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Desenho Técnico

Autor: Prof. Pedro Tijunelis


Colaboradores: Prof. Pedro Americo Frugoli
Prof. José Carlos Morilla
Professor conteudista: Pedro Tijunelis

Mestre em Engenharia de Produção, atuou na indústria durante oito anos, sempre em funções ligadas a projeto,
programação, treinamento, suporte e implantação de sistemas CAD CAM.

Professor universitário desde 1995, ministra várias disciplinas no curso de Engenharia e Ciências da Computação:
Tópicos de Informática, Desenho Técnico, Técnicas de Programação, Estrutura de Dados, Lógica Matemática, Paradigmas
de Programação, Inteligência Artificial, Computação Gráfica, Sistemas de Informação Inteligentes, Computação
Aplicada à Engenharia, Engenharia Auxiliada por Computador, Tecnologia da Informação, Processamento de Imagem,
Administração Geral, Metodologia de Pesquisa, Simulações na Engenharia de Produção, Projeto de Elementos de
Máquinas, entre outras.

Participa também da adequação de diversos softwares, como AutoCAD, Solid Edge, Revit e Arena, na grade
curricular da UNIP.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

T561d Tijunelis, Pedro.

Desenho Técnico. / Pedro Tijunelis. – São Paulo: Editora Sol,


2016.

168 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-071/16, ISSN 1517-9230.

1.Desenho Técnico. 2. Construções Geométricas. 3. Projeções


ortogonais. I.Título

CDU 744

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Aline Ricciardi
Giovanna Oliveira
Sumário
Desenho Técnico

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 CONCEITOS INICIAIS E INSTRUMENTOS.................................................................................................. 11
1.1 Introdução................................................................................................................................................ 11
1.2 Unidades................................................................................................................................................... 12
1.3 Normas técnicas.................................................................................................................................... 13
1.4 Instrumentos........................................................................................................................................... 14
1.4.1 Lápis ou lapiseira...................................................................................................................................... 14
1.4.2 Borracha...................................................................................................................................................... 14
1.4.3 Escala............................................................................................................................................................ 15
1.4.4 Compasso.................................................................................................................................................... 15
1.4.5 Esquadros.................................................................................................................................................... 16
1.4.6 Prancheta A4............................................................................................................................................. 17
1.4.7 Prancheta e régua T................................................................................................................................ 17
1.4.8 Gabarito de furos e elipses.................................................................................................................. 18
1.4.9 Curva francesa.......................................................................................................................................... 19
1.4.10 Transferidor.............................................................................................................................................. 19
1.5 Papel........................................................................................................................................................... 19
1.5.1 Formatos de papel................................................................................................................................... 20
1.5.2 Dobra de folhas........................................................................................................................................ 20
1.5.3 Margens....................................................................................................................................................... 21
1.5.4 Legenda........................................................................................................................................................ 22
1.5.5 Lista de materiais..................................................................................................................................... 22
1.6 Caligrafia................................................................................................................................................... 22
1.7 Traço........................................................................................................................................................... 24
2 CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS E DESENHO COM INSTRUMENTOS............................................. 26
2.1 Conceitos de Geometria..................................................................................................................... 26
2.1.1 Plano............................................................................................................................................................. 26
2.1.2 Ponto............................................................................................................................................................. 26
2.1.3 Reta............................................................................................................................................................... 27
2.1.4 Semirreta..................................................................................................................................................... 27
2.1.5 Segmento de reta.................................................................................................................................... 27
2.1.6 Algumas classificações de reta e segmentos de reta................................................................ 27
2.1.7 Ângulo.......................................................................................................................................................... 28
2.2 Construções geométricas básicas................................................................................................... 29
2.2.1 Perpendicular............................................................................................................................................. 29
2.2.2 Perpendicular passando por um ponto.......................................................................................... 29
2.2.3 Mediatriz..................................................................................................................................................... 30
2.2.4 Bissetriz........................................................................................................................................................ 30
2.2.5 Retas paralelas.......................................................................................................................................... 31
2.2.6 Reta tangente........................................................................................................................................... 31
2.2.7 Identificar o centro de uma circunferência.................................................................................. 32
2.2.8 Dividir uma circunferência em seis partes.................................................................................... 32
2.2.9 Criar um triângulo a partir das medidas fornecidas de seus lados..................................... 33
2.3 Desenho de linhas com instrumentos.......................................................................................... 33
2.3.1 Fixação da folha de desenho na prancheta.................................................................................. 34
2.3.2 Traçado de linhas..................................................................................................................................... 34
2.3.3 Possíveis combinações com esquadros........................................................................................... 35
2.3.4 Uso do compasso..................................................................................................................................... 36
2.3.5 Uso do transferidor................................................................................................................................. 37
2.4 Concordâncias........................................................................................................................................ 37
2.4.1 Arredondamento de canto vivo a 90°............................................................................................. 37
2.4.2 Arredondamento em canto vivo de ângulo qualquer.............................................................. 38
2.4.3 Criação de reta tangente à circunferência passando por um ponto................................. 39
2.4.4 Criação de arco tangente a duas circunferências (tangência interna).............................. 39
2.4.5 Criação de arco tangente a duas circunferências (tangente externa)............................... 40
2.4.6 Criação de arco tangente a um segmento de reta e a uma circunferência.................... 40
2.4.7 Criação de arco tangente externo a um segmento de reta e a uma circunferência... 41
2.4.8 Criação de reta tangente a duas circunferências....................................................................... 42
2.4.9 Divisão de ângulo reto em três partes............................................................................................ 42
2.4.10 Traçado de polígono regular............................................................................................................. 43
3 TIPOS DE LINHA, REPRESENTAÇÃO EM UMA VISTA, CONTORNOS, COTAGEM E ESCALA... 45
3.1 Tipos de linha.......................................................................................................................................... 45
3.2 Vistas necessárias suficientes........................................................................................................... 46
3.3 Cotagem.................................................................................................................................................... 46
3.3.1 Elementos da cotagem.......................................................................................................................... 47
3.3.2 Cotagem de circunferências................................................................................................................ 47
3.3.3 Cotagem de arcos.................................................................................................................................... 48
3.3.4 Cotagem de ângulos.............................................................................................................................. 48
3.3.5 Cotagem de chanfros............................................................................................................................. 49
3.3.6 Cotagem de itens de tamanho reduzido........................................................................................ 49
3.3.7 Cotagem de peças simétricas............................................................................................................. 50
3.3.8 Cotagem por referência........................................................................................................................ 50
3.3.9 Cotagem por referência através de coordenadas....................................................................... 50
3.3.10 Erros comuns na inserção de cotas .............................................................................................. 51
3.4 Exemplos de desenho que representam chapas....................................................................... 53
3.5 Escala.......................................................................................................................................................... 57
3.6 Exemplos de desenhos que representam chapa com aplicação de escala.................... 59
4 PROJEÇÕES ORTOGONAIS, CORTES E SEÇÕES...................................................................................... 62
4.1 Projeções ortogonais........................................................................................................................... 62
4.2 Vistas necessárias suficientes – eliminação de vistas............................................................ 70
4.3 Presença da perspectiva e uso alternativo de vistas.............................................................. 71
4.4 Cortes......................................................................................................................................................... 71
4.4.1 Corte total.................................................................................................................................................. 72
4.4.2 Corte parcial............................................................................................................................................... 73
4.4.3 Corte com desvio ou composto......................................................................................................... 74
4.4.4 Meio corte................................................................................................................................................... 75
4.4.5 Hachuras em elementos normalizados e nervuras.................................................................... 76
4.5 Seções........................................................................................................................................................ 76
4.5.1 Seção rebatida........................................................................................................................................... 77
4.5.2 Seção com indicação de plano de corte........................................................................................ 77
4.5.3 Seção fora da peça.................................................................................................................................. 78

Unidade II
5 SÓLIDOS E REPRESENTAÇÃO EM PERSPECTIVA................................................................................... 86
5.1 Sólidos básicos........................................................................................................................................ 86
5.1.1 Prisma reto................................................................................................................................................. 86
5.1.2 Sólidos de revolução............................................................................................................................... 88
5.1.3 Pirâmide....................................................................................................................................................... 88
5.1.4 Planificação de sólidos.......................................................................................................................... 89
5.2 Perspectiva isométrica......................................................................................................................... 94
5.2.1 Primeiras perspectivas isométricas................................................................................................... 96
5.2.2 Chanfros em perspectiva...................................................................................................................... 99
5.2.3 Círculos em perspectiva isométrica................................................................................................100
5.2.4 Cotagem em perspectiva isométrica.............................................................................................102
5.2.5 Perspectiva a partir de vistas ortogonais.....................................................................................102
5.3 Exemplos de outros tipos de perspectiva..................................................................................103
5.3.1 Perspectiva cavaleira ou gabinete...................................................................................................103
5.3.2 Perspectiva cônica.................................................................................................................................104
5.3.3 Perspectiva dimétrica...........................................................................................................................105
6 TOLERÂNCIAS E SIMBOLOGIAS.................................................................................................................106
6.1 Tolerâncias associadas a cotas.......................................................................................................106
6.2 Tolerâncias normalizadas.................................................................................................................108
6.3 Tipos de ajuste furo eixo..................................................................................................................109
6.3.1 Ajuste com folga....................................................................................................................................109
6.3.2 Ajuste com interferência.................................................................................................................... 110
6.3.3 Ajuste incerto..........................................................................................................................................112
6.4 Recomendações sobre ajustes furo eixo....................................................................................113
6.5 Rugosidade superficial......................................................................................................................114
6.6 Tolerâncias de forma e posição.....................................................................................................119
6.6.1 Tolerância de forma e posição em elementos isolados..........................................................119
6.6.2 Tolerância de forma e posição em elementos conjugados.................................................. 120
6.7 Simbologia de solda...........................................................................................................................123
7 ITENS DE REPRESENTAÇÃO COMPLEMENTARES NO DESENHO TÉCNICO...............................125
7.1 Outros tipos de linhas........................................................................................................................125
7.2 Casos especiais de representação com cotas...........................................................................126
7.3 Vista auxiliar – representação em verdadeira grandeza......................................................126
7.4 Vista auxiliar – vista detalhe...........................................................................................................127
7.5 Interrupção............................................................................................................................................128
7.6 Vistas especiais.....................................................................................................................................129
7.7 Conicidade..............................................................................................................................................130
7.8 Notas gerais no desenho..................................................................................................................130
7.9 Hachuras de outros materiais........................................................................................................131
7.10 Hachuras de peças de espessura fina.......................................................................................131
7.11 Hachuras de peças montadas e simplificação de representação..................................132
7.12 Recartilhados......................................................................................................................................132
7.13 Representação de roscas...............................................................................................................133
7.14 Projeções no terceiro diedro........................................................................................................133
7.15 Simplificação de representação para peças simétricas.....................................................134
7.16 Corte óbvio sem indicação............................................................................................................135
7.17 Representação de arredondamentos e nervuras.................................................................135
7.18 Rotação de partes inclinadas.......................................................................................................135
7.19 Tolerâncias e medidas de ângulo...............................................................................................136
7.20 Rebatimento de plano inclinado em sólidos básicos.........................................................136
8 INICIAÇÃO AO PROJETO E TECNOLOGIA CAD.....................................................................................141
8.1 Processos de fabricação....................................................................................................................141
8.2 Elementos normalizados..................................................................................................................143
8.3 Materiais.................................................................................................................................................144
8.4 Projeto mecânico.................................................................................................................................146
8.5 Desenho de conjunto........................................................................................................................147
8.6 Tecnologia CAD....................................................................................................................................151
8.6.1 Tecnologia CAD 2D ..............................................................................................................................151
8.6.2 Tecnologia CAD 2D para perspectivas.......................................................................................... 154
8.6.3 Resumo da comparação DT tradicional x CAD 2D.................................................................. 155
8.6.4 Tecnologia CAD 3D............................................................................................................................... 155
APRESENTAÇÃO

O objetivo deste livro-texto é apresentar ao estudante de Engenharia o conteúdo relativo ao Desenho


Técnico de forma clara e direta.

