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Perícia, Avaliação e

Arbitragem
Autor: Prof. Ricardo Sussumu Takatori
Colaboradoras: Profa. Divane Alves da Silva
Profa. Elisabeth Alexandre Garcia
Profa. Angélica Carlini
Professor conteudista: Ricardo Sussumu Takatori

Ricardo Sussumu Takatori é mestre em Controladoria e Contabilidade pela FECAP–SP, economista pela PUC‑SP
e técnico de Contabilidade pelo Instituto Monitor‑SP. Atuou profissionalmente em empresas privadas do setor de
fabricação de canetas, telecomunicações e informática, construção civil (como especialista na elaboração de projetos
econômicos e financeiros) e na área de controladoria (orçamento e custos), ocupando cargos gerenciais. Gerenciou e
assessorou empresas do Governo do Estado, de pesquisa e controle ambiental, em obras e junto à prefeitura.

Atua como perito judicial na justiça civil e do trabalho e como assistente técnico junto aos escritórios de advocacias.

É especialista nos cálculos judiciais, principalmente da área civil.

Ministra aulas de contabilidade, economia e administração financeira, com grau de especialização em disciplinas
específicas, tais como: contabilidade pública, perícia contábil, contabilidade aplicada à construção civil, saúde, esporte,
seguros, hotelaria e turismo, métodos quantitativos e matemática financeira e outras disciplinas, nos cursos de
graduação e pós‑graduação, em instituições como Fecap, Mackenzie, Uninove, UNIP, Unifai, Unifei e outras instituições
de renome.

É autor de livros para cursos EaD de disciplinas relacionadas à contabilidade.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

T136p Takatori, Ricardo Sussumo

Perícia, avaliação e arbitragem / Ricardo Sussumo Takatori. –


São Paulo: Editora Sol, 2015.

128 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-007/15, ISSN 1517-9230.

1.Perícia. 2. Avaliação. 3. Arbitragem. I. Título.

CDU 347.918

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Virgínia Bilatto
Milena Cassucci
Lucas Ricardi
Sumário
Perícia, Avaliação e Arbitragem
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 CONCEITO DE PERÍCIA.................................................................................................................................... 11
1.1 Objeto da perícia contábil.................................................................................................................. 13
1.2 Campo de aplicação da perícia contábil...................................................................................... 14
2 FLUXOGRAMA DE UM PROCESSO JUDICIAL......................................................................................... 17
3 PERÍCIAS JUDICIAIS......................................................................................................................................... 21
3.1 Tipos de perícias judiciais................................................................................................................... 21
3.1.1 Perícia judicial........................................................................................................................................... 21
3.1.2 Perícia extrajudicial................................................................................................................................. 23
3.2 Perícia contábil no código civil e no código do processo civil........................................... 26
3.3 Características da perícia judicial................................................................................................... 38
3.4 Objeto da perícia judicial................................................................................................................... 39
3.5 Usuários da perícia contábil............................................................................................................. 41
3.6 Procedimentos básicos da perícia contábil................................................................................. 42
4 PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NA PERÍCIA JUDICIAL......................................................................... 44
4.1 Perito judicial.......................................................................................................................................... 44
4.2 Responsabilidades civil e criminal.................................................................................................. 53
4.3 Assistente técnico................................................................................................................................. 54
4.3.1 Responsabilidades................................................................................................................................... 54
4.3.2 Pareceres...................................................................................................................................................... 54

Unidade II
5 TRABALHO PERICIAL....................................................................................................................................... 59
5.1 Planejamento do trabalho pericial................................................................................................. 60
5.2 Os papéis de trabalho.......................................................................................................................... 63
5.3 Diligências................................................................................................................................................ 65
5.4 Quesitos..................................................................................................................................................... 68
5.5 Laudo pericial.......................................................................................................................................... 70
5.6 Prazos......................................................................................................................................................... 77
5.7 Honorários................................................................................................................................................ 79
5.8 Desenvolvimento do trabalho.......................................................................................................... 84
5.9 As técnicas utilizadas na elaboração do laudo pericial......................................................... 85
6 FASES DO PROCESSO JUDICIAL.................................................................................................................. 87
6.1 Fase de instrução................................................................................................................................... 87
6.2 Perícia na fase de execução.............................................................................................................. 88
6.3 A impugnação das partes.................................................................................................................. 91
6.4 Esclarecimento às partes.................................................................................................................... 91
7 AVALIAÇÃO......................................................................................................................................................... 91
7.1 Modelos de avaliação de empresas................................................................................................ 94
7.2 Modelos patrimoniais de avaliação............................................................................................... 95
7.3 Modelo de avaliação patrimonial contábil................................................................................. 95
7.4 Modelo de avaliação patrimonial pelo mercado...................................................................... 96
7.5 Avaliação relativa ou modelo baseado em múltiplos índices financeiros..................... 96
7.6 Avaliação por fluxo de caixa descontado.................................................................................... 97
8 ARBITRAGEM..................................................................................................................................................... 98
8.1 Árbitros....................................................................................................................................................101
8.2 Requisitos para ser árbitro..............................................................................................................102
8.3 Impedimento e suspeição................................................................................................................104
8.3.1 Impedimento...........................................................................................................................................104
8.3.2 Suspeição..................................................................................................................................................107
8.4 Procedimentos arbitrais....................................................................................................................110
8.4.1 Ordinário.................................................................................................................................................... 110
8.4.2 Sumário.......................................................................................................................................................111
8.4.3 Ad hoc........................................................................................................................................................112
8.5 Sentença arbitral.................................................................................................................................113
APRESENTAÇÃO

A disciplina Perícia, Avaliação e Arbitragem é uma parte muito específica da contabilidade, pois
somente os profissionais dessa área podem praticá‑la.

Cabe ao profissional de contabilidade fazer parte dos processos judiciais, auxiliando os juízes e
advogados na elucidação das dúvidas pertinentes aos aspectos contábeis.

A inserção da perícia contábil no Código do Processo Civil e na legislação pertinente reforça a


importância de ministrar a disciplina em questão, pois cabe ao profissional de contabilidade o
fornecimento de provas contábeis, respostas às questões formuladas pela justiça, juízes e advogados,
para que haja o esclarecimento e o efetivo julgamento da lide.

Em muitas situações não há a necessidade da perícia elaborada no campo judicial, pois as partes
envolvidas podem solicitar a interveniência de profissional contábil, com habilidade para esclarecer a
disputa, através da arbitragem, uma forma simplificada da perícia contábil.

Outra forma de elaborar uma perícia contábil ocorre através do arbitramento, cuja técnica é
baseada na utilização de poucos dados, com os quais o perito contábil deve ter a habilidade de definir
parâmetros para a elaboração do laudo pericial, elucidando as dúvidas da disputa judicial de forma
objetiva e clara.

São objetivos da disciplina: demonstrar os conceitos, tipos, características e legislação pertinente; a


perícia contábil como prova judicial; o perito contábil como auxiliar da justiça; seu campo de atividade;
respostas aos quesitos formulados pelos envolvidos; procedimentos de trabalho; a elaboração do laudo
pericial; fixação dos honorários; cumprimento dos prazos fixados e as normas que regem a atuação do
perito contábil.

Técnicas de avaliações são demonstradas conforme os preceitos da contabilidade e as técnicas de


arbitragem complementam a disciplina.

Após o estudo da disciplina, o aluno estará capacitado a colocar em prática, partindo de um


embasamento conceitual, o conhecimento das técnicas periciais e arbitrais na solução dos conflitos
envolvendo a contabilidade.

INTRODUÇÃO

Na década de 90, a Polícia Federal do Brasil desencadeou uma série de operações, prendendo muitos
empresários sob a alegação de falcatruas, fraudes e sonegação fiscal.

Essas operações foram iniciadas com a anuência da Justiça, que permitiu aos policiais: escutas
telefônicas, análises de documentos e outros fatos relevantes relacionados à investigação, devidamente
analisados pelos técnicos da Polícia Federal.

7
Em que momento a PF decide tornar pública uma investigação secreta?

As operações só vêm à tona quando a PF reúne indícios e provas suficientes para iniciar
inquéritos e ações na Justiça. Por isso, muitas vezes, a instituição se vê obrigada a permitir
que o esquema criminoso continue a funcionar em sigilo, até que os agentes tenham
provas substanciais. Só então começa a parte visível da operação, com sirenes e prisões.
Esse método permite que, além de pequenos operadores criminosos, sejam capturados os
indivíduos graduados do esquema [...]

[...] Houve várias operações, com destaque para:

— Têmis, Hurricane: venda de sentenças judiciais favoráveis aos jogos ilegais;

— Sanguessuga: compra superfaturada de ambulâncias com dinheiro público;

— Hidra: combate ao contrabando;

— Anaconda: venda de sentenças judiciais;

— Águia e Planador: tráfico internacional de drogas;

— Zaqueu: corrupção nas delegacias do trabalho;

— Matusalém e Zumbi: fraudes no INSS;

— Lince: extração ilegal de diamantes;

— Lince 2: adulteração de combustíveis e roubo de carga;

— Farol da Colina: remessa ilegal de dinheiro para o exterior;

— Soro: falsificação de leite em pó;

— Sucuri e Trânsito livre: facilitação de contrabando;

— Pandora: extorsão de empresários;

— Vampiro: fraude em licitação de hemoderivados;

— Isaías: extração ilegal de madeira

Fonte: AS OPERAÇÕES da Polícia Federal. Disponível em:


<http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/operacoes_pf/index.shtml>.

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O fato mais importante nessas operações é que a investigação teve o objetivo de coletar indícios e
provas para a fundamentação do crime, principalmente dos envolvidos.

As operações sempre resultam em prisões?

Nem sempre. Muitas vezes, elas visam apenas obter provas que podem cooperar com as
investigações. Isso impede, por exemplo, que os suspeitos se adiantem aos longos inquéritos
e destruam provas. De qualquer forma, tanto as prisões quanto a apreensão de provas
dependem de autorização da Justiça. Ao ser deflagrada, a operação Têmis não realizou
prisões, mas coletou centenas de documentos e discos rígidos de computadores de suspeitos;
já a Hurricane prendeu 25 pessoas, além de recolher duas toneladas de documentos, 19
armas, mais de 500 joias, 51 carros de luxo e milhões em dinheiro vivo

Fonte: AS OPERAÇÕES da Polícia Federal. Disponível em:


<http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/operacoes_pf/index.shtml>.

Figura 1

Essas investigações foram realizadas em documentos, sendo a maioria de caráter contábil, onde
é registrada a composição da movimentação patrimonial, muitas vezes relacionada às transações
comerciais, que são caracterizadas pelo aumento do patrimônio de forma ilícita e irregular.

As investigações da Polícia Federal demonstram que, havendo um planejamento e foco, pode‑se


chegar à verdade dos fatos. Essas investigações têm todas as características das atividades efetuadas
por um perito judicial.

Quando um profissional é nomeado pelo juiz para desempenhar o papel de perito judicial, deve
elaborar um planejamento e determinar o objetivo a ser esclarecido, utilizando as técnicas científicas e
as habilidades técnicas exigidas pela Justiça.

