atenta ao sacrifício representado pela impossibilidade
de criar outros bens alternativos.

Esse conceito é diretamente vinculado à Lei dos Rendimentos Decrescentes, já exposta neste
livro-texto. Trata-se de uma relação básica entre escassez e escolha.

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Unidade I

Pode ser visto como a diferença entre o retorno (benefício) auferido com a alternativa escolhida em
comparação com o que se conseguiria com outra abandonada – é o custo da renúncia.

Esse custo é usualmente calculado em confronto com o da melhor alternativa que foi preterida pela
opção realizada.

Lembrete

Novamente, lembre-se, o conflito entre os recursos e sua possibilidade de


atendimento às necessidades é o cerne do chamado problema econômico.

Analisando financeiramente, destacamos o seguinte exemplo: se decidirmos ser sócios de uma


nova empresa, é importante avaliar o custo de oportunidade do emprego do capital na melhor opção
conhecida entre as que foram abandonadas, refletidas, por exemplo, na lista de opções de obtenção
de rendimentos em diferentes aplicações financeiras ou atividades. Caso a rentabilidade esperada pela
participação na nova empresa seja, digamos, de 10% ao ano, e entre as alternativas à disposição haja
uma que ofereça, digamos, 9% no mesmo período, este será o custo de oportunidade de nossa escolha.

É certo que a escolha, não necessariamente como foi relatada neste exemplo, é feita exclusivamente
para a alternativa que apresente perspectivas de melhor rendimento financeiro. Afinal, há um grande
número de outras variáveis, econômicas ou não, que podem ter justificado a nossa escolha, por exemplo,
a expectativa de menores riscos, menor tempo dispendido etc.

O analista Ramiro Gomes Ferreira, ao tratar de alternativas de aplicações de recursos


financeiros, menciona:

Algumas decisões [...] são mais fáceis de serem tomadas.

Outras, porém, exigem cuidado e planejamento, em especial quando estamos


falando de dinheiro e tempo.

Ao decidir por uma das alternativas, você automaticamente deixa de


escolher a outra.

Isso significa que você renunciou aos benefícios de uma decisão em


detrimento de outra.

É exatamente aí que entra o conceito de custo de oportunidade


(FERREIRA, 2017).

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ECONOMIA E MERCADO

2 SISTEMAS ECONÔMICOS

2.1 O que são sistemas econômicos?

Os sistemas econômicos são estudados por uma divisão da economia que analisa os métodos e
instituições pelas quais as sociedades determinam a propriedade, a direção e a alocação dos recursos
econômicos e suas respectivas trajetórias de desenvolvimento econômico.

Em linhas gerais, o sistema econômico representa a forma organizada de uma sociedade para o
desenvolvimento de suas atividades econômicas.

Entre os elementos que caracterizam um sistema econômico, podem ser considerados:

• tipo de propriedade;

• forma de gestão da economia;

• processos de produção e circulação e consumo de mercadorias;

• divisão do trabalho e status tecnológico da economia.

No conjunto dos elementos básicos de um sistema econômico, identificamos:

• disponibilidade de recursos produtivos: humanos (trabalho braçal, intelectual e capacidade


empresarial), capital, reservas naturais e a tecnologia;

• unidades de produção;

• instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais.

2.2 Questões que devem ser resolvidas em cada tipo de sistema econômico

De forma geral, todo e qualquer sistema econômico procura respostas às seguintes indagações básicas:

• O que e quanto produzir?

Esta questão relaciona-se com o problema fundamental da escassez de recursos, já exemplificado


neste livro-texto.

É importante que se consiga produzir em obediência à Curva de Possibilidades de Produção (CPP) da


economia, cujo modelo abordamos aqui.

Assim, deve-se produzir de modo eficiente consoante o nível da tecnologia e as escolhas propostas
pela sociedade.
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Unidade I

• Como produzir?

Retratamos nesta obra um tópico diretamente relacionado com o estágio da tecnologia na respectiva
sociedade, podendo escolher alternativas mais ou menos intensas em trabalho ou em capital.

De qualquer forma, devem ser constantemente procurados métodos e alternativas que tornem
máxima a eficiência produtiva.

• Para quem produzir?

Este assunto é vinculado à distribuição da renda propiciada pela atuação dos agentes na
respectiva economia.

Discutem-se, aqui, quais são as alternativas para a distribuição do produto gerado na economia. A
eficiência distributiva deve ser maximizada para que se alcance o bem-estar material e social da coletividade.

As respostas a essas questões serão mais ou menos positivas, em cada caso, conforme o tipo de
sistema econômico adotado pela sociedade.

A tabela a seguir sintetiza os focos relacionados com cada uma dessas questões:

Quadro 1 – Focos relacionados com as respostas às questões básicas da economia

Tipo de questão Foco


O que e quanto produzir? Econômico
Como produzir? Tecnológico
Para quem produzir? Social

2.3 Os sistemas econômicos na atualidade

Na atualidade, podemos distinguir a existência de três grandes opções de sistemas econômicos:

Primeiramente, há aqueles baseados em comandos centralizados, que estabelecem, por exemplo,


o que deve ser (ou não) produzido.

Cabe também ao governo, neste caso, definir o quanto deve ser produzido. O que se pretende é o
planejamento de cotas para determinados tipos de produção.

Cuba e Coreia do Norte são exemplos de nações que se valem desse tipo de sistema econômico.
Comunismo ou Socialismo são termos usualmente associados com esse tipo de sistema.

Socialismo é a denominação genérica para um conjunto de teorias socioeconômicas, ideologias e


políticas que objetivam eliminar as desigualdades entre as diferentes classes sociais.

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ECONOMIA E MERCADO

Em Utopia, Thomas More mostra um modelo de sociedade mais justa.

As grandes dificuldades sociais, trazidas pela Revolução Industrial, incentivaram a difusão de ideias
de reforma da sociedade a partir dos pensamentos de socialistas, como: Saint-Simon, Charles Fourier,
Pierre Proudhon, Karl Marx e Friedrich Engels.

Tais concepções conduziram a Revolução Russa (1917) e, depois, à ex-União Soviética, que foi extinta
em 1981.

A teoria socialista propõe, fundamentalmente, a inexistência de propriedade privada dos meios de


produção e o controle da economia pelo Estado, visando promover uma distribuição justa da riqueza
entre os agentes sociais.

Esse tipo de sistema contempla um número não desprezível de dificuldades, dadas as imensas variações
de tipos e, consequentemente, de preços, que precisam ser definidos pelos planejadores centrais.

Quando se fala de preços, abordam-se todos os valores que identificam as remunerações dos fatores
de produção, como ocorre com o trabalho.

Regulando essas remunerações, há interferência e comando do governo também no que se refere à


distribuição dos rendimentos e dos produtos da economia.

Observa-se a necessidade de uma extensa burocracia capaz de atender às funções de controle desse
tipo de sistema.

Observação

No período denominado Guerra Fria (pós-Segunda Guerra Mundial),


houve uma exacerbação da disputa ideológica entre dois tipos de
organização econômica, política e social (Capitalismo e Socialismo), sob o
comando dos Estados Unidos da América e da ex-União Soviética.

Também há os sistemas pautados na liberdade de atuação dos agentes que participam da economia,
sem a intervenção do Estado ou um comando central no estabelecimento de quantidades, preços etc.
dos vários produtos componentes da economia. Capitalismo é o termo usualmente associado com esse
tipo de sistema.

Vejamos suas principais características:

• propriedade privada de fatores de produção e de bens e serviços;

• liberdade de iniciativa dos agentes econômicos;

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Unidade I

• formação de preços fixada pela própria atuação das forças e agentes de mercado;

• pequena interferência do Estado nos negócios.

Na próxima unidade, apresentaremos os conceitos relacionados com as leis da oferta e da


demanda de bens e serviços, responsáveis pela formação e manutenção de preços em um sistema
dito capitalista.

Neste tipo de sistema, cabe ao governo não a operação direta, uma vez que deve garantir a ação dos
agentes econômicos atuando em livres mercados.

A justificativa para a atuação do governo é dada pelas chamadas externalidades, que


descreveremos a seguir.

Enfim, nessa economia, o mecanismo de preços constitui a força predominante e direciona o


comportamento para a definição das escolhas de produção e consumo dos diferentes agentes econômicos.

Para assimilarmos melhor suas características, o capitalismo pode ser subdividido em:

• financeiro: o grande comércio e a grande indústria são controlados com base no poderio econômico
dos bancos comerciais e outras instituições financeiras;

• industrial: surgiu quando as empresas evoluíram – de manufatureiras para mecanizadas;

• internacional: a tecnologia de informação estabelece o padrão das mudanças sociais que ao longo
do tempo reestruturaram o modo de produção capitalista.

Um dos fenômenos diretamente relacionados com o capitalismo é a globalização, que é descrita


como a adoção de processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política; é
impulsionada pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no fim
do século XX.

São várias as formas de globalização.

Observação

A globalização propicia a criação e a manutenção das empresas e


instituições supranacionais. Contudo, é essencial considerar aspectos
como a própria universalização dos padrões culturais, com base na
homogeneização das atitudes e comportamentos que influenciam o
processo de diversificação cultural entre os países e regiões.

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ECONOMIA E MERCADO

Consoante A. Giddens, “globalização significa a intensificação das relações sociais à escala mundial
que ligam localidades distantes de tal maneira[,] que acontecimentos locais são modelados por eventos
que ocorrem a muitos milhares de quilômetros de distância e vice-versa”.

Vasconcellos (2007, p. 424) define globalização produtiva como:

[...] produção e distribuição de valores dentro de redes em escala mundial, com


o acirramento da concorrência entre grupos multinacionais. O crescimento
tecnológico acelerado gerou maior eficiência produtiva e maiores condições
de produtividade.

Sobre globalização financeira, Vasconcellos (2007, p. 424) indica:

É o processo iniciado principalmente a partir dos anos [19]80, com o


crescimento do fluxo financeiro internacional baseado no mercado de
capitais e dos desenvolvimento[s] dos mecanismos de diminuição de risco
(derivativos, hedge, opções etc.). Representou uma queda do poder do
sistema bancário internacional e crescimento dos chamados investidores
institucionais, como os fundos de pensões.

O Capitalismo é dominante no mundo ocidental desde o fim do Feudalismo. É baseado no


reconhecimento dos direitos individuais, em que toda propriedade é predominantemente privada e o
governo existe para banir a ação de violência humana. Nesse sistema, o Estado depende principalmente
de três órgãos: a polícia, o exército e as cortes encarregadas da aplicação de leis.

Por fim, temos os modelos mistos, que combinam elementos da economia de mercado e economia
planejada.

Esses modelos mesclam características do Capitalismo e do Socialismo, ressalvadas importantes


diferenças de regulação econômica.

Lembrete

Quaisquer modelos se defrontam com as necessidades de respostas às


questões fundamentais: o que, quanto, como e para quem produzir.

A atuação do Estado é justificada notadamente no controle das externalidades da economia, cujo


conceito discutiremos a seguir.

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Unidade I

2.4 Externalidades que afetam o livre funcionamento das economias


baseadas nos livres mercados de bens e serviços e de fatores de produção

Nem sempre – aliás, várias vezes – o que é bom para um agente econômico ou social não o é para outro(s).

Quando comparamos os custos e benefícios de alternativas de escolhas, computamos os que


controlamos, denominados privados.

Há, porém, os chamados custos sociais, que afetam as nossas decisões econômico-financeiras e que
são alheias ao nosso controle direto. São as chamadas externalidades – positivas ou negativas.

Como indicado em Gonçalves (2010, p. 325):

Quando uma empresa lança dejetos tóxicos oriundos do processo de produção


em um rio, matando seus peixes e contaminando sua água, a ação gera prejuízos
para a população ribeirinha que nele costuma pescar, recolher água doce ou
banhar-se, e até mesmo para o cidadão que fica desagradado ao presenciar
a triste cena de dejetos ou espuma química navegando rio abaixo. Há vários
outros exemplos de externalidades negativas: jogar bituca de cigarro pela janela;
não desligar o celular no cinema; andar no ônibus lotado sem usar desodorante;
dirigir perigosamente; sair de carro em um horário de trânsito intenso
(aumentando o tráfego para os que já estão tentando chegar ao trabalho);
entrar no elevador e apertar o sétimo quando alguém no elevador se dirige
ao décimo andar (e, portanto, é atrasado pela sua parada no sétimo); roubar,
conversar alto na biblioteca; buzinar no trânsito; fumar em lugar fechado.

Em se tratando de externalidades negativas, claramente os custos sociais


superam os privados e devem ser considerados no planejamento e atuação
dos variados agentes econômicos.

Há, porém, as externalidades positivas[,] que, ao contrário das negativas,


fazem com que os benefícios sociais superem os privados também no
planejamento e atuação dos agentes econômicos.

São variados os tipos de externalidades positivas que podem ser obtidas em ações, como Gonçalves
(2010, p. 331) exemplifica:

• informar-se para descobrir qual é o melhor candidato em uma eleição;

• descobrir a cura para uma doença, que ajudaria diversos indivíduos;

• doar dinheiro para instituições de caridade;

• organizar a comunidade na realização de tarefas coletivas.


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ECONOMIA E MERCADO

Deve, pois, ser procurada a correta atribuição desses custos e benefícios sociais aos projetos e
processos dos agentes privados.

É certo que a distribuição pode ser corrigida a partir de acordos ou de mecanismos previstos nos livres
mercados. Todavia, muitas vezes demandam a intervenção do governo, que age aplicando impostos e
multas (no caso das externalidades negativas) ou gerando subsídios (para as externalidades positivas).

A respeito das externalidades, Sandroni (1999, p. 581) comenta:

Tecnicamente, pode ser definido de várias formas: a) benefícios a pessoas


ou empresas pagas pelo governo sem contrapartida em produtos ou
serviços; 2) despesas correspondentes à transferência de recursos de uma
esfera do governo em favor de outra; 3) despesas do governo visando à
cobertura de prejuízos das empresas (públicas ou privadas) ou ainda para o
financiamento de investimentos; 4) benefícios a consumidores na forma de
preços inferiores[,] que, na ausência de tal mecanismo, seriam fixados pelo
mercado; 5) benefícios a produtores e vendedores mediante preços mais
elevados, como acontece com a tarifa aduaneira protecionista; 6) concessão
de benefícios pela via do orçamento público ou outros canais [...].

Outro tipo de externalidade é refletido na necessidade de fornecimento de bens públicos.

O que esse conceito revela é o fato de existir determinados bens ou serviços que usualmente os
agentes privados não se interessam em fornecer em razão de:

• altos custos;

• demora no retorno do investimento;

• outros aspectos – que justificam o que se entendia como monopólios naturais (serão estudados
depois neste livro-texto).

Dessa forma, as externalidades constituem as chamadas falhas de mercado e justificam a participação


do governo mesmo nas chamadas economias baseadas no livre funcionamento dos mercados.

A grande questão é: Em quais circunstâncias o Estado deve atuar diretamente na produção de bens
e serviços para a sociedade?

Entre as características desses bens públicos, podemos citar:

• Não rivalidade: o custo marginal de provimento do bem é nulo para qualquer nível de produção.

• Não excludente: os indivíduos, independentemente de arcarem ou não com seus custos, não
podem ser privados de seu consumo, como é o caso dos serviços de proteção e segurança.
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Baixado por Ricardo Ferreira (luizricardoferreira100@gmail.com)
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Unidade I

Ocorre, então, o efeito-carona, no qual os indivíduos não têm incentivo para pagar o custo do
fornecimento do bem ou serviço.

Em síntese, uma externalidade ocorre quando outro agente econômico (produtor ou consumidor)
influencia os resultados das atividades de outro(s), o que não é precificado naturalmente pelas forças
de livre atuação nos diferentes mercados. Há externalidades negativas (como a poluição) e positivas
(abertura de um colégio na rua em que moro ou tenho um estabelecimento comercial).

As externalidades podem ser corrigidas através da negociação entre os próprios agentes privados ou,
se isso não for possível, por decisões coletivas, via mecanismo de eleição e/ou de definição de padrões,
cobrança de impostos, multas etc.

2.5 Diferentes sistemas econômicos ao longo da história

Na plataforma eletrônica da QueConceito, destacamos o seguinte:

A noção de sistema econômico existe desde que apareceram as primeiras


sociedades e comunidades humanas. Isto ocorre [porque] o ser humano é o
único ser vivo que conseguiu uma organização ou sistematização produtiva
com fins de subsistência a curto e longo prazo. A diversificação de trabalho
(isto é, o fato de que cada indivíduo se dedica a uma atividade produtiva
específica), somada à noção de intercâmbio dessas produções entre
diferentes regiões[,] surge com as primeiras formas humanas de sociedade e
que evoluíram com o tempo.

Ao longo do tempo, várias foram as alternativas adotadas para a estruturação de um


sistema econômico.

A adoção de um ou outro tipo de sistema econômico é fruto de intensa interação da sociedade, nem
sempre de forma pacífica, como nos mostram as opções a seguir, extraídas dos comentários de Robert
L. Heilbroner e William Milberg na obra A Construção da Sociedade Econômica.

Heilbroner e Milberg (2008) elegem três soluções adotadas para o tratamento do problema
econômico: tradição, comando e mercado.

2.6 Sistemas baseados na tradição

Trata-se da organização econômica mais antiga e predominante até pouco tempo.

Nela, os processos de produção e distribuição de bens e serviços estão calcados em procedimentos


estabelecidos, via tentativa e erro, em passado distante. Tais processos eram mantidos pelas forças dos
costumes e crenças das populações.

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ECONOMIA E MERCADO

Heilbroner e Milberg (2008, p. 27) relatam que: “Provavelmente, em suas raízes, o que encontramos
é a necessidade universal dos jovens de seguirem as pegadas dos mais velhos – uma fonte profunda de
continuidade social”.

A responsabilidade pelo trabalho é transferida de geração para geração – de avós para pais, destes para
os filhos e assim por diante. Contudo, os autores fazem o seguinte alerta: “não foi somente a Antiguidade
que mostrou a tradição como elemento conservador do ordenamento produtivo na sociedade”.

Mesmo hoje, é importante a força da tradição nos países menos industrializados ou desenvolvidos.

[...] independentemente do quanto as consequências da tradição concordem


com nossas visões morais [no passado, ela prejudicava, por exemplo, as
mulheres, quando comparadas aos homens], ou delas se afastem, temos que
ver que se trata de um método eficiente de divisão [à luz da realidade vigente
durante a sua implantação] daquilo que a sociedade produz (HEILBRONER;
MILBERG, 2008, p. 28).

Recorrer-se aos costumes, todavia, é uma solução estática para solver os problemas de produção e
de distribuição de bens e serviços na coletividade. Entre as justificativas para este argumento, pode ser
citada a pouca mobilidade social entre os integrantes da sociedade e o lento processo de crescimento e
de ocorrência de mudanças no tecido econômico e social.

Nesse tipo de sistema, as transformações costumam acontecer em situações de choques intensos,


como guerras, epidemias ou aventuras políticas.

2.7 Sistemas baseados no comando

Neste caso, a economia é estruturada em ordens emanadas de líderes ou de setores autoritários e,


tal como, no caso da tradição, suas origens se reportam a tempos remotos.

Os autores citam vários exemplos de sociedades que se organizaram a partir dessa alternativa de
sistema e relatam que até há pouco tempo tal opção foi exercida na ex-União Soviética.

Muitos atribuem a esse tipo de organização, mesmo em sistemas de maior liberdade e democracia,
a cobrança abusiva de impostos pelo comando econômico.

Os autores ainda destacam:

Sem dúvida, o comando econômico exercido em uma estrutura de processo


político democrático é bastante diferente daquele encontrado em uma
ditadura. Existe uma enorme distância social entre um sistema de impostos
controlado pelo Congresso e a expropriação direta ou a obrigação do trabalho
expressa por um soberano supremo e absoluto [...] Nos dois casos, o comando
direciona esforços econômicos na direção de metas escolhidas por uma
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Unidade I

autoridade superior. Nos dois casos, o comando interfere no ordenamento


existente de produção e distribuição para criar um novo ordenamento vindo
“de cima” (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 30).

Novamente, é vital entender que essa é uma alternativa de estruturação da sociedade sob a
ótica econômica.

Uma sociedade desse tipo é capaz de ao menos por determinado período acelerar a implementação
de medidas que podem levar ao crescimento e/ou à diversificação da economia. A manipulação de
recursos pode, também, conduzir a significativas alterações na distribuição dos bens e serviços entre os
diferentes agentes econômicos e sociais.

Em resumo, acentua-se o seguinte excerto:

A nova ordem imposta pelas autoridades pode ofender ou agradar nosso


senso de justiça social, da mesma forma que pode melhorar ou reduzir a
eficiência econômica da sociedade. [...] Se a tradição constitui um grande
freio de mudanças sociais e econômicas, o comando econômico pode ser
um grande impulsionar de mudanças (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 28).

2.8 Sistemas baseados no mercado

Comparativamente aos modelos da tradição e do comando, esta é uma solução relativamente nova,
surgida a partir da expansão do capitalismo, que garante uma mínima interferência no comando da
economia.

Como já abordamos, é sobre esse modelo que a maioria dos economistas se volta para tentar explicar
o funcionamento das economias.

Lembrete

Os sistemas baseados nos livres mercados não prescindem por


completo da atuação do Estado, principalmente no que tange ao combate
às externalidades negativas.

Estudaremos na próxima unidade como se formam e interagem as forças representadas pela


demanda e a oferta de bens e serviços pelos diferentes agentes econômicos.

É através da sua interação que a teoria procura explicar os fenômenos de formação dos preços dos
variados bens e serviços.

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ECONOMIA E MERCADO

Resumo

Nesta unidade acentuamos as questões fundamentais e os sistemas


econômicos.

O texto relatou a importância do estudo da economia e sua inter-relação


com o sucesso profissional e pessoal de cada agente econômico.

A Economia foi definida como a ciência que trata do conflito entre os


recursos escassos das sociedades e das necessidades infinitas dos indivíduos
antes, agora e no futuro.

Foram abordadas as diferentes necessidades dos indivíduos, destacando a


teoria formulada pela Pirâmide de Maslow, que estabeleceu uma hierarquia
entre elas, partindo da base representada pelas necessidades fisiológicas até
chegar ao topo, em que estão classificadas as necessidades de autorrealização.

Assinalamos o modelo do fluxo circular da renda (simplificado) para


mostrar um panorama geral da interação dos agentes econômicos com os
mercados fundamentais de bens e serviços e de fatores de produção.

Vimos que a Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) é uma


importante ferramenta utilizada pelos economistas para indicar a
possibilidade de diferentes alternativas de produção de bens e serviços,
mantida a eficiência da economia, com base no seu estágio tecnológico.

Também discutimos os rendimentos decrescentes em razão do


acréscimo de unidades de fatores ao esforço de produção dos bens e
serviços da economia.

Relacionado com a Lei dos Rendimentos Decrescentes, foi examinado


outro conceito básico para o entendimento da escassez e escolha de
alternativas de decisão e de atuação pelos agentes econômicos, o custo
de oportunidade, que pode ser visto como a diferença entre o retorno
(benefício) auferido com a alternativa escolhida em comparação com o que
se conseguiria com outra, abandonada – é o chamado custo da renúncia.

Ilustramos que o sistema econômico representa a forma de organização


adotada por uma sociedade para o desenvolvimento de suas atividades
econômicas. Todo e qualquer sistema deve responder, da forma mais
eficiente possível, as respostas sugeridas pelas questões fundamentais da
economia: O que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir?

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Unidade I

Estudamos, ainda, os sistemas econômicos atuais, considerando os baseados


em comandos centralizados, em liberdade de ação e os modelos mistos.
Compreendemos que esses modelos combinam características do capitalismo
e do socialismo, ressalvadas importantes diferenças de regulação econômica.

Mesmo os sistemas que desaconselham a intervenção do governo nas


atividades econômicas fazem referência à necessidade de controle das
chamadas externalidades.

Evidenciamos as externalidades negativas (como a poluição) e as


positivas (como a abertura de um colégio na rua em que moro ou tenho
um estabelecimento comercial). As externalidades podem ser corrigidas
através da negociação entre os próprios agentes privados ou, se isso não
for possível, por decisões coletivas, via mecanismo de eleição e/ou definição
de padrões, cobrança de impostos, multas etc.

Por fim, apresentamos algumas alternativas de sistemas econômicos


com base nos estudos de Heilbroner e Milberg (2008). Evidenciamos as
características essenciais de cada alternativa e seus impactos em termos
de crescimento econômico e mobilidade social dos agentes econômicos.
Comparativamente aos modelos de tradição e comando, o sistema pautado
no livre funcionamento dos mercados é uma solução relativamente nova,
garantindo uma mínima interferência no comando da economia.

O Estado pode ser um importante aliado nessa busca pela inovação,


promovendo a integração entre os agentes, à medida que direciona recursos
utilizados em processos que objetivam o desenvolvimento científico,
econômico e social.

Embora o comércio internacional tenha sido associado com o


desenvolvimento do capitalismo por mais de 500 anos, alguns pensadores
afirmam que uma série de tendências associadas à globalização tem
agido para aumentar a mobilidade de pessoas e de capitais, reforçando
o argumento de que o capitalismo deve cada vez mais ser visto como um
sistema verdadeiramente mundial.

Exercícios

Questão 1. (METRÔ-SP 2008) Em relação à curva de possibilidades de produção (ou curva de


transformação) da economia, é correto afirmar:

A) Um ponto à esquerda da curva representa uma combinação da produção de dois bens que não
pode ser alcançada pela economia no curto prazo.
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ECONOMIA E MERCADO

B) A produtividade física marginal de cada recurso produtivo decresce com a maior utilização de
cada um deles pela economia.

C) É possível aumentar simultaneamente a produção de dois bens mesmo que os recursos da


economia estejam sendo utilizados com a máxima eficiência que a tecnologia disponível permite.

D) O custo de oportunidade da produção de um bem diminui à medida que mais recursos produtivos
da economia são utilizados na produção do outro.

E) Ela expressa as combinações de produção de dois bens que correspondam à máxima utilidade
possível para os consumidores.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: qualquer ponto à esquerda da curva de possibilidade de produção corresponde a uma


combinação possível de produção.

B) Alternativa correta.

Justificativa: a curva de possibilidade de produção trabalha com a ideia de produtividade decrescente


de cada fator de produção.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a curva mostra a limitação de produção numa dada economia, assim, para aumentar a
produção de um bem, devemos produzir menos de outros.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: quando abrimos mão da produção de um bem, em relação a outro, seu custo de
oportunidade aumenta ao longo do tempo.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a curva de possibilidade de produção mostra a máxima produção de dois bens dadas as
quantidades de insumos em uma economia.

Questão 2. Em um sistema econômico centralizado, todas as alternativas a seguir apontam um


elemento que o constitui, exceto:

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Unidade I

A) As questões econômicas são respondidas por um órgão central.

B) Os bens e serviços são distribuídos obedecendo à contribuição de cada pessoa na produção e


sua necessidade.

C) Apresenta um conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais.

D) Grande papel do Estado na economia.

E) A propriedade dos meios de produção é privada.

Resolução desta questão na plataforma.

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Livro-Texto - Unidade II

Economia e Mercado (Universidade Paulista)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade


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ECONOMIA E MERCADO

Unidade II
3 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO

3.1 A demanda por bens e serviços

Apregoa a teoria econômica que, nos sistemas baseados no livre funcionamento dos mercados, a
procura por bens e serviços tem o intuito de identificar as alternativas que otimizem a satisfação do
consumidor.

O consumidor visa maximizar sua satisfação consumindo os bens e serviços que julga serem mais
úteis, em conformidade com suas próprias preferências e gostos. Vai buscar uma certa quantidade com
base no preço em vigor do respectivo bem ou serviço e a sua própria renda pessoal.

O consumidor também levará em conta em sua decisão os preços de outros bens – substitutos e
complementares – em relação àquele em que está particularmente interessado.

Naturalmente, há uma série de fatores, além do próprio preço do bem ou serviço, que definem a
quantidade que os consumidores pretendem adquirir de cada bem ou serviço, em um determinado
período, como:

• o nível e a distribuição dos consumidores;

• o preço dos produtos substitutos e complementares;

• os processos de urbanização;

• as mudanças nos gostos e nas preferências dos consumidores;

• o marketing (propaganda);

• a expectativa de variação de preços do produto no futuro;

• o nível de educação e idade dos consumidores;

• a disponibilidade de mercadorias;

• a moda;

• a geografia e o clima;
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Unidade II

• o sexo;

• a ocupação;

• as estações do ano;

• a religião;

• a origem étnica.

Na maioria dos casos, porém, o preço é, de fato, a variável mais relevante para explicar o
comportamento da quantidade procurada (demandada) de um bem ou serviço pelos consumidores.

Assim, com todas as demais coisas permanecendo iguais (coeteris paribus), a demanda do consumidor
por um bem (X) indica as quantidades desse bem, que ele está disposto a adquirir, quando varia o seu
preço de mercado.

Observação

Ceteris paribus (todo o mais é constante) é uma expressão introduzida


em um argumento ou afirmação para comunicar que uma variável ou mais
variáveis possam mudar, mantendo as demais variáveis constantes, tais
como o seguinte exemplo: “Se reduzirmos os nossos preços por X por cento,
ceteris paribus, a nossa receita de vendas deve subir Y por cento”.

A tabela hipotética a seguir relaciona quantidades procuradas considerando os diferentes preços do


bem X.

Tabela 3 – Alternativas de quantidades procuradas de determinado bem ou serviço


conforme a variação dos preços no mercado

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)

50,00 30

100,00 20

150,00 15

200,00 10

250,00 5

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ECONOMIA E MERCADO

Os dados dessa tabela podem ser visualizados no gráfico a seguir:


35

Quantidades demandadas (unidades)


30
30

25
20
20
15
15
10
10
5 5

0
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00
Diferentes preços do bem

Figura 7 – Demanda para o bem X

Este gráfico apresenta a curva de demanda, mostrando a relação inversa entre as quantidades
procuradas e diferentes alternativas de preços de certo bem ou serviço.

Essa relação explicita que, conforme diminui o preço, aumenta a quantidade demandada do produto.

Se o preço for muito alto, cessará a demanda pelo bem, que pode ser coberta com a procura por
bens substitutos.

É possível também a constatação de que a demanda é feita até um determinado limite superior de
quantidades, após atingirmos o que chamamos de nível de saciedade.

Observação

As publicações sobre demanda costumam demonstrar no eixo horizontal


as quantidades procuradas e no vertical os valores, o que é, na verdade, a
demanda inversa, dado que o que se pressupõe é a variação das quantidades
consoantes com as diversas alternativas de preço. Mesmo assim, é mantida
a adequada correlação entre essas duas variáveis.

A partir do que foi verificado, chega-se à definição da Lei da Demanda: as quantidades demandadas
de um bem (X) variam, inversamente, com o seu preço, permanecendo constantes os preços dos demais
bens, os gostos e a renda disponível do consumidor.

A demanda representa a disposição ou intenção de comprar, enquanto comprar é o ato efetivo de


aquisição do bem ou serviço.

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Unidade II

Para alguns bens, não essenciais, é possível que ocorra uma relação direta, não inversa entre as
quantidades demandadas e os preços dos bens ou serviços. Essa relação inversa é válida tanto para a
demanda do consumidor individual como para a do conjunto do mercado.

A demanda total para um determinado grupo de consumidores, uma região, cidade, país etc. é
obtida a partir da soma das quantidades demandadas pelos consumidores individualmente (com os
mesmos preços).

Na prática, é difícil obtê-la por esse método considerando a grande quantidade de agentes econômicos.

Assim, outra possibilidade é multiplicar as quantidades demandadas individualmente por um


consumidor considerado típico (médio) pelo número de consumidores existentes no mercado – aos
mesmos preços.

Lembrete

Na maioria dos casos, o preço é, de fato, a variável mais relevante para


explicar o comportamento da quantidade procurada (demandada) de um
bem ou serviço pelos consumidores.

No nosso exemplo, admitindo que os dados da tabela revelam um consumidor típico e que são dez,
no total, teríamos a seguinte tabela para a demanda total para o bem X:

Tabela 4

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades) pelos dez consumidores


50,00 300
100,00 200
150,00 150
200,00 100
250,00 50

Diferentemente do que ocorreria se adotássemos o processo da soma de cada uma das demandas, a
curva da demanda total (isto é, do mercado) terá o mesmo formato e inclinação daquela que identifica
o consumidor admitido como médio do mercado).

Assim, a cada preço teremos uma quantidade demandada, seja do consumidor individual, seja de
todo o mercado.

No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade
demandada individualmente diminuirá para 20 unidades.

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ECONOMIA E MERCADO

E, se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$ 150,00, haverá expansão da quantidade
demandada de dez para 15 unidades e vice-versa.

Preço do bem Quantidade demandada pelo consumidor

Figura 8

O gráfico da demanda, seja para o consumidor (individualmente), seja para um conjunto, explicita
a relação entre duas variáveis (no caso, preço e quantidade demandada para o bem X), mantidas todas
as demais condições.

Contudo, é possível que ocorram mudanças em outras variáveis, o que afetaria o nosso gráfico.

Um aumento da renda do consumidor individual (ou do consumidor típico/médio, se estamos


analisando o total do mercado) fará com que toda a curva seja deslocada para cima e à direita.

Assim, eleva-se a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando
um maior poder aquisitivo do consumidor, como decorrência do crescimento de sua renda (aumento de
salário, por exemplo).

Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, agora poderia, por hipótese, ser a seguinte:

Tabela 5

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)


50,00 40
100,00 30
150,00 25
200,00 20
250,00 15

Naturalmente, poderia ter ocorrido uma situação diversa, com, por exemplo, a queda da renda do
consumidor individual ou típico/médio, o que deslocaria toda a curva de demanda no sentido contrário,
para baixo e à esquerda.

Assim, diminui a quantidade demandada para cada um dos preços do nosso exemplo, denotando
um menor poder aquisitivo do consumidor, como decorrência da queda de sua renda (situação de
desemprego, por exemplo).

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Unidade II

Nossa tabela, para o consumidor individual do bem X, poderia ser representada da seguinte maneira:

Tabela 6

Preços do bem X (R$) Quantidade demandada (unidades)


50,00 20
100,00 10
150,00 8
200,00 5
250,00 3

De fato, os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não o preço do bem
X, se alteram, por exemplo, além da renda mencionada anteriormente, os gostos e as preferências dos
agentes econômicos e aspectos relacionados com a propaganda para o bem ou serviço.

Nos gráficos cartesianos de duas dimensões, que identificam relacionamentos entre duas variáveis –
uma explicativa e outra explicada/dependente), – sempre que ocorrerem mudanças em outras variáveis
– não explicitadas no gráfico, em seus eixos horizontal e vertical, haverá deslocamentos para cima ou
para baixo (ou para a direita e à esquerda) de toda a curva.

Finalmente, ainda a respeito da demanda, deve ser considerado o seguinte: dependendo do tipo de
bem que se está analisando, seu comportamento poderá ser muito diferente. Neste caso, costumam ser
identificados os bens ditos normais, cuja demanda diminui no caso de aumento do preço do bem. Se o
preço da carne, por exemplo, aumentar, o indivíduo deverá consumir menos esse bem e vice-versa.

Entretanto, se os bens forem considerados inferiores, a sua demanda poderá diminuir mesmo no
caso de diminuição do preço se, por exemplo, o consumidor contar com um maior poder aquisitivo. É o
caso do consumo pretendido para a chamada carne de segunda (categoria).

3.2 A oferta de bens e serviços

Nossa análise, agora, é feita para o comportamento do produtor (ou vendedor) de um bem ou serviço.

Todos os que decidem abrir um negócio têm como objetivo otimizar seus lucros e, para tanto,
precisam obter receitas com as vendas de seus produtos e incorrer em custos em sua fabricação.

Para a grande maioria dos bens, ditos normais, existe uma relação direta entre os seus preços e as
respectivas quantidades ofertadas, que expandem junto com os acréscimos dos primeiros.

Preço do bem Quantidade ofertada pelo produtor (vendedor)

Figura 9

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ECONOMIA E MERCADO

Assim, a oferta representa a disposição ou intenção de produzir e vender, enquanto produzir e


vender indicam os atos efetivos de produção e venda do respectivo bem ou serviço.

Tal como fizemos no caso da demanda, vamos admitir, na tabela a seguir, as alternativas de oferta
para um determinado bem ou serviço, consoante seu preço praticado no mercado:

Tabela 7 – Oferta do bem X, conforme diferentes alternativas de preços

Preços do bem X (R$) Quantidade ofertada (unidades)


50,00 5
100,00 10
150,00 15
200,00 20
250,00 30

O gráfico a seguir mostra a curva de oferta – considerando os dados indicados na tabela anterior.
35
Quantidades ofertadas do bem X

30
30

25
20
20
15
15
10
10
5 5

0
50,00 100,00 150,00 200,00 250,00
Alternativas de preços do bem X

Figura 10 – Oferta para o bem X

A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam, diretamente, com o seu
preço, permanecendo constantes os custos de produção.

Tal como ocorre no caso da demanda, essa relação é válida tanto para a oferta do produtor individual
como para a do conjunto do mercado.

Naturalmente, há uma série de aspectos, além do preço do próprio bem ou serviço, que determinam
a quantidade que os fornecedores pretendem produzir e vender de cada bem ou serviço em um
determinado período, por exemplo:

• preços/custos dos fatores utilizados na fabricação do produto;

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Unidade II

• condições climáticas e ocorrências de externalidades;

• custos de comercialização e de vendas do bem ou serviço e de outros que lhe sejam substitutos
ou complementares;

• tecnologia disponível para a empresa;

• tamanho e nível de concorrência do respectivo mercado.

Na maioria dos casos, contudo, o preço é a variável mais relevante para explicar o comportamento
da quantidade ofertada (oferecida) de um bem ou serviços pelos vendedores/produtores.

Os deslocamentos da curva ocorrem sempre que outros fatores, que não os explicitados nos eixos
(horizontal e vertical) dos gráficos cartesianos, influem no objeto (no caso, a oferta) em estudo.

Toda mudança, aumento ou diminuição em outra variável, que não seja a do próprio preço do bem
ou serviço, desloca toda a curva de oferta para a direita ou para a esquerda, conforme o caso.

3.3 O equilíbrio de mercado

No mercado ocorre a interação entre compradores e vendedores.

Em mercados totalmente competitivos, um único preço geralmente prevalece.

Naqueles que não sejam completamente competitivos, diferentes vendedores podem cobrar
variados preços.

Ao discutirmos determinado mercado, devemos ser claros a respeito de sua extensão tanto em
termos de limites geográficos como em relação à gama de produtos que nele são transacionados.

Alguns mercados, por exemplo, o imobiliário, são tipicamente locais, enquanto outros são mundiais,
como é o caso do ouro.

Outro aspecto relevante diz respeito à questão da prevalência dos preços ao longo do tempo.

Para eliminar os efeitos da inflação, comparamos preços reais (ou preços em moeda constante), em
vez de preços nominais (ou preços em moeda corrente).

Os preços reais são calculados por meio de um índice agregado de preços, por exemplo, o Índice
de Preços ao Consumidor (IPC), subtraindo-se os efeitos inflacionários ou, em outras palavras,
deflacionando-se os preços nominais pelo uso de um deflator de preços.

No Brasil, o índice que mede oficialmente a variação de preços é o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA).
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ECONOMIA E MERCADO

As transações reais de mercado pressupõem certas condições: todos os compradores podem comprar
o que planejam, ao preço corrente e sob as contingências vigentes do mercado; e todos os vendedores
podem vender o que planejam ao mesmo preço e sob as mesmas contingências.

Assim, o mercado estará em equilíbrio quando, ao preço estabelecido e sob as condições existentes,
todos os compradores e vendedores podem realizar seus planos.

Caso alguns compradores não consigam comprar tudo o que queriam, ou se alguns vendedores não
puderam vender tudo o que desejavam, o mercado está em desequilíbrio.

Nossa análise básica do mercado se baseia no pressuposto de que todas as transações realmente
executadas constituem transações feitas em condições de equilíbrio, nas quais os planos de ambos os
lados são realizados.

Indagamos, em especial, a que preço e quantidade os vendedores desejam vender se iguala


exatamente ao que os compradores desejam comprar.

O equilíbrio de mercado diz respeito à comparação entre os desejos e atitudes de ofertantes e


demandantes de bens e serviços nesse mercado específico, que conduzem a uma solução que satisfaça
a ambas as partes no conjunto das negociações envolvidas na transação.

Em uma economia de mercado, a oferta e a demanda de bens e serviços se ajustam, determinando


preços e quantidades que são, por um lado, vendidas e, ao mesmo tempo, adquiridas.

Então, os recursos escassos são eficientemente alocados para a satisfação das necessidades ilimitadas
dos inúmeros agentes econômicos que atuam neste mercado.

Nesse particular estado de equilíbrio, os preços e quantidades nem sempre são efetivamente aqueles
que se desejaria praticar, indicando o bem-estar econômico, ou seja, aquele estado de satisfação geral
pelas transações efetuadas pelos agentes envolvidos no mercado.

Entretanto, é fato que tanto produtores como compradores se beneficiam ao participar do mercado,
oferecendo e adquirindo produtos e insumos.

O ato de venda e compra se estende a um sem-número de operações, que, na média, possibilitam a


realização de lucro ou satisfação para todos os envolvidos.

Em mercados competitivos, o equilíbrio de mercado repousa na quantidade e preços definidos pelas


forças da oferta e da demanda de bens e serviços.

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Unidade II

O gráfico a seguir estabelece o equilíbrio de mercado para um determinado bem:


P
12,00 Es
ca
sse d eO
O
zd e sso
10,00 eD c
Ex

8,00
B

6,00
E Ex
ce
4,00 sso
A de
D
eO
2,00 zd
sse
ca D
Es

2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 Q

Figura 11 – Demonstração do equilíbrio de mercado

O equilíbrio neste exemplo ocorre quando o preço praticado no mercado for R$ 6,00 e a quantidade
transacionada for 6 mil. Isso é evidenciado pelo ponto E (equilíbrio), situado no cruzamento/intersecção
das curvas de demanda (D) e oferta (O).

No caso do bem X, que usamos anteriormente como exemplo neste livro-texto, há a igualdade
entre as intenções de compra (demanda) e de venda (oferta) quando o preço do mercado é igual a
R$ 150,00.

Apenas nesse preço ocorrerá uma transação de compra e venda no mercado, e a quantidade
negociada (entendida como quantidade de equilíbrio) será de 15 unidades.

Em qualquer outra hipótese, não haverá coincidência de desejos e intenções entre compradores e
vendedores, não se configurando uma real transação de compra e venda para o bem.

Se o preço praticado no mercado for superior ao de equilíbrio (R$ 150,00), haverá um excesso de
oferta (ou escassez de demanda) em relação à demanda.

Quando o preço for inferior ao de equilíbrio, teremos um excesso de demanda (e escassez de oferta)
em relação à oferta para o bem ou serviço.

Tentativas de fixação (congelamento) de preços irão distorcer as condições determinadas livremente


pelo mercado.

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ECONOMIA E MERCADO

Lembrete

A Lei da Oferta indica que as quantidades ofertadas de um bem (X) variam,


diretamente, com o seu preço, permanecendo constantes os custos de produção.

3.4 As elasticidades da demanda e da oferta de bens e serviços

Vimos a importância de se conhecer aspectos associados com a demanda e a oferta para bens e
serviços comercializados na economia.

As decisões dos agentes (das próprias empresas ou de uma região ou país) serão melhoradas quando
se conseguir determinar as respectivas demandas e ofertas para os diferentes bens ou serviços.

Em adendo ao próprio conceito de demanda (ou de oferta), o de elasticidade permite a mensuração


do impacto sobre as quantidades (demandadas e ofertadas) em relação a outros fatores que as afetam,
destacando-se os preços dos bens e serviços.

É essencial analisar qual é a sensibilidade da quantidade demandada (ou da ofertada).

Saiba mais

Em Economia para Administradores, Oliveira (2006) traz um bom


detalhamento dos conceitos relacionados com as elasticidades de demanda
e de oferta de bens e serviços.

Sandroni (1999, p. 206) conceitua elasticidade como a “relação entre as diferentes quantidades de oferta
e procura de certas mercadorias, em função [razão] das alterações verificadas em seus respectivos preços”.

Comecemos examinando duas curvas de demanda – A e B:


Preço Preço

A) B)

Demanda

Demanda

Quantidade Quantidade

Figura 12 – Demandas elástica e inelástica

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Unidade II

É fácil distinguir dois diferentes formatos nesses dois exemplos, independentemente de constatar,
em ambos os casos, uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. A diferença concentra-se
na inclinação das curvas.

No caso da demanda, essa inclinação é afetada por outros fatores, além do preço do bem ou serviço,
como as preferências do consumidor e a disponibilidade de outros bens – substitutos ou complementares.

As mudanças de preço no caso da curva A deste exemplo provocam variações em menor intensidade
da quantidade demandada, conforme o preço do mercado. No caso da B, elas provocariam variações de
outra intensidade, isto é, mais do que proporcionais na quantidade demandada.

Pretende-se, então, medir a intensidade da variação da quantidade (demandada ou ofertada) para


estimar os reais efeitos de uma decisão econômica, seja aquela que é feita pelo próprio agente, seja feita
pelo governante.

A economia oferece alternativas de medição da elasticidade com relação aos fatores que afetam a
demanda ou a oferta de bens e serviços.

3.5 Elasticidade-preço da demanda

Entre os vários tipos de elasticidade, a associada com o preço do bem ou serviço é uma das mais
importantes.

A maior (ou menor) magnitude da elasticidade-preço da demanda está vinculada, entre outros
fatores, com:

• existência (disponibilidade) de bens substitutos próximos;

• caracterização do bem como sendo necessário (essencial) ou supérfluo;

• definição dos limites (tamanho) do mercado;

• horizonte de tempo para que se materialize a alteração de consumo.

A elasticidade-preço da demanda mede a sensibilidade da quantidade demandada em relação às


variações do preço do bem ou serviço.

Estamos considerando o quanto, percentualmente, varia a quantidade demandada de um bem com


relação à variação também percentual do seu preço, praticado no mercado.

Para calcular o índice que corresponde à elasticidade-preço da demanda, é preciso conhecer os


preços e as quantidades iniciais e finais.

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ECONOMIA E MERCADO

Em termos matemáticos, isso pode ser demonstrado pela expressão:

∆ %Q d
Ed =
∆ %P

Sendo:

Ed: elasticidade_preço_demanda

∆%Qd: variação_percentual_quantidade_demandada

∆%P: variação_percentual_preço

No nosso exemplo, se o preço unitário do bem X aumentar de R$ 50,00 para R$ 100,00, a quantidade
demandada diminuirá para 20 unidades. E se, eventualmente, o preço diminuir de R$ 200,00 para R$
150,00, haverá expansão da quantidade demandada de dez para 15 unidades.

Agora voltemos ao exercício discutido anteriormente, em que consideramos os efeitos na quantidade


demandada em relação ao preço do bem ou serviço de R$ 50,00 para R$ 100,00.

Neste caso, o preço teria dobrado (aumentou em 100%), enquanto a quantidade demandada
diminuiu de 30 para 20 unidades (ou 33%), o valor da elasticidade (Ed) será:

−33%
Ep =
100%

Ep = - 0,33

O cálculo da variação percentual do preço (vale também para o da quantidade demandada) é obtido
pela divisão entre o que mudou de um ponto para outro – aumento ou diminuição – e o valor anterior.

O resultado obtido dessa divisão é multiplicado por 100 para que o resultado seja expresso em
notação percentual.

Assim, a variação percentual do preço, subindo de R$ 50,00 para R$ 100,00, será:

Variação percentual: (R$ 100,00 – R$ 50,00)/R$ 50,00 x(100) = 100%

Já a variação percentual da quantidade demandada, diminuindo de 30 para 20 unidades, será:

Variação_percentual: (20 –30)/30 = 0,33(100):33%

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Unidade II

Há diferentes elasticidades em cada um dos pontos da curva de demanda.

A análise desse índice deve ser feita admitindo que:

• altas elasticidades significam alto grau de resposta à alteração do preço;

• baixas elasticidades indicam relativa insensibilidade às alterações de preços.

O resultado de Ed será sempre negativo, dado que há uma relação inversa entre preço e quantidade
demandada.

Contudo, a análise deve considerar o resultado absoluto da divisão – módulo. Em Matemática,


módulo é o valor do número sem sinal. Nesse contexto, 0,5 (o que é o mesmo que +0,5) é o mesmo
que -0,5.

A representação do módulo de um número é feita precedida e seguida de barras verticais. Assim, o


módulo de (-0,5) será representado por |-0,5|, que resulta em 0,5.

Agora analisemos outro exemplo.

Se a curva de demanda para um bem Y indicar um aumento do preço de R$ 1,00 para R$ 1,10
(10% em relação ao preço original), ocorrerá uma diminuição da quantidade demandada, 100 para 80
unidades (20% em relação à quantidade anterior). Então, a elasticidade-preço da demanda, nesse ponto
da curva, será:

−20%
Ed =
+10%

Ed = - 2

Portanto, o cálculo do índice da elasticidade-preço da demanda de determinado bem, como foi


mostrado nos exemplos anteriores, fará com que:

• Ed seja igual a |1| ou

• Ed seja menor do que |1| ou

• Ed seja maior do que |1|.

Nos casos extremos, Ed será zero ou infinito.

A elasticidade costuma ser diferente conforme o ponto escolhido para o cálculo.

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ECONOMIA E MERCADO

Há, também, a possibilidade de calcular a elasticidade para um intervalo entre dois pontos da curva
de demanda.

A demanda será considerada elástica em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade
demandada for mais do que proporcional à queda percentual dos preços.

Ed será maior do que |1|.

A demanda será inelástica em relação a preço quando a expansão percentual da quantidade demandada
for menor do que a queda percentual dos preços. Visto de outra forma, ela será inelástica quando a
diminuição percentual da quantidade demandada for menor do que a elevação percentual dos preços.

Ed será menor do que |1|.

A demanda terá elasticidade unitária em relação a preço quando o aumento percentual da quantidade
demandada se der na mesma proporção da variação dos preços.

Ed será igual a |1|.

Não haverá elasticidade sempre que Ed for igual a 0 (zero).

E, finalmente, a demanda será considerada como completamente ou perfeitamente elástica


quando a quantidade demandada mudar infinitamente com relação às mudanças de preços: Ed será
igual a ∞ (infinito).

Neste último caso, se a resposta da quantidade demandada for extremamente maior do que a queda
percentual dos preços: Ed tende para o infinito.

Vejamos os gráficos que apresentam situações em que a demanda será elástica ou inelástica em
relação do preço do respectivo bem:

Preço Preço
A) B)
Ed > |1| Ed < |1|

P1 P1
∆p
P0 Demanda P0

Demanda

Q1 Q0 Quantidade Q1 Q0 Quantidade

Figura 13 – Representações de demanda elástica (A) e inelástica (B) em relação ao preço do bem

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Unidade II

Elástica

Preço P
ED > 1

Unitária
Inelástica ED = 1
ED < 1

Quantidade Q

Figura 14 – Representações de elasticidades da demanda em relação ao preço do bem

Para verificar melhor os efeitos dos índices de elasticidades de bens ou serviços, destacamos o
exemplo a seguir. Nele, procuramos mostrar o efeito na receita total (RT) de uma empresa, dependendo
da sensibilidade (elasticidade) da demanda de seu produto (s).

A RT da firma é dada pela multiplicação do preço unitário (P) pela quantidade vendida (Q do produto):

RT = P x Q

A situação inicial (instante 0) será:

RTo = Po x Qo

Posteriormente (instante 1), teremos:

RT1 = P1 x Q1

Se a demanda é elástica, uma diminuição no preço do produto ocasiona um aumento mais do que
proporcional da quantidade vendida e, portanto, uma elevação da receita total da firma. Desse modo,
aumentos no preço de venda do produto poderão provocar uma contração da receita da firma.

Se, porém, a demanda for inelástica em relação a preço e ocorrer uma diminuição do preço do
produto, o aumento da quantidade demandada será proporcionalmente inferior à redução percentual
praticada no preço, consequentemente, diminuindo a receita total da firma.

A demanda tende a ser mais elástica se:

• o bem for supérfluo;

• maior for o horizonte de tempo para a adequação da demanda;

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ECONOMIA E MERCADO

• maior for a quantidade de bens substitutos próximos;

• mais restritos forem os limites do mercado em questão.

E, ao contrário, ela tende a ser menos elástica se:

• o bem for necessário;

• menor for o tempo para a adequação e para a adaptação da demanda;

• menor for a quantidade de bens substitutos próximos;

• menos restritos forem os limites do mercado em questão.

3.6 Elasticidade-preço cruzada da demanda

Há outras medições de elasticidade da demanda, por exemplo, a que mede a variação da quantidade
demandada em relação ao preço não do próprio, mas de outro bem que lhe é complementar ou substituto.

Assim, a elasticidade cruzada da demanda, que denominaremos Ex, mede as variações percentuais
de quantidade procurada de um bem n em relação às variações percentuais no preço de outro bem k:

Para bens complementares – automóvel e combustível –, Ex será negativo. Para bens substitutos –
manteiga e margarina –, Ex será positivo.

Assim como no caso da medição da elasticidade-preço, se Ex for igual a zero, não haverá qualquer
relação entre os bens, nem de substituição, nem de complementaridade.

A medição desse tipo de elasticidade nos permite determinar a intensidade e os efeitos da concorrência
por meio dos produtos substitutos ou complementares, e, com isso, podermos elaborar estratégias de
mercado mais refinadas para o crescimento da empresa ou do setor ou região.

3.7 Elasticidade-renda da demanda

Neste caso, procura-se conhecer as repercussões sobre a quantidade demandada em razão de uma
variação na renda do consumidor.

Quando a quantidade demandada diminui por causa de um aumento na renda do consumidor, o


indicador dessa elasticidade que denominaremos Er será negativo.

Os bens normais ou bens superiores apresentam reação positiva a incrementos de renda do consumidor.

O valor de Er pode, ainda, ser um indicador de um subtipo de bem normal. Se Ex for maior do que
zero, porém menor do que 1, trata-se de um bem essencial.
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Unidade II

Se Er for maior do que um, é considerado bem de luxo.

Os bens inferiores têm sua quantidade demandada diminuída quando aumenta a renda do consumidor.

Se Er for zero, o consumo do bem n não dependerá do nível de rendimento do consumidor.

Vasconcellos (2007, p. 419) comenta a respeito dos chamados bens de Giffen, acentuando tratar-se
da única exceção à regra da relação direta da demanda, em relação à renda do consumidor, coeteris
paribus. Neste caso, a relação é inversa, pois se refere a um bem de tipo inferior. O autor ainda menciona
como exemplo desse tipo de bem o comportamento de uma sociedade inglesa no século XVIII, muito
pobre e grande consumidora de batatas. Com uma expressiva queda de preços da batata, aumentou
o poder aquisitivo dos consumidores, que, saciados pelo consumo, passaram a gastar com outros
alimentos, e a curva de demanda de batatas passou a ser inclinada positivamente, e não negativamente.

Oliveira (2006, p. 216) comenta:

De forma geral, a elasticidade-renda da demanda é maior para os produtos


manufaturados do que para os básicos, pois, em função [razão] da elevação
da renda, é mais frequente a elevação da demanda por bens manufaturados
– como eletrônicos, refrigerador, máquina de lavar, vídeo, computador – do
que por alimentos, como arroz, feijão, açúcar etc., que já vinham, ao menos
em parte, tendo suas necessidades atendidas.

Heilbroner (2008), ao analisar as causas que provocaram a Grande Depressão americana – uma
grande paralisação decorrente da longa tendência de crescimento, que durou quase uma década,
com início em 1929 – cita, dentre outros motivos, uma deterioração inexorável do poder aquisitivo na
agricultura, agravada pela demanda inelástica de produtos agrícolas.

Esse comportamento da demanda também levou a Comissão Econômica para a América Latina
(Cepal) a incentivar os países da região a se industrializarem, dado que haveria deterioração dos termos
de troca dos que mantivessem a produção concentrada em bens primários, como as commodities.