O estudo de Desenho Técnico desenvolve visão espacial e engloba técnicas que servem de suporte
para a elaboração de projetos. Trata da linguagem universal que engenheiros utilizam para comunicar‑se
há décadas.

O engenheiro de qualquer especialidade tem obrigação de entender Desenho Técnico: executar e


interpretar a vasta gama de itens que contemplam o assunto.

É importante ler e compreender a teoria, mas a prática de adquirir a desenvoltura com os instrumentos e o
treinamento do raciocínio para ler e rapidamente imaginar a execução do desenho são igualmente importantes.

O livro-texto enfatiza o Desenho Técnico mecânico. Outros ramos como Estruturas Metálicas,
Mineração, Engenharia Elétrica, Engenharia Civil e Arquitetura têm suas especificidades, que serão
expostas e detalhadas em outras disciplinas.

Porém, as habilidades desenvolvidas nesta disciplina servem de base para a elaboração de projetos
em qualquer modalidade de Engenharia.

INTRODUÇÃO

Os assuntos abordados fornecem um conjunto de informações básicas, resumidas, porém abrangentes,


que permitirão ao aluno, mesmo inexperiente, situar-se diante da grande variedade de representações
no Desenho Técnico.

Não existe uma ordem ideal de aprendizado. Cada indivíduo terá facilidade de compreender
determinados assuntos, e terá dificuldades em outros.

Os conteúdos foram colocados na ordem mais próxima da ideal para o aprendizado.

Inicialmente, serão expostas a importância do estudo do Desenho Técnico, as normas que o orientam,
as unidades e folhas utilizadas, além de caligrafia e descrição de instrumentos.

Em seguida, serão revisados conceitos importantes de geometria plana, introduzindo o uso de


instrumentos. A partir daí, são apresentadas as principais construções geométricas, amplamente
utilizadas no Desenho Técnico.

Com o domínio desses tópicos iniciais, o aluno ficará apto a entender a aplicação das linhas e
escalas, desenhando contornos complexos, com várias construções geométricas.

Na sequência, veremos as técnicas de representação com vistas ortogonais, base de representação


no Desenho Técnico, complementadas pelo estudo de cortes e seções.
9
Na sequência, será apresentado o estudo de perspectivas, começando pelos sólidos básicos,
planificação, perspectiva isométrica e outras. A perspectiva é outra fundamental forma de representação.

Os diferentes tipos de tolerância e simbologias abordadas na sequência fornecem um importante


complemento para que o aluno se situe dentro das possibilidades associadas ao assunto.

Finalmente, abordaremos exceções ou complementos dos conteúdos apresentados anteriormente,


além de fornecer exemplos de representação de cortes em prismas, muito importantes para consolidar
o entendimento de vistas ortogonais.

No final do livro-texto, será fornecida uma noção inicial de projeto abordando, de forma genérica,
materiais, elementos normalizados e processos de fabricação.

Os últimos itens, ligados à tecnologia CAD, procuram comparar CAD do tipo “prancheta eletrônica”
com o Desenho Técnico tradicional exposto no livro-texto, para que o aluno compreenda a importância
de ambos. O processo CAD em 3D é um salto bastante grande na forma de projetar, mas tem também
suas peculiaridades ligadas ao Desenho Técnico tradicional.

Acompanhe com entusiasmo, releia o assunto e não subestime nenhum tópico, já que todos estão
interligados.

10
DESENHO TÉCNICO

Unidade I
1 CONCEITOS INICIAIS E INSTRUMENTOS

Serão expostos alguns conceitos gerais e uma breve descrição dos instrumentos necessários para
desenhar, além de caligrafia, papel e traço.

1.1 Introdução

A seguir algumas definições e comentários associados ao tema “Desenho Técnico”.

Uma definição objetiva é fornecida por Silva et al. (2009, p. 21): “O desenho técnico é o elemento de
expressão e comunicação ou de ligação entre o projeto e a execução.”

Aprendemos a ler, escrever, a nos expressamos e dominarmos nosso idioma com habilidade.
Posteriormente, aprendemos outras línguas, mas nenhum desses recursos é suficiente para formar uma
imagem detalhadamente precisa dos objetos. A língua falada ou escrita não descreve precisamente a
forma, aspecto e dimensões dos objetos. Aí é que entra a representação gráfica. Um simples esboço
traçado no papel melhora totalmente a compreensão do que está sendo tratado. O engenheiro precisa
saber interpretar e executar desenhos técnicos, já que eles são a base dos projetos e orientam a fabricação
(FRENCH; VIERCK, 2005).

Conforme Silva et al. (2009), desde a Antiguidade, o homem utiliza símbolos para se comunicar. O
desenho artístico transmite uma imagem sem a obrigação de quantificar, enquanto o Desenho Técnico
precisa indicar, com rigor, tanto as dimensões como outras informações úteis e complementares para a
fabricação. O desenho é uma ferramenta utilizada em muitas áreas: Engenharia, Arquitetura, Medicina,
Esporte. Na Engenharia, atua desde a concepção inicial do produto até a fabricação, podendo ir até a
fase de marketing e publicidade.

Todos os engenheiros e projetistas têm a capacidade e o preparo para executar e interpretar desenhos
técnicos, já que foram instruídos e treinados para isso. O desenho representa o produto ou processo final
de um projeto e deve ser guardado para comunicação entre outros projetistas, além de ser documento
de orientação para o grupo de fabricação (ROHLEDER, SPECK, GÓMEZ, 2000).

Na visão de Manfé; Pizza; Scaratto (2008), o Desenho Técnico é uma forma de expressão. Torna‑se
um documento que auxilia a execução prática do projeto. Tanto o engenheiro como o operador de
máquinas precisam conhecê-lo.

Por outro lado, Silva et al. (2009) lembram que o uso do computador é cada vez mais frequente. Ele
altera tanto nossos hábitos diários quanto as rotinas e os processos dentro da indústria, em todas as
11
Unidade I

fases do desenvolvimento de um novo produto. Faz com que a capacitação dos técnicos e engenheiros
também mude.

O Desenho Técnico á a forma como engenheiros, arquitetos e técnicos se comunicam


(MARQUES, 2015).

Conforme Giesecke et al. (1998), os desenhos acompanham o avanço da tecnologia. A comunicação


visual é ponte entre ciência e Engenharia. O desenvolvimento dessas habilidades é, portanto, exigido em
qualquer ramo de Engenharia.

O engenheiro, bem antes do uso do computador, precisa ter o conhecimento da teoria do Desenho
Técnico. É essa teoria que vai conduzir seus trabalhos tanto na prancheta como no computador.

A ideia de ordem, de rigor, de normalização apresentada no Desenho Técnico será estendida para
outras áreas.

Por exemplo, a caligrafia técnica deve ser aplicada no dia a dia. Seria interessante, a partir deste
curso, utilizar caligrafia técnica em todas as outras disciplinas e no ofício.

Outro exemplo: ao se ter contato com novos assuntos, a necessidade de buscar as normas que os
regulam será automática. Haverá a associação de regras a todos os assuntos que envolvem Engenharia.

1.2 Unidades

Existem ao menos dois sistemas de unidades: métrico e imperial. No Brasil, se utilizam as unidades
métricas na maioria dos trabalhos. No aprendizado do Desenho Técnico para Engenharia, será utilizada
a unidade mm.

Vale lembrar que o engenheiro civil frequentemente trabalha com m e km e, mesmo trabalhando em
mm, existem projetos que apresentam exceções no emprego das unidades. Tubos têm seus diâmetros
apresentados em polegadas (sistema imperial).

Observe a figura a seguir. Trata-se de escala em mm. Para facilitar a utilização, a cada 10 mm ou 1
cm, aparece uma marcação destacada.

cm
0 1 2 3 4

Figura 1

12
DESENHO TÉCNICO

1.3 Normas técnicas

O Desenho Técnico precisa ter uma linguagem universal para que possa ser completamente
entendido. Daí a ideia de criar um conjunto de normas e conceitos para que haja padronização. A norma
é um conjunto de regras, de indicações, para balizar tanto a execução quanto a leitura do desenho
técnico (SILVA et al., 2009).

Para Giesecke et al. (1998), as normas técnicas procuram garantir a correta interpretação do desenho
em qualquer país. À medida que se exercita o desenho técnico, incorpora-se também a lógica e o
conhecimento das normas.

A maioria dos itens expostos neste livro-texto tem o direcionamento às normas técnicas. Elas regulam
e padronizam a execução do Desenho Técnico. Cada empresa desenvolve uma cultura de projeto, mas
sempre balizada pelas normas técnicas.

Por exemplo, uma empresa que precisa obter certificações de qualidade terá uma inspeção rigorosa
em suas fases de desenvolvimento de projeto e execução de produto. Um dos critérios de avalição é a
obediência às normas de Desenho Técnico.

Saiba mais

CARVALHO, M. M.; PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: teoria e casos.


Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.

São várias as normas existentes: International Organization for Standardization (ISO), American
National Standards Institute (ANSI), Deutsche Industrie Norm (DIN), Japanese Industrial Standards (JIS),
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) etc.

Cada norma é utilizada em determinadas regiões ou países. O detalhamento de normas, bem como
suas relações, não fazem parte do escopo deste livro-texto. Mas vale lembrar que as normas técnicas
têm consonância entre si.

Por hora, lembre-se de que o aprendizado será orientado pelas normas da ABNT, a associação dos
assuntos expostos com as normas será convenientemente feita, citando-as em cada item abordado.

Observação
Você pode trabalhar em uma empresa multinacional que utiliza outra
norma, diferente da ABNT. Assim, será necessário promover adequações.
As normas, sejam elas de qualquer instituto, são frequentemente
atualizadas e é preciso estar atento a essas alterações.
13
Unidade I

1.4 Instrumentos

A seguir, uma breve definição da finalidade e características dos principais instrumentos utilizados
no Desenho Técnico. Vale lembrar de que se trata de instrumentos diferentes daqueles utilizados no dia
a dia. Precisam ser duráveis, de boa qualidade.

1.4.1 Lápis ou lapiseira

O lápis, ou lapiseira, é utilizado para traçar. Existe uma preocupação com o tipo de grafite, bem como com
a espessura do traço. Os grafites têm diferentes graus de dureza associados aos caracteres B, F, H e HB.

A classificação segundo Silva et al. (2009) é a seguinte:

• Grafites moles: 7B a 2B.


• Grafites médios: HB, H, 2H, 3H.
• Grafites duros: 4H a 8H.

Para simplificar o assunto, recomenda-se utilizar lápis ou lapiseira 0,7 mm com grafite 2B ou B e
lápis ou lapiseira 0,5 mm e grafite HB ou F. Logo adiante, será associado o uso do lápis ou lapiseira com
os tipos de linhas no desenho técnico.