A Perícia Contábil constitui‑se de um conjunto de procedimentos utilizados por um profissional


que domina profundamente contabilidade, com o intuito de fornecer informações sobre o patrimônio
de entidades físicas ou jurídicas. As informações levantadas darão origem a fatos definitivamente
9
Unidade I

confiáveis e de aceitação incontestável. Para a execução dos trabalhos periciais (laudo pericial contábil
ou parecer pericial contábil), o perito‑contador e o perito‑assistente utilizam duas grandes ferramentas:
a experiência profissional e o conhecimento de normas jurídicas, profissionais e de legislação atinentes
à matéria periciada.

10
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Unidade I
1 CONCEITO DE PERÍCIA

Os conceitos relacionados à perícia são diversos. Neste trabalho, apresentamos alguns:

Perícia, na linguagem jurídica, designa especialmente, em sentido lato, a


diligência realizada ou executada por peritos, a fim de que se esclareçam ou
se evidenciem certos fatos.

Significa, portanto, a pesquisa, o exame, a verificação acerca da verdade ou


da realidade de certos fatos, por pessoas que tenham reconhecida habilidade
ou experiência na matéria de que se trata. Assim, a denominação dada a
esta habilidade ou saber passou a distinguir a própria ação ou investigação
levada a efeito para o esclarecimento pretendido (SILVA, 2004, p. 352).

Segundo Júnior et al. (2000, p. 25):

No glossário do Instituto de Avaliações e Perícias de Engenharia IBAPE/SP,


existe a seguinte definição:

“Perícia: atividade concernente a exame realizado por profissional especialista,


legalmente habilitado, destinada a verificar ou esclarecer determinado fato,
apurar as causas motivadoras do mesmo, ou o estado, alegação de direito ou
a estimação da coisa que é objeto de litígio ou processo”.

Segundo Magalhães et al. (2001, p. 12):

A perícia, pela óptica mais ampla, pode ser entendida como qualquer
trabalho de natureza específica, cujo rigor na execução seja profundo.
Dessa maneira, pode haver perícia em qualquer área científica ou até
em determinadas situações empíricas, por outro lado, a natureza do
processo é que a classificará, podendo ser de origem judicial, extrajudicial,
administrativa ou operacional. Quanto à natureza dos fatos que a ensejam,
pode ser classificada como criminal, contábil, médica, trabalhista etc.

Magalhães (2001, p. 12), ainda traz:

Entende‑se por perícia o trabalho de notória especialização feito com o


objetivo de obter prova ou opinião para orientar uma autoridade formal no
julgamento de um fato, ou desfazer conflito em interesse de pessoas.
11
Unidade I

Segundo Alberto (2009, p. 19): “[...] perícia é um instrumento especial de constatação, prova ou
demonstração, científica ou técnica, da veracidade de situações, coisas ou fatos”.

No caso do profissional especialista, para exercer a atividade de perícia deve ter formação universitária
em determinada área de especialização ou, caso haja comarcas com falta de profissionais habilitados,
poderá ser nomeado como perito um profissional de notório conhecimento, mesmo sem essa formação.

Quanto à habilitação legal, há o caso dos contadores, que deverão estar inscritos no Conselho
Regional de Contabilidade.

De acordo com a NBC T13:

A Perícia Contábil constitui o conjunto de procedimentos técnicos e científicos


destinados a levar a instância decisória elementos de prova necessária
a subsidiar a justa solução de litígio, mediante laudo pericial contábil e/
ou parecer pericial contábil em conformidade com as normas jurídicas e
profissionais e a legislação específica no que for pertinente.

Fonte: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t13.htm>.

A perícia tem de ser específica, ou seja, ter um objeto próprio e limitado, que deverá ser analisado de
forma profunda, dentro do campo de atuação da perícia.

O perito não deverá deixar de verificar qualquer fato ou documento, que servirá de suporte para a
conclusão do laudo pericial. Não poderá, de forma alguma, proceder à análise por amostragem. Ele tem
de demonstrar conhecimento específico da ciência relacionada ao objeto da perícia.

Esse conhecimento pode advir de sua formação universitária ou, no caso do chamado conhecimento
notório, ser fruto da experiência profissional ou de vida da pessoa. Por conta desse aspecto é que a
perícia poderá ser efetuada por profissional que não tenha formação universitária específica, mas que
detenha notórios conhecimentos dos fatos relacionados à perícia.

O objetivo da perícia é fornecer elementos para a tomada de decisões e, para isso, o perito irá
utilizar os meios técnicos e científicos para constatar coisas e demonstrar se as alegações das partes são
verdadeiras, por meio de relatórios, cálculos e análises minuciosas, claras e objetivas.

Observação

A perícia contábil pode ser executada somente por profissional com


formação superior em Ciências Contábeis, devidamente registrado no
Conselho Regional de Contabilidade.

12
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, acesse o site:

<http://www.manualdepericias.com.br/Servicos_peritos_contadores.
asp>.

1.1 Objeto da perícia contábil

Segundo Sá (1997, p. 13), a perícia contábil é uma tecnologia, porque é a aplicação dos conhecimentos
científicos da contabilidade.

Assim, a perícia contábil terá como objeto principal as questões que envolvem o patrimônio de
pessoas físicas ou jurídicas, visando sempre uma delimitação, pois o perito deverá focalizar seu trabalho
estritamente no objeto em discussão, para o qual foi contratado ou nomeado e, em hipótese alguma,
poderá ir além dele.

Segundo Neto e Mercandale (2000, p. 4):

O objeto da perícia contábil são as questões contábeis propostas, geradoras


da necessidade da prova. O perito contábil, ao apreciar essas questões,
deve atentar para determinados limites à matéria, sem, entretanto,
deixar de proceder a minuciosa observação de forma eficaz e com total
imparcialidade.

Neto e Mercandale (2000, p. 5) ainda complementam:

No âmbito judicial, o objeto da perícia contábil são as questões contábeis


(propostas nos autos em forma de alegações ou contestações) discutidas
pelas partes e que são submetidas à apreciação do perito, a fim de se obter
parecer técnico que possibilite revelar a verdade dos fatos, contribuindo,
assim, para o desate da lide.

Segundo D`Áuria apud Ornelas (2000, p. 35):

A perícia contábil tem por objeto central os fatos ou questões contábeis


relacionadas com a causa (aspecto patrimonial), as quais devem ser
verificadas e, por isso, são submetidas à apreciação técnica do perito, que
deve considerar, nessa apreciação, certos limites essenciais, ou “caracteres
essenciais”

13
Unidade I

Assim, Ornelas (2000, p. 35) considera que, independentemente dos procedimentos a serem adotados,
são características essenciais da perícia contábil:

a) limitação da matéria;

b) pronunciamento adstrito à questão ou questões propostas;

c) meticuloso e eficiente exame do campo prefixado;

d) escrupulosa referência à matéria periciada;

e) imparcialidade absoluta de pronunciamento.

Ornelas (2000, p. 36) complementa: “[...] em se tratando de perícia judicial contábil, os limites da
matéria submetida à apreciação pericial são delineados pelo próprio objeto sub judice ou pelo magistrado
dos pontos controvertidos quando do despacho saneador, ou em audiência”.

A perícia contábil tem como objeto a determinação do juiz ou as dúvidas colocadas pelas partes.
O perito contador deve se ater às questões formuladas no objeto, não estendendo ou extrapolando o
solicitado; caso ocorra este excesso, o laudo pericial será nulo e o perito contador pode ser processado
civil e criminalmente.

1.2 Campo de aplicação da perícia contábil

A perícia contábil, como especialização da Ciência Contábil, é aplicada em todos os casos em que
há a necessidade de uma avaliação precisa de fatos que envolvam o patrimônio de pessoas físicas ou
jurídicas.

Sá (1997, p. 93) explica que são muitos os casos de ações judiciais para os quais se requer a perícia
contábil. Como força de prova, alicerçada em outros elementos como a escrita contábil, os documentos
(tudo aliado a um acervo científico e tecnológico), a perícia é algo especial e específico. São considerados
grandes campos de ação do perito os seguintes: alimentos (ação ordinária); apuração de haveres;
avaliação de patrimônio incorporado; busca e apreensão, entre outras.

O campo de aplicação da perícia contábil é bastante amplo, abarcando desde os lançamentos


contábeis diários até o valor patrimonial econômico e contábil da empresa. O poder judiciário, na figura
do juiz, determinará a necessidades específicas da perícia contábil, seja entre pessoas físicas ou jurídicas,
nos vários ramos do direito. Recentemente, o árbitro também tem se utilizado dos conhecimentos da
contabilidade em suas decisões.

Como neste trabalho o enfoque principal são as ações trabalhistas, segue a descrição da forma que
a perícia é aplicada nessas ações.

14
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Atuação da perícia contábil

Todo trabalho desenvolvido pelo perito contador ocorre nas disputas em que os objetos são os dados
e informações contábeis.

Leia a seguir o que afirma Hoog (s.d.):

Diferença entre auditoria e perícia contábil

A perícia é a prova elucidativa dos fatos, já a auditoria é revisão, verificação, tendendo


a ser necessidade constante, repetindo‑se de tempos em tempos, com menos rigores
metodológicos, pois se utiliza da amostragem.

Já a perícia repudia a amostragem como critério pelo caráter de eventualidade e só


trabalha com o universo completo, onde a opinião é expressa com rigores de cem por cento
de análise. Para melhor visualização, apresentamos as principais características de auditoria
e perícia.

A perícia tem em suas entranhas o status de conhecimento notório, tratado na Lei


9.457, de 5 de maio de 1997, que alterou a Lei 6.404‑76 no seu artigo 163, parágrafo 8,
que trata o profissional com o status de conhecimento notório e necessário para apurar
fatos. No mesmo ordenamento, parágrafo 4, temos a figura contemporânea dos auditores
independentes, para esclarecimentos ou apuração de fatos específicos, que acreditamos ser
o relatório ou parecer de auditoria, submetido à apreciação do conselho fiscal.

Por isso, entendemos que a lógica do conhecimento, experiência e carreira ou educação


continuada, no sentido holístico, segue a lógica da formação acadêmica de: primeiro
contador, segundo auditor e a terceira e maior especialização, perito, pois só é possível
ser perito o profissional contador que domina as técnicas de auditorias, de perícia e tem
algum domínio do direito tributário, bancário, comercial, financeiro, penal, administrativo,
constitucional, previdenciário, ambiental, trabalhista e processual, condição desejada para
se navegar no meio jurídico como auxiliar do juízo.

Naturalmente, este conhecimento também é bom para o auditor, mas se exige com mais
propriedade do perito, por ser este, junto com o juiz, o provedor do equilíbrio da Justiça.

O status do perito também é elevado para categoria de cientista, por força do CPC,
artigo 145, que trata do perito como sendo um cientista para assistir o juízo em matérias
de ciência e tecnologia.

A auditoria, ramo da mesma árvore, contabilidade, tem como seu destaque as revisões
de procedimentos relativos às atividades de interesse da CVM, pois a Lei 6.385‑76, artigos
26 e 27 tratam do assunto, enfatizando o registro do profissional na CVM que está
normalizando as condições que considera ideais para conceder o registro. Naturalmente, é
15
Unidade I

importante frisarmos que este registro da CVM só é obrigatório quando a empresa auditada
está entre aquelas relacionadas na lei, ficando fora as auditorias de empresas que não
estejam negociando ações na bolsa e que não estejam operando com valores mobiliários,
por exemplo, uma montadora de veículos automotores, de capital fechado.