O termo significa literalmente “mercadoria” em inglês. Nas relações


comerciais internacionais, o termo designa um tipo particular de mercadoria
em estado bruto ou produto primário de importância comercial, como é o
caso do café, do chá, da lã, do algodão, da juta, do estanho, do cobre etc.
(SANDRONI, 1999, p. 112).

3.8 Elasticidades da oferta

Tal como a demanda, a oferta pode apresentar diferentes possibilidades de elasticidade (maior,
menor, unitária etc.) em relação aos fatores que a impactam, como os preços do respectivo bem ou
serviço, os custos das matérias-primas etc.

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ECONOMIA E MERCADO

Assim, a elasticidade-preço da oferta mede o aumento ou a diminuição percentual da quantidade


ofertada devido a uma alteração do preço do respectivo bem ou serviço.

De forma semelhante à demanda, a elasticidade da oferta tem como fatores determinantes:

• limites (tamanho) do mercado de comercialização do bem ou serviço;

• intervalo de tempo para a adequação da produção;

• capacidade dos produtores de mudar a quantidade produzida de um determinado bem ou serviço.

A elasticidade-preço da oferta é calculada pela divisão da variação percentual da quantidade


ofertada pela variação percentual do preço em determinado ponto (ou intervalo) da curva de oferta do
respectivo bem ou serviço:

∆ %(quantidade ofertada)
Eo =
ç
∆ %(preco)

De forma análoga à demanda, podemos constatar casos de curvas de oferta com:

• perfeita elasticidade;

• elástica;

• inelástica;

• elasticidade unitária.

O exemplo a seguir aponta para uma oferta elástica.

Se o preço de um bem for alterado de R$ 4,00 para R$ 5,00 (aumento de 25%), enquanto a
quantidade ofertada se alterar de 100 para 200 unidades (100%), estaremos diante de uma situação de
oferta elástica.

Contudo, se houver essa mesma mudança de preço (de R$ 4,00 para R$ 5,00), mas que ocasione um
aumento da quantidade ofertada, por exemplo, de 100 para 110 unidades (10%), haverá a oferta inelástica.

3.9 Outras aplicações do conceito de elasticidade

Além do que foi visto no que tange ao dimensionamento das mudanças da demanda e da oferta em
relação a fatores que as impactam, esse conceito pode ser adotado em outros tipos de estudos, por exemplo:

• efeitos das mudanças da taxa de câmbio sobre as exportações e importações do país;

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Unidade II

• efeitos das mudanças da taxa de juros sobre os níveis de poupança e de investimento


da sociedade.

3.10 Medidas de elasticidade de alguns produtos

A tabela a seguir apresenta dados de elasticidades-preços da demanda de alguns produtos (alimentos)


nas negociações no varejo, comparando Brasil e Estados Unidos da América:

Tabela 8 – Comparações de graus de elasticidade de produtos agropecuários

Magnitude da elasticidade-preço da demanda (em módulo)


Produto
No Brasil Nos Estados Unidos da América
Açúcar 0,13 0,24
Arroz 0,10 (*)
Banana 0,49 (*)
Batata inglesa 0,15 0,25
Café em pó 0,12 0,21
Café solúvel 0,85 1,10
Carne bovina 0,94 0,77
Carne de frango 0,96 0,80
Carne suína 0,70 0,60
Farinha de trigo 0,35 0,15
Feijão 0,16 (*)
Frutas 0,50 0,45
Laranja (*) 0,66
Leite 0,14 0,34
Manteiga (*) 0,66
Margarina (*) 0,84
Ovos 1,20 0,30
Pão (*) 0,15
Queijo (*) 0,55
Tomate 1,20 (*)
Produtos agrícolas em geral (*) 0,42
Carnes em geral (*) 0,60
Alimentos em geral 0,50 0,12
Não alimentos (*) 1,02

Adaptado de: Mendes; Padilha Junior (2007, p. 73).

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ECONOMIA E MERCADO

4 AS ESTRUTURAS DE MERCADOS

4.1 Que papel os mercados desempenham na economia?

A interação dos agentes econômicos dá-se nos mercados da economia, seja pelos compradores, seja
pelos vendedores de bens e serviços. É por isso que a adequada participação no sistema econômico
demanda o conhecimento das estruturas de mercado vigentes.

O objetivo é utilizar os conhecimentos, por exemplo, nas decisões do agentes econômicos – nos
processos de formação de preços dos bens e serviços.

Encontramos várias estruturas de mercados, inclusive aquela em que um grande número de empresas
oferece produtos idênticos (e a concorrência entre os ofertantes é considerada perfeita).

Entretanto, há situações em que um produto único, sem substitutos, domina o mercado, o que
caracteriza um monopólio.

São diversos os fatores que dimensionam essas estruturas de mercado destacando-se os


seguintes aspectos:

• Quantidade de empresas vendedoras.

• Dimensão dessas organizações – seu poder de compra e de negociação.

• Grau de interdependência entre elas.

• Similaridades ou diferenças entre os produtos das instituições que participam do mercado.

• Natureza e a quantidade de consumidores (empresas e famílias).

• Informações dos consumidores e dos vendedores sobre os demais produtos transacionados nesse
mercado, em termos, por exemplo, de preços e condições comerciais.

• Grau de habilidade que as organizações individuais dispõem para influenciar a procura no mercado
como um todo, pelas mais diversas formas, como a promoção do produto, aspectos qualificativos,
facilidades de comercialização etc.

• Facilidade com que as firmas entram e saem da indústria (setor – ou ramo de produção).

Comumente, as estruturas dos mercados mesclam elementos de monopólio, concorrência perfeita e


concorrência monopolística, dependendo de suas forças relativas.

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Unidade II

4.2 Os grandes mercados da economia

Quando falamos em mercado, estamos tratando do local onde se dá a interação entre os agentes
para a realização de transações como as de compra e venda de produtos.

O local, aqui indicado, não se refere sempre a um espaço, lugar físico, pois grandes mercados se
situam de modo virtual.

O primeiro caso identifica os mercados nos quais ocorrem as transações diretas com produtos.

Neste caso, podemos considerar os mercados:

• De bens e serviços: as famílias demandam e as empresas oferecem os bens e serviços necessários


à satisfação das necessidades humanas.

• De fatores de produção: as famílias oferecem e as empresas demandam os recursos (fatores de


produção, como capital, terra e trabalho) necessários à produção dos bens e serviços que serão
transacionados na economia.

Figura 15 – Central de distribuição de alimentos

Podemos classificar os mercados financeiros em:

• Mercados monetários: trocas de curto e curtíssimo prazo, visando oferecer liquidez aos agentes
econômicos. O grande indicador para esses mercados é a taxa de juros.

Observação

Liquidez é um termo muito usado em finanças e contabilidade. Reflete a


capacidade de determinado ativo, bem ou direito de uma entidade, pública
ou privada, de ser convertido em dinheiro.
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ECONOMIA E MERCADO

• Mercados de crédito: fornecem recursos para o consumo ou o investimento dos agentes


econômicos.

• Mercados de capitais: permitem as trocas entre dinheiro e títulos financeiros.

• Mercados de câmbio: possibilitam, através das variações da taxa de câmbio, as trocas entre a
moeda nacional e externas (como o dólar norte-americano).

É possível, também, classificar os mercados em locais, regionais ou mundiais.

No primeiro caso, pode ser destacado o mercado imobiliário, de transações de bens imóveis. As
negociações envolvendo as trocas de moedas de diferentes países, entre os agentes econômicos, são
exemplo de mercado mundial, havendo grande influência de bolsas internacionais. As transações entre
a moedas são determinadas pelas variações na taxa de câmbio entre elas, que vigora em cada mercado.

No Brasil, compra-se moeda estrangeira com base no seu custo em reais.

4.3 Mercados em concorrência perfeita

Considera a teoria que estuda os livres mercados (capitalistas) que a economia será mais eficiente
quanto maior for o nível de concorrência entre os agentes econômicos, sejam eles consumidores, sejam
produtores.

O modelo denominado concorrência perfeita é caracterizado por uma grande quantidade de


participantes – tanto ofertantes quanto demandantes de bens e serviços.

Nessa estrutura, que é considerada a ideal para o funcionamento de uma economia, nenhum
dos agentes é capaz, isoladamente, de influenciar o preço e a quantidade de produtos que serão
transacionados no mercado.

A concorrência perfeita supõe o pleno funcionamento do mecanismo de preço como orientador da


quantidade a ser oferecida e, igualmente, que será adquirida pelos consumidores.

Os mercados em concorrência perfeita são caracterizados por:

• Existência de uma grande quantidade de agentes vendedores e compradores interagindo nos


movimentos de venda e compra de bens e serviços.

• Homogeneidade dos produtos. Supõe que não existem significativas diferenças entre os produtos
oferecidos. Os compradores podem, assim, adquirir o produto de qualquer ofertante.

• Transparência das informações de mercado. Tanto os vendedores como os compradores têm


amplo acesso a todas as informações do mercado, tanto no que se refere a preços como
à quantidade e qualidade. Também os aspectos referentes a custos e lucros dos concorrentes
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Unidade II

são conhecidos, o que faz com que não haja interesse por venda a preço abaixo daquele
vigente no mercado.

• Os agentes econômicos são tomadores de preço. Vendedores e compradores se sujeitarão ao


preço de mercado, não usufruindo de incentivos para reduzi-lo – posição compradora – ou
aumentá-lo – posição vendedora.

• Inexistem direitos de propriedade ou patentes, por exemplo, que, muitas vezes, impedem a entrada
de novos ofertantes.

• Não existem barreiras legais resultantes da ação governamental, como a exigência de determinadas
condições para o estabelecimento de empresas em diversos mercados.

• Os empresários sempre procuram maximizar seus lucros e os consumidores a sua satisfação ou


utilidade, agindo racionalmente.

Todas as hipóteses aqui apresentadas são válidas também para o mercado de fatores de produção
sob a forma de concorrência perfeita.

Sandroni (1999, p. 118) define concorrência como:

Também chamada livre-concorrência. Situação do regime de iniciativa


privada em que as empresas competem entre si, sem que nenhuma delas
goze da supremacia em virtude de privilégios jurídicos, força econômica ou
posse exclusiva de certos recursos. Nessas condições, os preços de mercado
formam-se perfeitamente segundo a correção entre oferta e procura, sem
interferência predominante de compradores ou vendedores isolados. Os
capitais podem, então, circular livremente entre os vários ramos e setores,
transferindo-se dos menos rentáveis para os mais rentáveis em cada
conjuntura econômica. Nesse caso, o mercado é concorrencial em alto
grau. De acordo com a doutrina liberal, propugnada por Adam Smith e
pelos economistas neoclássicos, a livre-concorrência entre capitalistas
constitui a situação ideal para a distribuição mais eficaz dos bens entre
as empresas e os consumidores. Com o surgimento de monopólios e
oligopólios, a livre-concorrência desaparece, substituída pela concorrência
controlada e imperfeita.

4.4 Mercados monopolistas

Nesse tipo de estrutura, há uma única grande empresa atuando como fornecedora do bem.

Usualmente, o mercado consumidor é constituído por agentes de menor porte. Constitui o extremo
oposto da concorrência perfeita.

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ECONOMIA E MERCADO

O bem ou serviço oferecido não conta com um substituto próximo, ou seja, inexiste concorrente no
mercado em questão.

A inexistência de produtos substitutos próximos ocorre porque o produto comercializado é complexo


ou muito caro para ser produzido ou, ainda, pela existência de barreiras à livre entrada de novos
participantes no mercado.

Assim, o monopolista exerce grande influência na determinação do preço a ser cobrado do comprador.

Há barreiras legais ou estratégicas que impedem a participação de outras empresas, concorrentes,


no mercado.

Entre outros aspectos, é importante considerar que o monopolista:

• tem condições privilegiadas de acesso a determinada matéria-prima;

• detém patente industrial sobre o produto e/ou processo de fabricação;

• possui direitos autorais, sem possibilidade de acesso imediato por um competidor.

As condições de atuação do monopolista impedem a entrada de novos players em razão dos


seguintes aspectos:

• Existência de economias de escala, possibilitando a obtenção de maior quantidade produzida por


recurso de produção utilizado.

— A obtenção de economias (rendimentos positivos) de escala se efetiva porque o ofertante pode


aumentar a produção e, ainda assim, reduzir seus custos.
— Geralmente, as empresas que atuam em condições monopolistas apresentam elevados
custos fixos de produção – que não aumentam em virtude do crescimento da quantidade
oferecida, como ocorre com os aluguéis, cujos valores normalmente são independentes da
quantidade produzida.
— Os custos variáveis, por outro lado, aumentam com base na quantidade produzida e/ou
comercializada, como é o caso da matéria-prima que compõe o produto oferecido. Os custos
variáveis são relativamente baixos.
— Os custos fixos, portanto, são distribuídos por uma quantidade cada vez maior de unidades
oferecidas na medida em que a produção aumenta.

• Controle sobre a matéria-prima.

• Direitos autorais e patentes de produção, muitas vezes pelo privilégio de obtenção de uma
carta-patente, que impede o acesso de outros fabricantes à tecnologia de produto ou de processo.
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Unidade II

• Desenvolvimento de barreiras estratégicas: decorrem da ação das empresas já instaladas com o


intuito de evitar a entrada de concorrentes no mercado, destacando-se:

— Fixação de um preço limite: a organização existente pode adotar políticas de preços,


baixando-o e obrigando as potenciais entrantes a enfrentar prejuízos se decidirem entrar
no mercado.

— Capacidade de diferenciação (proliferação de marcas).

— Controle de inputs e outlets: a empresa presente no mercado controla o acesso aos fatores
produtivos e aos postos de vendas, dificultando a entrada de outras entidades no canal de
distribuição.

— Publicidade: o monopolista procura conquistar a fidelização dos consumidores.

Finalmente, cabem algumas considerações sobre o que se entende por monopólios naturais.

Isso acontece, como já vimos, pelo alto custo inicial necessário para o fornecimento dos
produtos ou serviços, como ocorre, por exemplo, com as companhias ferroviárias, de energia
elétrica ou telefonia.

Consumado o investimento, os custos para oferecimento dos serviços serão decrescentes para o
atendimento a uma extensa quantidade de consumidores e usuários.

O fato de serem monopolistas, porém, não propicia a esses agentes condições de requerer o preço que
desejarem para a comercialização desses produtos pelas seguintes razões: controle e regulamentações
governamentais e limitações impostas pela demanda dos consumidores.

O governo procura controlar os agentes monopolistas de forma a aumentar a competição no


mercado, como acontece com a atuação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
no Brasil.

São estabelecidos limites para a liberdade de atuação nos mercados, com a intervenção do Estado
nos casos de concentração que determinem excesso de poder econômico.

As empresas são vigiadas com o intuito de incentivar a concorrência e não podem, por exemplo,
firmar acordos ilícitos para aumento dos preços dos produtos.

O Cade preocupa-se com o bom funcionamento do sistema competitivo dos mercados


para garantir não somente preços mais baixos, mas também produtos de maior qualidade,
diversificação e inovação. É uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, com sede
e foro no Distrito Federal, que exerce, em todo o território nacional, as atribuições conferidas
pela Lei nº 12.529/2011.

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ECONOMIA E MERCADO

Podem ser distinguidas as seguintes funções do Cade:

• Preventiva: analisar e posteriormente decidir sobre as fusões, aquisições de controle, incorporações


e outros atos de concentração econômica entre grandes empresas que possam colocar em risco a
livre concorrência.

• Repressiva: investigar, em todo o território nacional, e posteriormente julgar cartéis e outras


condutas nocivas à livre concorrência.

• Atribuição educacional ou de advocacia da concorrência: instruir o público em geral sobre


as diversas condutas que possam prejudicar a livre concorrência; incentivar e estimular estudos e
pesquisas acadêmicas sobre o tema, firmando parcerias com universidades, institutos de pesquisa,
associações e órgãos do governo.

Ainda é preciso considerar a atuação das agências reguladoras, a quem cabe o controle dos mercados,
de forma a evitar práticas inadequadas de preços ou de quaisquer ações que prejudiquem a sociedade.

As agências reguladoras são órgãos governamentais que exercem o papel de fiscalização,


regulamentação e controle de produtos e serviços de interesse público, tais como telecomunicações,
energia elétrica, serviços de planos de saúde, entre outros.

Elas são criadas por leis. Entre suas principais obrigações, destacam-se:

• o levantamento de dados sobre o mercado de atuação;

• a elaboração de normas disciplinadoras para o setor regulado;

• a fiscalização dessas normas.

Giambiagi (2015, p. 400) menciona:

Com a privatização, o Estado não desaparece; ele apenas muda de figura,


deixando de cumprir o papel de produtor do serviço e passando a assumir as
responsabilidades de regulador, ou seja, de fiscal do serviço, através da ação
das agências reguladoras.

A atuação das agências reguladoras deve ser fortalecida, tendo em vista o atendimento dos
seguintes objetivos:

• defesa de direitos do consumidor;

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Unidade II

• adequada gestão de contratos de concessão de serviços públicos delegados; e

• incentivo à concorrência, minimizando os efeitos dos monopólios naturais e desenvolvendo


mecanismos de suporte à concorrência.

No Brasil acentuam-se as seguintes agências reguladoras e suas atribuições: Aneel (energia elétrica),
ANP (petróleo), ANA (água), Anatel (telecomunicações).

4.5 O oligopólio

A característica fundamental que se observa nos atuais mercados é a prática da concorrência


imperfeita, isto é, com as estruturas de concorrência monopolística, que veremos a seguir, e o oligopólio.

Os oligopólios são representados por um pequeno número de empresas vendedoras em um mercado


que conta com um grande número de compradores, oferecendo produtos diferentes (oligopólio
diferenciado) ou idênticos (oligopólio puro).

Muitos consideram que o que se produz no mercado oligopolista é utilizado para o controle do setor
com base em um pequeno número de instituições, podendo gerar abusos em termos de práticas de
preços, por exemplo.

Há um tipo de concorrência nos oligopólios, mas com preços mais altos.

Existe, pois, colaboração mútua, mas voltada à manutenção do poder e eliminação da livre concorrência.

A concorrência entre os oligopolistas dá-se por meio da qualidade, design do produto ou, ainda,
propaganda e prestação de serviços ao cliente.

Observação

A Teoria dos Jogos ajuda a explicar e/ou orientar o funcionamento do


oligopólio.

Objetiva analisar problemas em que há interação entre os agentes. Assim,


as decisões individuais, de firma ou de governo afetam e são afetadas pelas
decisões dos demais agentes.

Vasconcellos (2007, p. 171) comenta:

Uma série de situações estudadas em economia pode ser analisada ou


“modelada” como um verdadeiro jogo, tal como o xadrex, o futebol, o
pôquer etc. São situações em que os agentes econômicos, interagindo uns
com os outros, têm que escolher entre diferentes estratégias, dentro de
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ECONOMIA E MERCADO

regras estabelecidas (sistema jurídico, contratos, regulação pública etc.)[,]


visando a um resultado desejado. Como exemplo podemos citar o caso de
uma empresa que deseja lançar um novo produto no mercado. Na decisão
de qual estratégia adotar – lançar ou não o novo produto –[,] a empresa
deve levar em conta também as estratégias dos concorrentes. Isso porque
o lucro com o lançamento do novo produto, ou os resultados do jogo,
pode ser alterado de acordo com a resposta dos concorrentes, que também
podem lançar um novo produto similar. Outro exemplo pode ser encontrado
nas denominadas guerras comerciais entre os países. Determinado país,
digamos o país A, pode decidir pela estratégia de elevar as alíquotas
de importação de determinado produto proveniente do [...] B com vista
em, por exemplo, melhorar seu desempenho na balança comercial. Essa
estratégia pode ser seguida pelo país B. Este pode retaliar a estratégia do
país A, também elevando as alíquotas de importação provenientes deste
país, impedindo a esperada melhoria na balança comercial. Essas e outras
situações que envolvem problemas econômicos ou mesmo de outras áreas
das ciência[s] sociais podem ser adequadamente analisadas pela Teoria
dos Jogos.

Observação

São vários os modelos estudados pela Teoria dos Jogos. Um dos


conceitos fundamentais da Teoria é o de Equilíbrio de Nash, que caracteriza
uma situação estratégica em que a decisão tomada por um jogador é a
melhor resposta frente à decisão tomada pelos demais, e isto é válido para
todos os agentes.

O combate aos processos oligopolistas iniciou-se no fim do século XIX e início do XX, a partir da
constituição de grandes conglomerados industriais e financeiros.

Os oligopólios podem constituir:

• Cartéis: composto de empresas que se organizam (formal ou informalmente) e exploram um


produto (como é o caso do petróleo), diminuindo e/ou eliminando a concorrência no mercado,
fixando uma política para todo o setor em termos de cotas e quantidades.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), criada na década de 1960, é uma
organização intergovernamental de cunho permanente para administrar – de modo centralizado
– a política de produção e exportação dos países-membros (Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita,
Venezuela etc.). Controla os volumes de produção dos países-membros visando obter melhores
preços da commodity nos mercados mundiais. Desenvolve estratégias geopolíticas na produção e
exportação do petróleo.

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Unidade II

• Truste horizontal: formado por empresas do mesmo segmento econômico (como as


produtoras de leite).
• Truste vertical: controle de uma cadeia de produção, por exemplo, da plantação de cana-de-açúcar
até a produção industrial do açúcar e do álcool.
• Conglomerados: instituição que atua em vários ramos de produção, como a fabricação de
automóveis, televisores etc.
• Holdings: é o caso de empresas que controlam outras, com base na posse da maioria das ações.

Essa estrutura está relacionada com a interdependência econômica, afetando as decisões sobre
preços e quantidades. A decisão de um vendedor influi no comportamento econômico de outros.

4.6 Concorrência monopolística

Nesse tipo de estrutura de mercado, verifica-se a presença de muitas empresas (em grande
número, porém ainda assim menor do que na concorrência perfeita) oferecendo produtos
diferenciados, mas substitutos próximos entre si, definindo especificidades nos produtos, como
roupas, restaurantes, pastas de dentes e refrigerantes com marcas específicas que as identificam
perante os consumidores.

O produtor de determinada marca usufrui vantagens características de um monopolista, oferecendo


seu produto a um preço que lhe convém e maximizando seus lucros.

Nesses mercados, diferentemente do que ocorre com os monopólios e os oligopólios, há livre entrada
de agentes (participantes) no mercado.

A concorrência monopolística é, na verdade, uma estrutura intermediária entre a concorrência


perfeita e o monopólio.

Os participantes dessa estrutura usam amplamente a propaganda e a publicidade para controlar a


preferência e a fidelidade dos consumidores através do apoio às suas marcas. Cada empresa procura
controlar pequenas parcelas do mercado.

4.7 Mercados com forte concorrência pelo lado do consumidor

Há situações monopolistas e oligopolistas entre o conjunto de consumidores (compradores) dos vários


produtos disponíveis na economia. Respectivamente, são as estruturas conhecidas como monopsônio
e oligopsônio.

Assim, com muitos vendedores e uma só empresa compradora, teremos o monopsônio.

No oligopsônio há uma situação parecida (mas inversa) à do oligopólio. Neste caso, poucos
compradores interagem no mercado com um grande número de vendedores.
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ECONOMIA E MERCADO

O poder de monopsônio está estreitamente relacionado com o tipo de elasticidade da oferta do


mercado. Quanto maior for a elasticidade da oferta, maior será o poder do comprador.

4.8 A matriz de Stackelberg

Trata-se de um modelo simplificado que classifica as estruturas de mercado com base no número de
agentes envolvidos em cada um dos dois lados – o da procura e o da oferta.

Prevê, tanto do lado da oferta como da procura, três situações possíveis:

• apenas um agente econômico;

• uma pequena quantidade de agentes; e

• uma grande quantidade de agentes econômicos.

A combinação dessas três situações conduz à construção de uma matriz de nove diferentes estruturas
possíveis, conforme demonstrado na figura a seguir:

Consumidores

Grande quantidade de Monopólio Oligopólio Concorrência perfeita


consumidores

Pequena quantidade de Quase-monopólio Oligopólio bilateral Oligopsônio


consumidores

Um único consumidor Monopólio bilateral Quase-monopsônio Monopsônio

Pequena quantidade de Grande quantidade de Vendedores


Um único vendedor vendedores vendedores

Figura 16 – Estruturas de mercado, segundo Stackelberg

O gráfico cartesiano foi adotado com três faixas verticais e três horizontais, identificando os portes,
respectivamente, de vendedores e consumidores, sempre considerando:

• apenas um participante;

• pequena quantidade de participantes;

• grande quantidade de participantes.

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Unidade II

Na parte superior esquerda da matriz, está situada a estrutura de monopólio, caracterizada pela
interação entre um grande número de consumidores e um único vendedor.

Ela é oposta à concorrência perfeita, marcada por um grande número, tanto de vendedores quanto
de compradores.

A matriz também ressalta o monopsônio e o oligopsônio, que focam a preocupação com a


concorrência entre os consumidores de bens e serviços.

Notam-se, ainda, outras estruturas que combinam diferentes condições de participação entre os
agentes vendedores e compradores, como:

• quase-monopólio;

• monopólio bilateral;

• quase-monopsônio;

• oligopólio bilateral.

Vasconcellos (2007, p. 427) define esse tipo de estrutura de mercado como:

é a forma de mercado em que um monopsonista, na compra de um insumo,


defronta-se com um monopolista na venda desse insumo. Por exemplo, uma
única fábrica, em uma cidade do interior (monopsonista)[,] que se defronta
com um único sindicato de trabalhadores (monopolista na venda).

Observação

Stackelberg foi um dos grandes estudiosos das estruturas de


concorrência imperfeita dos mercados capitalistas, notadamente
dos oligopólios.

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ECONOMIA E MERCADO

O quadro a seguir sintetiza e exemplifica casos das estruturas de mercado.

Quadro 2

Acesso
Objetivo da Número de Tipo de de novas Lucros a longo Exemplos
Estrutura empresa firmas produto empresas ao prazo (aproximados)
mercado
Concorrência Maximização Infinitas Homogêno Não existem Lucros normais Hortifrúti-
perfeita de lucros(1) barreiras -granjeiros
Maximização Lucros Palhas de aço
Monopólio Uma Único Barreiras
de lucros(1) extraordinários (Bom-bril)
Concorrência Maximização Muitas Diferenciado(3) Não existem Lucros normais Médicos
monopolística de lucros(1) barreiras dentistas
Oligopólio
Oligopólio Maximização concentrado: Homogêneo:
poucas empresas alumínio (CBA,
de lucros(1)
Modelo clássico Homogêno ou Barreiras (4) Lucros Alcan, Alcoa)
Oligopólio diferenciado(3) extraordinários
Maximização
Modelo de mark-up(2) competitivo: Diferenciado:
mark-up poucas dominam automóveis
o setor
1. Maximixação de lucro: RMg = CMg
2. Mark-up = receita de vendas - custos diretos
3. Diferenciação devido a:
— características físicas (potência, composição química);
— promoção de vendas (propagandas, atendimentos, brindes);
— embalagem;
— manutenção.
4. Barreiras à entrada:
— monopólio/oligopólio puro ou natural, devido à grande escala de produção;
— reserva de patentes;
— controle de matérias-primas básicas;
— tradição.

Fonte: Vasconcellos (2007. p. 79).

Resumo
Nesta unidade abordamos as questões relacionadas com a formação
de preços e a atuação nos mercados pelos agentes econômicos, sejam
consumidores, sejam produtores de bens e serviços.

Estudamos as leis da demanda e da oferta de bens e serviços.

A demanda representa a intenção de compra pelos consumidores,


variando em razão dos preços das mercadorias e serviços, da renda disponível
pelos compradores, dos preços cobrados por bens complementares e
substitutos etc.

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Unidade II

Vimos que uma variável que exerce importância fundamental na


formação da demanda é o próprio preço do respectivo bem ou serviço.

Foi possível observar que há uma relação contrária (inversa) entre as


quantidades demandadas e os preços vigentes para os bens e serviços.

Também tratamos da oferta, que revela os interesses dos produtores


pela transação com seus produtos e serviços. Novamente, foi possível
aquilatar que há um grande número de fatores que influenciam a oferta.

No caso da oferta, acentuou-se que a relação é direta entre as


quantidades que os produtores desejam oferecer e os preços praticados
para os respectivos bens ou serviços.

Destacamos que demanda constitui intenção de compra, e não a aquisição


do bem ou produto, do mesmo modo que oferta é o desejo de venda.

As transações efetivas no mercado dependem da satisfação tanto da


demanda quanto da oferta de bens e serviços. Contudo, o conhecimento
das condições de demanda e de oferta dos bens e serviços propicia a
formação de expectativas e a tomada de decisões para a atuação dos
agentes econômicos no respectivo mercado.

Tão vital como esse conhecimento, nossas decisões serão mais


elaboradas se conseguirmos identificar a intensidade/sensibilidade (que os
economistas consideram elasticidade) tanto da demanda quanto da oferta
de determinado bem ou serviço.

Relatamos a intensidade das forças de oferta e de demanda sobre os preços


e as quantidades dos diferentes bens e serviços. Discutimos, ainda, a importância,
a variação e os tipos de estruturas de mercados para diferentes bens ou serviços.

É notório que a concorrência é um fator essencial para o adequado


funcionamento dos mercados.

As próprias definições e estudos dos economistas levam a leis, que


funcionam de forma mais ou menos abrangentes, considerando mercados
estruturados com maior ou menor nível de concorrência entre os agentes
econômicos, sejam eles consumidores, sejam produtores.

Estudamos, por fim, mercados constituídos sob diferentes tipos de


estruturas, tanto pelo lado dos consumidores quanto dos vendedores, como:
concorrência perfeita, monopólio, oligopólio, concorrência monopolística,
monopsônio e oligopsônio.
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ECONOMIA E MERCADO

Exercícios

Questão 1. (ANALISTA PGE-ECONOMISTA 2016) De acordo com a lei da demanda,

A) Existe uma relação positiva entre quantidade, demanda e preço.

B) Quando o preço sobe, a demanda irá se deslocar para a esquerda.

C) Existe uma relação negativa entre quantidade demandada e preço.

D) Quando o preço sobe a demanda irá se deslocar para a direita.

E) Quando o preço sobe, os consumidores irão deslocar suas compras para bens complementares.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: existe uma relação positiva entre a quantidade ofertada e o preço.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: quando ocorre uma mudança no preço, temos uma mudança na quantidade demandada
por um bem, não de sua demanda.

C) Alternativa correta.

Justificativa: sempre quando temos uma mudança no preço do bem sua quantidade
demandada responde num sentido inverso: sobe o preço, logo a quantidade demandada cai,
sendo o inverso verdadeiro.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: as mudanças no preço de um bem têm impactos na sua quantidade demandada, logo,
sem mudanças na demanda.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: no caso de bens complementares, uma elevação no preço de um dos bens levará à
diminuição das compras dos dois bens complementares.
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Unidade II

Questão 2. (ANALISTA PGE-ECONOMISTA 2016) Firmas em um mercado competitivo não


podem influenciar

A) A quantidade do bem que é produzida.

B) O quanto de trabalho é empregado na produção.

C) O quanto de capital é usado na produção.

D) O volume de marketing usado.

E) O preço do produto vendido.

Resolução desta questão na plataforma.

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Livro-Texto - Unidade III

Economia e Mercado (Universidade Paulista)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade


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ECONOMIA E MERCADO

Unidade III
Apresentamos alguns assuntos relacionados à Teoria Macroeconômica, seus questionamentos
centrais e sua importância. Vamos estudar a contabilidade social, notadamente as medidas de atividade
econômica, a identidade entre renda e produto, bem como os conceitos de valor bruto da produção e
valor agregado até chegar à medida maior, que é o PIB e suas variantes. Também assinalaremos como o
governo interfere na atividade econômica, via políticas econômicas, e nas questões monetárias.

5 INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

A Teoria Macroeconômica tem por objetivo fundamental analisar como são determinadas as
variáveis econômicas em sua forma agregada. Essa teoria, conhecida como abordagem de equilíbrio
geral, procura avaliar se o nível de atividade econômica tem crescido ou diminuído e se os preços das
mercadorias, conjuntamente, indicam elevação ou diminuição.

Diferentemente da Teoria Microeconômica, a Teoria Macroeconômica observa grandes mercados,


como os de bens e serviços, o de trabalho, o mercado monetário – em decorrência da participação da
moeda como meio de troca por mercadorias –, o mercado de títulos e, por fim, examina o mercado de
divisas internacionais, pois os países mantêm relações entre si, de modo que as moedas, as chamadas
divisas, que são reguladas pelo mercado cambial ou pelo governo, também são objeto de investigação
dessa teoria.

Essa teoria preocupa-se, portanto, em estudar o grupo dos consumidores de uma sociedade, assim
como o seu conjunto de empresas. O interesse é designar os fatores que influenciam o nível total de
renda e do produto do sistema econômico.

Os fatos macroeconômicos afetam a vida de todos nós. Muitos empresários planejam a elevação
ou diminuição das quantidades produzidas de seus bens levando em conta qual será, por exemplo, o
comportamento da renda da sociedade durante um determinado período de tempo.

Observação

A preocupação macroeconômica reside em conhecer o nível de renda de


todos os indivíduos de uma sociedade, diferentemente da microeconomia,
que está focada na renda do consumidor individual.

Apresentamos alguns dos elementos levantados pela Teoria Macroeconômica:

• comportamento do nível geral de preços;


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Unidade III

• comportamento do nível geral de produção de mercadorias;

• taxa de salários dos trabalhadores;

• nível de emprego e de desemprego;

• comportamento da taxa de juros da economia;

• quantidade de moeda que circula em um sistema econômico;

• quantidade de divisas internacionais que um país mantém como reservas;

• variação da taxa de câmbio entre a moeda nacional e a internacional;

• tamanho do endividamento do governo;

• taxa de investimento das empresas.

Segundo Gregory Mankiw (1995, p. 2),

[...] os macroeconomistas são cientistas que procuram explicar o funcionamento


da economia como um todo. Reúnem dados sobre rendas, preços, desemprego
e outras variáveis em diferentes épocas e diferentes países. Procuram, então,
elaborar teorias gerais que ajudem a explicar esses dados.

A Teoria Macroeconômica compreende, então, a análise de todos os mercados, envolvendo os preços


e quantidades das mercadorias, admitindo que modificações em algum mercado específico ou alterações
em qualquer de suas variáveis afetam o comportamento de outros mercados.

Pense que, em um determinado momento, uma empresa de grande porte do ramo farmacêutico
esteja com problemas em suas finanças. Possui aproximadamente 250 funcionários diretos e, para ajustar
sua estrutura de custos, anuncia uma política de demissão de 80 colaboradores. Como essas pessoas
perderam seus empregos, não têm mais renda. Assim, como conseguirão atender às suas necessidades
de consumo? Suponhamos que essas 80 pessoas sejam chefes de família e que essas famílias sejam
compostas de quatro membros: pai, mãe e dois filhos. Esse indivíduo não tem condições de pagar o
estudo particular dos filhos, que ainda são menores de idade. Dessa forma, eles passarão a estudar no
ensino público. A família possuía convênio médico (seguro-saúde), que também será cancelado, e a
família dependerá do serviço público. Menos roupas serão adquiridas, as idas ao cinema serão cortadas,
assim como os refrigerantes e o sorvete no fim de semana. Quem foi afetado com a demissão efetuada
pela indústria farmacêutica? Vejamos:

• os funcionários, com a perda do emprego;

• os membros de suas famílias;


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ECONOMIA E MERCADO

• a escola dos filhos, que deixará de receber as mensalidades e poderá ter dificuldades para manter
sua estrutura de custos;

• a empresa que administrava o convênio médico desta família, que terá menos recursos para
remunerar os médicos conveniados;

• o governo, e duplamente: primeiro, pela perda de arrecadação com impostos em razão da queda
de consumo; segundo, pelo aumento das despesas da rede pública de ensino e do Sistema Único
de Saúde, pois elevarão os atendimentos;

• a instituição que exibe filmes nos cinemas, já que algumas famílias não terão esse tipo de lazer;

• a entidade que produz refrigerantes e o mercado da esquina que os vende;

• o sorveteiro e a indústria que produz sorvetes.

Vamos adiante em nossa análise.

As escolas que deixarão de receber mensalidades também têm funcionários, e se o número de alunos
diminuir, o mesmo ocorrerá com o quadro de professores, de assistentes e demais trabalhadores, e já
destacamos o que acontecerá. A empresa que administra convênio médico terá o mesmo problema: mais
pessoas sem renda. Nesse ponto, você já é capaz de pensar no cenário dos demais setores da economia.

Em uma situação como a descrita, algo deve ser feito para que a atividade econômica volte a
ser operante, bem como os empregos retomados. É nesse contexto que a atuação do governo se faz
presente na análise macroeconômica. É a partir do exame de equilíbrio geral que são formuladas as
diretrizes da política econômica. Portanto, o conhecimento da macroeconomia ajuda as autoridades
públicas a avaliarem políticas alternativas, por meio dos instrumentos de intervenção, por exemplo,
através de parte fiscal, monetária, cambial, de rendas ou demais mecanismos de política.

Conforme Moraes (1996, p. 196):

A macroeconomia estuda o comportamento de variáveis que representam


a soma (ou a média) de quantidades e preços em mercados em uma escala
nacional. O tipo de modelo que se associa à macroeconomia é, por essa
razão, chamado de agregativo. Os principais problemas estudados pelo
enfoque macroeconômico são o desemprego, a inflação, os efeitos das
políticas econômicas sobre essas variáveis, o crescimento econômico e a
distribuição de renda.

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Unidade III

Podemos esquematizar a divisão do estudo da economia:

Economia

Dividide-se em:

Microeconomia Macroeconomia

Estudo de comportamento econômico de: Estudo de comportamento econômico do:

Empresas Famílias Governo País

Figura 17 – Divisão do estudo da economia: micro e macro

Em um sistema econômico moderno, produz-se grande variedade de bens e serviços, desde


automóveis até parafusos e alfinetes, como aparelhos eletroeletrônicos, produtos hortifrutigranjeiros e
serviços médicos e bancários. Sem contar laranjas, sapatos, ventiladores etc. Como medir tudo isso? Uma
das maneiras de avaliar o desempenho da economia é por meio da avaliação da produção agregada de
bens e serviços. Contudo, algumas questões vêm à tona: como é possível somar a produção de pares de
sapatos com quilos de maçãs e litros de leite? Como medir tudo isso em uma única unidade de medida
para verificar qual o produto agregado de uma nação?

Saiba mais

SILVA, C. R. L. da; LUIZ, S. Economia e mercados: introdução à economia.


19. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

5.1 Medição do produto nacional

Nesse momento, é pertinente perguntar como medir a produção realizada pelo sistema econômico,
tendo em mente que ela é contínua no tempo: os bens e serviços são produzidos e consumidos, sendo
necessário produzi-los novamente, pois grande parte das necessidades humanas exige um consumo
ininterrupto, como é o caso da alimentação, que precisa ser feita diariamente (SILVA; LUIZ, 2010).

É neste contexto que surge a contabilidade nacional: “[...] método de mensuração e interpretação da
atividade econômica que tem como objetivo medir a produção que se realiza em um sistema econômico
em um determinado período” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 44). Para medir o produto de uma nação, temos que
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ECONOMIA E MERCADO

examinar as quantidades de mercadorias que são vendidas em determinado período de tempo e seus
respectivos preços. Quando são usados os preços de mercado, pares de sapatos, quilos de maçãs e litros
de leite podem ser somados e comparados:

Quadro 3 – Utilização dos preços de mercado para somar diferentes produtos

Produto Quantidade Preço Valor de mercado


Pares de sapatos 1.000 pares R$ 40,00 o par R$ 40.000,00
Maçãs 3.000 quilos R$ 3,00 o quilo R$ 9.000,00
Leite 5.000 litros R$ 1,30 o litro R$ 6.500,00
Total R$ 55.500,00

Com o exemplo apresentado, podemos chegar à medida de produto nacional, que será dada pelo
valor monetário dos bens e serviços finais produzidos durante um determinado período de tempo, em
geral um ano. Nesse exemplo, o produto nacional dessa nação hipotética seria de R$ 55.500,00.

Observação

Não é possível somar unidades com quilos mais litros, mas é possível
somar o valor monetário que representam.

5.2 Identidade entre produto, despesa e renda nacional

Já sabemos que o fluxo circular da renda mostra os fluxos reais e monetários. No fluxo real, temos de
um lado bens e serviços sendo destinados das empresas para as famílias. Quanto ao fluxo monetário, as
famílias geram receitas às organizações como pagamento da aquisição de bens e serviços, e estas geram
rendas às famílias como remuneração à utilização dos fatores de produção.
Gasto (R$) (= PIB) Receitas (R$) (= PIB)
Mercado de produtos

Bens e serviços Bens e serviços


comprados vendidos
Fluxo de bens e serviços

Famílias Fluxo de dinheiro Empresas

Terra, capital, Insumos


trabalho e para a
empreendedorismo produção
Salários, aluguéis, juros e
Mercado de fatores de produção lucros (R$) (= PIB)
Renda (R$) (= PIB)

Figura 18 – Modelo de fluxo circular da renda e do produto

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Unidade III

O fluxo circular da renda mostra o desenvolvimento de outros dois mercados: o de bens e o de


fatores, que fazem parte do mercado real. No mercado de bens, aquele em que as empresas vendem às
famílias sua produção, são estabelecidos os preços das mercadorias e suas respectivas quantidades. Já
no mercado de fatores, aquele em que as famílias vendem às empresas fatores de produção, são fixadas
as remunerações de cada um desses fatores e em quais quantidades serão utilizadas. Por exemplo, é no
mercado de fatores que serão determinados os valores dos salários da mão de obra que será aplicada.

Na Teoria Microeconômica, os mercados também são considerados, tanto em termos de demanda


como de oferta e, portanto, de definição de preços e quantidades. Lá, a discussão é individual; aqui,
no agregado.

Assim, o fluxo circular da renda, na forma apresentada, é uma versão bem simplificada da realidade
ou do funcionamento de uma economia. No entanto, apesar de simples, podemos retirar a partir dele
vários conceitos, como os de produto nacional e de renda nacional.

O produto nacional (PN) é o valor monetário de todos os bens e serviços finais produzidos na
economia em determinado período de tempo. Portanto, a renda nacional (RN) será o total de pagamentos
efetuados aos fatores de produção que foram usados para a obtenção desse produto.

Então, sabemos que há uma identidade entre produtos e renda: PN = RN.

Vejamos um exemplo.

Tabela 9 – Produção e renda

Produção Renda
Sapatos R$ 40.000,00 Salários R$ 25.900,00
Maçãs R$ 9.000,00 Juros R$ 10.480,00
Leite R$ 6.500,00 Aluguel R$ 8.430,00
Lucros R$ 10.690,00
Total R$ 55.500,00
Total R$ 55.500,00

Conforme o exemplo, sabemos que o produto total da economia, o produto nacional, foi de R$
55.500,00 e, para que fossem produzidos sapatos, maçãs e leite nesse país, foi necessário utilizar
trabalhadores, capital, terra e capacidade empresarial. Se esses fatores de produção foram aplicados,
então eles foram remunerados.

Lembrete

O uso de fatores gera remuneração, e a soma de todas as remunerações


resulta na renda da sociedade.

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ECONOMIA E MERCADO

O total de produção de sapatos, maçãs e leite gerou R$ 25.900,00 em salários, R$ 10.480,00 de juros,
R$ 8.430,00 de pagamentos pelo aluguel e, por fim, R$ 10.690,00 de lucros, que foram reinvestidos
na própria produção. No entanto, essa renda que foi gerada na produção deve retornar à produção na
forma de consumo.

Observação

Estamos, por simplificação, supondo que essa economia hipotética


produza apenas três bens, mas sabemos que além destes há uma enorme
variedade. Os valores são meramente ilustrativos.

Portanto, chegamos à outra identidade:

Produto = renda = consumo

De outra forma:

Produto nacional = renda nacional = dispêndio nacional

PN = RN = DN

Vejamos:

Tabela 10 – Produção, renda e consumo (em R$)

Produção Renda Dispêndio


Sapatos 40.000,00 Salários 25.900,00 Despesas de consumo
Maçãs 9.000,00 Juros 10.480,00 Alimentação 17.400,00
Leite 6.500,00 Aluguel 8.430,00 Vestuário 3.420,00
Lucros 10.690,00 Habitação 7.330,00
Higiene 1.480,00
Saúde 5.330,00
Transporte 2.900,00
Educação 10.280,00
Lazer 730,00
Outras despesas
Impostos 1.080,00
Despesas com acumulação
Poupança 5.550,00
Total 55.500,00 Total 55.500,00 Total 55.500,00

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Unidade III

Observação

Ao analisar a tabela anterior, você consegue visualizar o fluxo circular


da renda? A produção está representando as empresas, a renda expressa os
consumidores e o dispêndio, a renda que retorna às empresas.

Além dos conceitos de produto nacional, renda nacional e de dispêndio nacional, devemos proceder
ao conhecimento de outros conceitos, que também surgem por meio do fluxo circular da renda.

5.3 Valor bruto da produção e valor agregado

Vamos supor que essa economia hipotética da qual estamos tratando também produza pães, já que
existem gastos com alimentação, conforme demonstrado pelas categorias de dispêndio.

Sabemos que o pão que consumimos em nosso café pela manhã não surge do nada, é fabricado
por meio da combinação de fatores de produção, e um deles bastante importante à produção de pães
é a farinha, derivada do trigo. O trigo, por sua vez, é proveniente da atividade agrícola, setor primário
da economia, e será transformado em farinha por meio do processo de industrialização, categorizando,
então, o setor secundário da economia. Depois, a farinha será utilizada para fazer o pão e será
comercializada pelo setor terciário da economia.

Vamos admitir que quem transforma o trigo em farinha não produz esse cereal, mas sim o adquire,
e que o mesmo acontece com o produtor de pães. Ele não produz farinha, mas a compra para usá-la.
Então, estão inclusos no preço do pão os custos de fabricação; da mesma forma, o gasto com a aquisição
de trigo está inserido no preço da venda final da farinha.

Acentuamos um exemplo que destaca as relações entre diferentes setores de atividade econômica:

• Setor primário: atividades de extração, agricultura e pecuária.


• Setor secundário: atividades da indústria.
• Setor terciário: atividades do comércio e dos serviços.

Vamos ao exemplo:

Tabela 11 – Estágios de produção de pão (em R$)

Estágios da produção Vendas do período Custos do período Valor adicionado


Trigo 30,00 – 30,00
Farinha 50,00 30,00 20,00
Pão 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00

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ECONOMIA E MERCADO

Vimos que o trigo foi vendido ao mercado pelo valor de R$ 30,00. Portanto, quem o comprou
teve um dispêndio total de R$ 30,00. Provavelmente, quem o adquiriu é a indústria que o
transformará em farinha. Após esse processo, a farinha é vendida ao mercado por R$ 50,00. Como
nesse preço de venda está embutido o custo de produção, ou seja, o custo com a aquisição de
fatores de produção, o que o setor secundário agregou ao produto dessa economia foi somente
R$ 20,00, isto é, a diferença entre o preço de venda de sua mercadoria e os valores gastos com
bens intermediários.

Seguindo esse raciocínio, a farinha foi vendida no mercado por R$ 50,00, e quem a adquiriu incorreu
em um dispêndio total de mesmo valor. Contudo, quem comprou a farinha vai transformá-la em pão,
que será o produto da venda do setor terciário da economia. O pão, de acordo com o exemplo, será
vendido por R$ 90,00, mas como foram gastos R$ 50,00 em custos de fatores de produção, foram
agora agregados ao produto nacional dessa economia somente R$ 40,00. Portanto, chegamos a novos
conceitos: valor bruto e valor agregado.

Entende-se por valor bruto da produção o cálculo do que cada ramo de atividade recebeu com
as vendas de bens, que no exemplo anterior representaria R$ 170,00. Já o valor agregado ou valor
adicionado é o cálculo do que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada
etapa do processo produtivo, que nesse exemplo é de R$ 90,00.

Assim, o valor do produto agregado dessa economia é R$ 90,00, que corresponde à produção
do último bem final dessa economia. Esse valor pode também ser obtido somando-se o valor
adicionado em cada etapa do processo produtivo. Já o valor bruto da produção é a soma do
valor de cada um dos bens na economia, que, em nosso exemplo, é igual a R$ 170,00. Esse
valor apresenta o problema da dupla contagem, pois no valor de cada produto também foram
incluídos os valores dos insumos necessários à sua produção, ou seja, o chamado consumo
intermediário. Então,

VBP – VBI = VA

Onde:

VBP = valor bruto da produção.

VBI = valores de bens intermediários.

VA = valor agregado ou valor adicionado.

A tabela a seguir sumariza os valores encontrados em cada setor de atividade econômica.

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Unidade III

Tabela 12 – Valor bruto da produção, valor de bens intermediários e valor agregado

Setor de atividade econômica Atividade VBP VBI VA


Setor primário Trigo (agricultura) 30,00 – 30,00
Setor secundário Farinha (indústria alimentícia) 50,00 30,00 20,00
Setor terciário Pão (comércio) 90,00 50,00 40,00
Total 170,00 80,00 90,00

5.4 Demais medidas agregadas

A partir da identidade macroeconômica básica em que o produto é igual à renda, que é igual ao
dispêndio, podemos verificar como são demonstradas as demais medidas agregativas de um sistema
econômico. Iniciaremos pelo Produto Interno Bruto (PIB).

O PIB refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território
econômico do país, independentemente da nacionalidade dos proprietários das unidades produtoras
desses bens e serviços, excluindo as transações intermediárias. É obtido por meio da seguinte fórmula:

PIB = C + I + G + X + M

Onde:

PIB = Produto Interno Bruto.

C = consumo das famílias.

I = investimento das empresas.

G = gastos do governo.

X = exportações.

M = importações.

Outra medida agregada é o Produto Nacional Bruto (PNB), que é obtido pelo valor de mercado de
todos os bens e serviços finais produzidos na economia em um dado período de tempo. Sua fórmula é:

PNB = C + I + G + (X – M)

Onde:

PNB = Produto Nacional Bruto.

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ECONOMIA E MERCADO

C = consumo das famílias.

I = investimento das empresas.

G = gastos do governo.

(X – M) = exportações líquidas.

Exemplo de aplicação

Faça uma pesquisa nos mais diversos meios de informação para verificar por que motivo o Brasil
anuncia PIB e os Estados Unidos anunciam PNB. Você verá que há um motivo forte.

Saiba mais

Acesse o site do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e


veja como esse órgão divulga os dados da produção dos três setores da
economia, bem como a estimação do Produto Interno Bruto.

<www.ibge.gov.br>.

Definido o PNB como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos na economia, em um
determinado período de tempo, e que, portanto, é avaliado em termos monetários, precisamos observar
um aspecto bastante importante.

Se, por exemplo, anunciamos que de um ano para outro houve aumento da ordem de 25% no PNB
de um país, resta descobrir sua causa: as quantidades de mercadorias aumentaram? Ou os preços das
mercadorias que sofreram elevação? Para tanto, precisamos diferenciar PNB nominal de PNB real. O PNB
nominal mede o valor da produção associado aos preços prevalecentes no período durante o qual o bem
é produzido. Já o PNB real mede o valor da produção em qualquer período com relação aos preços de
um ano-base. Ele nos mostra uma estimativa real ou física na produção entre anos específicos.

Outra medida de atividade econômica pode ser verificada por meio do Produto Nacional Líquido
(PNL), que é o agregado econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados
à riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período
de um ano. Ele se diferencia do PNB por conceber apenas os investimentos líquidos, ou seja, exclui
dos investimentos brutos da depreciação e desconsidera o desgaste de fatores de produção fixos da
economia. Dessa forma,

PNL = C + Il + G + (X – M)

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Unidade III

Onde:

PNL = Produto Nacional Líquido.

C = despesas com consumo.

Il = despesas com investimentos líquidos.

G = despesas do governo.

(X – M) = exportações líquidas.

5.5 Indicadores de crescimento e de desenvolvimento econômico

Uma das preocupações da análise macroeconômica refere-se ao potencial de crescimento da renda


que determinada economia consegue gerar ao longo do tempo e de que forma a sociedade pode ter sua
vida melhorada a partir do crescimento de tal renda. É o que passamos a tratar.

5.5.1 Medidas de crescimento: o PNB e o PIB

O Produto Nacional Bruto (PNB) e o Produto Interno Bruto (PIB) são medidas que possibilitam mensurar
o tamanho do bolo, ou seja, o que foi produzido de renda em determinado país. O PNB per capita e o PIB
per capita dão a noção de média de apropriação do produto por habitante: o PNB per capita dá o valor
de cada parcela de PNB apropriada por habitante; da mesma forma, o PIB per capita dá o valor de cada
parcela do PIB apropriada por habitante. Vejamos, então, a diferença entre os dois conceitos.

O PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos no
país (ou na região considerada) em determinado período de tempo. Para o seu cálculo, ele descarta a
renda do exterior, tanto a recebida quanto a enviada. Sendo N o número de habitantes, o PIB per capita
será dado por:

PIB per capita = PIB/N

O PNB difere do PIB porque ele abrange tanto as rendas enviadas para o exterior quanto as recebidas
pelo exterior. Assim:

PNB = PIB – REE (Receita Enviada para o Exterior) + RRE (Receita Recebida do Exterior).

O PNB per capita será dado por:

PNB per capita = PNB/N

Nos países em desenvolvimento, o PNB é menor do que o PIB. Isso ocorre porque, nesses países, há
considerável remessa de lucros para o exterior.
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ECONOMIA E MERCADO

No que diz respeito ao desenvolvimento, há controvérsias quanto ao seu real significado. Para
Souza (2009), há uma corrente de economistas que explicam o desenvolvimento como subproduto do
crescimento. Aqui residem modelos que enfatizam a acumulação de capital e sua igual repartição como
forma de desenvolvimento e melhoria das condições de uma nação. A ideia é a de que o crescimento
econômico, distribuindo diretamente a renda entre os proprietários dos fatores de produção, quaisquer
deles, leva à melhoria dos padrões de vida e ao desenvolvimento econômico.

No mundo contemporâneo, vê-se que a coisa não é tão simples assim: o desenvolvimento econômico
não pode ser confundido com crescimento, porque os frutos dessa expansão nem sempre beneficiam a
economia como um todo e com o conjunto da população. Por mais que haja crescimento exacerbado
da produção industrial, isso pode ser reflexo tanto da elevação da produtividade da mão de obra quanto
da expansão da demanda de mercados internos ou internacionais. Ainda, a expansão do produto pode
atender também à elevação da produtividade industrial como derivado da mecanização da produção,
experiência vivida por diversas economias que conseguiram superar os entraves do subdesenvolvimentismo
e conheceram a tecnologia como forma de produção poupadora de mão de obra.

Associado ao crescimento econômico, outros efeitos perversos podem estar ocorrendo, tais como:

• Transferência de renda para outros países: reduz a capacidade de importar por parte da
economia doméstica e mesmo de realizar investimentos tecnológicos.

• Apropriação de excedente, produtivo ou financeiro, por poucas pessoas: eleva a concentração


da renda e da riqueza, causando precarização das condições de uma parcela da sociedade.

• Baixos salários aos empregados de setores industriais: limita o crescimento da demanda e


dos investimentos nos setores que produzem alimentos e outros bens de consumo popular.

• Dificuldades para implantação de atividades interligadas às empresas que mais crescem,


exportadoras ou de mercado interno: impacta negativamente na produtividade do país.

Alguns pesquisadores encaram crescimento e desenvolvimento como coisas distintas: enquanto


o primeiro trata-se de um mero indicador quantitativo do produto de uma nação, o outro envolve
mudanças qualitativas em diversas frentes, a exemplo da estrutura econômica e produtiva de um país,
melhoria no relacionamento com o meio ambiente e diminuição da pobreza e da miséria.

