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Análise das

Demonstrações Financeiras
Autores: Prof. Fábio Teixeira Arten
Prof. Rodrigo Marchesin Oliveira
Colaboradores: Prof. Santiago Valverde
Prof. Jean Carlos Cavaleiro
Profa. Rachel Brandão
Professores conteudistas: Fábio Teixeira Arten / Rodrigo Marchesin Oliveira

Fábio Teixeira Arten é bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie UPM,
professor universitário na Universidade Paulista, nos Cursos Superiores Tecnológicos em Gestão e Negócios e no Curso
Superior de Relações Internacionais. Atualmente, faz parte do Programa de Mestrado em Administração de Empresas
pela Universidade Paulista, na linha de pesquisa de Gestão em Redes de Negócio. A previsão de término do mestrado é
para o final de 2012. Tem experiência na área de administração, com ênfase em administração financeira e estratégia
de empresas.

Rodrigo Marchesin Oliveira possui graduação em Administração Pública pela Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho (1996) e especialização MBA em Gestão Empresarial pela Escola de Pós-Graduação em Economia da
Fundação Getúlio Vargas, FGV-RJ (2002).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

A786a Arten, Fábio Teixeira

Análise das demonstrações financeiras / Fábio Teixeira Arten;


Rodrigo Marchesin Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2020.

88 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática ISSN 1517-9230.

1. Análise financeira. 2. Demonstrações financeiras. 3. Indicadores


financeiros. I. Título.

CDU 658.15

U504.53 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Unip Interativa – EaD

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Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Michel Kahan Apt
Amanda Casale
Sumário
Análise das Demonstrações Financeiras

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 RELATÓRIOS CONTÁBEIS..................................................................................................................................9
1.1 Tomada de decisão..................................................................................................................................9
1.2 Princípios contábeis............................................................................................................................. 10
2 IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE FINANCEIRA............................................................................................... 18
2.1 Apresentação dos conceitos básicos............................................................................................. 18
2.2 Objetivos da análise.............................................................................................................................. 19
2.3 Técnicas de análises.............................................................................................................................. 22

Unidade II
3 ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS................................................................................ 26
3.1 Dados complementares das demonstrações financeiras...................................................... 27
3.2 Balanço patrimonial............................................................................................................................. 30
3.2.1 Noções básicas.......................................................................................................................................... 30
3.2.2 Ativo circulante........................................................................................................................................ 32
3.2.3 Ativo não circulante............................................................................................................................... 34
3.2.4 Ativos permanentes................................................................................................................................ 35
3.2.5 Passivo exigível......................................................................................................................................... 36
3.2.6 Patrimônio líquido................................................................................................................................... 37
3.3 Outros relatórios.................................................................................................................................... 39
3.3.1 Origens e aplicações............................................................................................................................... 39
3.3.2 Alteração dos grupos patrimoniais: Leis 6.404/76, 11.638/07 e 11.941/09...................... 39
3.4 Demonstração do resultado do exercício.................................................................................... 41
4 ANÁLISE FINANCEIRA BÁSICA.................................................................................................................... 44
4.1 Padronização das demonstrações contábeis.............................................................................. 44
4.2 Contas patrimoniais............................................................................................................................. 46
4.2.1 Ajustes e utilização para cálculo dos indicadores...................................................................... 46
4.3 Índices-padrão........................................................................................................................................ 47
4.3.1 Utilização do índice-padrão para análise comparativa........................................................... 48
Unidade III
5 ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL........................................................................................................... 53
5.1 Conceito e aplicação............................................................................................................................ 53
5.2 Análise vertical....................................................................................................................................... 53
5.3 Análise horizontal................................................................................................................................. 57
6 INDICADORES FINANCEIROS....................................................................................................................... 59
6.1 Conceito e aplicação............................................................................................................................ 59
6.2 Índices de liquidez................................................................................................................................ 60
6.2.1 Liquidez geral............................................................................................................................................ 61
6.2.2 Liquidez corrente..................................................................................................................................... 61
6.2.3 Liquidez imediata..................................................................................................................................... 61
6.2.4 Liquidez seca.............................................................................................................................................. 62
6.3 Índices de endividamento.................................................................................................................. 63
6.3.1 Participação de capitais de terceiros............................................................................................... 63
6.3.2 Composição do endividamento......................................................................................................... 64
6.3.3 Garantia do capital próprio................................................................................................................. 64
6.4 Índices de atividade.............................................................................................................................. 64
6.4.1 Prazo Médio de Recebimento (PMR)............................................................................................... 66
6.4.2 Prazo Médio de Pagamento (PMP)................................................................................................... 67
6.4.3 Prazo Médio de Estoques (PME)........................................................................................................ 67
6.4.4 Resumo dos índices de atividade...................................................................................................... 68

Unidade IV
7 INDICADORES COMPLEMENTARES............................................................................................................71
7.1 Indicadores econômicos......................................................................................................................71
7.1.1 Taxa de retorno sobre o investimento............................................................................................. 71
7.1.2 Taxa de retorno sobre o patrimônio líquido................................................................................. 72
7.1.3 Margem líquida........................................................................................................................................ 73
7.1.4 Giro do ativo.............................................................................................................................................. 74
7.1.5 Modelo de análise do retorno sobre o ativo (sistema Du Pont)........................................... 74
7.1.6 Análise de ações....................................................................................................................................... 75
7.2 Indicadores de insolvência................................................................................................................ 76
7.2.1 Conceito e aplicação.............................................................................................................................. 76
8 RELATÓRIO DE ANÁLISE................................................................................................................................. 79
8.1 Conceito e aplicação............................................................................................................................ 79
8.2 Dados que devem ser relatados...................................................................................................... 80
8.3 Transformando os dados em informações.................................................................................. 80
APRESENTAÇÃO

A disciplina de Análise das Demonstrações Financeiras tem o objetivo de contextualizar o aluno


acerca de uma das ferramentas mais utilizadas pelo mercado financeiro, tanto na gestão de crédito e
cobrança de pequenas e grandes empresas, como na análise de investimentos de caráter estratégico
ou na avaliação de fusões e aquisições, por exemplo. Sendo assim, a proposta deste material didático
consiste em permitir ao aluno analisar as situações econômicas e financeiras da empresa, utilizando as
diversas contas patrimoniais, de resultado e de origens e aplicações de recursos e sua utilização, além de
usar também as demonstrações financeiras como fonte de informações para concessão de crédito, definir
os diversos indicadores econômicos e financeiros a partir de sua importância para análise das empresas.
Para tanto, é necessário ainda obter a capacidade de identificar e extrair dados das demonstrações
financeiras, calcular os índices utilizados na análise da situação econômica e financeira das empresas,
obtidos nas contas patrimoniais e de resultado devidamente ajustadas. Essa habilidade permite ao gestor
financeiro calcular os indicadores de liquidez, de endividamento, de estrutura, de rentabilidade, de
atividade e de insolvência, além de analisar e interpretar comparativamente os resultados dos cálculos
dos indicadores e preparar e interpretar as análises horizontal e vertical. Todos esses conceitos técnicos
aqui apresentados devem servir de instigação para o aluno no andar dos estudos desta disciplina.
Veremos cada um deles de maneira que, ao findar da disciplina, o aluno tenha condições de definir
claramente as funções de um gestor financeiro e conheça os nomes técnicos, como: demonstrativos
financeiros, viabilidade econômica, análise de liquidez, análises horizontais e verticais.

INTRODUÇÃO

Com base nos objetivos descritos para esta disciplina, o presente material apresenta a seguinte
estrutura: na Unidade I, é realizada uma breve introdução aos conceitos centrais relacionados aos
relatórios contábeis. Nessa seção, são ressaltados a importância da contabilidade como um serviço de
apoio fundamental para a gestão das empresas, os princípios que norteiam a teoria da contabilidade e os
aspectos gerenciais pertinentes às informações que essa área proporciona às organizações; em seguida,
verifica-se a definição conceitual dos principais tipos de relatórios contábeis, com ênfase para o balanço
patrimonial e a demonstrações de resultado do exercício, pois essas duas demonstrações são base de
dados para o desenvolvimento das análises financeiras já citadas. Ainda nessa unidade, apresentam-se
uma introdução mais detalhada sobre a importância das análises financeiras a partir de demonstrações
contábeis, quais são os principais tipos de análise e seus respectivos objetivos.

A Unidade II preocupa-se com as definições estruturais tanto do balanço patrimonial como da


demonstração de resultado do exercício, pois sem essa base teórica e conceitual todo o potencial
de análise do gestor financeiro se compromete na medida em que ele precisa identificar os dados
apresentados nesses dois relatórios de forma concisa para, então, iniciar as possíveis análises financeiras.

A Unidade III traz as definições e as interpretações relacionadas às análises do tipo vertical e


horizontal. Ainda nessa unidade, estão compreendidos os modelos teóricos das análises de liquidez,
endividamento e atividade. Uma série de exemplos práticos facilita o entendimento e a compreensão
das possibilidades de utilização e aplicação analítica na área financeira.

7
A Unidade IV compreende a análise de lucratividade das empresas, além de dois tópicos mais
avançados em termos de análise de demonstrativos financeiros, que consistem no modelo de análise de
retorno sobre o ativo e em alguns indicadores de insolvência. Essa seção é finalizada com importantes
considerações sobre a forma como os relatórios de análise devem ser conduzidos e produzidos, de forma
a gerar informação útil no processo de tomada de decisão financeira das empresas.

8
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Unidade I
1 RELATÓRIOS CONTÁBEIS

1.1 Tomada de decisão

Iudícibus et al. (2006) argumentam inicialmente que, desde o momento em que acordamos e nos
levantamos, até o fim do dia, tomamos decisões. Porém, as decisões mais importantes ou relevantes
requerem cuidado maior, profunda análise dotada de critérios racionais e métodos específicos.

No âmbito interno da empresa, a situação citada não pode ser diferente. Os profissionais responsáveis
pela administração frequentemente se deparam com situações nas quais lhes são impostas tomadas de
decisões. Neste sentido, são necessários, nesse caso, os dados e as informações para a fundamentação
de tais decisões que são tomadas.

A contabilidade configura-se, neste contexto, como o instrumento proeminente à administração e


gestão de empresas, na coleta de todos os dados econômicos da empresa e sua subsequente mensuração
monetária, que, por sua vez, será registrada e sumarizada em relatórios que contribuem sobremaneira
para a tomada de decisões (IUDÍCIBUS et al., 2006).

Lembrete

A contabilidade é fundamental dentro do processo decisório, auxiliando


nas decisões empresariais.

Dessa forma, o norte para que tais decisões sejam tomadas é, justamente, a padronização e o
armazenamento adequados dos dados e das informações que irão fornecer ao gestor a coerência e o
fundamento às suas escolhas.

Iudícibus et al. (2006) defendem que tais informações serão fornecidas, então, pelos relatórios
elaborados pela contabilidade, e que a experiência e o feeling do administrador não são mais fatores
decisivos no quadro atual.

O processo decisório, mencionado aqui, não se restringe de forma alguma somente aos limites da
empresa, mas também a outros segmentos da economia. Os principais destacados por Iudícibus et al.
(2006) são:

• Os investidores, que identificam, por meio dos relatórios contábeis, a situação econômico-
financeira da empresa e decidem sobre as melhores alternativas de investimento.
9
Unidade I

• Os fornecedores de bens e serviços a crédito, que utilizam os relatórios contábeis para analisar
a capacidade de pagamento da empresa compradora.
• Os bancos (instituições financeiras), que usam os relatórios para aprovar empréstimos,
financiamentos, limite de crédito etc.
• O Governo, que não só usa os relatórios com a finalidade de arrecadar impostos, como também
para dados estatísticos, no sentido de melhor redimensionar a economia (IBGE, por exemplo).
• Os sindicatos, que utilizam os relatórios para determinar a produtividade do setor, fator
preponderante para reajuste de salários.
• Outros interessados, como funcionários, órgãos de classes, pessoas e diversas instituições, como a
CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o CRC (Conselho Regional de Contabilidade), concorrentes
etc.

Nesse contexto, a função do contador é, basicamente, produzir informações úteis aos usuários da
contabilidade para a tomada de decisões.

Iudícibus et al. (2006) ressaltam ainda que, entretanto, em nosso país, em alguns segmentos da nossa
economia e principalmente nas pequenas empresas, a função do contador foi distorcida (infelizmente),
satisfazendo somente as exigências do fisco.

1.2 Princípios contábeis

Correspondem às diretrizes que regem a contabilidade. Tais princípios foram institucionalizados em


seu aspecto profissional e legal como úteis e disciplinares da prática contábil. Os analistas contábeis
devem seguir e observar os princípios contábeis obrigatoriamente; esse fato é essencial para uma correta
interpretação dos relatórios financeiros.

Observação

Os princípios são métodos que representam o centro da prática contábil.

Os princípios são aplicados a todos os patrimônios independentemente das características peculiares


das entidades. São critérios, métodos ou procedimentos que representam o centro da estrutura contábil.
Formalizam, assim, a essência das teorias e doutrinas da ciência da Contabilidade. A seguir é descrita, na
íntegra, a Resolução CFC 750/93:

Resolução CFC 750/931

(Esta Resolução possui o Apêndice I aprovado pela Resolução CFC 774/95 e Apêndice II
aprovado pela Resolução CFC nº 1111/07).

1 
Disponível em: <http://www.portaldecontabilidade.com.br/legislacao/resolucaocfc774.htm. Acesso em: 18/07/2012.
10
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC)

O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

Considerando que a evolução da última década na área da Ciência Contábil reclama a


atualização substantiva e adjetiva dos Princípios Fundamentais de Contabilidade a que se
refere a Resolução CFC 530/81,

Resolve:

Capítulo I – Dos princípios e de sua observância

Art. 1º Constituem Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC) os enunciados por


esta Resolução.

§ 1º A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade é obrigatória no


exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de
Contabilidade (NBC).

§ 2º Na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade há situações concretas


e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais.

Capítulo II – Da conceituação, da amplitude e da enumeração

Art. 2º Os Princípios Fundamentais de Contabilidade representam a essência das


doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento
predominante nos universos científico e profissional de nosso País. Concernem, pois, à
Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio
das entidades.

Art. 3º São Princípios Fundamentais de Contabilidade:

o da Entidade;
o da Continuidade;
o da Oportunidade;
o do Registro pelo Valor Original;
o da Atualização Monetária;
o da Competência; e
o da Prudência.

Seção I – O Princípio da Entidade

Art. 4º O Princípio da Entidade reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade


e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio
11
Unidade I

particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a


uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza
ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o Patrimônio
não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou
instituição.

Parágrafo único – O patrimônio pertence à entidade, mas a recíproca não é verdadeira.


a soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova entidade,
mas numa unidade de natureza econômico-contábil.

Seção II – O Princípio da Continuidade

Art. 5º A continuidade ou não da entidade, bem como sua vida definida ou provável,
devem ser consideradas quando da classificação e avaliação das mutações patrimoniais,
quantitativas e qualitativas.

§ 1º A continuidade influencia o valor econômico dos ativos e, em muitos casos, o valor


ou o vencimento dos passivos, especialmente quando a extinção da entidade tem prazo
determinado, previsto ou previsível.

§ 2º A observância do Princípio da Continuidade é indispensável à correta aplicação


do Princípio da Competência, por efeito de se relacionar diretamente à quantificação dos
componentes patrimoniais e à formação do resultado, e de constituir dado importante para
aferir a capacidade futura de geração de resultado.

Seção III – O Princípio da Oportunidade

Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se, simultaneamente, à tempestividade


e à integridade do registro do patrimônio e das suas mutações, determinando que este
seja feito de imediato e com a extensão correta, independentemente das causas que as
originaram.

Parágrafo único – Como resultado da observância do Princípio da Oportunidade:

I – desde que tecnicamente estimável, o registro das variações patrimoniais deve ser
feito mesmo na hipótese de somente existir razoável certeza de sua ocorrência;

II – o registro compreende os elementos quantitativos e qualitativos, contemplando os


aspectos físicos e monetários;

III – o registro deve ensejar o reconhecimento universal das variações ocorridas no


patrimônio da entidade, em um período de tempo determinado, base necessária para gerar
informações úteis ao processo decisório da gestão.

12
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Seção IV – O princípio do registro pelo valor original

Art. 7º Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais


das transações com o mundo exterior, expressos a valor presente na moeda do País, que
serão mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores, inclusive quando
configurarem agregações ou decomposições no interior da entidade.

Parágrafo único – Do Princípio do Registro pelo Valor Original resulta:

I – a avaliação dos componentes patrimoniais deve ser feita com base nos valores de
entrada, considerando-se como tais os resultantes do consenso com os agentes externos ou
da imposição destes;

II – uma vez integrado no patrimônio, o bem, direito ou obrigação não


poderão ter alterados seus valores intrínsecos, admitindo-se, tão-somente, sua
decomposição em elementos e/ou sua agregação, parcial ou integral, a outros
elementos patrimoniais;

III – o valor original será mantido enquanto o componente permanecer como parte do
patrimônio, inclusive quando da saída deste;

IV – os Princípios da Atualização Monetária e do registro pelo valor original são


compatíveis entre si e complementares, dado que o primeiro apenas atualiza e mantém
atualizado o valor de entrada;

V – o uso da moeda do País na tradução do valor dos componentes patrimoniais constitui


imperativo de homogeneização quantitativa dos mesmos.

O Princípio da Atualização Monetária

Art. 8º Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser


reconhecidos nos registros contábeis através do ajustamento da expressão formal dos
valores dos componentes patrimoniais.

Parágrafo único – São resultantes da adoção do Princípio da Atualização Monetária:

I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa


unidade constante em termos do poder aquisitivo;

II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais
(art. 7), é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que
permaneçam substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por
consequência, o do patrimônio líquido;

13
Unidade I

III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas, tão-somente,


o ajustamento dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de
indexadores, ou outros elementos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda
nacional em um dado período.

Seção VI – O Princípio da Competência

Art. 9º As receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado


do período em que ocorrerem, sempre simultaneamente quando se correlacionarem,
independentemente de recebimento ou pagamento.

§ 1º O Princípio da Competência determina quando as alterações no ativo ou no passivo


resultam em aumento ou diminuição no patrimônio líquido, estabelecendo diretrizes
para classificação das mutações patrimoniais, resultantes da observância do Princípio da
Oportunidade.

§ 2º O reconhecimento simultâneo das receitas e despesas, quando correlatas, é


consequência natural do respeito ao período em que ocorrer sua geração.

§ 3º As receitas consideram-se realizadas:

I – nas transações com terceiros, quando estes efetuarem o pagamento ou assumirem


compromisso firme de efetivá-lo, quer pela investidura na propriedade de bens anteriormente
pertencentes à entidade, quer pela fruição de serviços por esta prestados;

II – quando da extinção, parcial ou total, de um passivo, qualquer que seja o motivo, sem
o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior;

III – pela geração natural de novos ativos independentemente da intervenção de


terceiros;

IV – no recebimento efetivo de doações e subvenções.