São duas atividades ótimas, recomendamos estágios nas duas áreas antes de decidir
a carreira, acreditamos que seguir as duas simultaneamente é muito difícil, mas não
impossível, pois ambas requerem estudos continuados e pesquisas cientificas, as duas
bradam por constante e eterna reciclagem.

Naturalmente, temos estimulado os alunos do curso de ciências contábeis para o


exercício do direito de escolher livremente a opção profissional mais adequada aos seus
sonhos, motivo pelo qual recomendamos aos pesquisadores, alunos e ex‑alunos da ciência
contábil, professores e demais estudiosos do assunto, a leitura do livro Prova Pericial
Contábil – aspectos práticos & fundamentais, editado pela Juruá em 2001, com 389 páginas
– editora@jurua.com.br, para que conheçam a profissão de perito e exerçam o seu livre
arbítrio para decidir sobre uma ou outra especialização.

16
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

2 FLUXOGRAMA DE UM PROCESSO JUDICIAL

Procedimento ordinário

Petição inicial (arts. 282 e 283)

Deferimento (art. 190) Indeferimento (art. 295)


Emenda (art. 284) 48 horas
10 dias
Reforma
MP, União, Estados, DF, Citação (art. 285) Apelação
Municípios, Autarquias e 15 dias (arts. 285 e 513)
Fundações (art. 188, CPC) Manutenção
Baixa
60 dias

Provimento Desprovimento Arquivamento

Resposta (art. 297) Art. 319 - julgamento antecipado


15 dias Sem resposta
Art. 324 - nomear curador
(art. 9º) esp. provas

Reconvenção Contestação Exceções


(art. 315) (art. 297) (arts. 304 a 314)

Contestação à reconvenção
(art. 316) - 15 dias Incompetência Impedimento e suspeição

Ao excepto Juiz reconhece Juiz não


reconhece

Decisão Ao substituto Arrazoa


No prazo da contestação o réu oferece:
– nomeação à autoria (art. 64, CPC);
– denunciação à lide (art. 71, CPC); Ao tribunal de
– chamamaneto ao processo (art. 78, CPC); justiça
– impugnação ao valor da causa (art. 261, CPC);
– declaratória incidental (art. 325, CPC);
– réu revel (art. 324) - nomear curador (art. 9º) - esp. provas;
Providências preliminares – declaração incidente (art. 325) - decisão;
(art. 323) 10 dias – fatos impeditivos, modificativos, extintivos (art. 326) - prova doc.;
– alegações do réu sobre art. 301 - prova doc. (art. 327).

Figura 2 – Fluxograma de um processo judicial – procedimentos básicos

17
Unidade I

Réplica

Especificação de
provas

Julgamento conforme o
estado do processo

Extinção do processo Saneamento do processo Julgamento antecipado


(art. 329) (art. 331) (art. 330)

Apelação (art. 513)

Agravo de instrumento ou retido


(arts. 522 a 529) 10 dias

Audiência preliminar
(art. 331)

Perícias e diligências

Audiência de instrução e Prova testemunhal


julgamento (art. 450) depoimento pessoal

Memorial (art. 456)

Sentença (arts. 458 a 465)

Embargos de declaração
5 dias (art. 536)
Apelação (art. 513)
15 dias

Contra-razões

Remessa ao tribunal de justiça

Figura 3 – Fluxograma do processo judicial – Andamento

18
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Indeferimento Petição inicial com indicação de provas, rol


de testemunhas e documentos

Emenda

Juiz designa audiência de


conciliação

Citação para comparecimento


à audiência

Audiência: (prazo de 10 dias entre a citação e a audiência)


– tentativa de conciliação: homologação da conciliação por semana;
– defesa escrita ou oral, com exceções ou impugnação ao valor da causa;
– indicação das provas, se houver;
– alegações finais.

O juiz poderá determinar a


conversão em procedimento Sentença na audiência O juiz designa audiência de
ordinário, se houver ou no prazo de 10 dias instrução e julgamento
necessidade

Embargos de
Embargos de declaração declaração (prazo Apelação (prazo de 15 ou 30
(prazo de 5 dias) de 5 dias) dias)

Figura 4 – Fluxograma do processo judicial – Decisão do juízo

Os procedimentos judiciais demonstrados anteriormente por meio dos fluxogramas foram elaborados
pelo poder judiciário, com base no Código do Processo Civil.

Processo: [...] é o instrumento colocado à disposição dos cidadãos para


solução de seus conflitos de interesses e pelo qual o Estado exerce a
jurisdição. Tal solução e exercício são desenvolvidos com base em regras
19
Unidade I

legais previamente fixadas e buscam, mediante a aplicação do direito


material ao caso concreto, a entrega do bem da vida, a pacificação social e
a realização da Justiça (BARROSO, 2000, p. 3).

Procedimento: [...] é a forma como o processo se exterioriza e materializa no


mundo jurídico. É através do procedimento que o processo age. Basicamente
consiste ele numa sequência de atos que deve culminar com a declaração do
Judiciário sobre quem tem o direito material (bem da vida) na lide submetida
à sua apreciação. Esta sequência deve observar, obrigatoriamente, a dialética
processual, consistente em facultar às partes a efetiva participação durante
seu desenvolvimento (tese do autor e antítese do réu) e garantir a utilização
de todos os recursos legais inerentes à defesa dos interesses de cada litigante,
tudo para formar o convencimento do julgador (síntese) (BARROSO, 2000,
p. 4).

Prova pericial no procedimento sumário

Segundo o artigo 276 do CPC, é cabível a prova pericial no procedimento sumário. Porém, na própria
peça inaugural deverá o autor requerer a prova, formulando quesitos e indicando o seu assistente
técnico.

Cabe afirmar que é possível o juiz determinar a perícia de ofício (artigo 130 do CPC), não ocorrendo
nesse caso a preclusão consumativa, que impede o autor e o réu de requerer perícia, apresentar quesitos
e indicar assistente técnico, se não o fizeram na inicial e na contestação. A prova pericial deve ser de
menor complexidade, mas se a causa exigir maiores dilações probatórias, o juiz converterá o processo
para o procedimento o ordinário (artigo 277, § 5º, do CPC).

Quando necessário esclarecer matéria específica ou requerida pelas partes, o juiz aplica o artigo 421
do Código do Processo Civil (BRASIL, 2002):

Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega
do laudo (Lei nº 8.455, 1992).

§ 1o Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do


despacho de nomeação do perito:

I ‑ indicar o assistente técnico;

II ‑ apresentar quesitos.

§ 2o Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas


na inquirição pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de
instrução e julgamento a respeito das coisas que houverem informalmente
examinado ou avaliado (Lei nº 8.455, 1992).
20
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

3 PERÍCIAS JUDICIAIS

3.1 Tipos de perícias judiciais

Segundo Sá (1997, p. 19), é possível classificar as perícias em três grandes grupos gerais:

• perícia judicial: a verificação de uma empresa para que o juiz possa homologar a concordata que
ela pediu;

• perícia administrativa: a verificação contábil para apurar corrupção;

• perícia especial: aquela que se faz para fusão de sociedade.

Para Alberto (2000, p. 53), os ambientes de atuação que lhe definirão as características podem ser,
do ponto de vista mais geral, o ambiente judicial, o ambiente semijudicial, o ambiente extrajudicial e o
ambiente arbitral.

São, então, quatro as espécies de perícias detectáveis, segundo o raciocínio esposado:

• perícia judicial: dentro dos processos judiciais, nomeada pelos juízes;

• perícia semijudicial: no Estado, fora do poder judiciário;

• perícia extrajudicial: nos confrontos judiciais entre particulares;

• perícia arbitral: perícia realizada por vontade das partes.

3.1.1 Perícia judicial

Representa a perícia realizada dentro dos procedimentos processuais do poder judiciário, por
determinação, requerimento ou necessidade de seus agentes ativos e se desenvolve ou se processa
segundo regras legais específicas.

A perícia judicial é especifica e define‑se pelo texto da lei; estabelece o artigo 420 do Código de
Processo Civil, na parte relativa ao processo de conhecimento: “a prova pericial consiste em exame,
vistoria e avaliação” (BRASIL, 1973).

Ela se motiva pelo fato de o juiz depender do conhecimento técnico ou especializado de um


profissional para poder decidir; essas perícias podem ser:

• oficiais: determinadas pelo juiz, sem requerimento das partes;

• requeridas: determinadas pelo juiz, com requerimento das partes;

21
Unidade I

• necessárias: quando a lei ou a natureza do fato impõe sua realização;

• facultativas: o juiz determina se houver conveniência;

• perícias de presente: realizadas no curso do processo;

• perícias do futuro: são as cautelares preparatórias da ação principal. Visam perpetuar fatos que
podem desaparecer com o tempo.

As perícias judiciais têm origem numa ação judicial que tramita em juízo.

A perícia judicial, como o próprio nome está dizendo, tem fundamento numa ação postulada em
juízo, podendo ser determinada diretamente pelo juiz dirigente do processo ou a ele requerida, pelas
partes em litígio. Na perícia judicial, os exames são, na maioria das vezes, específicos e recaem sobre
fatos que já se encontram em discussão no âmbito do processo.

Nos processos judiciais civis, além da rotina técnica de procedimentos, existe um cerimonial
inerente ao desenvolvimento regular do processo, sendo ele: indicação do perito judicial pelo juiz,
indicação de assistentes técnicos pelas partes, formulação de quesitos, por meio dos quais as partes
e o próprio juiz manifestam as dúvidas que desejam ver esclarecidas pela perícia, o compromisso dos
peritos e os prazos.

Podem ser requeridas pelas partes ou determinadas pelo próprio juiz.

Em qualquer dos casos, o juiz, ao determinar a perícia, nomeia o perito do juízo e as partes indicam
seus assistentes técnicos (opcionalmente). Às vezes, uma das partes, ou ambas, deixa de indicar
assistentes, declarando que se “louva” no perito do juízo.

Ao ser nomeado, o perito deve comparecer ao cartório e consultar os autos do processo para avaliar
seus honorários, o que deverá ser feito levando em consideração alguns detalhes, tais como: vulto
do trabalho a ser feito, grau de dificuldade, local da diligência e despesas previstas. Calculado o total,
deverá se dirigir ao juiz, por meio de petição onde exporá, com detalhes, os honorários pretendidos,
requerendo, também, o seu depósito para iniciar os trabalhos.

O perito deverá acompanhar o andamento do processo e, tão logo tenha seus honorários depositados,
retirará os autos do cartório por meio de carga, no livro apropriado, em poder de funcionário indicado
para isso.

De posse dos autos, o perito deverá imediatamente fazer um levantamento de tudo que vai necessitar
para seu trabalho (livros, documentos etc.) e dirigir‑se à sede da empresa ou ao local da perícia, onde
entrará em contato com o interessado e com ele deixará por escrito a relação do que deseja, marcando
dia e hora de retorno. A relação por escrito deverá ser feita em duas vias. O perito trará uma delas,
devidamente assinada por quem a recebeu. No dia e hora marcada, retornará para fazer a perícia.