Para Bresser-Pereira e Gala (2008, p. 79),

O desenvolvimento econômico depende, do lado da oferta, dos recursos


naturais existentes, do estoque de capital físico disponível e da capacidade
humana de produção, e, do lado da demanda, da acumulação de capital,
do consumo e das exportações. Oferta e demanda devem crescer de forma
equilibrada, mas uma característica universal das economias capitalistas, e
principalmente daquelas em desenvolvimento, é que a oferta geralmente
excede a demanda, ocorre generalizado desemprego de recursos humanos,
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Unidade III

a emigração de pessoal educado para os países ricos é alta e as taxas de


crescimento são baixas.

Por essa visão, entende-se desenvolvimento econômico como um processo de longo prazo em que
ocorre a acumulação de capital, e o progresso técnico é incorporado tanto para elevar a produtividade
do capital quanto da força de trabalho em termos de produtividade.

No processo de desenvolvimento, assim definido, já se acham implícitos


os fenômenos socioeconômicos que necessariamente o acompanham:
transferência de grandes massas da população do campo para as cidades,
constituição de um parque industrial mais ou menos amplo, aumento da
produtividade do trabalho, melhoria do padrão de vida tanto da população urbana
como da rural e elevação de seu nível cultural (BERLINCK; COHEN, 1970, p. 47).

5.5.2 Medidas de desenvolvimento: IDH, Curva de Lorenz e Índice de Gini

Alguns indicadores permitem avaliar o grau de desenvolvimento econômico de uma nação. Agora
vamos estudá-los.

5.5.2.1 O IDH

A mensuração do desenvolvimento humano, feita por meio do Índice de Desenvolvimento Humano


(IDH), contrapõe-se ao conceito de crescimento econômico. Parte-se do princípio de que, para verificar
o avanço de uma população em termos de desenvolvimento, é necessário analisar as demais condições
da sociedade, a exemplo da expectativa de vida e questões relacionadas aos níveis educacionais, que vão
além da questão puramente econômica, financeira.

O índice, desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen, é construído levando-se
em conta:

• a Renda Nacional Bruta per capita (corrigida pela paridade do poder de compra, tendo como base
o ano de 2005);

• a longevidade (medida pela expectativa de vida ao nascer);

• a educação (avaliada por dois indicadores: média de anos de educação de adultos e expectativa
de anos de escolaridade para crianças em idade de iniciar a vida escolar).

Observação

Há que se considerar que o índice não abrange todos os aspectos de


desenvolvimento e não é uma representação da “felicidade” das pessoas
nem indica “o melhor lugar no mundo para se viver” (PNUD, [s.d.]).
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ECONOMIA E MERCADO

As mudanças na metodologia do IDH em 2010

Não é a primeira vez que o IDH passa por mudanças. A disponibilidade de novos dados e
as sugestões de alguns críticos fizeram com que o índice se adaptasse ao longo das últimas
décadas. A fim de possibilitar que sejam verificadas tendências no desenvolvimento humano,
a equipe responsável pelo relatório usou uma nova metodologia para calcular o IDH de 2010
e dos anos subsequentes.

Os pilares do IDH não foram alterados: o índice varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1,
maior) e engloba três dimensões fundamentais do desenvolvimento humano: conhecimento
(mensurado por indicadores de educação), saúde (medida pela longevidade) e padrão de
vida digno (medido pela renda). Mas houve modificações em alguns indicadores e no cálculo
final do índice.

Subíndice de longevidade

Não mudou: continua sendo medido pela expectativa de vida ao nascer.

Subíndice de educação

É o único que engloba dois indicadores, e ambos foram alterados. Sai a taxa de
alfabetização, entra a média de anos de estudo da população adulta (25 anos ou mais).
Para averiguar as condições da população em idade escolar, em vez de taxa bruta de matrícula
passa a ser usado o número esperado de anos de estudos (expectativa de vida escolar, ou
tempo durante o qual uma criança ficará matriculada se os padrões atuais se mantiverem
ao longo de sua vida escolar). Essas alterações foram feitas porque alguns países, sobretudo
os do topo do IDH, haviam atingido níveis elevados de matrícula bruta e alfabetização –
assim, esses indicadores vinham perdendo a capacidade de diferenciar o desempenho dessas
nações. Na avaliação do Relatório de Desenvolvimento Humano, as novas variáveis captam
melhor o conceito de educação e permitem distinguir com mais precisão a situação dos países.
No entanto, assim como os indicadores anteriores, os novos não consideram a qualidade da
educação. No método antigo, a taxa de analfabetismo tinha peso 2 nesse subíndice e a taxa
de matrícula, peso 1. Agora, os dois novos indicadores têm pesos semelhantes.

Subíndice de renda

O PIB (Produto Interno Bruto) per capita foi substituído pela RNB (Renda Nacional Bruta)
per capita, que abrange os mesmos fatores que o PIB, mas também leva em conta recursos
enviados ou recebidos do exterior – a RNB acaba por ser uma maneira de captar melhor as
remessas vindas de imigrantes (seu cálculo não inclui o lucro enviado por empresas para
o exterior) e de computar a verba de ajuda humanitária recebida pelo país, por exemplo.
Antes se usava o logaritmo natural do PIB per capita, agora se usa o logaritmo natural da
renda. Também foi mantido o modo como os valores são expressos: em dólar corrigido pela
paridade do poder de compra (PPC), considerada a variação do custo de vida entre os países.
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Unidade III

Normalização dos subíndices

Para poder comparar indicadores diferentes (a renda é expressa em dólares; a


expectativa, em anos, por exemplo), cada subíndice é transformado em uma escala de 0 a
1. Por isso, estabelece-se um valor máximo e mínimo para cada indicador. Até o relatório
anterior, produzido de acordo com o novo método, os níveis máximos eram fixados pelo
próprio Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH); no mais recente, foram usados os
valores máximos verificados na série de dados (desde 1980), com o objetivo de eliminar a
arbitrariedade na escolha desses níveis máximos e mínimos.

Cálculo

Até a edição de 2009, o IDH era calculado como a média simples dos três subíndices
(somavam-se os três e dividia-se o resultado por três). A partir do relatório de 2010,
recorre-se à média geométrica: multiplicam-se os três subíndices e calcula-se a raiz cúbica
do resultado. Antes, um desempenho baixo em uma dimensão poderia ser diretamente
compensado por um desempenho melhor em outra. Com o novo cálculo, essa compensação
perde força – um valor ruim em um dos subíndices tem impacto maior em todo o índice.
Além disso, a metodologia permite que 1% de queda na expectativa de vida, por exemplo,
tenha o mesmo impacto que 1% de queda na renda ou na educação.

Nível de desenvolvimento humano

O Relatório de Desenvolvimento Humano deixa de classificar o nível de desenvolvimento


de acordo com valores fixos e passa a utilizar uma classificação relativa. A lista de países é
dividida em quatro partes semelhantes. Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento
humano muito alto; o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento; o terceiro
grupo apresenta desenvolvimento médio e os 25% que registram menor IDH revelam baixo
desenvolvimento humano.

Adaptado de: Inesc (2010).

A tabela a seguir apresenta indicadores selecionados pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) para a economia brasileira para o período 2000-2013 no que diz respeito à
expectativa de vida ao nascer, expectativa de anos de estudo e média de anos de estudo.

Tabela 13

Indicadores do Brasil
Ano Expectativa de vida ao nascer (anos) Expectativa de anos de estudo Média de anos de estudo
2000 70,3 14,3 5,6
2005 71,7 14,2 6,6
2010 73,1 15,2 7,2

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ECONOMIA E MERCADO

2011 73,4 15,2 7,2


2012 73,7 15,2 7,2
2013 73,9 15,2 7,2
2014 74,5 15,2 7,7

Fonte: PNUD (2017).

A próxima tabela assinala dados, referentes ao ano de 2011, sobre a expectativa de vida ao nascer,
expectativa de anos de estudo, bem como a média de anos de estudo e renda per capita, de acordo com
as estatísticas do PNUD.

Tabela 14

Números do governo brasileiro


Expectativa de vida ao nascer (anos) 74,7
Expectativa de anos de estudo 15,2
Média de anos de estudo 7,8
Renda per capita (2011 PPP$) US$ 14.145
IDH 0,754

Adaptado de: PNUD (2017).

O Brasil entra, na década de 2010, em forte queda no índice de IDH, o que faz interromper a evolução
conquistada no período anterior.

Os gráficos a seguir relacionam renda per capita e IDH, no Brasil, para período selecionado. É possível
perceber forte correlação entre crescimento de renda e elevação do IDH.
15.000
0,739 0,744
14.000
13.000
12.000
11.000
10.000
0,545
9.000
8.000
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013

Figura 19 – Renda bruta per capita (2011), em R$

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Unidade III

0,800
0,739 0,744
0,800
0,800
0,800
0,800
0,800
0,545
0,800
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013

Figura 20 – IDH

5.5.2.2 Curva de Lorenz

A Curva de Lorenz, representada a seguir, forma-se pela união dos pontos bidimensionais obtidos
pelos eixos X e Y: no eixo X temos a proporção acumulada da população; no eixo Y, a proporção
acumulada da renda apropriada (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2015).
100% B
90%
80%
70%
60%
y 50%
40% α
30%
20% β
10%
0% C
A 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
x

Figura 21 – Curva de Lorenz

Se a distribuição for perfeita, teremos a curva na forma de uma reta de 45º: por exemplo, 20% da
população se apropriarão de 20% da renda. Assim, quanto maior for a “barriga” (a área representada
por α), mais desigual será a distribuição de renda. No gráfico, por exemplo, aproximadamente 50% da
população se apropriam de 20% da renda.

5.5.2.3 Índice de Gini

De acordo com o PNUD, o Índice de Gini:

Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos


segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de 0, quando não
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ECONOMIA E MERCADO

há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1,


quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda
da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula) (O ATLAS, 2013).

Assim, o índice é uma medida que objetiva “corrigir” os valores médios obtidos por meio do quociente
entre produto e população. Ele não representa o “tamanho médio da fatia do bolo”, mas o quão justa é
a divisão do bolo.

Agora voltemos ao gráfico da Curva de Lorenz. Geometricamente, o Índice de Gini é obtido pelo
quociente entre α e a soma entre α e ß, da seguinte forma:

G = α / (α + ß)

Se a desigualdade é zero, quer dizer, se a distribuição de renda é perfeita, α é igual a zero; portanto,
G = 0. Se, hipoteticamente, um único indivíduo se apropriar de toda a renda, ß tenderá a zero e G
tenderá a 1. Quanto maior a “barriga” representada por α, maior será o valor de G.

5.6 O papel do Estado na atividade econômica

É fato que os governos existem na vida das pessoas, gostemos ou não. Independentemente da posição
política adotada por um governante, ele poderá alegrar a sociedade de um país ou desagradá-la por
completo. Tal fato deve-se claramente ao tipo de atitude política escolhida, que, para efeito deste estudo,
devemos considerar as opções pela política econômica adotada em determinado tempo. Uma política
econômica mais desenvolvimentista tende a agradar boa parte da população, sobretudo empresários,
para quem novas oportunidade de investimentos são avistadas, inclusive favorecendo camadas das
classes mais baixas da população com novas oportunidade de emprego. Por outro lado, uma política
econômica mais austera, aquela em que a opção governamental é por uma política contracionista, não
é de todo agradável quando se espera crescimento de renda no curto prazo e elevação dos empregos
e gastos públicos. O fato é que a opção pela política econômica dá-se de acordo com as circunstâncias
que se apresentam ao governante ou simplesmente permeia sua formação e opção política.

5.6.1 Falhas de mercado

Deixando de lado questões normativas das políticas públicas, bem como da presença do Estado
nas economias modernas, o fato é que devemos considerar elementos racionais que fundamentam
a presença dos governos nas sociedades e sua intervenção por planejamento ou não. Nesse sentido,
Giambiagi e Além (2008) chamam a atenção para a existência de falhas de mercado que impedem a
situação de Ótimo de Pareto.

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Unidade III

Saiba mais

O Ótimo de Pareto, proposição devida ao engenheiro e economista


franco-italiano Vilfredo Federico Damaso Pareto, versa que, em
determinada situação em que se encontrem dois agentes, para que um
ganhe, necessariamente, outro deve perder. Leia mais em:

A LEI da Eficiência de Pareto. Econometrix, Fortaleza, 20 jan. 2011.


Disponível em: <http://www.econometrix.om.br/pdf/ed1644f6016bdf71a1e
7509acaead9bad8ec6670.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2018.

Giambiagi e Além (2008) acentuam que as falhas de mercado são: existência de bens públicos, de
monopólios naturais, externalidades, mercados incompletos, falhas de informação e, por último, mas
não menos importante, a ocorrência de desemprego e inflação.

Riani (2012, p. 12-13) sumariza a questão da seguinte forma:

No mundo real existem quatro características principais que dificultariam,


ou até mesmo impossibilitariam a obtenção ótima através do setor privado.
Assim, o governo emerge como um elemento capaz de intervir na alocação
de recursos, que atua paralelamente ao setor privado, procurando estabelecer
a produção ótima dos bens e serviços que satisfaçam às necessidades da
sociedade. As quatro características que podem ser consideradas como falhas
de mecanismos de mercado em atender às necessidades da sociedade são:
indivisibilidade do produto; externalidades; custo de produção decrescente
e mercados imperfeitos; riscos e incertezas na oferta dos bens.

Com base nas pesquisas de Giambiagi e Além (2008), e de Riani (2012), estudaremos
pormenorizadamente a importância de cada uma das falhas de mercado que exigem a interferência do
governo nos mercados.

5.6.1.1 Existência de bens públicos

Os bens públicos são aqueles cujo consumo e uso são indivisíveis, ou, ainda, não rivais. Significa que
o consumo do bem por parte de um indivíduo não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais
integrantes da sociedade. Parte-se do seguinte princípio: existindo o bem público, todos se beneficiam
de sua existência, independentemente se uns mais e outros menos. Outra característica importante do
bem público é a da não exclusão no consumo. Para poder exemplificar, pense no caso de uma cidade
onde as ruas ainda não estejam todas pavimentadas, algumas são de terra e outras de asfalto. O governo
dessa cidade decide asfaltar todas as ruas ainda sem asfalto. Assim, todas as pessoas (moradoras ou não)
que utilizam a rua serão beneficiadas.

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ECONOMIA E MERCADO

Pois bem, as ruas estão asfaltadas e a população usufruirá desse investimento público, mas como
custear esse investimento entre a população? Quem deverá pagar mais ou menos pelo uso das ruas
asfaltadas? Somente as pessoas que residem naquela rua? Contando a quantidade de vezes que um
indivíduo e seu automóvel utilizam a rua em um determinado período? A nós parece difícil poder ratear
o custo desse bem entre os beneficiados.

Os bens indivisíveis são aqueles cujos benefícios não podem ser


individualizados, tornando ineficaz o estabelecimento dos preços via sistema
de mercado [...]. A não exclusividade deve-se ao fato de que, como esses
bens não seriam vendidos através do sistema de mercado, via preços, a eles
não se aplica o direito de propriedade (RIANI, 2012, p. 13).

Em uma oferta pública como essa, Riani (2012) destaca que, se levarmos em conta a viabilidade
econômica do projeto, a pavimentação de uma cidade não faz sentido em termos de investimentos privados,
mas apenas nos públicos. É notório que todo investimento, seja público ou privado, almeja algum tipo de
retorno. Se pensarmos na iniciativa privada, o retorno do investimento se dá na forma de lucros, que serão
acumulados incialmente para depois serem reinvestidos ou alocados para alguma outra atividade, também
na forma de investimentos. Quanto aos investimentos públicos, estes também são efetuados visando
retorno no futuro, só que não necessariamente na forma de lucros monetários que serão acumulados. O
retorno desejado é o social: a melhoria das condições sociais – de diferentes fontes e formas.

Giambiagi e Além (2008) reforçam ser

[...] justamente o princípio da não exclusão no consumo dos bens públicos que
torna a solução de mercado, em geral, ineficiente para garantir a produção
da quantidade adequada de bens públicos requerida pela sociedade. É por
esta razão que a responsabilidade pela provisão de bens públicos recai
sobre o governo, que financia a produção desses bens através da cobrança
compulsória de impostos.

Observação

Imagina-se que a pavimentação de nosso exemplo seja efetuada por


uma empresa privada especializada nesse tipo de serviço. Na maior parte
das vezes, é assim mesmo que ocorre. Contudo, quem contrata tal empresa
privada é o próprio governo e, portanto, é ele quem financia a obra. Ou seja,
o gasto é público.

5.6.1.2 Existência de monopólios naturais

O mercado de monopólio apresenta condições diametralmente opostas às da concorrência perfeita.


Nele, existe, de um lado, um único empresário dominando inteiramente a oferta e, de outro, todos
os consumidores. Não há concorrência nem produto substituto. Nesse caso, ou os consumidores se
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Unidade III

submetem às condições impostas pelo vendedor, ou simplesmente deixarão de consumir o bem ou o


serviço. O fornecimento de energia elétrica nas cidades é um exemplo de empresa em monopólio.

Figura 22 – O setor de energia elétrica representa monopólio

Para existir monopólio, deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado.
Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo uma delas o monopólio puro ou natural. Este
caso ocorre quando o mercado, por suas próprias características, exige a instalação de grandes plantas
industriais, que em geral operam com economias de escala e ínfimos custos unitários, possibilitando à
empresa cobrar preços baixos por bem ou serviço, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de
novos concorrentes.

Podemos elencar ainda como barreiras:

• elevado volume de capital requerido para montar uma indústria monopolista;

• marcas e patentes;

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ECONOMIA E MERCADO

• controle de matéria-prima específica;

• instituições.

A legislação brasileira proíbe a existência de monopólio, permitido-o apenas para os segmentos


de mercado que, para ter perfeito funcionamento, devem ser únicos. São os chamados monopólios
institucionais ou estatais, considerados estratégicos ou de segurança nacional, como a energia elétrica
e o petróleo.

No Brasil, com a privatização dos serviços de utilidade pública –


Telecomunicações e Energia Elétrica –, o governo criou a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
com o intuito de regular as atividades desses setores, por natureza pouco
competitivos e que prestam um serviço essencial à população. Também com
a função de regular o mercado, há diversos órgãos do governo, como o Cade
e a Secretaria de Direito Econômico (REZENDE, 2012, p. 29).

5.6.1.3 Externalidades

As externalidades implicam custos e benefícios sociais diferentes dos privados. Enquanto os custos e
benefícios privados são medidos em termos de preço – quanto custou para fabricar; quanto custou para
adquirir –, os custos e benefícios sociais são diferentes. Por qual motivo? Porque estamos tratando de um
assunto que analisa os impactos causados em um agente alheio àquele tomador da decisão individual.
Exemplifiquemos: pense em um empreendedor que abra uma casa noturna na rua onde você reside. A
legislação permite casas comerciais no local, mas o empreendedor montou uma em que o som ao vivo seja o
chamariz da freguesia. O volume e a qualidade do som – da música – pode agradar quem frequenta o local
por uma questão de diversão. Todavia, pode aborrecê-lo por diversos motivos: você não aprecia a música que
é tocada ali, o volume do som incomoda, há maior quantidade de carros estacionados na rua, impedindo que
algum parente que venha visitá-lo deixe seu automóvel em frente ao portão de sua casa etc.

Pois bem, elencamos aqui efeitos negativos causados pela nova casa noturna. A isso chamamos de
externalidade negativa. Ela ocorre quando algum agente toma determinada decisão que lhe favorece –
no caso o empreendedor – e que retire bem-estar de outro agente – no caso, você.

Por outro lado, há as externalidades positivas. Pense que seu vizinho de frente contrate um segurança
particular e instale uma guarita à frente da casa dele. Esse agente particular cuidará da vigilância da casa
de quem o contratou, o que, por consequência, trará mais segurança aos demais moradores daquela
rua. Caso esse agente perceba algo de diferente na rua, tratará de avisar aos demais moradores do local.
Vemos aqui a ocorrência de externalidade positiva. Para Giambiagi e Além (2008, p. 7),

[...] a existência de externalidade justifica a intervenção do Estado, que


pode ser através: a) da produção direta ou da concessão de subsídios, para
gerar externalidades positivas; b) de multas ou impostos, para desestimular
externalidades negativas; e c) da regulamentação.
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Unidade III

Saiba mais

Flávio Riani expande a discussão das externalidades, explicando os


efeitos da produção sobre o consumo, efeitos da produção sobre a produção,
bem como os efeitos externos do consumo. As análises com gráficos que o
autor efetua são bem ilustrativas.

RIANI, F. Economia do setor público: uma abordagem introdutória. 5.


ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

5.6.1.4 Mercados incompletos

Uma das principais características dos mercados incompletos é aquela em que o setor privado não
esteja totalmente à vontade quanto à oferta de um bem ou serviço. O que o faz não estar totalmente à
vontade? Segurança quanto ao futuro e quanto ao retorno do investimento que foi efetuado. É o que
Riani (2012) chama de riscos e incertezas na oferta dos bens.

A falta de conhecimento perfeito – por parte dos vendedores e dos


compradores – relacionado com os riscos de mercado, a falta de perfeita
mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros
por parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos,
particularmente os recursos naturais, são características do mundo real
que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos
requeridos para se atingir a produção ótima de todos os bens econômicos
necessários e desejados pela sociedade (RIANI, 2012, p. 19).

Existem determinadas atividades que são indispensáveis ao desenvolvimento do país ou ao


bem-estar da sociedade, mas que, pelas razões apresentadas, não seriam oferecidas no mercado se
não houvesse a intervenção do governo.

Nesse aspecto, Giambiagi e Além (2008) citam o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) como principal órgão brasileiro de financiamento de longo prazo para investimentos
em todos os segmentos da economia. Vários investimentos produtivos, seja na agricultura, seja na
indústria ou no comércio, para todo tamanho de empresa, podem requerer elevado volume de recursos
nos investimentos iniciais, e muitas vezes a iniciativa privada – os bancos privados – ficam receosos em
efetuar os empréstimos, pois não sabem se o tomador terá condições ou não de honrar com a devolução
dos recursos tomados. Dessa forma, procurando mitigar o risco de uma possível inadimplência, os
bancos privados elevam as taxas de juros de empréstimos, dificultando os investimentos privados. É
nesse âmbito que o BNDES entra como empresa pública federal: oferecendo empréstimos por vezes
subsidiados pelo governo, fomentando os investimentos produtivos e ativando a economia.

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ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Conheça mais sobre o BNDES em:

<http://www.bndes.gov.br>.

A falta de conhecimento perfeito por parte dos vendedores e dos compradores sobre os riscos do
mercado, a falta da perfeita mobilidade dos recursos, a incerteza quanto à maximização dos lucros por
parte das firmas e a escassez de determinados recursos produtivos, particularmente os naturais, são
características do mundo real que mostram a inviabilidade do atendimento de alguns dos pressupostos
requeridos para atingir a produção ótima de todos os bens econômicos necessários e desejados pela
sociedade. Nisso reside outra falha de mercado, a falha de informação.

5.6.1.5 Falhas de informação

Nos casos de falhas de informação, a intervenção do Estado justifica-se em razão de o mercado por
si só não fornecer dados suficientes para que os consumidores tomem suas decisões racionalmente.
Como exemplo, considere o mercado de automóveis usados. Pense na seguinte situação: você está
interessado em adquirir um carro usado e encontra no jornal um anúncio exatamente do veículo
que procura. Liga para o anunciante para verificar preços, condições do automóvel, quilometragem
percorrida e coisas do tipo. Quem dos dois agentes tem mais informações sobre o carro? Você ou a
pessoa que pretende vendê-lo? Será que o vendedor lhe oferecerá todos os dados necessários, e reais,
para que você tome a decisão pela compra ou não? Caso o automóvel tenha ficado imerso em alguma
enchente, o vendedor vai contar ou omitir a questão? Estamos chamando a atenção para o fato de
que em determinados mercados alguns têm mais informações do que outros. Fernando Rezende (2012)
chama isso de assimetria de informações.

Para esses casos, o modo de atuação do Estado pode ser mediante a introdução de uma legislação
que induza a uma maior transparência, com maior proteção tanto para vendedores quanto para
consumidores, e o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é um bom exemplo.

5.6.1.6 Desemprego e inflação

O desemprego e a inflação, apesar de serem fenômenos completamente diferentes, sendo o primeiro


considerado pela economia uma variável do mercado real e o segundo uma variável nominal proveniente
do mercado monetário, caminham em conjunto. Comecemos, então, pela inflação.

O que vem a ser inflação? Caracteriza-se pelo generalizado e persistente crescimento nos níveis
de preços, ou seja, ocorre inflação em um período em que um elevado volume de mercadorias têm
seus preços majorados sequencialmente, de forma que dia a dia, mês a mês, os preços sobem sem
que, necessariamente, seus custos de produção tenham sofrido elevação. Assim, quando há inflação,
é preciso haver maior quantidade de moeda para adquirir os mesmos produtos. Resultado: perda do
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Unidade III

poder aquisitivo da moeda, o que pode causar sérios distúrbios à economia e à sociedade de modo geral
(SILVA; LUIZ, 2010).

Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas principais funções,
que é a de preservar valor ao longo do tempo. Em períodos de inflação elevada, como viveu a sociedade
brasileira em boa parte dos anos 1970 e 1980, a moeda perde seu valor assim que é recebida!

Suponha o seguinte: uma pessoa recebe hoje seu salário (R$ 1.500,00) e o índice de inflação no mês
corrente, medido pelos mais diversos índices disponíveis, esteja em torno de 40% ao mês. Se essa pessoa
deixar guardado esse dinheiro, digamos, no bolso de algum paletó no armário e for usar tal recurso
daqui a 30 dias, os R$ 1.500,00 representarão poder de compra de R$ 900,00. Receber um valor, dentro
de um período inflacionário e não utilizá-lo o mais rápido possível faz com que haja a perda de seu valor.
Em nosso exemplo hipotético, perda de R$ 600,00. Significa que os preços das mercadorias ficaram 40%
mais elevados e a quantidade de moeda disponível não será mais capaz de adquirir a mesma quantidade
de mercadoria que era obtida antes. Quem sofre? Na maior parte das vezes, e como salienta Mankiw
(2010), a população de baixa renda.

Precisamos, então, entender como é produzida a inflação, ou seja, por que existe e quais suas causas.
Basicamente, são três os tipos de inflação, sendo um deles o de demanda. Vejamos o que diz Mankiw
(2010, p. 636):

Vamos supor que observamos, ao longo de um determinado período de


tempo, o preço de um sorvete de casquinha aumentar de 5 cents para um
dólar. Que conclusão poderíamos tirar do fato de que as pessoas estão
dispostas a dar muito mais dinheiro em troca de um sorvete? É possível que
as pessoas estejam gostando mais de sorvete (talvez porque algum químico
tenha desenvolvido um novo e maravilhoso sabor). Mas, provavelmente, não
é esse o caso. O mais provável é que as pessoas continuem apreciando o
sorvete da mesma forma e que, com o passar do tempo, a moeda usada para
comprá-lo tenha se tornado menos valiosa. De fato, o primeiro entendimento
sobre a inflação é de que ela tem mais a ver com o valor da moeda do que
com o valor dos bens.

Portanto, o que determina o valor da moeda é a relação entre sua demanda e sua oferta, assim como
é definido o preço do tomate nos mais variados mercados. Se há mais tomate sendo ofertado, o preço
do tomate será relativamente baixo; caso exista pequena quantidade de tomate sendo ofertada, ou seja,
disponível à sociedade, seu preço tende a ser relativamente mais elevado.

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ECONOMIA E MERCADO

Figura 23 – Moeda e inflação

Voltando à inflação, conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada


pelo crescimento do volume de moeda disponível ao público, não necessariamente acompanhado pelo
crescimento da produção. Como para a demanda poder se concretizar é necessária a existência de moeda,
a inflação de demanda pode ser entendida como o excesso de moeda em circulação, ou seja, quando há
expansão de liquidez. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à grande quantidade de dinheiro
em circulação, influenciando o consumo por parte da população. Por seu turno, os empresários, diante a
um elevado consumo e percebendo que há grande quantidade de moeda em poder do público, elevam
os preços no afã de que a venda será certa.

Ribeiro (1990) explica que uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre em
períodos de expansão da economia, a exemplo do experimentado pelo milagre econômico brasileiro,
no qual o governo investiu fortemente na industrialização do País, elevando os níveis de produção e
superando tempos anteriores. Tais medidas diminuíram o desemprego, expandindo renda e consumo.

Outro tipo de inflação é o de oferta, ou seja, explicado ou pelas condições de oferta de produtos, ou
pelo comportamento de seus custos de produção, ou mesmo pela disponibilidade de fatores de produção
que são utilizados como bens intermediários. A inflação de oferta ocorre quando os custos de produção
aumentam, isto é, quando se paga mais para produzir determinados bens ou ofertar determinados
serviços. Assim, pode ocorrer inflação de oferta diante de:

• diminuição da oferta de um fator de produção;

• aumento nos preços dos fatores de produção;

• acréscimo nos custos da produção, derivado de elevação de tributação;

• alta dos salários pagos pelas empresas, caso sejam reajustados acima da correção monetária do
período ou por convenção coletiva e sindical;
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Unidade III

• monopolização de determinado setor, diminuindo as possibilidades de concorrência;

• demais ocorrências que representem estreita relação entre custos de produção de um bem e
seu preço.

Resumindo, para Silva e Luiz (2010, 116),

[...] a inflação de custos tem origem na oferta de bens e serviços. É causada


pela elevação dos custos de produção, repassados para o consumidor pelo
aumento do preço do produto. Um fator agravante é o controle do mercado
(monopólio ou oligopólio), que permite aos empresários obterem lucros
extraordinários pelo aumento dos preços dos seus produtos, pois não há
perigo de concorrência.

O outro tipo de inflação, a inercial, difere das outras, pois nesta há tendência à perpetuidade. Significa
que a inflação de um período é automaticamente repassada para o tempo que se segue. De que forma?
Pela indexação, que consiste em reajustar pagamentos, ou valores futuros, pela inflação do presente.
Observe o exemplo a seguir, muito bem desenvolvido por Silva e Luiz (2010, p. 116-117):

Imaginemos que o Sr. Alberto tome emprestado R$ 100.000,00 de seu amigo,


Sr. Carlos, e prometa pagar-lhe em dois meses. Nesse período, supondo
uma economia inflacionária com taxas mensais de 10%, teremos uma
inflação acumulada de 21% nos dois meses que correspondem ao prazo
do empréstimo. Pontualmente, no fim do período, o Sr. Alberto entrega ao
amigo os R$ 100.000,00 que havia tomado emprestado. Resultado, o Sr.
Carlos foi prejudicado, pois os R$ 100.000,00 que recebeu do amigo valem
menos do que os R$ 100.000,00 que ele havia emprestado dois meses antes.
Por sua vez, o Sr. Alberto saiu ganhando, pois pagou apenas R$ 100.000,00,
quando deveria ter pago, pelo menos, R$ 121.000,00. [...] Se o Sr. Alberto e o
Sr. Carlos tivessem combinado, na ocasião do empréstimo, que o montante
emprestado seria corrigido pela inflação, o Sr. Carlos receberia R$ 121.000,00
e não se sentiria lesado pelo favor que prestou ao amigo.

Por conta desses fatores, para não haver distorções entre ganhadores e perdedores, é que são
feitos contratos de trabalho e de aluguel com a proteção de preços de mercadorias e valores de outras
transações. Com o uso da indexação, evita-se a corrosão monetária.

Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado
patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza-se em um novo
patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes
por um tempo específico, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda.

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ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Para compreender melhor o processo inflacionário no Brasil, sugerimos


a leitura de alguns textos:

BRESSER-PEREIRA, L. C. Inflação inercial e Plano Cruzado. Revista de


Economia Política, São Paulo, v. 6, n. 3, jul./set. 1986. Disponível em: <http://
www.rep.org.br/pdf/23-2.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.

BRESSER-PEREIRA, L. C.; NAKANO, Y. Hiperinflação e estabilização no


Brasil: o primeiro Plano Collor. Revista de Economia Política, São Paulo, v.
11, n. 4 (44), out./dez. 1991. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/44-
6.pdf>. Acesso em: 16 mar. 2017.

Para Giambiagi e Além (2008, p. 8),

[...] o livre funcionamento do sistema de mercado não soluciona problemas


como a existência de altos níveis de desemprego e inflação. Neste caso, há
espaço para a ação do Estado no sentido de implementar políticas que visem
à manutenção do funcionamento do sistema econômico o mais próximo
possível do pleno emprego e da estabilidade de preços.

Destacamos as razões pelas quais o governo, através dos diversos instrumentos de políticas à
sua disposição, surge como alternativa para a intervenção na alocação de recursos da economia a
fim de contribuir para que a sociedade alcance o maior nível de bem-estar possível. Acentuaremos
a seguir as funções que poderão ser desenvolvidas pelo governo para corrigir ou minimizar as
falhas ocorridas no sistema de mercado, buscando atender às demandas que compõem o conjunto
de bens e serviços da sociedade. É aqui, portanto, que trataremos das finanças públicas. Conforme
Nascimento (2014, p. 79),

[...] a expressão “finanças públicas” designa os métodos, princípios e


processos financeiros por meio dos quais os governos Federal, Estadual
e Municipal desempenham suas funções. Por intermédio do orçamento
público, os governos perseguem os objetivos de satisfazer às necessidades
sociais, de induzir a uma eficiente utilização dos recursos e de corrigir
a distribuição de renda em uma sociedade. [...] As receitas e as despesas
do Estado podem ser utilizadas como instrumento para influenciar o
nível da produção nacional e do emprego, de forma a controlar o padrão
dos preços (controle da inflação), buscar o equilíbrio da balança de
pagamentos e para redirecionar as decisões de consumo e investimento
dos agentes privados.

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Unidade III

5.6.2 Funções do governo

É consenso entre Nascimento (2014), Giacomoni (2012), Giambiagi e Além (2008), Riani (2012) e
Matias-Pereira (2012) que se deve a Richard Musgrave a definição do que sejam as funções do governo.
Segundo Giacomoni (2012, p. 22),

Richard Musgrave propôs uma classificação das funções econômicas do


Estado que se tornaram clássicas no gênero. Denominadas as “funções fiscais”,
o autor as considera também como as próprias “funções do orçamento”’,
principal instrumento de ação estatal na economia. São três as funções:
a) promover ajustamentos na alocação de recursos (função alocativa); b)
promover ajustamentos na distribuição de renda (função distributiva); e c)
manter a estabilidade econômica (função estabilizadora).

5.6.2.1 Função alocativa

Designa a alocação de recursos pela atividade estatal quando não houver eficiência da iniciativa
privada ou quando a natureza da atividade indicar a necessidade da presença do Estado. A
intervenção estatal na alocação de recursos justifica-se quando o setor privado não tiver interesse
neles. É o processo pelo qual o governo divide os recursos para utilização no setor público e privado,
oferecendo bens públicos, semipúblicos e meritórios, como rodovias, segurança, educação e saúde
aos cidadãos. Dessa forma, está associada ao fornecimento de bens e serviços não oferecidos
adequadamente pelo sistema de mercado (NASCIMENTO, 2014). Nesse sentido, cabe ao governo
decidir pelo tipo e pela quantidade de bens públicos que ofertará, ou seja, a qual(is) tipo(s) de
necessidade(s) atenderá.

Conforme Riani (2012), para assegurar uma alocação mais eficiente dos recursos, o governo não
precisa produzir ou gerar diretamente o bem ou o serviço. Ele poderá fazê-lo ou induzir a oferta pelo
setor privado. Nesse aspecto, existem quatro possibilidades de atuação do governo:

• Alocação por parte do governo de recursos diretos para a produção: a oferta dos bens. Por
exemplo: a Defesa Nacional e seus serviços de segurança pública.

• Compras governamentais: o governo adquire a produção efetuada por outras empresas e repassa
os bens à sociedade. Por exemplo: medicamentos, merenda escolar e campanhas de vacinação.

• Indução do setor privado ao aumento da produção via subsídios ou incentivos


fiscais: tal medida favorece a produção e provoca queda de preços de venda, beneficiando
determinada população.

• Empresas estatais: o governo se incumbe da responsabilidade da produção de algum bem ou


serviço que não seja oferecido pela iniciativa privada.

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ECONOMIA E MERCADO

5.6.2.2 Função distributiva

Nem sempre toda a riqueza que é gerada em um país é distribuída de forma igualitária entre seus
pertencentes, o que, por vezes, cria a desigualdade social. Riani (2012, p. 22) esclarece que:

Fatores tais como oportunidade educacional, mobilidade social,


habilidade individual, mercado de trabalho, propriedades dos fatores
de produção etc. levam, dentro de uma economia de livre mercado, a
desigualdades na apropriação da renda e da riqueza gerada pelo sistema
econômico. [...] O mercado funcionando livremente, sem a interferência
do governo, não se preocupará com a concentração de renda e da
riqueza uma vez que as atividades econômicas alcancem seus objetivos,
atingindo frações segmentadas da sociedade detentoras de recursos para
suas compras. Assim, a possibilidade espontânea da desconcentração da
renda torna-se ilusória.

Diante do exposto, vê-se que cabe ao Estado promover a melhoria na distribuição da renda por
intermédio do gasto público como principal instrumento de política pública. Tal afirmação apoia-se em
Nascimento (2014, p. 80), e o autor diz que a “função distributiva refere-se à distribuição, por parte do
governo, de rendas e riquezas”. Por outro lado, Rezende (2012), bem como Giambiagi e Além (2008),
acentuam que, além dos gastos governamentais, a exemplo de transferências, a tributação progressiva,
aliada aos subsídios, auxilia no processo de distribuição do produto. Enquanto os programas de
transferência apresentam-se de forma direta quanto à redistribuição, a tributação progressiva oferece
condições de o governo arrecadar recursos das camadas mais abastadas da sociedade e utilizá-los como
forma de financiamento de programas voltados para a parcela da população de mais baixa renda. Aqui, a
forma de redistribuição seria por melhoria dos atendimentos públicos nos sistemas de saúde ou mesmo
aplicados para financiamento da construção de moradias populares.

Giacomoni (2012, p. 25) complementa que, por mais que as políticas distributivas estejam inseridas
no ambiente de correção de falhas de mercado, acabam por vezes sendo encaradas como “problemas
de política e de filosofia social”, pois cabe à sociedade avaliar o que vem a ser justiça distributiva.
Concordando que a distribuição de renda também seja uma questão de orçamento público, educação
gratuita, capacitação profissional e programas de desenvolvimento comunitário são também exemplos
de política pública com efeito distributivo.

5.6.2.3 Função estabilizadora

A função estabilizadora está estreitamente ligada ao desemprego e à inflação enquanto falhas de


mercado, pois, de forma abrangente, visa assegurar um desejável nível de emprego e estabilidade nos
preços que não são totalmente controlados pelo sistema de livre mercado. Conforme Riani (2012, p. 22),

Quando o desemprego prevalece, o governo aumenta o nível de demanda


no mercado, elevando seus gastos ou diminuindo seus tributos, recolocando
a produção no pleno emprego. Por outro lado, se há inflação, o governo
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Unidade III

pode reduzir a demanda de mercado, ajustando seus gastos e/ou a carga


tributária, o que contribui para a diminuição e controle de preços.

Do ponto de vista da política fiscal, o governo pode corrigir o desemprego – enquanto falha de
mercado pela elevação dos gastos públicos – ampliando a quantidade de dinheiro no sistema econômico,
o que incentiva a sociedade a elevar o consumo bem como as empresas a aumentarem seus níveis de
produção. Desse modo, com maior produção, as empresas passam a contratar mais pessoas, o que
expande a renda. O mesmo efeito será gerado se a opção for pelo uso da diminuição de tributação.
Todavia, com a expansão da demanda, os preços sobem, gerando inflação. Assim, paralelamente, o
governo pode utilizar demais instrumentos, a exemplo da política monetária, para manter a estabilidade
de preços.

Para Giacomoni (2012, p. 26),

[...] o orçamento público é um importante instrumento da política de


estabilização. No plano da despesa, o impacto das compras do governo
sobre a demanda agregada é expressivo, assim como o poder de gastos dos
funcionários públicos. No lado da receita, não só chama a atenção o volume,
em termos absolutos, dos ingressos públicos, como também a variação na
razão existente entre a receita orçamentária e a renda nacional, como
consequência das mudanças existentes nos componentes da renda.

Do que foi apresentado até o momento, caro aluno, é possível perceber certa relação entre as falhas
de mercado e as funções do governo. As falhas de mercado são decorrência, em parte, da liberdade que
os agentes econômicos detêm na sociedade e, em parte, pela própria existência de recursos disponíveis
nessa sociedade. Então, quando há falhas do sistema, o governo é chamado para estabelecer ordem. Pois
bem: como se dá esta ordem? Parte dela por leis, regulamentos e decretos que cerceiam a liberdade de
alguns. Por outro lado, há que se preocupar com o desenvolvimento dessa mesma sociedade no sentido
de conduzi-la para a modernidade, ao progresso e, nesse aspecto, a política pública se faz presente.

Contudo, somente é possível fazer política pública diante de alguns objetivos a serem alcançados.
De forma genérica, a literatura até aqui utilizada salienta que todos os governos, em maior ou menor
grau, têm os mesmos objetivos: crescimento e desenvolvimento econômico, manutenção do emprego
e da renda, estabilidade monetário-financeira e distribuição equitativa da renda, para citar alguns. No
entanto, para que o governo consiga atingir seus objetivos, torna-se necessário planejamento como
visão de futuro. Trata-se, portanto, de imaginar hoje como seria o amanhã, caso algumas medidas
fossem adotadas.

Nesse sentido, o planejamento governamental que se faz por política pública requer, de um lado,
recursos monetários para pôr em prática determinada ação e, de outro, as fontes de tais recursos.
Podemos claramente efetuar analogia como um indivíduo comum. Suponha que você tem um amigo
que está prestes a casar e deseja adquirir sua casa própria. Para obter o patrimônio, algumas ações
podem ser tomadas. Entre elas, a do planejamento financeiro. Vejamos o que deve ser estudado:

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ECONOMIA E MERCADO

• enquanto tempo se deseja adquirir tal patrimônio;

• valor e localidade;

• quantidade de recursos monetários disponível;

• tipo de aplicação financeira na qual esse recurso disponível está alocado e quanto ainda
falta acumular;

• se a compra será à vista ou com financiamento;

• melhor forma de financiamento – em quanto tempo e qual o valor de cada prestação.

Observação

O exemplo do financiamento de imóvel é corriqueiro, um daqueles que


permeia nossa vida em algum momento.

Agora destacaremos um exemplo de uma empresa e as tomadas de decisão que precisa efetuar.
Pense em uma empresa do setor de bebidas com queda de vendas de um de seus principais produtos:
refrigerante “Sabor gostoso”. Ao pesquisar o motivo da queda, verificou-se que uma nova marca
concorrente estava atraindo consumidores que antes eram fiéis àquela marca. Trata-se de um problema
de vendas, ou seja, falta de entrada de recursos na entidade. Se há diminuição de vendas, haverá, por
consequência, menos receita.

Diante dessa situação, a organização decide fazer uma campanha de marketing para atrair novamente
esses consumidores que perderam. Os clientes passaram a comprar o refrigerante “Sabor quase gostoso”.
Para tal, precisará efetuar investimentos, dispor de algum recurso monetário que está na empresa ou
fazer um empréstimo. Deverá saber a quantidade exata de recursos que poderá aplicar na campanha
de marketing, pois tem a obrigação de manter o departamento financeiro, o RH, manter os gastos fixos
de produção etc. Estamos chamando atenção para o fato de que uma nova fonte de gasto deverá fazer
parte do orçamento da empresa. Por qual motivo? A organização gastará certa quantia monetária com
a campanha de marketing esperando retorno de tal investimento. Independentemente de o retorno ser
o esperado, o fato é que o dinheiro saiu de algum lugar, e é vital saber que fonte financiará essa saída
monetária. Portanto, planejamento financeiro e orçamento são extremamente necessários.

Lembrete

Objetivos do governo: crescimento e desenvolvimento econômico,


manutenção do emprego e da renda, estabilidade monetário-financeira e
distribuição equitativa da renda.

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Unidade III

5.6.3 Políticas macroeconômicas e seus instrumentos

A lista de objetivos governamentais parece pequena. Contudo, se avaliada com mais cuidado, vê-se
grande infinidade de ações a serem tomadas para cada um dos objetivos serem alcançados. Vamos
tomar como exemplo o caso do Brasil, sua extensão territorial, as necessidades prementes e específicas
de cada região. Cada governo, com sua política, sua ideologia, suas crenças e, por vezes, interesses, pode
privilegiar determinada sociedade instalada em uma região que receberá recursos de política pública em
detrimento de outra. Todavia, não se pode generalizar para o caso brasileiro. O fato é que os governos
devem adotar critérios racionais no desenho de suas políticas públicas, privilegiando a técnica como
decisão estratégica no estabelecimento das prioridades sociais.

5.6.3.1 Política monetária

Com o conteúdo abordado até então, temos condições de tratar das questões associadas à política
monetária. Entende-se por política monetária toda ação tomada pelo Banco Central com relação
ao padrão monetário de um país. O Banco Central, autoridade monetária em qualquer país, além de
atividades rotineiras, tem a função de preservar o valor da moeda ao longo do tempo. É responsável pelo
controle direto da liquidez no sistema econômico de determinado país. Para o Banco Central exercer
suas funções, pode adotar alguns instrumentos de política monetária. São eles:

• emissão de moeda;

• administração da taxa de juros;

• coeficiente de recolhimento compulsório;

• operação de redesconto;

• operação de open market;

• seleção do crédito.

Entre as principais atribuições de competência do Banco Central do Brasil no Sistema Monetário e


Financeiro Nacional, podemos destacar:

• Fiscalizar as instituições financeiras, aplicando, quando necessário, as penalidades previstas


em lei. Essas penalidades podem ser desde uma simples advertência aos administradores até a
intervenção para saneamento ou liquidação extrajudicial da instituição.

• Conceder autorização às instituições financeiras, no que se refere ao funcionamento, instalação


ou transferências de suas sedes, e aos pedidos de fusão e incorporação.

• Executar a emissão de moeda e controlar a liquidez do mercado, bem como efetuar as operações
de compra e venda de títulos públicos e federais.
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ECONOMIA E MERCADO

Vamos explicar as características de cada um dos instrumentos de política monetária.

A emissão monetária é a forma primária de controle monetário por parte do governo, pois expande
e contrai o volume de moeda disponível na economia de acordo com seus objetivos. Assim, é possível
controlar a liquidez da economia e, por consequência, o multiplicador bancário – capacidade dos bancos
comerciais expandirem meios de pagamento – também é controlado.

Entende-se por recolhimento compulsório a reserva legal determinada pelo Banco Central. Trata-se
da parcela dos depósitos à vista e a prazo que os bancos devem manter em caixa ou junto ao Banco
Central. Para que você entenda melhor: os bancos comerciais são obrigados por lei a repassar ao Banco
Central certa quantidade dos depósitos à vista que a coletividade efetua. Então, o Banco Central regula
a liberdade de os bancos comerciais negociarem todo o volume de dinheiro que têm à sua disposição e
exercita a sua função de banqueiro dos bancos e salvaguarda os direitos dos correntistas (JUDENSNAIDER;
MANZALLI, 2011).

Da mesma forma que os bancos comerciais estão obrigados a repassar parte de seus saldos monetários
captados por meio dos depósitos à vista, podem, quando necessário e atendendo a certas exigências,
solicitar auxílio ao Banco Central. Para tanto, utilizam-se da operação de redesconto.

Com esse instrumento de política monetária, o Banco Central tem o objetivo de auxiliar
instituições financeiras em dificuldades monetárias. Ele é acionado por bancos comerciais que já
recorreram ao mercado interbancário na tentativa de cobrir seus saldos deficitários e não obtiveram
sucesso por motivo justificado. Portanto, a última opção seria pedir ajuda, ou cobertura monetária,
junto ao Banco Central.

Nesse aspecto, o Banco Central desempenha outro papel, que é o de ser emprestador de última
instância. Motivo: quando um banco comercial recorre a ele para cobrir possível déficit de caixa, faz
com que o Banco Central intensifique sua fiscalização naquele banco. O Banco Central emprestará os
recursos necessários, mas a taxas de juros punitivas.

Outro instrumento de política monetária é a operação de open market, ou, se preferir, operação de
mercado aberto. É com ele que o Banco Central efetua leilões de venda e compra de títulos públicos para
arrecadar recursos com a sociedade, para efetuar gastos ou simplesmente diminuir liquidez, ou para
recomprar os títulos vendidos anteriormente.

Se admitirmos um open market de venda, significa que o Banco Central está vendendo títulos
públicos, colocando-os à disposição para a aplicação por parte da sociedade e, dessa forma, retirando
moeda de circulação. Esse é um exemplo de política monetária contracionista. De outra maneira, será
expansionista quando for utilizado um open market de compra. Assim, o Banco Central devolve os
recursos tomados emprestados.

No Brasil atual, o principal instrumento de política monetária utilizado é a administração da taxa


de juros. Podemos entender por juros o custo da moeda, do dinheiro. Agentes superavitários de moeda,
que têm poupança ou qualquer outra aplicação financeira, recebem juros por deixar seu dinheiro à
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Unidade III

disposição para uso de outrem. De forma contrária, agentes deficitários de moeda pagam juros quando
necessitam de recursos que são de outra pessoa.

O juro é uma variável vital na economia e, por essa razão, um dos mais importantes instrumentos de
política monetária. São trabalhados como taxa, taxa de juros, e toda vez que essa taxa sobe, investimentos
industriais produtivos são freados, desencorajados. Por que isso ocorre? Um empresário que toma junto
a um banco certa quantia de dinheiro para investir na produção deve levar em consideração o quanto
pagará pela tomada de empréstimo e o quanto receberá de lucro pelo investimento produtivo efetuado.
Assim, dada uma taxa de juros mais elevada em um tempo qualquer, o custo do dinheiro também fica
mais elevado. O mesmo ocorrerá com o custo do crédito. Diante de uma taxa de juros mais elevada,
o crédito ao consumidor sobe, pois as sociedades de crédito cobrarão um preço mais elevado pelo
montante de dinheiro que emprestarão. Resultado: subtração dos investimentos na produção, conforme
o caso do nosso empresário, e também diminuição do consumo por parte de nosso cidadão tomador de
crédito. Quando os empresários não investem na produção e os consumidores não adquirem produtos,
temos a queda da produção de mercadorias, do emprego e da geração de renda. A economia entra,
então, em um processo recessivo, contracionista (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Saiba mais

Você pode obter mais informações acerca do uso da política monetária


no site do Banco Central do Brasil:

<www.bcb.gov.br>.

Observação

Nas atas de reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), você


poderá perceber de que forma a política monetária está sendo conduzida
no Brasil.

5.6.3.2 Política fiscal

A política fiscal compreende ações do governo relacionadas ao seu orçamento, o orçamento do setor
público. Ela definirá quanto o governo irá arrecadar e quanto poderá gastar. O Estado adquire receita via
impostos, tributos e taxas, pagas pelo contribuinte, no intuito de manter a ordem e os serviços providos
pelo governo.

A arrecadação governamental, chamada de receita do governo, é feita via produção, circulação e


consumo de mercadoria, além de movimentações financeiras, renda, entre outros. Para Judensnaider e
Manzalli (2011), entre os principais geradores de renda do governo, temos:

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ECONOMIA E MERCADO

• Receitas provenientes da produção e circulação de mercadorias:

— Circulação de mercadorias: ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços).

— Produção industrial: IPI (imposto sobre produtos industrializados).

• Receitas provenientes da geração e apropriação da renda:

— Geração de renda: IR (imposto de renda).

• Receitas provenientes da propriedade, da acumulação de capital e das relações internacionais:

— Sobre a propriedade: IPTU (imposto predial e territorial urbano).

— Sobre herança: IH (imposto sobre herança).

— Sobre operações financeiras: IOF (imposto sobre operações financeiras).

— Sobre relações internacionais: II (imposto sobre importações).

O governo realiza gastos no intuito de suprir as necessidades da população não preenchidas pela
iniciativa privada. Entre esses gastos, estão:

• máquina do governo: manutenção dos serviços básicos e administrativos;

• investimentos: construção de escolas, hospitais, rodovias etc.;

• transferência de renda: programas que visam auxiliar a população de baixa renda.

Uma política fiscal será expansionista quando o governo aumenta seus gastos ou mesmo quando
diminui a carga tributária sobre a sociedade. Ou seja, quando repassa maior volume de recursos
monetários para a sociedade por meio de seus gastos ou quando deixa a sociedade com maior volume
de dinheiro, diminuindo sua arrecadação.

Quando o governo adota uma política fiscal expansionista, alguns efeitos na economia são gerados:

• descontrole das contas públicas, pois os gastos podem ser, em algum momento, superiores às
receitas e, dessa forma, o governo não consegue formar poupança;

• aumento da inflação, uma vez que haverá maior volume de dinheiro em circulação, elevando o
consumo e os preços dos produtos;

• redução na credibilidade externa, por conta do descontrole orçamentário;

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Unidade III

• retração dos investimentos empresariais, pois o governo assume a liderança de aumentar a


demanda agregada via gastos governamentais e produção;

• redução do desemprego, por ativar a atividade econômica (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

E no caso de uma política fiscal contracionista? As consequências, dentre outras, serão:

• equilíbrio nas contas do governo – superávit orçamentário;

• aumento da credibilidade no exterior, devido à austeridade;

• elevação dos níveis de investimento estrangeiros, pois o país transmite maior segurança
administrativa;

• diminuição das transferências governamentais com relação à sociedade.

O governo necessita da política fiscal para prover a sociedade de bens públicos. Os bens públicos
são aqueles cujo uso é indivisível. Em outras palavras, o seu consumo por parte de um indivíduo ou de
um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Ou
seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos, mesmo que, eventualmente, alguns mais do
que outros. As ruas e a iluminação pública são exemplos de bens públicos – bens tangíveis; como bens
intangíveis, temos a Justiça, a Segurança Pública e a Defesa Nacional.

Ademais, para poder arcar com as funções alocativa, distributiva e estabilizadora, o governo precisa
gerar recursos. Como vimos, entre as diversas fontes de receita, a principal é a arrecadação tributária. A
fim de aproximar um sistema tributário do “ideal”, é importante que alguns aspectos sejam observados.

Um dos princípios da tributação, chamado princípio dos benefícios, diz que as pessoas deveriam
pagar os impostos com base nos benefícios que recebem dos serviços do governo. Esse princípio tenta
tornar os bens públicos semelhantes aos bens privados, para chegar, por aproximação, ao valor dos bens
para o agente que o adquire.

Por sua vez, o princípio da capacidade de pagamento versa que os impostos deveriam ser cobrados
de acordo com a possibilidade que o agente tem de suportar o imposto. Tal princípio leva a duas noções
de equidade: a equidade horizontal, preceituando que contribuintes com capacidades de pagamento
similares devem pagar a mesma quantia; e a equidade vertical, afirmando que contribuintes com maior
capacidade de pagar impostos devem pagar mais impostos. Certamente, a equidade vertical atenderia
ao princípio da progressividade.

Outro princípio, o da neutralidade, requer que o sistema tributário não provoque uma distorção da
alocação de recursos, e que, dessa forma, não prejudique a eficiência do sistema.

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ECONOMIA E MERCADO

O sistema tributário brasileiro está longe de representar um Ótimo de Pareto, ou seja, está longe
da eficiência administrativa e da justiça social. Devido à multiplicidade de impostos e alíquotas e à
incidência sobre insumos, o efeito final do sistema brasileiro de impostos indiretos sobre os preços
também não é muito transparente. No tocante à tributação direta e indireta, algumas considerações
devem ser feitas:

• Impostos indiretos: são aqueles cobrados de produtores com relação à produção, venda, compra
ou uso de bens e serviços. Frequentemente, impostos indiretos são arrecadados em vários estágios
do processo de produção e venda, e seus efeitos sobre os preços pagos pelo consumidor final na
cadeia de transações não são claros. O efeito final sobre os preços, diante da tributação indireta,
depende não apenas da medida em que os impostos são transferidos em cada estágio de produção,
mas também da estrutura precisa das transações interindustriais.