§ 4º Consideram-se incorridas as despesas:

I – quando deixar de existir o correspondente valor ativo, por transferência de sua


propriedade para terceiro;

II – pela diminuição ou extinção do valor econômico de um ativo;

III – pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente ativo.

14
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Seção VII – O Princípio da Prudência

Art. 10. O Princípio da Prudência determina a adoção do menor valor para os componentes
do Ativo e do maior para os do Passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente
válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido.

§ 1º O Princípio da Prudência impõe a escolha da hipótese de que resulte menor


patrimônio líquido, quando se apresentarem opções igualmente aceitáveis diante dos
demais Princípios Fundamentais de Contabilidade.

§ 2º Observado o disposto no art. 7, o Princípio da Prudência somente se aplica às


mutações posteriores, constituindo-se ordenamento indispensável à correta aplicação do
Princípio da Competência.

§ 3º A aplicação do Princípio da Prudência ganha ênfase quando, para definição dos


valores relativos às variações patrimoniais, devem ser feitas estimativas que envolvem
incertezas de grau variável.

Art. 11. A inobservância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade constitui infração


nas alíneas “c”, “d” e “e” do art. 27 do Decreto-Lei 9.295, de 27 de maio de 1946 e, quando
aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista.

Art. 12. Revogada a Resolução CFC 530/81, esta Resolução entra em vigor a partir de
1º de janeiro de 1994.

Brasília, 29 de dezembro de 1993.

Contador Ivan Carlos Gatti


Presidente

A Resolução 750/93 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) dispõe sobre os sete princípios
contábeis:

I. entidade;
II. continuidade;
III. oportunidade;
IV. registro pelo valor original;
V. atualização monetária;
VI. competência e
VII. prudência.

15
Unidade I

Cada princípio segue comentado brevemente, de acordo com a referida resolução.

De acordo com o princípio da entidade, o patrimônio, objeto da contabilidade, pertence à


entidade e não pode se confundir com o patrimônio dos proprietários. Muitas vezes, para atender
critérios de análise, o patrimônio é decomposto, mas tal fato não significa a criação de novas
entidades.

Lembrete

O patrimônio não deve ser confundido com o patrimônio dos


proprietários.

O princípio da continuidade diz que uma melhor avaliação do patrimônio depende da continuidade
das atividades da empresa. A redução dessas atividades, por diversos motivos, pode exercer influência
na utilização do patrimônio.

O princípio da oportunidade, por sua vez, defende que o registro na data correta representa condição
para que as informações contábeis se tornem exatas e confiáveis.

O princípio do registro pelo valor afirma que os componentes do patrimônio devem ser registrados
pelos valores de entrada em todas as suas transações externas.

O princípio da atualização monetária, simplesmente, tem relação com os componentes do patrimônio


e os devidos ajustes em seus valores, de acordo com alguns índices fornecidos pela economia que
oferecem condições para a atualização monetária.

Conforme o princípio da competência, as receitas e despesas devem ser reconhecidas no período em


que ocorrem e não por ocasião de seus recebimentos e pagamentos.

Observação

A contabilidade é o instrumento de planejamento para atribuição de


valor do patrimônio.

Por último, o princípio da prudência determina a adoção do menor valor para o ativo e de maior
para o passivo.

A análise das demonstrações financeiras propõe a análise dos principais demonstrativos contábeis,
e esse é o motivo de se fazer uma prévia de alguns conceitos de contabilidade. É importante que essa
disciplina se desenvolva em conjunto com os conhecimentos de contabilidade.

16
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Quando se diz que a contabilidade tem o papel de registrar o patrimônio, precisamos entender o
conceito de patrimônio:

Patrimônio = conjunto de bens, direitos e obrigações.

A classificação mais importante dos bens para a contabilidade é com relação a sua natureza. Neste
caso, os bens podem ser de dois tipos:

• materiais, corpóreos ou tangíveis: são aqueles que têm existência física, como máquinas,
dinheiro, caminhões;
• imateriais, incorpóreos, intangíveis: são abstratos, não têm existência física, por exemplo,
marcas, patentes, ponto comercial.

Como direitos, devemos entender os valores que a empresa tem a receber de terceiros,
representados, por exemplo, pelas duplicatas emitidas pela empresa contra seus clientes, por venda
de mercadorias a prazo ou pela prestação de um serviço, também a prazo. As aplicações financeiras
feitas pela empresa em Certificado de Depósito Bancário (CDB) também são classificadas como
direitos.

Devemos entender como obrigação os valores que a empresa tem a pagar em função de dívidas ou
compromissos assumidos para com terceiros.

Os terceiros aqui mencionados podem se dividir em dois grupos, a saber:

• Terceiros em geral: formados pelos fornecedores, bancos, funcionários, governos.


• Terceiros em especial: constituídos pelos proprietários, donos da empresa. Esses proprietários,
se a empresa for organizada juridicamente sob a forma de uma sociedade anônima, terão
seu capital social, que representa o investimento feito pelos proprietários, dividido em ações,
cujos proprietários são denominados de acionistas. Por outro lado, se a empresa for organizada
juridicamente sob a forma de uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada, seu capital
social será dividido em cotas, cujos proprietários são chamados de cotistas. As obrigações para
com terceiros em especial são organizadas no patrimônio líquido.

Será necessário conhecer, para uma sólida análise das demonstrações financeiras, todos os
demonstrativos financeiros:

• balanço patrimonial;
• demonstração do resultado do exercício;
• demonstrativo da origem e aplicação dos recursos;
• demonstrativo da mutação do patrimônio líquido;
• demonstrativo do fluxo de caixa.
17
Unidade I

E ainda conhecer as técnicas de análise de cada uma dessas contas.

Saiba mais

Para mais informações, leiam a obra Contabilidade: Noções para análise


de resultados e balanço patrimonial da empresa (São Paulo: Atlas, 2008), de
Antônio Salvador Morante.

2 IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE FINANCEIRA

2.1 Apresentação dos conceitos básicos

A disciplina Análise das Demonstrações Financeiras tem como objetivo principal, a partir da
apuração dos diversos indicadores, informar aos usuários das informações contábeis a saúde financeira
de determinada empresa.

Diversos são os usuários das informações contábeis, entre eles, destacamos: os proprietários da
empresa, seus fornecedores, os clientes, as instituições financeiras, os investidores, os empregados, o
Poder Público, enfim, a sociedade como um todo, por ter a empresa como principal fonte de geração
de empregos e tributos. E assim, cada um desses usuários terá uma finalidade específica em conhecer o
desempenho da empresa em determinado momento.

Lembrete

São diversos os usuários da informação contábil: proprietários,


investidores e o Governo.

Por exemplo: os proprietários precisam saber se o capital investido por eles nesse
empreendimento chamado empresa está gerando o retorno esperado; já os fornecedores se
preocupam se receberão pelos bens vendidos; por sua vez, a preocupação do Poder Público está
na arrecadação de tributos.

Tomando-se como pressuposto, podemos afirmar que a análise financeira torna-se imprescindível à
tomada de decisões, independentemente de seu usuário.

A análise financeira ocorre a partir da elaboração das demonstrações contábeis, ou seja, após o
registro de todos os fatos financeiros ocorridos na empresa em determinado período.

Em outras palavras, o trabalho do analista financeiro inicia-se ao término do trabalho do contador.


É importante ressaltar que o relatório de análise, peça final do trabalho do analista financeiro, somente

18
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

será útil a partir dos conhecimentos que este tenha não só nos registros das operações contábeis, mas
na dimensão que estas provocam na situação patrimonial da entidade; caso contrário, apenas estará
apurando resultados matemáticos.

Lembrete

A empresa deve estar atenta às normas legais na elaboração dos


documentos contábeis.

Entre as demonstrações contábeis exigidas pela atual Lei Contábil (Lei 11.638/07) – balanço
patrimonial, demonstração do resultado do exercício, demonstração da mutação do patrimônio líquido,
demonstração do fluxo de caixa, demonstração do valor adicionado e notas explicativas –, elencamos as
duas primeiras, ou seja, balanço patrimonial e demonstração de resultado do exercício, por serem a base
para elaboração das demais, além de se completarem.

2.2 Objetivos da análise

Conforme mencionado, a finalidade da análise está na tomada de decisão daquele usuário que
a interpreta; logo, o analista financeiro precisa elaborar o relatório de análise sabendo a priori
quem é esse usuário e ainda, acima de tudo, ser isento na interpretação dos dados extraídos dos
indicadores.

De acordo com Matarazzo (1998, p. 23), historicamente, a análise de balanço (termo comum
utilizado pelos analistas financeiros) foi desenvolvida pelos bancos devido à determinação, em 1915,
do Federal Reserve Board (Banco Central dos Estados Unidos) de que só poderiam ser redescontados
os títulos das empresas a partir da apresentação de seu balanço ao banco, por se tratar de uma
concessão de crédito.

Os bancos, por sua vez, precisavam saber (ou pelos menos terem uma projeção) sobre a potencialidade
das empresas em quitar esses possíveis débitos, e, para tanto, são criados os indicadores financeiros,
as técnicas para análises que, com o passar do tempo, foram adaptadas para os outros usuários das
informações contábeis.

Lembrete

A análise dos relatórios contábeis contribui para o conhecimento da


saúde financeira da empresa.

Segundo Matarazzo (1998, p. 17), as demonstrações financeiras fornecem uma série de dados sobre
a empresa, de acordo com regras contábeis.

19
Unidade I

A análise de balanço transforma esses dados em informações e será tanto mais eficiente quanto
melhores informações produzir. E o autor (1998, p. 18) continua com distinção entre dados e
informações:

• dados: são números ou a descrição de objetos ou eventos que, isoladamente, não provocam
nenhuma reação no leitor;
• informações: representam, para quem as recebe, uma comunicação que pode produzir reação ou
decisão, frequentemente acompanhada de um efeito surpresa.

Podemos entender, assim, que a coleta de dados é importante para análise, porém, por si só, não leva
o usuário das informações às decisões. Após os cálculos, é necessário que se descubram as causas que
influenciaram a formação de tais números; caso contrário, não será possível chegar a qualquer tomada
de decisão.

Mais uma vez, é importante ressaltar que a isenção do analista financeiro é imprescindível para uma
análise, pois serão os resultados e as causas dos indicadores que darão ao usuário das informações a
segurança para uma tomada e decisão, e não a opinião pessoal do analista.

Podemos, mais uma vez, afirmar que o trabalho do analista de balanço inicia-se com o término do
processo contábil, ou seja, a partir das demonstrações contábeis. Para fins de ilustração, seguem dois
quadros:

1) Processo contábil, que se resume em:

• fatos contábeis – detalhamento dos acontecimentos da empresa, exemplos: compra de um


veículo, aquisição de matéria-prima, venda à vista etc.;
• escrituração dos fatos – lançamento dos fatos no livro diário – que é a identificação das contas
envolvidas, se são ativos ou passivos, se estão aumentando ou diminuindo e se serão lançados a
débito ou crédito;
• lançamento no razão, que é a representação gráfica dos lançamentos do diário;
• balancete de verificação, que é a relação dos itens em credor ou devedor, preparando os dados
para lançamento no balanço patrimonial;
• apuração do lucro ou prejuízo;
• balanço patrimonial: relação dos bens, direitos e obrigações da empresa;
• DRE – demonstrativo do resultado do exercício;
• Doar, fluxo de caixa e mutação do patrimônio líquido podem ser desenvolvidos com os dados já
mencionados.

Com todos esses processos concluídos, podemos iniciar a análise do balanço.

20
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

2) Análise de balanço.

Processo contábil

Fatos
Compras Pagamentos
Vendas Recebimentos

Escrituração
Diário Razão Livros fiscais

Apuração do resultado
Lucro ou prejuízo

Demonstrações contábeis
Balanço Patrimonial
Demonstração do resultado do exercício
Demonstração de mutação do patrimônio líquido
Demonstração do fluxo de caixa
Demonstração do valor adicionado
Notas explicativas

Figura 1

Análise de balanço

Exame e padronização
Demonstração do
Balanço patrimonial resultado do exercício

Análise vertical / horizontal


Cálculo Análises

Apuração dos indicadores


Liquidez, endividamento
atividade e rentabilidade

Índices padrão
Cálculos e comparação

Relatório de análise
Elaboração do relatório de forma clara para
determinado usuário

Figura 2

21
Unidade I

2.3 Técnicas de análises

Qual é a melhor técnica para analisar a situação econômico-financeira de uma empresa?

Não há uma resposta para essa pergunta, uma vez que diversos são os ramos de atividades e os
mercados em que as empresas atuam, inclusive há “n” formas de lideranças empresariais, e todas elas
influenciam na tomada de decisão, qualquer que seja o resultado obtido na análise financeira.

Lembrete

Os indicadores são a referência para a mensuração dos resultados da


empresa.

Porém, alguns indicadores são imprescindíveis para conhecer a situação econômico-financeira de


qualquer empresa, por serem aqueles que mostram a evolução (ou não) das contas patrimoniais e
de resultado num determinado período. Eles serão medidos pelas análises vertical e horizontal em
conjunto com os seguintes indicadores financeiros e econômicos:

• Indicadores financeiros:

— índices de liquidez: medem a capacidade de pagamento da empresa;


— índices de endividamento: estabelecem o montante de dívidas assumidas pela empresa e se
há condições de assumir mais dívidas;
— índices de atividade: mostram em número de dias os prazos para recebimento das vendas
a prazo, os pagamentos das compras a prazo para o estoque, bem como o número de dias
necessários para a renovação dos estoques.

• Indicadores econômicos:

— índices de rentabilidade: os diversos índices de rentabilidade, como taxa de retorno sobre o


investimento e sobre o patrimônio líquido, entre outros; em geral, medem a potencialidade da
empresa de gerar receitas de vendas.

Saiba mais

Para mais informações, consultem a obra Contabilidade e finanças: para


não especialistas (Ed. Pearson, 2010), dos autores Ching Hong, Fernando
Marques e Lucilene Prado.

22
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Resumo

Esta unidade direciona a necessidade de se ter base para a tomada


de decisão. Um gestor deve decidir com base em números, valores
que justifiquem as ações por meio dos resultados apontados pelos
demonstrativos contábeis.

O aluno, agindo como gestor, deve decidir em diversas frentes, tais


como: o negócio exime maiores investimentos? Compensa fazer esses
investimentos? Em que área se devem fazer esses investimentos? Os
recursos utilizados serão próprios ou de terceiros?

O balanço patrimonial é um demonstrativo contábil que registra a


evolução patrimonial da empresa, ou seja, as mudanças em bens, direitos e
obrigações. Aponta se houve aumento ou não, se se investiram recursos e
quanto e de onde vieram os recursos.

Demonstrativo do resultado do exercício é um demonstrativo que


equaciona a relação entrada e saída: quando o resultado é positivo, houve
lucro; se for negativo, houve prejuízo. Tem estrutura própria, separando
por natureza as contas para que se saiba onde estão os recursos da
empresa. Esses dois demonstrativos são os mais importantes para análise
gerencial.

Exercícios

Questão 1. (Enade – Ano 2009, Ciências Contábeis – Questão 11).

A constituição das provisões para férias, décimo terceiro salário e dividendos propostos é uma
conduta profissional que atende a qual princípio contábil?

A) Competência.
B) Consistência.
C) Continuidade.
D) Entidade.
E) Prudência.

Resposta correta: alternativa A.

23
Unidade I

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: como o princípio da competência reconhece as receitas e as despesas e não se trata de


um princípio relacionado com os pagamentos, a alternativa A está correta.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa B não está correta, pois aqui não entra em questão a consistência dos
números, mas sim a sua destinação.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa C trata da continuidade, isto é, demonstra a não intenção de interromper


as atividades da empresa, o que não é pertinente à questão.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa D, por tratar da entidade, que seria o caso de uma pessoa física ou jurídica,
não responde à pergunta.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa E trata da prudência, que é o princípio que busca a previsão de prejuízos
e, portanto, também não seria adequada nesse caso.

Questão 2. (Adaptada CRC-Exame de Suficiência, 2011 – Questão 32). Em relação às características


qualitativas das informações contábeis, assinale a opção incorreta.

A) A mensuração e a apresentação dos efeitos financeiros de transações semelhantes e outros


eventos devem ser feitas de modo consistente pela entidade, e mudanças em políticas contábeis
somente são admitidas quando requeridas pela introdução de normas contábeis aperfeiçoadas.
B) As informações são relevantes quando podem influenciar as decisões econômicas dos usuários,
ajudando-os a avaliar o impacto de eventos passados, presentes ou futuros, ou confirmando ou
corrigindo as suas avaliações anteriores.
C) Para ser confiável, a informação contida nas demonstrações contábeis deve ser neutra, isto é,
imparcial. As demonstrações contábeis não são neutras se, pela escolha ou apresentação da
informação, elas induzirem a tomada de decisão ou julgamento específico visando atingir um
resultado ou desfecho predeterminado.
D) Uma qualidade essencial das informações apresentadas nas demonstrações contábeis é que
elas sejam compreendidas pelos usuários. Para tanto, presume-se que os usuários tenham um

24
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

conhecimento razoável dos negócios, atividades econômicas e contabilidade e a disposição de


estudar as informações com razoável diligência.

E) Nem todas as informações interferem muito pouco na tomada de decisão, podendo esta ocorrer
de forma eficaz independentemente dos números apresentados.

Resolução desta questão na plataforma.

25
Unidade II

Unidade II
3 ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

A palavra estrutura significa “forma de apresentação”, ou seja, como as demonstrações contábeis


devem ser apresentadas aos seus usuários de maneira fácil para o seu entendimento.

Lembrete

Os relatórios contábeis devem estar claros aos usuários da informação


contábil.

Sendo assim, a sua estrutura precisa ser padronizada pela legislação; caso contrário, dificultaria a
tomada de decisão por parte dos diversos usuários das informações contábeis.

A definição de demonstração contábil, segundo Iudícibus et al. (2006), é a exposição resumida e


ordenada de dados colhidos pela contabilidade.

Esses relatórios têm o objetivo de relatar às pessoas que utilizam os dados contábeis (interna ou
externamente) os principais fatos registrados por uma organização em um determinado período.

Os relatórios obrigatórios são aqueles exigidos por lei (Lei das S.A.), sendo mais conhecidos
como demonstrações financeiras. São exigidos na totalidade para as sociedades anônimas e
parte deles é estendida a outros tipos societários, por meio do Imposto de Renda (IUDÍCIBUS et
al., 2006).

Segundo Assaf Neto (2007) e Iudícibus et al. (2006), a Lei das Sociedades por Ações estabelece
que, ao fim de cada exercício social (ano), a diretoria fará elaborar, com base na escrituração contábil,
obrigatoriamente, as seguintes demonstrações financeiras:

• balanço patrimonial;
• demonstração de resultado do exercício;
• demonstração das mutações ou demonstração de lucros ou prejuízos acumulados;
• demonstração das origens e aplicações de recursos.