22
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Há perícias de diversas modalidades, de acordo com as necessidades processuais. As principais, no


entanto, são:

• nas varas cíveis: prestação de contas, avaliações patrimoniais, litígios entre sócios, indenizações,
avaliações de fundos de comércio, renovatórios de locações e outras;

• nas varas criminais: fraudes e vícios contábeis, adulterações de lançamentos e registros,


desfalques e alcances, apropriações indébitas e outras;

• nas varas de família: avaliação de pensões alimentícias, avaliações patrimoniais e outras;

• nas varas de órfãos e sucessões: apuração de haveres, prestação de contas de inventariantes e


outras;

• na justiça do trabalho: indenizações de diversas modalidades, litígios entre empregadores e


empregados de diversas espécies;

• no tribunal marítimo: avarias simples e grossas, sinistros em geral;

• nas varas de falências e concordatas: perícias falimentares em geral.

Lembrete

As perícias judiciais ocorrem no âmbito da justiça e todas as tramitações


são fixadas no Código de Processo Civil, constando todo procedimento,
de acordo com as normas legais. Cada espécie de processo envolvendo as
partes é enquadrada em um dos vários ramos do direito, trabalho, família,
falências, civis e outros. Em todos os processos pode haver a necessidade
de perito contador.

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, acesse o site:

<http://www.inpecon.com.br/index.php/caminhos‑da‑pericia‑judicial/>.

3.1.2 Perícia extrajudicial

É aquela realizada fora do judiciário, por vontade das partes. Seu objetivo poderá ser:

23
Unidade I

• demonstrar a veracidade ou não do fato em questão;

• discriminar interesses de cada pessoa envolvida em matéria conflituosa;

• comprovar fraude, desvios ou simulação.

Representa a perícia realizada fora do Estado, por necessidade e escolha de entes físicos e jurídicos
particulares, privados. A perícia extrajudicial subdivide‑se em:

• demonstrativa: tem como finalidade demonstrar a veracidade ou não do fato ou caso previamente
especificado na consulta;

• discriminativa: tem como finalidade colocar nos justos termos os interesses de cada um dos
envolvidos na matéria potencialmente duvidosa;

• comprobatória: tem como finalidade a comprovação das manifestações patológicas da matéria


periciada (fraude, desvios, simulações), entre outras.

A perícia extrajudicial é livremente contratada entre as partes em litígio, isto é, se realiza


particularmente, dentro de uma entidade econômica; em alguns casos esporádicos, no patrimônio
de pessoas físicas. Esse tipo de perícia se processa por meio de exames, que podem ser genéricos ou
específicos.

Os primeiros exames, os genéricos, envolvem todos os setores de uma entidade econômica, para
certificar a realidade de suas contas, ou mesmo a eficiência da administração do patrimônio dessa
entidade (ou pessoa). Nesses casos, a perícia procede à verdadeira medição da dinâmica patrimonial e
seus resultados no período de uma administração, ou seja, busca‑se, além da regularidade das contas, o
conhecimento do emprego de todo o potencial que o patrimônio dispunha naquele período.

Nos exames específicos, a finalidade precípua é a análise de fenômenos isolados ocorridos durante
a evolução dinâmica desse patrimônio, cujos resultados servirão para sanar as lesões resultantes de
qualquer natureza, ou mesmo para tomada de decisões que, dependendo de seus resultados, poderão
até mudar a feição de sua administração.

As perícias extrajudiciais independem de tramitação judicial. São livremente contratadas entre as


partes envolvidas e os peritos.

Os tipos mais importantes de perícia extrajudicial são:

• perícia fiscal, procedida pelos agentes da fiscalização federal, estadual ou municipal;

• perícia para equivalência patrimonial entre empresas;

• perícia para avaliação patrimonial de bens e direitos;


24
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

• perícia para avaliação de fundo de comércio;

• perícia para avaliação de bens e direitos para integralização do capital social das sociedades
anônimas;

• perícia para cisão, fusão, incorporação ou transformação de empresas;

• perícias para arbitramentos de valores indenizatórios;

• perícia para litígio entre sócios de empresas;

• perícias para avaliação de resultados econômicos das empresas;

• perícias para avaliação de locações ou indenizações em caso de ações renovatórias de contratos


de locação.

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o assunto, acesse o site:

<http://www.inesul.edu.br/revista/arquivos/arq‑idvol_5_1247865610.
pdf>.

Figura 5

25
Unidade I

Saiba mais

Para conhecer mais sobre o tema, acesse site:

<http://www.facape.br/socrates/Trabalhos/A_Importancia_da_Pericia_
Contabil.htm>.

3.2 Perícia contábil no código civil e no código do processo civil

O código civil compreende as normas das atividades comerciais e empresariais, regulamentando os


procedimentos dos direitos dos envolvidos.

O código do processo civil rege os procedimentos que devem ser obedecidos em todos os processos
enquadrados no código civil.

No código civil, verificamos a necessidade da perícia contábil, enquanto no código do processo


civil, os procedimentos de nomeação e desenvolvimento da atividade pericial contábil são fixados para
esclarecer pontos duvidosos que o juiz e os advogados, por ventura, possam ter.

Aspectos ligados à perícia contábil introduzidos pelo novo código civil

Nas dissoluções de sociedade:

Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu
funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua.
§ 1o Far‑se‑á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua
dissolução.

§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam‑se, no que couber, às


demais pessoas jurídicas de direito privado.

§ 3o Encerrada a liquidação, promover‑se‑á o cancelamento da inscrição da pessoa


jurídica.

Contagem de prazo:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam‑se os prazos,


excluído o dia do começo e incluído o do vencimento.

§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar‑se‑á prorrogado o prazo até o


seguinte dia útil.

26
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

§ 2o Meado considera‑se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.

§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no


imediato, se faltar exata correspondência.

§ 4o Os prazos fixados por hora contar‑se‑ão de minuto a minuto.

Da fraude contra credores:

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os


praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore,
poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

§ 1o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.

§ 2o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente,


quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço
e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar‑se‑á depositando‑o em juízo, com a
citação de todos os interessados.

Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o


preço que lhes corresponda ao valor real.

Art. 161. A ação, nos casos dos artigos 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou
terceiros adquirentes que hajam procedido de má‑fé.

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da


dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha
de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.

Art. 163. Presumem‑se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de
dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

Art. 164. Presumem‑se, porém, de boa‑fé e valem os negócios ordinários indispensáveis


à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do
devedor e de sua família.

Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em


proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
27
Unidade I

Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais,
mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da
preferência ajustada.

Da prova:

Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado
mediante:

I – confissão;

II – documento;

III – testemunha;

IV – presunção;

V – perícia.

Valor/força probante dos documentos:

Documento público:

Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé


pública, fazendo prova plena.

§ 1o Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve conter:

I – data e local de sua realização;

II – reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos tenham


comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas;

III – nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e
demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do
casamento, nome do outro cônjuge e filiação;

IV – manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes;

V – referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade


do ato;

VI – declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de


que todos a leram;
28
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

VII – assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu
substituto legal, encerrando o ato.

Validade das cópias de documentos do poder judiciário:

Art. 216. Farão a mesma prova que os originais as certidões textuais de qualquer peça
judicial, do protocolo das audiências, ou de outro qualquer livro a cargo do escrivão, sendo
extraídas por ele, ou sob a sua vigilância e por ele subscritas, assim como os traslados de
autos, quando por outro escrivão consertados.

Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por tabelião
ou oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas notas.

Art. 218. Os traslados e as certidões considerar‑se‑ão instrumentos públicos, se os


originais se houverem produzido em juízo como prova de algum ato.

Validade das declarações das partes em documentos:

Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem‑se verdadeiras


em relação aos signatários.

Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais ou com
a legitimidade das partes, as declarações enunciativas não eximem os interessados em sua
veracidade do ônus de prová‑las.

Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato,


provar‑se‑á do mesmo modo que este e constará, sempre que se possa, do próprio
instrumento.

Obrigatoriedade de registro público de documento particular:

Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem
esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais
de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito
de terceiros, antes de registrado no registro público.

Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode suprir‑se pelas outras de


caráter legal.

Validade de documentos enviados por meio eletrônico ou similar:

Art. 222. O telegrama, quando lhe for contestada a autenticidade, faz prova mediante
conferência com o original assinado.

29
Unidade I

Limite de validade da validade de autenticação do tabelião de notas:

Art. 223. A cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, valerá como
prova de declaração da vontade, mas, impugnada sua autenticidade, deverá ser exibido o original.

Parágrafo único. A prova não supre a ausência do título de crédito, ou do original, nos
casos em que a lei ou as circunstâncias condicionarem o exercício do direito à sua exibição.

Obrigatoriedade de tradução de documentos escritos em outras línguas:

Art. 224. Os documentos redigidos em língua estrangeira serão traduzidos para o


português para ter efeitos legais no País.

Limite da validade das provas de reproduções de originais:

Art. 225. As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e, em


geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas fazem
prova plena destes, se a parte, contra quem forem exibidos, não lhes impugnar a exatidão.

Valor probante dos registros contábeis vinculados à sua consistência:

Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que
pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem
confirmados por outros subsídios.

Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em que
a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais e pode ser
ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos.

Forma de liquidação de dívida e a obrigação de fazer em moeda corrente:

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente
e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes.

Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem
como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os
casos previstos na legislação especial.

Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular e pode reter o pagamento,
enquanto não lhe seja dada.

Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará
o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo
e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
30
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se
de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.

Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este,
poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título
desaparecido.

Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece,
até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.

Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem‑se pagos.

Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.

Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em
sessenta dias, a falta do pagamento.

Art. 325. Presumem‑se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação;


se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.

Permissão de estipular aumento progressivo de prestações sucessivas:

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.

Do inadimplemento das obrigações:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros
e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e honorários
de advogado.

Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em
que executou o ato de que se devia abster.

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.

Da mora:

Art. 394. Considera‑se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que
não quiser recebê‑lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros,
atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos e
honorários de advogado.

31
Unidade I

Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá
enjeitá‑la e exigir a satisfação das perdas e danos.

Premissas das perdas e danos:

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagos com
atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo
juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.

Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo e não havendo
pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

Do termo inicial da contagem de juros de mora:

Art. 405. Contam‑se os juros de mora desde a citação inicial.

Dos juros legais – fixação de seu percentual mínimo:

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem
taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo
a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda
Nacional.

Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que
se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez
que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo
entre as partes.

Da retirada de sócio de sociedade:

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor
da sua quota, considerados pelo montante efetivamente realizado, liquidar‑se‑á, salvo
disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data
da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.

Da liquidação da sociedade – atribuições do liquidante:

Art. 1.102. Dissolvida a sociedade e nomeado o liquidante na forma do disposto neste


Livro, procede‑se à sua liquidação, de conformidade com os preceitos deste Capítulo,
ressalvado o disposto no ato constitutivo ou no instrumento da dissolução.

Parágrafo único. O liquidante, que não seja administrador da sociedade, investir‑se‑á


nas funções, averbada a sua nomeação no registro próprio.