Figura 2

1.4.2 Borracha

A borracha serve para apagar traços equivocados e linhas de construção. Deve ser macia, um pouco flexível
e conter chanfros, que ajudam na tarefa. Normalmente você segura o papel com uma das mãos e apaga com
a outra. Lembre-se de que o Desenho Técnico prima pela limpeza. Jamais umedeça a borracha para apagar.

Figura 3

14
DESENHO TÉCNICO

1.4.3 Escala

A escala é uma régua que tem graduação em mm. Serve para medir o desenho. Não confunda as
unidades. As divisões a seguir são em mm. A cada dez milímetros, um centímetro é marcado.

A escala deve ser de plástico e não de ferro ou alumínio, e a graduação deve estar legível.

Existem também escalas com graduação em polegadas.

Figura 4

Figura 5

Observação

Tenha disciplina e utilize sempre o termo “escala” quando se tratar de


executar medições. Régua não tem graduação. São diferentes.

1.4.4 Compasso

O compasso é utilizado para traçar arcos, circunferências, executar medições e marcações.

Possui duas hastes que precisam estar com as extremidades alinhadas. Em uma das extremidades,
existe uma agulha e, na outra, um adaptador com grafite. A agulha é chamada de ponta seca.

15
Unidade I

Pino recartilhado

Hastes

Grafite
Ponta seca

Figura 6

Determinados tipos de compasso têm suas hastes articuladas e removíveis. Nesse caso, pode-se
utilizar prolongadores que, por sua vez, também podem ser emendados, o que permite um aumento
considerável do raio a ser traçado.

Para raios ainda maiores, existe o cintel, que é uma haste de madeira ou alumínio com uma ponta
seca e grafite convenientemente adaptados.

Por outro lado, existem compassos do tipo “bailarina”, especiais para traçado de pequenos círculos.

Observação

Não “abra e feche” o compasso desnecessariamente. As articulações


tendem a criar uma folga, o que dificultará o uso e a precisão.

1.4.5 Esquadros

Os esquadros permitem traçar segmentos de reta em ângulo. Apresentam ângulos de 30°, 60°, 45°
90°. São utilizados em conjunto com uma prancheta ou ainda com régua T. Preferencialmente, não
devem ter graduação nem chanfros.

Adiante, serão exemplificadas disposições dos esquadros para obter outros ângulos.

16
DESENHO TÉCNICO

45º
90º 45º
90º 60º 30º

Figura 7

1.4.6 Prancheta A4

A prancheta A4 serve para fixar a folha de desenho formato A4 e permitir o trabalho com esquadros.
A fixação se dá pela regulagem da régua à esquerda. Parafusos recartilhados fixam a régua, prendendo
a folha.

Figura 8

1.4.7 Prancheta e régua T

A prancheta e a régua T permitem trabalhar com folhas maiores que A4. A régua T se movimenta em
conjunto com os esquadros. A folha é fixada com fita adesiva.

A prancheta é fabricada em madeira, não apresenta juntas em sua superfície nem nas laterais, é
revestida de plástico e tem suas dimensões reguladas por norma (SILVA et al., 2009).

17
Unidade I

Figura 9

Existem ainda as chamadas “réguas paralelas”, cujo funcionamento é bastante similar à régua T,
diferindo apenas no sistema de fixação lateral.

1.4.8 Gabarito de furos e elipses

O gabarito de furos e elipses auxilia no traçado de circunferências e elipses. Geralmente, diâmetros


pequenos são difíceis de desenhar com compasso. Já as elipses têm uma execução bastante trabalhosa.
Depois, será apresentada, com detalhes, a execução com compasso de elipses associadas à perspectiva
isométrica. O gabarito serve exclusivamente para essa situação.

Figura 10

Segue um exemplo em que a elipse não é criada com gabarito e sim por rebatimento de pontos e
curva francesa. Visualmente se percebe a diferença entre a elipse (a seguir) e o gabarito.

Figura 11

18
DESENHO TÉCNICO

1.4.9 Curva francesa

A curva francesa é um gabarito em que cada trecho contém diversos raios. É útil na criação de curvas
em que não se aplicam arcos nem elipses. Apresenta diferentes tamanhos e, quanto maior o tamanho,
maiores as possibilidades de curvas.

Uma das aplicações comuns da curva francesa é o rebatimento de furos em planos inclinados.

Figura 12

1.4.10 Transferidor

O transferidor é o instrumento utilizado para medir e traçar segmentos de reta em ângulo. Apresenta
uma escala em graus. Seu uso será abordado logo adiante.

Figura 13
1.5 Papel

Os tamanhos dos formatos de papel são normalizados. No Brasil, são utilizados os formatos da série
A, regulados originalmente pela NBR 10067 (ABNT, 1995). A série A utiliza a codificação: A0, A1, A2 A3,
A4, entre outros.

A norma orienta também as margens e dizeres na legenda.

19
Unidade I

1.5.1 Formatos de papel

Observe, na figura a seguir, as relações entre os tamanhos de folhas associados à chamada “série A”.
O formato A0, que mede 1188 x 841, é o dobro do formato A1, que, por sua vez, é o dobro do formato
A2, e assim por diante. Medidas sempre em mm.

Figura 14

1.5.2 Dobra de folhas

Formatos maiores são dobrados até que se reduzam ao formato A4. A dobra começa da direita para
a esquerda. A legenda deve ficar na parte frontal. A norma que fornece estas instruções é a NBR 13142
(1999b).

Figura 15

Cada formato de folha apresenta marcações que direcionam a dobra.

20
DESENHO TÉCNICO

Conforme Schneider (2008), pode ser considerado que, nas áreas de dobra, existe uma tendência de
o desenho rasgar ou tornar-se ilegível. Daí o cuidado no armazenamento e no encadernamento.

Indicação de
dobra

Figura 16

1.5.3 Margens

A margem à esquerda é de 25 mm para facilitar arquivamento, enquanto que as demais margens


dependem do formato. Podem ser de 7 ou 10 mm.

25

Figura 17

21
Unidade I

1.5.4 Legenda

A largura da legenda está associada com o formato da folha e as medidas das margens. A altura da
legenda depende das informações inseridas.

As informações importantes sobre o desenho precisam constar na legenda. Se for feita uma
abstração rápida, será possível concluir, por exemplo, quais campos devem constar na legenda de um
projeto escolar.

Figura 18

1.5.5 Lista de materiais

Além da legenda, pode existir a chamada “lista de materiais”, que conterá propriedades dos itens
desenhados. No exemplo a seguir, a lista de materiais inclui um único item. Se forem desenhadas diversas
peças, serão enumeradas e a lista de materiais deverá ser incrementada.

Figura 19

1.6 Caligrafia

A palavra “caligrafia” está associada com escrita à mão e com padronização. A caligrafia técnica trata
então das letras e números utilizados para escrever no Desenho Técnico. Pode ser vertical ou inclinada a
75°. O formato das letras, a altura e outras proporções são também regulados por norma.

22
DESENHO TÉCNICO

Uma boa caligrafia colabora com a beleza do desenho, enquanto que uma caligrafia ruim pode
comprometer toda a interpretação das informações (SCHNEIDER, 2008).

A representação gráfica de uma peça é completada com cotas, descrição de materiais, acabamento,
além de uma legenda. Esses itens precisam estar legíveis e uniformes, e o descuido deles levará a erros
de execução de projeto, podendo até inutilizar o desenho (FRENCH; VIERCK, 2005).

A altura dos caracteres varia conforme sua função no desenho e tem flexibilidade: cotas e
dizeres na legenda poderão ter de 2 a 4 mm. Já as notas gerais ou os itens que devem chamar
atenção podem ter 10 mm.

A seguir, estão os caracteres da caligrafia técnica. Os tipos de caracteres, bem como as distâncias
entre linhas e caracteres, são orientados pela norma NBR 8402 (ABNT, 1994).

Figura 20

Na figura 21, há alguns itens regulados por norma: altura da fonte, proporção entre letras maiúsculas e
minúsculas e espaço entre as linhas.

Figura 21

O constante treinamento de caligrafia técnica torna automática a obediência a essas proporções.

23
Unidade I

1.7 Traço

Além do treino de caligrafia técnica, é recomendável traçar à mão livre segmentos de reta e arcos.
Poderá ser utilizada uma folha em branco e a execução poderá ser repetida muitas vezes. Isso torna
o traço mais firme e facilita o manejo dos instrumentos. É interessante treinar linhas horizontais,
verticais, arcos etc.

Figura 22

Figura 23

Em uma próxima etapa, poderão ser estabelecidos itens que guiem o traçado, como pequenos
segmentos de reta e limites das figuras.

Figura 24

24
DESENHO TÉCNICO

Observação

São recomendações de Giesecke et al. (1998):

• Segurar o lápis com naturalidade, sem esforço.


• Traçar as linhas horizontais da esquerda para a direita.
• Traçar as linhas verticais de cima para baixo.
• Durante o traçado, manter sempre a visão no ponto final da reta, seja
esse ponto imaginário ou parte de algum elemento.

Saiba mais

Para melhorar a compreensão dos assuntos tratados, consulte as


seguintes normas:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10582:


apresentação da folha para desenho técnico. Rio de Janeiro, 1988.

___. NBR 8402: execução de caracter para escrita em desenho técnico.


Rio de Janeiro, 1994.

___. NBR 13142: desenho técnico – dobramento de cópia. Rio de


Janeiro, 1999b.

Observação
Foram citados e descritos os principais materiais utilizados no Desenho
Técnico, na forma convencional.
Existiram curiosas exceções na maneira de conduzir a execução do
Desenho Técnico.
Há trinta anos, o desenho dos automóveis era executado em escala real.
Um automóvel tem, por exemplo, 1.700 mm de largura.
O desenhista utilizava então uma prancheta de 2.500 mm de largura. Subia
em uma escada para alcançar toda a área a desenhar. Quando tinha de traçar
curvas complexas, não havia curva francesa com tamanho compatível. Era
utilizada uma régua fixada com percevejos para atingir a forma desejada.
25
Unidade I

2 CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS E DESENHO COM INSTRUMENTOS

Apresentaremos uma revisão dos primeiros conceitos de geometria plana e das principais construções
geométricas envolvendo tangências. Para isso, é necessário utilizar instrumentos.

2.1 Conceitos de Geometria

2.1.1 Plano

O plano, no contexto do Desenho Técnico, é a superfície em que se desenha. Para ter uma ideia
melhor, pode ser feita uma associação de plano com o lado de um cubo, com o piso de uma casa, com
o tampo de uma mesa, com a superfície da prancheta etc.

Todas as entidades descritas a seguir estão teoricamente contidas no plano.

O espaço contém infinitos planos. A seguir, estão ilustrados planos horizontais, verticais, paralelos,
inclinados etc.

Planos inclinados

Planos paralelos

Plano horizontal

Figura 25
2.1.2 Ponto

O ponto é a primeira figura geométrica. Teoricamente, não tem dimensão e existem infinitos pontos
em um segmento de reta ou no plano em que se está desenhando.

No Desenho Técnico, o ponto está associado a uma marcação suave com a ponta do lápis no papel.
Pode também ser um cruzamento de dois segmentos de reta ou o início ou fim de um segmento de reta.

Sua representação utiliza letras maiúsculas.

Figura 26

26
DESENHO TÉCNICO

2.1.3 Reta

A reta tem comprimento infinito e tem infinitos pontos. É representada por letras minúsculas.