Tais demonstrações deverão ser publicadas em dois jornais: no Diário Oficial, assim como em um
jornal de grande circulação (IUDÍCIBUS et al., 2006).

26
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Lembrete

As demonstrações financeiras devem ser publicadas como forma de


divulgar os resultados da empresa aos stakeholders.

Outro aspecto relevante é que as demonstrações financeiras de cada exercício devem ser publicadas
com a indicação dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior, porém a
legislação não especifica nada a respeito da correção monetária desses valores do exercício passado,
assim, praticamente a totalidade das empresas publica os valores do exercício anterior da mesma forma
que foram apresentados naquela época, ou seja, sem qualquer tipo de correção (ASSAF NETO, 2007).

3.1 Dados complementares das demonstrações financeiras

Iudícibus et al. (2006) ressaltam ainda que, como complemento das demonstrações financeiras, as
sociedades por ações deverão informar aos usuários desses relatórios os seguintes dados adicionais:

• Relatórios da diretoria (ou administração)

Nesse relatório, a diretoria dá ênfase às informações normalmente de caráter não financeiro, como:
dados estatísticos diversos; indicadores de produtividade; desenvolvimento tecnológico; a empresa no
contexto socioeconômico; políticas de recursos humanos; expectativas com relação ao futuro; projetos
de expansão etc.

• Notas explicativas

São notas de rodapé que esclarecem critérios de cálculos na obtenção de itens que afetam o lucro;
obrigações de longo prazo; garantias às dívidas etc.

• Parecer dos auditores

As sociedades anônimas têm a obrigatoriedade de publicar suas demonstrações com o parecer


da auditoria, ou seja, uma empresa (escritório de auditoria) ou pessoa física (contador credenciado) é
contratada para legitimar as informações contidas nos demonstrativos publicados.

• Valor adicionado (balanço social)

Nesse item, a organização evidencia o perfil social da empresa: relações de trabalho; perfil dos
empregados; tributos pagos; investimentos para a comunidade e para o meio ambiente. Aqui, o destaque
é o valor agregado (valor adicionado) que mostra qual é o destino dos recursos gerados pela empresa.

As mudanças, tanto na estrutura do balanço patrimonial quanto na demonstração de resultado


do exercício que veremos em seguida, não são apenas alterações de nomenclatura de seus

27
Unidade II

subgrupos; trata-se de uma nova concepção, formação do valor da empresa, uma nova visão da
gestão empresarial.

Observação

Constituem os stakeholders todos aqueles vinculados ou interessados


nos negócios da empresa/entidade.

Tais mudanças foram necessárias para inserir o Brasil no contexto mundial em relação aos
investimentos em bolsas de valores; assim, a legislação contábil brasileira passa a atender as Normas
Internacionais de Contabilidade.

Também foram alteradas algumas das demonstrações contábeis:

• Lei 6.404/76 (anterior)

— Relatório da administração
— Balanço patrimonial
— Demonstração do resultado do exercício
— Demonstração dos lucros e prejuízos acumulados
— Demonstração da mutação do patrimônio líquido
— Demonstração das origens e aplicações de recursos
— Notas explicativas
— Parecer do conselho fiscal
— Parecer da auditoria externa

• Lei 11.638/07 (atual)

— Relatório da administração
— Balanço patrimonial
— Demonstração do resultado do exercício
— Extinta (substituída pela demonstração da mutação do patrimônio líquido)
— Demonstração da mutação do patrimônio líquido
— Demonstração do fluxo de caixa
— Demonstração do valor adicionado

28
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

— Notas explicativas
— Parecer do conselho fiscal
— Parecer da auditoria externa

Conforme já exposto, o presente estudo toma as duas principais demonstrações financeiras para
análise: balanço patrimonial e demonstração de resultado do exercício; em seguida, apresentaremos
sua estrutura com base na legislação vigente – Lei 11.638/07 e Lei 11.941/09 (ambas alteraram a
Lei 6.404/76), complementada com os pareceres do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC),
as Normas Técnicas do Conselho Federal de Contabilidade e, ainda, para empresas sociedades
anônimas, tem-se as portarias dos órgãos fiscalizadores Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
Banco Central (Bacen) e outras entidades conforme a atividade empresarial (seguradoras, saúde,
agronegócio etc.).

Saiba mais

Para mais informações, consulte a obra Análise das demonstrações


contábeis (Atlas, 2001), de José Carlos Marion.

Lembrete

Esteja atento às novas mudanças da legislação contábil.

Saiba mais

Para um melhor estudo, recomendamos alguns dos mais de quarenta


Pronunciamentos Técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamento Técnico
até o momento, disponíveis em <www.cpc.org.br/pronunciamentos>.

CPC-01 – Redução ao valor recuperável de ativos


CPC-04 – Ativo intangível
CPC-06 – Operações de arrendamento mercantil
CPC-16 – Estoques
CPC-18 – Investimentos em coligadas e controladas
CPC-26 – Apresentação das demonstrações contábeis
CPC-27 – Ativo imobilizado

29
Unidade II

3.2 Balanço patrimonial

3.2.1 Noções básicas

Segundo Iudícibus et al. (2006), a definição básica do ativo diz que são todos os bens e direitos de
propriedade de uma empresa, avaliáveis em unidades monetárias, que representam benefícios presente
ou futuro para empresa.

Mais detalhadamente, os bens (máquinas, terrenos, estoques, dinheiro, veículos, instalações etc.)
podem ser tangíveis (quando têm corpo, matéria) e intangíveis (incorpóreos – marca, ponto comercial).

Há ainda a divisão em móveis (não são fixos ao solo, podendo ser transportados de um lugar para
outro) e imóveis (fixos ao solo – terrenos, prédios etc.).

Observação

O balanço patrimonial está representado por três grandes grupos: ativo,


passivo e patrimônio líquido.

Com relação à propriedade, se o bem ou direito não for de propriedade da empresa, não constará do seu
ativo. Um arrendamento mercantil (leasing) de uma máquina, pela qual a empresa pagará aluguel mensal,
não se caracteriza como ativo, embora o bem esteja dentro da empresa (é posse e não propriedade).

No que diz respeito ao valor objetivo, uma empresa, por exemplo, que possui uma “marca” conhecida
no mercado não poderá evidenciá-la como ativo, embora seja um bem intangível e de sua propriedade,
pois é difícil avaliar o seu valor em termos monetários.

Com relação aos benefícios presentes ou futuros, se uma empresa tiver um “título a receber” de
uma empresa falida, ele não poderá ser considerado ativo, pois não há possibilidade de convertê-lo em
dinheiro, não trazendo benefício algum para a sua portadora.

Sendo assim, para ser ativo, é necessário preencher os quatro requisitos simultaneamente: representar
um bem ou direito; ser de propriedade da empresa; ser mensurável monetariamente; representar um
benefício presente ou futuro (IUDÍCIBUS et al., 2006).

Lembrete

O ativo representa os bens da entidade e necessariamente precisam ser


avaliáveis monetariamente.

O passivo exigível, por sua vez, evidencia toda a obrigação (dívida) que a empresa tem com terceiros:
contas a pagar; fornecedores de matéria-prima; impostos a pagar; financiamentos; empréstimos etc.,
30
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

ou seja, o passivo é uma obrigação exigível, isto é, no momento em que a dívida vencer, será exigida
(reclamada) a sua liquidação (IUDÍCIBUS et al., 2006).

Iudícibus et al. (2006) definem o patrimônio líquido como os recursos próprios aplicados no
empreendimento. O investimento inicial dos proprietários (a primeira aplicação) é denominado de
capital. Se houver outras aplicações por parte dos proprietários (acionistas – S.A., ou sócios – Ltda.),
teremos acréscimos no capital.

Lembrete

O passivo representa os credores da entidade.

Porém, o patrimônio líquido não cresce apenas com novos investimentos dos proprietários, mas
também com o lucro resultante da atividade operacional da entidade e que, obviamente, pertence
aos proprietários que investiram na empresa. Do lucro obtido em determinado período pela
atividade empresarial, normalmente, uma parte é distribuída para os donos do capital (dividendos)
e outra parte é reinvestida no negócio, ou seja, fica retida (acumulada) na empresa. A parte do
lucro acumulado é adicionada ao patrimônio líquido. Dessa forma, as aplicações dos proprietários
vão crescendo.

Uma observação importante de Iudícibus et al. (2006) é que, na verdade, tanto o passivo quanto
o patrimônio líquido são obrigações da empresa, já que no passivo temos as obrigações exigíveis por
terceiros, sendo por isso conhecidas como capital de terceiros.

No patrimônio líquido, as obrigações são, na verdade, para com os proprietários da empresa, mesmo
assim, por determinação da lei, eles não podem reclamar a restituição do seu dinheiro investido, assim,
esse grupo de contas é conhecido como não exigível ou, ainda, de forma mais usual, como capital
próprio.

Lembrete

No patrimônio líquido, constam as “obrigações” da entidade para com


os proprietários.

O balanço patrimonial comporta os bens e direitos e as obrigações de uma empresa num determinado
período. Balanço patrimonial é subdividido em três grandes grupos:

1) Ativo (bens e direitos), dividido em ativo circulante e ativo não circulante.


2) Passivo (obrigações para com terceiros em geral), também dividido em circulante e não circulante.
3) Patrimônio líquido (obrigações para com os proprietários).

31
Unidade II

Iudícibus et al. (2006) argumentam que, para facilitar a interpretação e análise do balanço, existe
uma preocupação constante em estabelecer uma adequada distribuição de contas. Essa distribuição
citada obedece duas regras claras e simples: (i) prazo e (ii) liquidez.

Prazo: em contabilidade, curto prazo significa normalmente o período de até um ano. Assim, as
contas que são lançadas em períodos superiores a um ano são chamadas de rubricas de longo prazo.
Grau de liquidez decrescente: os itens de maior liquidez são classificados em primeiro plano. Os de
menor liquidez aparecem em último lugar (IUDÍCIBUS et al., 2006).

Lembrete

Em contabilidade, o curto prazo representa um período de até um ano,


enquanto períodos superiores são classificados como longo prazo.

Segundo Iudícibus et al. (2006), o balanço patrimonial é uma demonstração muito utilizada por
usuários externos à empresa: bancos, governos, fornecedores, sindicatos e até mesmo donos da empresa
(sócios ou acionistas). Normalmente, esses usuários não precisam ser especialistas em contabilidade. Daí
a necessidade de o balanço patrimonial ser uma demonstração simples e fácil de ser entendida, pois visa
mostrar a situação econômico-financeira da empresa para leigos.

Assim, poderíamos iniciar relacionando tudo aquilo que a empresa receberá no curto prazo (aquilo
que será transformado em dinheiro), confrontando com tudo aquilo que será pago no curto prazo.
Como essas contas são recebidas e pagas rapidamente e, dessa forma, se renovam constantemente,
foi dado o nome de circulante (corrente), tanto para o ativo como para o passivo.

Lembrete

As subclassificações do ativo, passivo e patrimônio líquido servem para


detalhar as informações referentes às operações da empresa.

O grupo seguinte seria o das contas que a empresa espera muito tempo para receber (ativo),
confrontando com as contas que ela demora muito para pagar (passivo). Ora, se a empresa espera
muito para receber, poderíamos chamar esse grupo de realizável em longo prazo. E, por outro lado,
demorando-se muito para pagar, significa um exigível em longo prazo.

3.2.2 Ativo circulante

Segundo Assaf Neto (2007), o ativo circulante compreende as contas: disponibilidades, créditos,
estoques e despesas antecipadas realizáveis no exercício social subsequente, o que o caracteriza como
de realização em até um ano.

32
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Todavia, em casos anormais em que o ciclo operacional da empresa é superior


a 12 meses, ativo e passivo circulante podem assumir prazo igual a esse ciclo,
como ocorre nas construtoras de navios, nas fazendas de criação e engorda
de gado e outros casos raros. Mesmo assim, porém, as demonstrações são
publicadas anualmente e o exercício social continua sendo de um ano. Muda
apenas o conteúdo dos valores do circulante, que passa a abranger prazos
mais extensos (ASSAF NETO, 2007, p. 93).

Para Iudícibus et al. (2006), entende-se como ciclo operacional aquele período de tempo que uma
determinada indústria leva para produzir o seu estoque, vendê-lo e receber as duplicatas geradas pelas
próprias vendas, entrando finalmente o dinheiro em caixa.

É preciso ressaltar que o termo “realizável” é uma expressão contábil e não financeira. Dessa forma,
deve-se assumir que, em contabilidade, “realizar” tem um sentido próprio, ou seja, “converter”, “mudar”,
“transformar”, e não só ser recebido em dinheiro.

Assim, os créditos realizam-se por serem recebidos, mas também se realizam se forem dados como
incobráveis; os estoques de matérias-primas realizam-se mediante utilização para transformação em
produtos acabados; e estes, consequentemente, se realizam mediante venda. As despesas antecipadas
realizam-se mediante transformação em despesas do próprio exercício; o imobilizado realiza-se por
depreciações, por vendas ou por baixas devidas a desapropriação, a acidentes que os inutilizam etc.
(ASSAF NETO, 2007).

Quanto às disponibilidades, Assaf Neto (2007) argumenta que, praticamente, não há o que comentar,
a não ser que só podem englobar saldos bancários livres a aplicações para resgate imediato, enquanto
as aplicações financeiras podem ser em letras de câmbio, certificados de depósitos bancários, recibos
de depósitos bancários, debêntures e outras.

Nesse caso, as contas são lançadas no balanço pelos valores originais das aplicações acrescidos
dos rendimentos proporcionalmente decorridos dentro do regime de competência, independentemente
de recebimento, e só podem estar contidos os rendimentos gerados, até a data do balanço, e nunca
os rendimentos que, provável ou certamente, serão “ganhos” posteriormente, nem devem deixar de
reconhecer os já apropriáveis até essa data.

Assaf Neto (2007) também destaca que as aplicações financeiras podem ainda abranger aplicações
temporárias em ações, em ouro e outras de caráter nitidamente transitório; nesse caso, figuram tais
investimentos pelo valor de custo de aquisição.

Para todas essas aplicações, todavia, se o valor líquido de realização (nesse


caso, isso significa valor de venda no mercado diminuído das despesas e
eventuais impostos incidentes na venda) na data do balanço for menor que
o valor contábil até esse momento, faz-se ajuste mediante uma provisão que,
em contrapartida, registra esse possível prejuízo no resultado do exercício
(ASSAF NETO, 2007, p. 93).
33
Unidade II

Segundo esse autor (2007), os valores a receber de clientes e os outros créditos também devem
ser devidamente provisionados pelas possíveis perdas como não recebimentos.

Os estoques, por sua vez, podem ser lançados pelo custo histórico de aquisição ou fabricação,
normalmente com a utilização do critério do preço médio ponderado; às vezes, pode-se utilizar também
o critério Peps ou Fifo (primeiro que entra, primeiro que sai).

Lembrete

Os estoques devem ser avaliados por métodos específicos e de acordo


com a legislação.

Devem também incluir os estoques os adiantamentos e fornecedores por conta de itens que
serão estocados nessa rubrica (conta). As despesas antecipadas referem-se a recursos aplicados
em itens que, objetivamente, se referem a serviços ou benefícios que devem ser usufruídos no
exercício seguinte; é o caso dos prêmios de seguros, dos pagamentos de anuidades de revistas
e jornais etc. Não devem aqui estar abrangidos adiantamentos concedidos a empregados, a
diretores etc.

Quanto aos encargos financeiros, só podem estar nas despesas antecipadas os relativos às duplicatas
descontadas. Os relativos a empréstimos devem aparecer subtrativamente a eles no passivo exigível
como “encargos antecipados” (ASSAF NETO, 2007).

3.2.3 Ativo não circulante

Composto por ativo realizável em longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível (incluso pela
Lei 11.941/09).

3.2.3.1 Ativo realizável em longo prazo

São ativos de menor liquidez (transformam-se em dinheiro mais lentamente) que o circulante.
Nesse item, são classificados os empréstimos ou adiantamentos concedidos às sociedades
coligadas ou controladas, a diretores, acionistas etc. além dos títulos a receber no longo prazo
(IUDÍCIBUS et al., 2006).

Os realizáveis em longo prazo devem figurar pelo valor corrigido,


se for o caso. [...] Nossa legislação determina que os créditos junto
a controladas, coligadas, administradores e sócios, originários de
atividades não normais (empréstimos, adiantamentos etc.) devem
figurar como realizáveis em longo prazo, mesmo que vencíveis a curto
(ASSAF NETO, 2007, p. 94).

34
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Lembrete

A liquidez é representada pelo disponível (dinheiro em caixa) e pelo


realizável em curto prazo.

3.2.3.2 Investimentos

As participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza, não


classificáveis no ativo circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou
da empresa.

3.2.3.3 Ativo imobilizado

Os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da
companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que
transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens.

Observação

(Redação dada pela Lei 11.638, de 2007) – No intangível: os direitos


que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da
companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio
adquirido (incluso pela Lei 11.638, de 2007).

3.2.4 Ativos permanentes

Iudícibus et al. (2006) argumentam que são aqueles ativos que dificilmente serão vendidos, pois
sua característica básica é de não se destinarem à venda. Portanto, pode-se dizer que são itens sem
nenhuma liquidez para a empresa. Outra característica do ativo permanente é que são itens usados por
vários anos (vida útil longa) e sua reposição, ao contrário do circulante, é lenta. Seus valores não variam
constantemente, daí a denominação de ativo fixo.

No permanente, encontram-se prédios, instalações, equipamentos, máquinas, móveis etc. pelo


seu valor bruto. Como dedução do valor bruto, encontra-se a depreciação acumulada, que é a perda
da capacidade (pelo desgaste ou pela deterioração tecnológica) daqueles ativos de produzirem
eficientemente. Assim, tem-se o valor líquido (valor bruto subtraído da depreciação acumulada), que
deve se aproximar do valor daqueles ativos em termos de potencial capaz de trazer benefícios futuros
para a empresa (ASSAF NETO, 2007).

35
Unidade II

Lembrete

A depreciação pode ser caracterizada pela redução do valor de um bem


em função de sua utilização ou consumo.

Segundo Assaf Neto (2007), o permanente subdivide-se em três grupos:

• Investimento: inversões financeiras de caráter permanente que geram rendimentos desnecessários


à manutenção da atividade fundamental da empresa.
• Imobilizado: itens de natureza permanente que serão utilizados para a manutenção da atividade
básica da empresa.
• Intangível: ativos incorpóreos que, da mesma forma, se destinam apenas à manutenção da
empresa e não para a venda, incluindo o goodwill (fundo de comércio adquirido).