32
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Art. 1.103. Constituem deveres do liquidante:

I – averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade;

II – arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam;

III – proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência,
sempre que possível, dos administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do
ativo e do passivo;

IV – ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o


remanescente entre os sócios ou acionistas;

V – exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização


de suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de
cada um e proporcionalmente à respectiva participação nas perdas, repartindo‑se, entre os
sócios solventes e na mesma proporção, o devido pelo insolvente;

VI – convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e
balanço do estado da liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre,
ou sempre que necessário;

VII – confessar a falência da sociedade e pedir concordata, de acordo com as formalidades


prescritas para o tipo de sociedade liquidanda;

VIII – finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas
finais;

IX – averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios,


que considerar encerrada a liquidação.

Parágrafo único. Em todos os atos, documentos ou publicações, o liquidante empregará


a firma ou denominação social sempre seguida da cláusula “em liquidação” e de sua
assinatura individual, com a declaração de sua qualidade.

Art. 1.104. As obrigações e a responsabilidade do liquidante regem‑se pelos preceitos


peculiares às dos administradores da sociedade liquidanda.

Art. 1.105. Compete ao liquidante representar a sociedade e praticar todos os atos


necessários à sua liquidação, inclusive alienar bens móveis ou imóveis, transigir, receber e
dar quitação.

Parágrafo único. Sem estar expressamente autorizado pelo contrato social, ou pelo voto
da maioria dos sócios, não pode o liquidante gravar de ônus reais os móveis e imóveis,
33
Unidade I

contrair empréstimos, salvo quando indispensáveis ao pagamento de obrigações inadiáveis,


nem prosseguir, embora para facilitar a liquidação, na atividade social.

Art. 1.106. Respeitados os direitos dos credores preferenciais, pagará o liquidante as


dívidas sociais proporcionalmente, sem distinção entre vencidas e vincendas, mas, em
relação a estas, com desconto.

Parágrafo único. Se o ativo for superior ao passivo, pode o liquidante, sob sua
responsabilidade pessoal, pagar integralmente as dívidas vencidas.

Art. 1.107. Os sócios podem resolver, por maioria de votos, antes de ultimada a liquidação,
mas depois de pagos os credores, que o liquidante faça rateios por antecipação da partilha,
na medida em que se apurem os haveres sociais.

Art. 1.108. Pago o passivo e partilhado o remanescente, convocará o liquidante assembleia


dos sócios para a prestação final de contas.

Art. 1.109. Aprovadas as contas, encerra‑se a liquidação e a sociedade se extingue, ao ser


averbada no registro próprio, a ata da assembleia.

Parágrafo único. O dissidente tem o prazo de trinta dias, a contar da publicação da ata,
devidamente averbada, para promover a ação que couber.

Art. 1.110. Encerrada a liquidação, o credor não satisfeito só terá direito a exigir dos
sócios, individualmente, o pagamento do seu crédito, até o limite da soma por eles recebida
em partilha e a propor contra o liquidante ação de perdas e danos.

Art. 1.111. No caso de liquidação judicial, será observado o disposto na lei processual.

Art. 1.112. No curso de liquidação judicial, o juiz convocará, se necessário, reunião


ou assembleia para deliberar sobre os interesses da liquidação e as presidirá, resolvendo
sumariamente as questões suscitadas.

Parágrafo único. As atas das assembleias serão, em cópia autêntica, apensadas ao processo judicial.

Do contabilista e outros auxiliares – responsabilidade civil:

Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos
prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má‑fé,
os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.

Parágrafo único. No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis,


perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o
preponente, pelos atos dolosos.
34
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Art. 1.178. Os preponentes são responsáveis pelos atos de quaisquer prepostos, praticados
nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados
por escrito.

Parágrafo único. Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, somente
obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento
pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor.

Das premissas para a escrituração contábil:

Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema


de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros,
em correspondência com a documentação respectiva e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.

§ 1o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos
interessados.

§ 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o


art. 970.

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser
substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.

Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o
lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.

Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas,
antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis.

Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a
sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios.

Art. 1.182. Sem prejuízo do disposto no artigo 1.174, a escrituração ficará sob a
responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na
localidade.

Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em


forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem
entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens.

Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que


constem de livro próprio, regularmente autenticado.

35
Unidade I

Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do


documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações
relativas ao exercício da empresa.

§ 1o Admite‑se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período
de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da
sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regularmente autenticados,
para registro individualizado e conservados os documentos que permitam a sua perfeita
verificação.

§ 2o Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico,


devendo ser ambos assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e
pelo empresário ou sociedade empresária.

Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de


lançamentos poderá substituir os livros Diários pelo livro Balancetes Diários e Balanços,
observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele.

Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo que registre:

I – a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo,
em forma de balancetes diários;

II – o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerramento do exercício.


Art. 1.187. Na coleta dos elementos para o inventário serão observados os critérios de
avaliação a seguir determinados:

I – os bens destinados à exploração da atividade serão avaliados pelo custo de aquisição,


devendo, na avaliação dos que se desgastam ou depreciam com o uso, pela ação do tempo
ou outros fatores, atender‑se à desvalorização respectiva, criando‑se fundos de amortização
para assegurar‑lhes a substituição ou a conservação do valor;

I – os valores mobiliários, matéria‑prima, bens destinados à alienação, ou que constituem


produtos ou artigos da indústria ou comércio da empresa, podem ser estimados pelo custo
de aquisição ou de fabricação, ou pelo preço corrente, sempre que este for inferior ao preço
de custo e quando o preço corrente ou venal estiver acima do valor do custo de aquisição,
ou fabricação e os bens forem avaliados pelo preço corrente, a diferença entre este e o preço
de custo não será levada em conta para a distribuição de lucros, nem para as percentagens
referentes a fundos de reserva;

III – o valor das ações e dos títulos de renda fixa pode ser determinado com base na
respectiva cotação da Bolsa de Valores; os não cotados e as participações não acionárias
serão considerados pelo seu valor de aquisição;

36
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

IV – os créditos serão considerados de conformidade com o presumível valor de


realização, não se levando em conta os prescritos ou de difícil liquidação, salvo se houver,
quanto aos últimos, previsão equivalente.

Parágrafo único. Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se preceda,
anualmente, à sua amortização:

I – as despesas de instalação da sociedade, até o limite correspondente a dez por cento


do capital social;

II – os juros pagos aos acionistas da sociedade anônima, no período antecedente ao


início das operações sociais, à taxa não superior a doze por cento ao ano, fixada no estatuto;

III – a quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento adquirido


pelo empresário ou sociedade.

Art. 1.188. O balanço patrimonial deverá exprimir, com fidelidade e clareza, a situação
real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta, bem como as disposições das leis
especiais, indicará, distintamente, o ativo e o passivo.

Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que acompanharão o balanço
patrimonial, em caso de sociedades coligadas.

Art. 1.189. O balanço de resultado econômico, ou demonstração da conta de lucros e


perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele constarão crédito e débito, na forma da
lei especial.

Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal,
sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou
a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas
em lei.

Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração
quando necessária para resolver questões relativas a sucessão, comunhão ou sociedade,
administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.

§ 1o O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação pode, a requerimento


ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer das partes, ou de ambas, sejam examinados
na presença do empresário ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas
por estes nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão.

§ 2o Achando‑se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame, perante o respectivo


juiz.

37
Unidade I

Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo antecedente, serão
apreendidos judicialmente e, no do seu § 1o, ter‑se‑á como verdadeiro o alegado pela parte
contrária para se provar pelos livros.

Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova documental
em contrário.

Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte


ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do
pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais.

Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa


guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade,
enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados.

Art. 1.195. As disposições deste Capítulo aplicam‑se às sucursais, filiais ou agências, no


Brasil, do empresário ou sociedade com sede em país estrangeiro.

Fonte: <http://www.peritoscontabeis.com.br/normas/art_cpc_pericia.htm>.

3.3 Características da perícia judicial

Segundo Sá (1997, p. 64), a perícia judicial possui um ciclo normal, dividido em três fases: preliminar,
operacional e final.

Fase preliminar:

1. a perícia é requerida ao juiz, pela parte interessada;

2. o juiz defere a perícia e escolhe seu perito;

3. as partes formulam quesitos e indicam seus assistentes;

4. os peritos são cientificados da indicação;

5. os peritos propõem honorários e requerem depósito;

6. o juiz estabelece prazo, local e hora para início.

Fase operacional:

1. início da perícia e diligências;

2. curso do trabalho;
38
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

3. elaboração do laudo.

Fase final:

1. assinatura do laudo;

2. entrega do laudo ou laudos;

3. levantamento dos honorários;

4. esclarecimentos (se requeridos).

Sá (1997, p. 65) ainda complementa: “[...] o ciclo da perícia judicial compõe‑se da fase inicial, operacional
e final e estas de eventos distintos que formam todo o conjunto de ocorrências que caracterizam tais tarefas”.

A perícia judicial difere das demais modalidades de perícia, sendo realizada em ações judiciais,
podendo ocorrer na fase inicial do processo (instrução), ou na fase final (execução). Essa perícia poderá
ser solicitada pelas partes ao juiz que, analisando o pedido, poderá deferi‑la ou não. Ela poderá ainda
ser determinada pelo juiz, quando verificar que a matéria a ser analisada depende de parecer de um
técnico especialista.

Sendo aceita ou determinada a perícia, nos termos do artigo 421 do código de processo civil, o juiz
dará prazo às partes para que apresentem seus quesitos e indiquem seus assistentes técnicos. Esse prazo,
segundo o CPC, é de 5 (cinco) dias.

Vencido o prazo para as partes apresentarem seus quesitos e indicarem seus assistentes técnicos, se
inicia, efetivamente, a perícia, que deverá ser entregue sempre dentro do prazo estabelecido pelo juiz,
podendo ser prorrogado por mais uma vez, desde que seja pedido antes do vencimento da primeira
determinação do juiz.

3.4 Objeto da perícia judicial

O objeto da perícia normalmente está relacionado com disputas judiciais, em que o juiz ou uma das
partes necessita de esclarecimentos específicos e especializados de um profissional altamente habilitado.

De acordo com a NBC T 13, temos:

A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnicos e


científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova
necessários a subsidiar à justa solução do litígio, mediante laudo pericial
contábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas
jurídicas e profissionais e a legislação específica no que for pertinente.

Fonte: <www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/t13.htm>.

39
Unidade I

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, acesse o site:

<http://w3.ufsm.br/revistacontabeis/anterior/artigos/vVn01/t005.pdf>.

Figura 6

Tipos de ações judiciais que exigem a atuação do perito judicial:

• ações alimentares;

• ações de inventário;

• dissolução de sociedades;

• desapropriações;

• reclamatórias trabalhistas;

• fundo de comércio;

• avaliação do intangível;

• execuções fisco‑tributárias;

• recuperações judiciais;

• indenizatórias contratuais;

40
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

• impugnações de créditos;

• inquérito policial.

A perícia contábil é a verificação de fatos ligados ao patrimônio individualizado, visando a oferecer


opinião diante de questão proposta. Assim, é necessário que haja questionamentos sobre o patrimônio
das pessoas para que ela seja solicitada, para a verificação de tais fatos e fornecimento, por meio do
laudo pericial, de provas que deixem claro e evidente se alguém foi prejudicado por atos praticados por
outrem.