• Impostos diretos: a exemplo do imposto sobre o patrimônio, podem ser cobrados regularmente
em razão do simples ato de posse dos ativos durante um determinado período. É o caso do IPTU
(imposto predial territorial urbano) e do IPVA (imposto sobre propriedade de veículos automotores),
que atendem ao princípio da equidade e da progressividade.

Os impostos diretos incidem sobre o indivíduo, mas nem sempre estão associados à capacidade de
pagamento de cada contribuinte. O imposto de renda pessoa física é o imposto pessoal por excelência
e, assim, é aquele que se adapta aos princípios da equidade e progressividade, à medida que permite,
de fato, uma discriminação entre os contribuintes no que diz respeito à sua capacidade de pagamento
(JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Do lado das empresas, o imposto de renda pessoa jurídica incide sobre o lucro e apresenta um
problema: ele pode contrariar os princípios da equidade e da progressividade, tendo em vista que não
se pode ter certeza de que o ônus do imposto sobre o lucro recaia integralmente sobre o produtor. Em
outras palavras, a empresa pode reagir à cobrança do imposto sobre os lucros repassando-o, pelo menos
em parte, para os preços finais de seus produtos, onerando, assim, os consumidores.

5.6.3.3 Política cambial

É a política responsável pelo fluxo de moeda internacional no país. O controle da quantidade de


moeda estrangeira é feito pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio é a relação existente entre duas
moedas de diferentes países, e ela pode ser valorizada ou desvalorizada. Quando a moeda nacional está
mais cara que a estrangeira, dizemos que a taxa de câmbio está valorizada. Por exemplo, com R$ 1,00 se
adquire US$ 1,20. Veja: com uma unidade da moeda nacional, é possível obter mais que uma unidade
da moeda estrangeira. No caso de a moeda nacional ser mais barata que a estrangeira, percebe-se um
câmbio desvalorizado. Assim, para adquirir US$ 1,00, é necessária uma quantidade maior de reais; no
caso, R$ 1,20. A política cambial tem sido vital para a manutenção do nível de emprego no país, em
especial para os setores exportadores, que, com uma taxa de câmbio desvalorizada, têm maior incentivo
para vender produtos ao exterior.

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Unidade III

Figura 24 – Dólar como moeda estrangeira e divisa internacional

Portanto, a taxa de câmbio reflete as necessidades de unidades monetárias nacionais para adquirir
uma unidade monetária de uma moeda estrangeira. É no mercado cambial que são fixadas as taxas de
câmbio, variável nominal, sob diferentes regimes cambiais: câmbio fixo, câmbio flutuante, dirty floating
ou ainda o currency board. Em um regime cambial fixo, a taxa de câmbio é administrada pelo Banco
Central, que define o valor do câmbio para um período específico. Já no câmbio flutuante, ou flexível, a
taxa de câmbio é determinada pelo mercado, ou seja, pelas interações entre demanda e oferta de divisas
internacionais (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Admite-se por dirty floating câmbio com flutuação suja. O que isso quer dizer? Significa que o Banco
Central de um país pode, mesmo em um câmbio flutuante, exercer pressão sobre a taxa de câmbio, ou
seja, pode fazê-la flutuar até que seja fixada em uma meta estabelecida. Exemplo: suponha um país
onde o regime cambial seja flutuante, e que as interações entre demandantes e ofertantes de divisas
internacionais tenha conduzido a taxa de câmbio para um nível que somente favorece o importador
de mercadorias. Assim, se o volume de importações de mercadorias de um país aumenta, menor será a
produção interna dele e, portanto, pode ter elevada sua taxa de desemprego. Diante de tal preocupação,
o Banco Central pode interferir no mercado cambial e, por meio de compra e/ou venda de divisas
internacionais, fazer flutuar a taxa de câmbio até um ponto em que sejam favorecidas as exportações.

Por sua vez, o currency board é um regime cambial em que um país adota como moeda corrente
a moeda estrangeira, na qual está ancorada, quando atravessa ou adota políticas de estabilização
monetária para controlar a inflação. Há ainda que acrescentar outra diferença: a disparidade entre a
taxa de câmbio real e a taxa de câmbio nominal, que reside na divergência de inflação entre os países e
entre uma e outra.

5.6.3.4 Política de rendas

A política de rendas é um tipo de política utilizada pelo governo que procura melhorar a distribuição
da renda e a justiça social. Ela atua diretamente sobre os fatores de produção e tenta reduzir os conflitos
entre o capital e o trabalho. Melhorias nas condições de salários e trabalho, encargos trabalhistas
mais justos, distribuição de resultados por parte das empresas aos seus funcionários são alguns de
seus objetivos, assim como a proposta de um sistema de preços mínimos garantidores de consumo à
população de baixa renda.
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ECONOMIA E MERCADO

No caso da economia brasileira, podemos citar como exemplo de política de rendas os


seguintes programas:

• política de preços mínimos;


• política salarial;
• programas de renda mínima;
• Bolsa Família.

Saiba mais

Saiba mais sobre o programa Bolsa Família:

BRASIL. Bolsa Família, Caixa Econômica Federal, [s.d.]. Disponível em:


<http://www.caixa.gov.br/voce/Social/Transferencia/bolsa_familia/index.
asp>. Acesso em: 8 jan. 2018.

6 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA ECONOMIA MONETÁRIA

Inicialmente, vamos refletir sobre o que vem a ser moeda. A moeda é um artigo utilizado para efetuar
trocas. Dá-se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo designa moedas
metálicas e papel-moeda as cédulas que usamos no dia a dia.

Vamos pensar um pouco. A moeda tem valor? Você, por acaso, já encontrou alguém nas ruas de sua
cidade vendendo moedas, vendendo dinheiro? Possivelmente não. Por qual motivo? Antes da resposta,
reflita mais um pouco. Qual o valor de uma cédula, nota, de R$ 20,00? Quanto vale uma nota de R$ 100,00?
Qual o valor de uma moeda metálica de R$ 1,00? Parece estranho dizer, mas, nas economias modernas, as
notas e as moedas não têm nenhum valor, elas representam valor! Representar valor significa ter poder
aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 possui um poder de compra de cinquenta unidades monetárias. Uma
cédula de R$ 10,00 tem um poder de compra de dez unidades monetárias e assim por diante. Esse deve ser
o motivo pelo qual não encontramos pessoas nas ruas vendendo moedas, pois ninguém aceitaria vender
uma nota de R$ 100,00 por um valor mais baixo do que ela vale e ninguém aceitaria pagar mais do que
esse valor pela nota.

6.1 Funções e histórico da moeda

Podemos pensar que a moeda é uma mercadoria, mas não qualquer uma. Uma mercadoria específica,
que reúne a propriedade de ser trocada por qualquer outra. Basta ter em mãos cédulas ou moedas
metálicas para poder trocá-las por qualquer artigo que represente exatamente as unidades monetárias
incorporadas na moeda. Se tivermos R$ 80,00, podemos adquirir qualquer mercadoria que tenha um
preço idêntico ou menor do que esse valor e que esteja disponível para venda, obviamente.

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Unidade III

A especial característica que a moeda reúne é a de ser aceita em qualquer situação. Veja um
exemplo: seria muito difícil, em uma economia moderna, adquirir mercadorias pagando, ou trocando,
por outras mercadorias como à época do escambo. Se quiser um sapato novo, você não conseguirá
obtê-lo fazendo a troca no mercado pelo seu trabalho direto. Haveria a necessidade de dupla
coincidência de desejos: o seu desejo em ter os sapatos e o do vendedor em utilizar sua força de
trabalho. Agora, de posse da moeda, tudo fica mais fácil. Se o vendedor coloca à venda os sapatos que
você quer, basta que você tenha poder de compra, representado pela moeda, e os compre, pagando
em moeda. Pronto. Efetuamos uma troca indireta. Moeda por mercadoria, no caso do comprador, e
mercadoria por moeda, no caso do vendedor.

Observação

Se a moeda, então, pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma
mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções.

Devido ao desenvolvimento da divisão do trabalho que especializou pessoas e empresas como


produtores de mercadorias, nas economias modernas há um volume absurdamente grande de
mercadorias à disposição da sociedade. Com a divisão do trabalho, os agentes econômicos tornaram-se
cada vez mais interdependentes uns dos outros, cada um depende do trabalho do outro ou depende,
para seu bem-estar, da produção do outro (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011). Dessa forma, um volume
expressivo de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de suas principais
funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas).

A função de intermediária de trocas, ou, se preferir, meio de troca, ou ainda meio de pagamento,
permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem depender
da coincidência de desejos. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce ainda outras
duas funções básicas: servir como unidade de conta e como reserva de valor.

A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na
economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, ela aparece no valor do salário ali grafado: x
unidades monetárias. Em um contrato de prestação de serviços, também desempenha sua função
unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado mediante o serviço prestado.
Está ainda representada nos preços dos produtos. Por exemplo: quando vemos uma camisa à disposição
na vitrine de uma loja qualquer, possivelmente há uma etiqueta com a indicação do valor daquele
produto. Ali está, portanto, a moeda exercendo sua função de unidade de conta. Outro nome que pode
ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta. Esta, que aparece ou nos contratos ou nos
preços dos produtos, determina qual o montante de moeda corrente necessário para aquela troca.

Uma última função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor. De posse de unidades
monetárias, e dada a existência de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar
tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. Em economias com estabilidade monetária (sem
inflação), a moeda consegue exercer tal função, de poder reservar ou preservar seu valor ao longo do
tempo. Em períodos de inflação elevada, a erosão dos ativos monetários será uma consequência.
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ECONOMIA E MERCADO

Para que a moeda desempenhe suas funções, alguns aspectos particulares devem ser reunidos.
Como exemplo, temos as características econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de
transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que para manter moeda
seu custo é zero e que transportar moeda também tenha um custo zero. As outras características da
moeda, as físicas, dizem que a moeda deve ser divisível, durável, que haja dificuldade em falsificação,
que exista manuseabilidade e que também seja favorecida sua transportabilidade. Somente reunindo
características físicas e econômicas a moeda consegue exercer suas funções de intermediária de trocas,
unidade de conta e reserva de valor (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

É necessário viajar pela História para conhecer as diversas formas que a moeda assumiu ao longo dos
tempos. Desde a Antiguidade, os povos utilizam moeda para efetuar trocas de mercadorias. Inicialmente
as trocas eram feitas de forma direta, pois o homem vivia em pequenas comunidades, nas mais primitivas
culturas – a economia funcionava à base de escambo. Esse sistema exigia a coincidência de desejos, pois
apenas produtos encontravam-se disponíveis para trocas. Conforme Passos e Nogami (2003, p 446):

[...] imaginem um indivíduo que tenha maçãs e queira castanhas. Seria uma
coincidência fora do comum encontrar um outro indivíduo que tivesse
gostos exatamente opostos, ansioso por vender castanhas e comprar maçãs.
Ainda que aconteça o fora do comum, não há garantia de que os desejos das
duas partes, no que se refere às quantidades e aos termos de troca exatos,
coincidam. Da mesma forma, a menos que um alfaiate faminto encontre
um fazendeiro nu que tenha alimentos e o desejo de ter um par de calças,
nenhum dos dois pode realizar o negócio.

Observação

Com o desenvolvimento da divisão do trabalho e a maior especialização


na produção de mercadorias, nota-se a dificuldade em usar a prática
rudimentar de escambo.

Nos primórdios, o homem vivia em pequenas comunidades de uma única família, e se utilizava
da vegetação e da caça disponíveis na região que habitava. Esses recursos eram os únicos com os
quais contava para a sua subsistência. Imagine um agricultor de cenouras, por exemplo. Se ele produz
cenouras, o produto de seu trabalho são cenouras. Contudo, tal agricultor e sua família não vivem só
de cenouras, eles dependem da produção alheia para sobreviver. Dependem, portanto, da troca de seu
excedente pelo excedente de produção de outra pessoa. Suponha que esse agricultor precise adquirir
carne para sua alimentação. Ele só tem cenouras para trocar e precisará encontrar no mercado algum
produtor que venda carnes e que deseje cenouras em troca. Fácil, não? Não, não é fácil! E o manuseio?
Como será o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? De fato
uma operação complexa.

Assim, as sociedades se empenharam para desenvolver um sistema em que um equivalente


geral fosse aceito como meio de trocas, iniciando, desse modo, um sistema de trocas indiretas, que
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Unidade III

passa a ser intermediado por algum bem que represente aceitação e curso geral. Estamos tratando
da mercadoria-moeda ou, simplesmente, moedas-mercadorias. Foram utilizadas como moedas-
mercadorias o gado, o fumo, o azeite de oliva, os escravos, o sal, entre outros.

Para que uma mercadoria possa ser utilizada como moeda, deve apresentar as características
de durabilidade, divisibilidade, homogeneidade, bem como facilidade no manuseio e transporte,
aspectos que não eram reunidos em alguns dos exemplos citados neste livro-texto, apesar de as
moedas-mercadorias terem facilitado um pouco a vida dos agentes.

Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando
a moeda metálica ou o metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram parte
desse período o cobre, o bronze e o ferro. O ouro em barra tem um valor incorporado. O mesmo ocorre
com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam seu valor
ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guardá-las para serem utilizadas em trocas de mercadorias
no melhor momento. Apesar de mais se assemelharem com as funções e características da moeda, são
mercadorias que, para serem trocadas por outras, dependem da dupla coincidência de desejos. Novamente:
e o manuseio? E o transporte? E a durabilidade, características físicas da moeda? E a divisibilidade? Parece
que o ouro e a prata também não foram as melhores alternativas para a moeda, por isso a sociedade
caminhou para outra alternativa: a moeda-papel (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011).

Conforme Passos e Nogami (2003, p. 451),

[...] a moeda representativa ou moeda-papel veio eliminar, portanto, as


dificuldades que os comerciantes enfrentavam em seus deslocamentos pelas
regiões europeias, facilitando a efetivação de suas operações comerciais e
de crédito, especialmente entre as cidades italianas e a região de Flandres. A
sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem
realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando
a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado
certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como
“Casas de Custódia”, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas
metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia.

Tal modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função.


Tinha nela incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de
aceitação, vez que representava ali uma determinada quantidade de valor. Então, a sociedade
avança para outro tipo de moeda: a moeda fiduciária ou papel-moeda. Moeda fiduciária significa
garantia. Para Lopes e Rossetti (2005, p. 33),

[...] a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro


metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não
era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa
constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda-papel
em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao
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ECONOMIA E MERCADO

mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros


ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades
de ouro e prata para depósito.

Vamos entender melhor isso. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde
alguns agentes depositavam barras de ouro, bem como suas peças de prata e, em troca, recebiam um
papel representando aquele valor. Vejamos:

• Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro.

• Valor do ouro depositado = um papel escrito o quanto vale.

De posse de tal documento (papel-moeda), as pessoas exerciam suas trocas comerciais. O


recebedor desse registro possuiria o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali
identificado. Tal reconversão nem sempre era necessária, e uma grande quantidade de ouro
permanecia depositada em tais casas. Assim, os “guardiões” dos metais preciosos podiam começar
a emitir papéis não mais lastreados (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33). Inaugura-se, então, um período
em que a emissão de papel-moeda é exercida por particulares até que o governo chame para si
tal responsabilidade.

Da modalidade de moeda fiduciária (papel-moeda) até a modalidade da moeda bancária, manual ou


escritural como conhecemos na atualidade, foi questão de tempo.

6.2 Da moeda aos meios de pagamento

Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar como ela
se comporta em uma economia moderna como a de hoje. Assim, podemos dizer que, sobre o montante
de moeda que temos à nossa disposição, os meios de pagamento (MP) dividem-se em papel-moeda em
poder do público (PMPP) e os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto,

MP = PMPP + DVbc

Ademais, podemos considerar ser PMPP a moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc a
moeda escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas-correntes).
Para que o PMPP seja efetivamente utilizado pela coletividade, o Banco Central, na qualidade de
autoridade monetária, precisa emitir moeda, PME, ou seja, papel-moeda emitido. No entanto, nem todo
PME converte-se em PMPP, pois o próprio Banco Central retém parte desses recursos. Desse modo,

Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central (retenção)

Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume
monetário de que o Banco Central injetou. Parte desses recursos os bancos comerciais retêm em encaixe
técnico. Assim,

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Unidade III

Papel-moeda em circulação = papel-moeda emitido – caixa do Banco Central – encaixe técnico


bancário

Vimos que a moeda manual é criada pela autoridade monetária e chega às mãos da coletividade
via bancos comerciais. Esses últimos são responsáveis pela expansividade dos meios de pagamento
por meio da criação de moeda escritural. A moeda escritural é criada pelos bancos comerciais a partir
do recebimento de depósitos à vista. Através de uma operação contábil, dá-se a criação de meios
de pagamento, e tal atividade aparece no balancete do banco comercial. Nesse arquivo, a título de
exemplo, são registrados valores de depósitos recebidos no lado do passivo; no lado do ativo, todos os
empréstimos concedidos a partir dos recursos recebidos pelos depósitos à vista.

6.3 Oferta de moeda

Para tratar da oferta de moeda, torna-se necessário compreender o papel que o Banco Central
exerce na economia. Um de seus principais papéis é ser o órgão responsável pelo controle da oferta
monetária na economia, bem como o de zelar pela qualidade da moeda nacional, ou seja, pelo seu
poder de compra, por sua estabilidade. É por esse motivo que dizemos ser o Banco Central o emissor
da moeda nacional. Entre outros papéis, que também podemos considerar como funções, estão o de
ser o banco dos bancos, regulando e supervisionando as operações que por estes são efetuadas, ser o
banco do governo, no caso representado pelo Tesouro Nacional, além de ser depositário de reservas
internacionais, ou seja, guardião do volume de moeda estrangeira à disposição no País.

Considerando os papéis desempenhados pelo Banco Central, bem como sua existência na economia
moderna e suas relações com os bancos comerciais, estes dois agentes compreendem o sistema monetário
nacional. Por seu turno, os bancos comerciais – como vimos anteriormente – têm a tarefa de efetuar
a intermediação financeira entre diferentes agentes econômicos com a principal característica de criar
moeda, ou seja, meios de pagamento. Para tanto, devem ser legalmente autorizados pelo Banco Central
a exercer tal função. Assim, obtêm permissão para receber depósitos à vista, que se transformam em
reservas dos bancos, ou, como alguns preferem, de encaixes, que serão de alguma forma emprestados.
Nessas operações, uma das obrigações impostas ao Banco Central aos bancos comerciais é: ao realizar
uma operação de empréstimo, o banco deve certificar-se de que terá como garantir os recursos de seus
depositários se estes desejarem exercer o direito de saque.

Nesse sentido, tanto o banco comercial como o Banco Central dispõe de estimativas de
movimentações diárias que são efetuadas pelos agentes econômicos. Cada agente econômico tem um
comportamento diferente em relação aos saldos mantidos em suas contas, assim os bancos podem
efetuar uma estimativa do comportamento de seus agentes de quando e quanto exercem seu direito
de utilizar os saldos que estão ali depositados. Mesmo que ocorram operações de empréstimos, aos
depositários não há diminuição de seus saldos, pois os recursos emprestados continuam sendo daqueles
que o depositaram, e é um dever do banco comercial efetuar tal garantia ao depositário.

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ECONOMIA E MERCADO

Lembrete

Como os bancos comerciais sabem que seus depositantes não sacam


todos os seus depósitos em um mesmo momento, podem trabalhar
com tal volume monetário colocando esses depósitos em circulação via
empréstimos. É com essa operação que os bancos efetuam a multiplicação
dos meios de pagamento na economia.

É importante perceber que o Banco Central e os bancos comerciais, aqueles autorizados a receber
depósitos à vista, exercitam a oferta de moeda na economia e são instituições representantes do sistema
monetário nacional, já o sistema financeiro é formado pelo sistema monetário mais o não monetário.

O Sistema Financeiro Nacional é constituído por um sistema normativo e um de intermediação. No


primeiro, estruturado por instituições que estabelecem diretrizes de atuação dos demais atores, estão:

• Conselho Monetário Nacional (CMN).

• Banco Central do Brasil (Bacen).

• Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

• Demais instituições especiais, a exemplo do Banco do Brasil (BB), do Banco de Desenvolvimento


Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF).

Por outro lado, no sistema de intermediação, que também pode ser chamado de operativo, é formado
por instituições que atuam em operações de intermediação financeira, ou seja, os atores. Vejamos:

• Instituições financeiras bancárias, a exemplo dos bancos comerciais, múltiplos e caixas econômicas.

• Instituições financeiras não bancárias representadas por bancos de investimento, de


desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e investimentos, sociedades de
arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, sociedade de crédito imobiliário e associações
de poupança de empréstimo.

• Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (Sepe), representado pela Caixa Econômica Federal,
Sociedade de Crédito Imobiliário, Associações de Poupança e Empréstimos e Bancos Múltiplos.

• Instituições auxiliares, a exemplo das Bolsa de Valores, Sociedades Corretoras de Valores Mobiliários,
Sociedades Distribuidoras de Valores Mobiliários e Agentes Autônomos de Investimento.

• Instituições não financeiras, que são as Sociedades de Fomento Comercial – factoring – e Seguradoras.

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Unidade III

Assaf Neto (2012, p. 52) destaca que o Banco Central propõe ao Sistema Financeiro Nacional a
seguinte composição:

Quadro 4

Entidades
Órgãos normativos Operadores
supervisoras
Instituições Demais instituições
Banco Central do financeiras financeiras
Conselho Monetário Brasil (Bacen) captadoras de Outros intermediários
Nacional (CMN) depósitos à vista Bancos de câmbio financeiros e administradores de
recursos de terceiros
Comissão de Valores Bolsas de Bolsas de valores
Mobiliários (CVM) mercadorias e futuros
Entidades
Conselho Nacional Superintendência Sociedades Sociedades de abertas de
de Seguros Privados de Seguros Privados Resseguradores seguradoras capitalização previdência
(CNSP) (Susep) complementar
Conselho Nacional Superintendência
da Previdência Nacional de Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão)
Complementar Previdência
(CNPC) Complementar (Previc)

Fonte: Assaf Neto (2012, p. 52).

No âmbito dos objetivos e alcance desta disciplina, não cabe tratamento pormenorizado de cada um
dos agentes indicados anteriormente.

Saiba mais

Caso o assunto seja de seu interesse, ou seja, a ampliação dos


conhecimentos acerca de todos os participantes do Sistema Financeiro
Nacional, leia:

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Composição e segmentos do


Sistema Financeiro Nacional. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <https://www.
bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp>. Acesso em: 11 jan. 2018.

O quadro a seguir sumariza as entidades supervisoras e seus respectivos agentes supervisionados.

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ECONOMIA E MERCADO

Quadro 5

Entidades supervisionadas pela Entidades supervisionadas pela


Entidades supervisionadas pelo Banco Comissão de Valores Mobiliários Superintendência de Seguros Privados
Central (Bacen) (CVM) (Susep)
— Bancos comerciais e múltiplos — Companhias abertas com ações — Sociedades seguradoras
negociadas em bolsa de valores
— Caixa Econômica Federal — Sociedades que atuam no resseguro
— Bolsa de valores, mercadorias e
— Cooperativas de crédito futuros — Entidades abertas de previdência
complementar
— BNDES — Operações com valores
mobiliários realizadas por — Outras
— Bancos de desenvolvimento e de
investimentos sociedades corretoras e
distribuidoras
— Instituições de câmbio
— Fundos de investimento
— Sociedades financeiras
— Outros
— Sociedades de crédito imobiliário
— Corretoras e distribuidoras de títulos e
valores mobiliários e de câmbio
— Sociedades de arrendamento mercantil
— Outras

Adaptado de: Assaf Neto (2012, p. 54).

Saiba mais

ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2012.

Vimos que uma das principais funções do Banco Central é a de controlar a oferta monetária, o que
envolve certamente a preocupação da existência ou não de liquidez necessária para que os agentes
econômicos continuem suas atividades no sistema, ou seja, para que o fluxo da renda funcione de forma
tranquila, sem interrupções por parte do fluxo monetário. Acrescenta-se a tal fluidez a capacidade de
os bancos comerciais na criação e multiplicação dos meios de pagamento, o que também auxilia no
desenvolvimento do fluxo circular da renda, impulsionando o fluxo monetário. Assim, em termos de
economia monetária e com o emprego de termos técnicos, tanto a moeda manual quanto a escritural –
que denominamos meios de pagamentos – são também chamados de agregados monetários, e possuem
diferentes classificações.

A classificação dos agregados monetários atende aos graus de liquidez, da maior liquidez para a
menor, e eles podem variar ao longo do tempo, dependendo da intenção da autoridade monetária e
do relacionamento da coletividade com a moeda. Sobre este último evento, Carvalho et al. (2007, p. 6),
destacam que

A capacidade de demanda de produtos e serviços de uma sociedade e, a


princípio, representada pela soma da quantidade de moeda manual com
a de moeda escritural presente na economia. Entretanto, tem se tornado

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Unidade III

difícil precisar com exatidão a capacidade potencial de demanda do público,


porque existem ativos financeiros que podem ser convertidos em moeda
com um custo de transação desprezível e em tempo bastante curto. Tais
ativos são, por exemplo, os depósitos a prazo que possuem formas, regras
de aplicação e remuneração diversas. Em princípio, um depósito a prazo
não poderia ser resgatado a qualquer data. Contudo, como estão lastreados
em ativos financeiros que possuem um mercado secundário (de revenda)
organizado, tais ativos podem ser revendidos e o detentor do depósito a
prazo pode transformá-lo em depósito à vista (em tempo bastante curto e
com algum custo, em geral, inferior à remuneração auferida).

Portanto, em razão da rapidez e velocidade com que ativos se transformam em liquidez, o Banco
Central necessita trabalhar com classificações de determinados ativos para operar seus instrumentos de
política monetária e cumprir com seus objetivos e funções.

As estatísticas de diversos agregados monetários e financeiros são, dessa


forma, necessárias. São úteis, por exemplo, para se avaliar qual a força
dos agentes econômicos para gerar inflação devido a sua capacidade de
demanda. Com essas estatísticas, pode-se saber qual é o portfólio (carteira
de ativos) do público em cada momento. Podem ser definidas inúmeras
estatísticas dessa natureza. Em geral, define-se como meios de pagamento
a soma do papel-moeda em poder do público com o total de depósitos à
vista. Tal estatística é chamada de M1 (CARVALHO et al., 2007, p. 6).

A necessidade de classificação dos meios de pagamento dá-se então, a partir do que foi admitido,
para que o Banco Central faça, digamos, uma previsão do comportamento dos agentes econômicos com
relação à moeda enquanto liquidez e seus ativos que rendem juros.

É sabido que uma das principais dificuldades de um economista está em acertar em definitivo qual o
comportamento dos agentes face a diversas situações. Para tanto, utiliza-se daquilo que se convenciona
adotar: o comportamento do agente racional, representativo. Em períodos de elevada inflação, o agente
econômico tende a adquirir rapidamente seus bens para proteger o poder de compra da moeda, e a
reserva monetária não utilizada será protegida em aplicações financeiras.

O nível de taxa de juros também influencia o comportamento dos agentes em relação aos seus saldos
monetários. Via de regra, taxa de juros elevada influencia o agente a efetuar aplicações financeiras em
vez de consumir: afinal, sua recompensa em termos de rendimento pode ser mais atrativa quanto ao
consumo presente. O contrário também é verdadeiro. Contudo, nada podemos asseverar, e sim estimar
o comportamento. Quem afirma com total segurança quando os bancos comerciais vão diminuir as
taxas de juros dos empréstimos? E se os empresários elevarão a demanda por moeda para investimentos
produtivos? Quem pode alegar que na mesma situação algum agente econômico preferirá não efetuar
aplicações financeiras, mas sim elevar seu consumo? São apenas previsões, mas elas devem ter alguma
fundamentação. E é para isso que o Banco Central se utiliza de estatísticas quanto aos meios de
pagamento, seja no sentido restrito, seja no sentido ampliado.
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ECONOMIA E MERCADO

Considerar papel-moeda em poder do público bem como os depósitos à vista nos bancos comerciais
como meios de pagamento (M1) é considerar os meios de pagamento em seu sentido restrito. Em
seu sentido ampliado, é isso que é importante em termos de economia monetária, é trabalhar com
indicadores que antecedem possíveis complicações sobre o mercado real que a demanda por moeda
pode provocar. Para a autoridade monetária, é vital entender que os saldos mantidos como M1 devem
ser aqueles correspondentes às transações necessárias e corriqueiras que a coletividade efetua ao longo
do tempo, sem que se comprometa a utilização de saldos de outros ativos que não são concebidos
como instrumento de troca, função da moeda. Mesmo com o avanço da economia monetária e dos
instrumentos de intervenção monetária adotados pelo Banco Central, notadamente o controle das
taxas de juros, têm-se que os agregados monetários devidamente classificados apresentam-se como
importantes instrumentos para controle da liquidez do sistema.

Tal classificação não atende somente ao uso da autoridade monetária, no caso do Banco Central,
mas também aos próprios participantes do sistema monetário, digam-se os bancos comerciais. De
conhecimento de suas estatísticas, e da forma como que seu depositário mantém seus ativos nos
bancos comerciais, estes podem desenvolver com maior certeza linhas de empréstimos que auxiliam na
multiplicação dos meios de pagamento. Nos conceitos anteriores, aqueles válidos até o ano de 2000, os
meios de pagamento estavam assim classificados, por graus de liquidez: no maior grau de liquidez ao
menor grau de liquidez:

• M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista

• M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + quotas de fundos de renda fixa de curto prazo +


títulos públicos de alta liquidez

• M3 = M2 + depósitos de poupança

• M4 = M3 + títulos emitidos por instituições financeiras

Observação

Quanto mais distante de M1, menor é a liquidez do agregado.

Os novos conceitos, que passaram a vigorar no Brasil a partir do ano de 2001, adotam, em seu
conceito de meios de pagamento ampliado, a classificação por seus sistemas emissores, e não mais a
simplificação por grau de liquidez.

O M1 é gerado pelas instituições emissoras de haveres estritamente


monetários, o M2 corresponde ao M1 e às demais emissões de alta
liquidez realizadas primariamente no mercado interno por instituições
depositárias – as que realizam multiplicação de crédito. O M3, por sua
vez, é formado pelo M2 e captações internas por intermédio dos fundos
de renda fixa e das carteiras de títulos registrados no Sistema Especial de
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Unidade III

Liquidação e Custódia (Selic). O M4 engloba o M3 e os títulos públicos de


alta liquidez (BACEN, [s.d.]).

Com a adoção dos novos critérios, os meios de pagamento ficam classificados assim:

• Meios de pagamento restritos

— M1 = papel-moeda em poder do público + depósitos à vista

• Meios de pagamento ampliados

— M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por


instituições depositárias

— M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações registradas no Selic

• Poupança financeira

— M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Pela descrição da nova classificação, podemos perceber que o que se


convencionou adotar como critério para o M1 não sofreu alteração: continua
exatamente da forma como era anteriormente, tendo seus saldos gerados
por instituições emissoras de haveres estritamente monetários. Por seu
turno, o M2 passa a integrar os meios de pagamento em conceito ampliado.
Continua a englobar o M1 acrescido das demais emissões de alta liquidez
realizadas primariamente por instituições depositárias no mercado interno.
Quem são as instituições depositárias? Aquelas que multiplicam o crédito,
a saber, os bancos comerciais e múltiplos, as caixas econômicas, os bancos
de desenvolvimento, as agências de fomento, as sociedades de crédito,
as associações de poupança e empréstimos bem como as companhias
hipotecárias (PAULANI; BRAGA, 2012, p. 263).

Avançando em termos de classificação, assim como o M2, os saldos de M3 também sofrem alteração
ante a nova regra: englobam os saldos de M2 bem como os saldos dos fundos de renda fixa e das
carteiras de títulos registradas no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Por fim, mas não
menos importante, o M4 passa a ser denominado poupança financeira: representa os saldos de M3 e os
títulos públicos de alta liquidez. O quadro a seguir acentua tanto os componentes dos agregados quanto
seus emissores.

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ECONOMIA E MERCADO

Tabela 15 – Classificação atual dos agregados monetários

Sistema emissor: consolidado monetário (passivo monetário restrito do Banco Central e bancos criadores de
M1 moeda escritural: bancos múltiplos com carteira comercial, bancos comerciais e caixas econômicas).
M1 = papel-moeda em poder do público + depósito à vista
Sistema emissor: consolidado bancário menos fundos de renda fixa (passivo monetário restrito do Banco
Central e passivo monetário ampliado emitido principalmente pelas instituições depositárias).
M2
M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições
depositárias
Sistema emissor: consolidado bancário (passivo monetário restrito do Banco Central e passivo monetário
M3 ampliado das instituições depositárias e fundos de renda fixa).
M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações compromissadas registradas no Selic
Sistema emissor: consolidado bancário mais governo (passivo monetário ampliado do Banco Central,
M4 instituições depositárias, fundos de renda fixa e tesouros nacional, estaduais e municipais)
M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Fonte: Paulani; Braga (2012, p. 263).

Saiba mais

Veja no site do Banco Central do Brasil as estatísticas recentes referentes


à nova classificação dos meios de pagamento, tanto em sentido restrito
quanto no ampliado. O acesso ao link

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Série histórica dos meios de


pagamento ampliados. Brasília, 22 dez. 2017. Disponível em: <https://www.
bcb.gov.br/htms/infecon/seriehistmpamp.asp>. Acesso em: 11 jan. 2018.

6.4 Demanda por moeda

Como estudamos os principais determinantes das condições de oferta de moeda nas economias
modernas, podemos tratar das condições da demanda também apoiados em teorias, afinal, o que faz
os agentes econômicos a demandar moeda? Qual o principal motivo que leva parte da coletividade
em manter seus saldos monetários em ativos que não geram algum rendimento a seu possuidor?
Outra pergunta que desponta é: qual a quantidade de moeda que os agentes desejam reter em
determinado momento de tempo? Não são questões para respostas rápidas, faz muito tempo que
vários economistas se empenham em buscar respostas que por algum momento foram satisfeitas
à comunidade especializada em teoria econômica e que passaram a ser questionadas por outros
teóricos. É o que passaremos a fazer.

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Unidade III

6.5 As teorias de demanda por moeda

Iniciaremos a análise das teorias explicativas da demanda por moeda com base na teoria quantitativa
da moeda que se encontra também entre as teorias desenvolvidas pelos chamados economistas clássicos.
Como sabemos, a escola clássica foi uma das mais importantes escolas do pensamento econômico
por procurar criticar o pensamento mercantilista até então dominante. O principal destaque da escola
clássica está calcado na questão do liberalismo econômico, que possui expoentes como Adam Smith,
John Stuart Mill, Alfred Marshall, só para citar alguns. É nesse ambiente que se desenvolve a teoria
quantitativa da moeda.

6.5.1 Teoria Quantitativa da Moeda (Fisher e Escola de Cambridge)

A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), em sua versão original, foi concebida em torno do pensamento
da escola do liberalismo clássico encontrada nas principais contribuições de Pigou, Marshall, Knut
Wicksell e Irving Fisher, este último é o de maior relevância para o assunto. A princípio, a pergunta é a
seguinte: quais são as razões que levam os agentes econômicos a demandar moeda?

Para os economistas clássicos que empreendem sua visão acerca da economia monetária, uma das
razões está na não existência de sincronia entre os fluxos de recebimentos e pagamentos a que os
agentes econômicos estão expostos. Um trabalhador, por exemplo, recebe seu salário e não o gasta no
mesmo momento, mas sim em um período determinado, aguardando até que o próximo seja recebido.
Como o pagamento de suas despesas está dividido ao longo deste tempo, deve manter um encaixe
monetário para poder efetuar bem suas transações.

Outra razão reside no fato de que os agentes econômicos não têm certeza quanto ao futuro, portanto,
suas previsões não são as mais corretas possíveis. Eventos inesperados podem ocorrer, e o montante de
despesas que tais eventos ensejarão não é calculado com assertividade, ou seja, é preciso manter saldos
monetários para cobrir tais contingências, é uma questão de precaução.

Até aqui, a moeda é entendida apenas como um ativo usado como forma de transação para
pagamentos das despesas que são previstas, as diárias, previsíveis, bem como utilizada como medida
de prevenção. As pessoas não tinham a noção de que a moeda poderia gerar a seu possuidor um
fluxo monetário via rendimentos, preservando seu valor ao longo do tempo. Conforme explica
Berchielli (2003, p. 109),

Dessa forma, o primeiro motivo para demandar moeda depende do valor e


do número de transações realizadas em um intervalo de tempo. Podemos
considerar o nível geral de preços, P, e o produto real da economia, Y, como
aproximações para o valor médio de cada transação e para o número de
transações, respectivamente. No curto prazo, um aumento do produto
real indica que mais bens e serviços estão sendo produzidos e, portanto,
transacionados. Da mesma forma, quando o preço dos produtos aumenta, a
negociação de quantidades iguais envolve valores maiores.

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ECONOMIA E MERCADO

A teoria quantitativa da moeda tem sua origem naquilo que os economistas convencionam chamar
de equação de trocas, representada por uma identidade que relaciona, de um lado, o fluxo monetário
disponível a ser conhecido pela multiplicação do estoque de moeda na economia, M, e sua velocidade
de circulação, V, e, de outro, o uso do mesmo fluxo, só que agora expresso em termos da multiplicação
do nível geral de preços da economia, P, com a quantidade de transações efetuadas entre os agentes
econômicos, T. Assim, sua formação será:

MV = PT

onde:

M = representa a quantidade ou estoque ou oferta de moeda.

V = velocidade de circulação da moeda, seu turnover.

P = nível geral de preços em termos nominais.

T = quantidade total de transações físicas de bens e serviços.

O lado esquerdo da equação indica o total das transferências de moeda entre os agentes econômicos,
o lado direito corresponde ao total das transferências de bens e serviços entre os agentes econômicos.
A equação de trocas reflete exatamente o fluxo circular da renda: do lado esquerdo, o fluxo monetário;
do lado direito, o fluxo real.

Da forma como foi apresentada e até então desenvolvida pela Escola de Chicago e popularizada na
versão de Irving Fisher, demonstra que os preços sofrem variação como razão direta da quantidade de
moeda em circulação, considerando como constante a velocidade de circulação da moeda, bem como o
volume de transações que a coletividade exerce. Sobre este aspecto, para que a equação de trocas seja
efetivamente transformada em teoria,

Torna-se necessário introduzir equações comportamentais. Na teoria


quantitativa original, são duas essas hipóteses: primeiramente, as
quantidades transacionadas na economia são determinadas no setor
real independentemente das forças monetárias. Sendo assim, na análise
monetária, essas quantidades tornam-se predeterminadas. Segundo, a
velocidade de circulação da moeda, embora variável no tempo, é considerada
uma constante, pelo menos no curto prazo. Com essas duas hipóteses
comportamentais, a equação de trocas se transforma na teoria quantitativa
da moeda cuja proposição básica estabelece uma proporcionalidade direta
entre a quantidade da moeda e o nível de preços (TEIXEIRA, 2002, p. 74).

Considerada pelos principais autores de economia monetária mais como uma teoria que procura
causa e efeito entre variação de preços e volume de moeda em circulação do que efetivamente uma teoria
que busca compreender os fatores que determinam a demanda por moeda por parte da coletividade, a
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Unidade III

Teoria Quantitativa da Moeda assume neutralidade da moeda no longo prazo, e no curto prazo o volume
de moeda afeta variáveis reais com possibilidade de inflação.

Como a teoria foi desenvolvida antes de Keynes, está claramente apoiada na lei de Say, aquela que
apregoa que a oferta cria sua própria procura, portanto, é uma teoria que analisa a economia pelo lado
da oferta, no caso, o lado da oferta monetária com tendências de equilíbrio no longo prazo, assim como
assumido pelos clássicos.

A primeira versão dessa teoria foi formulada por Simon NewComb, em 1885,
e difundida por Irving Fischer, em 1911. Parte-se de uma identidade entre
o total de meios de pagamento em moeda e o total de bens e serviços
transacionados, ou seja, a cada troca de bens e serviços, o pagamento
por essa compra e venda em moeda e o preço desses produtos são iguais,
portanto, a quantidade de moeda paga nas transações é idêntica ao valor
monetário dos produtos (CARVALHO et al., 2007, p. 31).

Avaliando a equação de trocas, vê-se que o volume de moeda em circulação é uma variável de
possível mensuração devido ao controle de emissão por parte da autoridade monetária. O nível de
preços é dado, mesmo que variável ao longo do tempo, bem como uma variável da equação passível de
controle e mensuração. A velocidade de circulação da moeda também pode ser conhecida através de
dados e mensurações estatísticas. Assim, a mensuração das quantidades transacionadas era de difícil
operação à época, o que ensejou a reformulação da própria equação.

Uma dessas alterações seria entendê-la do ponto de vista da renda, e foi chamada versão renda:

MVy = PyY

Assim, M indica o estoque agregado de moeda, Vy a velocidade renda, Py um índice de preços de bens
e serviços finais e Y um índice de quantidade representativo da produção real final. Esta própria versão
efetua outra revisão. O que se altera em relação à primeira versão é o seguinte: do lado direito, em vez
de expressar preços multiplicado pelo volume de transações, PT, passou-se a utilizar a mesma relação
em termos do PIB real, PY. Então, a nova equação é indicada da seguinte forma:

MV = PY

Vejamos o que sinaliza Carvalho et al. (2007, p. 32) sobre o assunto:

A teoria quantitativa diz que – uma vez que a velocidade de circulação


e o volume de comércio sejam constantes – um aumento na quantidade
de moeda em circulação faz com que os preços aumentem na mesma
proporção. A TQM se apoia, portanto, na ideia fundamental de que a moeda
não tem nenhum poder de satisfazer os desejos humanos, exceto o poder de
comprar bens e serviços. A moeda é apenas um meio de troca usado como
ponte do hiato entre recebimentos e gastos dos agentes.
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ECONOMIA E MERCADO

Pela versão conhecida até então, o que se assume é que a coletividade utiliza em suas trocas todo
o montante monetário que tem a sua disposição sem qualquer possibilidade de retenção da moeda,
afinal, está de acordo com os economistas clássicos, notadamente Say, em que o entesouramento não
era apreciado. Considerando a possibilidade de os agentes econômicos em efetuar retenção, reservar
parte da moeda consigo, mesmo que por períodos bastante temporários, curtos, torna-se necessário
assumir que aquela parte da moeda que não foi colocada em circulação pela coletividade, portanto,
não transformada em consumo, interfere no bom desenvolvimento do sistema, causando inclusive
imperfeições na lei, em que a oferta gera a procura correspondente.

Admitindo, também, que os encaixes para fins de segurança representem


uma proporção da renda nominal, os economistas clássicos chegaram a uma
equação de demanda agregada por moeda na qual a quantidade nominal
de moeda que os agentes demandariam seria diretamente proporcional ao
produto nominal da economia (BERCHIELLI, 2003, p. 109).

Com base nisso, surge uma nova versão da teoria – cash-balance ou versão de Cambridge –,
incorporando a noção de que os agentes possam usar a moeda como reserva temporária de valor.

Observação

Com a nova formulação, a teoria passa a considerar mais uma função


da moeda, além daquela de servir de intermediário de trocas: passa a ser
reserva de valor.

Com tal reformulação, a nova equação fica assim:

M = kPy

Onde:

M = demanda por moeda.

k = coeficiente de retenção da oferta monetária.

Py = PIB nominal.

Conforme declara Além (2010, p. 119),

Essa versão da TQM segue o mesmo resultado da versão anterior, tendo em


vista que considera que k e y tendem a ser constantes no longo prazo. A renda
real é dada a longo prazo pelo funcionamento da lei de Say. Sendo assim, no
longo prazo há uma proporcionalidade entre expansão na oferta monetária
e expansão no nível geral de preços. Partindo da equação de saldos de caixa
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Unidade III

de Cambridge, onde M = kPy, com k e y constantes, tem-se uma relação


proporcional constante a longo prazo entre nível geral de preços e estoque
monetário. A longo prazo, todo aumento na oferta monetária acima do
crescimento do produto real se refletirá em aumento do nível de preços.

Tomando a TQM em sua versão de Cambridge quanto ao parâmetro k, também chamado de constante
marshalliana, admitindo-se seu valor como fixo no curto prazo, o questionamento que se fez à época
era saber quais os fatores que explicavam a decisão do público em reter moeda. Lopes e Rossetti (2005)
elencam alguns destes motivos:

• a periodicidade entre recebimentos e pagamentos por parte da coletividade;

• nível de acesso da sociedade ao crédito, observando que em períodos de fácil concessão a demanda
por moeda para gastos não programáveis se retrai;

• grau de eficiência do sistema de compensação, bem como dos processos de comunicação entre os
débitos e créditos que ampliam ou diminuem a ociosidade da moeda estrutural;

• o grau de integração vertical do sistema econômico;

• existência de substitutos próximos da moeda, as chamadas quase-moeda;

• o nível de taxa de juros de mercado;

• a taxa de inflação.

Independentemente da forma que se observa a teoria quantitativa da moeda, ela não deixa de ser
uma tautologia: os resultados obtidos em um lado da equação serão iguais ao resultado a ser obtido
do outro lado. Ela representa uma identidade contábil de causa-efeito. Por qual motivo? Simples: a
moeda é neutra no curto prazo. Os economistas desenvolvedores de tal teoria partem do princípio de
que a economia se encontra em pleno emprego, e não é possível elevar o nível de produção por conta
das condições da economia, sendo certo que a elevação na demanda nominal provoca aumento no
nível geral de preços, sem que seja alterada a renda real da economia, dado que a oferta de moeda é
constante no curto prazo. O gráfico a seguir reflete o que afirmamos: M representa o estoque de moeda,
Md a demanda por moeda, p o nível de preços e y a renda.

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ECONOMIA E MERCADO

Md = Md1 > Md0

Md = Md0
Y
M

Figura 25

Com o passar dos tempos, percebeu-se que era necessário avaliar os efeitos da velocidade das
transações em razão da velocidade-renda da moeda, e não simplesmente da quantidade de vezes que a
moeda era trocada de mão em mão. Deve-se levar em consideração que o nível de renda da coletividade
também impacta no volume de transações que esta mesma coletividade está apta a efetuar. Então, a renda
dependeria da quantidade de moeda em circulação assim como a quantidade de moeda em circulação
também dependeria da renda da coletividade. No entanto, conforme bem destaca Berchielli (2003, p. 111),

Quais são os mecanismos que fazem com que aumentos no estoque de moeda
impliquem elevação da demanda agregada? Por que agentes com mais moeda
nos bolsos gastarão em bens, e não em títulos ou em ativos? Essas questões
não foram satisfatoriamente resolvidas pelos economistas clássicos.

6.5.2 A teoria monetária de Keynes

Logo após as reformulações da teoria quantitativa da moeda e o reconhecimento de que as economias


não mais tendiam ao equilíbrio como se imaginava, Keynes procura oferecer uma teoria monetária
alternativa àquelas até então prevalecentes. Assumindo que a moeda também desempenha a função de
reserva de valor, portanto, que pode ser entesourada, ela deixa de ser considerada neutra tanto no curto
como no longo prazo, considerando agora a endogeneidade da moeda e sua não neutralidade.

Com base nisso, a quantidade de moeda disponível na economia afeta as variáveis reais da economia,
a exemplo do emprego, da produção, do consumo e do próprio investimento que a gerou. Em Keynes,
também não deixa de lado outra importância da moeda, qual seja, ser o ativo mais líquido que existe na
economia. Carvalho et al. (2007, p. 46) destacam muito bem o que afirmamos.

Pelo seu atributo de liquidez por excelência, a moeda acalma as


inquietações dos agentes diante das incertezas do futuro, que são
características de uma economia monetária. Assim, quanto maior a
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Unidade III

incerteza percebida pelos agentes, maior tenderá a ser a retenção de


moeda por parte deles, para fazer frente à imprevisibilidade de um futuro
que depende das decisões e comportamento de todos os outros agentes
que operam nesta economia. Quando as expectativas dos agentes são
pessimistas, eles podem demandar segurança e flexibilidade no presente
para enfrentar o futuro, representadas por um ativo seguro, que é a
moeda. A posse da moeda permite aos agentes manter opções abertas
perante a incerteza do futuro. Logo, coeteris paribus, quanto mais incerto
é o futuro, maior é a preferência pela liquidez dos agentes. Note-se que
para Keynes incerteza não se confunde com risco probabilístico, pois
refere-se a determinados fenômenos econômicos para os quais não
existe qualquer base científica para formar cálculos probabilísticos.

Segundo o excerto, para Keynes o futuro está repleto de incerteza e os agentes decidem seu futuro
com base naquilo que percebem e agem no presente com base nas informações que detêm. Como a
moeda está no centro das decisões dos agentes, eles devem decidir como efetuar a melhor alocação
de seus recursos monetários. Estamos acentuando o que Keynes chamou de motivos que levam a
coletividade a demandar moeda. Para ele, são três motivos: transação, precaução e especulação.

O motivo transação remete à moeda exercendo sua função meio de troca, intermediária de
trocas totalmente dependente do nível de renda do agente econômico. Quanto maior o nível de
renda, maior será a demanda por moeda neste motivo. Em períodos recentes, representaria o
montante de moeda que um agente econômico necessita para efetuar seus gastos corriqueiros,
aqueles considerados fixos, que sempre acontecem até que se receba outro volume monetário
igual àquele preservado para este motivo. A esse respeito, Lopes e Rossetti (2005) esclarecem que
este motivo foi dividido em duas partes na teoria de Keynes: a primeira – motivo renda, refere-se
à necessidade de os indivíduos manterem saldos que garantam os pagamentos de suas despesas
até que os recebem novamente. A segunda – giro de negócios – está no âmbito das empresas e no
intervalo em que recebem por suas vendas e pagam os insumos utilizados na produção, bem como
remuneram sua força de trabalho.

Já o motivo precaução versa que, como o agente econômico não sabe com certeza o que acontecerá
no futuro, deve preservar algum volume monetário para algum infortúnio, algum evento que não estava
esperando, ou seja, teria que gastar com o que não esperava ou apostar monetariamente em alguma
aplicação financeira temporária.

Devemos admitir que os motivos transação e precaução já estavam explicitados na teoria quantitativa
da moeda dos clássicos. Keynes também admite tais motivos, mas o que difere as visões dos teóricos
é a procura motivada por especulação, isto é, o uso da moeda como forma de produzir rendimentos
presentes e principalmente futuros. É aqui que surge outro motivo, e assim Keynes consegue avançar
em seus estudos de uma teoria monetária, onde agirá a política monetária. Estamos nos referindo ao
motivo especulação: neste, a demanda por moeda por parte de um agente econômico será maior
ou menor não só por causa de seu nível de renda, mas sobretudo em razão das taxas de juros do
mercado, não sendo irracional manter ativos monetários para satisfazer oportunidades especulativas.
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ECONOMIA E MERCADO

Se os juros estiverem elevados, os agentes econômicos preferirão adquirir títulos a manter a moeda em
sua forma manual. O contrário também será verdadeiro, assumindo a relação inversa entre demanda
por moeda pelo motivo transação e taxa de juros – quanto maior (menor) for a renda, maior (menor)
será a demanda por moeda; quanto maior (menor) for a taxa de juros nominal, menor (maior) será a
demanda por moeda.

Assim, a função demanda por moeda keynesiana pode ser expressa da seguinte maneira:

L = Lt (Y) + Ls (i)

Na equação, L indica a demanda por moeda, Lt (Y) a demanda por moeda pelo motivo transação
como dependente do nível de renda, e Ls (i) a Ls (i) demanda por moeda pelo motivo especulação,
dependente do nível de taxa de juros.

Observação

Na função demanda por moeda keynesiana, em Lt (Y) estão inseridos


os motivos demanda por moeda para transação e para precaução. Por
convenção, lê-se demanda por moeda pelo motivo transação, mas o outro
também está lá.

A função demanda por moeda pelo motivo transação pode ser assim representada:

A) B)
Y0 Y1 Y2
Lt i

RN = Y Lt

Figura 26

Observando o gráfico (a), é possível perceber que a demanda por moeda pelo motivo transação
depende do nível de renda: elevação no nível de renda aumenta a necessidade de demanda para
transações e precaução, ao passo que queda da renda provoca queda na demanda pelos mesmos motivos.
Como tais razões não apresentam, do ponto de vista dessa teoria, nenhuma ligação com as taxas de
juros, em (b) fica claro que deslocamentos positivos na demanda por moeda pelo motivo transação são
verificados quando o nível de renda também se desloca.

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Unidade III

Lopes e Rossetti (2005, p. 71) fazem advertências quanto ao exposto:

— Em época de desemprego, tratando-se de uma economia moderna


regida por contratos, os preços e os salários não estão livres para
variar automaticamente e assim promover o reajustamento natural
do sistema econômico.

[...]

As quantidades produzidas se ajustam aos níveis de demanda efetiva. Isto


significa que os simples ajustamentos no nível dos preços, resultantes da
interação da oferta e da demanda monetárias, não são condições suficientes
para que a economia opere em situação permanentemente próxima do
pleno emprego.

— Na versão keynesiana a velocidade da moeda é considerada como


variável, o que a distingue da versão dos economistas clássicos, para
os quais essa velocidade era admitida como constante a curto prazo.

— No âmbito dos motivos transacionais e precaucionais, Keynes


insere a possibilidade de retenção de moeda para o atendimento
de determinadas despesas planejadas, e não apenas para fazer face
às despesas correntes do período. Isso significa que podem ocorrer
aumentos na quantidade demandada de moeda para transações,
precedidos de expansão no montante do rendimento agregado. Neste
ponto, Keynes levanta o problema do sentido da causalidade entre
moeda e atividade econômica.

Agora vejamos a função demanda por moeda pelo motivo especulação:

Ls

Figura 27

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ECONOMIA E MERCADO

Desse modo, vê-se a relação inversa entre Ls e i. Há uma explicação para isso.

Embora revele a existência de uma relação inversa entre a taxa de juros e a


demanda de moeda para especulação, a função Ls apresenta um segmento
perfeitamente elástico em relação a i. Neste segmento, geralmente
conhecido por armadilha da liquidez, os que possuem ativos monetários são
unânimes quanto à expectativa de que a taxa de juros já se encontra tão
baixa que não seria possível baixar ainda mais – isto equivale a dizer que
ninguém espera que os preços dos títulos se elevem ainda mais. Estando a
função nesse segmento, estabelece-se uma verdadeira armadilha para as
autoridades monetárias, no sentido de que estas não lograrão êxito se, neste
instante, desejarem baixar ainda mais a taxa de juros via expansão da oferta
monetária (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 78).

Da mesma forma que Keynes inova ao ampliar a discussão acerca do motivo especulação em sua
teoria demanda por moeda, outros teóricos também destacam algumas imperfeições nela. Por exemplo:
se o agente opta por manter moeda para transação, deve abrir mão da especulação. Assim, coloca as
opções como excludente uma da outra. Outra irregularidade é que o motivo especulação não mais
existiria no caso de estabilidade por tempo prolongado da taxa de juros e a um nível que os agentes
econômicos consideram baixos. Keynes acentua outra imperfeição. Para ele, os agentes econômicos não
têm certeza quanto ao futuro, pois este é incerto: do ponto de vista da realidade, parece que os agentes
conhecem o futuro porque tomam suas decisões no presente dotados de certeza. Conforme despontam
imperfeições teóricas, surgem análises alternativas.

6.5.3 Os modelos neoclássicos keynesianos

Como os modelos desenvolvidos a partir dos keynesianos, os modelos neoclássicos desenvolvidos


durante os anos 1950 consideram que os agentes econômicos inserem cálculos probabilísticos em suas
decisões. Entre eles, há o modelo de escolha de carteiras – desenvolvido por James Tobin, um dos
primeiros teóricos a tentar explicar melhor algumas das imperfeições deixadas pela visão keynesiana.
Tobin procura elucidar por que a demanda por moeda pelo motivo transação não depende exclusivamente
da renda, mas também é impactada pela taxa de juros. Os pontos-chave são:

• o agente é capaz de calcular as probabilidades de risco de se manter uma carteira diversificada de


ativos de forma a obter ganhos mais expressivos;

• o retorno total dos títulos que possui é advindo da soma da taxa de juros mais os ganhos de
capital;

• quanto maior a quantidade de títulos na formação da carteira do agente, maior o risco de seus
investimentos;

• o agente requer maior retorno de seus ativos, que deverão compensar o risco incorrido;

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Unidade III

• as preferências dos agentes são indicadas em termos de um conjunto de curvas de indiferença


entre riscos assumidos e retornos;

• a maximização de sua satisfação estará no ponto em que a combinação do risco e retorno


tangenciar sua curva de restrição orçamentária.