Saiba mais

Observe as alterações introduzidas pela Lei 11.941/09. Ela pode ser


acessada pelo link a seguir:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11941.
htm>

3.2.5 Passivo exigível

Para Assaf Neto (2007), é composto basicamente por dívidas, obrigações, riscos (provisão para
garantias, por exemplo) e contingências (estas são fatos geradores já ocorridos, como atuações fiscais,
trabalhistas, ações judiciais e outros litígios em discussão); somente existe diferenciação em função do
prazo, e os mesmos comentários prevalecem quanto ao ativo circulante.

Lembrete

As obrigações da empresa representam os valores que esta tem


de responder a terceiros: bancos, fornecedores, funcionários e
Governo.

À medida que os empréstimos e financiamentos tomados em longo prazo passam a ser vencíveis no
exercício subsequente, são transferidos para o passivo circulante.

36
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

3.2.6 Patrimônio líquido

Representa, basicamente, os investimentos dos proprietários (capital) somados aos lucros


acumulados no decorrer dos anos e que foram retidos na empresa; em outras palavras, não distribuídos
e ainda não incorporados ao capital. A esse grupo de contas, podemos acrescentar ainda as reservas
(IUDÍCIBUS et al., 2006).

Mais detalhadamente, para Assaf Neto (2007), o patrimônio líquido é composto pelos cinco subgrupos
citados anteriormente: (i) capital social; (ii) reservas de capital; (iii) reservas; (iv) ajustes de avaliação
patrimonial; e (v) prejuízos acumulados.

O capital social deve apresentar somente aqueles valores que foram, de fato, integralizados, ou
seja, apenas o investimento dos proprietários no empreendimento. É formado basicamente por valores
recebidos pela empresa, dos sócios ou de terceiros, que são jogados diretamente para o patrimônio
líquido; esses valores não transitaram nem transitarão pelo seu resultado, por não se referirem a
prestação de serviços ou a venda de produtos pela empresa.

Assim, são jogados aí os valores de “ágio” na emissão de capital, ou seja, valores recebidos dos sócios
em aumentos de capital que suplantam as quantias destinadas ao capital propriamente dito (acima do
valor nominal das ações ou quotas ou, se não houver esse valor nominal, eventual parcela do preço pago
acima do destinado ao capital).

Pertencem também a essas reservas os valores recebidos do Governo a título de incentivo


fiscal, como as devoluções de imposto de renda para aplicação no Nordeste, na Amazônia, em
reflorestamento etc., e outras importâncias recebidas gratuitamente que se destinem a aplicações
na expansão da capacidade produtiva da empresa (tecnicamente chamadas de subvenções para
investimento), como no caso de alguns Estados que devolvem ICMS recolhido como estímulo a
essa expansão.

Também fazem parte desse grupo as doações recebidas, normalmente do Poder Público (terrenos,
por exemplo, que prefeituras doam para fixar empresas em seus municípios), e alguns outros itens
abrangidos pela legislação em vigor (ASSAF NETO, 2007).

Os ajustes de avaliação patrimonial são usados essencialmente quando algum ativo da empresa,
em função do comportamento do mercado e/ou dos índices de inflação, fica extremamente defasado
de seu valor mais atualizado de reposição.

Nesses casos, a legislação brasileira permite que esses ativos permanentes tenham seus custos
atualizados por chegar ao valor de mercado, desde que os sócios concordem e haja laudo de avaliação.
Esse aumento de valor atribuído ao ativo é, em contrapartida, considerado reserva de reavaliação.

Esse acréscimo não deve ser atribuído como parte do resultado do período, tanto do ponto de vista
técnico como do fiscal. Assim, essa reserva significa o quanto foi aumentado o ativo da empresa em
função de nova atribuição de valor.
37
Unidade II

À medida que esses ativos reavaliados são baixados por depreciação, venda ou outras
razões, na mesma proporção são diminuídos esses valores das reservas de reavaliação, de tal
forma que devem sempre refletir o valor líquido ainda existente de saldo com acréscimo ao
ativo. Essas baixas de reavaliação são feitas ou contra o resultado do exercício, anulando o
efeito dos valores a mais computados nas depreciações ou nas baixas dos ativos reavaliados,
ou então jogadas diretamente da reserva para a conta de lucros ou prejuízos acumulados. É
necessário consultar as notas explicativas para se conhecer o procedimento adotado (ASSAF
NETO, 2007).

Lembrete

A reavaliação de ativos representa uma despesa para entidade e


contribui para variações do patrimônio líquido.

Segundo Assaf Neto (2007), as reservas nada mais são do que lucros gerados pela empresa,
transitados pelo seu resultado e retidos por várias razões. Assim, a reserva legal é a parcela que a
legislação impede que seja de fato distribuída.

As estatutárias são as que os estatutos de algumas companhias obrigam que sejam criadas.
As reservas para contingências dizem respeito a lucros retidos para fazer face a possíveis perdas
que devem ocorrer no futuro, em função de fatos geradores ainda não acontecidos, como eventuais
perdas de safras por problemas climáticos, de estoques por possíveis enchentes ou saques ou perdas
de contratos em vigor; se essas perdas efetivamente ocorrerem, serão considerados prejuízos no
exercício em que se efetivarem, e essas reservas retomarão a lucros ou prejuízos acumulados para a
compensação com tais prejuízos.

Já as reservas de lucros a realizar (aqui, realizar significa “transformar em dinheiro”, uma vez que
são lucros econômica e contabilmente realizados que já passaram pelo resultado do exercício) são frutos
de lucros que, por não terem sido ainda transformados em dinheiro nem vierem a se transformar no
próximo exercício, podem ficar retidos até sua monetarização.

Finalmente, as reservas para expansão são retenções não legais nem estatutárias, definidas por
decisão em assembleia ou deliberação do órgão próprio se não sociedade anônima. Dessas todas, só não
pode nunca ser utilizada para dividendos a reserva legal.

Ainda para Assaf Neto (2007), em prejuízos acumulados lança-se nessa conta o prejuízo obtido que
absorverá também as demais reservas de lucros de forma compulsória, para só depois poder figurar
como “prejuízos acumulados”.

Pela lei 11.941/09, deve-se observar o seguinte modelo:

38
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos:

• Passivo circulante (incluso pela Lei 11.941/09).


• Passivo não circulante (incluso pela Lei 11.941/09).
• Patrimônio líquido, dividido em capital social, reserva de capital, ajustes de avaliação patrimonial,
reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados (alterado pela Lei 11.941/09).

3.3 Outros relatórios

3.3.1 Origens e aplicações

Contabilmente, a expressão equação contábil indica um detalhe extremamente importante relativo


ao conceito puro do balanço patrimonial, ou seja, ativo será sempre igual à soma do passivo com
patrimônio líquido.

Iudícibus et al. (2006) argumentam que o lado do passivo e do patrimônio líquido (capital de terceiros
e capital próprio) representa toda a fonte de recursos de uma organização (origens do capital).

Assim, nenhum recurso pode ser aplicado na empresa se não for via passivo ou patrimônio líquido. O
lado do ativo demonstra, por sua vez, todas as aplicações dos recursos originados no passivo e patrimônio
líquido.

Dessa forma, fica bastante simples entender por que o ativo será sempre igual ao passivo + patrimônio
líquido, pois a empresa somente pode aplicar aquilo que tem origem comprovada.

Equação contábil básica (IUDÍCIBUS et al., 2006):

Ativo = Passivo + Patrimônio líquido

Uma derivação da equação 1 pode ser obtida da seguinte forma:

Ativo - Passivo = Patrimônio líquido

Dessa forma, Gitman (2004) observa que o balanço patrimonial demonstra sinteticamente a
posição financeira de uma determinada empresa em certa data. As equações 1 e 2 sugerem que essa
demonstração iguala os ativos (o que ela possui) ao seu financiamento, o qual pode ser feito com
capital de terceiros (dívidas) ou capital próprio (fornecido pelos proprietários).

3.3.2 Alteração dos grupos patrimoniais: Leis 6.404/76, 11.638/07 e 11.941/09

A estrutura do balanço patrimonial, de acordo com a Lei 6.404/76, era apresentada da seguinte
forma:

39
Unidade II

Quadro 1 – Balanço patrimonial

Ativo Passivo e patrimônio líquido


Ativo circulante Passivo circulante
Realizável em longo prazo Exigível em longo prazo
Resultado do exercício futuro
Permanente
Investimentos
Imobilizado Patrimônio líquido
(-) Depreciação acumulada Capital social
Diferido Reservas
(-) Amortização acumulada Lucros e prejuízos acumulados
Total de ativos Total de passivos + Patrimônio líquido

Fonte: Iudícibus (2009, adaptado)

De acordo com as Leis 11.638/07 e 11.941/09, a estrutura do balanço patrimonial é a seguinte:

Quadro 2 – Balanço patrimonial

Ativo Passivo e patrimônio líquido


Ativo circulante Passivo circulante
Passivo não circulante
Ativo não circulante Dívidas em longo prazo
Realizável em longo prazo Operações de resultado do exercício futuro
Investimentos Patrimônio líquido
Imobilizado Capital social
Intangível Reservas
(-) Depreciação acumulada Ajuste de avaliação patrimonial
Prejuízos acumulados
Total de ativos Total de passivos + Patrimônio líquido

Fonte: Iudícibus (2009, adaptado)

A mudança da estrutura do balanço patrimonial não são apenas alterações de nomenclatura de seus
subgrupos; trata-se de uma nova concepção de formação dos bens e direitos e obrigações da empresa
e, consequentemente, uma nova visão do valor da empresa.

Do lado do ativo, foram as seguintes alterações:

• O subgrupo “realizável em longo prazo” foi extinto, e as operações ali classificadas passam a fazer
parte do “não circulante”..
• As contas do “permanente” também integram o subgrupo do “não circulante”, porém com algumas
mudanças:

— A inserção da conta “intangível” (bens não corpóreos que eram classificados dentro do
permanente como imobilizado intangível; exemplo: “marcas e patentes”);

40
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

— A extinção do subgrupo “diferido e amortização acumulada”; as despesas e/ou os custos ali


registrados passam a ser contabilizados diretamente na demonstração do resultado do exercício
como gastos do período.

Do lado do passivo, foram as seguintes alterações:

• Os subgrupos “exigível em longo prazo” e “resultado do exercício futuro” foram extintos, e as


operações ali classificadas passam a fazer parte do “não circulante”.
• No “patrimônio líquido”, ocorreram as seguintes alterações:

— Inclusão da conta “ajuste de avaliação patrimonial”, que comporta resultado de ajustes de


contas de ativo e passivo, de acordo com a legislação.
— A conta “lucros/prejuízos acumulados” foi substituída por “prejuízos acumulados”; significa
dizer que, se houver lucros no período, estes deverão ser distribuídos ou registrados como
“reservas”.

Em termos gerais, foram essas as alterações ocorridas no “balanço patrimonial”. Para melhor
acompanhamento da disciplina Análise das Demonstrações Financeiras, recomenda-se a leitura na
íntegra das Leis 11.638/07 e 11.941/09, bem como dos Pareceres Técnicos divulgados pelo Comitê de
Pronunciamento Contábil, que tratam do assunto.

3.4 Demonstração do resultado do exercício

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é considerada um resumo ordenado das receitas e


despesas de uma determinada empresa em um certo período de tempo.

Essa demonstração tem o propósito exclusivo de apurar o resultado, ou seja, o lucro ou o prejuízo
acumulado em um determinado espaço de tempo (geralmente, 12 meses). Dessa forma, engloba de
forma dedutiva as receitas e as despesas, os ganhos e as perdas do exercício, apurados pelo regime de
competência; assim, independente de seus pagamentos ou recebimentos (ASSAF NETO, 2007).

Regime de competência significa apropriação das receitas quando


efetivamente ganhas, merecidas, auferidas e não necessariamente recebidas
em dinheiro. Assim, as vendas produzem receitas quando são entregues
as mercadorias e os serviços a que se referem. Significa também que as
despesas relativas à obtenção dessas receitas são apropriadas juntamente
com essas receitas. Assim, devem ser contrapostos às receitas de vendas
o custo dos produtos vendidos, as despesas de comissão, as despesas com
a formação da provisão para garantias e a de devedores incobráveis etc.
(ASSAF NETO, 2007, p. 101).

Conforme já estudado, a demonstração do resultado do exercício é composta pelas despesas e


receitas de um determinado período, bem como pelo resultado entres essas operações, ou seja:
41
Unidade II

• Receitas > Despesas = Lucro


• Receitas < Despesas = Prejuízo
• Receitas = Despesas → Resultado nulo

A estrutura da demonstração do resultado do exercício, de acordo com a Lei 6.404/76, era apresentada
da seguinte forma:

Quadro 3 – Demonstração do resultado do exercício

Receita bruta
(-) Deduções das vendas (tributos/devoluções)
Receita líquida
(-) Custo das mercadorias ou custo dos produtos vendidos
Lucro bruto
(-) Despesas e receitas operacionais
(-) Despesas comerciais e de vendas
(-) Despesas administrativas
(+/-) Receitas/despesas financeiras
Resultado antes das despesas e receitas não operacionais
(-) Despesas não operacionais
+ Receitas não operacionais
Resultado antes do imposto de renda
(-) Provisão para imposto de renda e contribuição social
(-) Participação nos lucros
Resultado líquido do exercício

Fonte: Iudícibus (2009, adaptado)

De acordo com as Leis 11.638/07 e 11.941/09, a estrutura da demonstração do resultado do exercício


é a seguinte:

Quadro 4 – Demonstração do resultado do exercício

Receita bruta
(-) Deduções das vendas (tributos/devoluções)
Receita líquida
(-) Custo das mercadorias ou custo dos produtos vendidos
Lucro bruto
(-) Despesas e receitas operacionais
(-) Despesas comerciais e de vendas
(-) Despesas administrativas
(+/-) Receitas/despesas financeiras
Resultado antes do imposto de renda
(-) Provisão para imposto de renda e contribuição social
(-) Participação nos lucros
Resultado líquido do exercício

Fonte: Iudícibus (2009, adaptado)

42
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A única alteração da demonstração do resultado do exercício foi a exclusão das “despesas e


receitas não operacionais”, que, com a nova legislação, inserem as subdivisões das “despesas e receitas
operacionais”.

Iudícibus et al. (2006) ressaltam que uma das maiores preocupações na elaboração de um relatório
contábil é que a riqueza de detalhes a serem transmitidos não torne o demonstrativo financeiro
complicado. Assim, na demonstração de resultado do exercício, as parcelas dedutivas, ou seja, as
chamadas despesas, são agrupadas de acordo com suas características.

Dessa forma, da receita bruta são deduzidos os impostos sobre vendas gerados no momento
da venda (IPI, ICMS, ISS e PIS); esses impostos são cobrados diretamente do consumidor e apenas
recolhidos pela empresa, ou seja, tais impostos não são recursos da empresa, mas sim da Receita Federal,
Estadual ou Municipal. São deduzidos ainda as devoluções e os descontos comerciais (abatimentos)
dados incondicionalmente.

Aqueles descontos condicionados a pagamentos antecipados ou em determinadas datas são


considerados encargos financeiros entre as despesas operacionais. Dessa forma, a receita líquida é
considerada efetivamente a receita da empresa pela venda de seus produtos ou serviços, uma vez que é
a parcela que de fato lhe pertence (ASSAF NETO, 2007).

O custo dos produtos e serviços vendidos, por sua vez, irá deduzir a receita líquida. Nessa categoria de
custo, encontram-se o custo histórico ou o preço médio ponderado das mercadorias vendidas (incluindo
gastos e despesas com a colocação das mercadorias em condições de venda, como transporte, seguro
etc.). Assaf Neto (2007) ressalta que, conforme a natureza da empresa (industrial, comercial, prestadora
de serviços), esses custos são apurados de acordo com as suas peculiaridades, ou seja, suas características
intrínsecas. Assim, o lucro bruto é a diferença entre a receita líquida e o custo dos produtos e serviços
vendidos.

A partir do lucro bruto são deduzidas as despesas operacionais, que, por sua vez, são constituídas das
despesas de vendas, despesas administrativas e as despesas financeiras. O lucro operacional é, então, a
diferença entre o lucro bruto e as despesas operacionais. Nesse ponto da demonstração do resultado do
exercício, são deduzidas (ou somadas) as despesas não operacionais (ou as receitas não operacionais).

No Brasil, somente são considerados não operacionais os ganhos e as


perdas de capital. Resultam de baixas de ativos permanentes em sua quase
totalidade, como, por exemplo, o lucro na venda de um investimento
permanente, ou o prejuízo pela baixa de um equipamento ainda não
totalmente depreciado, que se torna imprestável por queima, ou a baixa
abrupta de um ativo diferido referente a uma pesquisa que acaba de se
mostrar totalmente inválida economicamente... Fora disso, porém, é esse
o conceito tradicional. No Brasil, não há tributação especial sobre ganhos
de capital, como ocorre em alguns outros países. Sujeitam-se à tributação
normal e às vezes são até beneficiados com certas isenções fiscais (ASSAF
NETO, 2007, p. 104).
43
Unidade II

O lucro antes do imposto de renda é o resultado da dedução das despesas não operacionais do lucro
operacional. Nesse ponto, será deduzida então a provisão para o imposto de renda.

O Imposto de Renda incidente sobre o lucro do exercício precisa


obrigatoriamente estar já diminuído do resultado desse mesmo exercício e
considerado como exigibilidade no balanço. Assim, surge no resultado e no
passivo circulante (via de regra) a provisão para o Imposto de Renda (ASSAF
NETO, 2007, p. 104).

O lucro líquido, ou prejuízo, resulta da diminuição do lucro após a dedução do imposto de renda,
de participações devidas a debenturistas, a empregados, a administradores e a detentores de partes
beneficiárias. Esse resultado líquido é transferido, então, para a conta de lucros ou prejuízos acumulados
do balanço patrimonial.

4 ANÁLISE FINANCEIRA BÁSICA

Esta seção trata da análise das demonstrações financeiras. Nesse ponto, incluem-se análises verticais
e horizontais, índices financeiros, fluxos de caixas de uma empresa, o Investimento Operacional em Giro
(IOG), assim como os modelos de insolvência. Esses conceitos constituem um importante conjunto de
ferramentas para a compreensão mais detalhada do desempenho, da solidez, da liquidez de uma empresa.

Silva (2008) argumenta que o conceito de análise financeira é o exame das informações extraídas
das demonstrações financeiras, com o objetivo de aprimorar a compreensão e a avaliação de aspectos
intrínsecos, como:

• capacidade de pagamento por meio da geração de caixa;


• capacidade de remunerar os investidores, além de gerar lucro em níveis compatíveis com suas
expectativas;
• nível de endividamento, assim como motivo e qualidade da dívida;
• políticas operacionais e seus impactos na necessidade de capital de giro da empresa, além de
diversos outros fatores que atendam ao propósito do objetivo da análise.

A análise das demonstrações financeiras corresponde a um dos estudos fundamentais da


administração financeira, uma vez que, para o administrador interno da empresa, a análise fornece
indicadores de desempenho, o que torna possível avaliar os resultados de decisões financeiras tomadas,
enquanto, para o analista externo, os mesmos aspectos relacionados a desempenho representam
informações relevantes independentemente da sua relação com a empresa, seja ela como credor ou
investidor (ASSAF NETO, 2007).