Figura 27

2.1.4 Semirreta

A semirreta se diferencia da reta por ter uma origem que caracteriza seu início. Porém, continua não
tendo fim. Na figura a seguir, os pontos X e P são os pontos de início, enquanto que C e F são pontos
quaisquer.

Figura 28

2.1.5 Segmento de reta

O segmento de reta é uma reta com comprimento finito, determinado por dois pontos que se
denominam “extremidades”.

Figura 29

2.1.6 Algumas classificações de reta e segmentos de reta

Acompanhe as figuras da esquerda para a direita:

• Verticais: desenhadas a 90° ou 270°.

• Horizontais: desenhadas a 0° ou 180°.

• Inclinadas: desenhadas com ângulo qualquer, diferente dos citados anteriormente.

• Concorrentes: se cruzam em algum ponto.

• Paralelas: mantêm uma distância constante e, portanto, nunca se cruzam.


27
Unidade I

• Perpendiculares: em seu cruzamento, formam um ângulo de 90°.

• Coplanares: estão contidas no mesmo plano.


Verticais Inclinadas
Paralelas
Horizontais Coplanares
Concorrentes
Perpendiculares

Figura 30

Observação

A classificação anterior foi simplificada para facilitar o entendimento. A


teoria desse assunto envolve um aprofundamento em geometria analítica.
Nesse contexto, acabaria por ser contraproducente.

2.1.7 Ângulo

O ângulo é a abertura formada por dois segmentos de reta que têm a mesma origem ou são
concorrentes. O ângulo se classifica em:

• Agudo: menor que 90º.

• Reto: tem exatamente 90°. É representado na Geometria Plana por um pequeno quadrado. No
Desenho Técnico, não apresenta essa representação. Itens específicos precisarão dessa indicação.

• Obtuso: maior que 90°.

Agudo Obtuso

Reto

Figura 31

28
DESENHO TÉCNICO

2.2 Construções geométricas básicas

O Desenho Geométrico é importante para desenvolver a criatividade e refinar a capacidade de


observação. O exercício do Desenho Geométrico contribui também para o aprendizado em outras
áreas como Física e Geografia e especificamente em outras disciplinas mais técnicas (MARINHO et
al., 2010). No nosso caso, as construções geométricas podem ser tratadas como uma introdução ao
Desenho Técnico.

2.2.1 Perpendicular

Perpendicular é um segmento de reta que forma 90° em relação a outro. Passos para obtenção de
uma perpendicular:

a) Na reta m, marque um ponto A qualquer.

b) Abra o compasso com uma medida qualquer, ponta seca em A, e marque dois pontos B e C.

c) Trace arcos com a ponta seca do compasso em B e C, obtendo o ponto D. A abertura do compasso
tem de ser maior que AB.

d) Trace um segmento de reta passando pelos pontos A e D e obtenha a perpendicular.

Figura 32

2.2.2 Perpendicular passando por um ponto

Perpendicular passando por um ponto é um segmento de reta perpendicular a outro que passa por
um ponto qualquer.

a) Com a ponta seca do compasso em P, crie 2 pontos A e B na reta m.

b) Trace arcos com a ponta seca do compasso em A e B, obtendo o ponto C.

c) Trace um segmento de reta passando pelos pontos P e C e obtenha a perpendicular.

29
Unidade I

Figura 33

2.2.3 Mediatriz

Mediatriz é um segmento de reta que divide outro segmento de reta em partes iguais.

a) Abra o compasso com uma medida maior que metade do segmento de reta AB.

b) Trace arcos com a ponta seca do compasso em A e B, obtendo os pontos C e D.

c) Trace um segmento de reta passando pelos pontos C e D e obtenha a mediatriz.

Figura 34

2.2.4 Bissetriz

A bissetriz divide um ângulo em duas partes iguais.

a) Abra o compasso com uma medida qualquer e, com a ponta seca no ponto P, crie os pontos A e B.

b) Com a mesma abertura e ponta seca em A e B, crie dois arcos que determinem o ponto C.

c) Crie um segmento de reta que passe pelos P e C. Está criada a bissetriz.

Figura 35

30
DESENHO TÉCNICO

2.2.5 Retas paralelas

As retas paralelas mantêm uma distância uniforme e nunca se cruzam. O valor da distância precisa
ser fornecido.

a) Na reta n, marque dois pontos quaisquer A e B.

b) Abra o compasso com uma medida qualquer e, com a ponta seca em A, marque dois pontos C e
D. Já com a ponta seca em B, marque dois pontos E e F.

c) Trace arcos com a ponta seca do compasso em C e D, obtendo o ponto G.

c) Trace arcos com a ponta seca do compasso em E e F, obtendo o ponto H.

d) Trace dois segmentos de reta perpendiculares à reta n. Um deles pelos pontos A e G, e o outro
segmento, por B e H.

e) Abra o compasso com a medida da distância fornecida.

f) Com a ponta seca em A e B, trace dois arcos obtendo os pontos I e J.

g) Trace a reta paralela passando pelos pontos I e J recém-obtidos.

Figura 36

2.2.6 Reta tangente

A reta tangente passa por um único ponto pertencente também a um arco ou a uma circunferência.

a) Observe à esquerda a circunferência de centro A e raio r.

b) Crie um segmento de reta AB e obtenha o ponto C.


31
Unidade I

c) Crie um segmento de reta perpendicular a AB passando por C, criando a reta tangente.

Figura 37

2.2.7 Identificar o centro de uma circunferência

Dado um círculo qualquer, encontre seu centro. Para isso:

a) Crie duas retas secantes ao círculo criando os pontos A, B, C, D.

A reta secante cruza o círculo em 2 pontos.

b) Crie uma mediatriz no segmento de reta AB.

c) Crie outra mediatriz no segmento de reta CD.

e) O centro O é o encontro das mediatrizes.

Figura 38

2.2.8 Dividir uma circunferência em seis partes

O círculo tem raio conhecido.

a) Marque um ponto qualquer A sobre a circunferência.

b) Abra o compasso com o valor do raio, ponta seca em A, e obtenha B.

c) Abra o compasso com o valor do raio, ponta seca em B, obtenha C e assim por diante.

d) Junte os seis pontos obtidos com o centro O da circunferência.

32
DESENHO TÉCNICO

Figura 39

2.2.9 Criar um triângulo a partir das medidas fornecidas de seus lados

Criar um triângulo a partir das medidas fornecidas de seus lados é uma situação do que contém
restrições geométricas. Qualquer uma das medidas do triângulo tem de ser menor que a soma das
outras duas.

a) Trace uma reta r qualquer e crie um ponto A qualquer.

b) Abra o compasso com a maior medida do triângulo e com a ponta seca em A, defina o ponto B.

c) Abra o compasso com a segunda maior medida do triângulo e com a ponta seca em B, trace um arco.

d) Abra o compasso com medida faltante do triângulo e com a ponta seca em A, trace um arco
definindo o ponto C.

e) Trace os segmentos de reta AC e BC.

Figura 40

2.3 Desenho de linhas com instrumentos

O Desenho Técnico vem sofrendo adequações em razão da tecnologia, principalmente dos sistemas
Computer Aided Design (CAD). Essas alterações, no entanto, não podem suprimir sua fase inicial de
aprendizado com os instrumentos tradicionais, em que se desenvolvem abstrações que contribuem para
o desenvolvimento da visão espacial (MARQUES, 2015).

Conforme Dezen-Kempter et al. (2012), a mera substituição do desenho com instrumentos pelos
programas CAD causa a ausência de traçado manual e pode resultar em deficiência tanto na visão
espacial como no raciocínio. Evidentemente que o desenho a lápis é mais lento, mas trata de outras
habilidades e percepções como diferenças no traçado e escalas.

O desenho executado com instrumentos é regido por normas internacionais. É muito importante
que o aluno de Engenharia pratique o desenho à mão livre e com instrumentos para melhorar suas
habilidades manuais, bem como sua capacidade de interpretação e julgamento (RIBEIRO, 2001).

33
Unidade I

As construções geométricas que serão expostas adiante requerem uma precisão maior no traçado.
Daí a necessidade de se abordar antes o uso de instrumentos.

2.3.1 Fixação da folha de desenho na prancheta.

Antes de começar a desenhar, é necessário fixar corretamente a folha de desenho na prancheta. A folha
apresenta uma borda que serve de referência para a fixação. Já a prancheta tem uma régua à esquerda
que é removível e prende a folha. É necessário utilizar os esquadros para orientar o posicionamento
da folha. Na figura a seguir, à esquerda, o esquadro coincide com o segmento horizontal da margem.
Já à direita, o par de esquadros, trabalhando em conjunto, coincide com o segmento vertical. A ideia é
deslizar os esquadros entre si devidamente apoiados na régua da prancheta.

Figura 41

Observação

Quando a folha é fixada em pranchetas maiores, que utilizam régua


T, o alinhamento da margem horizontal da folha é orientado pela própria
régua T, enquanto que a margem vertical da folha deve coincidir com um
esquadro apoiado sobre a régua T, utilizando os mesmos passos da fixação
com prancheta A4.

2.3.2 Traçado de linhas

Para criar linhas horizontais, verticais e inclinadas, tendo a folha devidamente fixada na prancheta,
basta apoiar o esquadro na régua da prancheta e executar deslocamentos na vertical ou na horizontal
com os esquadros combinados.

34
DESENHO TÉCNICO

Figura 42

Figura 43

2.3.3 Possíveis combinações com esquadros

A seguir, o posicionamento dos esquadros combinados para obter diferentes ângulos:

Figura 44

35
Unidade I

Figura 45

2.3.4 Uso do compasso

Conforme French e Vierck (2005), as seguintes etapas devem ser seguidas para traçar uma circunferência:

• Tomar a medida do raio, ajustando o compasso sobre a escala.


• Colocar a ponta seca no centro.
• Segurar pino cilíndrico recartilhado da parte superior do compasso com o polegar e o indicador.

• Traçar a circunferência de uma só vez, girando o pino recartilhado e inclinando levemente o


compasso na direção do traço.
• Eventualmente, reforçar o traço com voltas adicionais.

Girar

Inclinação

Figura 46

36
DESENHO TÉCNICO

2.3.5 Uso do transferidor

O transferidor é um instrumento que serve para medir e marcar ângulos.

Para utilizar o transferidor, é necessário coincidir o ponto de encontro dos segmentos de reta com o
ponto de referência do transferidor e verificar na graduação o valor do ângulo.

A figura a seguir representa exemplos de medição de ângulos com o uso do transferidor. Repare que
o transferidor muda de posição ajustando-se ao ângulo. No último exemplo, é preferível utilizar a parte
esquerda da graduação.

113º

40º

15º

Figura 47
Lembrete

O treino do desenho com instrumentos e à mão livre melhora a


habilidade manual, bem como auxilia no processo de visão tridimensional.

2.4 Concordâncias

A seguir, alguns tipos de concordâncias. São as mais comuns no Desenho Técnico. Utilizam os
conceitos de reta paralela e mediatriz já descritos. Geralmente, após a execução da concordância,
alguma parte das figuras precisa ser apagada.

Para Giongo (1984), a solução é dita geométrica quando nela forem utilizados somente escala e compasso.