Observação

Os pontos-chave do modelo remetem a questões mais microeconômicas


do que macroeconômicas. Motivo: estão na decisão individual do
agente econômico maximizador de suas funções, neste caso, função
demanda por moeda.

O modelo de Tobin descreve as opções que são colocadas a um agente, que deve fazer suas escolhas
entre manter moeda e títulos sabendo que a moeda, ao mesmo tempo que não gera incerteza, também
não rende qualquer retorno ao longo do tempo, enquanto o título rende um retorno chamado juros
(i). Contudo, sua posse implica risco, pois quando da venda deste título, seu preço poderá ser maior ou
menor que quando adquirido: está aí mais uma variável influenciando a remuneração total a ser obtida,
ou seja, g, o ganho ou perda do capital. Tendo isso em mente, o que se coloca no modelo de Tobin é saber
qual proporção tal agente dividirá sua carteira entre moeda e título, ou seja, de que forma montará seu
portfólio sabendo que a remuneração esperada e gerada por uma carteira de títulos e moeda será i + g?

A resposta está na compreensão do seguinte: se a taxa de juros se expandir, induzirá maiores


retornos totais. Então, mantida a restrição orçamentária e a ideia de maximização de sua satisfação
entre risco e retorno, o agente destinará maior parcela de recursos para aplicação em títulos. Se
pensarmos em termos de teoria de demanda por moeda, incorporamos no motivo demanda por
moeda o motivo especulação de uma variável: a aversão ao risco por parte do agente. Vejamos o que
diz Além (2010, p. 122):

Supõe-se que os riscos atribuídos a cada composição de carteira sejam


plenamente calculáveis: dada a distribuição de probabilidade dos
rendimentos de cada um dos ativos, a tarefa do indivíduo otimizador de
uma função utilidade consiste em selecionar a combinação de moeda e
títulos que proporcionem uma posição ótima do ponto de vista do desejo de
obter os maiores rendimentos aos menores riscos.

[...]

Para Tobin, em equilíbrio, a demanda especulativa por moeda deveria


desaparecer, a não ser que os agentes sejam irracionais e incapazes
de aprender com a realidade que testemunham: caso a taxa de juros
permaneça inalterada por um período mais ou menos logo, acharão que
essa taxa é a normal.
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ECONOMIA E MERCADO

Assumindo que expansão de taxa de juros induz à maior colocação de títulos na carteira do agente,
portanto, em maior risco combinado com maiores retornos esperados, a função de demanda de moeda
para especulação apresenta-se inversa à taxa de juros, de forma semelhante à da versão keynesiana.
Vejamos como é representada a função demanda agregada de moeda de Tobin. Em (a) temos a quantidade
de renda que o agente dedica para a aquisição de títulos e a relação entre a taxa de juros e os riscos
assumidos. Em (b) vemos a demanda por títulos em função das taxas de juros.

A) B)
i i

i1 i1

i0 i0

R0 R1 Ls Ls
1 0

Figura 28

Outra abordagem que se insere neste debate é aquela desenvolvida por Tobin-Baumol.

Iniciaremos com a principal motivação de Baumol: a de que manter saldos em moeda corrente faz
o agente econômico ter a noção de existir em mãos um estoque de instrumento de troca como se este
estoque fosse de uma mercadoria qualquer.

Semelhantemente ao que ocorre com o processo racional de administração


de estoques, os agentes econômicos que detêm saldos monetários procuram
administrá-los de forma a manter lotes mínimos que cubram as solicitações
correntes, reduzindo a ociosidade tanto quanto seja possível, segundo
critérios de racionalidade. No caso específico dos estoques monetários
para transações, Baumol admite que a sua manutenção envolve custos de
oportunidade não desprezíveis, representados pelo fato de não estarem
rendendo juros aos seus detentores (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 85).

No modelo desenvolvido por William Baumol, também conhecido como modelo Tobin-Baumol,
o agente recebe, no início do período, uma determinada renda e a mantém depositada em uma
conta-corrente de elevada liquidez; nesta podem ser efetuados saques de qualquer valor a qualquer
momento, mas há um custo fixo para cada um, independentemente do valor.

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Unidade III

Os diferentes meios de pagamento e da conversão de quase-moeda em moeda geram um custo, e o


custo tratado aqui neste modelo pode ser interpretado como o custo de se ir ao banco sacar moeda ou
mesmo o de se fazer uma transação monetária via internet: o tempo gasto na atividade é um custo e
deve ser levado em consideração.

Aqui, os agentes podem em um determinado período de tempo, preferir aplicar parte de seus recursos em
títulos na busca de juros como forma de rendimento, preservando outra parte de moeda na forma líquida para
transações correntes conforme se altera a taxa de juros. A ideia subjacente é a de que o agente econômico
deve manter o mínimo possível de moeda corrente para procurar melhores rendimentos nas aplicações,
transformando moeda líquida em quase-moeda ou mesmo manter saldos para suas transações. Daí o nome
desta abordagem: moeda transacional. Nela, temos o volume monetário que o agente deverá utilizar ao
longo de algum tempo, e o que não for usar hoje deverá estar aplicado para ser resgatado quando necessário.

Tal aplicação é remunerada conforme os saldos médios mantidos durante o período, e os gastos do
agente são distribuídos uniformemente ao longo do tempo, de forma que renda e gastos estão em um
mesmo período. Então, o agente terá que decidir a quantidade de vezes que deverá ir ao banco para
fazer seus saques da aplicação. Caso vá ao banco no mesmo dia em que acontecer o depósito em sua
conta e efetuar o saque do saldo total, não precisará retornar, e seu custo será minimizado.

Em outras palavras, o que o modelo Tobin-Baumol quer explicar é: como o agente tem à sua disposição
a oportunidade de deixar saldos monetários aplicados e que renderão (caso não utilizados), a taxa de juros
influenciará o montante que deixará aplicado. Assim, a existência dos juros e a oportunidade de deixar
seus saldos monetários em aplicações retarda a transformação da moeda, exercendo sua função reserva
de valor no motivo especulação em moeda manual para que exerça sua função intermediária de trocas.

Por complicações do modelo, não se pode afirmar qual será a quantidade ótima de vezes que um
agente econômico deve ir ao banco efetuar suas conversões e seus saques, pois cada agente representa
um relacionamento diferente no tocante aos seus saldos, o modelo trabalha em termos de saldos médios.
Essa hipótese seria expressa do seguinte modo:

y
2

Tempo

1 2

Figura 29

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ECONOMIA E MERCADO

Vejamos o que acentuam Carvalho et al. (2007, p. 70):

No instante inicial, logo após o saque, a quantidade de moeda em poder do


agente é igual ao valor da renda Y. Este reduz-se linearmente ao longo do
período, pois é gasto na aquisição de bens e serviços de forma uniforme. No
final do período, esse estoque é reduzido a zero. O saldo médio de moeda
mantido durante esse período de tempo é igual a y/2, e se continuar aplicado
rende juros.

A que juros estaria tal remuneração? O valor nominal dos juros seria:

Y
C1    . i
2

Assim, i é a taxa de juros nominal, e C1 indica o custo de efetuar a transferência da aplicação para a
conta-corrente, portanto, de efetuar o saque.

A demanda transacional apresenta-se como uma função direta do nível de renda e inversa em
relação à taxa de juros.

A principal conclusão da abordagem de Tobin-Baumol para a demanda de moeda para transações é que

As elevações da taxa de juros resultam em uma ampliação do número de


transações e, consequentemente, aumento do montante de moeda aplicado
em títulos. Logo, a demanda por moeda para fins transacionais reage às
mudanças nas taxas de juros, provocando um movimento inverso na
demanda por moeda para transação (CARVALHO, 2007, p. 72).

Por fim, a função demanda será expressa assim:

Lt = f (y,r)

A demanda por moeda Lt é uma função da renda (y) e da taxa de juros (r).

Resumo

Estudamos nesta unidade as medidas de atividade econômica


e a Teoria Macroeconômica. Vimos as diferenças entre os diversos
agregados macroeconômicos, bem como entre o valor bruto da
produção e o valor agregado.

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Unidade III

Aprendemos como se calcula o PIB. Além disso, foram consideradas


as políticas de que o governo se utiliza para conduzir a sociedade.
Nesse contexto, foi possível perceber que a macroeconomia estuda a
coordenação geral das atividades econômicas, isto é, a forma e os meios
pelos quais uma economia, com milhares de produtos e de agentes, pode
funcionar em harmonia e, na maioria das vezes, encontrar o equilíbrio ou
tender a ele. Contudo, como nem sempre esse equilíbrio geral é atingido,
a macroeconomia também analisa as razões ou causas das falhas dessa
coordenação, bem como as suas possíveis correções, por meio de políticas
econômicas apropriadas. Essas falhas se manifestam por desequilíbrios,
tais como instabilidade do nível de preços, do balanço de pagamentos e
do crescimento da renda com repercussões na oferta de emprego. Diante
dessas falhas, temos a condução da política econômica como norteadora
dos objetivos que um governo pretende traçar para sua sociedade.

A política monetária enfatiza sua atuação sobre os meios de pagamento,


títulos públicos e taxas de juros, modificando o custo e o nível de oferta
do crédito. O Banco Central costuma realizar diversos empréstimos,
conhecidos por empréstimos de assistência à liquidez, às instituições
financeiras, visando equilibrar suas necessidades de caixa diante de um
aumento mais acentuado de demanda por recursos de seus depositantes. A
esse tipo de instrumento dá-se o nome de operação de redesconto.

Acentuamos que a política fiscal centraliza suas preocupações nos


gastos do setor público e nos impostos cobrados da sociedade, procurando,
por meio de maior eficácia no equilíbrio entre a arrecadação tributária e as
despesas governamentais, atingir determinados objetivos macroeconômicos
e sociais. Se o governo elevar a cobrança de impostos das empresas, duas
importantes repercussões estão previstas: redução dos resultados – o que
torna o capital investido menos atraente –, e também menor capacidade de
investimento, por acumular menores fluxos de caixa, tornando a empresa
mais dependente de empréstimos para financiar sua atividade.

Já a política cambial está baseada na administração das taxas de


câmbio, promovendo alterações das cotações cambiais, e, de forma mais
abrangente, no controle das transações internacionais executadas por
um país. É fixada, em geral, para facilitar as necessidades de expansão da
economia e promover seu desenvolvimento econômico.

Apresentamos, ainda, as falhas de mercado. Estas requerem, de uma


forma ou outra, a presença do Estado na economia, que atua, ora por
intervenção legislativa, ora por intervenção por política econômica, no
exercício de suas funções. Destacamos informações acerca da economia
monetária, a exemplo de oferta e demanda por moeda, bem como a
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ECONOMIA E MERCADO

relevância que a moeda exerce na economia capitalista. Vimos que ao longo


da História os indivíduos realizavam as trocas para satisfazer às próprias
necessidades, e a moeda como conhecemos hoje não era importante;
vários bens desempenharam seu papel, porém com várias restrições. Com
o avanço das sociedades e a chegada do capitalismo, a multiplicação das
trocas fez com que nascessem outros meios de pagamento. O ouro e a prata
transformaram-se em moeda, e depois surgiu a moeda representativa.

Inicialmente, os meios de pagamento utilizados traziam consigo o lastro;


depois, tal ideia foi abandonada devido à possibilidade da multiplicação dos
meios de pagamento, ainda que de forma bastante simples e incipiente,
mas que ofereceu condições de o sistema capitalista desenvolver o sistema
bancária e, a partir daí, o próprio sistema monetário.

No sistema monetário, a moeda de uma economia é tratada, em termos


técnicos, como meio de pagamento e, portanto, de maior complexidade. Os
meios de pagamento convertem-se em moeda manual e moeda escritural,
e o relacionamento do público com tais instrumentos monetários impacta
diretamente as condições de produção, distribuição, consumo e acumulação
em uma economia baseada na moeda.

Como guardião do sistema, temos o Banco Central, autarquia responsável


pela emissão do papel-moeda e pela garantia da liquidez do sistema. Tal
instituição tem relacionamento direto com os bancos comerciais, que
multiplicam os meios de pagamento ao terem a prerrogativa de criarem
moeda escritural, dadas algumas limitações impostas pelo próprio sistema
e mesmo por seu principal fiscalizador.

Exercícios

Questão 1. (ENADE 2012) O Brasil produz e distribui cerca de 44 milhões de metros cúbicos de água
por dia. Destes, 15 milhões são coletados através de redes gerais, mas apenas 5 milhões de metros cúbicos
são retornados ao meio ambiente com tratamento adequado. Cerca de 39 milhões de metros cúbicos de
água não são retornados com tratamento, sendo, em grande parte, despejados in natura no solo ou em
cursos d’água. O volume de água que, a cada mês, é distribuído para consumo e que não retorna ao ciclo
natural com o tratamento adequado equivale à metade do volume de água contido na Baía da Guanabara.
A cada ano, esse volume tem a ordem de grandeza equivalente a seis baías da Guanabara.

As consequências mais conhecidas da falta de redes de água e de esgoto manifestam-se na forma


de uma proliferação de doenças gastrointestinais que sobrecarregam o serviço de saúde pública. Essas
doenças e a mortalidade infantil diminuem o capital humano dos indivíduos mais pobres.

TUROLLA, F. A.; OHIRA, T. H. Disponível em <http://www.sober.org.br>. Acesso em 17 jul. 2012 (adaptado).

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Unidade III

Considerando o texto apresentado, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.

I. As consequências a que se referem os autores no texto acima podem ser denominadas como
externalidades e constituem falhas de mercado.

PORQUE

II. O uso de mecanismos de regulação é recomendado como forma de eliminar falhas de mercado.

Acerca dessas asserções, assinale a opção correta.

A) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I.

B) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II não é uma justificativa da I.

C) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.

D) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.

E) As asserções I e II são proposições falsas.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da questão

Justificativa: o fornecimento de água feito de maneira insuficiente e inadequada caracteriza


uma falha de mercado, já que resulta em externalidade negativa (despejo de água não tratada no
ambiente e proliferação de doenças gastrointestinais na população) que requer a ação interventora
do Poder Público.

A ação reguladora do Estado é requerida quando há externalidades negativas na produção ou no


consumo de determinado bem ou serviço. Essa intervenção é ainda mais urgente quando há riscos para
a sociedade em geral.

Assim, nota-se que a asserção II não justifica a asserção I.

Questão 2. Entendendo a moeda como instrumento para intermediar as transações econômicas e


tendo em mente suas funções, julgue as afirmativas a seguir:

I. A moeda é usada como reserva de valor, pois é o ativo com maior liquidez na economia.

II. A moeda é utilizada como unidade de conta, pois é aceita pela coletividade, possibilitando que
todos os bens, serviços e fatores de produção sejam expressos em unidades monetárias.

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ECONOMIA E MERCADO

III. A moeda é utilizada somente para intermediar o fluxo de bens, serviços e fatores de produção.

IV. A moeda é utilizada como meio de troca, o que facilita as transações de bens, serviços e fatores
de produção.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I, II, III e IV.

B) II e III.

C) I, II e III.

D) I, II e IV.

E) III e IV.

Resolução desta questão na plataforma.

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Livro-Texto - Unidade IV

Economia e Mercado (Universidade Paulista)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por nenhuma faculdade ou universidade


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Unidade IV

Unidade IV
7 REGIME DE METAS PARA INFLAÇÃO

Entender o regime de metas para inflação implementado em diferentes economias durante a década
de 1990 é compreender uma mudança de postura dos governos e, principalmente, da autoridade
monetária quanto à adoção da política monetária, que passa a ser pautada na busca de estabilidade de
preços e na transparência de todo o processo. Isso foi feito para obter maior credibilidade por parte da
autoridade monetária junto à sociedade para que os reais objetivos da autoridade sejam conquistados.

Há dois pressupostos principais do regime de inflation targeting. O primeiro é relacionado à inoperância


do monetarismo de Friedman e à crença de que políticas monetárias ativas são fortes o bastante para
impactar variáveis reais da economia como aquele teórico acreditava, a saber: nível de produto e de
emprego. A realidade econômica de agora revela efeitos inócuos quando do uso de políticas monetárias
expansionistas, pois os agentes formam suas expectativas, não são ingênuos como antes.

O outro pressuposto, que de certa forma não está dissociado do primeiro, é o seguinte:
independentemente da influência provocada pela política econômica, existe nas economias uma taxa
natural de desemprego que é determinada tanto por fatores reais como institucionais.

Se o monetarismo até então vigente parece não mais apresentar importância em termos de
formulação de política econômica, tal regime receberá forte influência dos economistas teóricos da
escola novo-clássica e suas hipóteses das expectativas racionais. Como os agentes econômicos detêm
informações, mesmo que assimétricas, é com elas que criam suas expectativas quanto às reais razões da
adoção da política monetária (por parte do formulados) e, a partir daí, tomam suas decisões com relação
à moeda e aos investimentos. Como bem explica Carrara e Correa (2012, p. 443),

A escola de pensamento novo-clássica consolidou-se durante a década de


1970, quando inúmeras críticas abalaram o consenso keynesiano, que havia
predominado na macroeconomia durante as décadas de 1950 e 1960. Robert
Lucas, Thomas Sargent e Neil Wallace foram os precursores dessas críticas e
de algumas novas hipóteses introduzidas pela referida escola, destacando-se
a aversão às ideias dos keynesianos de intervenção macroeconômica e a
não concordância com a caracterização dos instrumentos utilizados pelos
agentes para formarem suas expectativas, postulada por Friedman. Ou seja,
os novo-clássicos rejeitavam a ideia das expectativas adaptativas, tanto que
no seu lugar propuseram a hipótese das expectativas racionais. Por outro
lado, incorporaram dois elementos cruciais do monetarismo: a hipótese da
existência de uma taxa natural de desemprego e a concepção monetarista
de que a inflação é um fenômeno essencialmente monetário.
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ECONOMIA E MERCADO

Para os teóricos da escola novo-clássica, a política monetária é ineficaz para afetar variáveis
reais da economia pelas seguintes razões: os agentes econômicos formam suas expectativas com
bases racionais; existe uma inconsistência temporal da política monetária; e o viés é inflacionário.
O que isso significa? Que a autoridade monetária anuncia uma direção da política monetária,
se expansionista ou contracionista e, com base em tal nota, os agentes econômicos formulam
suas posições – reação à política – ancorados no registro. Bastaria então à autoridade monetária
realmente adotar a postura anunciada, sem criar desconfiança por parte do mercado de como
agirá. Isso tem uma ligação direta com a questão da credibilidade a ser conquistada pela
autoridade monetária para que seus objetivos logrem êxito. Do contrário, se não adotar a postura
que informou aos agentes, o mercado reagirá de forma oposta aos objetivos pretendidos e a
reputação piora o quadro da economia.

A adoção de tal regime baseia-se no reconhecimento fundamental de que a meta da política


monetária seja a manutenção de níveis baixos de inflação e que sejam estáveis no tempo: é uma questão
de clareza em termos de objetivos. Mais do que isso, faz com que a autoridade monetária assuma um
compromisso, inclusive institucional, na busca de estabilidade.

Nesse contexto, sabemos que esses compromissos relacionam-se à inflação, que deve ser baixa e
estável, mas quão baixa? Qual estabilidade manter? É aqui que uma meta numérica para inflação vem,
anunciada, bem como o tempo necessário para alcançá-la. Segundo Carvalho et al. (2007, p. 140),

Tal estrutura de política monetária, segundo defensores do regime


de metas de inflação, aprimora a comunicação entre o público e o
setor empresarial e os mercados, por um lado, e os policy-makers, de
outro. Também proporciona disciplina, prestação de contas ao público,
transparência e alguma flexibilidade à política monetária. A chamada
credibilidade é fundamental na condução da política monetária para
evitar problemas relacionados à inconsistência temporal, ou seja, busca
resultados imediatos e temporários em termos de nível de produto em
detrimento de perdas duradouras. Neste sentido, a adoção de um banco
central independente proporcionaria uma maior credibilidade junto
aos agentes econômicos e sinalizaram um maior comprometimento da
autoridade monetária com a baixa inflação.

Observação

Desse modo, vimos que o compromisso é numérico e temporal.

E qual será o instrumento de política monetária a ser utilizado para conquistar o nível de
inflação desejado? Trata-se da taxa básica de juros, que atuará de forma a fazer com que a inflação
tenda a convergir para a meta estabelecida. Contudo, por essa vertente, a administração da taxa
de juros da economia deve estar conforme as condições de mercado e não deve interferir no bom
funcionamento do mercado de bens, a não ser que este esteja provocando inflação, algo totalmente
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Unidade IV

contrário aos objetivos da política monetária. Para os adeptos desse regime, a política fiscal deverá
estar subordinada aos objetivos e compromissos da política monetária, e não o inverso. Como
sabemos, os efeitos expansionistas ou contracionistas provocados em uma economia pela política
fiscal são mais ágeis do que os da política monetária. Com essa mudança de postura e com a visão
e alcance de longo prazo, a eficácia da política monetária dependerá da transparência na condução
da política e de seus mecanismos de ação a serem executados ao longo do tempo. Isto requer
melhoria na comunicação entre autoridade monetária e coletividade de forma geral para que todos
estejam alinhados.

Quanto à transparência e comunicação, o uso da mídia, não só impressa, é essencial. Por exemplo:
a autoridade monetária deve fazer a publicação de relatórios com os dados históricos dos níveis de
inflação, ressaltando os instrumentos de política monetária que foram usados para obtê-los. Nessas
comunicações, o foco está na apresentação das razões técnicas e nos reais motivos de a autoridade
monetária tomar este ou aquele caminho, a fim de que a sociedade siga o mesmo rumo.

Quando o Banco Central vem a público esclarecer sua posição, sempre o faz para avisar a
sociedade de que manterá a mesma trajetória de taxa de juros (caso a inflação esteja perto da meta)
ou se deverá mudar de rota – em caso contrário. Se o plano falhar, o Banco Central explica quais
os motivos que fizeram a inflação fugir da meta estipulada e depois anuncia a rota de correção.
Muitas vezes, a o erro está na própria política econômica adotada, suas formas e períodos, o que
fará com que a autoridade monetária reconheça junto ao público que errou em suas previsões e
tomadas de atitude.

Aplicando tais medidas, a autoridade monetária, ao assumir compromissos com a sociedade, terá
que deixar de atuar de forma discricionária e apenas a seu intento. Assim, a margem de manobra para
que a autoridade monetária traia a sociedade parece diminuir. Pelos teóricos da escola novo-clássica
e adeptos do regime de metas de inflação, vieses inflacionários sempre são criados quando o órgão
competente não adota a política econômica da forma como foi anunciada, portanto, ferem a
credibilidade de sua atuação e da política. Então, incrédulos, os agentes econômicos tomam suas
decisões, independentemente da política econômica. Qual o resultado? Política econômica com um
objetivo e sociedade com outro.

É na questão da credibilidade e reputação que reside a tese da independência do Banco Central.


Vejamos o que destacam Carrara e Correa (2012, p. 445)

Tem como base de seu desenvolvimento o trinômio – credibilidade,


reputação e transparência –, estabelecido por alguns estudiosos da teoria
novo-clássica, e encontrou grande respaldo em países desenvolvidos.
A proposta das metas inflacionárias, por sua vez, surgiu como um
desdobramento da tese da IBC, e sua motivação inicial se encontra na
formulação do problema da inconsistência temporal, originalmente
realizada por Kydland e Prescott.

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ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Sobre a tese da independência do Banco Central, convidamos a efetuar


a leitura do seguinte artigo:

SICSÚ, J. A tese da independência do Banco Central e a estabilidade de


preços: uma aplicação do método Cukierman à história do FED. Estudos
Econômicos, São Paulo, USP, 1996. Disponível em: <http://www.revistas.
usp.br/ee/article/viewFile/116616/114203>. Acesso em: 7 jan. 2018.

Então, o que é necessário para que o regime de metas seja efetivo?

Primeiramente, é preciso escolher uma meta que seja pontual ou mesmo de uma banda.
Uma meta estabelecida pode ser mais bem compreendida pela população diante do anúncio
de um número específico, no caso um percentual de inflação aceitável e requerido, e o uso de
bandas não é tão simples. Nesse expediente, o anúncio não se faz apenas com um número, ou
um nível, se preferir, mas sim com um intervalo de aceitação, com teto máximo e teto mínimo.
Enquanto a primeira opção é mais palatável no quesito público, engessa a política monetária em
termos de compromissos críveis. Já a segunda alternativa permite o inverso: é mais difícil de a
sociedade compreender e seguir os compromissos institucionais, mas promove maior flexibilidade
à autoridade monetária quanto ao manejo da política econômica, notadamente a monetária, em
direção aos objetivos firmados.

Depois, é preciso escolher o período para a meta ser alcançada. A autoridade monetária tem algumas
opções: a adoção de metas curtas, digamos anuais, representa uma condição maior de compromisso por
parte da autoridade monetária quanto à estabilidade dos preços. Nesse caso, a autoridade monetária
busca credibilidade e abre mão de flexibilidade. Se a opção for pela adoção de metas em horizontes
temporais mais alongados, possíveis choques endógenos ou exógenos contra a inflação podem ser
amenizados, pois o Banco Central optou pela flexibilidade em vez de reputação, não que esta também
deixe de ser considerada pelo mercado.

Por fim, mas não menos importante para que o regime de metas de inflação seja efetivo, é vital
definir um índice de preços a ser adotado como referência para a meta. Então, há algumas opções,
ou a autoridade monetária optará por um índice do tipo preços ao consumidor, no caso, um índice
cheio, ou adotará um núcleo de inflação – core inflation: “esta opção exclui do índice de preços
ao consumidor os itens que causam perturbações transitórias ou autocorrigíveis e que têm pouca
relação com os movimentos mais permanentes de preços” (CARVALHO et al., 2007, p. 141). Aqui
também temos um conflito de escolha (trade-off): o core inflation tem a vantagem de expurgar da
inflação choques temporários e oferece à autoridade monetária condições mais certeiras quanto
à conquista da meta fixada, abrindo mão de certa credibilidade por causa do entendimento da
população quanto à composição do índice. Há uma questão de percepção: o Banco Central pode
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Unidade IV

estar correto no tocante à meta para inflação, estar na trajetória correta e a sociedade ainda sentir
seus efeitos, em caso de sua existência. Essa interpretação pode causar confusão e a perda de
credibilidade da autoridade monetária.

No Brasil, tal regime foi adotado quando o governo de Fernando Henrique Cardoso e sua equipe
econômica sofreram fortes desvalorizações da moeda, o que ocorreu por causa de ataques especulativos
contra o Real e seu programa de estabilização em condições de economia aberta.

As metas são propostas pelo ministro da Fazenda, mas decididas e


anunciadas pelo Conselho Monetário Nacional, que é constituído pelo
ministro da Fazenda, ministro do Planejamento e o presidente do Banco
Central. Além do centro da meta, expresso pela variação do Índice de Preços
ao Consumidor Amplo – IPCA, calculado pelo IBGE, o CMN determina o
intervalo de tolerância adotado, que tem variado em 2% e 2,5% acima e
abaixo da meta central, de modo a permitir algum grau de flexibilidade à
política monetária. Foi delegada a responsabilidade pelo cumprimento das
metas de inflação ao Banco Central do Brasil (CARVALHO et al, 2007, p. 142).

Saiba mais

BRASIL. Decreto nº 3.088, de 21 de junho de 1999. Estabelece a


sistemática de “metas para a inflação” como diretriz para fixação do regime
de política monetária e dá outras providências. Brasília, 1999. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3088.htm>. Acesso
em: 9 jan. 2018.

No âmbito do Banco Central do Brasil, estão a cargo de seus dirigentes as decisões acerca da política
monetária, acenando certa independência deste órgão, mas não de forma totalmente declarada. O
que se vivencia em termos de economia brasileira moderna é que tais decisões não sofrem influência
política por parte do Governo Federal, sendo certo que as decisões de política monetária são adotadas
em razão de técnica econômica e racionalidade. Por seu turno, o Banco Central usa o Comitê de Política
Econômica (Copom), e o Banco Central faz parte de sua diretoria. Desde de que foi instituído, em
meados de 1996, os objetivos do Copom são:

• implementar a política monetária;

• definir a meta da taxa Selic e seu eventual viés;

• analisar o Relatório de Inflação.

Para cumprir com seus objetivos, os membros do Copom se reúnem a cada 45 dias, efetuam análise
do comportamento da economia do último período, fazem suas projeções para o período seguinte com

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ECONOMIA E MERCADO

base nas informações do passado e do presente e tomam suas decisões. Tais decisões serão veiculadas
pela mídia, depois são formalmente trazidas às claras à sociedade por meio de suas atas.

Saiba mais
Para verificar todas as atas das reuniões do Copom, leia:
<https://www.bcb.gov.br/?ATACOPOM>.

Em contrapartida, o governo delegou as decisões de política monetária,


ou seja, o poder de determinar a taxa de juros básica da economia, aos
dirigentes do BCB. O Comitê de Política Monetária – Copom – que é
formado pela diretoria do Banco Central, se reúne periodicamente (45 dias)
para estabelecer a taxa de juros, a taxa Selic, que considera adequada ao
cumprimento da meta de inflação. Além de determinar a taxa de juros, o
Copom estabelece também o chamado viés – que pode ser de baixa, de
alta ou neutro. Oito dias após a reunião do Copom, o site do banco central
disponibiliza a minuta da reunião realizada, que contém o sumário da
discussão do Copom e as decisões tomadas quanto à definição da taxa
de juros básica. Ao fim de cada trimestre, o Copom publica o Relatório da
Inflação, que provê informações detalhadas sobre a conjuntura econômica
do País, assim como suas projeções para a taxa de inflação, que são levadas
em conta pelo Copom nas reuniões em que é definida a taxa de juros
(CARVALHO, 2007, p. 142).

7.1 Políticas de estabilização

Tratar das políticas de estabilização da inflação da economia brasileira requer estudar um vasto
período, pois a inflação no Brasil sempre foi um problema. Para tal, iniciaremos pela década de 1980,
mostrando como os governos brasileiros adotaram as mais variadas formas de controle da inflação.

A década de 1980 encerraria o período do regime militar, que persistiu no Brasil por longos anos.
A passagem de um governo militar para um presidente civil (José Sarney foi empossado em março de
1985) impulsionaria a Nova República, que se constituiria em um novo ciclo histórico. Sarney inicia seu
governo com a equipe econômica, composta de Francisco Dornelles como ministro da Fazenda e João
Sayad no Planejamento, adotando posicionamento de austeridade sob a bandeira “é proibido gastar”
(BRUM, 2000, p. 403).

Sob seu governo, o primeiro plano de estabilização foi o Plano Cruzado, executado em fevereiro de
1986. De raiz heterodoxa, a ideia central desse plano era que a inflação brasileira era inercial. As principais
medidas do Plano Cruzado foram: “congelamento de preços e salários e reforma monetária, com a
alteração do nome da moeda de Cruzeiro para Cruzado, passando então a representar, respectivamente,
Cr$ 1.000,00 e Cz$ 1,00” (SILVA; LUIZ, 2010, p. 120-121).
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Unidade IV

A desindexação da economia ensejou a substituição das Obrigações Reajustáveis do Tesouro


Nacional (ORTN) pelas Obrigações do Tesouro Nacional (OTN). O Pis-Pasep e o FGTS, lançados durante o
período militar, preservaram reajustes como uma espécie de proteção contra a inflação ainda existente
(FURTADO, 2000). O resultado imediato foi deflação nos primeiros meses do Plano. A inflação do mês de
fevereiro foi de 22%, em março, -1%. Contudo, em fins de 1986, a inflação volta a subir por causa da
elevação do déficit público, “atingindo 7,6% em dezembro” (BAER, 1995, p. 169). Liberando preços de
alguns produtos, congelando o salário mínimo e revendo formas de cálculo da inflação para o próximo
período, em novembro de 1986 o governo lança o Plano Cruzado 2, com vida curta, chegando ao
colapso em fevereiro de 1987, com inflação acelerada e marcando 16,82% ao mês.

Em um quadro de desaquecimento da economia e prolongada estagnação econômica, pressão


inflacionária e elevação do déficit público, queda nas reservas internacionais e decepção por parte
da população, a equipe econômica é substituída, com Luis Carlos Bresser-Pereira à frente da pasta
ministerial. Assim, em junho de 1987, encontrando certa resistência por parte da sociedade, é lançado
o Plano Bresser, que também contava com o congelamento de preços e salários, mas por um período
menor, de aproximadamente três meses, diferentemente do anterior, que propunha nove meses.

Outra frente de ataque do plano seria o déficit público: o intuito era diminuí-lo para 2% do PIB até o
fim de 1987. Na tentativa de frear o consumo, as taxas de juros foram mantidas elevadas, em patamares
superiores ao da inflação, para incentivar poupança por parte dos agentes econômicos. Assim, com
medidas tanto ortodoxas como heterodoxas adotadas pelo plano, a inflação, que no primeiro semestre
de 1987 apresentou índice de 186%, passou para 63% no acumulado do segundo semestre do mesmo
ano (FURTADO, 2000).

Independentemente dos índices de inflação terem recuado consideravelmente diante das medidas
aplicadas pelo Plano Bresser, a maior dificuldade encontrada pelo governo foi o controle dos gastos
públicos, portanto, do déficit público. Tais despesas aumentaram por causa do reajuste salarial de
funcionários públicos, repasses de verbas do Governo Federal a estados e municípios e elevação de
subsídios às empresas estatais, diminuindo a arrecadação da Fazenda de modo substancial.

Há que se considerar o que salienta Furtado (2000), de que o fracasso do plano em seu intento deu-se,
principalmente, à falta de apoio político para adoção de políticas restritivas, pois Sarney procurava
apoio do Congresso para aumentar para cinco anos seu mandato na Presidência da República. Em
dezembro de 1987, Bresser-Pereira deixou o governo, e Mailson da Nóbrega o substituiu. Em janeiro de
1989, foi implementado o Plano Verão, que consistiu novamente em congelamento de preços e salários
e nova reforma monetária, dessa vez tendo a moeda novo nome – Cruzado Novo –, e novamente foi
dividida por mil. Assim, Cz$ 1.000,00 passou a ser NCz$ 1,00. A essas medidas soma-se a eliminação de
indexação, exceto para depósitos de poupança como desestímulo ao consumo e restrição à expansão
monetária e creditícia (BAER, 1995).

No decorrer de 1988, Mailson da Nóbrega adotou a chamada política “feijão com arroz”, que significa
a rejeição às políticas heterodoxas de combate à inflação. O objetivo era estabilizar a inflação em torno
de 15% a.m., além de reduzir o déficit do governo de 8% do PIB para 4%.

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ECONOMIA E MERCADO

O Plano adotou o congelamento de empréstimos ao setor público, contenção salarial e redução no


prazo de recolhimento de impostos; além disso, em março de 1988, suspendeu a moratória que fora
decretada em fevereiro de 1987.

A nova Constituição, promulgada em outubro de 1988, elevava os custos governamentais, aumentando


a transferência de impostos para Estados e Municípios, desequilibrando o orçamento federal.

O Plano Verão conseguiu manter a inflação abaixo dos 20% no primeiro semestre de 1988, mas a
partir do segundo semestre a recomposição das tarifas públicas e a promulgação da nova Constituição
elevou a inflação.

Havia elementos ortodoxos e heterodoxos no Plano Verão: os primeiros visavam conter a demanda
através da diminuição dos gastos públicos e da elevação da taxa de juros; os heterodoxos tentavam
acabar com a indexação da economia, por isso novamente fixou o congelamento dos preços.

O câmbio foi desvalorizado em 18% e foi feita uma nova reforma monetária com corte de tres zeros
do Cruzado, que passou a se chamar Cruzado Novo.

O Plano Verão, assim como seu antecessor (Plano Bresser), durou pouco tempo. O governo não
realizou nenhum ajuste fiscal e os déficits orçamentários permaneciam muito altos, provocando total
descontrole monetário. A inflação se acelerou rapidamente, tendo seu pico – de 80% – no último mês
do governo.

Na sequência, houve troca de presidente e outra política – o Plano Collor, com confisco de liquidez.
Fernando Collor de Mello foi eleito nas eleições de 1989 por um partido ainda desconhecido por boa
parte da sociedade. Ele prometia, sobretudo, modernizar o mercado seguindo a tendência mundial
pós-queda do Muro de Berlim e combater a inflação utilizando a experiência proporcionada pela
heterodoxia dos planos anteriores.

8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Os governos não estão somente interessados na estabilidade econômica de preços e de salários. A


intervenção governamental também deve permitir que a economia cresça e se desenvolva, trazendo
benefícios para toda a sociedade.

8.1 Características de uma economia subdesenvolvida

O subdesenvolvimento pode ser estudado sob dois prismas. Um deles trata a questão de maneira
ideológica, como uma mera classificação no tempo das condições sociais e econômicas de um país
comparado a outros, mesmo que de estruturas diferentes. Por este olhar, a caracterização se daria por
análises conjunturais, sem que uma raiz econômica fosse, de fato, concreta. Outra perspectiva reside na
escolha de fatos mais concretos ligados à estrutura econômica e social de uma nação e que permitam
sua classificação como subdesenvolvido. Aos fatos concretos são atribuídos fatores históricos, territoriais
e regionalização, acesso aos meios de produção e geração de renda, para citar alguns.
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Unidade IV

Conforme destaca Souza (2009), a definição de subdesenvolvimento passa pela noção de que o
crescimento demográfico ocorre de forma mais rápida do que o econômico e, ante tal irregularidade,
não tarda para que a renda e a riqueza se concentrem nas mãos de poucos, o que gera, por consequência,
pobreza e miséria para as classes menos favorecidas. Ademais, indicadores sociais e ambientais
apresentam menor qualidade em relação aos de países considerados desenvolvidos, e as estruturas
econômicas, no que diz respeito à inovação tecnológica, não se mostram totalmente adequadas para
que sejam superados tais entraves.

Acentuamos a seguir o que Sandroni (1999, p. 580) diz sobre o subdesenvolvimento:

[...] Situação inferior do sistema econômico-social de um país em relação aos


padrões econômicos das nações industrializadas. Evidencia-se por indicadores
como exportação baseada em produtos primários, forte participação de
produtos industrializados na pauta de importação, importação acentuada
de tecnologia e capitais estrangeiros, persistência de elevadas taxas de
desemprego, baixa produtividade, baixa renda per capita, mercado interno
bastante limitado, baixo nível de poupança e subconsumo acentuado.
[...] O subdesenvolvimento está ligado ao problema da dependência, que
atinge desde países extremamente pobres, como Bangladesh, até países de
considerável nível de industrialização e diversificação do aparelho produtivo,
como Brasil, México e mesmo os ricos Estados árabes produtores de petróleo.

Outra característica marcante do subdesenvolvimento é que os países com tal classificação


expressam instabilidade política e econômica, além de serem altamente dependentes de acesso à
tecnologia e capitais de países ditos avançados. Mesmo que exista produção industrial, a maior parte
do que é produzido tem como destino o consumo interno, ficando a cargo da base exportadora
produtos de baixo valor agregado, notadamente aqueles provenientes do setor primário. Na medida
em que uma maior quantidade de países entra no comércio internacional, a questão da produtividade e
da competitividade impera, desfavorecendo aqueles países cuja pauta exportadora não é diversificada
ou que não seja tão competitiva com relação aos demais. Nesse aspecto, o que dita a regra da
competitividade são custos de produção, preços internos e para exportação, bem como os logísticos,
determinados pela questão territorial.

Junto às questões de produtividade e competitividade, elevadas taxas de inflação, bem como as


dificuldades orçamentárias de governos de países subdesenvolvidos, colocam-se como entraves quanto à
capacidade do setor público para financiar projetos em áreas chamadas estratégicas, ou infraestruturais,
a exemplo de transportes, educação, saúde, comunicações e área social na tentativa de diminuição de
suas desigualdades.

No mundo contemporâneo, uma questão que vem à tona quanto à classificação de países como
subdesenvolvidos e desenvolvidos é que, uma vez classificados como tal, seria para todo o sempre.
O que estamos tentando dizer? É que, uma vez que um país atinja tal índice, isso lhe dá uma marca,
independentemente se por determinação ideológica ou por condições reais de classificação. Da mesma
forma que em algumas épocas a classificação dos países atendia à denominação de centro-periferia, a
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ECONOMIA E MERCADO

literatura econômica passou a adotar uma nova designação: desenvolvido e emergente, em que aos
primeiros dá-se uma conotação permanente e, aos segundos, uma condição não permanente, mas de
possibilidades de conquista ao desenvolvimento.

Observação

Muitas vezes faz-se referência a um país como emergente com o


emprego do termo Big Emerging Markets (BEM).

A denominação centro-periferia é um conceito cunhado pela Comissão Econômica para América


Latina (Cepal) e empregado para descrever um processo de multiplicação do avanço tecnológico na
economia mundial que seja passível de explicar a distribuição de seus ganhos entre os participantes.
Ocorre que, com o avanço do capitalismo industrial e a chamada nova divisão internacional do trabalho,
os ganhos derivados das relações entre diferentes regiões não foram distribuídos uniformemente. Para
Bielschowsky (2000, p. 16),

[...] A tese parte da ideia de que o progresso técnico se desenvolveu de forma


desigual nos dois polos. Foi mais rápido no centro, em seus setores industriais,
e, ainda mais importante, elevou simultaneamente a produtividade de todos
os setores das economias centrais, provendo um nível técnico mais ou menos
homogêneo em toda a extensão dos seus sistemas produtivos. Na periferia,
que teve a função de suprir o centro com alimentos e matérias-primas a
baixo preço, o progresso técnico só foi introduzido nos setores de exportação,
que eram verdadeiras ilhas de alta produtividade, em forte contraste com o
atraso do restante do sistema produtivo.

É, portanto, com base em tal ideia que reside a tese, também desenvolvida pela Cepal, da
deterioração dos termos de troca, pois, enquanto o progresso técnico ocorre nos países ditos já
industrializados, aquelas economias em processo de industrialização estão produzindo bens primários
e seus preços relativos de troca são bastante díspares: a economia da periferia exporta bens de baixo
valor agregado para importar bens de elevado valor agregado, fazendo com que haja transferência
de excedente e de ganhos de produtividade para o centro. Assim, a divisão internacional do trabalho
somente faria acirrar a disparidade entre os polos, visto que o centro apresenta tendência a reduzir
sua taxa de expansão das importações de bens primários conforme seu progresso técnico avança para
a forma poupadora de bens primários.

Retomando as denominações de país desenvolvido e país emergente, a figura a seguir mostra a


posição de alguns países considerando o grupo dos dez que mais pontuaram: será desenvolvido o país
que estiver mais perto do topo.

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Unidade IV

Figura 30 – Classificação de países selecionados em desenvolvidos e emergentes (quem evoluiu ou piorou)

De acordo com a reportagem da BBC Brasil, a metodologia para classificação considerou indicadores
econômicos, financeiros e sociais de 100 países, tanto desenvolvidos quanto emergentes. Após a análise,
a classificação dos países atendeu ao agrupamento dos estatisticamente próximos em termos de
condições apresentadas (NOVO...).

No que diz respeito ao indicador econômico, os quesitos analisados foram:

• demografia, no que tange ao tamanho da população;

• renda per capita;

• produtividade e competitividade oferecidas pelos setores infraestruturais e pelo mercado de trabalho.

O que a metodologia levou em consideração quanto aos indicadores financeiros? No intuito de


avaliar a importância do mercado de ações do país analisado, os quesitos selecionados foram:

• potencial creditício do país avaliado pelo mercado internacional;

• estabilidade monetária;

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ECONOMIA E MERCADO

• participação do mercado de ações como proporção do PIB.

Por sua vez, o indicador social foi formado por:

• Posição do país no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e suas condições de educação,


saúde e bem-estar.

• Índice da Economia do Conhecimento (IEC), de acordo com o Banco Mundial.

• indicador híbrido – que relaciona liberdade civil e direitos políticos.

Saiba mais

Tenha mais contato com o tema economia do conhecimento lendo o


seguinte livro:

VELLOSO, J. P. dos R. (Org.). O Brasil e a economia do conhecimento. Rio


de Janeiro: José Olympio, 2002.

8.1.1 Fundamentos teóricos da economia subdesenvolvida

Conforme destaca Souza (2009), na economia subdesenvolvida, considerada em sua forma mais
simples – chamada primitiva, é possível entender alguns setores, como o de subsistência, de mercado
interno e de mercado externo, e há relações entre eles.

O setor de subsistência é composto de pequenos latifúndios de baixa produtividade e estes são


dedicados à produção agrícola. Ali está concentrada a produção das atividades relacionadas à agricultura
de subsistência, pois a monetização é quase inexistente. O consumo exercido pelo setor é de sua própria
produção, restando apenas uma pequena parte do que foi produzido para abastecimento do mercado
de setor externo, que, de acordo com seu desempenho, pode beneficiar ou prejudicar o dinamismo do
mercado rural, assim como o urbano e o industrial.

Observação

É recorrente, quanto às características indicadas do setor de


subsistência, encontrar alusão ao setor terciário da economia, formado
por desempregados das áreas rurais ou mesmo aqueles que exercem
trabalho ocasional.

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Unidade IV

Quanto ao setor de mercado interno, Souza (2009, p. 18-19) diz que,

[...] Em seu estágio inicial de desenvolvimento, é formado por atividades


ligadas ao atendimento da população residente e ao fornecimento de
insumos e serviços às empresas e pessoas vinculadas ao comércio externo,
como alimentos, matérias-primas beneficiadas, embalagens, transportes. No
processo de desenvolvimento, o setor industrial urbano leva vantagens em
seu relacionamento com o setor agrícola, através da extração do excedente
gerado neste último setor. O setor agrícola apresenta superávits em balança
comercial, porque suas exportações excedem o volume de importações, uma
vez que suas necessidades de consumo são supridas pelo setor de mercado
interno. Esse superávit em moeda estrangeira é utilizado no financiamento
de importações e máquinas, equipamentos e insumos industriais utilizados
no setor industrial urbano.

Figura 31 – Colheita de café no Estado de São Paulo em 1902, caracterizando a economia agroexportadora

A figura a seguir mostra a estrutura de uma economia subdesenvolvida. Contudo, para compreendê-la,
Souza (2009, p. 19) adverte que algumas considerações devem ser efetuadas:

(a) A balança comercial da economia nacional mantém-se equilibrada;

(b) o valor das exportações do meio rural (XR) apresenta-se significativamente


superior ao valor das exportações do meio urbano industrial (XU), pelo menos
nas fases iniciais do processo de desenvolvimento;

(c) o meio rural mantém superávit na balança comercial (XR> MR);

(d) o meio urbano e industrial apresenta déficit em sua balança comercial


com o exterior (XU < MU), pela necessidade de importar bens de capital e
insumos industriais;
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ECONOMIA E MERCADO

(e) o meio urbano e industrial possui um superávit com o meio rural, ou seja,
o valor da produção do meio urbano e industrial destinado ao meio rural
(MUR) supera o valor da parcela da produção do meio rural endereçada ao
meio urbano e industrial (YRU).

XR

Setor
externo
MR

XU MU
YRR Meio rural

YRU
Meio urbano
e industrial
YUR

YUU

Figura 32 – Estrutura de uma economia subdesenvolvida

O que é possível depreender da análise da estrutura anteriormente apresentada?

Podemos notar que a produção exercida pelo setor denominado meio rural (YR) tem três vias de
destino: a primeira é seu próprio consumo, aquele considerado de subsistência devido a atividades
pouco monetizadas, (YRR); o outro é para exportação (XR); o restante é reservado para ser consumido
no meio urbano e industrial (YRU), sendo que a produção destinada a esses mercados (YRU + XR) é
majoritariamente composta de alimentos e matérias-primas com baixo valor agregado. Em termos de
equilíbrio do meio rural, este será conquistado quando as exportações do setor rural forem maiores do
que suas importações e a renda do setor urbano for superior à renda do setor rural. A identidade a seguir
ilustra o que acabamos de afirmar:

(XR> MR) = (YUR> YRU)

Para Souza (2009, p. 20), a equação

[...] diz que, no equilíbrio, o déficit do meio rural com o meio urbano
e industrial (YUR> YRU) fica financiado por seu superávit com o exterior
(XR> MR). Por seu turno, a produção do meio urbano e industrial (YU)
destina-se ao próprio meio urbano (YUU), à exportação (XU) e ao meio
rural (YUR). A produção destinada ao mercado externo e ao meio urbano

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Unidade IV

e industrial (XU + YUR) compõe-se de produtos industrializados e serviços.


O equilíbrio do meio urbano industrial é dado por (XU <MU) = (YUR> YRU),
ou seja, o déficit do meio urbano e industrial com o exterior (XU <MU), no
equilíbrio, fica integralmente financiado por seu superávit com o meio
rural (YUR> YRU). Como o segundo membro das duas equações anteriores
é o mesmo, temos que (XR> MR) = (XU <MU).

Da tautologia (XR> MR) = (XU <MU), pode-se concluir que, em condição de equilíbrio da balança
comercial (X = M), um superávit produzido pelo meio rural com relação ao exterior será igualado ao
déficit externo provocado pelas importações do meio urbano e industrial. Considerando uma economia
em que impere o modelo de substituição de importações, vê-se que a produção e a exportação daquilo
que é exercido pelo meio rural deve financiar as importações exercidas tanto pelos meios urbanos
quanto pelos industriais. Além disso, deve financiar o desenvolvimento desses meios.

Observação

Estamos tratando da extração de excedente por um setor do que foi


produzido por outro: no caso, o excedente é extraído do setor rural em
favorecimento do desenvolvimento daqueles ditos mais avançados.

Várias são as formas de extração do excedente produzido pelo setor rural em favorecimento dos
setores urbano e industrial. Entre elas, temos:

• Elevação da tributação sobre produtos que devem ser importados pelo setor rural e que tenham
como origem de produção os setores urbanos e industriais ou mesmo para aqueles produtos
oriundos do setor exportador, para o caso de importação pelo setor urbano.

• Confisco cambial representado pela quantidade de dólares que é apropriada pelo governo diante
daqueles obtidos pelos exportadores de produtos específicos, a exemplo do que fez o Brasil em
1953 com as exportações de café (SANDRONI, 1999).

• Deterioração dos termos de troca entre setor urbano e industrial, em que o volume de dólares
necessários para importação de bens pelo setor rural é maior do que o exigido para que o setor
urbano importe os bens produzidos por aquele setor.

Saiba mais

Entenda mais sobre a deterioração dos termos de troca lendo a


seguinte obra:

SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

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ECONOMIA E MERCADO

Concebendo que a economia consiga se industrializar via modelo de substituição de importações, as


importações do setor urbano (MU) tendem a apresentar elevação porque esse tipo de indústria depende
de alguns meios de produção manufaturados, bem como bens de capital, que lhe oferecerão condições
de produzir bens de consumo na economia doméstica, interna. Caso as exportações exercidas pelo meio
rural (XR) não indiquem crescimento ao mesmo tempo em que cresce o potencial importador do setor
urbano e industrial, haverá na economia déficits comerciais (X <M), considerados como entraves ao
processo de crescimento econômico. “Desse modo, a expansão das exportações agrícolas e mesmo, de
produtos manufaturados, desde as fases iniciais da industrialização, torna-se indispensável para evitar
estrangulamentos no processo de desenvolvimento” (SOUZA, 2009, p. 21). Para o autor:

Com a expansão da economia de mercado, cai a participação da produção


destinada à subsistência na produção rural (YRR/Y). Em muitas regiões
subdesenvolvidas, isso ocorre principalmente em razão da elevação dos
preços de exportações. Tal participação aumenta no caso de reduções dos
preços dos bens agrícolas exportados, quando cresce YRR e diminui XR. Nas
crises do setor de mercado externo no Brasil, no passado, as populações
voltavam às atividades de subsistência e esse setor expandia-se. Ele funciona
como elemento de estabilidade da economia, amortecendo as crises do
setor de mercado externo e mantendo o nível de emprego do meio rural,
embora com baixa produtividade. [...] A economia estaciona nas crises e
evolui nos surtos exportadores, pelos encadeamentos das exportações sobre
as atividades urbanas e os investimentos que afetam o nível da produção
do setor de mercado interno. A produção destinada ao consumo próprio do
meio rural se reduz, enquanto aumenta a demanda urbana por produtos
agropecuários. O desenvolvimento econômico tende ao setor de mercado
interno e às exportações. Entretanto, essa transformação de estrutura
depende do dinamismo das exportações e de suas ligações com o setor de
mercado interno. Assim, torna-se importante aumentar sua competitividade
pela redução de custos e melhoria da qualidade dos produtos exportados
(SOUZA, 2009, p. 21).

É vital destacar que o setor externo representa a agricultura comercial voltada à exportação, bem
como às atividades comerciais ligadas ao comércio de importação e de exportação da economia urbana.

Observação

O setor externo é caracterizado por atividades atravessadoras, de


prestação de serviços de importação e de exportação a outros setores,
sem que dele haja produção física. É somente um sistema que facilita o
escoamento da produção e o aprovisionamento de bens que as economias
não produzem, mas necessitam importar.

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Unidade IV

Por sua vez, como o setor externo não é produtor, seu dinamismo está completamente dependente
da demanda do mercado internacional no que diz respeito à necessidade de bens primários, de que é
majoritariamente exportador. Como o bom desempenho do setor externo depende dos bons ventos da
economia internacional, os preços de exportação são influenciados por dois fatores: demanda externa
– que impulsiona para cima em época de aquecimento e para baixo em período de recessão –, e pelo
potencial produtivo quanto à oferta de bens pelos setores de subsistência nos países subdesenvolvidos
(excesso de oferta influencia os preços negativamente e os eleva em períodos de escassez).

Para um país com pauta de exportações bastante restrita, ou seja, concentrada em poucos produtos,
há baixa oportunidade de manipulação dos preços internacionais, o que dificulta o desenvolvimento do
setor de mercado interno. Contudo, se a economia diversifica sua pauta de exportações, a situação pode
vir a ser diferente.

8.1.2 Considerações acerca do modelo de substituição de importações

Como bem destaca Sandroni (1999, p. 581), entende-se por substituição de importações o

[...] conceito elaborado por economistas da Cepal para designar um processo


interno de desenvolvimento, estimulado por desequilíbrio externo e que
resulta na dinamização, crescimento e diversificação do setor industrial.
Portanto, é mais que a produção local de bens tradicionalmente importados.

Nesse modelo de crescimento e desenvolvimento econômicos, o elemento essencial da economia


deixa de ser majoritariamente a produção de bens primários para atender à demanda externa, e passa a
ser a atividade industrial na qual a produção e a oferta estão voltadas para dentro.

Figura 33 – Operários italianos em uma fábrica de latas em São Paulo: início do século XX

Podemos dizer tratar-se de um modelo de crescimento voltado para dentro. Entendido ser o
processo de substituição de importações aquele em que a economia doméstica passa a produzir
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ECONOMIA E MERCADO

internamente o que antes era adquirido por importações, é interessante acentuar as características
fundamentais de tal processo:

• Parte significativa de bens de consumo industrializados visa atender ao mercado interno.

• Forte dependência de medidas protecionistas por parte do governo, a exemplo de:

— desvalorização cambial, encarecendo importações e favorecendo atividades exportadoras;

— elevação das tarifas de importações para produtos entendidos pelo governo como os
merecedores de proteção;

— forte presença do Estado na condução da industrialização, com o uso de legislação pertinente


e adequação de suas instituições;

— criação, por parte do Estado, de infraestrutura, a exemplo de energia, água, saneamento e


estradas como forma de escoamento da produção.

Observação

Podemos inferir que, devido ao excesso de protecionismo, as indústrias


criadas através desse modelo tendem a ser mais ineficientes, pois além da
proteção, não contam com uma concorrência expressiva.