4.1 Padronização das demonstrações contábeis

O analista financeiro, em posse das demonstrações contábeis, mas principalmente do balanço


patrimonial e da demonstração de resultado do exercício, bases para análise, deverá fazer um exame
44
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

minucioso do saldo de cada conta contido nessas demonstrações, procurando entender as respectivas
operações que formaram tal saldo.

Como auxílio a esse trabalho, o exame das outras demonstrações será útil, mas principalmente das
notas explicativas, que, como o próprio nome sugere, levarão o analista para uma melhor interpretação
da formação dos saldos existentes nas demonstrações em si.

Sendo a análise de balanço um instrumento gerencial, o analista financeiro, a fim de facilitar o seu
trabalho, deverá padronizar as demonstrações contábeis de tal forma que agilize a análise, transcrevendo
as contas para um modelo de padronização previamente determinado.

Matarazzo (1998, p. 142) aponta os seguintes motivos para a padronização:

• Simplificação: cada empresa tem seu plano de contas, e na apresentação do balanço não há
uma padronização. A utilização de um modelo simplificado auxilia muito na análise, reduzindo
principalmente o número de contas.
• Comparabilidade: havendo divergências na composição das contas, a comparação se torna
muito difícil. Enquadrando-se os valores em um modelo, a comparabilidade se torna viável. Com
exceção das atividades empresariais que, por força legal, utilizam planos de contas padronizados,
as outras atividades passam a ter autonomia da nomenclatura de suas contas; por exemplo,
contas a receber e duplicatas a receber são entendidas como sinônimos; assim, o analista poderá
optar por uma ou outra conta, que em nada afetará sua análise.
• Adequação aos objetivos da análise: a reclassificação de algumas contas contábeis ocorrerá de
acordo com o objetivo da análise.
• Precisão na classificação de contas: há empresas que “maquiam” contas a fim de “embelezar” o
balanço patrimonial; diante desse fato, ao utilizar a padronização, evita-se a “maquiagem” – por
exemplo, dívidas que deveriam estar no curto prazo e são registradas no longo prazo.
• Descoberta de erros: na utilização de modelos padronizados, torna-se fácil verificar a existência de
erros intencionais ou não. A intimidade do analista com as demonstrações contábeis padronizadas
facilita a compreensão e a análise das contas.

Lembrete

A padronização das demonstrações contábeis serve ao propósito de


reduzir a margem de informações indevidas ou fraudulentas.

Importante: geralmente, a descoberta de erros não ocorre quando as demonstrações contábeis são
auditadas por auditorias externas. Assim, podemos entender que a padronização das demonstrações
contábeis, por meio também da sintetização das contas, só venha a contribuir com aceleração do
processo de análise financeira.

45
Unidade II

Saiba mais

Consulte a obra Análise das demonstrações financeiras (São Paulo:


Thomsom, 2006), de Clóvis Luis Padoveze e Gideon Carvalho Benedicto.

4.2 Contas patrimoniais

4.2.1 Ajustes e utilização para cálculo dos indicadores

Antes de mencionarmos os principais ajustes que deverão ocorrer nas contas patrimoniais, cabe
chamar a atenção sobre a disposição dos períodos anuais apresentados nas demonstrações contábeis.

A legislação contábil vigente exige que demonstrações contábeis sejam publicadas em dois períodos
anuais, sendo a primeira coluna reservada para os saldos das contas do período atual e a segunda coluna
para os saldos das contas do período imediatamente anterior.

Porém, antes de iniciarmos a análise financeira, devemos inverter tais períodos, ou seja, a primeira coluna
registrará os saldos das contas referentes ao período anterior e a segunda coluna ficará com os saldos das
contas atuais. A finalidade está em mostrar a evolução (ou não) das contas de um período para o outro.

Exemplo:

Quadro 5 – Balanço patrimonial para publicação

Ativo 2008 2007 Passivo e patrimônio líquido 2008 2007


Ativo circulante Passivo circulante
Passivo não circulante
Ativo não circulante
Patrimônio líquido
Total de ativos Total de passivos + Patrimônio líquido

Fonte: Iudícibus (2009, adaptado)

Quadro 6 – Balanço patrimonial para análise

Ativo 2007 2008 Passivo e patrimônio líquido 2007 2008


Ativo circulante Passivo circulante
Passivo não circulante
Ativo não circulante
Patrimônio líquido
Total de ativos Total de passivos + Patrimônio líquido

Fonte: Iudícibus (2009, adaptado)

46
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Quanto aos ajustes das contas patrimoniais, a finalidade está em apresentar o balanço patrimonial
o mais próximo de sua realidade, por exemplo:

• Duplicatas descontadas: essa conta será registrada no balanço patrimonial, no ativo, subgrupo
circulante, como redutora da conta de duplicatas a receber, por evidenciar que parte (ou total) dos
direitos advindos das vendas a prazo foi recebida antecipadamente por meio de uma operação
bancária. Porém, para fins de análise, a conta de duplicatas descontadas deverá ser reclassificada
para o lado do passivo, subgrupo circulante, por representar uma dívida da empresa perante a
instituição financeira.
• Despesas antecipadas: essa conta também pertence ao ativo, subgrupo circulante, por representar
despesas pagas ou assumidas, mas que ainda não ocorreram; o exemplo típico para essa conta
são os prêmios de seguros pagos antecipadamente. Porém, para fins de análises, são despesas que
afetarão o resultado da empresa, ou seja, reduzirão o lucro; assim, essa conta será reclassificada
para o patrimônio líquido como redutora.
• Operações entre empresas do mesmo grupo: as diversas operações entre empresa do mesmo
grupo, como compras, vendas, empréstimos etc., quando ocorrerem a prazo, com vencimento de
um ano a contar da data do encerramento do balanço patrimonial, deverão ser registradas no
subgrupo do circulante. Contabilmente, a classificação está correta, porém, para fins de análise,
independentemente do prazo estipulado na negociação, operações a prazo entre empresas do
mesmo grupo deverão sempre ser reclassificadas para o não circulante, entendendo que o não
pagamento e/ou recebimento das operações dentro do prazo não levará a empresa credora a
efetuar protestos.

4.3 Índices-padrão

Os índices-padrão, ou quocientes-padrão, são quocientes alcançados a partir de cálculos das


demonstrações financeiras de diversas empresas que exercem o mesmo ramo de atividade e que tenham
um porte semelhante. A partir daí, são utilizados os procedimentos da estatística para apurar um índice-
padrão que servirá de parâmetro para análise financeira de empresas que pertençam a essa atividade.

Lembrete

Os índices-padrão servem ao propósito de apresentar indicadores/


parâmetros de mercado aos usuários da informação contábil.

A revista Exame, anualmente (sempre no mês de julho), edita o exemplar “Melhores & Maiores”, que,
a partir das análises financeiras sobre as demonstrações contábeis previamente recebidas, estabelece o
ranking das melhores empresas de acordo com o ramo de atividade, o porte da empresa e a região.

A escolha das melhores, a partir de 18 setores analisados da economia, segue a metodologia


determinada pela equipe técnica da revista, com atribuições de pesos. Na edição de julho/2009, foram
os seguintes pesos atribuídos:
47
Unidade II

• peso 10 para crescimento nas vendas: retrata o dinamismo da empresa no ano analisado, se
aumentou ou diminuiu sua participação no mercado e sua capacidade de, expandindo-se, gerar
novos empregos;
• peso 15 para investimento no imobilizado: apresenta o valor que está sendo aplicado pela empresa
na modernização e/ou na ampliação de suas instalações, o que também é indicador de geração de
empregos direta ou indiretamente;
• peso 15 para liderança de mercado: compara as participações de mercado que as empresas detêm
no setor em que atuam e estabelece uma classificação entre elas;
• peso 20 para liquidez corrente: indica se a empresa apresenta ou não boa saúde financeira, ou
seja, se está operando com segurança no curto prazo ou dentro de seu ciclo operacional;
• peso 25 para rentabilidade do patrimônio: mede a eficiência da empresa, o controle de custos e o
aproveitamento das oportunidades que surgem no mundo dos negócios, sendo um dos principais
componentes da geração de valor para os acionistas. Recebem pontos apenas as empresas cujo
índice de rentabilidade tenha sido positivo no ano considerado. A rentabilidade do patrimônio
é utilizada como critério de desempate entre empresas que apresentem o mesmo número de
pontos no desempenho geral;
• peso 15 para riqueza criada por empregado: mede quanto a empresa produz de riqueza em relação
ao número de empregados, independentemente do volume total de vendas ou da margem de
lucro;
• bônus: além da pontuação nos indicadores de desempenho, recebem 50 pontos cada uma
das 20 empresas-modelo da última edição do Guia Exame de Sustentabilidade; outros 50
pontos são dados a cada uma das dez primeiras listadas no último Guia Exame – As 150
Melhores Empresas para Você Trabalhar; e 25 pontos para cada uma das demais destacadas.
As empresas que não publicam ou não enviam demonstrações contábeis não fazem jus a esse
bônus.

Por essas informações trazidas da revista Exame, vemos o quanto é importante a análise de balanço,
não só para demonstrar o desempenho das empresas, mas principalmente para colocá-las em destaque
no mercado de atuação.

4.3.1 Utilização do índice-padrão para análise comparativa

Matarazzo (1998, p. 195) afirma que, para quem se defronta com as demonstrações contábeis e quer
delas tirar alguma informação, não basta somente a apuração dos indicadores financeiros; é necessária a
comparação com outras empresas do mesmo ramo e porte, e isso só é possível por meio da comparação
com os índices-padrão. O autor continua:

A análise de balanços por meio dos índices só adquire consistência e


objetividade quando os índices são comparados com padrão, pois, do
contrário, as conclusões se sujeitam à opinião e, não raro, ao humor do
analista de balanços (MATARAZZO, 1998, p. 195).
48
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

A elaboração do índice-padrão só será possível por meio das técnicas utilizadas pela estatística,
uma vez que o índice encontrado deverá representar o ramo de atividade no qual se concentra nossa
comparação. Matarazzo (1998, p. 199) resume os procedimentos estatísticos para apuração dos índices-
padrão assim:

• Separam-se as empresas em ramos de atividades, agrupando-as em portes: grandes, pequenas e


médias.
• De cada empresa, dentro de um mesmo ramo e porte, toma-se determinado índice
financeiro.
• Os índices assim obtidos são colocados em ordem crescente de grandeza.
• Os índices-padrão são dados pelos decis (apurados por meio da mediana).

Importante: para elaborar uma tabela completa de índices-padrão, o segundo, o terceiro e o quarto
procedimentos devem ser aplicados para cada um dos índices financeiros.

Exemplo:

Apuração do índice-padrão de liquidez corrente para empresas do ramo industrial de tintas e


vernizes (Matarazzo, 1998, pp. 198-9):

1) Foram tomadas 30 empresas do ramo de tintas e vernizes, que apresentam os seguintes índices
de liquidez corrente:

1,76 – 0,89 – 1,01 – 1,40 – 1,80 – 1,05 – 1,14 – 1,22 – 1,13 – 1,66 – 1,80 – 1,54 – 1,34 – 1,43 – 1,60
– 1,20 – 1,26 – 1,09 – 1,50 – 1,82 – 1,07 – 0,93 – 1,11 – 1,21 – 1,70 – 0,82 – 1,47 – 1,24 – 1,18 – 1,30

2) O primeiro passo para encontrar os decis e a mediana desse conjunto é colocá-lo em ordem de
grandeza crescente:

0,80 – 0,82 – 0,89 – 0,93 – 1,01 – 1,05 – 1,07 – 1,09 – 1,11 – 1,13 – 1,14 – 1,18 – 1,20 – 1,21 –
1,22 – 1,24 – 1,26 – 1,30 – 1,34 – 1,40 – 1,43 – 1,47 – 1,50 – 1,54 – 1,60 – 1,66 – 1,70 – 1,76
– 1,80 – 1,82

3) Conforme definição, o primeiro decil é o valor que deixa 10% dos elementos do conjunto abaixo
de si e 90% acima. Como neste exemplo o conjunto tem 30 elementos, o primeiro decil deixa
três elementos abaixo de si (3 = 10% x 30) e 27 elementos acima. Portanto, deve ser um número
superior a 0,89 (que é o terceiro elemento do conjunto na ordem de grandeza) e inferior a 0,93 (a
fim de deixar 27 elementos acima de si). O primeiro decil é obtido por meio da média aritmética
dos valores do terceiro e quarto elementos:

0,89 + 0,93
------------------------- = 0,91
2

49
Unidade II

4) Demais decis: adotando procedimento análogo para os demais decis, encontram-se os seguintes
valores:

2º decil = 1,06 (média entre 1,05 e 1,07)


3º decil = 1,12 (média entre 1,11 e 1,13)
4º decil = 1,19 (média entre 1,18 e 1,20)
5º decil = 1,23 (média entre 1,22 e 1,24)
6º decil = 1,32 (média entre 1,30 e 1,34)
7º decil = 1,45 (média entre 1,43 e 1,47)
8º decil = 1,57 (média entre 1,54 e 1,60)
9º decil = 1,73 (média entre 1,70 e 1,76)

5) O índice-padrão para o indicador financeiro liquidez corrente será a mediana da série, ou seja,
o quinto elemento = 1,23:

Quadro 7

1º. 2º. 3º. 4º. 5º. 6º. 7º. 8º. 9º.


- - - - - - - - - - - - - - - - - -
0,91 1,06 1,12 1,19 1,23 1,32 1,45 1,57 1,73

A Unidade III foi reservada para a apuração da análise financeira do balanço patrimonial e da
demonstração do resultado do exercício; para tanto, utilizaremos as demonstrações oficiais da empresa
Souza Cruz S/A do exercício 2008, devidamente adaptadas consoante a legislação atual – Leis 11.638/07
e 11.941/09.

A Souza Cruz S/A é uma tradicional empresa da área de tabacos, de capital inglês. Seus dados foram
obtidos em 30/4/20091.

Resumo

Esta unidade traz para os alunos conhecimentos sobre a estrutura


das demonstrações contábeis – que envolve conhecer as estrutura dos
demonstrativos contábeis, considerando as alterações recentes no balanço
patrimonial, que, em conjunto com o DRE, são os principais demonstrativos
para serem analisados pela gestão financeira. Para que a análise seja

1 
Dados disponíveis em: <http://www.souzacruz.com.br/group/sites/sou_7uvf24.nsf/vwPagesWebLive/
DO7X7MUC/$FILE/medMD82LRZJ.pdf?openelement>. Acesso em: 30/04/2009.
50
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

precisa, é necessário conhecer a legislação e os aspectos técnicos de análise


e estruturação contábil.

Deve-se atuar de maneira padronizada para facilitar a utilização por


parte de todos os envolvidos com tomada de decisões na empresa.

Exercícios

Questão 1. (Adaptada CRC - Exame de Suficiência, 2011 – Questão 1).

Acerca das demonstrações contábeis, julgue os itens a seguir e, em seguida, assinale a opção
correta.

I. O recebimento de caixa resultante da venda de ativo imobilizado e intangível é apresentado na


demonstração dos fluxos de caixa como atividade operacional.
II. No balanço patrimonial, os ativos mantidos com o propósito de serem negociados classificam-se
no grupo do ativo circulante.
III. Uma empresa que realize uma operação de venda do seu estoque por R$ 21.000,00, que
foi adquirido por R$ 11.000,00 e que ainda tenha incorrido em comissões sobre venda no
valor total de R$2.000,00, apresentará na demonstração do resultado um lucro bruto de R$
8.000,00.

Está(ão) certo(s) apenas o(s) item(ns):

A) I e II.
B) II e III.
C) II.
D) III.
E) I, II e III.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I. Afirmativa incorreta.

Justificativa: a atividade operacional de uma empresa é a atividade essencial para o seu funcionamento,
portanto, o recebimento de um valor relacionado ao ativo imobilizado estará incorreto, como afirma o
item I.

51
Unidade II

II. Afirmativa correta.

Justificativa: o item II está correto, pois no ativo circulante temos elementos que serão negociados
em um prazo curto. Estaria no realizável em longo prazo se não fosse a intenção da empresa negociá-los
neste momento.

III. Afirmativa incorreta.

Justificativa: o item III está errado por não considerar a depreciação.

Questão 2. (Enade, Ano 2009, Ciências Contábeis – Questão 15). A empresa XYZ adquire mercadorias
para revenda, com promessa de pagamento em três parcelas iguais, sendo a primeira parcela com
vencimento para 30 dias. Qual o efeito do registro contábil dessa operação na data da aquisição?

A) Altera o resultado do exercício.


B) Gera uma receita futura.
C) Mantém o ativo inalterado.
D) Mantém o passivo inalterado.
E) Mantém o patrimônio líquido inalterado.

Resolução desta questão na plataforma.

52
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Unidade III
5 ANÁLISE VERTICAL E HORIZONTAL

5.1 Conceito e aplicação

Esse método de análise permite avaliações mais precisas e interpretações mais adequadas sobre
a estrutura e a tendência dos números de uma empresa. Quanto à análise vertical, por exemplo, o
propósito inicial é indicar a participação relativa de cada item de uma demonstração financeira em
relação a determinado referencial. Ao passo que, com a análise horizontal, é feito um exame detalhado
da evolução histórica de uma série de valores (SILVA, 2008).

5.2 Análise vertical

Para Assaf Neto (2007), essa análise se constitui em um processo puramente comparativo,
desenvolvido dessa forma por meio de comparações relativas entre rubricas (valores) relacionáveis
dentro de uma mesma demonstração contábil. São trabalhados nessa análise valores relativos, ou
seja, esses valores são considerados percentualmente para as proporções existentes entre as diversas
contas.

Silva (2008) exemplifica que, no balanço patrimonial, é usual a determinação de quanto por
cento representa cada conta (rubrica) ou grupo de contas em relação ao ativo total. Dessa forma,
em cada ano, para que se calculem os percentuais da coluna da análise vertical, divide-se o valor
da rubrica que se pretende analisar pelo valor-base e se multiplica por 100. Geralmente, o valor
base no balanço patrimonial é o ativo total, e na demonstração de resultado do exercício é a receita
líquida de vendas.

Análise vertical: fornece os resultados em percentuais e assim fixa em 100% um valor que se
quer tomar como referência; desta forma, o percentual de conta mostra sua real importância no
conjunto.

Para o balanço patrimonial, o total do ativo e do passivo será fixado em 100%, e daí se fará a
relação de cada conta em relação a esse conjunto.