2.4.1 Arredondamento de canto vivo a 90°

No caso do arredondamento de canto vivo a 90°, o valor do raio precisa ser fornecido. Observe os
dois segmentos de reta à esquerda. Formam 90°. Para executar a concordância:

a) Abra o compasso com a medida do valor do raio de arredondamento.


b) Com a ponta seca do compasso em A, crie 2 marcações B e C.
37
Unidade I

c) Mantenha a mesma abertura do compasso e crie as marcações com a ponta seca em B e C,


obtendo o ponto D.

d) Com a ponta seca em D, trace o raio.

e) Apague os segmentos.

Figura 48

2.4.2 Arredondamento em canto vivo de ângulo qualquer

Siga as etapas posteriores para obter o arredondamento em duas retas que formam um ângulo
qualquer. O valor do raio de arredondamento precisa ser fornecido.

a) Seguindo o procedimento que vimos, crie retas paralelas com a distância de arredondamento. O
cruzamento das paralelas determina o ponto B.

b) Abra o compasso com a medida do valor do raio de arredondamento e com a ponta seca em B, trace o arco.

c) Apague os segmentos.

B r
A A A

B
A

Figura 49

38
DESENHO TÉCNICO

2.4.3 Criação de reta tangente à circunferência passando por um ponto

A partir do círculo e ponto à esquerda:

a) Trace um segmento de reta juntando o ponto A ao centro da circunferência O.

b) Crie uma mediatriz e obtenha o ponto médio M da semirreta recém-criada.

c) Abra o compasso com a medida MA e trace um arco determinando os pontos de tangência C e B.

d) Trace as tangentes unindo os pontos A e B e A e C.

Figura 50

2.4.4 Criação de arco tangente a duas circunferências (tangência interna)

No arco tangente a duas circunferências (tangência interna), é necessário que o arco tenha uma
medida mínima que permita o tangenciamento. Observe à esquerda duas circunferências de centros C1
e C2 e respectivamente raios r1 e r2. O arredondamento tem raio r3.

a) Abra o compasso com a medida r1 + r3, ponta seca do compasso em C1, e trace um arco.

c) Abra o compasso com a medida r2 + r3, ponta seca do compasso em C2, trace outro arco e
obtenha o ponto A.

d) Abra o compasso com a medida r3, ponta seca em A, e trace o arco tangente.

Figura 51

39
Unidade I

2.4.5 Criação de arco tangente a duas circunferências (tangente externa)

Observe à esquerda duas circunferências de centros C1 e C2 e, respectivamente, raios r1 e r2. O


arredondamento tem raio r3, maior que r2 e r1.

a) Abra o compasso com a medida r3 - r1, ponta seca do compasso em C1, e trace um arco.

b) Abra o compasso com a medida r3 - r2, ponta seca do compasso em C2, trace um arco obtendo
o ponto A.

c) Abra o compasso com a medida r3, ponta seca em A e trace o arco tangente.
r3-r2

Figura 52

2.4.6 Criação de arco tangente a um segmento de reta e a uma circunferência

Observar à esquerda a circunferência de raio r1 e centro C1 e o segmento de reta. O arco tangente


tem raio r2.

a) Crie um segmento de reta paralelo ao segmento existente com distância r2.

b) Abra o compasso com a medida r1 + r2, ponta seca em C1, trace um arco e obtenha o ponto A.

c) Abra o compasso com a medida r2, ponta seca em A e trace o arco tangente.

40
DESENHO TÉCNICO

Figura 53

2.4.7 Criação de arco tangente externo a um segmento de reta e a uma circunferência

Observe à esquerda a situação inicial: circunferência de centro C1 e raio r1 e segmento de reta. Nesse
caso, o raio r2, que executa a tangência, obrigatoriamente tem de ser maior que o raio r1. Além disso, o
segmento de reta precisa também estar a uma distância que permita a construção.

a) Crie um segmento de reta paralelo ao segmento existente com distância r2.

b) Abra o compasso com a medida r2 - r1, ponta seca do compasso em C1, trace um arco e obtenha
o ponto A.

c) Abra o compasso com a medida r2, ponta seca em A e trace o arco tangente.

Figura 54

41
Unidade I

2.4.8 Criação de reta tangente a duas circunferências

Observe, à esquerda, as duas circunferências de raios r1 e r2 e centros em C1 e C2. Observe também


que r1 é maior que r2.

a) Crie uma circunferência auxiliar de raio r1 - r2 com centro em C1.


b) Trace um segmento de reta nos pontos C1 e C2.
c) Crie uma mediatriz no segmento de reta recém-criado e obtenha o ponto M.
d) Com a ponta seca em M e raio C1M, trace um arco e obtenha o ponto T1 na circunferência auxiliar.
e) Trace um segmento de reta que passe por C1T1 e obtenha o ponto A.
f) Abra o compasso com a medida T1C2 e obtenha o ponto B.
g) Crie a tangente ligando A e B.

Figura 55

2.4.9 Divisão de ângulo reto em três partes

Não é possível dividir um ângulo reto em três partes utilizando compasso. Nesse caso, será utilizado
o esquadro de 30º. Basta posicioná-lo duas vezes e traçar as retas.

Figura 56

42
DESENHO TÉCNICO

2.4.10 Traçado de polígono regular

Vários itens anteriores auxiliam a compreensão desse tópico:

• Divida uma circunferência em 2 partes e trace uma perpendicular que passa pelo centro e divide‑se
em 4 partes.

• A divisão da circunferência em 6 partes permite criar um polígono regular de 6 lados (hexágono).

• A partir daí, podem ser criados polígonos com 12 e 24 lados, utilizando mediatrizes.

Mas, e se quisermos criar um polígono com 7 lados (heptágono) ou 11 lados (undecágono)?

Nesse caso, vamos fazer o uso do transferidor. Por exemplo, para 7 lados: 360º/7=51,5º
(aproximadamente).

a) Observe a figura à direita e marque 51,5 com o transferidor.

b) Junte a marcação ao centro O e obtenha o ponto B.

c) Abra o compasso com a medida AB e com a ponta seca em B, obtenha o ponto C.

d) Abra o compasso com a medida AB e com a ponta seca em C, obtenha o ponto D e assim sucessivamente.

e) Crie o polígono juntando os pontos de A até G.

Nesse caso específico, lembre-se de que existe uma imprecisão, já que a divisão de 360 por 7 não é exata.

43
Unidade I

Figura 57

Observação
Abordamos construções geométricas com instrumentos para obter
a divisão de ângulo e circunferência. Trata‑se de casos em que o uso
exclusivo do compasso não consegue fornecer a solução. São exceções,
pois apresentam problemas de precisão.
Quando houver solução geométrica, ela deve ser aplicada.
Nunca utilize instrumentos para “facilitar” a construção e omitir a precisão.
Exemplos:
• Para traçar uma mediatriz, medir o segmento com escala e marcar
um ponto na metade.
• Para traçar tangentes, posicionar a escala de forma que fique
“próxima” da solução.
• Tentar achar o centro de concordância “chutando” um ponto e
testando a distância com os outros arcos.

Essas práticas são absolutamente equivocadas e não podem ser aplicadas.

44
DESENHO TÉCNICO

3 TIPOS DE LINHA, REPRESENTAÇÃO EM UMA VISTA, CONTORNOS,


COTAGEM E ESCALA.

Continuando o aprendizado do Desenho Técnico, as principais construções geométricas, tanto de


linhas como de tangências, serão combinadas para a obtenção de perfis complexos.

3.1 Tipos de linha

Segundo Schneider (2008), a linha pode variar em espessura e também no tipo de traço, contínuo
ou de alguma maneira interrompido, e essas variações mudam seu significado no desenho. As linhas
interrompidas precisam ter também uma proporcionalidade em sua representação.

Os principais tipos de linhas são regulados pela NBR 8403 (ABNT, 1984).

Na elaboração de um desenho técnico, é necessário utilizar diferentes estilos de linha. Os principais


tipos são indicados a seguir:

• Contorno visível: são linhas largas, contínuas, que representam o contorno da peça bem como
suas arestas visíveis. Devem ser traçadas com lápis ou lapiseira 0,7 mm e grafite 2B ou B. Precisa
ser realçada para caracterizar bem os contornos.

• Contorno invisível: são linhas finas, tracejadas, que representam as partes internas da peça, não
visíveis, da direção que estão sendo observadas. Devem ser traçadas com lápis ou lapiseira 0,5 mm
e grafite HB ou F.

• Centro e simetria: são linhas finas, traço ponto, que representam centros conhecidos de círculos
e arcos, além de serem utilizadas em peças simétricas. Devem ser traçadas com lápis ou lapiseira
0,5 mm e grafite HB ou F.

• Linhas de cota e de chamada: são linhas finas, contínuas, associadas com a inserção de cotas no
desenho. Devem ser traçadas com lápis ou lapiseira 0,5 mm e grafite HB ou F.

Figura 58

45
Unidade I

3.2 Vistas necessárias suficientes

Na representação dos modelos, é preciso analisar a quantidade de vistas necessárias para fazer
essa representação. O número de vistas está associado às características geométricas do modelo.

O estudo começa pela representação em uma única vista.

Figura 59

Atentar para as indicações de diâmetro, de valor 15, para a seção quadrada de valor 10 e para o texto
“espessura da chapa = 1 mm”. Esses itens evitam a criação de outras vistas.

3.3 Cotagem

Segundo French e Vierck (2005), após ter criado a representação do modelo através de vistas
ortográficas, é necessário especificar as medidas que descrevem seu tamanho. Essas medidas deverão
atender também às exigências funcionais dos modelos no contexto em que atuam.

As anotações não podem deixar dúvidas quanto a sua compreensão e devem garantir a facilidade de
execução. O desenho não deverá deixar cálculos pendentes. A execução e a indicação dos cálculos são
trabalho do desenhista e não do operário (SCHNEIDER, 2008).

Conforme Fredo (1994), a cotagem tem alguns princípios gerais:

• Tem um grau de importância equivalente ao próprio desenho da peça.

• Deve ser feita de modo a identificar todas as medidas e não ser necessário executar cálculos.

• Deve ser colocada na vista mais adequada para caracterizar o elemento que está sendo cotado.

• A cotagem precisa levar em conta a fabricação, a funcionalidade e os itens importantes que


devem ser conferidos.

Entende-se como elemento ou componente de desenho: arestas do modelo, furações, furos roscados,
depressões, quebra de cantos vivos com chanfros e saliências (SILVA et al., 2009).

46
DESENHO TÉCNICO

Recomenda-se inicialmente fazer uma análise dos elementos do desenho para definir quais as
distâncias a serem indicadas, considerando também as regras ou técnicas de cotagem que serão
expostas a seguir.

A NBR 10126 (ABNT, 1987) apresenta as técnicas de cotagem.

3.3.1 Elementos da cotagem

Os elementos de cotagem são três: linhas de chamada, linha de cota e valor da cota.

• Não se coloca unidade. Lembre-se de que o trabalho se dá em mm.

• A linha de chamada não deve tocar a peça.

• O valor da cota deve estar um pouco distante da linha de cota. Além do valor da cota, é possível
inserir um texto ou uma “anotação”.

• As setas precisam ser desenhas com capricho. Lembre-se de que são setas e não flechas.

• As cotas devem estar em uma posição que facilite sua leitura.

• Nunca cote linhas tracejadas.

• As cotas a seguir são chamadas “lineares”.

Figura 60

3.3.2 Cotagem de circunferências

As circunferências podem ser cotadas sem utilizar linhas de chamada. Se o diâmetro for pequeno, as
setas deverão ser invertidas, pois não cabem dentro da circunferência.