Para Souza (2009, p. 153),

Uma das vantagens do modelo de substituição de importações é poder adotar


processos de produção que já deram certo em outros países, possibilitando a
aprendizagem e a geração de técnicas endógenas, ao mesmo tempo em que
a economia passa a produzir para um mercado já existente. A substituição de
importações tem como primeiro objetivo equilibrar o balanço de pagamentos.
Reduzem-se as importações por cotas, licenciamentos, elevação de tarifas e
proibições, assim como através da política cambial.

Adverte, ainda, que:

Uma política racional de substituição de importações extrapola o


argumento da proteção à indústria nacional. Mesmo em relação a um
setor antigo pode se justificar a proteção, se ele demonstrar dificuldades
em enfrentar a concorrência externa, por problemas conjunturais ou
estruturais. De outra parte, não representa o fechamento da economia por
princípio: a característica básica do modelo consiste na flexibilidade e na
capacidade de empregar recursos escassos para importar maior número de
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Unidade IV

produtos. O protecionismo ajuda o país a traçar os destinos da economia


(SOUZA, 2009, p. 153).

Para que o modelo possa levar a economia ao crescimento econômico, exige-se a formação de
poupança interna ou que sejam abertas linhas de crédito, ou por parte dos bancos governamentais ou
daqueles comerciais, como forma de impulsionar os investimentos necessários ao desenvolvimento
tecnológico correspondente ao nível de industrialização. Nesse sentido, o modelo de substituição de
importações coloca-se como alternativa de promoção do crescimento econômico e desenvolvimento
tecnológico como forma de antecipação das condições em que a economia se encontraria somente
no longo prazo.

Via poupança interna ou mesmo financiamentos dos investimentos subsidiados pelo governo,
a economia conseguirá atingir certo nível de base industrial com possibilidade de diversificação da
produção, e as condições produzidas pela economia podem gerar especialização em determinados
setores, que, com sorte, transformam-se em vantagens comparativas para a nação, ampliando sua
competitividade internacional. Se for possível extrapolar o raciocínio para o longo prazo, cada setor
da industrialização diversificada terá condições de produzir para exportação. Com o uso dos recursos
oriundos da base exportadora, de forma gradual poderá haver liberalização de importações devido à
existência de superávit comercial suficiente para pagamento das importações. Nesse ponto, Souza (2009,
p. 154) afirma que ocorreu “a maturidade da indústria”. Agora, com a economia aberta ao exterior, não
mais apenas com vistas às exportações, mas também a importações, temos o aumento da concorrência
e maior disponibilidade interna de bens. Resultado: crescimento do bem-estar da sociedade. A economia
está mais madura e moderna.

Entretanto, como nem tudo é perfeito, pode haver distorções do modelo de substituição de
importações quando adotado de modo irrestrito.

Da mesma forma que pontos positivos são destacados na literatura acerca do assunto, uma das
maiores críticas que o modelo recebe reside no fato de a renda ser bastante concentrada e que, em seu
início, a diminuição da disponibilidade de recursos internos do que haveria no caso de livre concorrência
faz com que os preços aumentem, causando perda de bem-estar para a sociedade devido à elevação dos
lucros empresariais.

Ainda na linha das críticas, é essencial avaliar as questões relacionadas à produtividade e


competitividade da nação, que se apresentam basicamente dependentes das condições internas de
produção. Como a comparação da produção interna com as condições internacionais praticamente
não é permitida – devido à economia fechada –, o que perdura, na maioria das vezes, são projetos de
investimentos com elevados custos e taxas de retorno baixas e muito em longo prazo (SOUZA, 2009).
Como o setor a ser protegido é o industrial, à revelia do primário, a elevação nos custos de produção
produz uma cadeia de subida de preços que afeta o setor primário, diminuindo seu bom desempenho
em relação ao setor externo, pois os preços de exportações também sobem. Como consequência, há
perda de competitividade para este setor e queda nos superávits comerciais, que deveriam ser utilizados
para pagar importações de bens de capital.

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ECONOMIA E MERCADO

Outra crítica que se trava acerca do assunto refere-se aos custos da


proteção: estes aumentam quando o país passa da fase fácil de substituição
de importações (produção interna de bens não duráveis de consumo e seus
componentes) para a fase mais difícil (artigos de consumo intermediários
e de consumo durável); esses custos continuam aumentando nas fases
superiores, quando a economia passa a produzir bens de capital e outras
manufaturas de tecnologia mais intensiva, para os quais as condições de
produção interna não são favoráveis; este último ponto se deve à pequena
dimensão do mercado interno, inexistência de fornecedores oferecendo
produtos de qualidade, com preços competitivos, insuficiência de oferta de
pessoal técnico e de mão de obra mais especializada, o que eleva os salários
a serem pagos (SOUZA, 2009, p. 156).

Pensando especificamente nas economias da América Latina em seu período de industrialização,


o modelo de substituição de importações parte do princípio de ser resultado da interação dinâmica
entre o desequilíbrio externo e as novas demandas de importação resultantes da expansão industrial
promovida pelo capitalismo. Para Bielschowsky (2000, p. 25),

[...] a rapidez e a profundidade do processo como um todo depende, primeiro,


da capacidade de cada economia no sentido de adaptar sua estrutura
produtiva às novas demandas da expansão industrial (o que, por sua vez,
depende do nível de diversificação do sistema produtivo prévio ao início
do processo e do tamanho absoluto dos mercados internos) e, segundo, da
evolução da capacidade de importação da economia.

Retomando a relação entre os diferentes setores da estrutura de uma economia subdesenvolvida


(setor de subsistência, mercado interno industrial, setor de exportação), na situação de longo prazo, a
economia doméstica terá condições de produzir aqueles bens que antes eram importados, a exemplo
dos bens de capital e tecnologia. Souza (2009) declara que essa fase é posterior ao processo de
desenvolvimento.

Em fase mais primitiva, é o próprio setor de subsistência que produz as


manufaturas para seu próprio consumo, através do artesanato e das chamadas
indústrias rurais ou de “fundo de quintal”. Em uma fase posterior, com a
expansão das exportações de produtos primários, esses bens manufaturados
nas próprias fazendas vão sendo gradativamente substituídos por artigos
industrializados importados. Esses bens importados de tecnologia superior, e
mais baratos, deslocam a produção do artesão. Em uma fase mais adiantada,
é a vez de algumas manufaturas importadas cederem seu lugar à produção
nacional, efetuada em escala industrial. Para que isso ocorra, costuma-se
estabelecer forte esquema protecionista, sem o qual a indústria nacional
não teria condições de competir com os produtos importados mais baratos,
de melhor qualidade e com tradição no mercado (SOUZA, 2009, p. 22).

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Unidade IV

No modelo, nada funciona sem a existência do elemento-chave, a demanda externa por produtos
primários. É tal demanda que oxigena o empresário do setor de mercado interno a diminuir gradualmente
a produção de subsistência no produto nacional. Percebe-se um deslocamento do eixo dinâmico da
economia em que o setor de mercado interno passa paulatinamente a ter como foco de sua produção
aqueles bens que antes eram importados e inclusive destinados ao consumo do meio rural.

Surtos ou crises do setor de mercado externo produzem efeitos de


encadeamento de expansão ou de contração do setor de mercado interno.
Quanto maiores forem os multiplicadores da base exportadora, tanto
maiores serão os efeitos de encadeamento do setor de mercado externo no
conjunto da economia (SOUZA, 2009, p. 22).

Independentemente de seus pontos positivos ou negativos, da questão ideológica ou da crítica, qual


será o resultado do processo, ou seu fim, se assim podemos considerar?

Conforme o setor de mercado interno indica desenvolvimento em termos de produção, atreladas a


ele surgem como demanda derivada outras atividades locais, a exemplo daquelas ligadas à prestação
de serviços ou mesmo atividades comerciais ou outras indústrias dedicadas à produção daquilo que
antes era importado e, por naturalidade, pode-se substituir por produção interna. Então, verifica-se
que qualquer investimento que ocorrer no âmbito do setor de mercado interno representa importância
ímpar ao descobrir novas possibilidades de exportações, assim como para o crescimento econômico da
nação. Qual o resultado disso? Quando a economia atingir a maturidade, o desempenho da economia
nacional passa a ser comandado por um conjunto de transformações pelas quais a economia passou e
que afetam o setor de mercado interno, independentemente da performance da base exportadora. Daí
em diante, a economia ingressa em outro estágio.

8.2 Características do desenvolvimento

Vimos que o volume de exportações de bens primários por uma economia subdesenvolvida é vital
para o surgimento ou transformação dessas economias desenvolvidas ou em via de desenvolvimento.
O que irá, de certa forma, diferenciar uma da outra – subdesenvolvida da desenvolvida – é o grau de
industrialização desta última, que necessita de elevados níveis de investimentos, portanto, de capital,
que muitas vezes é produzido no âmbito das exportações de bens primários. Nesse aspecto, conforme
ressalta Souza (2009), como os investimentos são constituídos, em grande parte, por bens de capital
importados, são as exportações que representam a contrapartida da poupança para seu financiamento.
Assim, “[...] há uma mudança no caráter da base exportadora, e foi isso que ocorreu no Brasil após 1950:
as exportações, de fator determinante do nível de renda, passaram a ser o elemento estratégico no
processo de formação de capital” (SOUZA, 2009, p. 23).

Para uma economia já industrializada, a importância de base exportadora tem efeitos sobre o
multiplicador do setor de mercado interno, bem como na necessidade de financiamento de importação
de bens de capital, se assim necessário. O que é crucial perceber é que somente haverá exportação
de bens em duas condições: a primeira é a demanda externa e a segunda, a produção interna com
excedente. O aumento das exportações de bens produzidos internamente injeta recursos na economia
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ECONOMIA E MERCADO

doméstica, que tanto podem ser utilizados para ampliar o consumo interno por bens internos, como
para expandir as condições de aquisição de bens de capital que são importados e, dessa forma, saldos
comerciais positivos impulsionam o acesso à tecnologia, gerando economias de escala e elevação da
produtividade da economia doméstica.

Para Souza (2009, p. 23),

[...] a base exportadora aparece como a causa do crescimento econômico


das regiões subdesenvolvidas, principalmente nos seus primeiros estágios, e
como elemento dinâmico de aumento de eficiência e competitividade em
economias industrializadas. A industrialização surge em uma etapa posterior
e como consequência do desenvolvimento inicial da base exportadora.
Em outras palavras, uma agricultura em expansão e uma base econômica
diversificada representam maiores níveis de renda, que se traduzem em
maior grau de consumo, de poupança e de investimento.

Até que não sejam superados os entraves do subdesenvolvimentismo, a base exportadora estará
restrita a poucos bens agrícolas e, por consequência, seus efeitos multiplicadores estarão instáveis.
Assim, o decolar da economia em desenvolvimento estará na dependência:

• Do crescimento de suas exportações, o que é determinado pelo nível de produtividade e


competitividade da economia doméstica.

• Do grau de integração das cadeias produtivas internas.

• Da estrutura interna de distribuição de renda.

• Da eliminação dos estrangulamentos do desenvolvimento econômico.

Antes de caracterizar o que é desenvolvimento, é essencial saber o que é crescimento econômico:


há tempos, economistas percebem que são imensas as diferenças entre ambos. Se crescimento significa
apenas o aumento da renda per capita, desenvolvimento implica conhecer os beneficiários do aumento
da renda. Em outras palavras, desenvolvimento requer distribuição de renda, para que o crescimento
não seja concentrador ou excludente. Ainda requer respeito ambiental, já que isso está intrinsecamente
ligado às condições de sustentabilidade da atividade econômica.

Há muito os economistas discutem as diferenças entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento.


O debate nasceu da percepção de que, apesar das elevadas taxas de desempenho econômico, vários
países denotavam baixos níveis de qualidade de vida de seus habitantes. Essa análise fez com que
os economistas elaborassem outras medidas de mensuração que não as meramente quantitativas
de produção ou de “crescimento”. Quer dizer, buscou-se entender o que poderia determinar padrão
de qualidade de vida, e então se estabeleceu que esse padrão seria mensurador do desenvolvimento
humano (incluído aí o desenvolvimento econômico); a partir daí, foram criados indicadores para que
o padrão pudesse ser definido. De uma forma bem simplificada, procurou-se assimilar não apenas o
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Unidade IV

tamanho do “bolo” (representativo da produção de bens e serviços), mas o quanto ele poderia saciar a
fome das pessoas.

O raciocínio é simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno não significa que ele tem
condições de saciar a fome do povo. Se forem poucos indivíduos, é possível que todos fiquem
satisfeitos. Contudo, se o bolo for pequeno e proporcional aos dependentes, mas um deles ficar com
metade de um pedaço, a satisfação será menor. O mesmo raciocínio vale para um bolo grande e um
contingente enorme de pessoas. Se o bolo crescer e o número de pessoas aumentar mais do que o
crescimento do bolo, é bem provável que a insatisfação persista. Dessa forma, o crescimento seria
dado pelo tamanho do bolo; em contrapartida, o desenvolvimento seria dado pela saciedade das
pessoas ao se alimentarem do bolo. Mais: não seria suficiente o tamanho médio de cada fatia do
bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou não dos indivíduos; seria preciso saber o quanto
de justiça foi utilizado para a divisão do bolo.

8.3 Características do desenvolvimentismo enquanto prática e política

As discussões acerca do desenvolvimentismo nas economias capitalistas surgiram por volta dos
anos 1930, por causa da Grande Depressão. As políticas de desenvolvimento passam a enfatizar a
industrialização via substituição de importações, com incentivos eventuais às exportações. Trata-se,
além disso, de pensar o desenvolvimento econômico das nações liderado por políticas governamentais
que impulsionam a demanda agregada, bem como a produção.

Do ponto de vista da teoria econômica, haverá uma mudança de eixo em termos de análise econômica:
enquanto as economias capitalistas antes da Grande Depressão eram analisadas pelo lado da oferta –
valendo a máxima de Jean Baptist Say de que a oferta cria sua própria procura, bem como a noção de
magic hands smithiana –, com a Depressão e seus efeitos, e no luminar das teorias keynesianas, a análise
econômica volta-se, agora, para o lado da demanda, a demanda efetiva.

Observação

O princípio da demanda efetiva já havia sido discutido por Malthus


antes de Keynes colocá-lo em prática. Kalecki também faz uso do
mesmo conceito.

Pensando no desenvolvimentismo em ambiente de substituição de importações, algumas medidas


governamentais fazem-se necessárias para o intento (SOUZA, 2009), a exemplo de:

• Adoção de barreiras alfandegárias e intervenções no mercado cambial, com a manipulação da


taxa de câmbio e confisco de divisas.

• Controle quantitativo de importações, a fim de evitar a fuga de divisas com gastos supérfluos e
proporcionar mercado para a indústria nacional nascente.

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ECONOMIA E MERCADO

• Incentivos a indústrias específicas através de créditos subsidiados e renúncias fiscais, com a


participação de empresas estatais e de empresas estrangeiras.

• Aumento do poder de compra das populações rurais por meio de políticas agrícolas, envolvendo
crédito, seguro, preços mínimos, estoques reguladores, investimentos em estradas rurais,
comercialização da produção e reforma agrária.

• Implantação de infraestrutura de transportes, energia e comunicações.

Para que a economia consiga atravessar o estágio do subdesenvolvimento para o desenvolvimento,


a política em questão deverá estar centrada em alguns pontos, chamados de estrangulamento, em que
sua solução no curto prazo não é tão simples.

Acentuaremos alguns desses entraves. Um deles está relacionado à dificuldade de a economia


doméstica conseguir diversificar a produção interna e, por consequência, melhorar sua pauta de
exportações para que sejam conquistados saldos superavitários em transações correntes no balanço de
pagamentos. Por que é difícil diversificar a produção interna?

Para que haja diversificação da produção, o empresário deve buscar novas alternativas em produzir
aquilo que o mercado deseja. Mais do que isso: é necessário o tino empreendedor, criativo, arrojado e
visionário para verificar e acompanhar o que a demanda está esperando de sua produção. Não apenas
a demanda interna, mas em especial a internacional. Em um ambiente de economia no qual as relações
internacionais não são tão fortes, o acesso a novos meios de produção e novas formas de invenção se
apresenta como obstáculo ao empreendedorismo e à criação.

Outros fatores que prejudicam bastante o dinamismo da indústria, em termos de modernização,


residem nos baixos índices de escolaridade da população, causando escassez de qualificação profissional,
o que gera custos empresariais de desenvolvimento profissional. Como a taxa de poupança da economia
também não é tão elevada, a capacidade creditícia fica reduzida, influenciando para cima as taxas de
juros, o que inibe o empresariado na tomada de crédito. Resultado: poucos recursos para investimentos
produtivos, tanto de qualificação técnica quanto de força de trabalho.

Geralmente, é o Estado quem exerce uma ação coordenada do


desenvolvimento e quem procura vencer esses estrangulamentos. Em
fases mais avançadas do processo de desenvolvimento, os principais
estrangulamentos decorrem do esgotamento do modelo de substituição
de importações, em razão da pequena dimensão do mercado interno para
algumas substituições, como bens de capital, da insuficiência de capital e da
concentração da renda (SOUZA, 2009, p. 24).

Souza (2009, p. 24) continua:

A transição de uma economia de subsistência para uma economia


industrializada, com amplo setor de mercado interno, pressupõe a
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Unidade IV

transição de inúmeros obstáculos criados pelo próprio crescimento


econômico. Nesse processo, o desenvolvimento ocorreria por etapas,
começando pela economia de subsistência, passando pelas exportações
e pelas inovações tecnológicas, e terminando pela era do consumo de
massa com altos níveis de bem-estar para o conjunto da população
nacional, a exemplo do welfare state.

Deve-se a Rostow (1974) a noção de que o desenvolvimento ocorre por etapas em que a economia
apresenta a dinâmica como característica. Para ele, o desenvolvimento pode ser visto como um processo
de evolução de economia de subsistência, primitiva, a uma forma mais avançada, com tecnologia
avançada e de consumo de massa. O pensamento rostowiano está enraizado em considerações de que
nações insuficientemente desenvolvidas conseguem superar seus entraves até conseguir alcançar o
desenvolvimento econômico dito satisfatório (SARMENTO, 2008). O modelo de desenvolvimento estaria
dividido em cinco etapas:

• Primeira etapa: economia predominantemente agrícola, na qual a maior parcela da população


está empregada nesse setor. Devido à baixa tecnologia de produção e processos rudimentares,
a produtividade é baixa e o quantum produzido é suficiente para atender à demanda com
certa folga. A posse da terra é símbolo de poder e riqueza, e se dá grande importância aos clãs,
famílias e castas.

• Segunda etapa: etapa chamada de criação das pré-condições para o arranco ou para a decolagem
rumo ao crescimento. Aqui, já se verifica avanço tecnológico na produção do setor primário e
alguns insights na indústria ainda modesta e leve expansão da demanda em mercados mundiais.
Há uma demanda social por melhores níveis educacionais devido à ascensão da classe média
e aquela classe dominante tradicional passa a sofrer com a concorrência de grupos industriais
urbanos. O Estado é induzido a efetuar gastos em benefício do bem-estar da população e
se verificam aumentos nos investimentos em infraestrutura de transporte, comunicações e
energia, bem como na produção de matérias-primas estratégicas para a indústria, favorecidas
pelo crédito bancário por causa do surgimento de tal atividade. Pelas palavras de Souza (2009,
p. 247), “criam-se, desse modo, forças endógenas e autônomas para o crescimento econômico
autossustentado” em que prevalece a ideia da valorização da expertise individual do ser humano
quanto ao seu potencial criativo.

• Terceira etapa: fase do arranco ou decolagem propriamente dita, em que foram superados os
entraves até então vigentes. É um período no qual o desenvolvimento nasce com normalidade
e tem-se o surgimento de novas indústrias, tecnologicamente interligadas, com seus lucros
reinvestidos na criação de outras condições de produção. Verifica-se a criação de grupos
empresariais, o que favorece o crescimento do emprego, inclusive no setor de serviços, apoiando
o bom desenvolvimento do comércio e da indústria do setor produtor de bens de consumo. Não
tardam a aparecer as inovações tecnológicas e fabricação de produtos modernos, bem como
acesso a novas fontes de insumos de produção, inclusive no campo agrícola, que agora também
consome bens industrializados.

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ECONOMIA E MERCADO

• Quarta etapa: etapa da marcha para a maturidade, com

[...] um longo intervalo de crescimento econômico continuado, no qual a


economia assimila a tecnologia moderna. Implanta-se a indústria de bens de
capital e a economia aumenta suas exportações de produtos manufaturados,
com tecnologia intensiva. A sociedade passa a gerar internamente grande
parte da tecnologia que adota em seu processo produtivo. Na fase da
maturidade econômica, a economia desenvolve indústrias diferentes
daquelas que geraram a decolagem. É uma etapa em que a economia
demonstra que possui as aptidões técnicas e organizacionais para produzir
não tudo, mas qualquer coisa que decida produzir (SOUZA, 2009, p. 247).

• Quinta etapa: é chamada fase do consumo em massa, na qual a economia é liderada pelos setores
produtores de bens de consumo duráveis e setor de serviços que facilitam a vida da população. Há
ligeira queda de preços da economia devido a melhores condições de oferta e maior competitividade
entre as empresas, fazendo com que o salário real se eleve, permitindo, assim, o consumo em massa.
“Nesta fase, o Estado investe mais na assistência social. É o chamado Estado de Bem-Estar Social,
característico dos anos 1950-1970 nos países desenvolvidos” (SOUZA, 2009, 247).

8.3.1 Desenvolvimentismo no pensamento econômico brasileiro

O desenvolvimentismo, no Brasil, marca uma ideologia econômica que sustenta um projeto de


industrialização como forma de superar entraves até então colocados pela economia agroexportadora, ou
primária, se preferir, bem como aqueles colocados pelo próprio modelo de substituição de importações:
economia fechada e baixa produtividade, para citar alguns.

Bielschowsky (2000) indica haver, para o Brasil, duas linhas de interpretação acerca do
desenvolvimentismo: uma ligada ao setor privado e outra ao setor público. No que diz respeito ao
setor privado, a ideia prevalecente era a da proteção aos interesses da classe empresarial, propondo
uma visão nacionalista, enquanto economistas que trabalhavam no setor público apresentavam certa
dualidade: enquanto uns, os não nacionalistas, propunham que as ações desenvolvimentistas deveriam
ser tomadas pelo mercado, a partir dos interesses empresariais, outros, chamados de nacionalistas,
preconizavam a estatização de setores estratégicos, a exemplo de energia, mineração e transporte, além
do favorecimento à indústria de base.

Assim, ilustramos as origens do desenvolvimentismo durante o período 1930-1945, que se consolidaria


na década de 1950 sob dois pilares distintos, mas interligados. O primeiro, ligado ao setor privado, propunha
um projeto de industrialização de forma planejada e que atendesse aos interesses do capital industrial à
época dominante. Aqui forte papel foi desempenhado por dois núcleos de reflexão sobre o tema: CNI
(Conselho Econômico) e o Departamento Econômico. Bielschowsky (2000, p. 79) destaca que

Essa pequena elite empresarial vivenciava o que se pode denominar, sem


risco, experiência pioneira em planejamento econômico. No esquema
corporativo do Estado Novo, os líderes empresariais tiveram participação
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Unidade IV

em várias das muitas agências econômicas governamentais que se criaram.


Estabeleceu-se, dessa forma, um fértil cruzamento ideológico entre sua visão
de mundo e as ideias e conceitos desenvolvimentistas que se formavam nos
novos órgãos federais, nos quais se discutia a respeito de comércio exterior,
energia, transportes, indústria siderúrgica e tantos outros temas de âmbito
nacional. O ponto culminante desse momento pioneiro de concepção
desenvolvimentista foi a apresentação, por Roberto Simonsen, em 1944,
do projeto de criação de uma Junta Nacional de Planificação no Conselho
Nacional de Política Industrial e Comercial.

O desenvolvimentismo interpretado pelas ideias de Simonsen (BIELSCHOWSKY, 2000), representando


a classe do setor privado, baseava-se nos seguintes aspectos:

• Uma das formas de dizimar a pobreza seria por meio da industrialização integrada.

• A industrialização brasileira acompanharia um processo de reestruturação que vinha acontecendo


nas economias da América Latina.

• A industrialização somente avançaria com apoio das correções pelo Estado, das falhas de mercado:
para tanto, protecionismo e intervenção estatal seriam indispensáveis.

• A intervenção estatal deveria ir além dos instrumentos triviais de políticas públicas: deveria incluir
investimentos em setores estratégicos.

Pelo lado do setor público, conforme adiantado, havia duas correntes: dos não nacionalistas e dos
nacionalistas. Como bem afirma Bielschowsky (2000, p. 103),

Desde suas origens, nas décadas de 1930 e 1940, o desenvolvimentismo foi


uma ideologia econômica com fortes vínculos com o nacionalismo. Havia
então toda uma inclinação ideológica, por parte da maioria dos adeptos
do projeto de superação do atraso brasileiro pela via da industrialização, no
sentido de desconfiar das possibilidades de se obter um concurso positivo do
capital estrangeiro nesse projeto. Os mais radicais viam o capital estrangeiro
como um bloco monolítico de interesses imperialistas, antagônicos ao
projeto. E, mesmo entre os moderados, predominava a visão de que, pelo
menos nos setores fundamentais para a industrialização (energia, transporte,
mineração etc.), o Estado deveria garantir o controle decisório, deslocando o
capital estrangeiro ou impedindo sua entrada.

De visão não nacionalista, destaca-se Roberto Campos, considerado o economista de maior expressão
no período em que a economia brasileira passava de sua estrutura agroexportadora para a industrial,
agora internacionalizada. Tal projeto de desenvolvimento deveria incluir a questão do planejamento da
industrialização. Propunha que

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ECONOMIA E MERCADO

[...] se deveria procurar contornar a arcaica máquina administrativa


brasileira, incapaz de executar as tarefas do desenvolvimentismo através
da formação de equipes de planejamento e administração voltadas
para a formulação e execução de uma política de investimentos básicos
(BIELSCHOWSKY, 2000, p. 109).

Quanto à visão nacionalista do desenvolvimentismo, a defesa era da constituição de um capitalismo


industrial moderno no País. Para estes, o desenvolvimento seria alcançado pela intervenção por
investimentos estatais em setores estratégicos, admitindo que o governo não deveria esperar boas
intenções dos empresários do setor privado. Conforme destaca Bielschowsky (2000, p. 129),

O grande encontro dos desenvolvimentistas nacionalistas deu-se em meados


dos anos 1950, quando Furtado e Barbosa Oliveira fundaram o Clube dos
Economistas, órgão que reuniu algumas dezenas de técnicos nacionalistas
do Governo Federal e alguns desenvolvimentistas do setor privado.

Vale ressaltar alguns pontos importantes do pensamento desenvolvimentista nacionalista:

• defesa de intervenção estatal na economia;

• políticas econômicas orientadas ao planejamento;

• subordinação da política monetária à política de desenvolvimento;

• adoção, por parte do Estado, de medidas econômicas de cunho social.

Saiba mais

Para saber mais sobre o tema, leia:

BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico


do desenvolvimentismo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000.

Concentre-se no capítulo cinco: “O pensamento desenvolvimentista”.

8.4 Breve história da economia brasileira contemporânea

Não menosprezando outros períodos de igual importância no desenvolvimento da economia


brasileira, vamos assinalar a época recente, de 1990 até hoje. Iniciaremos com a transição entre os
governos Collor de Mello e seu vice-presidente Itamar Franco e a implantação do Plano Real ainda sob
o governo Itamar, mas já mostrando Fernando Henrique Cardoso enquanto ministro da Fazenda, futuro
presidente. Veremos o Plano Real e os dois períodos de mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-

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Unidade IV

1998 e 1999-2002). Nesse aspecto, a discussão está no Plano Real, sua arquitetura e consequências, no
entendimento do processo inflacionário no Brasil, no papel exercido pela política cambial e a diplomacia
do dólar, bem como no novo papel do governo. Os dois mandatos de Lula (2003-2006 e 2007-2010) e o
governo de Dilma também são abordados no contexto político e econômico.

8.4.1 De Collor a Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso

Quando Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo de presidente devido ao processo de


impeachment, deu-se início ao governo Itamar Franco (1992-1994).

Figura 34 – Fernando Collor de Mello no momento em que assina a renúncia ao cargo de presidente da República

Esse novo governo depara-se com importantes acontecimentos na economia brasileira, um deles, na
área política, deveria fazer cumprir um dispositivo constitucional quanto ao plebiscito acerca do regime
instituído no Brasil: a manutenção do regime republicano ou o retorno da monarquia, ainda que sob
a forma presidencialista ou parlamentarista, na qual as urnas apresentam a república presidencialista
como vontade popular. Na esfera econômica, havia o enfrentamento do já conhecido problema: a
hiperinflação. Após algumas tentativas de designar alguém para o cargo de ministro da Economia, o
novo presidente trata de nomear Fernando Henrique Cardoso, primeiramente para o Ministério das
Relações Exteriores, para logo depois assumir o Ministério da Economia. Ele teve a chance de enfrentar
a estabilização econômica com o lançamento de seu bem-sucedido Plano Real, também chamado de
Programa de Estabilização Econômica.

A taxa de inflação, que tinha atingido 2.851,3% em 1993, foi controlada a partir de julho de 1994.
O Plano Real pode ser entendido em duas trajetórias distintas: uma vai da implementação executada
ainda no Governo Itamar e segue até a crise financeira de 1998; a outra iniciando-se em 1999, época em
que ocorre a mudança no regime fiscal e cambial e surge o regime de metas para inflação (NAKATANI;
OLIVEIRA, 2010).

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ECONOMIA E MERCADO

8.4.1.1 O contexto histórico para o Real

Sétima tentativa de estabilização da economia brasileira em mais de dez anos de intenções frustradas,
o Plano Real é considerado por muitos a primeira empreitada bem-sucedida. Todavia, é vital ilustrar o
que ocorria não só na economia brasileira, mas também na mundial.

O crescimento econômico, liderado inicialmente pela economia americana, seguido da Europa e


Japão logo no segundo Pós-Guerra – que vai até os anos 1960 –, começa a apresentar menor força.
Há estagnação, as taxas de crescimento nesses países despencam para 4% a 5% na década de 1960
e a trajetória de declínio continua, nos anos 1980 o PIB está entre 2 e 3%. Por outro lado, as taxas de
inflação, sobretudo na economia americana, cerca de 2% ao ano no início de 1960, passam para mais
de 12% no início de 1980. A solução para o controle da inflação foi o presidente Ronald Reagan, em
1981, aumentar as taxas de juros para 20% ao ano, causando grande crise em países endividados em
dólar, cujos contratos estavam indexados a taxas de juros flutuantes. Resultado: derrocada dos países
latino-americanos, os mais afetados pela medida americana (PAULINO, 2010).

A elevação das taxas de juros nos Estados Unidos provoca crescimento do custo de capital em todo
o mundo e a consequência foi a queda dos lucros das empresas endividadas em dólar. Nesse cenário,
como os custos de produção já haviam subido devido às crises do petróleo da década de 1970, a inflação
brasileira volta a persistir. Com trajetória de queda entre as décadas de 1960 e 1970, a inflação cresce
no início de 1980, chegando, em 1981, a mais de 100% ao ano. Mesmo com as tentativas de debelar a
inflação durante essa década, ela persistia, bem como seu componente inercial, até que às vésperas do
Plano Real o Brasil está novamente ameaçado pela hiperinflação (PAULINO, 2010).

Enquanto países centrais conduzem sua política macroeconômica em busca do crescimento


econômico na década de 1990, no Brasil, a orientação tem como foco a estabilidade monetária. Afinal,
não se poderia perder de vista que o controle da inflação seria mais importante do que qualquer outra
variável, real ou nominal, da economia, a exemplo de crescimento, emprego e distribuição de renda,
que foram deixados em segundo plano. Os sucessivos planos de estabilização anteriores ao Plano Real
apenas frearam temporariamente a marcha ascendente dos preços, que, após curtos intervalos, ressurgia
mais forte e ameaçadora. Com o Plano Real, a espiral inflacionária foi definitivamente interrompida.

Conforme destaca Paulino (2010, p. 287),

Há muitas teorias sobre a inflação. Para o que aqui nos interessa examinar,
ou seja, o Plano Real, um aspecto desse debate tem especial relevância. Diz
respeito à relação entre inflação e taxa de câmbio. Mais precisamente: a
inflação é essencialmente um fenômeno interno da economia e se revela
ao mundo por meio das mudanças da taxa de câmbio ou, ao contrário, são
os desequilíbrios externos da economia, que, ao alterar as taxas de câmbio,
desencadeiam internamente o processo inflacionário?

Para os formuladores do Plano Real, a inflação era advinda do desequilíbrio nas contas do governo.
Quanto a isso, vejamos o pronunciamento do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso:
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Unidade IV

A inflação se alimenta do desequilíbrio das contas do governo. Isso, você


que é dona de casa, você, cidadão, sabe com clareza. No seu dia a dia,
você sabe que, quando alguém gasta mais do que ganha e toma dinheiro
emprestado, entra em uma roda-viva que leva ao desespero. Isso era o que
estava acontecendo com o país [...]. Todos os anos eram relacionadas obras e
despesas maiores do que o governo arrecadava. É mais ou menos o seguinte:
em um ano o governo ganhava 70, mas gastava 100; cobria a diferença
tomando dinheiro emprestado, pagando juros ou fabricando dinheiro.
Quando mais deve, mais o governo tem de pedir emprestado e mais juros
paga, e mais dinheiro acaba fabricando, sob a forma de papel-moeda ou
de títulos. Com isso, todo o país perde a confiança na moeda e exige mais
dinheiro pelos produtos ou serviços vendidos (PAULINO, 2010, p. 287).

Diante de tal constatação, é possível notar que o controle dos gastos públicos levaria a economia
brasileira à estabilidade, pois cessaria a emissão de moeda ou de títulos, e as pessoas voltariam a confiar na
moeda, deixando de exigir mais dinheiro pelos produtos ou serviços vendidos. Para Paulino (2010, p. 288),

Essa teoria justificou as três frentes de atuação do Plano Real:

(a) equilíbrio orçamentário no biênio 1994-1995;

(b) sugestões à revisão constitucional: reforma da Previdência Social, reforma


do Estado, privatização dos serviços públicos e de empresas estatais;

(c) reforma monetária. Entre as medidas propostas, a mais importante era a


criação do chamado Fundo Social de Emergência (a atual Desvinculação de
Receitas da União – DRU), que permitiu alterar a destinação constitucional
de 20% das verbas do orçamento para a educação. No Orçamento Geral
da União de 1994, foram realizados cortes de mais de 50% das verbas do
Ministério do Bem-Estar Social; mais de 20% da Previdência Social; 15%
da Ciência e Tecnologia. Nos subprogramas da área social, os cortes foram
ainda mais profundos: bolsas de estudos, corte de 61 milhões de dólares
(31%); sistema de esgoto, menos de 26 milhões de dólares (31%); reforma
agrária, menos 315 milhões de dólares (31%); assistência ao menor, corte de
116 milhões de dólares (20%); pesquisa fundamental, menos 83 milhões de
dólares (25%).

Além disso, o processo de privatização das empresas públicas, iniciado no Governo Collor, foi acelerado
e estendido para novas áreas, como telecomunicações, geração, transmissão e distribuição de energia
elétrica, mineração estatal, inclusive o petróleo. Quanto ao assunto, Araújo (2005, p. 67) salienta que

O programa de privatização do Governo FHC significa passar para mãos


estranhas 500 bilhões de dólares em ativos, em quatro anos, incluindo todas
as ferrovias, os portos, a telefonia, as melhores rodovias, cerca de 90% dos
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ECONOMIA E MERCADO

grandes reservatórios de água doce, todas as hidrelétricas, toda a geração e


distribuição de eletricidade, grande parte do sistema de saneamento, toda
mineração estatal e, provavelmente, a curto prazo, a indústria petrolífera.

Figura 35 – Itamar Franco, em seu mandato, à época do Plano Real

O Plano Real seria implementado em três etapas: inicialmente, com o equilíbrio nas contas do
governo, pois entendia-se que essa era a fonte principal da inflação brasileira; na sequência, criou-se
um padrão monetário estável – Unidade Real de Valor, a conhecida URV; por fim, transformou-se esse
novo padrão monetário em uma moeda pura e sem inflação, o Real propriamente dito (LACERDA, 1999).
Agora vamos entender as etapas do Plano.

A primeira etapa foi a do ajuste fiscal, que contou com o Fundo Social de Emergência. Foi
implementada em 14 de junho de 1993 e foi chamada de Programa de Ação Imediata (PAI). Nessa fase,
de âncora cambial e juros elevados, o foco era reorganizar as contas do governo. Para tal, previa-se
drástica redução dos gastos públicos já naquele ano e a revisão das possibilidades de recuperação de
receitas tributárias, incluídas aqui as dívidas de estados e municípios com o Governo Federal. Houve
maior controle nos bancos estaduais, e os bancos federais deveriam ser saneados. Era preciso ampliar o
processo de privatização de estatais, diminuindo a participação do Estado na economia. Para a equipe
econômica da época, o equilíbrio fiscal era condição necessária para retomar a estabilidade econômica
e, em decorrência, o processo de desenvolvimento tão almejado. Lacerda (1999, p. 199) destaca as
medidas iniciais do Programa de Ação Imediata:

a) Um corte orçamentário de US$ 6 bilhões em 1993, com prioridades


definidas pelo Executivo a serem aprovadas pelo Legislativo.

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Unidade IV

b) A proposta orçamentária de 1994 deveria ser baseada em uma estimativa


realista da receita, ao invés de ser baseada no desejo de quanto o governo
pretendesse gastar.

c) Encaminhamento de Projeto de Lei que limitasse as despesas com os


servidores civis em 60% da receita corrente da União, assim como dos
estados e municípios, o que permitia exercer maior controle dos gastos com
funcionalismo.

d) Elaboração de Projeto de Lei que definisse claramente as normas


de cooperação da União com estados e municípios. Esta lei também
estabeleceria a obrigatoriedade de os estados e municípios estarem em dia
com seus débitos com a União para receberem verbas federais. Esta rigidez
legal foi imposta por ser um elemento essencial para outras partes do PAI e
do Plano Real.

Na primeira etapa, além da ineficiência predominante do Estado brasileiro à época, um dos


principais problemas a ser enfrentado pelo governo era o da escassez de recursos financeiros para
efetuar a manutenção, ou mesmo investimentos, nas áreas sob sua responsabilidade. Na tentativa de
atenuar tal problema, e raciocinando em termos de Reforma Tributária, é lançado um programa contra
a sonegação com empenho fiscalizador quanto à cobrança de impostos devidos por empresas e pessoas
físicas. Entendia-se que deveria haver melhor gestão administrativa do patrimônio da União. O governo
pensava o seguinte: se a sociedade estivesse mais consciente de suas obrigações tributárias, arcando
com o ônus daquilo que se devia efetivamente de imposto, maior quantidade de empresas e pessoas
físicas recolheriam tributos, dessa forma, a carga tributária poderia ser reduzida ao longo do tempo, o
que auxiliaria a comunidade empresarial em termos de lucratividade e competição. Contudo, ficamos
apenas no âmbito das intenções.

Tais iniciativas seriam inócuas se o Governo Federal não alterasse seu relacionamento com estados
e municípios. Neste aspecto, os repasses de recursos da União foram alterados, e novos critérios de
endividamento público foram anunciados. Os bancos estaduais também não ficaram de fora do ajuste fiscal,
e o Banco Central foi o grande fiscalizador quanto ao cumprimento rígido das normas que diziam respeito
ao capital mínimo que tais instituições deveriam manter como garantia de sua solvência. O processo
de privatização também integrou as medidas do PAI. Sobre as privatizações, algo necessário para uns e
controverso para outros, o argumento favorável a seu aprofundamento residia basicamente sobre dois
pontos de vista: primeiro, o Estado deixaria de gastar com a manutenção das empresas ora privatizadas;
segundo, transferindo o patrimônio ao setor privado, que teria condições de fazer investimentos arrojados,
o que contribuiria para o desenvolvimento infraestrutural e econômico do Brasil.

A segunda etapa do Plano consistia na criação de um padrão monetário estável e que traria de
volta uma das funções da moeda, qual seja, a de reserva de valor, que havia se perdido durante o período
da inflação inercial. Esse novo padrão monetário foi denominado Unidade Real de Valor (URV), e serviria
de transição para a introdução de uma nova moeda, o Real.

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ECONOMIA E MERCADO

Qual o papel da URV na economia brasileira? Ela foi referência para empresários formarem seus
preços de mercado, firmarem seus contratos e estabelecerem salários dos trabalhadores, tudo em URV,
sem que as desvalorizações provocadas pela inflação exercessem influência sobre esses novos preços.
Então, a referência de preços para a sociedade era a URV.

A segunda etapa foi a fase preparatória para a “quebra” dos mecanismos


de indexação. Para isso, o governo procurou conduzir a economia para
uma fase inicial de superindexação, e os preços foram definidos em URV
(que acompanhava a cotação do dólar), o mesmo acontecendo com os
salários, as aplicações financeiras etc. Com isso, procurava-se “alinhar
os preços” e, no momento em que todos estivessem definidos em URV
e a inflação estável, (embora em patamar elevado), seria a ocasião de
desindexar a economia, com a substituição da moeda e extinção do
indexador (LANZANA, 2001, p. 119).

Vale destacar o que complementa Lacerda (1999, p. 203):

Patrões e empregados utilizavam este fator de conversibilidade entre URV


e Cruzeiro Real para determinar preços e salários. Por motivos jurídicos, e
também devido à preocupação do governo com o desequilíbrio social, os
salários e os benefícios previdenciários foram os primeiros valores a serem
convertidos para URV, seguidos pelos contratos e preços. Este, porém, não
foi um processo imediato, ele se desenvolveu durante um período de três
meses, de maneira a evitar o surgimento de divergências entre trabalhadores
e patrões, indústria e comércio.

Acrescenta, ainda que,

O objetivo básico do Plano Real, na fase da URV, foi o da neutralidade


distributiva. Para evitar as distorções que comprometeram o êxito de outras
políticas anti-inflacionárias, a equipe econômica considerava essencial que a
conversão dos contratos para a URV não interferisse no equilíbrio econômico
das relações reguladas por esses contratos. No caso dos salários e benefícios,
a aplicação deste critério excluía a conversão “pelo pico”, que traria de volta
a espiral inflacionária depois de uma efêmera euforia de consumo. Como
a conversão “pelo piso” imporia prejuízos aos trabalhadores, a alternativa
encontrada foi a conversão pela média de quatro meses, levando em conta
a periodicidade da atualização monetária dos salários conforme a política
vigente da introdução da URV (LACERDA, 1999, p. 203).

A terceira etapa, Fase Três do Plano Real, deu-se em 1º de julho de 1994, com a exposição de
motivos da Medida Provisória do Real. Acentuavam-se as razões e as regras para a introdução da nova
moeda, uma vez que boa parte dos valores da economia já havia sido convertida para a URV. Assim,
durante um curto período, de 27 de fevereiro de 1994 – quando da implantação da URV, até 1º de julho
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Unidade IV

de 1994 – época da substituição da URV pela nova moeda, o Real, o Brasil conviveu com duas moedas:
o Cruzeiro Real, cumprindo a função de meio de trocas, e a URV, funcionando como unidade de valor.

O valor da URV em cruzeiros reais era definido a partir da composição de


três índices de inflação (o IGP-M da Fundação Getulio Vargas, o IPCA do
IBGE e o IPC da Fipe/USP). Como a variação desses índices se aproximava
da variação histórica da taxa de câmbio em relação ao dólar, a ideia era
promover uma “desvalorização disfarçada” da economia, estabelecendo,
assim, uma equivalência entre a URV e o dólar. Esse foi o primeiro passo
para criar a “âncora cambial” da nova moeda, que seria explicitada na fase
seguinte do plano (PAULINO, 2010, p. 298).

Nesse sentido, a nova moeda seria lastreada nas reservas internacionais, e o regime de câmbio
fixo deveria prevalecer, desde que permitida sua flexibilidade para baixo como forma de promover a
valorização do Real. Daqui em diante, a introdução da nova moeda seria a nova fase a ser seguida em
substituição ao Cruzeiro Real. Assim, com a extinção da URV, deixa de existir um indexador de preços na
economia, estes passam a ser cotados em reais. Segundo Nakatani e Oliveira (2010, p. 30),

Antes de os efeitos da URV terem se completado, o plano foi lançado em


1º/7/1994, com a realização de uma reforma do padrão monetário em que
se converteu a moeda “velha” (Cruzeiro Real) na moeda “nova”, à cotação de
CR$ 2.750,00/R$ 1,00. A âncora fiscal, que ainda estava em construção, foi
substituída por uma âncora cambial, à paridade-limite de R$ 1,00/US$ 1,00,
complementada por uma política de taxas de juros elevadas com o objetivo
de conter a expansão do crédito e garantir a entrada de recursos externos
para o financiamento das demandas do balanço de pagamentos.

No entanto, como sustentação do programa de estabilização e tentativa de afastar o medo do


retorno da inflação, foram proibidos reajustes contratuais com intervalo inferior a um ano (LANZANA,
2001). Do lado monetário, em complementaridade ao lado cambial, medidas contracionistas também
foram adotadas, a exemplo da expressiva elevação do coeficiente de recolhimento compulsório. Então,
determinou-se em 30 de junho que 50% dos depósitos à vista fossem recolhidos aos cofres do Banco
Central e, a partir desta data, os aumentos dos depósitos à vista, em sua plenitude, deveriam ser
convertidos em depósitos compulsórios (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010).

Saiba mais

Sobre o Plano Real, sugerimos a seguinte leitura:

BRESSER-PEREIRA, L. C. A economia e a política do Plano Real. Revista


de Economia Política, São Paulo, v. 14, n. 4 (56), out./dez. 1994. Disponível
em: <http://www.rep.org.br/pdf/56-10.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2018.

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ECONOMIA E MERCADO

8.4.2 Fernando Henrique Cardoso – primeiro mandato (1995-1998)

Com a Medida Provisória que integra a terceira fase do Real, vimos que a valorização da nova
moeda frente ao dólar apresenta o ponto crucial do Plano, qual seja, a âncora cambial como controle
da inflação. A valorização do câmbio auxilia na queda dos preços internos influenciados pelo aumento
das importações. Notam-se dois efeitos: a desvalorização causa crescimento das importações, e estas
ampliam a oferta de bens no mercado interno, impondo, via concorrência, pressão aos empresários
nacionais para que diminuam seus preços de venda. Mais: aumentam a qualidade e produtividade de
sua produção. Quem ganha? Consumidores internos.

Entretanto, o aumento das importações provoca elevação de déficit na balança comercial e obriga o
governo a continuar na trajetória de juros elevados para conter os investimentos e o consumo interno,
bem como captar recursos do exterior, que, ingressando via conta de capitais em balanço de pagamentos,
permite a quantidade de dólares para fazer pagamento de importações vindouras. Tal política de permissão de
ingresso de dólares via juros elevados, portanto, dívida futura, mostra-se insuficiente. Em dezembro de 1994,
o governo já havia gasto aproximadamente 25% daquelas reservas que foram acumuladas à época pré-Real,
conquistadas com algumas privatizações e saldos positivos em balança comercial (FILGUEIRAS, 2006).

A crise do México que ocorre no fim de 1994 ascende a luz amarela aos formuladores da política
econômica brasileira do que poderia acontecer com o país. Para Filgueiras (2006, p. 125-126),

A partir da publicação da crise mexicana, os governantes dos países periféricos,


a exemplo de Brasil, Argentina e México, perceberam a impossibilidade de
continuarem com uma política de ampla abertura comercial e financeira,
pois seria impossível manter o equilíbrio do balanço de pagamentos no
longo prazo se valendo de elevadas taxas de juros, que só atraíam capital
especulativo de curto prazo e endividavam ainda mais o país, acabando mais
rápido com as reservas internacionais.

Anunciada a crise do México, ocorre no Brasil uma fuga de capitais derivada das aplicações dos
especuladores, causando uma perda das reservas internacionais. O cenário piora. Os saldos negativos da
balança comercial deterioram o saldo da conta de transações correntes.

Quando Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República,


em janeiro de 1995, as perspectivas econômicas que se abriam para o país
pareciam ser as melhores possíveis. Através do Plano Real, que ele próprio
liderava enquanto ministro da Fazenda, os preços haviam sido estabilizados,
e muitos pensaram, inclusive eu próprio, que isto significava que o país,
afinal, depois de quinze anos de alta inflação, alcançara a estabilidade
macroeconômica e que, portanto, estava pronto para retomar o crescimento
econômico. O candidato de um partido moderno e social democrático, o
PSDB, liderado por políticos competentes e honestos, comprometido com
reformas orientados para o mercado, assumia o poder, e poderia, assim,
assegurar ao país um equilibrado desenvolvimento econômico e social, sem
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Unidade IV

cair nas malhas do velho populismo, nem do novo neoliberalismo que vinha
do Norte. Entre essas duas alternativas polares, o novo governo surgia como
uma esperança (BRESSER-PEREIRA, 2003, p. 333).

Diante dessa situação, não restou outra alternativa ao governo brasileiro senão agir rapidamente. A
deterioração das reservas internacionais foi motivo mais que suficiente para nova intervenção. Filgueiras
(2006, p. 126) esclarece o momento:

[...] o governo, a partir de março de 1995, apesar de negar qualquer


semelhança do que acontecia no país com o que ocorria no México e na
Argentina, tomou um conjunto de medidas para responder a esse problema,
que desacelerou as atividades econômicas e engatou uma certa marcha
ré na abertura econômica. O elemento central dessa desaceleração foi a
elevação da taxa de juros – que teve reforçado o seu papel de sustentação
da âncora cambial, ao aumentar o poder do país em atrair capitais de curto
prazo – e a criação de uma série de dificuldades para as compras a prazo.

A economia demorou em dar respostas à elevação da taxa de juros, e as reservas internacionais


foram recuperadas somente a partir do mês de agosto daquele ano. A tabela a seguir ilustra a trajetória
da taxa de juros no período 1994-1996.

Tabela 16

Taxa de Juros 1994-1996 (% a.m.)


Referência 1994 1995 1996
Janeiro 42,758 3,375 2,576
Fevereiro 41,992 3,253 2,351
Março 46,417 4,262 2,221
Abril 46,485 4,255 2,068
Maio 47,951 4,248 2,013
Junho 50,620 4,040 1,977
Julho 6,872 4,023 1,929
Agosto 4,170 3,840 1,968
Setembro 3,834 3,325 1,904
Outubro 3,622 3,092 1,859
Novembro 4,072 2,876 1,804
Dezembro 3,797 2,777 1,804
Total 302,59 43,365 24,475

Fonte: Gonçalves (2010, p. 48).

Mesmo com a elevação da taxa de juros, a economia brasileira não teve posição favorável quanto ao
seu objetivo principal (valorização do câmbio e estabilidade), e a equipe econômica lança um pacote de
medidas. Filgueiras (2006) destaca algumas delas:
186
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ECONOMIA E MERCADO

• aumento do compulsório como forma de segurar certa quantidade de dinheiro disponível no


Banco Central e diminuir a possibilidade de aumento da liquidez pelo lado bancário;

• diminuição do crediário, reduzindo o número de prestações nas compras a prazo;

• elevação de impostos de importação para produtos de consumo durável, com a alíquota chegando
a 70% em alguns casos;

• redução do IOF para facilitar a entrada de capitais especulativos e melhorar sua rentabilidade;

• estabelecimento de quotas para importação de automóveis.

O lado fiscal da economia também não ficou de fora dos novos ajustes. Verificou-se o seguinte:

• cortes no orçamento governamental de R$ 9,5 bilhões;

• os salários dos funcionários do setor público ficaram sem reajuste por um período de três anos,
com alteração na data de seu pagamento;

• foram feitos cortes de despesas com as empresas estatais;

• foi anunciada a inclusão da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) no programa de privatizações.

Para Cano (2000), tanto a abertura comercial irrestrita quanto os demais problemas causados pela
condução da política econômica que, de certa forma, havia estimulado o aumento do crédito à época
da valorização do câmbio e estabilização, provocaram elevação no consumo interno. A consequência
foi a elevação de preços já em 1995, causada principalmente pela demanda de bens duráveis. A
facilidade do crédito acarretou um aumento da inadimplência de 8% em 1994 para 12% em 1995, o
que desencadeou uma crise bancária e levou o governo a criar um programa chamado Programa de
Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), que tinha por
finalidade a reestruturação do setor. Tal programa consumiria aproximadamente 5% do PIB.

Saiba mais

Leia mais sobre o Proer em:

BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN). Proer – Programa de Estímulo


à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional.
Brasília, [s.d.]. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/proer.asp>.
Acesso em: 8 jan. 2018.

Vale destacar a interpretação de Filgueiras (2006, p. 128) sobre a intervenção governamental.

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Unidade IV

O objetivo maior da intervenção do Governo foi, antes de tudo, sinalizar


para capitais especulativos que o país corrigiria a trajetória de seu Balanço
de Pagamentos que o estava levando ao mesmo impasse do México. Por
isso, as medidas tomadas apontavam para a reversão dos saldos negativos
na Balança Comercial – diretamente, através de maiores facilidades para as
exportações e maiores dificuldades para as importações, ou, indiretamente,
através de uma redução do nível de atividade econômica, que diminuiria
a demanda por importações e criaria “excedentes” exportáveis. Assim,
o resultado maior pretendido foi alcançado, uma vez que, já a partir de
abril, pouco mais de um mês após o auge da crise, os capitais especulativos
começaram a retornar ao mercado financeiro brasileiro. As reservas voltaram
a crescer a partir de maio – já em agosto atingiram US$ 47,7 bilhões,
ultrapassando o nível inicial de julho de 1994 – e fecharam o ano de 1995
no patamar de US$ 51,8 bilhões.

Recuperando a credibilidade junto ao capital especulativo diante do ajuste fiscal implementado em


1995, foi possível dar continuidade ao Plano Real com gradativa diminuição das taxas de juros, o que
permite, já no primeiro trimestre de 1996, a subtração das compras a prazo e a retomada da atividade
econômica, que assim segue durante todo o período em questão. As contas externas começam a apresentar
melhor desempenho, com aumento das reservas internacionais – devido à resposta significativa na
balança de capitais, que somavam 34 bilhões de dólares em 1996, e as reservas internacionais já eram
bem superiores àquelas do início ao Plano Real (GONÇALVES, 2010).

Lembrete

Desde o início do Plano Real até o acordo com o FMI, o governo


valorizou a moeda nacional na tentativa de captar recursos para suprir os
déficits da balança comercial através de superávits na balança de capitais,
utilizando-se de elevadas taxas de juros para manter esse superávit e evitar
um colapso cambial.

Com tais ações, o que deveria acontecer de 1996 em diante? Haveria estabilidade ou a economia
brasileira sofreria novamente com os acontecimentos no mercado internacional? Parecia que o Plano
Real ainda sofreria em sua trajetória de consolidação, pois várias crises foram anunciadas a partir de
1997, e novas medidas foram necessárias. Nesse aspecto, como ficariam as condições dos acordos com
o FMI? Quais suas consequências?

8.4.2.1 Das crises ao acordo com FMI

Em termos de resultado de crescimento econômico diante dos ajustes efetuados durante o ano de
1995, os números foram favoráveis tanto para o segundo semestre de 1996 quanto para os três primeiros
trimestres de 1997. Gonçalves (2010) destaca que esse bom desempenho da economia deve-se aos
ajustes feitos pelo governo e às eleições municipais, que elevaram os gastos públicos. Isso possibilitou
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ECONOMIA E MERCADO

ao País um crescimento do PIB de 2,7% em 1996 e também deu suporte para a economia ter bons
resultados nos três primeiros trimestres de 1997. Apesar da mudança nos rumos da economia a partir
do quarto trimestre, o País fechou o ano com um crescimento do PIB de 3,6%. Depois, a crise asiática
interrompe essa trajetória de progresso que se apresentava.