Fórmula do cálculo na análise vertical para o caso do balanço patrimonial:

Valor da conta
-------------------------------------------------------- *100 = Análise vertical %
Total do ativo ou passivo

53
Unidade III

Exemplo:

Disponível 2008 969,30


------------------------------------------- *100 -------------------- *100 = 26,82%
Total do ativo 2008 3.613,70

Comentário da análise relativa à conta disponível:

A conta disponibilidade representa 26% do total do ativo, enquanto em 2007 representava 19%.
Em outras palavras, a cada R$ 100,00 investidos no ativo em 2008, R$ 26,00 estavam em disponível,
enquanto em 2007 o valor do disponível representava R$ 19,00 dos R$ 100,00 investidos no ativo.

Souza Cruz S/A


CNPJ 33.009.911/0001-39
Balanço Patrimonial - 31 de dezembro - em milhões de reais

Tabela 11

Ativo 2007 AV% 2008 AV% AH%


Ativo circulante
Disponibilidades 619,40 19,19% 969,30 26,82% 56,49%
Contas a receber 486,80 15,08% 478,20 13,23% -1,17%
Estoques 874,90 27,11% 833,90 23,08% -4,69%
Tributos a recuperar 18,50 0,57% 23,10 0,64% 24,86%
Despesas antecipadas 64,40 2,00% 71,50 1,98% 11,02%
Outros 29,80 0,92% 32,60 0,90% 9,40%
Total do ativo circulante 2.093,80 64,88% 2.408,60 66,65% 15,03%
Ativo não circulante
Contas a receber 13,80 0,43% 13,80 0,38% 0,00%
Estoques 16,40 0,51% 3,30 0,09% -79,88%
Tributos a recuperar 12,80 0,40% 16,20 0,45% 26,56%
Imp. de renda e cont. social diferidos 184,00 5,70% 177,70 4,92% -3,42%
Empréstimos a receber 20,10 0,62% 27,70 0,77% 37,81%
Depósitos judiciais 70,00 2,17% 81,30 2,25% 16,14%
Despesas antecipadas 49,20 1,52% 45,00 1,25% -8,54%
Invest. soc. cont. coligadas 3,60 0,11% 4,20 0,12% 16,67%
Imobilizado 676,10 20,95% 745,80 20,64% 10,31%
Intangível 76,10 2,36% 83,50 2,31% 9,72%
Outros 11,30 0,35% 6,60 0,18% -41,59%
Total do ativo não circulante 1.133,40 35,12% 1.205,10 33,35% 6,33%
Total do ativo 3.227,20 100% 3.613,70 100% 11,98%

Disponível em: <http://www.souzacruz.com.br/group/sites/sou_7uvf24.nsf/vwPagesWebLive/DO7X7MUC/$FILE/


1 

medMD82LRZJ.pdf?openelement>. Acesso em 30/04/2009.


54
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Tabela 22

Passivo 2007 AV% 2008 AV% AH%


Passivo circulante
Empréstimos e financiamento 205,60 6,37% 51,70 1,43% -74,85%
Fornecedores 91,70 2,84% 81,50 2,26% -11,12%
Imp. de renda e cont. social 71,90 2,23% 58,90 1,63% -18,08%
Tributos a recolher sobre vendas 298,70 9,26% 376,60 10,42% 26,08%
Remuneração dos acionistas 32,60 1,01% 36,10 1,00% 10,74%
Salários e encargos sociais 137,20 4,25% 173,60 4,80% 26,53%
Adiantamentos de clientes 86,10 2,67% 60,30 1,67% -29,97%
Provisões para contingências 8,20 0,25% 0,30 0,01% -96,34%
Provisões operacionais 73,10 2,27% 66,80 1,85% -8,62%
Outras contas a pagar 96,30 2,98% 81,70 2,26% -15,16%
Total do passivo circulante 1.101,40 34,13% 987,50 27,33% -10,34%
Passivo não circulante
Sociedade ligada
Provisões para contingências 107,90 3,34% 140,90 3,90% 30,58%
Provisões operacionais 47,00 1,46% 48,10 1,33% 2,34%
Tributos a recolher e outras contas 25,00 0,77% 12,20 0,34% -51,20%
Imp. de renda e cont. social diferidos 0,10 0,00% 0,10 0,00% 0,00%
Incentivos fiscais 281,90 8,74% 296,60 8,21% 5,21%
Total do passivo não circulante 461,90 14,31% 497,90 13,78% 7,79%
Patrimônio líquido
Capital social realizado 625,30 19,38% 625,30 17,30% 0,00%
Reservas de capital 1,90 0,06% 1,90 0,05% 0,00%
Reservas de lucros 341,70 10,59% 342,30 9,47% 0,18%
Ajustes de avaliação patrimonial (82,90) -2,57% 56,30 1,56% -167,91%
Lucros acumulados 777,90 24,10% 1.102,50 30,51% 41,73%
Total do patrimônio líquido 1.663,90 51,56% 2.128,30 58,90% 27,91%
Total do passivo e patrimônio líquido 3.227,20 100% 3.613,70 100% 11,98%

Para a demonstração de resultado do exercício, a base de referência será a receita líquida de venda,
que terá seu valor fixado em 100%, e assim cada conta será a ela relacionada.

Fórmula para a demonstração de resultado do exercício:

Valor da conta
------------------------------------- *100 = Análise vertical %
Receita líquida

  Disponível em: <http://www.souzacruz.com.br/group/sites/sou_7uvf24.nsf/vwPagesWebLive/DO7X7MUC/$FILE/


2

medMD82LRZJ.pdf?openelement>. Acesso em 30/04/2009.


55
Unidade III

Exemplo:

Despesas gerais e administrativas em 2007


---------------------------------------------------------------------------------------------- *100 = Análise vertical %
Receita líquida

826,40
------------------- *100 = 17,05 %
4.846,70

Comentário da análise vertical relativa a despesas gerais e administrativas:

A conta despesas gerais e administrativas da Souza Cruz, em 2007, representou 17% e diminuiu para
14% em 2008, em relação à receita líquida. Em outras palavras, a cada R$ 100,00 de vendas líquidas, em
2007, R$ 17,00 foram gastos com despesas gerais e administrativas; já em 2008, o gasto foi de R$ 14,00.

Importante: o uso da análise vertical na demonstração de resultado é um grande aliado para a


análise de orçamentos, por evidenciar a relação das despesas com a receita líquida obtida.

Souza Cruz S/A


CNPJ 33.009.911/0001-39
31 de dezembro - em milhões de reais

Tabela 33
Demonstração de resultado do exercício 2007 AV% 2008 AV% AH%
Receita líquida das vendas 4.846,70 100% 5.300,60 100% 9,37%
Custo dos produtos vendidos 2.166,60 44,70% 2.287,10 43,15% 5,56%
Lucro bruto 2.680,10 55,30% 3.013,50 56,85% 12,44%
Despesas (receitas) operacionais
Com vendas 641,20 13,23% 722,10 13,62% 12,62%
Gerais e administrativas 826,40 17,05% 770,10 14,53% -6,81%
Outras receitas operacionais líquidas (96,60) -1,99% (82,20) -1,55% -14,91%
Lucro operacional 1.309,10 27,01% 1.603,50 30,25% 22,49%
Resultado financeiro
Receitas financeiras 111,70 2,30% 84,40 1,59% -24,44%
Despesas financeiras (51,70) -1,07% (40,80) -0,77% -21,08%
Receitas com variações cambiais líq. 21,10 0,44% 40,50 0,76 91,94%
Resultado de equivalência patrimonial 3,50 0,07% 8,60 0,16 145,71%
Lucro antes do imp. de renda e da cont. social 1.393,70 28,76% 1.696,20 32,00% 21,70%
Imposto de renda e cont. social
Corrente 390,00 8,05% 442,50 8,35% 13,46%
Diferido (29,90) -0,62% 4,10 0,08% -113,71%
Lucro líquido do exercício 1.033,60 21,33% 1.249,60 23,57% 20,90%

  Disponível em: <http://www.souzacruz.com.br/group/sites/sou_7uvf24.nsf/vwPagesWebLive/DO7X7MUC/$FILE/


3

medMD82LRZJ.pdf?openelement>. Acesso em 30/04/2009.


56
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Silva (2008) destaca que essa simples identificação da representatividade percentual de um item do
ativo ou do passivo, ou ainda da demonstração de resultado do exercício em relação a um determinado
referencial, muitas vezes não é suficiente para possibilitar ao analista tirar alguma conclusão sobre a
situação da empresa.

Lembrete

A análise vertical contribui para uma verificação mais apurada do


desempenho econômico-financeiro de uma empresa.

Assim, observar a tendência da representatividade de um determinado item ao longo de dois ou mais


exercícios é um processo que auxilia o analista a perceber possíveis mudanças realizadas na estrutura do
balanço patrimonial ou da demonstração de resultado do exercício.

Neste sentido, a análise horizontal é a ferramenta que complementa as possíveis conclusões auferidas
na análise vertical.

5.3 Análise horizontal

Tradicionalmente, na análise horizontal, por se tratar de uma comparação entre períodos


distintos de tempo, o primeiro exercício (ano) da série é tomado como base 100, o que permite
observar, dessa forma, a evolução dos demais exercícios comparando-os a essa base inicial
(SILVA, 2008).

Essa análise permite que se avalie a evolução dos vários itens de


cada demonstração financeira em intervalos sequenciais de tempo.
Por exemplo, as evoluções de vendas e dos lucros brutos de uma
empresa, verificadas nos últimos três anos, são facilmente avaliadas
e interpretadas mediante o estudo da análise horizontal aplicada às
demonstrações de resultados referentes aos períodos considerados
(ASSAF NETO, 2007, p. 111).

Análise horizontal ou de evolução também é conhecida como análise de tendência. Esse tipo de
análise mostra a variação (crescimento ou decréscimo) dos itens dos demonstrativos contábeis de um
período para outro, objetivando caracterizar tendências.

Sua sistematização de cálculo é bastante simples, tanto para o balanço patrimonial quanto para a
demonstração de resultado: consiste em fixar o período contábil mais antigo em 100% e dividir os itens
do período subsequente por ele, utilizando-se as informações a seguir para encontrar a evolução de
cada conta.

57
Unidade III

O índice do ano-base é 100, e os anos subsequentes são expressos em relação ao ano-base.

Exemplo:

Quadro 8
X0 X1 X2
Duplicatas a receber R$ 120 R$ 130 R$ 140

Por meio da regra de três simples, encontramos a evolução, com base em 100, para X1 e X2:

Quadro 9
X1 X2
120 – 100 120 – 100
130 – xxx 140 – xxx

X1 = (130 x 100) / 120 = 108,33


X2 = (140 x 100) / 120 = 116,66

Então, teremos:

Quadro 10
X0 X1 X2
Duplicatas a receber R$ 120 R$ 130 R$ 140
Evolução 100 108 116

A evolução da conta disponibilidades:

Quadro 11
Ativo 2007 AV% 2008 AV% AH%
Disponibilidades 619,40 19,19% 969,30 26,82% 56,49%

No exemplo da Souza Cruz, temos:

Quadro 12
2007 2008
619,19 – 969,30 X = 56,49%
100 – x

Esse mesmo cálculo vale para a demonstração do resultado do exercício.

Cada um dos índices obtidos com a análise horizontal fornece a ideia de sua própria evolução em
determinado espaço de tempo, o que pode indicar a sua medida de crescimento.
58
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Porém, Silva (2008) alerta para a necessidade de se compreender o cenário econômico em que se encontra
a empresa analisada; uma vez que a análise horizontal demonstra uma evolução histórica, tais conclusões a seu
respeito somente seriam válidas em um ambiente econômico de estabilidade no decorrer do período avaliado.

Lembrete

O tempo é um indicador importante para a construção da análise


horizontal. Baseando-se em períodos de tempo comparados, é possível
verificar a evolução ou não de uma empresa, sob a ótica financeira.

6 INDICADORES FINANCEIROS

6.1 Conceito e aplicação

A técnica mais usual utilizada na análise financeira é aquela concentrada na apuração de índices
financeiros (ou índices econômico-financeiros). Esses índices são extraídos, por sua vez, basicamente,
das duas principais demonstrações: balanço patrimonial e demonstração de resultado do exercício.

Com o intuito de facilitar a compreensão dos significados dos indicadores e para estabelecer uma
metodologia adequada de avaliação dos diversos aspectos de desempenho que uma empresa pode
apresentar, os índices são, geralmente, divididos em grupos homogêneos de análise. Nesta seção, serão
tratados os índices de lucratividade, estrutura e liquidez.

Observação

Os índices financeiros enriquecem a análise dos demonstrativos contábeis,


ao permitir uma observação específica a determinadas dimensões da empresa.

Índices, ou quocientes, como alguns autores preferem denominar, indicam relações entre contas, ou
grupos de contas com outras contas ou grupo de contas.

Índice é, pois, o resultado da operação de divisão entre contas ou grupos de contas, resultado este
que pode ser informado na forma de índice ou de percentual.

Após a obtenção de um índice, não podemos afirmar de imediato se ele é ruim, regular ou bom. O
índice obtido não é a análise em si. Esta se dará a partir da obtenção de um conjunto de índices suficientes
para se fazer juízo da demonstração analisada. É necessário, portanto, quando tratarmos com índice:

• compará-lo com índices do setor de atividade da empresa (padrão);


• verificar se ele foi apurado de forma consistente;
• examinar uma série histórica (vários exercícios).
59
Unidade III

Em análise de balanço, os índices podem ser divididos em dois grandes grupos:

Índices financeiros, compreendendo os seguintes grupos:

• índices de liquidez;
• índices de endividamento;
• índices de atividades.

Índices econômicos, compreendendo o seguinte grupo:

• índice de rentabilidade.

Para que possamos ter uma visão adequada da sistemática de cálculo dos índices e da informação
que eles contêm, calcularemos os índices aqui demonstrados com base nos balanços patrimoniais e nas
demonstrações dos resultados dos exercícios dos anos de 2007 e 2008 da empresa Souza Cruz S/A.

6.2 Índices de liquidez

Idealmente, uma empresa deve possuir uma boa capacidade de pagamento de suas obrigações,
em outras palavras, deve possuir habilidade em cumprir corretamente seus compromissos assumidos.
Dessa forma, quando a empresa possui tal habilidade ou capacidade, o termo usado frequentemente na
literatura é de que a empresa possui liquidez. Assim, os indicadores de liquidez procuram demonstrar se
a empresa avaliada possui essa habilidade.

Os índices de liquidez têm como objetivo demonstrar a capacidade da empresa de saldar suas
obrigações com terceiros em geral, ou seja, pagar seus passivos.

Trabalharemos para a obtenção desses índices com os ativos circulantes e não circulantes (contas
do realizável em longo prazo) e passivos circulantes e não circulantes (contas do exigível em longo
prazo).

Para o grupo de índices de liquidez, são necessárias as seguintes contas do ativo:

Souza Cruz S.A


CNPJ 33.009.911/0001-39
Balanço patrimonial - 31 de dezembro - em milhões de reais

Quadro 13

Ativo 2007 2008


Ativo circulante 2.093,80 2.408,60
Ativo não circulante 366,30 365,00

60
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Quadro 14

Passivo 2007 2008


Passivo circulante 1.101,40 987,50
Passivo não circulante 461,90 497,90

6.2.1 Liquidez geral

Quadro 15

Índice de liquidez geral 2007 2008


At. circ. + RLP 2.460,10 2.773,60
----------------------------------- = ILG ----------------------- = 1,57 ------------------------ = 1,87
Pas. circ. + ELP 1.563,30 1.485,40

Indica quanto a empresa possui de ativo circulante mais o realizável em longo prazo para cada
unidade monetária de dívida geral (passivo circulante mais o exigível em longo prazo). Interpretação:
quanto maior, melhor.

6.2.2 Liquidez corrente

Quadro 16

Índice de liquidez corrente 2007 2008


Ativo circulante 2.093,80 2.408,60
----------------------------------------- = ILC ----------------------- = 1,90 ----------------------- = 2,44
Passivo circulante 1.101,40 987,50

Indica quanto a empresa possui de ativo circulante para cada unidade monetária de passivo
circulante.

No exemplo, temos para o ano 2007: para cada R$ 1,00 de passivo circulante, a empresa tem R$ 1,90
de ativo circulante; em 2008, para cada R$ 1,00 do passivo circulante, tem-se R$ 2,44 de ativo circulante.

Interpretação: quanto maior a capacidade de pagamento, melhor para a empresa, ou seja, quanto
maior o índice, melhor.

6.2.3 Liquidez imediata

Quadro 17

Índice de liquidez imediata 2007 2008


Disponibilidade 619,40 969,30
----------------------------------------- = ILI ---------------------- = 0,56 ------------------- = 0,98
Passivo circulante 1.101,40 987,50

Indica o quanto a empresa possui de disponibilidade imediata para cada unidade monetária de
passivo circulante.
61
Unidade III

Interpretação: depende, pois, apesar de ser um índice financeiro, a liquidez imediata não se enquadra
na regra quanto maior, melhor, por ser um índice sem muita expressão, pois compara dinheiro com
valores que vencerão em datas variadas, embora em curto prazo.

Índices de liquidez imediata altos em época de inflação significam, certamente, que a empresa
estará perdendo dinheiro.

No caso da Souza Cruz, temos que, em 2007, para cada R$ 1,00 de dívida, havia R$ 0,56 de disponível,
enquanto em 2008 houve melhora para R$ 0,98.

6.2.4 Liquidez seca

Quadro 18

Índice de liquidez seca 2007 2008


Ativo circ. - estoques 1.218,90 1.574,70
-------------------------------------------------- = ILS ---------------------- = 1,11 ------------------- = 0,98
Passivo circulante 1.101,40 987,50

Indica o quanto a empresa possui de ativo circulante líquido para cada unidade monetária de passivo
circulante. A exclusão da conta estoque da fórmula é necessária, uma vez que há incerteza sobre quando
os estoques serão vendidos – pode levar dias, meses ou anos.

Demonstra que a Souza Cruz, no ano de 2007, tinha, para R$ 1,00 de dívida, R$ 1,11; em 2008, sua
capacidade de pagamento aumentou para R$ 1,59.

Quadro 19 – Resumo: índices de liquidez da Souza Cruz dos anos de 2007 e 2008

Índices de liquidez - resumo 2007 2008


Liquidez geral 1,57 1,87
Liquidez corrente 1,90 2,44
Liquidez imediata 1,11 1,59
Liquidez seca 0,56 0,98

Saiba mais

Sobre o assunto, recomendamos a leitura do livro Contabilidade


empresarial, de José Carlos Marion (Atlas, São Paulo, 2001). Nesse livro,
além das demais informações ali contidas, é possível encontrar as demais
denominações e serventia para o Doar.

62
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

6.3 Índices de endividamento

Segundo Silva (2008), são considerados como índices de estrutura aqueles que relacionam a
composição de capitais (próprios e de terceiros), que mensuram os níveis de imobilização de recursos
e evidenciam as relações na estrutura da dívida da empresa. Nessa análise, são verificadas as decisões
financeiras de financiamento e investimento.

Índices de endividamento ou índices de estrutura de capital mostram a composição e a aplicação


dos recursos da empresa.