As cotas também podem ser na vertical e na horizontal.

Nos casos citados anteriormente, o símbolo de diâmetro não deve ser colocado, pois está implícito.

47
Unidade I

Os últimos três casos à direita ilustram a indicação com diâmetro: quando se repete várias vezes,
quando é muito pequeno e quando a forma não é explícita.

Figura 61

3.3.3 Cotagem de arcos

Os arcos de centros conhecidos não devem ter a indicação de raio.

No entanto, arcos cujo centro seja obtido por construções geométricas devem ter a indicação “R” de raio.

Arcos maiores que 180° devem ser cotados como diâmetro.

Figura 62

3.3.4 Cotagem de ângulos

Apresentaremos a “cota angular”, que indica a abertura de um ângulo. É necessário colocar o símbolo
de grau.

O ângulo de 25° teve a cota inserida ao lado, pois não havia espaço.

Na figura da direita, os ângulos foram cotados aproveitando as linhas de centro.

Figura 63

48
DESENHO TÉCNICO

Observação

O traçado de ângulos não tem interferência de escala.

3.3.5 Cotagem de chanfros

Os chanfros, assim como os arredondamentos, são bastante comuns no Desenho Técnico. Servem
para eliminar cantos vivos.

Existem dois tipos de chanfro ilustrados nas três primeiras figuras a seguir:

• Associado a duas dimensões.

• Associado a uma dimensão e ângulo.

A última figura à direita traz outra modalidade de chanfro. É uma peça cilíndrica que permite a
indicação do chanfro com distância e ângulo inseridos conjuntamente.

Figura 64

3.3.6 Cotagem de itens de tamanho reduzido

O espaço reduzido apresenta dificuldades para inserir cotas. Normalmente as setas são invertidas.

Em outros casos, é possível inserir pontos para demarcar as distâncias e, se o texto não couber, pode
ser inserido com uma linha indicativa.

Figura 65

49
Unidade I

3.3.7 Cotagem de peças simétricas

A peça simétrica é caracterizada pelo “eixo de simetria” (linha traço ponto) Nesse caso, inserem-se
necessariamente cotas totais na vertical ou na horizontal de acordo com a simetria. Outros itens devem
ser cotados em apenas um dos lados.

Observar na figura a seguir as cotas de 20, 50 e 90, que são totais. O chanfro, por exemplo, foi cotado
em apenas um dos lados, já que o outro chanfro é igual.

Figura 66

3.3.8 Cotagem por referência

Na cotagem por referência, é adotada uma linha de referência e, a partir dela, são inseridas todas as
cotas na vertical ou na horizontal. A linha representa uma face da peça. Uma variação da cotagem por
referência está ilustrada nas cotas horizontais da figura a seguir. Trata-se da indicação de uma origem
– valor 0.

Figura 67

3.3.9 Cotagem por referência através de coordenadas

Na cotagem por referência através de coordenadas, em vez de inserir cotas, adota-se uma
origem na peça, a indicação de sentido relacionado a essa origem e é criada uma tabela com
associação de distâncias.

50
DESENHO TÉCNICO

Figura 68

3.3.10 Erros comuns na inserção de cotas

Redundância de cotas

Figura 69

Ausência de medidas

Observe na figura a seguir que determinados itens não estão dimensionados, por exemplo: arco,
distância dos furos à base das peças etc.

51
Unidade I

Figura 70

Representação equivocada das medidas e outros enganos comuns

Na figura a seguir, cada cota apresenta um engano:

• Cota de 8 – símbolo de diâmetro inserido equivocadamente.

• Cota de 9 – foi cotada a linha de centro.

• Cota de 15 – inserida em cima de uma aresta visível.

• Cota de 87 – cota utiliza uma linha de cota em vez do contorno do perfil.

• Cota de 20 – teve posicionamento inserido de forma equivocada. Além disso, as linhas de chamada
se cruzam. Não constitui erro, mas é conveniente evitar.

Conforme Silva et al. (2009), devem-se evitar cruzamentos de linha de chamada:

• Cota de 16 – texto invertido, dificultando a leitura.

• Cota de 23 – texto sobre a linha de chamada.

• Cota de 31 – falta de seta.

• Cota de 36 – texto sobre a linha de chamada e setas erradas.

52
DESENHO TÉCNICO

Figura 71

3.4 Exemplos de desenho que representam chapas

Uma única vista é necessária para a representação de chapas. Implicitamente, estão inseridos os
conceitos de desenho com instrumentos, tipos de linhas, cotagem e construções geométricas diversas
expostas anteriormente.

Conforme Silva et al. (2009), a representação no Desenho Técnico utiliza projeções ortogonais em
diversas vistas. Cada projeção usa todos os pontos da figura. Quando a projeção não for plana, utilizará
mais de uma vista.

Não é o caso dos itens a seguir. São chapas planas cuja representação se dá em uma única vista.

a) Nesse primeiro exemplo, são observados os diferentes tipos de linha e identificadas as construções
geométricas de arredondamento de cantos com cores diferentes (imagens reduzidas somente para
ilustrar a construção). Antes de cotar, crie sempre as linhas de centro. No final, devem ser inseridas cotas
conforme a primeira ilustração.

53
Unidade I

Figura 72

b) O contorno seguinte é simétrico. Observe o “eixo de simetria” representado por linha traço ponto.
São várias construções que envolvem tangências. Fique atento à sequência de criação e à numeração
dos itens.

54
DESENHO TÉCNICO

Figura 73

55
Unidade I

c) Construções que envolvem tangências ainda não expostas nos desenhos anteriores. Observe a
sequência de criação e fique atento à indicação de itens.

Figura 74

56
DESENHO TÉCNICO

3.5 Escala

A definição de escala é fornecida por O Dicionário de Língua Portuguesa (FERREIRA, 2013): “Linha
graduada, dividida em partes iguais, que indica a relação das dimensões ou distâncias marcadas sobre
um plano com as dimensões ou distâncias reais”.

Outra definição fornecida por Silva et al. (2009, p. 47): “É a relação existente entre a distância gráfica
e a distância natural”.

Trata-se de uma relação entre as medidas traçadas no desenho e suas medidas reais indicadas pelas
cotas. A NBR 8196 (ABNT, 1999a) trata de escalas no desenho.

Lembre-se de que geralmente os desenhos não são traçados na escala real da peça.

Exemplos de uso de escala:

• Desenho de um molde de pneu de trator. O molde é tão grande que não cabe em uma folha A0.
Precisa ser desenhado em escala reduzida.

• Chapa quadrada de 800 x 800 mm com alguns furos internos. Até poderia ser desenhada em
escala real em uma folha A0. Mas, pela simplicidade na Geometria, é mais indicado desenhá-la,
por exemplo, em um formato A3 em escala reduzida.

• Desenho de um parafuso especial de diâmetro 5 e comprimento 15. Situação oposta em que


a peça é tão pequena que, mesmo em um formato A4, precisa ser desenhada com escala de
ampliação para identificação dos detalhes.

• Chapa quadrada de 50 x 50 mm com alguns furos internos. Até poderia ser desenhada em escala
real em uma folha A4. Mas, para melhorar a representação, é mais indicado desenhá-la na mesma
folha A4, só que com escala de ampliação.

Os fatores mais comuns de escala são:

• Real ou natural: 1:1 (lê-se 1 para 1).

• Redução: 1:2, 1:5, 1:10, 1:20 (lê-se 1 para 20).

• Ampliação: 2:1, 5:1, 10:1, 20:1 (lê-se 20 para 1).

O desenhista é quem define o formato a utilizar. Folhas menores favorecem o manuseio, mas
geralmente implicam escalas de redução. As folhas maiores, em contrapartida, dificultam o manuseio,
aumentando custos (SILVA et al., 2009).

Observe algumas aplicações de escala ilustradas a seguir:


57
Unidade I

Figura 75

58
DESENHO TÉCNICO

Lembrete

Todo desenho técnico deve ser criado utilizando escalas devidamente


identificadas.

Observação

Na aplicação de escalas, quem sofre alteração é sempre o desenho. Os


valores das cotas, tanto lineares quanto angulares, permanecem os mesmos.

O tamanho da folha que se escolhe para executar o desenho tem de


prever, além da representação do desenho, também os itens de detalhamento
(cotagem, textos e tabelas), que podem ocupar uma área considerável da folha.

3.6 Exemplos de desenhos que representam chapa com aplicação de escala

Serão abordados o desenho com instrumentos, os tipos de linhas, as construções geométricas


diversas já expostas, a cotagem e a escala.

No exemplo a seguir, uma peça em escala real foi desenhada em escala reduzida. São várias
construções que envolvem tangências. Observe a sequência de criação e fique atento à numeração dos
itens e à escala.

59
Unidade I

60
DESENHO TÉCNICO

Figura 76

Observe, nas figuras anteriores, o desenho em escala real de uma escala reduzida.

61
Unidade I

Observação

O aprendizado de escala, cotas e contornos se norteou por normas


técnicas. Vale lembrar que cada empresa tem a sua cultura de projeto.
Muitas vezes, por força da mão de obra que executa a fabricação,
abrem-se exceções, como cotar em excesso ou adotar escalas fora do
padrão. Trata‑se de medida compreensível, mas que foge da proposta
deste estudo.

Saiba mais

Consulte as normas: NBR 8403, NBR 8196, NBR 10126 para tipos de
linhas, escalas e cotas:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 8403:


aplicações de linhas em desenhos – Tipos de linhas – Largura das linhas.
Rio de Janeiro, 1984.

___. NBR 8196: Desenho técnico – Emprego de escalas. Rio de


Janeiro, 1999a.

___. NBR 10126: Cotagem em desenho técnico. Rio de Janeiro, 1987.

4 PROJEÇÕES ORTOGONAIS, CORTES E SEÇÕES

Efetivamente se iniciará a representação de modelos complexos. Anteriormente, foi abordada


a projeção em vista única. É o caso inicial de projeção. Os itens seguintes irão aprofundar então o
estudo de representação. A norma NBR 10067 (ABNT,1995b) fornece as diretrizes para todos os itens
que serão expostos.

4.1 Projeções ortogonais

No Desenho Técnico, a teoria das projeções fornece as informações para representar a forma utilizando
basicamente dois tipos de representação: vistas ortográficas e perspectivas. A vista ortográfica, também
chamada de ortogonal, está associada a projeções perpendiculares sobre um plano. O objeto pode ser
englobado por seis planos. Cada um perpendicular aos demais (FRENCH; VIERCK, 2005).

Para que se efetive a projeção ortogonal, são necessários: modelo, identificação dos planos para a
projeção e posições de observação.

62
DESENHO TÉCNICO

No exemplo a seguir, a peça está sendo representada em seis planos. O sólido foi propositadamente
modelado em azul, linhas tracejadas são apresentadas em vermelho. Na outra figura, o cubo está
sendo aberto.

Para Giesecke et al. (1998), metade das vistas estão alinhadas com a outra metade e acabam exibindo
e mesma informação, porém com sentido oposto. As seis vistas podem ser comparadas com a visão de
um observador movendo-se no espaço ao redor do objeto.