O pânico começou em julho, com a desvalorização da moeda da Tailândia,


atingindo em cadeia a Malásia, a Indonésia e as Filipinas; prosseguiu
no mês de outubro, com um ataque especulativo contra o dólar de
Hongcong e a derrubada da bolsa de Nova Iorke, e aprofundou-se em
novembro, com a desvalorização do won coreano. Em dezembro, o FMI
concedeu um empréstimo de US$ 57 bilhões à Coreia do Sul, tendo em
vista o caráter abrangente assumido pela crise asiática – ao contrário da
crise mexicana, que acabou confinada, nos seus efeitos, à América Latina
(FILGUEIRAS, 2006, p. 136).

Com a nova crise, decerto a balança de pagamentos brasileira seria afetada, pois haveria fuga
dos capitais especulativos. Resultado: queda acumulada de 13% nas reservas internacionais em
dezembro. Em 1997, a balança de pagamentos acumulou perda de 168,42% em seu fechamento
anual em relação ao ano anterior, levando-a a apresentar déficit de 7,8% – contra um superávit de
11,4% de 1996. As perdas foram causadas sobretudo pela Balança Comercial, que aumentou seu
déficit em 48,21%. O gráfico a seguir apresenta a trajetória de balanço de pagamentos no período
1995-2003 para os meses selecionados.
15000

10000

5000

0
1995.01
1995.06
1995.11
1996.04
1996.09
1997.02
1997.07
1997.12
1998.05
1998.10
1999.03
1999.08
2000.01
2000.06
2000.11
2001.04
2001.09
2002.02
2002.07
2002.12
2003.05
2003.10

-5000

-10000

-15000

-20000

-25000

Figura 36 – Balanço de pagamentos x tempo (em milhões de dólares)

A tabela a seguir demonstra os resultados das diversas contas do balanço de pagamentos do Brasil
no período 1996-1998.

189
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Unidade IV

Tabela 17

Balanço de Pagamentos Brasileiro (1996-1998)


Saldo em (USS bilhões)
Ano 1996 1997 1998
1 Balanço de transações correntes
1.1 Balança comercial
Exportações 47,7 53 51,1
Importações -53,3 -61,3 -57,5
Saldo -5,6 -8,3 -6,4
1.2 Balanço de serviços
Juros -8,8 -9,5 -11,4
Lucros e dividendos -2,8 5,4 -6,9
Outros serviços -8,8 -11 -10
Saldo -20,4 -25,9 - 28,3
1.3 Transferências unilaterais
Saldo 2,4 1,8 1,5
Saldo da balança de transacões correntes (1+ 2 + 3)
Saldo -23,6 -32,4 -33,2
2 Balança de capitais
Investimentos 10,8 19 28,9
Empréstimos
23,2 6,8 0,8
Amortizações
Saldo 34 25,8 29,7
3 Erros e omissões
Saldo 1 -1,2 -0,1
4 Superávit ( + ) ou déficit ( - )
Saldo 11,4 -7,8 -3,6

Fonte: Gonçalves (2010), p. 51.

A questão a ser feita é: qual seria a atitude a ser tomada pelo governo sem que fosse necessário abrir
mão da política cambial vigente? Novamente, aumento da taxa de juros, que indicaram 43% ao ano,
facilitando o ingresso de capitais. Como se não bastasse, o governo ainda anuncia o Pacote 51. Sobre
este, Filgueiras (2006, p. 137) acentua o seguinte:

Entre as principais medidas anunciadas, destacavam-se, no âmbito das


despesas, a demissão de 33 mil funcionários públicos não estáveis da União,
a suspensão do reajuste salarial do funcionalismo público, a redução em
15% dos gastos em atividades e o corte de 6% no valor dos projetos de
investimento – ambos para 1998. Do lado das receitas, sobressaíam-se o
aumento das alíquotas do Imposto de Renda de Pessoa Física em 10% e a
redução das deduções, a elevação das alíquotas incidentes sobre automóveis
e a elevação dos preços dos derivados de petróleo e o álcool.
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ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

O Pacote 51 possuía 51 medidas econômicas que seriam tomadas pelo


governo para atenuar os efeitos da crise que enfrentava. Leia:

GOVERNO aumenta impostos e anuncia demissões para equilibrar caixa.


Diário de Cuiabá, Mato Grosso, 11 nov. 1997. Disponível em: <http://www.
diariodecuiaba.com.br/arquivo/111197/economia2.htm>. Acesso em: 7 jan. 2018.

Os reflexos iniciais do pacote produziram resultados positivos nas reservas internacionais, pois além
do aumento da taxa de juros brasileira, o FMI emprestou dinheiro aos países asiáticos que estavam
em crise, tranquilizando o mercado internacional. Resolvido novamente o desequilíbrio externo, a
questão fiscal da economia doméstica ainda era preocupante. Então, o governo promove outro ajuste,
assinalando que o regime fiscal buscado desde 1993 ainda não estava concluído. Os primeiros efeitos da
crise já se fazem perceber no Brasil. O desaquecimento da economia provoca queda de 0,51% do PIB no
último trimestre de 1997 – comparado ao trimestre anterior. O desemprego se alastra em 1998 como
resposta às novas elevações nas taxas de juros e dos déficits gêmeos. Os indicadores para 1998 não eram
dos melhores, pois o governo acabara de fazer ajustes para superar a crise asiática, e antes mesmo que
a economia se recuperasse por completo, desponta mais uma crise no mercado financeiro internacional,
que leva o governo a uma nova intervenção já no segundo semestre de 1998 – devido à instabilidade
no mercado financeiro da Rússia (FILGUEIRAS, 2006; GONÇALVES, 2010).

Nesse contexto, outro pacote é adotado pelo governo em setembro de 1998.

A resposta da política econômica do governo foi a mesma de sempre: em


setembro, elevação da taxa de juros básica de 19% para 29% e, logo depois,
para 49% – depois da concessão de facilidades tributárias para o capital
estrangeiro – e, em outubro, um novo pacote fiscal, para o período de 1999-
2001, com cortes de despesas e, principalmente, elevação de impostos – o
denominado Programa de Estabilidade Fiscal, que se constituiria na base do
acordo feito imediatamente após com o FMI. Antes, contudo, ainda para 1998,
anunciou as seguintes medidas: cortes nos gastos orçamentários federais
equivalentes a 1,5% do PIB do quarto trimestre; corte equivalente a 0,3% do
PIB desse mesmo trimestre em gastos já autorizados de investimentos pelas
estatais federais; redução nos desembolsos de empréstimos pelos bancos
federais aos estados e municípios; adoção de uma meta obrigatória para o
superávit primário do Governo Federal, além da criação de uma comissão
interministerial de alto nível, responsável pela garantia de consecução
dessas metas (FILGUEIRAS, 2006, p. 139).

É possível dizer que a previdência social, notadamente a pública, seria a responsável pelo desempenho
ruim dos resultados fiscais do setor público. Assim, o Programa de Estabilidade Fiscal (PEF) fixa metas
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de superávit orçamentário de 2,6% do PIB para 1999, 2,8% para 2000 e 3% para o ano seguinte. As
metas para o superávit primário seriam de 1,8%, 2% e 2,3% do PIB para os anos de 1999, 2000 e 2001,
respectivamente. Ademais, houve uma projeção de redução dos gastos públicos de R$ 8,7 bilhões para
o ano de 1999. Para ampliar as receitas, o governo subiu os impostos mais uma vez, elevando a CPMF
e a Cofins; ainda aumentou a contribuição para o plano de aposentadoria do setor público e criou a
contribuição para inativos (GONÇALVES, 2010).

Os esforços orçamentários não deveriam gerar resultados positivos somente do ponto de vista da
União. Estados e municípios também deveriam contribuir, cada um a sua maneira, mudando seu resultado
primário de déficit de 0,4% do PIB em 1998 para um superávit de igual magnitude em 1999 e para 0,5%
do PIB em 2000 e 2001. Com isso, foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – Lei Complementar nº
101 (BRASIL, 2000), prevendo que estados e municípios não poderiam mais se endividar nem refinanciar
suas dívidas junto ao Governo Federal (NASCIMENTO, 2014).

O objetivo dessa política, mais uma vez, foi o mesmo de sempre: de um


lado, conseguir superávits primários nas contas públicas e, de outro, reduzir
o nível de atividade econômica, buscando uma redução dos déficits na
balança comercial através da diminuição das importações e do incitamento
às exportações. Tudo isso para tentar demonstrar ao capital financeiro
internacional a capacidade do País para pagar as suas dívidas externa e
interna (FILGUEIRAS, 2006, p. 140).

Faltando poucas semanas para as eleições presidenciais de 1998, o governo brasileiro começou a
negociar um acordo com o Fundo Monetário Internacional para poder enfrentar um quadro externo muito
adverso, caracterizado pelo esgotamento da disposição do resto do mundo em continuar a financiar déficits
em conta-corrente na ordem de US$ 30 bilhões. Isso, por sua vez, estava gerando uma fuga de capitais,
porque o temor de uma desvalorização vista como iminente estimulava a troca de R$ por US$ antes que
ocorresse a mudança cambial ou adoção de algum tipo de controle de capitais (GIAMBIAGI et al., 2016).

Até então, os ajustes promovidos no segundo semestre de 1998 tinham como objetivo conquistar
a estabilidade econômica para os próximos três anos, e não apenas para o ano vigente. Para que o
acordo com o FMI fosse concretizado – diga-se, o Brasil não entrar em moratória –, o governo deveria
tomar algumas atitudes comprobatórias: capacidade de pagamento da dívida que viria a fazer e da
dívida interna, que já era bem expressiva – devido à política monetária contracionista de juros elevados
(GONÇALVES, 2010). O acerto das contas internacionais era novamente urgente, pois em outubro de
1998 o déficit em transações correntes atingira 4,4% do PIB e fechara o ano com um déficit de 33,2
bilhões, resultando em perda de 24,55% das reservas internacionais em 1998.

No novo acordo, que foi firmado em 2 de dezembro de 1998, o Brasil se compromete com a manutenção
do regime cambial, prosseguir com a abertura comercial, acelerar as privatizações, realizar um ajuste
fiscal para os próximos três anos, assumindo metas na obtenção de superávits fiscais e primários, bem
como quanto ao pagamento de juros. O principal ponto do acordo foi o de diminuir o déficit nominal,
que atingia mais de 8% do PIB em 1998, para 4,7% do PIB em 1999. Nesse sentido, os gastos com os
juros da dívida também deveriam ser revistos e seus limites jogados para baixo (FILGUEIRAS, 2006).
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Conforme Giambiagi et al. (2016, p. 176),

O Fundo coordenou os esforços de apoio ao Brasil mediante a organização de


um pacote de ajuda externa, somando US$ 42 bilhões. Desses, US$ 18 bilhões
seriam do FMI e o restante de outros organismos multilaterais e de diversos
governos, entre eles os Estados Unidos, a Grã-Bretanha, a Itália, a Alemanha, a
França, o Japão e a Espanha. Esse primeiro acordo contemplava um importante
aperto fiscal, com o superávit primário passando de 0,0% do PIB em 1998 para
2,6% do PIB em 1999, e 2,8% e 3,0% do PIB em 2000 e 2001, respectivamente.

Vejamos os pontos que faziam parte do compromisso do governo brasileiro nesse acordo:

a) As reservas não poderiam cair abaixo de US$ 20 bilhões líquidos – o


total de reservas, excluindo as parcelas do empréstimo já adiantadas –,
devendo-se informar ao FMI, diariamente, o seu valor.

b) O déficit nominal, em 1998, deveria ficar em R$ 72,8 bilhões, reduzindo-se


para R$ 42,6 bilhões em 1999.

c) O déficit em transações correntes, para 1998, deveria atingir 4,2% do PIB.

d) A liberação da segunda parcela do FMI, em fevereiro de 1999, estaria


condicionada à aprovação do ajuste fiscal pelo congresso.

e) Durante o período de vigência do acordo, o país teria de demonstrar, por


seis vezes, que estaria cumprindo o que prometeu – condição essencial para
a liberação dos recursos acordados (FILGUEIRAS, 2006, p. 144).

Apesar de necessário diante dos dados até então produzidos pela economia, o acordo não foi
bem-aceito pela comunidade econômica e dois grandes obstáculos se revelaram, de alguma forma,
insuperáveis. O primeiro diz respeito ao ceticismo com que foi recebido pelo mercado, que já não
acreditava que a política de câmbio valorizado seguiria com folga. O segundo remete, por parte do
Congresso, à rejeição da cobrança de contribuição previdenciária dos servidores públicos inativos,
medida esta que já havia sido anunciada quando dos ajustes efetuados ainda em 1998. Tal medida foi
rejeitada pelo Congresso nos últimos dias de 1998, dando a ideia de que o governo não conseguiria ter
apoio para a efetivação de suas propostas. Resultado: novamente há pessimismo externo, o que acelera
a perda das divisas internacionais. Houve semanas em que a queda de reservas chegou, em certos dias,
entre US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão (GIAMBIAGI et al., 2016).

No tocante a todo o primeiro período da economia brasileira sobre a regência de FHC, vale destacar
o que analisa Bresser-Pereira (2003, p. 337):

A definição da alta inflação como o principal inimigo a ser enfrentado foi


um grave erro de agenda. Ao invés de entender, como deveria tê-lo feito,
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que o Plano Real se consumara com a reforma monetária de 1º de julho de


1994, ou, no máximo, nos seis meses seguintes, pretendeu continuar com ele.
Embora essa estratégia pudesse ser politicamente atrativa, era incompetente
em termos de política econômica. Ao adotá-la, o governo ignorou que a
neutralização da inércia inflacionária operada pelo Plano Real, a eliminação
de quase toda indexação de preços e a abertura comercial que tornara os
preços locais dos bens comercializáveis expostos à competição externa já
haviam logrado reduzir a taxa de inflação do país para níveis aceitáveis, de
forma que, embora a inflação continuasse a merecer atenção, eram outros
os desafios a serem enfrentados. Os dois principais inimigos, agora, a partir
do Plano Real, eram o câmbio valorizado e a alta taxa de juros – irmãos
gêmeos, conforme nos ensina a boa teoria macroeconômica.

O autor continua:

O câmbio valorizado leva ao aumento do consumo e à diminuição da


poupança interna, e, afinal, ao desequilíbrio e à crise de balanço de
pagamentos; a alta taxa real de juros dificulta os investimentos, promove
o desequilíbrio fiscal e acaba em crise financeira, quando os credores se
dão conta de que as altas taxas de juros, ao invés de sinal de austeridade
monetária, estão ameaçando a capacidade de o Estado honrar sua dívida
interna. Tudo isto, porém, foi ignorado, e a equipe econômica liderada pelo
ministro Pedro Malan manteve o câmbio gravemente sobrevalorizado e a
taxa de juros artificialmente alta entre 1995 e 1998 (BRESSER-PEREIRA,
2003, p. 337-338).

8.4.3 Fernando Henrique Cardoso – segundo mandato (1999-2002)

Figura 37 – Fernando Henrique Cardoso no dia em que foi reeleito

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O novo acordo com o FMI oferece à economia brasileira certa calmaria, mas passageira, garantindo a
reeleição de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). A estabilidade da moeda vinha sendo preservada
e naquele momento era o que importava à sociedade. Mesmo com baixo crescimento econômico, média
de 2,1% no período de 1994-1998, e uma disparada nas taxas de desemprego, o período serviu de
trunfo para o governo (PAULINO, 2010, p. 302).

A sobrevida que o acordo com o FMI deu à âncora cambial foi curta. Depois da
queda do México, em 1994, da Tailândia, da Indonésia, das Filipinas e da Coréia
do Sul, em 1997, e da Rússia, em 1998, o Brasil era a bola da vez. Em janeiro de
1999, o ataque especulativo contra o Real intensificou-se; o governo tentou
resistir. Em pouco mais de uma semana, o Banco Central vendeu 3 bilhões
de dólares na tentativa de sustentar a cotação do Real. Tentou manobrar
para segurar o câmbio, modificando o sistema de bandas de flutuação, mas
não conseguiu e, finalmente, em 13 de janeiro de 1999, o mercado impôs a
flutuação do Real, pois o Brasil encontrava dificuldades para manter a política
cambial dos últimos anos. Mesmo com a liberação da primeira parcela dos
recursos do FMI equivalente a US$ 9,324 bilhões, a fuga de capitais continuou
a ocorrer devido à desconfiança dos investidores quanto às incertezas do
mercado internacional (FILGUEIRAS, 2006, p. 186-187).

Para Bresser-Pereira (2003, p. 338),

Em janeiro de 1999, depois de uma longa luta interna dentro do governo,


o presidente da República, contrariando seu ministro da Fazenda, decidiu
deixar flutuar o câmbio. A decisão corajosa revelou-se sábia. Depois de uma
necessária elevação da taxa de juros, esta começou a ser sistematicamente
reduzida pelo novo presidente do Banco Central.

Com a nova crise cambial, há troca na Presidência do Banco Central: sai Gustavo Franco, entra Armínio
Fraga Neto. Após organizar nova equipe econômica, procede aos anúncios das medidas emergenciais a
serem adotadas: elevação da taxa básica de juros e início dos estudos para a adoção do sistema de metas
de inflação, que passa agora a ser a “nova” âncora do programa de estabilização.

Saiba mais

Antes de Armínio Fraga Neto ser anunciado como presidente do Banco


Central, Francisco Lopes esteve por apenas duas semanas no lugar que fora
ocupado por Gustavo Franco. Saiba mais:

O DESABAFO de Chico Lopes. Dinheiro, 24 maio 2013. Disponível em:


<http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20130524/desabafo-
chico-lopes/3013.shtml>. Acesso em: 4 jan. 2018.

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Nakatani e Oliveira (2010, p. 33) explicam essa nova fase do Real:

[...] o Plano Real, após as turbulências que se seguiram à insuficiente


correção da banda cambial no início de janeiro de 1999, passou a se apoiar
nos seguintes pilares:

a) câmbio flutuante, com plena mobilidade de capitais;

b) regime de metas inflacionárias, com autonomia operacional do Bacen


para garantir seu resultado;

c) estabelecimento de metas para os superávits fiscais primários, com o


objetivo de evitar o crescimento da dívida pública.

Antes, o teto do regime cambial era de 1 R$ / 1 US$, agora passa para um sistema de bandas, elevando a
taxa para R$ 1,32 / 1 US$. Contudo, esse teto foi mantido por apenas dois dias. Em 15 de janeiro, o governo
admite que o melhor a ser feito era deixar o câmbio flutuar de vez. Tomou essa medida devido à falta de
aporte financeiro para intervir na cotação da moeda estrangeira diariamente, e também para cumprir uma
das cláusulas do acordo com o FMI: manter o mínimo de US$ 20 bilhões de reservas em caixa (GIAMBIAGI;
ALÉM, 2008). A tabela a seguir acentua os saldos de reservas internacionais mantidos no período 1999-2001.

Tabela 18

Reservas Internacionais
Saldo em (US$ Bilhões)
Referência 1999 2000 2001
Janeiro 35.177 36.771 35.347,71
Fevereiro 34.643 37.590 35.399,93
Março 32.873 38.429 34.407,13
Abril 43.380 28.031 34.652,98
Maio 43.362 27.888 35.445,66
Junho 40.417 27.381 37.308,03
Julho 41.346 28.625 35.332,50
Agosto 41.126 30.978 36.263,47
Setembro 41.943 31.154 40.036,91
Outubro 39.255 30.239 37.481,45
Novembro 41.379 32.477 37.220,36
Dezembro 35.554 32.949 35.844,12

Fonte: Gonçalves (2010, p. 59).

Nessas circunstâncias, a taxa de câmbio no fim de janeiro alcança o patamar de R$ 1,98, dando
continuidade à desvalorização do Real, que em fevereiro chegou a R$ 2,06 e atingiu um pico de R$ 2,16
em março (GIAMBIAGI; ALÉM, 2008).
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No tocante à nova política cambial, o câmbio semifixo dá lugar ao flutuante. Passa a ser determinada
pelas forças de mercado e interação dos agentes no mercado cambial, sem que o Banco Central
efetuasse alguma interferência, a não ser pelo lado da política monetária – para garantir as metas
de inflação –, bem como pelo lado fiscal – quanto aos superávits primários. Para Filgueiras (2006), a
situação de oscilação na cotação do dólar e sua tendência à desvalorização origina-se em especial
por causa do acordo firmado com o FMI em dezembro de 1998, que limitava o uso das reservas como
instrumento de intervenção no mercado de câmbio. Vejamos os motivos que causaram a depreciação
do Real e os impactos gerados por essa elevação do preço do dólar em 1999.

De um lado, a não renovação das linhas de crédito para exportações das


empresas brasileiras e a falta de reação das exportações dificultavam a
entrada de dólares e, de outro, saíam dólares em razão do vencimento de
dívidas das empresas brasileiras no exterior. A continuada elevação do dólar
teve impactos negativos em diversas direções: estimulou a especulação, com
os especuladores adiando a troca de dólares; intensificou o receio de uma
moratória das dívidas externas e interna; pressionou a inflação e agravou
as expectativas de um cenário recessivo, em virtude da manutenção de
elevadas taxas de juros (FILGUEIRAS, 2006, p. 191).

Nesse quadro, foi necessário rever o acordo com o FMI para frear os efeitos negativos da alta do
dólar e favorecer, novamente, mais ingressos de capital no País. Em março, o governo adotou algumas
medidas a fim de atrair capital especulativo. Destacamos as principais ações tomadas:

— redução do IOF de 2,5% para 0,5%, para operações de renda fixa e


operações entre os bancos nacionais e estrangeiros;

— aumento do IOF de 2,0% para 2,5%, em compras realizadas com


cartão de crédito no exterior;

— aumento da taxa de juros para 45% ao ano (FILGUEIRAS, 2006, p. 193).

Com tais medidas, a cotação do dólar chega a R$ 1,72 no fim do mês, o que permite o início de
queda da taxa de juros ao longo do ano e em cada uma das reuniões do Copom.

Tabela 19

Evolução da Taxa de Juros Selic (1999-2001)


Taxa Selic Taxa Selic
Reunião Período de vigência Reunião Período de vigência
(% ao a.a) (% ao a.a)
1 19/01/99 – 04/03/99 37,34 22 20/04/00 – 24/05/00 18,55
2 05/03/99 – 24/03/99 44,95 23 25/05/00 – 20/06/00 18,39
3 25/03/99 – 05/04/99 41,96 24 21/06/00 – 07/07/00 17,34
4 06/04/99 – 14/04/99 39,42 25 10/07/00 – 19/07/00 16,96

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5 15/04/99 – 28/04/99 33,92 26 20/07/00 – 23/08/00 16,51


6 29/04/99 – 07/05/99 31,91 27 24/08/00 – 20/09/00 16,54
7 10/05/99 – 12/05/99 29,53 28 21/09/00 – 18/10/00 16,60
8 13/05/99 – 19/05/99 26,96 29 19/10/00 – 22/11/00 16,56
9 20/05/99 – 08/06/99 23,36 30 23/11/00 – 20/12/00 16,38
10 09/06/99 – 23/06/99 21,92 31 21/12/00 – 17/01/01 15,76
11 24/06/99 – 28/07/99 20,88 32 18/01/01 – 14/02/01 15,19
12 29/07/99 – 01/09/99 19,51 33 15/02/01 – 21/03/01 15,20
13 02/09/99 – 22/09/99 19,52 34 22/03/01 – 18/04/01 15,84
14 23/09/99 – 06/10/99 19,01 35 19/04/01 – 23/05/01 16,30
15 07/10/99 – 10/11/99 18,87 36 24/05/01 – 20/06/01 16,76
16 11/11/99 – 15/12/99 18,99 37 21/06/01 – 18/07/01 18,31
17 16/12/99 – 19/01/00 19,00 38 19/07/01 – 22/08/01 18,96
18 20/01/00 – 16/02/00 18,87 39 23/08/01 – 19/09/01 19,04
19 17/02/00 – 22/03/00 18,88 40 20/09/01 – 17/10/01 19,07
20 23/03/00 – 28/03/00 18,94 41 18/10/01 – 21/11/01 19,05
21 29/03/00 – 19/04/00 18,60 42 22/11/01 – 19/12/01 19,05
Taxa média diária de juros, anualizada com base em 252 dias úteis.

Fonte: Gonçalves (2010, p. 61).

As metas fiscais do acordo com o FMI e que foram revistas estão na tabela a seguir.

Tabela 20

Acordo com FMI – Metas de superávit primário ( %PIB )


Composição Governo Central Estados e Municípios Empresas e estatais Total
PIB Original 2,30 0,40 0,40 3,10
1999
PIB Revisto (a) 2,11 0,37 0,37 2,85
PIB Original 2,65 0,50 0,10 3,25
2000
PIB Revisto (a) 2,48 0,47 0,09 3,04
PIB Original 2,60 0,65 0,10 3,35
2001
PIB Revisto (a) 2,39 0,60 0,09 3,08
(a) Refere-se aos percentuais modificados em razão da revisão da série histórica do PIB nominal em 2007.

Fonte: Gonçalves (2010, p. 61).

De acordo com Nakatani e Oliveira (2010, p. 33),

O fechamento do acordo com o FMI para o triênio 1999-2001, com a


implementação de programas de conteúdo fortemente recessivo, colocou
como exigência o compromisso do País com a geração de superávits
primários do setor público [...] para controlar/estancar o crescimento da

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relação dívida-PIB, e permitiu o retorno gradativo – mas nem por isso


confiante – dos investidores, tornando a situação de novo e razoavelmente
administrável no último ano, embora com firmes obstáculos colocados para
o crescimento econômico, condicionado aos resultados obtidos na balança
comercial e no front inflacionário.

Importantes reformas foram adotadas com o intuito de diminuir o ainda recorrente déficit
público. Houve reforma parcial da Previdência Social em 1999, aumentando o tempo de contribuição
para o trabalhador fazer jus ao benefício da aposentadoria. Em 2000, o Congresso aprova a Lei da
Responsabilidade Fiscal (LRF), que fixa compromissos nos três níveis de governo, e todos teriam de
seguir regras rígidas e controlar seus gastos (GIAMBIAGI; ALÉM, 2008).

Quanto à reforma da Previdência, vale destacar o excerto a seguir:

A reforma da Previdência se deu em duas etapas. Na primeira, através


da Emenda Constitucional nº 20, de 1998, estabeleceu-se uma idade
mínima para os novos entrantes na administração pública, e ampliou-se a
necessidade de tempo de contribuição para quem já estava na ativa, além
de “desconstitucionalizar” a fórmula de cálculo das aposentadorias do INSS
(referentes, portanto, aos trabalhadores do setor privado). Na segunda,
mediante a Lei nº 9876/99, aprovou-se o “fator previdenciário” para o INSS.
Conforme essa lei, as novas aposentadorias concedidas por esse instituto
aos antigos trabalhadores do setor privado passariam a ser calculadas em
razão da multiplicação da média dos 80% maiores salários de contribuição
a partir de julho de 1994 – para evitar questionamentos acerca de como
indexar os valores anteriores ao Plano Real – por um fator previdenciário
tanto menor quanto menores fossem o tempo de contribuição e a idade de
aposentadoria (GIAMBIAGI et al., 2016, p. 182).

Saiba mais

Quanto à reforma da Previdência, leia:

SILVA, A. A. A reforma da Previdência Social Brasileira entre o direito


social e o mercado. São Paulo em Perspectiva, 18(3), p. 16-32, 2004.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n3/24775.pdf>. Acesso
em: 4 jan. 2018.

A Lei de Responsabilidade Fiscal é adotada em um período de redemocratização e descentralização


do Estado brasileiro. O intuito era transformar a gestão pública o mais próxima possível da gestão
privada em termos de eficiência administrativa. Assim, a Lei tornou-se a principal norma a ser observada
pelos gestores públicos na administração patrimonial e financeira governamental nas três esferas de

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Unidade IV

Poderes no País. Também fixa normas de finanças públicas voltadas à responsabilidade na gestão fiscal,
mediante ações para prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas,
destacando-se o planejamento, o controle, a transparência e a responsabilização como premissas básicas.
A Lei Complementar criou uma série de procedimentos fiscais e orçamentários a fim de padronizar a
apresentação das informações sobre as receitas e despesas fiscais no Brasil. Além disso, fez uma série
de condicionamentos com o objetivo de conter os desperdícios e os dispêndios destituídos de amparo
financiador (BRASIL, 2000).

Saiba mais

Para saber mais sobre a Lei Complementar nº 101, consulte:

BRASIL. Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Estabelece


normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão
fiscal e dá outras providências. Brasília, 2000. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 13 jan. 2018.

Conforme Riani (2012, p. 166),

A Lei de Responsabilidade Fiscal criou dois índices básicos: um relacionado


com os gastos com pessoal e outro com o estoque da dívida pública. Em
relação aos gastos com pessoal, criaram-se índices relacionando-os com a
receita corrente líquida de acordo com o nível e com os poderes. Na esfera
estadual, o limite máximo fixado foi de 60%, composto da seguinte forma:
2% para o Ministério Público, 3% para o Legislativo, incluindo o Tribunal
de Contas do Estado, 6% para o Judiciário, 49% para o Executivo. Na
esfera municipal, o limite fixado foi também de 60%, assim distribuído: 6%
para o Legislativo, incluindo o Tribunal de contas do Município, 54% para
o Executivo. Na esfera federal, o limite fixado foi de 50%, assim dividido:
40,9% para o Executivo, 6% para o Judiciário, 2,5% para o Legislativo, 0,6%
para o Ministério Público.

Quanto à dívida pública, apresenta a seguinte divisão:

— União: o limite máximo de endividamento corresponderá a 3,5 vezes


a receita corrente líquida anual.

— Estados: o limite máximo de endividamento corresponderá a 2,0 vezes


a receita corrente líquida anual.

— Municípios: o limite máximo de endividamento corresponderá a 1,2


vezes a receita corrente líquida anual (RIANI, 2012, p. 166).

200
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ECONOMIA E MERCADO

Saiba mais

Leia mais sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal:

CATAPAN, A.; BERNARDONI, D. L.; CRUZ, J. A. W. Planejamento e


orçamento na Administração Pública. São Paulo: Ibpex, 2006.

Como um código de conduta para os administradores públicos de todo o País, a LRF brasileira teve
quatro fontes de inspiração em sua construção. Uma delas foi o Fundo Monetário Internacional e
suas recomendações de gestão pública em todo o mundo, em especial no quesito transparência nas
contas públicas. Outro exemplo veio da Nova Zelândia e seu Fiscal Responsability Act, que enfatizava
limites e restrições quanto aos gastos públicos. A Comunidade Econômica Europeia e sua definição de
metas estáveis na relação dívida/PIB também foi considerada. Por fim, mas não menos importante, o
Budget Enforcement Act do governo americano, que trata da administração financeira orçamentária
(NASCIMENTO, 2014; MATIAS-PEREIRA, 2012).

No tocante aos instrumentos de controle da LRF, temos: o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes
Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. Assim, a LRF busca o reforço do papel da atividade de
planejamento e vinculação entre as atividades de planejamento e de execução do gasto público. Outra
questão de extrema importância apontada pela LRF é a transparência a ser alcançada tanto pela
publicação de tais documentos quanto pela participação da sociedade. Para tanto, Nascimento (2014, p.
217) ressalta que diversos mecanismos foram instituídos pela LRF, entre eles:

— a participação popular na discussão e na elaboração dos planos e


orçamentos;

— a disponibilidade das contas dos administradores, durante todo o exercício,


para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade;

— a emissão de relatórios periódicos de gestão fiscal e de execução


orçamentária, igualmente de acesso público e ampla divulgação.

Giambiagi e Além (2008, p. 182) revelam que o ajuste fiscal de 1999 foi beneficiado por alguns fatos.
Vejamos quais são:

— a majoração da alíquota da CPMF, de 0,20% para 0,38% do valor das


transações financeiras;

— a eliminação, até 2002, da possibilidade de fazer certas deduções


tributárias por parte das pessoas jurídicas, possibilidade essa que
existia até 1998 e cuja suspensão temporária a partir de 1999 –
inclusive – implicou um “delta” de receita da ordem de 0,3% do PIB;

201
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Unidade IV

— a receita de concessões, ainda de 0,9% do PIB em 1999 – mesmo nível


que em 1998 – e 0,4% do PIB em 2000;

— a permissão, em 1999, para as empresas acertarem as suas dívidas com


o fisco, sem o pagamento de multas, o que permitiu uma cobrança de
atrasados equivalente a aproximadamente 0,5% do PIB naquele ano.

Os resultados alcançados com o ajuste não são provenientes apenas da política econômica até então
adotada. Segundo Filgueiras (2006), o controle da inflação pode ser explicado, em parte, pelo crescimento
de 6% do produto agrícola no primeiro semestre de 1999. Nesse ano o governo ainda conseguiu um
leve crescimento do PIB. Logo após expressiva elevação no endividamento do setor público no período
1994-1998, registra-se novo aumento em 1999, mesmo com superávit primário de 2,92% do PIB. Em
2000, a relação dívida-PIB mantém-se estável, 45%-50%, sendo beneficiada pelo crescimento de 4,3%
do PIB e pelo comportamento favorável do câmbio e dos juros (BRESSER-PEREIRA, 2003).

A balança comercial brasileira, que sempre teve déficits desde o início do Plano Real, passou a
apresentar superávit após o fim da âncora cambial. No primeiro mandato de FHC, houve déficit, em
média, de US$ 24,4 bilhões; no segundo mandato, o acumulado do superávit chegou a US$ 13,9 bilhões.
Os dados demonstram o quanto o uso da âncora cambial, aliada à abertura comercial indiscriminada,
elevou a dívida externa do País, elevando os gastos do governo com o serviço de juros da dívida pública
(GONÇALVES, 2010).

Observação

À época, o desempenho da balança comercial ajudou a diminuir o


déficit na balança de pagamentos. Contudo, o déficit público e a relação
dívida/PIB apresenta elevação ano a ano.

Com a taxa de inflação relativamente administrada com o regime de metas, taxa de juros em
patamares mais baixos do que os vivenciados no período anterior à liberação do câmbio, política fiscal
baseada na definição de superávit primário e câmbio flutuante, havia maior margem de manobra para
o governo em caso de novas necessidades intervencionistas do ponto de vista da política econômica. É
o que destacam Giambiagi e Além (2008, p. 186).

Esse tripé, composto de austeridade fiscal – câmbio flutuante – metas


de inflação, permite enfrentar os principais desequilíbrios que em épocas
anteriores tinham interrompido o crescimento da economia brasileira,
gerando crises econômicas importantes, algumas vezes acompanhadas
por crises políticas. Com efeito, se a dívida pública ameaçasse aumentar de
forma muito intensa, o governo reagiria aumentando o superávit primário;
se houvesse problemas no balanço de pagamentos, o câmbio se ajustaria
à nova situação; e se a inflação excedesse a meta, o Banco Central teria
que elevar a taxa de juros. O sistema teria então mecanismos de retorno ao
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ECONOMIA E MERCADO

equilíbrio que permitiriam pavimentar o terreno para uma economia mais


ordenada que a das décadas anteriores.

Em 2001, a economia nacional é afetada por uma conjugação de eventos. Crise de energia elétrica,
o chamado apagão, os efeitos negativos da crise argentina e os atentados terroristas de 11 de setembro
nos Estados Unidos. Mais uma vez a trajetória de crescimento da economia brasileira é interrompida, e
os juros domésticos voltam a apresentar tendência de crescimento, o que foi causado pela subtração de
ingresso de capitais no Brasil – o mercado financeiro internacional tinha muitas incertezas.

O primeiro grande problema do ano foi a crise argentina, pois o país adotou uma política
macroeconômica de manutenção da paridade e conversibilidade do peso com o dólar. Como o regime
era de câmbio sobrevalorizado, há déficits comerciais e da balança de pagamentos em trajetória
ascendente, mostrando aos investidores que a Argentina não conseguiria honrar seus compromissos em
dólar. Resultado: fuga de capitais em dólares. Então, o Banco Central argentino, em meados de 2001,
abandona a paridade e declara a moratória da dívida.

Lembrete

Os argentinos até o momento poderiam ter dólares em suas


contas-correntes em bancos argentinos. Quando a conversibilidade de um
dólar por um peso acaba, os correntistas não tinham mais acesso a todo o
dinheiro em suas contas, causando recessão na economia argentina.

Martins (2010) destaca que a Argentina era, até a crise, o segundo maior parceiro comercial do
Brasil e seu maior parceiro no Mercosul. Depois, as exportações brasileiras para lá declinam, e o mercado
internacional vê risco no Brasil. Os investidores passaram a exigir um prêmio maior para os títulos
brasileiros para continuar com os negócios no País. No entanto, os investimentos diretos estrangeiros
apresentam retração no período 1999-2001. Em todo o ano de 2001, os investimentos diretos têm
queda em comparação a 2000, ocasionando queda no PIB potencial do Brasil para 2001. Para piorar,
houve o apagão e a crise americana – derivada dos ataques terroristas às torres gêmeas em 11 de
setembro do mesmo ano.

Em que pese a diminuição no ingresso de capitais devido a turbulências no cenário internacional,


o Brasil continua em sua trajetória de crescimento dos juros, ora por pressão, ora por opção. Segundo
Bresser-Pereira (2003), a razão principal para a elevação na taxa de juros foi o cumprimento das metas
para inflação. Isso desestabiliza a economia nacional, pois, junto à elevação dos juros, US$ 8 bilhões
foram vendidos ao mercado interno para baixar a taxa de câmbio, que, no início do ano, era de R$ 2,40
e, em abril, R$ 2,80 por dólar. Diante das desvalorizações mensais de 0,6% que vinham ocorrendo no
sistema de bandas cambiais, a desvalorização significou, na prática, uma maxidesvaloriação, pondo
fim à âncora cambial e ao próprio Plano Real. Os anos seguintes foram de sucessivas crises no balanço
de pagamentos, levando o Brasil a recorrer ao FMI novamente em 2001. O autor diz que o custo desse
ajuste na taxa de câmbio foi elevado

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Unidade IV

Em termos do pagamento de juros pelo Estado brasileiro, que subiu de 8,54%


para 13,51% do PIB [...]. Foi alto porque contribuiu para atrasar a recuperação
dos elevados superávits comerciais de que o país necessita para ter crédito.
E porque, devido a esses dois fatos, acentuou a desconfiança dos credores,
que em 2002 já viam como provável a eleição de um candidato de esquerda
como Lula para a Presidência da República, contribuindo para nova crise
cambial ameaçar o país nesse ano, e que só foi mantida sob relativo controle
graças a novo acordo com o FMI. Em decorrência da crise, entretanto, a taxa
de câmbio, que fora mantida baixa artificialmente graças à taxa de juros
elevada, voltou a subir, para próximo de R$ 4,00 por dólar. Era o mercado
que cobrava sua conta e produzia um overshooting – embora a taxa de juros
continuasse em níveis exorbitantes (BRESSER-PEREIRA, 2003, p. 342-343).

O que dizer sobre a crise do apagão, a crise da energia elétrica? À época, o Brasil concentrava seu
sistema de geração de energia nas hidrelétricas, ou seja, muito dependente de reservas de água. No meio
de 2001, a situação era bastante complicada: a maioria dos reservatórios de água estavam bem abaixo do
desejável. Em março, os reservatórios na região Sudeste e Centro-Oeste trabalhavam com apenas 30%
de sua capacidade. Giambiagi (2011, p. 179) salienta ser essa uma crise anunciada, independentemente
das condições climáticas. Vejamos seus argumentos:

A rigor, as raízes dessa crise tinham sido plantadas em anos anteriores, porque
o governo programou uma privatização completa das usinas hidrelétricas,
que acabou não ocorrendo. Prevendo que as empresas seriam privatizadas,
o governo não ampliou os investimentos, esperando que o setor privado o
fizesse. Porém, a venda das empresas não ocorreu e, portanto, não houve
grandes inversões em novas obras no setor, nem estatais, nem privadas,
com exceção da conclusão das obras em curso. Enquanto isso, o consumo
de energia elétrica continuava aumentando, em um contexto marcado por
grandes inovações tecnológicas e dos hábitos de consumo – massificação
do uso de computadores, multiplicação do número de aparelhos de TV nas
residências, uso intensivo de aparelhos de freezer etc.

Para manter o fornecimento tanto de água quanto de energia, o governo adota uma política de
racionamento do uso da energia, obrigando as empresas e o povo a diminuir 20% de seu consumo
em relação à média do ano anterior. Do contrário, incidiria sobre a conta uma penalidade monetária.
Para se enquadrar no plano de maneira rápida, muitas instituições tiveram que diminuir sua produção
ou ao menos deixar de aumentá-la. Com essa subtração, a renda nacional obviamente foi afetada, e o
racionamento seguiu até o início de 2002.

O ano de 2001 ainda contou com o ataque terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos.

Eram quase 9h da manhã em Nova York quando um avião sequestrado por


terroristas islâmicos teve sua rota desviada em direção a uma das torres do
World Trade Center – um dos prédios mais altos do mundo. Inicialmente,
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ECONOMIA E MERCADO

imaginou-se que se tratava de um acidente aéreo de grandes proporções,


mas não de um ataque premeditado. Porém, quando cerca de 20 minutos
depois um outro avião chocou-se contra a segunda torre do WTC, ficou
claro que os Estados Unidos estavam sendo vítimas de atentados terroristas
cuidadosamente planejados. Poucos minutos mais tarde, um terceiro avião,
também sequestrado, foi jogado contra o Pentágono, a central de inteligência
norte-americana, cuja sede fica próxima à capital do país, Washington D.C.
Havia ainda um quarto avião, que acabou caindo na Pensilvânia antes de
atingir seu alvo. Segundo as investigações feitas posteriormente, o plano
dos terroristas era jogar a aeronave contra o Capitólio – a sede do Poder
Legislativo dos EUA. Em Nova York, o choque dos aviões contra as torres do
WTC desestabilizaram a estrutura dos edifícios, que caíram cerca de duas
horas depois dos ataques. Antes disso, entretanto, uma cena desoladora
foi transmitida ao vivo pelas televisões de todo o mundo: desesperadas,
pessoas que estavam acima dos andares atingidos pelos aviões, sem terem
como fugir dos prédios em chamas, jogavam-se do alto das torres. No fim,
morreram elas, os bombeiros que haviam chegado ao WTC para socorrer os
feridos pelo primeiro ataque, os passageiros dos quatro aviões, funcionários
do Pentágono, inúmeras pessoas que trabalhavam nas torres gêmeas de
Nova York, entre outros, em um total de quase 3 mil pessoas (ANGELO, 2011).

O que esperar em desempenho econômico diante desse quadro? Martins (2010) destaca que esse tipo de
acontecimento diminui a confiança das pessoas, sobretudo quanto às viagens de avião. Após os atentados,
algumas empresas fabricantes de aviões e operadoras aéreas entraram em crise. Os Estados Unidos, principal
alvo dos ataques terroristas, entram em um período de desaceleração, oferecendo mais uma condição negativa
para a economia brasileira. Com tantos revezes, a economia brasileira teve baixas taxas de crescimento em
2001 e em 2002, conforme gráfico adiante. Em especial, a crise de energia foi vista pela população como uma
consequência da incompetência do governo. Assim, qualquer candidato da situação nas eleições presidenciais
de 2002 partiria enfraquecido, e os candidatos da oposição teriam um grande trunfo.
7,00%

6,00%

5,00%

4,00%

3,00%

2,00%

1,00%

0%
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Figura 38 – Variação do PIB

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Unidade IV

O governo FHC teve seus pontos positivos e negativos como qualquer outro. Ficou marcado como o
governo que projetou o País para o crescimento econômico, controlando a inflação e criando meios para
lidar com as externalidades que abalam a estrutura econômica de uma nação.

Durante os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, a preocupação da política econômica


foi descaradamente voltada à estabilidade macroeconômica, seja na fase da âncora cambial (1994-
1998), seja na fase do regime de metas para inflação (1999-2002). Embora a política econômica tenha
conquistado seus objetivos quanto ao controle da inflação, ela o fez à custa de piora nas finanças
públicas, crescente vulnerabilidade externa, recorrentes crises em balanço de pagamentos, padrão
de crescimento econômico de, em média, 2% durante todo o seu mandato e elevação nas taxas de
desemprego. Com esse quadro nada auspicioso, o governo apresentou-se nas eleições de 2002 sem o
que propor além da continuidade da estabilidade monetária.

O sentimento generalizado era de necessidade de mudança; o País chamava


pela volta do crescimento, do emprego, enfim, do dinamismo econômico
que fora sacrificado no altar da estabilidade monetária. O candidato do
partido do governo, José Serra, tentou incorporar esse sentimento em
seu discurso de campanha, e procurou, em certa medida, dissociar-se da
política macroeconômica do governo que findava, da qual, em boa parte do
tempo, foi crítico. A herança de oito anos de obsessiva busca da estabilidade
monetária, entretanto, era pesada demais. Venceu o candidato do Partido
dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, que, durante os dois mandatos
de FHC, liderava o movimento de oposição, não propriamente ao Plano Real,
mas às suas consequências negativas, particularmente o baixo crescimento
(PAULINO, 2010, p. 309).

8.4.3.1 Panorama político-econômico do Brasil (2001-2002)

O período anterior às eleições de 2002 foi bastante conturbado do ponto de vista econômico no
Brasil e no mundo.

A crise econômica argentina, os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos e o apagão no


Brasil foram eventos determinantes para diminuir a trajetória de crescimento do PIB brasileiro no início
da década. Quanto mais se aproximavam as eleições presidenciais, maior era o favoritismo de Lula. Com
a promessa de manter estabilidade, mas retomar o crescimento e criar 10 milhões de empregos, o novo
governo tomou posse em janeiro de 2003 sem uma proposta clara de política macroeconômica alternativa.

Era a quarta candidatura de Lula para presidente da República. Em sua primeira disputa, não
demonstrava conhecer os agentes econômicos em seus planos. Àquela época pairava a incerteza quanto
ao que dizer de Fernando Collor de Mello, figura nova e emblemática. Vejamos o que Moraes (1999, p.
174-175) relata.

Sobre Lula, que representava o “velho”, as incertezas eram de outra ordem,


encontrando-se em diversos segmentos da população, qualquer que fosse
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ECONOMIA E MERCADO

a faixa de renda à que pertenciam, um sentimento de medo de dividir o


patrimônio. Este medo era explicável, na medida em que o partido político
que sustentava a candidatura – Partido dos Trabalhadores (PT) – era uma
legenda associada ao socialismo e o entendimento corrente sobre esse
tipo de sociedade não permitia outro tipo de interpretação. A crise então
vivida pelo “socialismo real”, é evidente, reforçava o apelo ao “novo” e à
desconfiança quanto às possibilidades do “velho”.

Lula havia começado sua trajetória política como grande representante sindical do setor
metalúrgico no ABC, localizado na grande São Paulo. Era bastante conhecido dos dois lados das
relações de trabalho, quais sejam, patrões e trabalhadores, pois havia liderado diversas greves na busca
por melhores salários e melhores condições de trabalho, além de ser um dos principais fundadores do
Partido dos Trabalhadores, que empunhava objetivos e ideais socialistas. Assim, o ex-sindicalista foi
candidato em 1989, na primeira eleição direta para presidente desde os acontecimentos da década
de 1960. Conforme destaca Paulino (2010, p. 314),

O presidente Lula havia disputado e perdido as eleições presidenciais em


três ocasiões anteriores: 1989, 1994 e 1998. Nessas três oportunidades, sua
estratégia foi de ataque frontal ao projeto neoliberal que se implantava no
Brasil. Nas três eleições obteve cerca de 30% dos votos.

Moraes (1999, p. 175) justifica porque a conquista de votos nas urnas não foi tão expressiva:

É oportuno, pelo menos lembrar, que o eixo central do programa do PT


não ultrapassava os limites de uma opção por um maior intervencionismo
do Estado na economia e também pelo estímulo ao mercado interno, o
que conflitava em “choque de capitalismo”, acompanhado por irrestrita
desregulamentação e abertura da economia.

Observação

Do fim da década de 1980 e em toda a década de 1990, o mundo


capitalista entra na onda dita neoliberal, o que não será diferente com o
Brasil da época. Contudo, parece que a ideologia de Lula caminhava em
sentido contrário.

A postura será alterada quando da nova tentativa à presidência, agora em 2002. Vejamos o que
Paulino (2010, p. 314) acentua:

Na campanha de 2002, quando finalmente se saiu vitorioso, mudou a


estratégia. Em vez de se apresentar como um candidato de oposição radical
ao modelo econômico e político até então vigente, apresentou-se como um
candidato de conciliação. Transmitiu ao eleitorado em geral, e para a classe
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Unidade IV

média e o empresariado em particular, a ideia de que não faria mudanças


radicais que pudessem desestabilizar as relações reais de poder existentes
na sociedade e, particularmente, a estabilidade monetária, tida como uma
espécie de herança do governo anterior [...].

Em 1979, o PT publicou a sua Carta de Princípios. Nela, o partido demonstra suas ideias, algumas
das quais contrárias à economia de mercado. Vejamos: “O Partido dos Trabalhadores defende a volta
das empresas estatais à sua função de atendimento das necessidades populares e o desligamento das
empresas estatais do capital monopolista” (PT, 1979).

O que é possível depreender de tal declaração? Subentende-se que a intenção do partido, e de seus
idealizadores, é de que estatais não deveriam almejar lucro capitalista, mas voltarem-se às necessidades
do povo, portanto, deveriam estar direcionadas às ações sociais. Do ponto de vista de uma economia
com características capitalistas, a exemplo da brasileira, o mercado avalia com maus olhos esse tipo
de objetivo. Tal análise, em tom de reprovação, pauta-se na própria experiência brasileira da operação
dos grandes monopólios estatais. O que falar deles? Denotam morosidade, falta de investimentos em
produtividade e qualidade, excesso de cargos públicos e baixa competitividade.

No mesmo documento, o PT explicita total oposição aos empresários e à burguesia nacional via
ataque a um específico partido de oposição, o Movimento Democrata Brasileiro (MDB). Para aqueles, o
MDB seduzia a classe trabalhadora a fim de controlá-la e então ditar as leis. O Partido dos Trabalhadores
abria as portas à classe operária dizendo “aqui não há patrões”.

Observação

As incertezas dos investidores toda vez que Lula concorria nas eleições
presidenciais não causam surpresa.

A pretensão explícita de o PT chegar ao poder maior e levar “seu povo consigo” fica bem clara noutro
documento de igual importância ao anteriormente citado. Neste, denominado de “Manifesto” e lançado
em 1980, há a declaração de que

O Partido dos Trabalhadores pretende que o povo decida o que fazer da riqueza
produzida e dos recursos naturais do País. As riquezas naturais, que até hoje só
têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão
ser postas a serviço do bem-estar da coletividade (PT, 1980).

Entre a década de 1980 e 1990, as declarações de Lula em rádio, TV, jornais e diferentes meios de
comunicação, inclusive nos debates de que participava, estavam repletas de chamadas nacionalistas e
concentradoras de poder: Vejamos:

• suspensão imediata do pagamento da dívida externa;

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ECONOMIA E MERCADO

• rompimento com o capital estrangeiro;

• ampliação da participação do Estado na economia;

• estatização de algumas empresas que estavam nas mãos do mercado, pois almejava uma questão
patrimonialista do Estado;

• reestatização de outras empresas que haviam sido privatizadas nos governos anteriores, a exemplo
da Vale do Rio Doce, da Embraer e daquelas que compunham o sistema Telebras;

• adoção da reforma agrária, com desapropriação de terras improdutivas e produtivas;

• implantação de um amplo programa de redistribuição de renda.

Souza (2009) explica que o que afastou Lula das intenções de voto por parte do eleitorado nas
eleições de 1994 nem foi tanto seu discurso radical, mas sim os efeitos provocados pelo Plano Real,
que, a partir do meio daquele ano, conseguiu controlar a inflação. O candidato do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), Fernando Henrique Cardoso, tinha a vitória como certa. As declarações
de Lula não foram expressivas a ponto de interferir no mercado financeiro internacional tão pouco na
variabilidade da cotação das ações em bolsa de valores.

Em 1999, o PT publica novo documento, retomando as ameaças socialistas.

Esta resolução propõe-se a reafirmar nosso juízo sobre o sistema capitalista,


consolidar sinteticamente o acúmulo partidário no que se refere à alternativa
socialista, identificar fundamentais desafios histórico-doutrinários à causa
do socialismo e propor amplo debate ao PT e à sociedade brasileira sobre a
superação concreta de tais desafios (PT, 1999).

Para Martins (2010), o trecho é bem direto. O partido propunha a adoção do socialismo no lugar do
capitalismo assim que chegasse ao poder. O discurso anticapitalista está acentuado no seguinte excerto:

Esse compromisso de raiz com a democracia nos fez igualmente


anticapitalistas – assim como a opção anticapitalista qualificou de modo
inequívoco nossa luta democrática. Um dos estímulos mais poderosos a
nossa organização, como partido político dotado de um projeto alternativo
de governo e de poder, foi a descoberta (para a maioria dos petistas, antes
empírica que teórica) da perversidade estrutural do capitalismo. Fomos,
e seguimos sendo, resposta indignada do sofrimento desnecessário de
milhões, consequência lógica da barbárie capitalista (PT, 1999).

Não é difícil imaginar o sentimento dos detentores do capital ao ler declarações como essas. Quanto
aos investidores externos, aqueles que acreditavam nos papéis do governo brasileiro e no mercado
acionário, começam a rever suas posições ao verem uma possível confirmação da candidatura do petista.
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Unidade IV

A conclusão lógica a que chegariam os leitores de tais documentos é a de que, com o PT no poder, os
detentores do capital no Brasil perderiam muito dinheiro.

De fato, esse foi o pensamento da maioria dos investidores.

George Soros, um famoso investidor e especulador de moedas, oferece aos


brasileiros uma escolha forte nas eleições presidenciais de outubro: votem em
José Serra, o candidato da coalizão central de Fernando Henrique Cardoso,
ou esperem uma crise ao estilo da Argentina, em que o Brasil seria obrigado
a não pagar os seus 685 bilhões de reais de dívida pública. No último fim
de semana, o senhor Soros falou à Folha, um jornal de São Paulo, que a
eleição de Luiz Inácio Lula da Silva do esquerdista Partido dos Trabalhadores,
que lidera as pesquisas de intenção de voto, faria com que os investidores
ficassem com tanto medo de uma moratória que eles parariam de financiar
o Brasil, fazendo com que a profecia se completasse. Só a vitória do senhor
Serra baniria esses medos, ele disse (MARTINS, 2010, p. 24).

Observação

Os temores dos investidores eram: Lula não pagar a dívida externa e


ainda devolver o capital no Brasil aplicado em forma de investimentos
especulativos.

Em junho de 2002, esse receio destacado pelos investidores como possibilidade já é percebido em
termos de atitude. É o que revela Elena Soihet na revista Conjuntura Econômica:

A sondagem em 12 instituições financeiras realizadas pelo IBRE/FGV em fins


de julho constatou um cenário de incertezas. [...]. Nesse mês, o dólar teve
forte alta em contraponto à queda mais acentuada dos títulos da dívida
externa que influenciaram o comportamento do risco país e do Ibovespa. Os
anúncios das pesquisas eleitorais para presidente da República, o contágio
da Argentina e a crise americana vêm tornando esse quadro ainda mais
vulnerável (SOIHET, 2002, p. 20).

A autora continua:

Pesquisa do IBRE em 12 instituições financeiras em agosto constatou uma


piora generalizada dos indicadores em relação às pesquisas anteriores. O
cenário pessimista reflete o momento de instabilidade da economia, reflexo
das incertezas provocadas pelo processo eleitoral e pelo cenário externo
(SOIHET, 2002, p. 33).

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ECONOMIA E MERCADO

Em 2002, o candidato Lula passa a adotar uma postura contrária àquela de fim dos anos 1980
e início da década de 1990, diga-se mais adepta às ideias neoliberais. No documento Carta ao povo
brasileiro (LULA DA SILVA, 2002), ele já admitia cumprir contratos que haviam sido firmados no governo
FHC. Tal mudança de discurso não é suficiente para acalmar os ânimos dos mercados. Erber (2011, p. 37)
confirma essa incerteza:

Somava-se a estas dúvidas a brusca deterioração da economia no segundo


semestre de 2002, quando a ação conjunta de vários atores econômicos,
temerosos quanto aos resultados das eleições e visando estabelecer
condições de barganhas vantajosas, produziu brusca elevação da taxa de
inflação, desvalorização da taxa de câmbio e redução da taxa de crescimento.