Já aprendemos que o ativo (aplicação de recursos) é financiado por capitais de terceiros (passivo
circulante e não circulante) e por capitais próprios (patrimônio líquido), sendo, portanto, os capitais de
terceiros e os capitais próprios as origens de recursos.

As contas necessárias à determinação dos índices de endividamento são as seguintes:

Quadro 20

Contas 2007 2008


Total do passivo circulante 1.101,40 987,50
Total do passivo não circulante 461,90 497,90
Total do patrimônio líquido 1.663,90 2.128,30

6.3.1 Participação de capitais de terceiros

Quadro 21

Participação de capital de terceiros 2007 2008


Pas. circ. + Pas. ELP 1.563,30 1.485,40
---------------------------------------------------- = PCT ---------------------- = 0,94 --------------------- = 0,70
Patrimônio líquido 1.663,90 2.128,30

Indica quanto a empresa tomou de capitais de terceiros para cada unidade monetária de capital
próprio.

Interpretação: quanto menor, melhor. Em 2007, a Souza Cruz teve, de capital de terceiros, R$ 0,94
para cada R$ 1,00 de capital próprio, diminuindo para R$ 0,70 em 2008.

A relação indica quanto a empresa possui, percentualmente, de recursos de terceiros (de curto e
longo prazos) para cada unidade monetária investida com capital próprio.

De modo geral, resultados superiores a 100% indicam maior dependência da empresa avaliada por
capitais de terceiros (ASSAF NETO, 2007).

63
Unidade III

6.3.2 Composição do endividamento

Quadro 22

Composição do endividamento 2007 2008


Passivo circulante 1.101,40 987,50
---------------------------------------------------- = CE ---------------------- = 0,70 --------------------- = 0,66
Patrimônio líquido 1.563,30 1.485,40

Indica quanto as dívidas de curto prazo representam para cada unidade monetária do total da dívida
com terceiros.

Interpretação: quanto menor, melhor. Para cada R$ 1,00 de divida total no ano de 2008, tem-se R$
0,66 de dívida de curto prazo, e, no ano de 2007, R$ 0,70 na Souza Cruz.

6.3.3 Garantia do capital próprio

Quadro 23

Garantia de capital próprio 2007 2008


Patrimônio líquido 1.663,90 2.128,30
------------------------------------------- = GCT ---------------------- = 1,06 --------------------- = 1,43
Pas. circ. + ELP 1.563,30 1.485,40

Indica quanto a empresa tem de capital próprio para cada unidade monetária de capitais de terceiros.

Interpretação: quanto maior, melhor. Na Souza Cruz, em 2008, para cada R$ 1,00 de capital de
terceiros, a empresa tem R$ 1,43; em 2007, R$ 1,06.

Quadro 24 – Resumo: índices de endividamento da Souza Cruz dos anos de 2007 e 2008

Índices de endividamento - resumo 2007 2008


Participação de capital de terceiros 0,94 0,70
Composição do endividamento 0,70 0,66
Garantia de capital próprio 1,06 1,43

6.4 Índices de atividade

Nesse grupo, estudaremos quantos dias a empresa demora, em média, para receber suas vendas,
pagar suas compras e renovar seus estoques.

Para Assaf Neto (2007), os indicadores de atividade mensuram as diversas durações das possíveis
etapas presentes no ciclo operacional da empresa.

Esse ciclo envolve todas as fases operacionais típicas de uma empresa, podendo apresentar variações
consequentes à natureza específica da empresa (industrial, comercial e prestadora de serviços). Essas

64
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

fases, por sua vez, vão desde a aquisição de insumos básicos ou compra de mercadorias até o efetivo
recebimento das vendas realizadas.

Observação

Nas fórmulas dos índices de atividades, serão sempre usados valores


médios (duplicatas a receber, estoques, fornecedores).
Compra (Pedido)

(Recebimento)
Armazenagem

Recebimento
Venda
Espera PME (15 dias) PMC (25 dias)

Ciclo operacional total (40 dias)

PMP Ciclo de caixa ou financeiro


(20 dias) (20 dias)

Figura 3 – O ciclo operacional

Prazo Médio de Recebimento (PMR)

Prazo Médio de Estoque (PME)

Prazo Médio de Pagamento (PMP)

Ciclo financeiro = PMR + PME – PMP

Souza Cruz S/A


CNPJ 33.009.911/0001 -39

Tabela 4

Contas 2007 2008


Duplicatas a receber 486,80 478,20
Estoques 874,90 833,90
Fornecedores 91,70 81,50
Receitas 4.846,70 5.300,60
Custos das vendas 2.166,60 2.287,10
Compras 1.078,60 1.027,10

65
Unidade III

Nota: não será possível calcular os prazos médios de 2007, por não termos os dados de 2006.

Saiba mais

Para maior aprofundamento nas técnicas e na análise financeira de


empresas, recomendamos a consulta ao livro de Rodney Wernke, Gestão
financeira: ênfase em aplicações e casos nacionais (ed. Saraiva, São Paulo,
2008), e à obra Análise financeira de balanços (6. ed., ed. Atlas, São Paulo,
2008), de Dante C. Matarazzo.

6.4.1 Prazo Médio de Recebimento (PMR)

Indica quantos dias, em média, a empresa leva para receber suas vendas. Assim, o volume de
duplicatas a receber é consequente de dois fatores essenciais: (i) montante de vendas a prazo e (ii) prazo
concedido aos clientes para pagamento (SILVA, 2008).

As vendas a prazo seguem uma política de crédito adotada pela empresa,


que seja adequada ao seu tipo de atividade. Há diferenças fundamentais nos
padrões para concessão de utilizados por empresas diferentes, especialmente
quando atuantes em ramos de atividades diferentes. Para empresas de
atividades semelhantes, os padrões de crédito tendem a ser parecidos [...]
(SILVA, 2008, p. 202).

Quadro 25

Prazo médio de recebimento 2008


Duplicatas a receber média 482,50
------------------------------------------------------------- * 360 = PMR ---------------------- = 32,77
Vendas brutas 5.300,60

Duplicatas a receber médias = (486,80 + 478,20) / 2 = 482,50

Indica quantos dias, em média, a empresa espera para receber suas vendas. Interpretação:
quanto menor, melhor. Em 2008, a Souza Cruz aguardava, em média, 32 dias para receber suas
vendas.

A análise de risco, neste caso, indica que, quanto maior for o prazo de recebimento das vendas, pior
será a sua avaliação. Silva (2008) ressalta que as mesmas considerações sobre sazonalidades aplicadas
ao PMRE devem ser aplicadas ao PMRV. Assaf Neto (2007) também destaca que a empresa deve abreviar
sempre que possível o prazo médio de cobrança.

66
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

6.4.2 Prazo Médio de Pagamento (PMP)

Quadro 26

Prazo médio de pagamento 2008


Fornecedores médios 86,60
------------------------------------------------- * 360 = PMP ---------------------- = 32,77
Compras 1.027,10

Fornecedores médios = (91,70 + 87,50) / 2 = 86,60

Indica quantos dias, em média, a empresa espera para pagar suas compras. Interpretação: quanto
maior, melhor. No ano de 2008, a Souza Cruz levou, em média, 30 dias para efetuar seus pagamentos.

6.4.3 Prazo Médio de Estoques (PME)

Segundo Assaf Neto (2007), indica o tempo médio necessário para a completa renovação dos
estoques da empresa. Silva (2008) argumenta que, do ponto de vista da análise de risco, esse é um
índice do tipo quanto maior, pior, porém uma análise conjunta envolvendo os prazos de recebimentos
das vendas e pagamento das compras é bastante conveniente nesse caso.

Quadro 27

Prazo médio de estoques 2008


Estoques médios 854,40
------------------------------------------- * 360 = PME ---------------------- = 134,49
Custos das vendas 2.287,10

Estoques médios = (874,90 + 833,90) / 2 = 854,40

Indica quantos dias, em média, a empresa leva para vender seus estoques. Interpretação: quanto
menor, melhor. O giro dos estoques da Souza Cruz leva 134 dias, demonstrando ser inadequado no ano
de 2008.

Cabe lembrar que, em razão de trabalharmos na fórmula de cálculo


do PMRE com os estoques das datas encerramento dos balanços, caso
a empresa tenha algum tipo de sazonalidade em suas atividades, o
resultado obtido poderá carregar alguma distorção. O ideal seria que
tivéssemos o valor dos estoques mensais para cálculo da média (SILVA,
2008, p. 201).

Assaf Neto (2007) explica que, ao se fazer a divisão de 360 pelo prazo de estocagem, tem-se o
giro (rotação) dos estoques, o que sugere o número de vezes que os estoques se renovam no período
avaliado.

67
Unidade III

6.4.4 Resumo dos índices de atividade

Quadro 28

Índice de endividamento - resumo 2008


Prazo médio de recebimento (PMR) 32
Prazo médio de pagamento (PMP) 30
Prazo médio de estoque (PME) 134
Ciclo financeiro (PMR + PME – PMP) 136

Verificamos que a Souza Cruz tem um ciclo financeiro de 136 dias, ou seja, o número de dias que leva
entre comprar (pagar) seus estoques, renová-los por vendas e receber esse montante.

Lembrete

Alguns dos índices, como os de atividade, medem a capacidade


operacional da empresa e seu tempo de resposta em relação às demandas
de mercado.

Resumo

Ampliando a análise feita pelos gestores financeiros, trouxemos aqui a


discussão sobre análise horizontal e vertical. A primeira avalia a evolução
de uma conta no tempo, enquanto a segunda mensura o peso de uma
conta em relação a um total. É importante que se observem os detalhes de
realização das análises no DRE, pois a base de referência é o faturamento
ou as vendas. Discute-se ainda a utilização de indicadores de liquidez,
de atividades e endividamento, que, quando bem utilizados, têm papel
importantíssimo nas tomadas de decisões empresariais.

Exercícios

Questão 1. (Adaptada CRC-Exame de Suficiência, 2011 – Questão 9). Em relação às notas explicativas
e às demonstrações contábeis, assinale a opção incorreta.

A) A entidade deve divulgar nas notas explicativas as fontes principais da incerteza das estimativas
à data do balanço que tenham risco significativo de provocar modificação material nos valores
contábeis de ativos e passivos durante o próximo.
B) A entidade deve divulgar no resumo de políticas contábeis significativas as bases de
mensuração utilizadas na elaboração das demonstrações contábeis e outras políticas
68
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

contábeis utilizadas que sejam relevantes para a compreensão das demonstrações


contábeis.
C) Informação adicional que não tenha sido apresentada nas demonstrações contábeis, mas que seja
relevante para sua compreensão, deve ser apresentada nas notas explicativas.
D) Políticas contábeis inadequadas podem ser retificadas por meio da divulgação das políticas
contábeis utilizadas ou por notas ou qualquer outra divulgação explicativa.
E) Informação relevante que não tenha sido apresentada nas demonstrações contábeis, mas
considerada necessária, deve ser apresentada nas notas explicativas.

Resposta incorreta: alternativa D.

A) Alternativa correta.

Justificativa: as alternativas A e B estão corretas, pois demonstram que as políticas contábeis devem
ser mencionadas quando relevantes para a tomada de decisão.

B) Alternativa correta.

Justificativa: as alternativas A e B estão corretas, pois demonstram que as políticas contábeis devem
ser mencionadas quando relevantes para a tomada de decisão.

C) Alternativa correta.

Justificativa: as alternativas C e E enfatizam que não podemos subestimar informações não


mencionadas, e as notas explicativas completam a nossa análise.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: as políticas contábeis não são retificadas pelas notas explicativas, mas sim pelas normas;
por esse motivo, não podemos aceitar a alternativa D.

E) Alternativa correta.

Justificativa: as alternativas C e E enfatizam que não podemos subestimar informações não


mencionadas, e as notas explicativas completam a nossa análise.

Questão 2. (Enade Ano 2009, Ciências Contábeis – Questão 32). Nos trabalhos realizados por um
auditor independente, identificaram-se vários procedimentos adotados pela Cia. Calada. No decorrer
dos trabalhos, os seguintes fatos foram encontrados:

I. A provisão para crédito de liquidação duvidosa foi constituída tendo como base o índice de
inadimplência apresentado nos últimos cinco anos.

69
Unidade III

II. O registro das receitas foi realizado pelo regime de caixa.


III. As taxas de depreciação foram calculadas pelo método da soma dos dígitos, diferentemente do
último exercício, em que foi adotado o método das cotas constantes, sem evidenciar em notas
explicativas.
IV. Os estoques estavam avaliados acima do valor de mercado, sem a provisão correspondente.
V. As despesas pagas antecipadamente foram registradas como ativo circulante.

Diante dos fatos encontrados na Cia. Calada, sob o ponto de vista da condução do trabalho de
auditoria, a conduta correta do auditor independente responsável será:

A) Considerar como não relevantes todos os fatos encontrados.


B) Oferecer serviço de consultoria para corrigir os fatos encontrados.
C) Solicitar da empresa correções para os fatos I, II e V.
D) Solicitar da empresa correções para os fatos II, III e IV.
E) Solicitar da empresa correções para todos os fatos encontrados.

Resolução desta questão na Plataforma.

70
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Unidade IV
7 INDICADORES COMPLEMENTARES

7.1 Indicadores econômicos

Antes da análise da lucratividade, Silva (2008) argumenta que, geralmente, na análise de desempenho,
a ênfase é dada para as vendas da empresa em um determinado período, comparativamente ao período
anterior e ao desempenho de seus concorrentes. Sobre esse aspecto apresentado, a análise horizontal é
uma excelente ferramenta para medirmos a evolução das receitas.

Lembrete

Os indicadores econômicos representam a interpretação dos recursos


investidos pela empresa ao longo do tempo.

Os estudos setoriais possibilitam comparações de evolução das vendas da empresa com a evolução
dos concorrentes. Dessa forma, o conhecimento prévio e a compreensão adequada desses fatores
facilitam o entendimento, consequentemente, da lucratividade da empresa.

Assaf Neto (2007) afirma que esses indicadores procuram avaliar os resultados conquistados por
uma empresa em relação a determinados parâmetros que melhor revelem a verdadeira dimensão desses
resultados. Sendo assim, as principais bases de comparação adotadas para o estudo dos resultados
organizacionais são: o ativo total, o patrimônio líquido e as receitas de vendas.

Os índices de retorno, também conhecidos por índices de lucratividade ou


mesmo de rentabilidade, indicam qual o retorno que o empreendimento
está propiciando. Podem-se obter, por meio da análise das demonstrações
financeiras, os indicadores de retorno sobre o investimento, retorno sobre
vendas e retorno sobre o capital próprio, entre outros (SILVA, 2008, p. 189)

Indicadores econômicos são aqueles que mostram as margens de lucro (rentabilidade), de retorno do
capital investido e a velocidade das operações realizadas.

7.1.1 Taxa de retorno sobre o investimento

Essa medida revela a rentabilidade, o retorno produzido (em termos percentuais) pelo total das
aplicações realizadas por uma empresa em seus ativos. Em outras palavras, o retorno sobre o ativo indica
a lucratividade que a empresa apresenta em relação aos seus investimentos totais (SILVA, 2008).
71
Unidade IV

Quadro 29

Taxa de retorno sobre o investimento 2008


Lucro líquido 1.249,60
----------------------------------------- = ---------------------- = 0,37
Ativo total médio 3.420,45

Ativo total médio = (3.227,20 + 3.613,70) / 2 = 3.420,45

Indica o percentual que o lucro líquido representa para cada unidade monetária de ativo médio.
Interpretação: quanto maior, melhor. Considerando a situação da Souza Cruz, temos que o lucro líquido
representa 37% do ativo médio do ano de 2008.

Silva (2008) avalia superficialmente que a interpretação do retorno sobre o ativo é no sentido de que
“quanto maior, melhor”, enquanto Assaf Neto (2007) argumenta que, como critério de decisão, o RSA
pode ser interpretado como o custo máximo que a empresa pode aceitar em suas captações de recursos
financeiros.

Observação

Uma empresa não deve assumir um compromisso (empréstimo ou


financiamento) que exija uma taxa de retorno superior a sua taxa de
retorno sobre o ativo, uma vez que o seu empreendimento não produz
uma lucratividade adequada ao financiamento proposto.

7.1.2 Taxa de retorno sobre o patrimônio líquido

Esse índice mensura o retorno dos investimentos aplicados dos acionistas ou proprietários da
empresa, ou seja, o prêmio do investidor pelo risco de seu negócio. É obtido, por sua vez, pela relação
entre o lucro líquido e o patrimônio líquido.

Quadro 30

Taxa de retorno sobre o patrimônio líquido 2008


Lucro líquido 1.249,60
--------------------------------------------------------- = ---------------------- = 0,66
Patrimônio líquido médio 1.896,10

Patrimônio líquido médio = (1.663,90 + 2.128,30) / 2 = 1.896,10

Indica o percentual que o lucro líquido representa para cada unidade monetária do patrimônio
líquido. Interpretação: quanto maior, melhor. Esse índice mede o poder de ganho dos proprietários, ou
seja, para cada R$ 1,00 investido, há um ganho de R$ 0,66. Portanto, aproximadamente, haverá um
retorno em dois anos.

72
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Como vimos, esse índice oferece o tempo que os proprietários teriam para obterem de volta o capital
investido. Observamos que não existe uma taxa considerada ideal, porém é interessante observarmos os
concorrentes, e uma coisa é certa: um bom índice será aquele que apresentar alguns pontos percentuais
superiores à taxa de juros do mercado.

7.1.3 Margem líquida

Esse indicador é capaz de medir a eficiência de uma empresa em produzir lucro por meio de suas
vendas. O Índice de Retorno sobre as Vendas (RSV) relaciona o lucro líquido às vendas líquidas de um
mesmo período, fornecendo assim o percentual de lucro que a empresa está obtendo em relação ao seu
faturamento (SILVA, 2008).

Quadro 31

Margem líquida 2007 2008


Lucro líquido 1.033,60 1.249,60
--------------------------------------- * 100 = ---------------------- * 100 = 21,3% ---------------------- * 100 = 23,6%
Receitas líquidas 4.846,70 5.300,60

Indica o percentual de lucro líquido em cada unidade monetária vendida. Interpretação: quanto
maior, melhor. Poderíamos também calcular:

• a margem operacional, bastando para isso colocarmos no numerador do índice o valor do lucro
operacional;
• a margem bruta, bastando para isso colocarmos no numerador do índice o valor do lucro bruto.

Observação

Tanto para a margem líquida quanto para a margem operacional, quanto


maior for o índice, melhor será a sua avaliação. Assaf Neto (2007) lembra
que esses índices são observados da mesma forma na análise vertical da
demonstração de resultado do exercício.

Saiba mais

Aprimore seus conhecimentos acerca da análise de balanços,


notadamente da análise horizontal das demonstrações financeiras, seguida
da análise vertical. Consulte o livro de Dante Carmine Matarazzo, Análise
financeira de balanços: abordagem básica e gerencial (São Paulo, Editora
Atlas, 2003). Nele, você encontrará diversos exemplos de uso de tais análises.