Como a perícia se inscreve num dos gêneros de prova pericial, a contábil é apenas um deles, sendo
específica para os fatos relacionados ao objeto da contabilidade – o patrimônio. O profissional legalmente
habilitado para verificar e quantificar suas modificações é o contador, devidamente registrado em
Conselho Regional de Contabilidade.

O objeto da perícia é o limitador, seja ela contábil ou de qualquer outra espécie. Nas contábeis, o
perito deve ter muito claro o objeto a ser periciado, pois, de maneira alguma poderá exceder esse limite,
sob pena, principalmente nas perícias judiciais, de ter seu trabalho desconsiderado e até ser destituído
pelo juiz que o nomeou e ainda responder civil e criminalmente.

O campo de aplicação da perícia contábil é bastante amplo. O poder judiciário é grande usuário
dessa perícia, nas várias ações em que há a necessidade de conhecimentos técnicos da contabilidade.
As pessoas físicas e jurídicas utilizam‑se desses conhecimentos. As primeiras, em ações que visam a
preservar seus patrimônios pessoais; as segundas, para aquisição de outras empresas.

3.5 Usuários da perícia contábil

Os usuários da perícia contábil são as pessoas físicas e jurídicas, o poder judiciário e os operadores
do direito.

A aplicação da perícia diferencia‑se da contabilidade em geral por ser específica e ter um objeto
próprio, podendo ser aplicada para os usuários da contabilidade quando houver imperfeições,
inadequações e irregularidades.

As pessoas físicas podem se utilizar da perícia contábil quando houver a necessidade de verificação,
em livros ou documentos contábeis, de fatos que possam prejudicar seu patrimônio.

Existem casos de sócios que podem se sentir prejudicados na distribuição de lucros e pedem, por
meio de um perito contábil, a verificação dos resultados da empresa.

As pessoas jurídicas podem se utilizar dos serviços dos peritos contábeis, que atuarão como assistentes
técnicos nos processos dos quais elas são parte, com o objetivo de acompanhar o perito judicial nas
diligências e na elaboração do laudo pericial, bem como na emissão de parecer técnico que possa lhe
dar subsídios para impugnação do laudo do perito do juízo.
41
Unidade I

O poder judiciário utiliza‑se dos serviços do perito judicial, como auxiliar do juiz, podendo haver a
nomeação desse profissional na fase inicial do processo, com o objetivo de se obterem provas para o
julgamento deste ou na fase de execução, com o propósito de apurar os valores devidos.

É na esfera judicial que se verifica a utilização mais constante dos serviços do perito contábil, pois,
em vários processos, a matéria contábil deixa o juiz sem bases para seu julgamento, uma vez que se
refere a elementos da técnica contábil, da qual ele não detém conhecimento técnico.

Há a figura do árbitro, que também é usuário dos serviços de peritos judiciais, pois ele também
precisa, muitas vezes, de elementos confiáveis para poder tomar suas decisões. Além disso, tratando‑se
de matéria contábil, ele poderá solicitar um laudo pericial ou um parecer a um profissional da
contabilidade.

Os operadores do direito também se utilizam da perícia contábil muitas vezes, para auxiliar no
momento de proporem uma determinada ação em juízo, com o objetivo de saberem antecipadamente
se o resultado que buscam valerá a pena. Dessa forma, antes de proporem a ação, irão solicitar ao perito
contábil um parecer que demonstre, de forma clara, o objeto que irão buscar em juízo.

3.6 Procedimentos básicos da perícia contábil

Os procedimentos básicos para a execução da perícia contábil são:

• nomeação;

• aceitação ou escusa;

• prazo para o laudo;

• exames, análises e avaliação dos documentos, prova e outros;

• elaboração do laudo;

• honorário;

• conclusão;

• esclarecimentos adicionais.

De acordo com o Código do Processo Civil (BRASIL, 2002), temos os seguintes procedimentos
relativos à perícia:

Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega
do laudo (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992).

42
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

§ 1o Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do


despacho de nomeação do perito:

I ‑ indicar o assistente técnico;

II ‑ apresentar quesitos.

§ 2o Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas


na inquirição pelo juiz do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de
instrução e julgamento a respeito das coisas que houverem informalmente
examinado ou avaliado (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992).

Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que Ihe foi cometido,
independentemente de termo de compromisso. Os assistentes técnicos são
de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição (Redação
dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992).

Art. 423. O perito pode escusar‑se (art. 146), ou ser recusado por impedimento
ou suspeição (art. 138, III); ao aceitar a escusa ou julgar procedente a
impugnação, o juiz nomeará novo perito (Redação dada pela Lei nº 8.455,
de 24.8.1992).

Art. 424. O perito pode ser substituído quando (Redação dada pela Lei nº
8.455, de 24.8.1992):

I ‑ carecer de conhecimento técnico ou científico;

II ‑ sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que Ihe foi
assinado (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992).

Parágrafo único. No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência


à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito,
fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do
atraso no processo (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992).

Art. 425. Poderão as partes apresentar, durante a diligência, quesitos


suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dará o escrivão ciência à
parte contrária.

Art. 426. Compete ao juiz:

I ‑ indeferir quesitos impertinentes;

II ‑ formular o que entender necessário ao esclarecimento da causa.


43
Unidade I

Art. 427. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as partes, na inicial e
na contestação, apresentarem sobre as questões de fato pareceres técnicos
ou documentos elucidativos que considerar suficientes (Redação dada pela
Lei nº 8.455, de 24.8.1992).

4 PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NA PERÍCIA JUDICIAL

A nomeação de perito judicial por parte do juízo ocorre diante da necessidade do juiz de esclarecer
dúvidas existentes no processo judicial. O profissional nomeado deve ter domínio da matéria a ser
elucidada e ser de confiança do juiz.

As partes podem nomear auxiliares para acompanhar o perito do juízo, os quais são denominados
assistentes técnicos e representam as partes envolvidas.

O perito do juízo é autônomo nas suas decisões, dando satisfação somente ao juiz que o nomeou.

4.1 Perito judicial

Definidas e interligadas as bases conceituais, objeto e objetivo da perícia, é possível perceber que
algumas das suas características devem compor o perfil do profissional que atua ou pretende atuar
nesse ramo de conhecimento; é exigível e desejável que se conscientize da necessidade de discernir,
analisar, julgar e agregar sua personalidade, em grau de que lhe empreste autoridade moral natural para
o acatamento de seu trabalho, independentemente de atender aos aspectos formais e relativos a ele.
Resumindo, é preciso ser ético em contraposição a ter ética, o que é substancialmente diferente, pois
ter é tão somente atender às regras formalmente expressas porque a elas está subjugado, enquanto ser
é entender as regras, formalizadas ou não, como uma atitude natural, intrínseca ao próprio ser, que só
quem é conscientizado pode ter.

Saiba mais

Para saber mais a respeito, acesse o site:

<http://www.facape.br/socrates/Trabalhos/A_responsabilidade_social_e_
etica_do_Perito.htm>.

O prof. Dárcio Guimarães de Andrade, juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, ensina:

Hodiernamente, o sucesso econômico passou a ser a medida de todas as


coisas, ficando, muitas vezes, a moral e a ética em planos secundários, uma
vez que estas não podem ser convertidas em pecúnia. Infelizmente, a medida
de uma pessoa está residindo no seu forte poderio econômico.

44
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

É de suma importância a reflexão ética, neste momento, em que a nossa


sociedade passa por grandes mudanças em todas as esferas.

No âmbito profissional, se todos agissem sempre com ética, certamente


estaríamos mais seguros, isentos de atos de má‑fé.

Dentro desta perspectiva ética, não basta que o profissional FAÇA BEM, ele
precisa também FAZER O BEM, utilizando de atos de boa‑fé que orientem
suas decisões e relações com as pessoas, buscando, dessa forma, o bem
comum. Aliás, o bem comum deve ser nossa permanente meta.

A preocupação profissional com a ética gera resultados compensadores,


trazendo bons frutos em longo prazo.

Enfim, ser ético é um caminho seguro para o sucesso! O profissional,


desprovido de ética, não encontra lugar na sociedade e todos o abominam.

Fonte: <www.ipecon.com.br/artigos/ETICA NA PERICIA JUDICIAL.com>.

Não basta ao perito a responsabilidade moral e intelectual. De acordo com o Código do Processo
Civil (CPC), o perito possui também responsabilidade civil e criminal, delegado ao pagamento de
indenização de prejuízos que causar por dolo ou culpa, nos moldes do artigo 147 do CPC (BRASIL,
2002), o qual dispõe “o perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas, responderá
pelos prejuízos que causar à parte, ficará inabilitado, por 2 (dois) anos, a funcionar em outras
perícias e incorrerá na sanção que a lei penal estabelecer“. A responsabilidade, nesse caso, refere‑se
às informações inverídicas e a prejuízos causados à parte, podendo ficar inabilitado de trabalhar em
outras perícias por dois anos.

Exemplo de petição aceitando a nomeação de perito contador

Exmo. Sr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Bagé – Rio Grande do Sul
Autor: Hawai Viagens e Turismo – ME
Réu: Empresa de Turismo e Excursões Sonhos Dourados – EPP
Ação: Ressarcimento de Despesas – Cível
Processo nº: 0009.900.0021/2011

Jose Roberto Rodriguez, contador, RG 999.999.000‑X e CPF 667.667.667.99, inscrito


no CRC RS sob nº 999.999.999, residente e domiciliado nesta cidade a Rua São João, 345,
vem respeitosamente, informar a Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 146 – Parágrafo
Único e artigo 423 do CPC, aceitar a nomeação de perito contador, representando este juízo.

Isto posto, requer a sua a juntada desta aos autos para tornar ciente as partes interessadas
e para os devidos fins de direito.

45
Unidade I

É o que requer,

Pede deferimento.

Bagé, 15 de abril de 2011.

Jose Roberto Rodriguez


Contador CRC RS 999.999.999

No tocante à responsabilidade criminal, dispõem os artigos 342 e 347 do Código Penal e, segundo
eles, os atos praticados pelo auxiliar da Justiça, entendidos como dolo ou culpa, podem ainda ser
passíveis de pena de reclusão e multa, no caso desse profissional proferir afirmação falsa, de se calar à
verdade ou induzir o juiz ao erro.

A resolução do CFC de nº 803 (Código de Ética do Profissional Contabilista), de 10/01/1996,


aborda no seu artigo 5º algumas condutas de caráter obrigatórias em relação ao perito‑contador e
ao perito‑contador assistente que, se transgredidas, ensejam a aplicação das penalidades dispostas no
Capítulo V: advertência reservada; censura reservada e censura pública.

Pode‑se dizer ainda que, ao perito, não é permitido agir sem eficácia; portanto, a ele compete
atuar com eficiência, agregando a perfeita dosagem de equidistância e de emprego de seus
conhecimentos sobre o objeto, que propicie atingir de forma bem sucedida a finalidade objetiva
para a qual a perícia foi determinada. Para que isso ocorra, o perito deve seguir indicativos que
servem como diferenciais e que contornam o perfil pessoal e profissional desejado e exigido dos
agentes periciais, impondo o seu aclaramento, por critérios mais objetivos, mediante o exame
circunscrito dos requisitos que devem lhe individualizar o perfil profissional, seus direitos, deveres
e responsabilidades.