Figura 77

Figura 78

Nas faces completamente abertas, observa-se o alinhamento entre as projeções. Dessas seis
projeções, escolheremos três: planta, elevação e perfil. Esse conjunto de vistas compõe a chamada
“projeção no primeiro diedro”
63
Unidade I

Figura 79

Retornando à situação anterior e simplificando a representação dos planos, a planta recebe também
o nome de vista superior. Já a elevação é conhecida também como vista frontal, e o perfil pode ser
descrito como lateral esquerda.

Figura 80

64
DESENHO TÉCNICO

É preciso entender que a disposição inicial do objeto é que determinará a criação das vistas. Observe
a diferença de representação se alterarmos o posicionamento do objeto em relação ao exemplo anterior.

Figura 81

Outro aspecto a considerar é que as projeções estão alinhadas. Observe as relações entre as projeções
adjacentes. No rebatimento entre a planta e o perfil, a linha inclinada que foi criada está sempre a 45°,
já que a altura da planta é sempre igual à largura do perfil à direita.

Figura 82

65
Unidade I

Serão apresentados vários exemplos de criação de vistas ortogonais a partir de uma perspectiva
fornecida. Os primeiros terão apenas linhas cheias contínuas e outros terão também detalhes internos,
representados por linhas tracejadas.

Esboçar os contornos do modelo e prever sua distribuição no desenho são recomendações gerais
complementares propostas por Schneider (2008) antes de iniciar o desenho.

O esboço é uma representação gráfica inicial, primária, elaborada rapidamente. Ele é utilizado
normalmente nas fases iniciais do projeto, mas pode também, se bem elaborado, ser utilizado como
representação de determinados elementos para orientar a fabricação (SILVA et al., 2009).

Os esboços servem para traduzir conceitos e geralmente reproduzem uma ideia para o papel (ROHLEDER,
SPECK, GÓMEZ, 2000), além de planejar o posicionamento de itens de detalhamento. O desenho precisa ter
uniformidade. Não pode ter vistas sobrecarregadas e outras praticamente sem detalhamento. De maneira geral,
não se deve acalcar o traçado, já que isso cria sulcos no papel e dificulta a ação da borracha. O grafite solta pó.
Deve-se usar um pano para limpar esse pó que se desprendendo, tanto nos instrumentos quanto no desenho.

Seguem alguns exemplos de criação de vistas ortogonais. Os diferentes tons de cinza e as cores
servem apenas para auxiliar a compreensão do desenho. As linhas vermelhas são as projeções entre
vistas adjacentes, enquanto que a linha laranja exibe a forma de rebater entre a vista de planta e a vista
de perfil. Os desenhos podem estar fora de escala para que caibam na folha.

O espaço deixado entre as vistas está associado com aparência. As vistas precisam ter um espaçamento
que mantenha a noção de relacionamento de umas com as outras (GIESECKE et al.,1998).

Figura 83

66
DESENHO TÉCNICO

No exemplo a seguir, existe a representação dos chanfros. O chanfro, como qualquer plano inclinado,
tem faces representadas em duas vistas. Estão destacados em cores diferentes.

Figura 84

A figura a seguir ajuda a entender o processo de visualização de detalhes internos e o próximo


exemplo. Observe na figura a projeção do cilindro que resulta em um retângulo. O furo interno e o
rebaixo não são visíveis pelo lado que se está olhando e, por isso, são representados por linha tracejada,
por exemplo, utilizando linhas tracejadas para ilustrar detalhes internos. O rebatimento foi ilustrado
apenas para essas linhas.

Figura 85

67
Unidade I

Figura 86

A peça a seguir contém um arredondamento que aparece destacado em verde. Observe


cuidadosamente sua representação. Veja também o arco destacado em azul.

Figura 87

68
DESENHO TÉCNICO

Agora um exemplo com cotas e sem utilizar cores. Observe que não foram colocadas
cotas entre vistas (deve-se evitar). As cotas também foram distribuídas nas três vistas sem
sobrecarregar nenhuma.

Figura 88

Observe que, em nenhum exemplo, foi cotada alguma linha tracejada. Essa é mais uma regra de
cotagem: não se cota linha tracejada!

Figura 89

69
Unidade I

4.2 Vistas necessárias suficientes – eliminação de vistas

Conforme Giesecke et al. (1998), o desenho deve conter uma quantidade mínima de vistas para
descrever o modelo de forma completa e evidente.

Nos exemplos anteriores, sempre foram criadas três vistas ortogonais. A questão é que a quantidade
de vistas ortogonais dependerá das características da peça. Nem sempre serão três vistas.

Já foi demonstrado que uma única vista era necessária para representar uma chapa, desde que se
forneça sua espessura.

Agora observe a figura a seguir. No processo de rebatimento, foram geradas três vistas.

Será que todas as vistas de fato são necessárias?

Para responder a essa pergunta, raciocine com outras perguntas:

• Qual a cota que obrigatoriamente precisa ser inserida nessa vista?


• Existe algum detalhe da peça que só aparece nessa vista?
• Existe algum detalhe que fica mais bem ilustrado nessa vista, facilitando a compreensão do modelo?

Se resposta para as três perguntas for “não”, a vista deverá ser retirada. Essa é a lógica que deve ser
utilizada para eliminar vistas.

Agora outra questão: a profundidade das depressões, por ser detalhe interno, é apresentada em
linhas tracejadas. Acontece que linhas tracejadas não podem ser cotadas.

Para resolver esse problema, vamos utilizar o recurso de cortes.

Figura 90

70
DESENHO TÉCNICO

4.3 Presença da perspectiva e uso alternativo de vistas

Nos exemplos anteriores, a perspectiva esteve sempre presente para auxiliar a compreensão das
vistas. Seu uso, apesar de muito útil, não é obrigatório. O constante exercício do rebatimento das
projeções vai diminuindo a dependência com a exibição e criação da perspectiva.

A ausência da perspectiva permite uma mudança de representação utilizando outras vistas. Repare, no
exemplo a seguir, uma alteração na disposição das vistas. Trata-se então de “novas” vistas: frontal e esquerda.

Lembre-se de que a disposição inicial do objeto é que determina a ordem das vistas.

Não se está discutindo, na figura a seguir, se a alteração de vistas foi producente. Apenas se
coloca que é possível alterar sua disposição das vistas. Observe que o problema da cota em linha
tracejada continua:

Figura 91

4.4 Cortes

Para French e Vierck (2005), o corte trata do desenho da peça como se uma parte dela tivesse sido
subtraída, permitindo a visualização de sua parte interna. É recomendado quando um grande número
de linhas tracejadas dificulta a leitura do desenho.

Para obter a representação em corte, é necessário fazer uma abstração do plano que será utilizado
para cortar e depois eliminar a parte cortada. A partir daí, aplicam-se as regras já abordadas de projeções
ortogonais. Geralmente os cortes têm como referência os próprios planos de projeção e são paralelos a
eles. Dá-se preferência por centros de eixos e furos (SILVA et al., 2013).

Na visão de Silva et al. (2009), os cortes permitem representar de forma adequada partes internas
dos modelos ou um conjunto de modelos agrupados e facilitam a inserção de cotas e de outros itens,
como acabamento.

Os cortes são representados com setas de tamanho especial que indicam sua direção. São utilizadas
letras maiúsculas junto às setas. A linha de corte é do tipo “traço ponto”, só que com espessura grossa
próxima à indicação de corte. Já a superfície que foi cortada precisa ser hachurada (SILVA et al., 2009).

71
Unidade I

Figura 92

Na vista de corte, as linhas tracejadas devem ser desconsideradas, salvo exceções que ajudariam
a compreender a forma da peça. A parte retirada em uma vista de corte não pode ser também
desconsiderada em outras vistas (SILVA et al., 2013).

Para Maguire; Simmons (1982), a hachura destaca a superfície cortada e tem espaçamento uniforme.

A linha de hachura é do tipo cheia contínua, só que tem espessura fina. Geralmente é desenhada a
45°. A NBR 12298 (ABNT, 1995c) trata de hachuras.

O uso do corte também resolve o problema de cotagem de linhas tracejadas.

4.4.1 Corte total

No corte total, um plano imaginário atravessa o modelo. Quem define a posição desse plano é o
desenhista, com base nos detalhes que pretende mostrar.

O corte total se faz quando é absolutamente necessário, já que acaba por aumentar o trabalho e o
tempo de execução (SCHNEIDER, 2008).

Observe no exemplo a seguir que a vista de corte substituiu a vista frontal.

Figura 93

72
DESENHO TÉCNICO

Pode haver vários cortes em uma mesma peça:

Figura 94

4.4.2 Corte parcial

O corte parcial serve para exibir algumas partes ocas da peça em que não existe a necessidade do
corte total e ao mesmo tempo existe uma dificuldade de cotagem. Uma linha sinuosa limita a extensão
do corte. A linha sinuosa é cheia contínua, porém mais fina (SILVA et al., 2009).

Sinuoso é definido como: “Aquilo que apresenta curvas irregulares em sentidos diferentes”
(FERREIRA, 2013).

Conforme French e Vierck (2005), aplica-se também o corte parcial em que o corte total não seria
conveniente, pois retiraria partes importantes da representação do modelo naquela vista.

O corte parcial aplica-se em pequenos espaços da peça em que não existe material
(SCHNEIDER, 2008).

Seguem dois exemplos de corte parcial. Observe que as linhas que eram, a princípio, tracejadas, com
o corte parcial, são representadas na forma cheia contínua.

73
Unidade I

Figura 95

4.4.3 Corte com desvio ou composto

São vários planos de corte que têm uma forma peculiar, exclusiva (SILVA et al., 2009).

O corte com desvio é uma derivação do corte total. Em vez de o corte utilizar um único plano, passa
a utilizar um conjunto de planos paralelos para executar o corte. Os desvios devem ser destacados
engrossando suas linhas (MAGUIRE; SIMMONS, 1982).

Figura 96

74
DESENHO TÉCNICO

4.4.4 Meio corte

O meio corte se aplica em peças simétricas, em que metade da peça é desenhada de forma
convencional, e a outra metade, em corte. Tem a vantagem de representar em uma só vista a parte
interna e externa do modelo (FRENCH; VIERCK, 2005).

Nos objetos simétricos, em que a linha de corte se dá na vertical, o corte é representado à direita.
Já com a linha de corte na horizontal, a ilustração do corte fica na parte inferior. Não são necessárias
indicações como se faz no corte total (SILVA et al., 2009).

A figura a seguir representa uma peça cilíndrica. Observe as redundâncias:

• A planta e a elevação são iguais.

• O perfil contém círculos que podem ser cotados em outra vista indicando o diâmetro.

Portanto é necessária apenas a vista frontal ou a planta.

Figura 97

Esse é o caso típico de meio corte, em que é possível indicar todas as medidas.

Observe a peculiaridade das cotas que indicam diâmetro na parte cortada: elas vão apenas até a
metade da peça.

75
Unidade I

Figura 98

4.4.5 Hachuras em elementos normalizados e nervuras

Não devem ser hachuradas: superfícies finas, nervuras, peças cilíndricas quando apresentadas em
conjuntos, rebites, arruelas, parafusos e outros elementos normalizados.

Figura 99

4.5 Seções

A definição de seção é fornecida por (FERREIRA, 2013): “Superfície que se forma quando um plano
atravessa um sólido”.

Segundo French e Vierck (2005), a seção exibe formas do modelo que, de outras maneiras, apresentaria
dificuldade de representação. Diferentemente do corte, em vários casos, não é necessária a indicação
de planos.