É certo que a campanha eleitoral para 2002 foi bem diferente das anteriores, Lula não se mostrava
mais como socialista radical. Ao contrário, adota uma postura muito mais light ou “paz e amor”, conforme
extratos da sociedade o classificavam à época. Almeida (2002, p. 18) destaca tal mudança.

O Lula de 2002 é extremamente moderado, mais se parecendo uma


dissidência do partido do governo do que propriamente o líder operário e
sindical ainda presente na campanha eleitoral de 1989. Seu programa de
governo é muito moderado em comparação às eleições anteriores e seu
marketing eleitoral perdeu todas as características socialistas, desde a cor
até os slogans.

As recentes declarações de Lula foram claras: há um novo pensamento, mais moderno, pois
o candidato entendeu que o socialismo seria um retrocesso à sociedade brasileira. Contudo, alguns
questionavam se tal discurso não seria uma espécie de encantamento; os receosos pensavam que, uma
vez empossado, ele poderia retomar a ideologia historicamente pregada. Essa dúvida pairava sobre os
mercados e os investidores, tanto é que foi possível perceber o início de um processo de fuga de capitais
do Brasil, resultando em desvalorização do Real e queda no índice Ibovespa.

8.4.4 Proximidades das eleições de 2002

Como vimos, o período que antecede as eleições de 2002 foi demasiado conturbado: no contexto
econômico interno e desde a implantação do Plano Real, a opção pelo câmbio fixo trouxe consequências
positivas e negativas, obrigando o governo a alterar sua estratégia em nome da estabilidade macroeconômica
– no início de 1999, as reservas internacionais eram muito baixas. A consequência foi a retração econômica,
desde o último trimestre de 1998 até o quarto trimestre de 1999. A economia só começa a apresentar sinais
de recuperação de 2000 para 2001. Entretanto, o ano de 2001 freia o caminho do crescimento brasileiro.
No campo político, iniciam-se as pesquisas de intenção de voto para presidente.

A partir de abril de 2002, as pesquisas de intenção de voto para presidente


começaram a ser feitas. A primeira pesquisa do Ibope, feita entre os dias dez
e quatorze de abril, já mostrava o candidato Lula na frente, com 35% das
intenções. Entre abril e agosto, Lula oscilou entre 39% e 33% das intenções
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Unidade IV

de voto. Entretanto, a partir de setembro, o candidato cresceu nas pesquisas


e ultrapassou os 40%. Em dezesseis de setembro, Lula atingiu 41%, em 30 de
setembro atingiu 43% e em cinco de outubro chegou aos 45% das intenções
de voto (MARTINS, 2010, p. 31).

Em 2002, mesmo com a economia apresentando certa recuperação em comparação ao ano anterior,
não foi o suficiente para mudar a visão dos investidores sobre os rumos dali em diante. A desconfiança
aumentou ao longo de 2002, no calor da campanha eleitoral. Por mais que algumas previsões procurassem
fugir ao pessimismo, boa parte dos observadores internacionais temia pela decretação de alguma forma
de moratória já em 2003, quando das possíveis políticas populistas na eminência do novo governo
(GIAMBIAGI, 2011).

Com a forte saída de recursos do País, a queda das cotações das ações no mercado financeiro e as
baixas negociações no mercado de ações, o mercado de dólar também seria afetado: em setembro de
2002, o preço do dólar atingiu sua cotação máxima desde a criação do real. Veja o gráfico a seguir.
4,5
4
3,5
3
2,5
2
1,5
1
0,5
0
2001.11
2002.01
2002.03
2002.05
2002.07
2002.09
2002.11
2003.01
2003.03
2003.05
2003.07
2003.09
2003.11
2004.01
2004.03
2004.05
2004.07
2004.09
2004.11
2005.01
2005.03
2005.05

Figura 39 – Cotação do dólar

8.4.5 Luiz Inácio Lula da Silva – primeiro mandado (2003-2006): a experiência do PT


na presidência

O governo de Lula, que vence José Serra, permanece no poder por dois mandatos. Sob o signo da
mudança, tendo como principal programa o Fome Zero – que daria lugar ao Programa Bolsa Família – e
o lema “se, ao fim do meu mandato, cada brasileiro puder se alimentar três vezes por dia, terei realizado
a missão de minha vida”, Lula é eleito com mais de 50 milhões de votos, e o povo esperava mudanças
na condução da política e da economia (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010, p. 38). Após esse período, eleita
também pelo PT, o Brasil teria uma presidenta, ou, se preferir, uma presidente: Dilma Roussef, que
também seria eleita duas vezes.

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ECONOMIA E MERCADO

Figura 40 – Em Brasília, 5 de janeiro de 2004: o ex-presidente FHC e seu sucessor eleito, Lula

Uma das principais características da gestão Lula foi uma política de continuidade do Plano Real,
mas dito um governo voltado para as questões sociais e para a retomada do crescimento do País.
Os principais nomes do governo foram: Antonio Palocci, até então ministro da Fazenda, deixando o
cargo após denúncias de escândalo e corrupção. Seu sucessor, o economista Guido Mantega, teve
papel significativo na condução da política econômica ao lado de Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central.

Durante seu mandato, a inflação também foi controlada com rigor pela administração da taxa de
juros e pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que adotaram uma política monetária bastante
conservadora, devido à manutenção de altas taxas de juros.

Desde a posse de Lula, a política macroeconômica foi anunciada e executada com o objetivo de
alcançar a autossustentabilidade das contas públicas, dando continuidade ao regime de câmbio flexível
e metas de inflação sem que fosse necessário elevar a carga tributária, bastante penosa para a sociedade
brasileira (NASCIMENTO, 2014). Tais medidas visavam à sustentação do superávit primário de 4,25% do
PIB ao mesmo tempo em que se reduzia o gasto com o serviço de dívida.

A política fiscal com vistas à estabilidade da dívida pública e ao controle das contas governamentais
é projetada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), e houve maior atenção à Lei de Responsabilidade
Fiscal, criada na época de Fernando Henrique Cardoso.

Conforme destaca Giacomoni (2012, p. 238), as administrações federais do período pós-1988,


provavelmente reconhecendo a incapacidade de o Estado atual assumir as responsabilidades de condutor
do processo de desenvolvimento econômico, não elaboraram “planos nacionais de desenvolvimento”,
nos moldes daqueles que caracterizavam o Estado desenvolvimentista. Igualmente, não vêm sendo
elaborados os “planos regionais” de desenvolvimento, que, nos termos da Constituição, devem integrar
os “planos nacionais” e serem com eles aprovados.

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Unidade IV

Segundo Giambiagi (2011, p. 197-198),

A posse de Lula em 2003 teve dois significados importantes. Em primeiro


lugar, em termos político-ideológicos, representou a ascensão da esquerda
ao poder, através do Partido dos Trabalhadores (PT). Pelas posições deste
desde a primeira vez que Lula foi candidato a presidente, em 1989, o novo
governo parecia encarnar uma mensagem de transformação talvez apenas
comparável, na América do Sul, à posse de Salvador Allende no Chile, nos
anos de 1970. Em segundo lugar, a perspectiva de um governo Lula servia
como um teste importante para a economia brasileira. De fato, durante
anos, inicialmente com as reformas dos governos Collor/Itamar Franco e,
mais especialmente, após o Plano Real, as autoridades tinham assumido o
discurso das mudanças estruturais. Isso implicava afirmar que a defesa da
estabilidade e, a partir do fim dos anos 1990, a austeridade fiscal, seriam
transformações permanentes, que cristalizariam ambições nacionais, e não
do partido A ou B. Esse discurso, porém, tinha dificuldades para convencer
muitos analistas, tanto no mercado doméstico como no internacional, como
se conclui à luz dos prêmios de risco e das taxas de juros ainda bastante
elevadas observadas na prática ao longo de todo o período de 1999-2002.
Em outras palavras, o mercado pareceu durante muito tempo entender
que o compromisso com a estabilidade e a austeridade era do presidente
Fernando Henrique Cardoso (FHC), junto com seu ministro da Fazenda
(Pedro Malan) e o Banco Central. Havia dúvidas, porém, sobre até que ponto
esses compromissos seriam mantidos pelo governo seguinte.

Como vimos, na medida em que o candidato principal do Partido dos Trabalhadores mais verificava as
possibilidades de eleição, um processo de mudança moderada de aproximação com o centro político ficou
mais evidente. Ainda que importante, esse processo de conversão do PT, até 2002, ainda era incipiente.
Segundo Giambiagi (2011), é possível fazer uma longa listagem de declarações e/ou atos, desde economistas
simpatizantes até o seu próprio líder, passando por deputados e representantes diversos do partido, cujo
teor trazia preocupação aos mercados no início da década. Citaremos alguns casos.

A economista Maria da Conceição Tavares, ex-deputada federal do PT e na


época conselheira de Lula, escreveu em julho de 2000 um artigo defendendo
a ideia de que “está mais do que na hora de submeter à população um
plebiscito nacional sobre a dívida externa que esclareça os prejuízos
decorrentes de manter essa situação de submissão a regras do FMI, que
mantêm o país prisioneiro do capital financeiro internacional” (GIAMBIAGI,
2011, p. 199).

É bem verdade que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) havia levantado a bandeira
acerca de um possível plebiscito cujo teor pairava em torno de três questões, e as principais lideranças
do Partido aproveitaram o ensejo e rumaram na mesma direção. Vejamos as questões:

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ECONOMIA E MERCADO

• se o acordo com o FMI deveria ser mantido;

• se a população era favorável a uma auditoria da dívida externa;

• se o orçamento público deveria continuar pagando a dívida interna dos especuladores.

Na execução da política econômica adotada até então por FHC e que supostamente poderia ser
conduzida na gestão Lula, em especial quanto à manutenção de superávits orçamentários, houve
manifestações nada agradáveis. É o que reproduz Giambiagi (2011, p. 199):

Guido Mantega, por exemplo, que representava o candidato Lula em


diversos eventos e, na época, tinha uma coluna regular no jornal Valor
Econômico, manifestou-se muito claramente nos seguintes termos em
2001 acerca das metas fiscais para 2002-2004 anunciadas na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO): a meta de superávits primários de 3% do
PIB de 2001 a 2004, contida na última LDO, é exagerada e suicida para
uma economia que precisa de investimentos.

A advertência efetuada por Mantega corrobora o que Lula anunciava nos debates dos presidenciáveis
em TV aberta, quando afirmava com veemência que a condução das políticas fiscais e monetárias deveria
estar nas mãos do governo, e não dos organismos internacionais – como estavam à época. Dizia que o
País não poderia mais continuar vítima da insanidade da política econômica para pagar juros ao capital
rentista, e não aos salários aos trabalhadores. Um momento importante do debate programático se deu
em 2001, com a divulgação do primeiro documento oficial do Partido com vistas às eleições de 2002.
O plano econômico Um outro Brasil é possível (PT, 2001) é, segundo Giambiagi (2011), as propostas
principais eram:

• renegociação da dívida externa.

• limitação, na forma de um percentual-teto das receitas, da disponibilidade de recursos destinados


ao pagamento de juros da dívida pública.

O programa econômico que seria revisto seria também rebatizado – A ruptura necessária, aprovado
no fim de 2001 e lançado em 2002. É vital destacar o seguinte: quando aparecem nos documentos as
expressões “renegociação de dívida externa”, “limitação de pagamento de juros” ou mesmo “ruptura”,
grande parte do mercado financeiro tem preocupação. Seguindo, o programa de governo seria
complementado com o projeto denominado Fome Zero, que propunha, entre outras atitudes:

— Conceder benefícios previdenciários de 1 salário mínimo aos


trabalhadores não contribuintes do INSS do meio urbano, estimando-se
explicitamente que o efeito decorrente da inclusão dessa nova massa
de indivíduos na Previdência poderá provocar um aumento da ordem
de 2% do PIB na despesa de benefícios.

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Unidade IV

— Na tabela que definia os usos e fontes, financiar o Fome Zero através


de um sistema de cupons de alimentação com custos estimados no
próprio documento em aproximadamente 1,7% do PIB, com recursos
do Tesouro e da assistência social, o que significava, na prática, em se
tratando de um novo programa, um aumento de gastos nesse montante,
sem fonte de recursos assegurada (GIAMBIAGI, 2011, p. 201).

Em outras palavras, o documento, cuja página inicial era assinada pelo próprio Lula, propunha
aumentar o gasto público, assistencial e previdenciário com medidas que, somando as citadas
com outras propostas, representavam uma variação do gasto da ordem de 5% do PIB em relação à
situação da época.

Saiba mais

Leia mais sobre o programa Fome Zero:

YAZBEK, M. C. Fome zero: uma política social em questão. Saúde e


Sociedade, v. 12, n. 1, p. 43-50, jan./jun. 2003. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/sausoc/v12n1/07.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2018.

O entendimento dessa nova mudança do PT se inicia na disputa eleitoral de 2002. Antônio


Palocci, prefeito de Ribeirão Preto, assume a coordenação do programa de governo. Ele já tinha sido
deputado federal, portanto, alguém como experiência em gestão pública, mas pouco conhecido
da grande mídia. Enquanto coordenador, procura debater com diferentes grupos de economistas
e com representantes do estabilishment, transmitindo a visão de que o partido tinha mudado e
abandonado a ideologia da ruptura.

Não tardaria para que Palocci fosse indicado para o Ministério da Fazenda, já no início do governo,
em 2003. Em abril, é divulgado o documento oficial Política Econômica e Reformas Estruturais (2003).

Saiba mais

FÓRUM ESTADUAL EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA DE SÃO PAULO


(FEDEPSP). Política Econômica e Reformas Estruturais. Brasília, abr. 2003.
Disponível em: <http://www.fedepsp.org.br/superior/politica_econ_ref_
estrut.pdf>. Acesso em: 13 jan. 2018.

É nesse documento que, de fato, estão as bases da propositura de um modelo de desenvolvimento


com preservação da estabilidade macroeconômica e melhor tratamento do gasto público, prevendo
maior efetividade no tocante às necessidades sociais.

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ECONOMIA E MERCADO

O citado texto enfatizava tópicos como a necessidade de rever a Lei de


Falências; a concessão de autonomia operacional ao Banco Central; a
importância de modificar as regras de aposentadoria do funcionalismo; a
defesa de uma maior focalização do gasto público e outras propostas que,
até então, o PT tinha tradicionalmente combatido (GIAMBIAGI, 2011, p. 204).

O autor continua:

Emblemático da mudança de enfoque do Partido foi o reconhecimento, nesse


documento do Ministério da Fazenda, do mérito de muitas das políticas sociais
do governo anterior, ao afirmar que “[...] ao longo dos últimos 10 anos, o
Brasil reduziu significativamente o grau de extrema pobreza em cerca de 4,5
pontos percentuais, apresentando um dos melhores desempenhos entre os
países latino-americanos”. O contraste entre essa passagem do documento e
as críticas do PT nos anos anteriores, acerca do suposto descaso do governo
FHC com a questão social, é evidente (GIAMBIAGI, 2011, p. 204).

Já empossado, corroborando a mudança em relação ao passado, o governo tomou as seguintes decisões:

• nomeação de Henrique Meirelles para a Presidência do Banco Central, mantendo a diretoria


anterior – era um sinal claro de continuidade à política monetária;

• prosseguimento do programa de metas para inflação de 8,5% e 5,5%, respectivamente, para o


período 2003 e 2004, reafirmando o compromisso com a política anti-inflacionária;

• elevação da taxa Selic nas primeiras reuniões do Copom;

• revisão da meta do superávit primário, passando de 3,75% para 4,25% do PIB em 2003;

• anúncio de cortes do gasto público como forma de viabilizar o desempenho fiscal, mesmo que
isso contrariasse compromissos de investimentos anteriormente anunciados;

• compromisso perante a Lei de Diretrizes Orçamentárias de manter a mesma meta fiscal, de 4,25%
do PIB de superávit primário, para o período de 2004-2006.

Conforme analisa Giambiagi (2011, p. 207),

Agindo assim, o PT somou-se a um vasto conjunto de partidos de esquerda,


que, ao longo dos anos e em diferentes países, tinham se transformado
durante o exercício do poder, adotando políticas relativamente ortodoxas
baseadas na austeridade fiscal e na estabilidade de preços. De certa forma,
anos depois, o partido dava razão à tese que muitos de seus líderes criticavam,
de que tanto a austeridade como a estabilidade deveriam ser políticas de
Estado, independentemente do partido que estivesse no governo.
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Unidade IV

E acrescenta:

A sequência anteriormente mencionada de nomeação de Palocci para


ministro da Fazenda, seguida da indicação de um banqueiro central, foi
vista pelo mercado como confiável; do anúncio da conservação inicial do
restante da diretoria do BC, herdada de Armínio Fraga; e de duas novas
rodadas de aumento dos juros, até 26,5% a.a, já no governo Lula, gerou
uma grande distensão do ambiente financeiro a partir do primeiro trimestre
de 2003; Nesse contexto – e ajudada pelos excelentes resultados mensais
da balança comercial – a taxa de câmbio recuou para menos de R$ 3,00 no
segundo trimestre. Enquanto isso, o risco-país desabava para menos de 800
pontos, praticamente o mesmo nível de um ano antes, devolvendo em sua
totalidade o que em 2002 o mercado denominava “efeito Lula” (GIAMBIAGI,
2011, p. 208)

A estabilidade das contas públicas, o desempenho promissor da economia, o controle inflacionário e


a queda do câmbio colocou o Brasil em situação favorável para uma renovação do acordo com o Fundo
Monetário Internacional. Na verdade, mais funcionou como uma espécie de linha de crédito aberta e
disponível para o uso de recursos quando necessário. À época, o Brasil não fez uso dele (NAKATANI;
OLIVEIRA, 2010). Por outro lado, e contribuindo com o cenário interno, as baixas taxas de juros praticadas
nos Estados Unidos faz com que novo ingresso de capital no País seja verificado, auxiliando mais ainda
a queda da cotação do dólar. Vale dizer que a taxa real de juros de 2003, medida pela Selic, esteve em
torno de 13%. Importante destacar que a calmaria que o governo Lula encontrara no campo econômico
e político, causada em especial pelo bom desempenho das economias mundiais, foi favorecida com o
anúncio de mais duas ações: envio ao Congresso de proposta de reforma tributária e, em paralelo, a
reforma da Previdência Social.

No primeiro caso, a reforma tributária proposta visava quatro objetivos:

(1) uniformizar a legislação do ICMS, contribuindo para reduzir as


possibilidades de evasão;

(2) prorrogar a Desvinculação de Receitas da União (DRU), que reduz


parcialmente a vinculação das despesas às receitas, dando certa margem de
manobra às autoridades para remanejar recursos e aproveitar receitas para
fazer superávit primário, sem ter de gastá-las;

(3) renovar a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras


(CPMF), evitando queda da receita em 2004; e

(4) transformar a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social


(Cofins) em uma tributação sobre o valor adicionado, em substituição à
taxação em cascata até então prevalecente (GIAMBIAGI, 2011, p. 210).

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ECONOMIA E MERCADO

No caso da Previdência Social,

A proposta se concentrou no regime dos servidores públicos e, basicamente,


contemplou os seguintes elementos mais importantes: taxação, através de
alíquota contributiva, dos servidores inativos, com a mesma alíquota dos
ativos, ressalvado um limite mínimo de isenção; aplicação de um redutor
para as novas pensões acima de um certo piso de isenção; antecipação, para
todos os funcionários da ativa da idade mínima para aposentadoria integral,
de 60 anos para os homens e 55 anos para as mulheres, prevista apenas para
os novos entrantes na Emenda Constitucional nº 20, de 1998; e definição
do mesmo teto de benefício do INSS para os benefícios dos novos entrantes,
com a possibilidade de criação de fundos de pensão para a complementação
da aposentadoria a partir desse limite (GIAMBIAGI, 2011, p. 210).

Saiba mais

Conheça mais sobre os programas de distribuição de renda no Brasil


e seus efeitos na economia. Para tanto, convidamos a ler o texto para
discussão nº 281 da FGV,

SOUZA, A. P. Políticas de distribuição de renda no Brasil e o Bolsa


Família. São Paulo School of Economics, Fundação Getulio Vargas, Workin
Paper XXX, jan. 2011. Disponível em: <http://cmicro.fgv.br/sites/cmicro.fgv.
br/files/arquivos/WP_1_2011.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2018.

Do que se pode inferir sobre o primeiro mandato de Lula, e que foi bem explicitado pelos policy
makers do governo, é que o presidente optou pela vertente de fé no mercado como promotor do
crescimento equilibrado e sustentável da economia, o que é condizente com o receituário do Consenso
de Washington, que ronda a política macroeconômica brasileira desde os idos de Fernando Collor.
Segundo tal receituário, não se vislumbram oportunidades de desenvolvimento que não sejam pela
busca insistente da estabilidade monetária, o que exige, sem qualquer tipo de discussão, política
monetária altamente restritiva e a substituição da intervenção estatal pelo livre jogo do mercado. Do
contrário, não se sai do lugar. Foi justamente assim que se comportou o Banco Central durante tal
gestão: prosseguindo na mesma trajetória do governo anterior, o novo Copom, nomeado por Lula,

Elevou a taxa de juros para 25,5% em janeiro e 26,5% em fevereiro de 2003,


mantendo-a nesse nível até maio e reduzindo-a progressivamente até 16,0%
em abril de 2004. Após cinco sessões sem alteração na taxa Selic, o Copom
voltou a aumentar sistematicamente a taxa básica, desde setembro de 2004,
até atingir 19,75% ao ano entre os meses de maio e agosto de 2005. A partir
de setembro, ante um movimento de desaceleração da inflação, deu início
a um movimento de redução contínua da taxa básica até o fim de 2006,

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Unidade IV

fechando o ano em 13,25%. De qualquer modo, a taxa Selic foi mantida,


durante quase todo o primeiro mandato do governo Lula, na posição da taxa
real de juros mais alta do mundo (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010, p. 40).

Por outro lado, mesmo com a economia com bom desempenho, não faltaram críticas ao modelo pelo
lado da heterodoxia. A política de juros elevados até pode estimular o ingresso de capitais estrangeiros;
no entanto, produz péssimos efeitos à economia: desestimula investimentos privados e o consumo,
reduz o crescimento econômico, com impactos negativos sobre o emprego, aumenta o endividamento
interno e, por consequência, os encargos da dívida.

8.4.6 Luiz Inácio Lula da Silva – segundo mandato (2007-2010)

Figura 41 – Lula no dia de posse de sua reeleição

Em meio a um conjunto de acusações de distribuição de propina, escândalos de corrupção


envolvendo financiamento de campanha eleitoral que foram objeto de investigação em várias Comissões
Parlamentares de Inquérito (CPIs), entre elas a dos Correios e do Mensalão, Lula vence as eleições para
seguir com seu segundo mandato. Contando com o apoio popular e com o Bolsa Família, vence com
mais de 60% dos votos. Mesmo com a queda de José Dirceu, ministro chefe da Casa Civil, e de Antonio
Palocci, ministro da Fazenda, o governo persistiu em suas propostas, digamos, neoliberais, com foco na
estabilidade monetária: o crescimento da economia estaria a cargo do mercado, e suas decisões seriam
privadas de investimento produtivo.

O Ministério da Fazenda era conduzido por Guido Mantega desde o fim do primeiro governo.
Mantega foi assessor de Lula por vários anos. Ex-ministro do Planejamento, também foi presidente do
BNDES na época da mudança na condução da Fazenda.

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ECONOMIA E MERCADO

De forma similar ao mandato anterior, o atual governo foi beneficiado pelos bons ventos
provenientes da economia internacional. Ainda: países emergentes, a exemplo de Rússia, Índia e China
tratarão de puxar a expansão econômica de seus parceiros, de que o Brasil, de alguma forma, tem
proveito. Outro ponto a acentuar está com o crescimento dos preços das commodities no mercado
internacional, oferecendo conquistas em termos de saldos comerciais graças ao ingresso de divisas
via exportações. Nesse cenário de otimismo, não se pode deixar de destacar as grandes promessas
das novas jazidas de petróleo na camada pré-sal dos campos marítimos que foram descobertas.
Como não apostar que o porvir seria bom? Ademais, o País sediaria a Copa do Mundo de 2014 e as
Olímpiadas de 2016, no Rio.

Como bem explicam Nakatani e Oliveira (2010, p. 43-44),

No entanto, esse otimismo começou a se enfraquecer com a crise dos


títulos imobiliários em agosto de 2007, a qual, restrita inicialmente aos
Estados Unidos, alçou voo e ganhou dimensão global, quando se abriram
perspectivas de acentuada desaceleração econômica, cuja evidência já
começou a ficar clara no primeiro semestre de 2008, especialmente nas
economias desenvolvidas. Como consequência, o ciclo de alta do preço
das commodities, que vinha beneficiando as economias emergentes, entre
as quais o Brasil, apesar das pressões inflacionárias que estava gerando,
mudou de direção e colocou uma nova realidade para o País. A situação
das contas externas ingressou em progressiva trajetória de deterioração, em
razão da excessiva valorização do câmbio, da desaceleração mundial e da
queda dos preços das commodities: o saldo da balança comercial, depois
de atingir US$ 46,5 bilhões em 2006, caiu para US$ 40 bilhões em 2007
e para US$ 25 bilhões em 2008; o saldo da conta-corrente, que vinha se
mantendo superavitário em 2006, encolheu para US$ 1,55 bilhão em 2007,
tornando-se deficitário em US$ 28 bilhões em 2008, com perspectiva de
que poderia gerar um déficit superior a US$ 35 bilhões em 2009.

Observação

Sempre que a economia brasileira parece começar com os próprios


pés, há condicionantes exteriores, e o que foi conquistado no passado não
garante conquistas no futuro.

Mesmo que a economia brasileira pudesse enfrentar crises internacionais, a contração da demanda
externa e do crédito, a forte desvalorização do Real frente ao dólar e pressões inflacionárias como dela
decorrente frearam novamente a confiança dos agentes econômicos, que já viam impactos negativos
no setor exportador e na contração do crédito para consumo de bens duráveis.

Diante desse quadro, ao fim de 2008, caberia ao Banco Central imediatamente elevar a taxa de juros
para conter o impacto inflacionário no câmbio para, depois, iniciar uma trajetória de diminuição da
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Unidade IV

taxa de juros, que atingiu 8,75% ao ano. Como forma de incentivar o crédito e aumentar a liquidez da
economia, flexibilizou o recolhimento compulsório.

Do lado da política fiscal, iniciativas expansionistas também foram adotadas pelo Ministério da Fazenda:

• alavancagem do crédito dos bancos públicos, a exemplo do BNDES, do Banco do Brasil e da Caixa
Econômica Federal;

• desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados para veículos, material de construção


civil e eletrodomésticos, notadamente aqueles conhecidos como linha-branca;

• revisão, para baixo, nas metas de superávit primário.

Observação

Tal flexibilização, tanto do lado monetário quanto do fiscal, não


manifesta intenção de ruptura com a política contracionista até então
adotada no sentido da manutenção da estabilidade macroeconômica.
Trata-se de aproveitar as condições de mercado para colocar novamente a
economia brasileira na rota do crescimento.

A intensidade da crise, que não se manifestou como preocupante no Brasil, pode ser explicada
pelos níveis elevados de reservas internacionais. Em setembro de 2008, o volume era de US$ 207
bilhões, passa para US$ 199 bilhões em fevereiro de 2009 e sobe para US$ 219 bilhões no início do
segundo semestre do ano.

Pires e Paulino (2010, p. 365) explicam que

A manutenção dos elevados níveis de reservas contribuiu para a contenção


da desvalorização cambial, iniciada em setembro de 2008. No pior momento
da crise, o dólar atingiu, em média mensal, R$ 2,378, em fevereiro de 2009.
A partir daí iniciou uma trajetória de queda, que pode até exigir medidas de
controle do fluxo de capitais como forma de estabilizar a taxa.

Outro importante programa do governo Lula no período, que também ganha espaço no mandato
do próximo governante, é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com o objetivo de sustentar
uma taxa de crescimento de 5% ao ano, em janeiro de 2007 foi lançada uma prévia de investimentos
de cerca de R$ 500 bilhões para os próximos quatro anos em áreas selecionadas, a exemplo de energia
(incluindo petróleo), infraestrutura social e urbana, e logística (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos,
hidrovias). O PAC teve como objetivo anunciado romper barreiras e superar limites ao crescimento
econômico, a fim de manter uma taxa de crescimento de 5% ao ano. Nakatani e Oliveira (2010, p. 44-
45) esclarecem que

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ECONOMIA E MERCADO

Embora espelhasse uma importante mudança em relação à política


de curto prazo em vigor desde a década de 1980, já que introduzia em
cena preocupações estratégicas e uma perspectiva do planejamento de
longo prazo, bem como o enfrentamento de questões decisivas para o
desenvolvimento mais sustentado, o PAC não pode ser visto mais do que
como um instrumento de centralização e de coordenação de recursos
que já estavam, em sua maior parte, previamente decididos e alocados
nos orçamentos das empresas estatais e previstos no orçamento da União
(Fiscal e Seguridade), acrescidos da ampliação da cota da meta do superávit
primário destinado ao Projeto Piloto de Investimento PPI (cerca de R$ 11
bilhões em 2007) e de apostas de que o setor privado se mostraria disposto
a realizar os investimentos pretendidos, nesse período, da ordem de mais de
R$ 200 bilhões.

Quanto ao PAC, e o que está declarado no Plano Plurianual (PPA) deste governo, destaca-se que
compreendia um

Conjunto de investimentos públicos em infraestrutura econômica e


social nos setores de transportes, energia, recursos hídricos, saneamento
e habitação, além de diversas medidas de incentivo ao desenvolvimento
econômico, estímulos ao crédito e ao financiamento, melhoria do ambiente
de investimento, desoneração tributária e medidas fiscais de longo prazo. As
metas propostas pelo PAC envolvem expansão significativa do investimento
público e, em decorrência, do investimento privado. A elevação do nível
de investimento pelo setor público na resolução dos gargalos existentes
na infraestrutura logística e energética, aliada à continuidade das políticas
inclusivas – essenciais à expansão do mercado interno –, é fundamental para
a expansão da capacidade produtiva nacional e elevação da produtividade
sistêmica da economia. Estão previstos investimentos em infraestrutura
logística, em energia e em infraestrutura social e urbana superiores a R$
500 bilhões, equivalentes em 2007 a cerca de 20% do PIB, com equilibrada
distribuição territorial, de modo a reduzir as desigualdades regionais.

Saiba mais

Para verificar ano a ano as ações, as metas físicas, os programas e os


indicadores do Plano Plurianual do período 2008-2011, acesse:

BRASIL. Plano Plurianual 2008-2011. Secretaria de Planejamento e


Investimentos Estratégicos. Brasília, 2007. Disponível em: <http://dados.
gov.br/dataset/plano-plurianual-2008-2011>. Acesso em: 13 jan. 2018.

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Unidade IV

Desvinculada das estratégias de estabilização empreendidas pelo lado monetário, mas não conflitando
com o planejamento de longo prazo do governo, a Medida Provisória nº 428 é lançada em 12 de maio
de 2008 e encaminhada para apreciação do Congresso Nacional. Criava a Política de Desenvolvimento
Produtivo (PDP), chamada por alguns de PAC da indústria (BRASIL, 2008). Nesse documento, eram
previstas algumas metas a serem conquistadas até 2010, entre elas:

• aumento da taxa dos investimentos de 17,6% do PIB para 21% do PIB;

• expansão dos investimentos na área de pesquisa e desenvolvimento para 0,65% do PIB contra os
0,51% previstos para 2006;

• aumento para 1,25% das exportações brasileiras no mercado internacional;

• elevação de 10% no número de micro e pequenas empresas do setor de exportação.

As metas seriam viabilizadas por meio de concessão de desonerações fiscais às empresas-alvo do


programa, combinadas de financiamento por parte do BNDES no montante de R$ 210,4 bilhões até 2010,
com redução da taxa de juro de longo prazo (TJLP) cobrada pelo banco. Entre os setores apontados na
PDP, seis figuram como estratégicas: saúde, energia, tecnologia de informação e comunicação, defesa,
nanotecnologia e biotecnologia; seis são considerados mais relevantes para a consolidação de suas
estruturas e mercados: aeronáutica, mineração, siderurgia, papel e celulose, petroquímica e carnes;
e os demais, necessitando de apoio para o aumento de competitividade, eram: automotivo, plásticos,
agroindústria, indústria naval e cabotagem, couros, calçados e artefatos, bens de capital, madeira e móveis.

A PDP foi orientada, portanto, para:

a) Contrapor-se aos prejuízos provocados pela excessiva valorização do Real,


fortalecendo o setor exportador, principalmente por meio da ampliação
de linhas de financiamento e pela desoneração de impostos, e ainda pela
promoção de uma onda substitutiva de importações de setores com grande
dependência de insumos e equipamentos estrangeiros.

b) Expandir a capacidade da produção nacional, com o aumento dos


investimentos privados, reduzindo o descompasso entre a oferta e demanda
e fortalecendo o mercado interno.

c) Em sintonia com o PAC, assegurar a expansão da infraestrutura econômica


requerida para viabilizá-lo (NAKATANI; OLIVEIRA, 2010, p. 46).

Pode-se entender a PDP como um desdobramento do PAC? Em certa medida, sim, pois aqui estão
declaradas também intenções desenvolvimentistas com bases em condições macroeconômicas sólidas.
Diante do que foi acentuado, há possibilidade de abrir espaço para considerar o Plano Plurianual do
atual governo.

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ECONOMIA E MERCADO

No fim de abril de 2008, como prêmio pelo desempenho macroeconômico que vinha apresentando,
o Brasil recebeu selo de grau de investimento da agência Standard & Poor’s, status que, em tese, abriria
ainda mais a economia para receber maiores investimentos do resto do mundo, sobretudo de fundos
institucionais, cujas aplicações só podem ser realizadas em países que possuem essas condições. E, no
fim de maio, esse mesmo status lhe seria atribuído pela agência Fitch, reforçando a sua condição de
país confiável para o investidor estrangeiro. No entanto, esse processo foi interrompido pelo avanço da
crise financeira internacional, que, apesar de desencadeada no centro do capitalismo mundial de 2007,
começaria a se espalhar pelo resto do mundo no primeiro semestre de 2008, exatamente quando o
Brasil se preparava para colher os frutos por seu bom comportamento.

Lembrete

Sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, no Rio,


foram trunfos do governo.

8.4.7 Dilma Vana Rousseff – primeiro mandato (2011-2014)

Primeira mulher a ocupar o cargo de presidente no Brasil, Dilma Vana Rousseff ganhará, pelo Partido
dos Trabalhadores e em segundo turno, as eleições de outubro de 2010, tendo como rival o candidato
do PSDB, José Serra que conquistou, no embate, 43,95% dos votos. Seu primeiro mandato compreende
o período 2011-2014.

Figura 42

Como havia sido ministra de Minas e Energia e, depois, ministra-chefe da Casa Civil durante o
segundo mandato do presidente Lula, era, de alguma forma, conhecida nos meios de comunicação e
forte aliada ao governo, que fez o possível para que seu plano de governo tivesse continuidade. Assim,
Dilma surgirá como a presidente que dará sequência aos programas já delineados.

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Unidade IV

É possível destacar algumas de suas propostas de campanha que certamente estavam vinculadas às
do governo Lula:

• continuidade do Programa de Aceleração do Crescimento, com ampliação de investimentos;

• aprofundar os investimentos infraestruturais previstos no Programa Luz para Todos, cujo objetivo
era o de levar energia elétrica ao maior número possível do povo da zona rural;

• ampliar a base do programa de transferência de renda, conhecido como Bolsa Família.

Para que seu governo seguisse, a equipe econômica faria diferença: Alexandre Tombini foi indicado
para a Presidência do Banco Central no lugar de Henrique Meirelles, e lá permaneceu durante os oito
anos de Lula, enquanto Guido Mantega foi mantido no Ministério da Fazenda. Com a mesma política
macroeconômica de seu antecessor e ancorada nas metas de inflação e no superávit fiscal e regime de
câmbio flutuante, taxas elevadas de crescimento foram objetivos dessa política para os anos de 2011 e
2012, o que contaria com a sintonia fina e bem coordenada entre o Tombini e Mantega.

O processo de aceleração inflacionária, que teve início no fim de 2012 e


se estendeu pelo primeiro semestre de 2013, associado ao resultado
decepcionante do crescimento econômico de 2012, explicitou os dilemas
do regime de política macroeconômica e os limites da própria estratégia
de flexibilização, que caracterizou o primeiro biênio do governo Dilma. O
combate à inflação, que havia cedido espaço para a busca de um crescimento
econômico mais acelerado, voltou a ocupar o topo das prioridades do governo
em 2013. Assim, diante da manutenção da política de metas de inflação,
a autoridade monetária acabou respondendo às pressões inflacionárias,
levando ao início de uma nova fase de elevação da taxa básica de juros
(CAGNIN et al., 2003, p. 171).

Muito se diz que a presidente eleita não tinha um projeto de governo, ou que dele não
necessitava, pois continuaria o que foi proposto por Lula. O fato é que temos um documento oficial
de intenções, ou ao menos propostas de intenções para seu governo. Nesse aspecto, podemos
destacar seu Plano Plurianual, que pode dar uma base de como seria seu período. A partir do
exercício financeiro de 2012, o Plano Plurianual Federal passou a ter uma nova configuração,
voltada para os resultados na gestão pública, consolidando uma visão estratégica, participativa e
territorializada para o planejamento governamental. Com a nova configuração, o PPA apresenta-se
nas seguintes dimensões:

— Dimensão estratégica: é a orientação estratégica que tem como base


os macrodesafios e a visão de longo prazo do Governo Federal.

— Dimensão tática: define caminhos exequíveis para o alcance dos


objetivos e das transformações definidas na dimensão estratégica,
considerando as variáveis inerentes à política pública tratada. Vincula
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ECONOMIA E MERCADO

os Programas Temáticos para consecução dos objetivos assumidos,


estes materializados pelas iniciativas expressas no plano.

— Dimensão operacional: relaciona-se com o desempenho da ação


governamental no nível da eficiência e é especialmente tratada no
orçamento. Busca a otimização na aplicação dos recursos disponíveis
e a qualidade dos produtos entregues (BRASIL, 2011).

Quanto aos macrodesafios, inseridos na dimensão estratégica, representam diretrizes elaboradas


com base no programa de governo e na visão estratégica que orientaria a formulação dos programas
do PPA, que são instrumentos de organização da ação governamental visando à concretização dos
objetivos pretendidos.

O Programa Temático retrata no PPA a agenda de governo organizada pelos temas das políticas
públicas e orienta a ação governamental. Sua abrangência deve ser a necessária para representar os
desafios e organizar a gestão, o monitoramento, a avaliação, as transversalidades, as multissetorialidades
e a territorialidade. O Programa Temático desdobra-se em “Objetivos” e “Iniciativas”.

O “Objetivo” expressa o que deve ser feito, refletindo as situações a serem alteradas pela
execução de um conjunto de iniciativas, com desdobramento no território. O objetivo possui as
seguintes características:

— Define a escolha para a implementação da política pública desejada,


levando em conta aspectos políticos, sociais, econômicos, institucionais,
tecnológicos, legais e ambientais. Para tanto, a elaboração do Objetivo
requer o conhecimento aprofundado do respectivo tema, bem como
do contexto em que as políticas públicas a ele relacionadas são
desenvolvidas.

— Orienta taticamente a ação do Estado no intuito de garantir a entrega


à sociedade dos bens e serviços necessários para o alcance das metas
estipuladas. Tal orientação passa por uma declaração objetiva, por
uma caracterização sucinta, porém completa, e pelo tratamento no
território considerando suas especificidades.

— Expressa um resultado transformador da situação atual em que se


encontra um determinado tema.

— É exequível, ou seja, o Objetivo deve estabelecer metas factíveis e


realistas para o governo e a sociedade no período de vigência do Plano,
considerando a conjuntura econômica, política e social existente.
Pretende-se, com isso, evitar declarações genéricas que não representam
desafios, bem como a assunção de compromissos intangíveis.

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Unidade IV

— Define Iniciativas que declaram aquilo que deve ser ofertado na forma
de bens e serviços ou pela incorporação de novos valores à política
pública, considerando como organizar os agentes e os instrumentos
que a materializam.

— Declara as informações necessárias para a eficácia da ação


governamental (o que fazer, como fazer, em qual lugar, quando),
além de indicar os impactos esperados na sociedade (para que)
(NASCIMENTO, 2014, p. 109).

A “Iniciativa” declara as entregas à sociedade de bens e serviços, resultantes da coordenação de


ações orçamentárias e outras: ações institucionais e normativas, bem como da pactuação entre entes
federados, entre Estados e sociedade e da integração de políticas públicas. A “Iniciativa” associa-se a
duas dimensões:

• Fontes de financiamento:

— orçamento e outras fontes;

— formas de gestão e implementação.

Dentro dessa nova estrutura, o Plano Plurianual para o período 2012-2015 representa as diretrizes
do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff e segue a nova configuração. É importante destacar
os principais pontos de discussão da dimensão estratégica do Plano Mais Brasil, bem como seus
macrodesafios (BRASIL, 2011).

A dimensão estratégica apresenta:

• A visão de futuro do Brasil que se quer construir.

• Descrição do cenário macroeconômico, com a análise do período recente, do contexto


internacional, dos desafios a serem enfrentados pelos programas delineados no Plano, as projeções
macroeconômicas, tanto pelo lado da demanda quanto pelo lado da oferta, projeção da inflação e
condições do setor público.

• Avaliação do cenário social do ponto de vista da demografia, desigualdades e pobreza;

• Condições no cenário ambiental, em especial a geração e distribuição de energia;

• Cenário regional.

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ECONOMIA E MERCADO

Seus macrodesafios são:

— Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND): dar seguimento ao PND


apoiado na redução das desigualdades regionais, entre o rural e o
urbano e na continuidade da transformação produtiva ambientalmente
sustentável, com criação de empregos e distribuição de renda.

— Erradicação da Pobreza Extrema: superar a pobreza extrema e


prosseguir reduzindo as desigualdades sociais.

— Ciência, Tecnologia e Inovação: consolidar ciência, tecnologia e inovação


como eixo estruturante do desenvolvimento econômico brasileiro.

— Conhecimento, Educação e Cultura: propiciar o acesso da população


brasileira à educação, ao conhecimento, à cultura e ao esporte com
equidade, qualidade e valorização da diversidade.

— Saúde, Previdência e Assistência Social: promover o acesso universal


à saúde, à previdência e à assistência social, assegurando equidade e
qualidade de vida.

— Cidadania: fortalecer a cidadania, promovendo igualdade de gênero


e étnico-racial, respeitando a diversidade das relações humanas e
promovendo a universalização do acesso e elevação da qualidade dos
serviços públicos.

— Infraestrutura: expandir a infraestrutura produtiva, urbana e social de


qualidade, garantindo a integração do Território Nacional e do país
com a América do Sul.

— Democracia e Participação Social: fortalecer a democracia e


estimular a participação da sociedade, ampliando a transparência
da ação pública.

— Integridade e Soberania Nacional: preservar os poderes constitucionais,


a integridade territorial e a soberania nacional, participando
ativamente da promoção e defesa dos direitos humanos, da paz e do
desenvolvimento no mundo.

— Segurança Pública: promover a segurança e integridade dos cidadãos,


através do combate à violência e do desenvolvimento de uma cultura
de paz.

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Unidade IV

— Gestão Pública: aperfeiçoar os instrumentos de gestão do Estado,


valorizando a ética no serviço público e a qualidade dos serviços
prestados ao cidadão (BRASIL, 2011).

Para que os dispêndios pudessem ser efetuados, o financiamento do PPA do período contava
com recursos da ordem de R$ 5,4 trilhões, provenientes de orçamento fiscal, da seguridade social,
de investimentos das estatais e dos recursos extraordinários, a exemplo de renúncia fiscal, planos de
dispêndios das empresas estatais, agências oficiais de crédito e parcerias com o setor privado. A tabela
a seguir acentua a fonte de recursos e seu percentual no orçamento.

Tabela 21 – Fontes de recursos e participação orçamentária

Fonte de recursos (%)


Orçamento fiscal e seguridade 68
Recursos extraorçamentários 25
Investimentos de Empresas Estatais 7

Adaptado de: Brasil (2011).

Quanto à alocação dos recursos, os Programas Temáticos representam 80% do total de gastos,
distribuídos em quatro macroáreas: social (57%), infraestrutura (26%), desenvolvimento produtivo e
ambiental (15%) e especiais (2%).

Na área social, os dispêndios estão divididos da seguinte forma:

• 28% para aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS).

• 22% para trabalho, emprego e renda.

• 17% para educação.

• 13% para o fortalecimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas).

• 8% para agricultura familiar.

• 7% para o programa Bolsa Família.

• 5% para demais ações.

A política de infraestrutura contempla os seguintes programas e seus percentuais de recebimento


de recursos:

• Moradia digna: 32,6%.

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ECONOMIA E MERCADO

• Energia: 25,1%.

• Petróleo e gás: 19,1%.

• Transportes: 9,8%.

• Minerais: 5,0%.

• Demais: 8,4%.

No que diz respeito à área de desenvolvimento produtivo e ambiental, os programas associados à


área correspondem a 15% dos Programas Temáticos, divididos entre:

• agropecuária sustentável, abastecimento e comercialização (33%);

• comércio exterior (27%);

• desenvolvimento produtivo (15%);

• micro e pequenas empresas (12%);

• demais (13%).

Por fim, os temas especiais compreendem ações de organização do Estado:

• Política Nacional de Defesa recebendo 51% dos recursos destinados para a área.

• Desenvolvimento regional, territorial sustentável e economia solidária com 42% dos recursos.

• 4% dos recursos designados à política externa.

• 3% para demais ações.

É notório verificar que o governo da época manteve a política do anterior, mas com um apego
social maior do que tinha. Agora, resta-nos acompanhar a história que estamos, de certa forma,
ajudando a construir.

8.4.8 Dilma Vana Rousseff – segundo mandato (2015-2016)

Em que pese os erros e acertos cometidos durante o período de seu primeiro mandato, o fato é que
a presidente Dilma é reeleita em 2014. Desde o primeiro dia de posse até seu impeachement, 31 de
agosto de 2016, não apresenta condições de governabilidade, seja por questões políticas, por questões
econômicas, por pressão de parte da opinião pública ou mesmo das acusações, verdadeiras ou não, de
ter cometido crime de responsabilidade fiscal no mandato anterior. Não cabe a este livro-texto julgar.
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Unidade IV

Com a destituição, assume o vice-presidente, Michel Miguel Elias Temer Lulia, ou apenas Michel Temer,
que, assim como nós, está escrevendo o desenrolar da economia brasileira de nosso tempo.

Saiba mais

Saiba mais sobre o Plano Plurianual Federal 2012-2015:

BRASIL. Plano Plurianual 2012-2015. Brasília, 8 abr. 2011. Disponível


em: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/planeja/plano-plurianual/
publicacoes/2012-2015>. Acesso em: 11 jan. 2018.

Resumo

Nesta unidade estudamos a inflação e seus diversos tipos, acentuando


as formas de combate que foram adotadas pela política econômica
brasileira. Percebemos que o controle da inflação é um dos grandes objetivos
governamentais, mas não o único: fazer com que a economia cresça e se
desenvolva também está na agenda governamental. Para tanto, vimos o
que significa uma economia subdesenvolvida e o que é necessário para
superar tal entrave. Destacamos um breve histórico da economia nacional
recente tratando de um período bem emblemático: eram usadas moedas
diferentes ao mesmo tempo, vivenciamos uma época em que o Brasil foi
chefiado por vice-presidente, dois presidentes tiveram duas oportunidades
de conduzir a nação e, pela primeira vez na história deste país, uma mulher
alcançou a cadeira presidencial. Não é pouco para o espaço de mais de
vinte anos!

A nomeação de Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da


Fazenda à época do governo Itamar Franco ofereceu condições para o
desenvolvimento de um programa de estabilização robusto e consistente,
que teria apoio da sociedade brasileira, pois, diferentemente dos demais, a
população não teve nenhuma surpresa. Em seu lugar, amplo debate esteve
aberto, e a equipe econômica comunicava todas as suas decisões à sociedade.

A iniciativa, com o uso da Unidade Real de Valor (URV), em tirar a


ilusão inflacionária da mente dos brasileiros funcionou de forma branda
como transição para a nova moeda, o Real. A equiparação ao padrão
monetário internacional não ocorreu em tempos fáceis. Contudo, depois
que os fundamentos macroeconômicos foram solidificados, o governo
conseguiu responder aos ataques especulativos contra a moeda nacional
de forma coerente. Para tanto, vimos que a política de câmbio fixo, aliada

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ECONOMIA E MERCADO

à política monetária contracionista e ajuste fiscal, criou confiança no


mercado externo, que apoiou o projeto. Mesmo com as crises econômicas
internacionais, o Plano Real seguiu vivo. Entretanto, algumas convicções
foram perdidas, a exemplo do regime cambial, que passa a ser flutuante,
aquele que é usado até hoje.

Apesar de créditos positivos ao governo FHC, o mandatário não


conseguiu fazer seu sucessor. Há reveses, e a política econômica não
consegue mais responder aos anseios sociais. Nesse contexto, Lula chega
ao poder maior, comandando o País por oito anos. O período de Lula é
marcado pela continuidade aos ideários neoliberais empreendidos até
então, sem que o medo da ruptura prevalecesse. A política macroeconômica
de estabilidade seguiu, assim como a política monetária restritiva, ajuste
fiscal, reforma do Estado e algumas iniciativas sociais com as medidas
distributivas. Conquistando certa confiança do mercado internacional,
seu primeiro governo tem picos de crescimento e de estagnação, mas,
na média, é promissor, e permanece no cargo. O segundo mandato dele
foi mais conturbado, tanto do ponto de vista das condições da economia
interna quanto dos acontecimentos do mercado internacional. Podemos
dizer que o primeiro período de Lula foi favorecido pelo bom desempenho
da economia internacional, bem diferente do segundo. O mercado
internacional entra em crise em 2008, causando consequências internas,
sobretudo no mercado de câmbio. No âmbito interno, a recessão provocada
pelo mercado internacional prejudica o desempenho econômico; no lado
político, há descrença quanto a um plano de governo robusto. A impressão
é que o segundo mandato de Lula foi gerenciado com vistas à eleição de
sucessor como forma de um projeto político de permanência no poder.

Se essa última afirmação é verdadeira, não conseguimos dizer, o fato é


que a sucessão acontece. Dilma Rousseff vence as eleições e dá continuidade
às propostas que foram colocadas em prática por Lula. Quanto ao futuro, o
governo Temer é que o fará.

Exercícios

Questão 1. (ENADE 2012) No Brasil, o regime de metas de inflação foi instituído pelo Decreto nº
3.088, de 2 de julho de 1999, após a adoção do regime de câmbio flutuante, em janeiro daquele ano.
Desde sua adoção até 2005, a política monetária foi consideravelmente restritiva: a Selic foi mantida
em níveis muito elevados, principalmente se comparada com as taxas de juros internacionais. Nesse
período, o PIB apresentou taxa média de crescimento de apenas 2,3% a.a. e, entre os anos de 1999 e
2003, os preços administrados acumularam variação de 93%, muito acima da inflação medida pelo IPCA,
acumulada em 53% no mesmo período. A partir de 1999, tornou-se claro o efeito perverso da política
monetária sobre as contas públicas, ou seja, como o pagamento de juros era muito alto, verificaram-se
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Unidade IV

déficits nominais superiores a 3,5% do PIB, a despeito dos elevados superávits primários, cuja média foi
de quase 4% do PIB. Isso ocorreu devido à elevada participação das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs
– indexadas à Selic) na dívida pública, cerca de 50%. Assim, a manutenção da Selic em níveis elevados
resultou em custo financeiro igualmente elevado: a despesa com juros da dívida foi em média 8,1% do
PIB, de 1999 a 2005.

DE CARVALHO, F. J. C. et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. Rio de Janeiro: Campus, 2 ed., 2007 (adaptado).

Considerando as consequências do caráter restritivo da política monetária anti-inflacionária adotada


no Brasil e descrita no texto, avalie as afirmações abaixo:

I. De 1999 a 2005, a política monetária restritiva e a apreciação da taxa nominal de câmbio reduziram
a eficácia do único instrumento utilizado no país para estabilizar preços: a taxa de juros.

II. De 1999 a 2005, a alta participação das LFTs na dívida pública dificultou a queda da taxa de juros.

III. De 1999 a 2003, a indexação de parte do IPCA aos preços administrados, que respondem por,
aproximadamente, 30% de sua composição, tornou evidente que parcela considerável da inflação estava
fora do alcance da política de juros do Banco Central do Brasil.

IV. De 1999 a 2003, as informações sobre inflação demonstram que, para assegurar o cumprimento
das metas de inflação, é necessário que os preços livres – determinados pelas condições de oferta e
demanda – sejam excessivamente represados para compensar a forte pressão exercida pelos preços
administrados sobre o IPCA.

É correto apenas o que se afirma em

A) I e II.
B) I e III.
C) III e IV.
D) I, II e IV.
E) II, III e IV.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a forma de redução encontrada para a estabilização dos preços foi o controle da taxa
de juros. No período considerado, há mudança de âncora de estabilização. Inicialmente, a estabilização

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ECONOMIA E MERCADO

está ancorada na taxa de câmbio. Após 1999, a âncora passa a ser os juros, ou seja, inflação administrada
via taxa de juros. Foi uma decisão de política econômica dentro do modelo desenvolvido.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: as LFTs foram utilizadas como forma de diminuir a liquidez da economia com efeitos
positivos para a queda da inflação.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: a afirmativa diz que parte da inflação é controlada via juros. Outra parte depende de
demais fatores. Como preços administrados são majorados em função do IPCA, tal efeito provoca pico
inflacionário. Então, resta aos preços livres apresentarem queda.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: como os preços administrados geram crescimento do IPCA e, portanto, inflação, resta
aos preços livres cumprirem o papel contrário. Para que haja queda de preços livres, o consumo deve ser
represado.

Questão 2. Na década de 1980, o Brasil buscou combater o processo crônico de inflação ao adotar
um conjunto de planos econômicos. O primeiro desses planos foi o Cruzado, sob o governo de José
Sarney, que tinha como característica(s) básica(s)

A) O congelamento de preços e da taxa de câmbio e a criação do gatilho salarial.

B) A criação do gatilho salarial e das OTNs, com a retirada da tablita para os contratos prefixados.

C) A redução imediata dos gastos do Governo Federal e o aumento da tributação direta via imposto
de renda.

D) O estabelecimento de metas claras para as políticas monetária e fiscal, sem correspondente


política de reajustes salariais.

E) O congelamento dos preços da economia, com o consequente reequilíbrio do poder de compra de


todos os segmentos sociais e empresariais.

Resolução desta questão na plataforma.

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Exercícios

Unidade I – Questão 1: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS (FCC). Concurso Público de Analista Trainee 2008:
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Unidade II – Questão 1: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS (FCC). Concurso Público para Analista PGE –
Economista 2016: Economia. Conhecimentos Específicos. Questão 44. Disponível em: <https://www.
qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/52383/fcc-2016-pge-mt-analista-economista-prova.
pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.

Unidade II – Questão 2: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS (FCC). Concurso Público para Analista PGE –
Economista 2016: Economia. Conhecimentos Específicos. Questão 36. Disponível em: <https://www.
qconcursos.com/arquivos/prova/arquivo_prova/52383/fcc-2016-pge-mt-analista-economista-prova.
pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.

Unidade III – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2012: Ciências Econômicas.
Questão 27. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2012/03_
CIENCIAS_ECONOMICAS.pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.

Unidade IV – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2012: Ciências Econômicas.
Questão 34. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2012/03_
CIENCIAS_ECONOMICAS.pdf>. Acesso em: 2 out. 2018.

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