Segundo Sá (1997, p. 20), o profissional que executa a perícia contábil precisa ter um conjunto de
capacidades, que são suas qualidades. Entre essas capacidades, estão:

• a legal;

• a profissional;

• a ética;

• a moral.

A capacidade legal é a que lhe confere o título de bacharel em Ciências Contábeis (e equiparados) e
o registro no Conselho Regional de Contabilidade.

A capacidade profissional é caracterizada por:

46
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

• conhecimento teórico da contabilidade;

• conhecimento prático das tecnologias contábeis;

• experiência em perícias;

• perspicácia;

• perseverança;

• sagacidade;

• conhecimento geral de ciências afins à contabilidade;

• índole criativa e intuitiva.

Figura 7

Sá (1997, p. 21) complementa: “o perito precisa ser um profissional habilitado, legal, cultural e
intelectualmente e exercer virtudes morais e éticas com total compromisso com a verdade”.

De acordo com a NBC P 2 – Normas profissionais do perito contábil:

2.1 – Competência técnico-profissional


47
Unidade I

2.1.1 – O contador, na função de perito ou árbitro, deve manter adequado nível de


competência profissional, pelo conhecimento atualizado das Normas Brasileiras de
Contabilidade, das técnicas contábeis, especialmente as aplicáveis à perícia, da legislação
inerente à profissão, atualizando‑se permanentemente por meio de programas de
capacitação, treinamento, educação continuada e outros meios disponíveis, realizando seus
trabalhos com observância da equidade.

2.1.2 – O perito contábil deve comprovar sua habilitação, mediante a apresentação de


certidão específica, emitida pelo Conselho Regional de Contabilidade.

2.1.3 – O perito contábil, nomeado em juízo ou indicado pela parte, assim como os
escolhidos pelas partes para perícia extrajudicial, deve cumprir e fazer cumprir a presente
norma, honrando os encargos que lhes foram confiados.

2.1.4 – O perito contábil deve recusar os serviços sempre que reconhecer não estar
adequadamente capacitado a desenvolvê‑los, contemplada a utilização de especialistas de
outras áreas, quando parte do objeto da perícia assim o requerer.

2.2 – Independência

2.2.1 – O perito contábil deve evitar e denunciar qualquer interferência que possa
constrangê‑lo em seu trabalho, não admitindo, em nenhuma hipótese, subordinar sua
apreciação a qualquer fato, pessoa ou situação que possa comprometer sua independência.

2.3 – Impedimento

2.3.1 – Está impedido de executar a perícia contábil, devendo declarar‑se suspeito para
assumir a função, o contador que:

• tenha, com alguma das partes ou seus procuradores, vínculos conjugais ou de


parentesco consanguíneo em linha reta, sem limites de grau, em linha colateral até
o terceiro grau, ou por afinidade até o segundo grau;

• tenha mantido, nos últimos cinco anos, ou mantenha com alguma das partes ou seus
procuradores, relação de trabalho como empregado, administrador ou colaborador
assalariado;

• tenha mantido ou mantenha, com quaisquer das partes ou seus procuradores, relação
de negócio constituída de participação direta ou indireta como acionista ou sócio;

• seja amigo íntimo ou inimigo capital de quaisquer das partes;

• tiver interesse, direto ou indireto, imediato ou mediato, no resultado do trabalho


pericial;
48
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

• tiver interesse direto, por si ou qualquer um de seus parentes, consanguíneos ou


afins, em transação em que haja intervido, ou esteja para intervir, alguma das partes;

• exerça função ou cargo incompatíveis com a atividade de perito contábil.

Fonte: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/p2.htm>.

Exemplo de petição para impedimento de nomeação de perito

Exmo. Sr. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Bagé – Rio Grande do Sul
Autor: Hawai Viagens e Turismo – ME
Réu: Empresa de Turismo e Excursões Sonhos Dourados – EPP
Ação: Ressarcimento de Despesas – Cível
Processo Nº: 0009.900.0021/2011

Jose Roberto Rodriguez, perito deste juízo, devidamente qualificado nos autos do
processo em epígrafe vem, respeitosamente, informar a Vossa Excelência, que apesar de
muito honrado com a designação, encontra‑se impedido de atuar no referido processo
face existir parentesco com uma das partes. Portanto, impossibilitado de exercer o
encargo.

Dessa forma, apresenta sinceras escusas e fica à disposição deste juízo para maiores
esclarecimentos, assim como a para atuar em outros processos, quando for solicitado.

Isto posto, requer a sua dispensa do encargo e a juntada desta aos autos para tornar
ciente as partes interessadas e para os devidos fins de direito.

É o que requer,

Pede deferimento.

Bagé, 15 de agosto de 2011.

Jose Roberto Rodriguez


Contador CRC RS 999.999.999

2.4 – Recusa

2.4.1 – A nomeação, indicação ou escolha para o exercício da função de perito contábil


deve ser considerada pelo mesmo como distinção e reconhecimento da capacidade e
honorabilidade do profissional, devendo recusar o trabalho ou renunciar à função quando:

• ocorrer qualquer uma das hipóteses de impedimento, previstas no item 2.3.1;

49
Unidade I

• ocorrer suspeição de natureza íntima;

• a matéria em litígio não for de sua especialidade;

• constatar que os recursos humanos e materiais de sua estrutura profissional não


permitem assumir o encargo sem que venha a prejudicar o cumprimento dos prazos
dos trabalhos já contratados ou compromissados;

• houver motivo de força maior.

2.4.2 – Na hipótese de escusa, antes ou depois de assumir o compromisso, deve o perito


contábil:

• quando nomeado em juízo, dirigir‑lhe petição, no prazo legal, justificando a escusa;

• quando indicado pela parte, comunicar‑lhe a escusa, por escrito e no prazo legal,
sem prejuízo de posterior petição ao juízo neste sentido;

• quando escolhido, comunicar a escusa à parte que o contratou, justificando‑a por


escrito.

Fonte: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/nbc/p2.htm>.

Exemplo de petição para escusa de nomeação

Escusa de nomeação do encargo de perito

Exmo. Sr. (Dr.) Juiz de Direito da 4ª Vara Cível de Carapicuíba do Estado de Rio
Grande do Sul
Autor: Albertino Roseval dos Santos
Réu: Moto Locadora e Oficina Ltda – ME
Ação: Trabalhista
Processo nº: 1.110.000

José Roberto Alvarez Rodriguez, perito deste juízo, devidamente qualificado nos
autos do processo em epígrafe vem, respeitosamente, informar a Vossa Excelência, que
apesar de muito honrado com a designação, por motivos alheios à sua vontade, encontra‑se
impossibilitado de exercer o encargo por motivos de força maior.

Dessa forma, apresenta sinceras escusas e fica à disposição deste juízo para maiores
esclarecimentos, assim como a para atuar em outros processos, quando for solicitado.

Isto posto, requer a sua dispensa do encargo e a juntada desta aos autos para tornar
ciente as partes interessadas e para os devidos fins de direito.
50
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

É o que requer,

Pede deferimento.

Carapicuíba, 12 de outubro de 2012.

José Roberto Alvarez Rodriguez


CRC RS 0001.009.999

Verifica‑se que o perfil do profissional que deve atuar em perícia envolve aspectos técnicos, morais
e éticos, conhecimentos jurídicos e boa expressão, necessariamente, através da escrita.

Figura 8

O perito especialista deve ter formação superior, ou seja, bacharelado na área em que pretende se
habilitar para a realização de perícias.

Apenas o bacharel em Ciências Contábeis está habilitado para exercer a perícia contábil, como
determinam as normas brasileiras de contabilidade, que trazem a seguinte redação: “13.1.2 A perícia
contábil, tanto a judicial, como a extrajudicial e a arbitral, é de competência exclusiva de Contador
registrado em Conselho Regional de Contabilidade”. (Fonte: <http://www.portaldecontabilidade.com.
br/nbc/t13.htm>). Tal afirmação está fundamentada no capítulo IV, artigo 25 alínea C e artigo 26 do
Decreto‑lei 9.295/46 (BRASIL, 1946), com a seguinte redação:

Art. 25 – São considerados trabalhos técnicos de contabilidade:

organização e execução de serviços de contabilidade em geral;

escrituração dos livros de contabilidade obrigatórios, bem como de todos


os necessários no conjunto da organização contábil e levantamento dos
respectivos balanços e demonstrações;

perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral,


verificação de haveres, revisão permanente ou periódica de escritas, regulações
judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos
Conselhos Fiscais das sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições de
natureza técnica, conferida por lei aos profissionais de contabilidade.
51
Unidade I

Art. 26 – Salvo direitos adquiridos ex‑vi do disposto no art. 2º do Decreto


n.º 21.033, de 8 de fevereiro de 1932, as atribuições definidas na alínea c do
artigo anterior são privativas dos contadores diplomados.

Para a realização de perícias, estando devidamente habilitado, o perito


deverá informar ao juiz sua habilitação, capacitação e disponibilidade para
assumir os encargos da perícia.

O profissional, iniciante nesse campo, deverá primeiro tomar conhecimento


teórico dos procedimentos que deve ter para a realização do encargo
assumido, bem como das normas que o disciplinam.

O perito, como contador, deve, conhecer primeiramente:

As Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC T 13), específica da perícia


contábil;

NBC P 2 – Normas Profissionais do Perito;

O que determina o artigo 420 e seguintes do Código de Processo Civil;

O artigo 3º da Lei 5.584/70;

O Provimento nº CSM 755/2001;

ter conhecimento dos procedimentos éticos e das responsabilidades perante


o juiz que o nomeou e perante a parte que o contratou, quando estiver
atuando como assistente técnico.

ter pleno conhecimento das responsabilidades civis e criminais que podem


incorrer, caso ele prejudique o andamento do processo, ou cause prejuízo às
partes.

Lembrete

O perito, seja judicial ou extrajudicial, é escolhido principalmente pela


confiança de quem indica e não necessariamente pela sua capacidade
profissional.

A perícia é uma especialização que requer um universo diversificado de


conhecimentos, não bastando apenas o conhecimento acadêmico porque,
na perícia, o perito precisa enxergar onde não há luz, ler o que não está
escrito e encontrar o que parece não existir.
52
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

4.2 Responsabilidades civil e criminal

Segundo Neto; Mercandale (2000, p. 15), na órbita cível, o perito está sujeito à arguição de
impedimento ou suspeição, consoante preconiza o inciso III, do artigo 138 do Código de Processo Civil.

Art. 138. Aplicam‑se também os motivos de impedimento e de suspeição:

I ‑ ao órgão do Ministério Público, quando não for parte e, sendo parte, nos
casos previstos nos I a IV do art. 135;

II ‑ ao serventuário de justiça;

III ‑ ao perito (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992);

IV ‑ ao intérprete.

§ 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a suspeição, em


petição fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade
em que Ihe couber falar nos autos; o juiz mandará processar o incidente em
separado e sem suspensão da causa, ouvindo o arguido no prazo de 5 (cinco)
dias, facultando a prova quando necessária e julgando o pedido.

§ 2o Nos tribunais, caberá ao relator processar e julgar o incidente.

Neto; Mercandale (2000, p. 15) complementa: “sob o ângulo dos prejuízos que a perícia maliciosa
carrear à parte, entendemos que são cabíveis as ações de indenização, inclusive por danos morais”.