O eixo da seção é geralmente perpendicular ao eixo da peça. Simplifica a visualização e evita a


criação de cortes desnecessários (SILVA et al., 2009).

76
DESENHO TÉCNICO

A seção não apresenta linhas tracejadas.

A representação da seção trata apenas da área que foi secionada, omitindo o restante da peça. Está
aí a grande diferença do corte, que apresenta o restante da visualização além da parte hachurada.

4.5.1 Seção rebatida

A seção rebatida é exibida dentro da peça a partir do plano de corte.

Observa-se que, nesse tipo de seção, a representação se dá com traços finos. (SILVA et al., 2013).

Figura 100

4.5.2 Seção com indicação de plano de corte

Bastante parecida com o corte total. Mantém o rigor de indicação. A representação exibe somente
a superfície que foi cortada.

Figura 101

77
Unidade I

4.5.3 Seção fora da peça

Nesse tipo de representação, uma linha estabelece o plano de corte, e a seção é desenhada
externamente à peça. Sua identificação é desnecessária, já que está implícita.

Figura 102

Saiba mais

Consulte as normas que regem as técnicas de projeção e também a criação


de cortes e seções, complementada pela norma de criação de hachuras.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR


10067: princípios gerais de representação em desenho técnico. Rio de
Janeiro, 1995b.

___. NBR 12298: representação da área de corte por meio de hachuras


no desenho técnico. Rio de Janeiro, 1995c.

78
DESENHO TÉCNICO

Observação

Em vários exemplos apresentados, aparecem linhas de centro traço


ponto. Uma regra simples para criar esse tipo de linha é, no caso de arcos e
circunferências, ultrapassar o limite em aproximadamente 3 mm. Esse tipo
de linha se aplica também em peças simétricas e pode ser estendido, se
conveniente, para uma vista adjacente.

Resumo

Pode-se conceituar desenho técnico como elemento de expressão,


comunicação ou ligação entre o projeto e sua execução e, por isso, tanto o
engenheiro quanto o operador de máquinas devem conhecê-lo.

O estudante de Engenharia precisa da representação gráfica para


descrever precisamente forma, aspecto e dimensão dos objetos. O
engenheiro precisa conhecer a teoria do Desenho Técnico, pois será a
condutora de seus trabalhos tanto na prancheta quanto no computador.

O desenho está presente em muitas áreas, mas é na Engenharia que ele


atua desde a concepção inicial do produto até a sua fabricação, alcançando
a fase de marketing e publicidade.

O Desenho Técnico, para ser entendido, deve ter uma linguagem universal
que levará a um conjunto de normas e conceitos, visando à padronização.
A norma é o conjunto de regras e indicações a fim de conduzir a leitura e
a execução do Desenho Técnico. A norma indica as diretrizes para a cultura
de projeto que vai se desenvolvendo dentro das empresas. A Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é que regula as normas no Brasil.

O sistema de unidades utilizado será o métrico, com a unidade mm.

A prática do Desenho Técnico requer muitos instrumentos: lápis ou


lapiseiras, borracha, escalas, compasso, prancheta A4, pranchetas de
formatos maiores, esquadros de 30º e 45º, régua T, gabaritos de furos e de
elipses e transferidor.

O papel tem tamanhos, margens e legendas normalizados com base na


série A: A0, A1, A2, A3, A4 etc., cujo processo de dobra resulta em formato
A4 com a legenda na parte frontal.

79
Unidade I

A caligrafia técnica trata das letras e números para escrever no Desenho


Técnico: notas gerais, legenda, cotas etc. A falta de um mínimo de capricho
na escrita poderá ocasionar erros de execução, tornando inútil o projeto.

O treino da caligrafia técnica deve ser complementado com o treino de


desenhos à mão livre para obter desenvoltura e um traço mais firme.

Devem-se rever os conceitos de Geometria Plana e construções


geométricas envolvendo tangências, pois estão diretamente envolvidos
com o Desenho Técnico: plano (no Desenho Técnico, o plano é a folha fixa
na prancheta em que se desenha), ponto, reta, semirreta, segmento de reta
e ângulo.

As retas ou segmentos de reta recebem uma classsificação:


perpendiculares, paralelas, mediatrizes, bissetrizes e retas tangentes.

Para executar essas construções, são utilizados escala e compasso e


deve ser seguida uma sequência lógica para obter cada uma delas.

É necessário treinar o uso dos instrumentos para conseguir desenhar


com desenvoltura: fixação da folha, combinações de esquadros, trabalho
conjunto dos esquadros com prancheta ou régua T.

As chamadas concordâncias geométricas são construções executadas


entre duas circunferências e entre retas e circunferências. Os principais
casos são: arredondamento de canto vivo, aplicado em duas retas com
ângulo reto; arredondamento de ângulo qualquer; criação de reta tangente
que passa por um ponto e tangencia um arco; reta tangente a duas
circunferências; arco tangente a duas circunferências, pode ser traçado de
forma interna ou externa.

Cada uma das concordâncias também utiliza uma sequência específica


que deverá então ser seguida.

A divisão de circunferência é realizada com compasso ou com


instrumentos. A divisão em 6 partes se dá com compasso e abertura
do raio. Daí, derivam 3, 12 e 24 divisões. Outro procedimento envolve a
divisão em 2 partes e com mediatrizes e bissetrizes, podem ser obtidas 4,
8 ou 16 partes.

No Desenho Técnico, a linha varia tanto em espessura quanto em


tipo de traço (contínuo ou interrompido), e essa variação tem significado
no desenho.

80
DESENHO TÉCNICO

Para cada uso de linha, há uma especificação: tipo de linha e tipo de


lapiseira e grafite.

Os principais tipos são: linha de contorno visível, linha de contorno


invisível, linha de centro e simetria. Para se desenhar as linhas de cota e de
chamada, utilizam-se linhas finas e contínuas.

O processo de cotagem trata de especificar as medidas da peça após sua


apresentação através de vistas ortográficas. É a especificação do tamanho real do
modelo. As cotas precisam ser claras, de fácil compreensão e consequentemente
facilitar a execução ou fabricação, sem deixar cálculos pendentes.

A cota apresenta vários elementos agregados que têm uma nomenclatura:


linha de chamada, linha de cota e valor da cota. O valor da cota é também
chamado de medida real, ou seja, aquele que deve ser fabricado.

A cota também apresenta uma série de princípios que devem ser


obedecidos: cotar na vista mais adequada considerando a fabricação
e funcionalidade. Antes de iniciar o processo de cotagem, analisar os
elementos do desenho, sua importância e considerar conjuntamente as
regras e técnicas de cotagem.

Cada situação necessita de diferentes técnicas e têm diferentes regras


para cotagem. Reveja com calma os itens que tratam da cotagem de
circunferências, cotagem de arcos, de ângulos e chanfros.

Os modelos, de acordo com suas características, pedem algumas


técnicas específicas de cotagem: peças simétricas, referência e referência
através de coordenadas.

Principalmente no começo do aprendizado de Desenho Técnico, por


mais que se ressaltem e exemplifiquem as regras de cotagem, muitos
erros são frequentes. Os principais são o excesso de cotas que as faz
desnecessárias e polui o desenho, além da ausência de medidas, que
inviabiliza a construção da peça.

A escala é uma relação existente entre a distância gráfica (elemento


desenhado) e a distância natural (cota). De um lado: medidas traçadas no
desenho; de outro, suas medidas reais indicadas pelas cotas.

A escala pode ser natural ou 1:1; de redução: 1:2, 1:5, 1:10, 1:20; ou
ainda de ampliação: 2:1, 5:1, 10:1, 20:1. O desenhista é quem define o
tamanho de folha e a escala a ser utilizada.

81
Unidade I

É interessante observar um desenho em diferentes escalas; o que se


altera é sempre o desenho. Os valores das cotas permanecem os mesmos.

A teoria das projeções fornece dados para representar a forma usando


dois tipos de representação: vistas ortográficas, também chamadas de
ortogonais e perspectivas.

As características da peça ou modelo é que definem a quantidade de


vistas ortográficas necessárias para sua representação. Esse conceito é
abreviado e conhecido pela sigla VNS (vistas necessárias suficientes).

A vista ortográfica ou ortogonal associa-se a projeções perpendiculares


sobre um plano. Em tese, o objeto pode ser englobado por seis planos, cada
um perpendicular aos demais.

As condições para criar a projeção ortogonal são: existência do


modelo, posição de observação e identificação dos planos adequados de
representação.

São recomendações gerais antes de iniciar o desenho de vistas


ortográficas: esboçar as vistas para prever sua distribuição no desenho,
planejar o posicionamento de itens do detalhamento considerando uma
equilibrada distribuição dos itens nas vistas. Lembrar de criar os traços
leves e ressaltá-los no final, quando houver a convicção que eles não
precisarão ser editados.

Existem diferentes aspectos na representação das peças: chanfros,


arredondamentos e detalhes internos representados com linhas tracejadas.

O corte é recomendado quando há um número grande de linhas


tracejadas que dificulta a leitura do desenho. A superfície de corte deve ser
hachurada com uma linha cheia, contínua, fina e a 45°.

O corte pode ser de vários tipos: total, parcial, com desvio ou composto
de meio corte. Cada tipo de corte tem suas aplicações associadas ao tipo de
modelo que está sendo representado.

Já a seção, uma espécie de variação do corte, exibe formas do modelo


que, de outra maneira, apresentariam dificuldade de representação. Trata
apenas da área que foi seccionada, omitindo o resto da peça. Assim como
o corte, existem vários tipos de seção: rebatida, com indicação de plano ou
fora da peça.

82
DESENHO TÉCNICO

Exercícios

Questão 1. Na figura a seguir, está representado um recipiente conhecido como bacia emesis, usada
nas atividades médicas e odontológicas (a) e sua vista superior (b).

(a) (b)

Figura 103 – Recipiente usado em atividades médicas e odontológicas

A representação correta do corte A-A apresentado na figura 1 (b) é:

A)

B)

C)

D)

E)

Resposta correta: alternativa E.

83
Unidade I

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: embora a área hachurada seja a correta, as hachuras da parte esquerda do desenho têm
inclinação diferente das constantes na parte direita. Hachuras com inclinações diferentes são usadas
para indicar peças diferentes.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: embora as hachuras da parte esquerda do desenho tenham a mesma inclinação que
as da parte direita, existe uma área que não foi atingida pelo plano de corte e está hachurada, quando
não deveria.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a hachura está feita na parte do desenho em que ela não deveria estar, e não existe
hachura na parte em que deveria existir.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: toda a peça está hachurada, existe uma parte do desenho que não é atingida pelo
corte, em que não deve existir a presença de hachuras.

E) Alternativa correta.

Justificativa: a área hachurada está correta. A parte central da peça não deve ser hachurada, pois ela
não é atingida pelo corte.

Questão 2. O mecanismo biela-manivela é muito usado em motores de combustão interna e


transforma o movimento de translação de um pistão em movimento rotação de uma manivela. A figura
a seguir é a fotografia de parte de uma manivela de um motor para motocicletas.

Figura 104 – Parte de um virabrequim

84
DESENHO TÉCNICO

No projeto de um novo virabrequim, foi enviada para o setor fabril, além da vista frontal, mostrada
na figura a seguir, a vista do corte A-A.

Figura 105 – Vista frontal do projeto de um novo virabrequim

Assinale a alternativa que mostra a vista correta do corte A-A.

A) B) C)

D) E)

Resolução desta questão na plataforma.

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