A responsabilidade criminal remete ao artigo 342 do Código Penal, que trata da falsa perícia, com a
seguinte redação:

Art. 342. Fazer afirmação falsa ou negar ou calar a verdade, como


testemunha, perito, tradutor ou intérprete em processo judicial, policial ou
administrativo, ou em juízo arbitral:

Parágrafo 1º Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a


produzir efeito em processo penal:

Pena – reclusão de 2 a 6 anos e multa.

Parágrafo 2º As penas aumentam de um terço, se o crime é praticado


mediante suborno.

Parágrafo 3º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença, o agente se


retrata ou declara a verdade.
53
Unidade I

O perito deve estar atento ao objeto da perícia, pois não pode ir além do que deve ser apurado.

Observação

Os conhecimentos técnicos também são importantíssimos. Uma vez


habilitado para a realização de perícia, se não demonstrar, por meio do
resultado do laudo realizado, a perícia de forma correta e dentro das
normas e princípios contábeis, poderá causar prejuízos às partes e poderá
responder civil e criminalmente por esses prejuízos.

4.3 Assistente técnico

O perito indicado pelas partes (denominado assistente técnico) deverá acompanhar o perito nomeado
pelo juiz nas diligências que forem efetuadas.

Sua indicação é permitida legalmente, como traz o artigo 421, parágrafo 1º do Código de Processo
Civil (BRASIL, 1973).

Art. 421. O Juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega
do laudo.

Parágrafo 1º Incumbe às partes, dentro de cinco dias, contados da intimação


do despacho de nomeação do perito.

indicar o assistente técnico;

apresentar quesitos.

4.3.1 Responsabilidades

A responsabilidade do assistente técnico é com as partes que o indicaram, não podendo deixar de
obedecer às Normas Brasileiras de Contabilidade e às Normas de Profissionais de Perito, aos procedimentos
éticos e aos limites da perícia, por seu objeto.

4.3.2 Pareceres

Como a função do assistente técnico é de verificação e fiscalização do trabalho do perito do juízo,


poderá interferir nas conclusões emitidas, apresentando ressalvas ao trabalho apresentado ou parecer
técnico divergente.

Os pareceres são apresentados em separado, nos termos do Parágrafo único do artigo 433 do Código
de Processo Civil (BRASIL, 1973), no prazo de dez dias após a apresentação do laudo:

54
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

Art. 433 – parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de
dez dias após a apresentação do laudo, independente de intimação.

Com o advento da Lei 10.358, de 27 de dezembro de 2001 (BRASIL, 2001)., o parágrafo único do
artigo 433 do CPC passou a ter a seguinte redação:

Parágrafo único. Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias,
após intimadas as partes da apresentação do laudo.

A partir dessas considerações, verifica‑se que os prazos para entrega dos pareceres dos assistentes
técnicos são diferenciados.

Portanto, o perito contábil assistente é aquele que acompanha o perito do juízo, quando indicado
pelas partes, podendo oferecer seus pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias depois de intimadas as
partes da apresentação do laudo.

Saiba mais

Para saber mais sobre o tema, acesse o site:

<http://gilbertomelo.com.br/artigos/167‑o‑papel‑do‑
perito‑assistente‑tecnico>.

Resumo

Os esclarecimentos envolvendo a contabilidade nas disputas entre


pessoas – físicas ou jurídicas – são elucidados pelo profissional contador,
que desenvolve a atividade de perícia contábil.

Cabe ao contador, por meio da pesquisa, do exame e da verificação,


demonstrar a verdade ou a realidade de certos fatos, auxiliando as partes a
chegarem a um consenso.

A atividade de perícia contábil é aplicada, na maioria dos casos, nos


processos judiciais, podendo ocorrer também nas disputas extrajudiciais.

É importante conhecer os procedimentos da Justiça nos processos


judiciais, para poder situar em que momento haverá a atuação do perito
contador.

55
Unidade I

A perícia contábil atua em todos os ramos do direito, pois em todos


os ramos há dúvidas a respeito dos direitos das partes em relação ao
patrimônio.

Algumas ações judiciais em que exigem a atuação do perito são: ações


alimentares; ações de inventário; dissolução de sociedades; desapropriações;
reclamatórias trabalhistas; fundo de comércio; avaliação do intangível;
execuções fisco‑tributárias; recuperações judiciais; indenizatórias
contratuais; impugnações de créditos e inquérito policial.

Todo procedimento deve seguir o Código de Processo Civil, cuja norma


fixa a conduta a ser adotada pela Justiça. O conhecimento do Código Civil,
que é a legislação aplicada, é fundamental para o desenvolvimento da
atividade do perito contador.

Devem ser observados, fundamentalmente, o Código Civil, a legislação


e o Código de Processo Civil para nortear o trabalho pericial. É importante
que o contador conheça a atividade profissional das Ciências Contábeis,
cujo teor deve ser totalmente dominado, enquanto os códigos direcionam
o trabalho do profissional.

O perito contador deve ter formação universitária e ser devidamente


registrado no Conselho Regional de Contabilidade.

Todo profissional contador, ao desenvolver qualquer atividade


relacionada à sua área de atuação, deve ser ético, organizado, perspicaz,
ter conhecimento técnico e administrativo, criatividade, responsabilidade,
redigir e interpretar textos de forma correta, entre outras qualidades.

Exercícios

Questão 1. Em uma cidade do interior de Minas Gerais ocorreu um incêndio em um supermercado,


provocado pelo descuido do funcionário de uma madeireira que ficava ao lado. A madeireira armazenava
sobras de trabalhos realizados em um canto do pátio, próximo ao muro de divisa do supermercado. O
funcionário da madeireira foi realizar um trabalho de solda próximo a esse local e provocou o incêndio,
que se alastrou rapidamente e destruiu parte das instalações do supermercado. O supermercado ficou
fechado por seis meses, até que fossem concluídos os trabalhos de reconstrução. O dono do supermercado
ingressou com uma ação judicial contra o dono da madeireira, depois de esgotados todas as tentativas
para a realização de um acordo por meio do qual os prejuízos materiais fossem pagos. No processo
judicial, o magistrado indicou como perito o Sr. Adão Evaldo, para que ele analisasse os documentos do
supermercado para verificar se os valores pleiteados a título de indenização por lucros cessantes eram,
realmente, valores comprovados. O perito compareceu ao contador que trabalhava para o supermercado
e pediu a ele que apresentasse os livros e as notas fiscais referentes às compras de produtos feitas pelo
56
PERÍCIA, AVALIAÇÃO E ARBITRAGEM

supermercado, para com isso calcular os lucros que o estabelecimento deixou de ter durante o período
que ficou sem funcionar em decorrência do incêndio. Chegou à conclusão que o supermercado havia
tido prejuízos de R$ 750.000,00 a título de lucros cessantes, ou seja, lucro que não teve exatamente
porque estava sem funcionar. Os advogados da madeireira impugnaram o laudo e o juiz concordou,
determinando que fosse realizado outro. O principal argumento para impugnação foi que:

A) O perito era amigo do proprietário do supermercado.

B) O laudo pericial continha erros matemáticos sobre a entrada e a saída de mercadorias.

C) O laudo pericial havia analisado apenas o faturamento do supermercado e não havia analisado
os valores das despesas.

D) O laudo pericial foi realizado por quem não tinha conhecimento para isso.

E) O perito havia demorado muito para proceder à análise dos documentos.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há no enunciado da questão nenhum elemento que permita concluir que o perito
designado pelo juiz era amigo do proprietário do supermercado.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o laudo pericial deveria ser realizado a partir da análise dos documentos disponíveis
sobre a entrada e a saída de mercadorias, bem como com a análise dos valores das despesas do
estabelecimento, para que se pudessem identificar os valores de lucro, mas não há no enunciado da
questão nenhum elemento que permita concluir que o laudo foi impugnado em razão de cálculos
equivocados.

C) Alternativa correta.

Justificativa: o perito não deverá deixar de verificar qualquer fato ou documento que possa servir de
suporte para a conclusão do laudo pericial. Não poderá, em nenhuma hipótese, proceder à análise por
amostragem. Por conhecimento resultante de sua formação universitária ou por conhecimento notório,
fruto de sua experiência profissional, ele terá que utilizar os meios técnicos e científicos para constatar
e demonstrar satisfatoriamente os fatos e as circunstâncias relevantes, de modo a subsidiar as decisões
que serão tomadas. Neste caso, o perito não analisou as despesas, só o faturamento da empresa, e por
isso o valor identificado como lucro está excessivo e não é correto.

57
Unidade I

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o perito foi indicado pelo juiz da comarca onde ocorreram os fatos e, evidentemente, o
magistrado só indicou aquele prestador de serviços porque ele é possuidor de notório conhecimento na
área. A indicação judicial é presunção de que aquele profissional seja competente para realizar a tarefa
determinada.

E ) Alternativa incorreta.

Justificativa: não há no texto elementos que permitam concluir que tenha havido demora para a conclusão
do laudo e, além disso, caso o tempo utilizado tivesse sido excessivo, os advogados da madeireira e até os do
supermercado poderiam ter solicitado ao juiz da causa a designação de outro perito.

Questão 2. Petrônio Petrolino é sócio de Jafer Tung em um escritório de contabilidade na cidade


de Pedra Alta, em Goiás. Eles dividem o trabalho e atuam com total independência em suas atividades
cotidianas. Em 2013, um dos clientes do escritório foi autuado pela Receita Federal e pela Polícia Federal
sob acusação de problemas graves na contabilidade, com ausência de recolhimento de tributos federais
e não identificação da origem de várias mercadorias que eles comercializavam. Desesperado, o cliente
entrou em contato com o escritório de Petrônio e Jafer e descobriu que o primeiro havia se apropriado
do dinheiro destinado ao recolhimento dos tributos, bem como havia deixado de lançar as notas fiscais
de procedência das mercadorias. O escritório foi processado pelo cliente, embora somente Petrônio
cuidasse da contabilidade daquela empresa. Durante o processo judicial foi designado João José como
perito contador para avaliar a extensão dos valores dos quais o escritório havia se apropriado e, para
surpresa de todos, o perito concluiu que não havia ocorrido nenhuma apropriação e que o cliente não
havia mandado os valores para pagamento dos impostos. Inconformado, o cliente do escritório, por seu
advogado, contestou os resultados do laudo e para isso se valeu das conclusões de seu perito assistente,
que eram totalmente diferentes do laudo de João José. Questionado pelo magistrado, este acabou
confessando que era primo de Petrônio e que havia mentido no laudo pericial que realizou. O juiz, de
imediato, mandou o caso para o Promotor de Justiça para que fosse instaurado inquérito penal contra
o perito. A atitude do magistrado:

A) Está incorreta porque o fato de haver mentido em um laudo não é crime, mas apenas passível de
sanção administrativa por parte do Conselho de Contabilistas.

B) Está excessiva porque o contador que frauda um laudo deve ser punido civil e administrativamente,
mas não comete nenhum crime.

C) Está imprópria porque não se admite ação penal em casos de atuação profissional.

D) Está adequada porque existe previsão legal no Código Penal para o perito que falta com a verdade
no processo judicial.

E) Está superada porque o Código Penal não está em vigor no país.

Resolução desta questão na plataforma.


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