73
Unidade IV

7.1.4 Giro do ativo

Estabelece a capacidade dos ativos em gerar vendas; em outras palavras, é a relação entre as vendas
efetuadas e os investimentos totais da empresa (SILVA, 2008).

Quadro 32

Giro do ativo 2008


Vendas líquidas 5.300,60
----------------------------------------- = ---------------------- = 1,55
Ativo total médio 3.420,45

Ativo total médio = (3.227,20 + 3.613,70) / 2 = 3.420,45

Indica quanto foi vendido para cada unidade monetária de investimento total médio. Interpretação:
quanto maior, melhor. Esse índice mostra que o ativo “girou” uma vez e meia no ano de 2008 pelas
vendas.

O giro do ativo evidencia quantas unidades monetárias foram captadas pela receita de vendas para
cada unidade monetária que foi investida no ativo total da empresa. Silva (2008) exemplifica que, caso
o giro do ativo de uma determinada empresa tenha resultado em 0,87, esse valor mostra que, para cada
$ 100,00 do ativo total, aquela empresa vendeu $ 87,00.

7.1.5 Modelo de análise do retorno sobre o ativo (sistema Du Pont)

O chamado sistema Du Pont, ou modelo de análise do retorno sobre o ativo, consiste, basicamente,
na decomposição do Retorno sobre o Ativo Total (RSA). A figura a seguir demonstra o diagrama desse
método.

Vendas
Lucro líquido
Margem –
líquida Custos e
: despesas
Vendas
RSA
Vendas
Ativo
Giro do ativo circulante
:
Total de
ativos +
Ativo não
circulante
Figura 4 – Diagrama do método Du Pont

O diagrama evidencia que o índice de retorno sobre o ativo se altera à medida que outras alterações
ocorram, mesmo em itens do ativo, no balanço patrimonial, por exemplo, o ativo permanente, o realizável
74
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

em longo prazo, ou ainda o ativo circulante. Mudanças nas vendas ou nos custos e despesas, da mesma
forma, podem influenciar o resultado do RSA.

Em suma, o estudo do desempenho de uma empresa, por meio de um


diagrama completo de indicadores de giro e margem, relacionados de forma
sequencial, é de grande importância para a identificação das efetivas causas
do comportamento verificado, permitindo-se ainda que se identifiquem
objetivamente as medidas mais carentes de atenção por parte da gerência
da empresa (ASSAF NETO, 2007, p. 131).

Silva (2008) destaca que o estudo do diagrama que decompõe o retorno sobre o ativo mostra uma
inter-relação entre a margem líquida e o giro do ativo, e que os dois índices são dependentes entre si,
uma vez que existe interação de um sobre o outro.

7.1.6 Análise de ações

Assaf Neto (2007) argumenta que esses indicadores pretendem mensurar e avaliar o impacto do
desempenho da empresa sobre as suas ações e servem de parâmetro de apoio para as análises do
mercado de ações, fornecendo, assim, fundamentos para as decisões de investimentos.

7.1.6.1 Lucro por ação

Esse índice ilustra o lucro observado em determinado período para cada ação emitida pela empresa,
isto é, do lucro líquido obtido, quanto compete a cada ação. Assaf Neto (2007) ressalta que esse indicador
não revela o quanto cada acionista irá efetivamente receber em dividendos. A equação a seguir ilustra
esse conceito.

Lucro líquido
LPA = --------------------------------------------------------------
Número de ações emitidas

7.1.6.2 Índice preço/lucro

Segundo Assaf Neto (2007), este se constitui em um dos quocientes mais tradicionais do processo
de análise de ações e é amplamente utilizado no mercado acionário. A equação que segue descreve o
seu cálculo.

Preço de mercado da ação


P/L = --------------------------------------------------------------
Lucro por ação

Na teoria, esse indicador evidencia quanto tempo (período) um investimento em determinada ação
tardaria em recuperar o capital aplicado. Porém, este ainda é um índice estático, enquanto o mercado
de ações é extremamente dinâmico.

75
Unidade IV

O fato, ainda, de o LPA não representar os dividendos, de fato, que o investidor recolhe ao término de
cada período também não ilustra com exatidão o período de retorno esperado para aquele investimento
(ASSAF NETO, 2007).

7.2 Indicadores de insolvência

7.2.1 Conceito e aplicação

Os indicadores de insolvência ou fórmulas de previsão de falências são discutidos por diversos


autores, por apresentarem dados subjetivos em sua constituição.

Também conhecida como “termômetro de insolvência”, essa ferramenta analítica utiliza métodos
estatísticos quantitativos para auxiliar o gestor de crédito justamente na concessão de créditos aos seus
clientes. A técnica estatística da análise discriminante, utilizada com frequência nestes casos, incorpora
os índices financeiros de lucratividade, estrutura, liquidez e atividade, para compor um modelo que,
estatisticamente, tenha a capacidade de prever a probabilidade de insolvência para um período futuro
previamente determinado pelo próprio modelo (IUDÍCIBUS et al., 2006).

Lembrete

Os indicadores de insolvência complementam a análise financeira,


servindo de confrontação aos indicadores internos (financeiros) e externos
(mercado) da empresa/entidade.

Silva (2008) ressalta que diversos estudos foram realizados no Brasil, a partir de experiências
positivas anteriores que foram desenvolvidas no exterior, também com o propósito de prever situações
de insolvência.

Entre os principais estudos feitos no Brasil, Silva (2008) e Iudícibus et al. (2006) destacam a análise
discriminante de Stephen C. Kanitz, que construiu o chamado “termômetro de insolvência”.

Segundo Matarazzo (1998, p. 245), as fórmulas mais conhecidas e desenvolvidas por autores
brasileiros são:

Kanitz:

FI = 0,05x1 + 1,65x2 + 3,55x3 – 1,06x4 – 0,33x5


FI = Fator de insolvência = Total dos pontos obtidos
X1 = Lucro líquido / Patrimônio líquido
X2 = Ativo circulante + Realizável em longo prazo / Exigível total
X3 = Ativo circulante – Estoques / Passivo circulante
X4 = Ativo circulante / Passivo circulante
X5 = Exigível total / Patrimônio líquido
76
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

Classificação:

FI inferior a -3 → Insolvente
FI entre -3 e 0 → Indefinida
FI acima de 0 → Solvente

Diversos outros modelos foram desenvolvidos nesta área. Porém, Silva (2008) ressalta que este é um
critério de análise baseado na objetividade, e não na subjetividade do analista.

Esse fator é de grande relevância, pois, em grandes empresas, é possível colher dados mais precisos
e numerosos para a obtenção dos índices financeiros, enquanto em pequenas empresas as informações
quantitativas tendem a ser deficientes; assim, tal deficiência precisa ser compensada por informações
qualitativas.

Portanto, em empresas grandes ou pequenas, a decisão de crédito envolve os fatores quantitativos


e qualitativos.

Altman (dois modelos):

Z1 = 1,44 + 4,03x2 + 2,25x3 + 0,14x4 + 0,42x5


Z2 = 1,84 – 0,51x1 + 6,32x3 + 0,71x4 + 0,53x5
Z1 ou Z2 = Total dos pontos obtidos
X1 = Ativo circulante – Passivo circulante / Ativo total
X2 = Reservas e lucros suspensos / Ativo total

Lucro líquido + Despesas financeiras + Imposto de renda

X3 = Ativo total
X4 = Patrimônio líquido / Exigível total
X5 = Vendas / Ativo total

Classificação (para os dois modelos)

Total de pontos = 0 → Insolvente

Elizabetsky:

Z = 1,93x32 – 0,20x33 + 1,02x35 + 1,33x36 – 1,12x37


Z = Total dos pontos obtidos
X32 = Lucro líquido / Vendas
X33 = Disponível / Ativo permanente
X35 = Contas a receber / Ativo total
X36 = Estoque / Ativo total
X37 = Passivo circulante / Ativo total
77
Unidade IV

Classificação:

Total de pontos = 0,5 → Insolvente

Matias:

Z = 23,792x1 – 8,26x2 – 9,868x3 – 0,764x4 – 0,535x5 + 9,912x6


Z = Total dos pontos obtidos
X1 = Patrimônio líquido / Ativo total
X2 = Financiamento e Empréstimos bancários / Ativo circulante
X3 = Fornecedores / Ativo total
X4 = Ativo circulante / Passivo circulante
X5 = Lucro operacional / Lucro bruto
X6 = Disponível / Ativo total

Classificação:

Total de pontos = 0 → Insolvente

Pereira:

Z = 0,722 – 5,124E23 + 11,016L19 – 0,342L21 – 0,048L26 + 8,605R13 – 0,004R29


Z = Total dos pontos obtidos
E23 = Duplicatas descontadas / Duplicatas a receber
L19 =Estoques (final) / Custo das mercadorias vendidas
L21 = Fornecedores / Vendas
L26 = Estoque médio / Custo das mercadorias vendidas
R13 = (Lucro operacional + Despesas financeiras) / (Ativo total – Investimento médio)
R29 = Exigível total / (Lucro líquido + 0,1 Imobilizado médio)

Classificação:

Total de pontos = Abaixo de 0 → Insolvente

Conforme demonstra Matarazzo (1998, p. 248), cada autor apresenta uma fórmula diferenciada do
outro; logo, os resultados também serão diferentes, então, não será possível chegarmos aos indicadores
de insolvência?

Entendemos que:

I. Os modelos apresentados não substituem a análise por meio dos índices tradicionais e devem ser
usados apenas complementarmente às conclusões destes últimos.

78
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

II. O uso da análise discriminante, uma das técnicas utilizadas na estatística, contribui para identificar
os índices e pesos a serem utilizados, conforme aponta Matarazzo (1998, p. 245), tomando-se
como base os índices apurados por meio da análise do balanço.

III. Em geral, as empresas não vão à falência da noite para o dia; começam a dar sinais de insolvência,
por exemplo, redução nas vendas, altos índices de inadimplência, constantes atrasos nos pagamentos
aos fornecedores e empregados, enfim, uma análise financeira anual contribuirá com a gestão
empresarial se as medidas apontadas no relatório de análise forem tomadas em tempo hábil.

8 RELATÓRIO DE ANÁLISE

8.1 Conceito e aplicação

Relatório de análise: trata-se do documento final da análise contendo as conclusões obtidas por
meio das análises vertical e horizontal, bem como sobre os indicadores financeiros e econômicos.

Esse relatório deverá ser elaborado pelo analista de balanço, porém deverá ser dirigido a cada
usuário das informações contábeis, uma vez que cada um deles terá uma necessidade diferente sobre
os resultados obtidos.

Lembrete

Os relatórios de análise contribuem para simplificar os dados produzidos


por meio de índices.

Para Ribeiro (2001, p. 188), alguns pontos devem ser considerados ao redigir um relatório de análise:

• Ser elaborado em linguagem inteligível para leigos, mesmo que alguns usuários possuam
conhecimentos contábeis.
• O analista deverá tomar o cuidado de não colocar suas opiniões pessoais sobre os resultados obtidos,
porém, com muito critério, poderá sugerir algumas ações que auxiliarão na tomada de decisão.
• Não há um tamanho padronizado para o relatório, mas deverão ser apresentados de forma clara e
objetiva a situação econômico-financeira da empresa e o seu desempenho ao longo dos períodos
analisados, bem como as tendências para o futuro. Devem ser esclarecidas, ainda, as causas
que proporcionaram o grau de endividamento, liquidez e rentabilidade encontrados, sejam eles
positivos ou negativos.
• Deverá constar também no relatório a comparação dos indicadores obtidos na análise em relação
aos padrões pertencentes ao ramo da empresa em questão.
• No relatório, não deverá constar o valor dos indicadores apurados em análise; estes deverão ser
acompanhados em planilhas que auxiliarão o usuário das informações para uma consulta, se for
o caso.
79
Unidade IV

Em seguida, a título de ilustração, apresentaremos como os dados apurados na análise de balanço


deverão ser transformados em informações:

Quadro 33 – Exemplo: indicadores de liquidez apurados na análise de balanço

Indicadores Índices Índices-padrão


Liquidez geral 1,42 1,20
Liquidez corrente 1,70 1,35
Liquidez seca 1,54 1,25

8.2 Dados que devem ser relatados

Situação de liquidez: o índice de liquidez geral foi de 1,42; esse índice mostra que, a cada R$ 100,00
de dívida, a empresa tem R$ 142,00 para pagar, sobrando, portanto, R$ 42,00, e ainda está acima do
índice-padrão da categoria, que, conforme apontado, é de 1,20; a liquidez corrente de 1,70 também está
acima do padrão de 1,35 e também indica que, a cada R$ 100,00 de dívida em curto prazo, a empresa
tem R$ 170,00 para pagar, sobrando R$ 70,00. Já a liquidez seca de 1,54 está abaixo da corrente de 1,70,
e ainda ficou inferior ao padrão de 1,25, mas podemos dizer que ainda há condições de pagar as dívidas
em curto prazo assumidas, uma vez que, a cada R$ 154,00, temos em contrapartida uma dívida de R$
100,00; logo, sobrarão R$ 54,00.

8.3 Transformando os dados em informações

Situação de liquidez: a empresa encontra-se bem estruturada sob o ponto de vista de solvência,
possuindo solidez financeira suficiente para cobrir seus compromissos de curto e de longo prazos, uma
vez que opera com todos os índices de liquidez acima do padrão de seus concorrentes.

Saiba mais

Para mais informações a respeito, consulte a obra Análise financeira de


balanços: abordagem básica e gerencial (São Paulo, Editora Atlas, 2003), de
Dante Carmine Matarazzo.

Resumo

Esta unidade buscou ampliar as discussões sobre análise das


demonstrações contábeis, apresentando os principais indicadores
utilizados no mercado. Podemos dizer que o grande objetivo da análise
dos demonstrativos contábeis é a elaboração dos relatórios de análise,
servirá assim de ferramenta gerencial para traçar o futuro da empresa. As

80
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

informações produzidas devem servir para o gestor financeiro de base, de


direção para avaliar a situação empresarial.

O gestor financeiro fará na empresa uma espécie de exame laboratorial,


e os números encontrados podem apontar o estado da saúde da empresa.

O objetivo principal deste material foi apresentar um referencial


consistente e abrangente sobre as principais demonstrações financeiras que a
contabilidade é capaz de produzir para as organizações, independentemente
de sua natureza.

Sendo assim, é possível notar que o balanço patrimonial manifesta uma


posição estática em certo momento da empresa, e que o próprio resultado
do exercício é demonstrado, de forma dedutiva, pela demonstração do
resultado do exercício.

Com relação à análise financeira, é preciso ressaltar que, mesmo com


todas as ferramentas apresentadas neste trabalho, tal análise não deve se
restringir apenas às demonstrações financeiras, uma vez que outros aspectos
importantes costumam afetar a situação financeira da empresa, fator que
indica e potencializa a necessidade de o analista também compreender
outras áreas do conhecimento, como economia, administração geral,
marketing e até mesmo algumas peculiaridades de direito.

Não se pretende aqui esgotar este assunto, mas apenas apresentar


uma visão geral acerca da contabilidade e suas principais demonstrações
financeiras.

Exercícios

Questão 1. (Adaptada CRC-Exame de Suficiência, 2011 – Questão 22). Relacione o indicador


econômico financeiro descrito na primeira coluna com exemplos de indicadores na segunda coluna e,
em seguida, assinale a opção correta:

(1) Indicadores de capacidade de ( ) Liquidez corrente, liquidez seca,


pagamento liquidez imediata, liquidez geral
e endividamento.

(2) Indicadores de atividade ( ) Prazo médio de recebimento,


prazo médio de pagamento, giro
de estoques, giro do ativo total.

81
Unidade IV

(3) Indicadores de rentabilidade ( ) Margem operacional sobre


vendas, margem líquida sobre
vendas, rentabilidade do
ativo total e rentabilidade do
patrimônio líquido.

A sequência correta é:

A) 2, 3, 1.
B) 3, 1.
C) 1, 3, 2.
D) 1, 2, 3.
E) 3, 2.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: não segue a ordem apresentada na alternativa D.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: não engloba os três grupos de índices.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: não segue a ordem apresentada na alternativa D.

D) Alternativa correta.

Justificativa: a alternativa D está correta, pois engloba os grupos de índices diferentemente das
alternativas B e E. Devemos considerar como correta a sequência de indicadores de pagamento,
indicadores de atividade e indicadores de rentabilidade, pois, no primeiro caso, demonstra-se a
capacidade de pagamento de uma empresa, isto é, sua disponibilidade para honrar os compromissos.
Após mensurarmos esse quesito, partimos para a avaliação do funcionamento das operações
essenciais para a sobrevivência da empresa, portanto, só neste momento podemos considerar os
indicadores de atividade. Com isso, entendemos que, se a empresa é capaz de realizar seus pagamentos
corretamente e de acordo o funcionamento de suas atividades primordiais, teremos condições de
avaliar a rentabilidade.

82
ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: não engloba os três grupos de índices.

Questão 2. (Enade Ano 2009, Ciências Contábeis – Questão 30). Leia as afirmativas:

Diretores financeiros são responsáveis por decisões acerca de como investir os recursos de uma
empresa para expandir seus negócios e sobre como obter tais recursos. Investidores são instituições
financeiras ou indivíduos que financiam os investimentos feitos pelas empresas e pelos governos.
Assim, decisões de investimento tomadas por diretores financeiros e investidores são, normalmente,
semelhantes.

As decisões de investimento dos diretores financeiros focalizam os ativos financeiros (ações e títulos
de dívidas), enquanto as decisões de investimento dos investidores focalizam ativos reais (edificações,
máquinas, computadores etc.).

Com base na leitura dessas frases, é correto afirmar que:

A) A primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira.


B) A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa.
C) As duas afirmações são falsas.
D) As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
E) As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira.

Resolução desta questão na Plataforma.

83
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanço. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. Adaptado.

Figura 2

RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanço. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. Adaptado.

Figura 3

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

Figura 4

SILVA, J. P. Gestão e análise de risco de crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

REFERÊNCIAS

Textuais

ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2004.

HERMANN Jr., F. Análise de balanço para administração financeira. 11. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

IUDÍCIBUS, S. Análise de balanços. São Paulo: Atlas, 2009.

IUDÍCIBUS, S.; MARION, J. C.; LOPES, C. C. V. M. L. Curso de contabilidade para não contadores. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2006.

MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998.

MORANTE, A. S. Contabilidade: noções para análise de resultados e balanço patrimonial da empresa.


São Paulo: Atlas, 2008.

PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. Análise das demonstrações financeiras. São Paulo: Thomsom, 2006.

RIBEIRO, O. M. Estrutura e análise de balanço. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

84
SILVA, J. P. Gestão e análise de risco de crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

WERNKE, R. Gestão financeira: ênfase em aplicações e casos nacionais. São Paulo: Saraiva, 2008.

Sites

<http://www.portaldecontabilidade.com.br>

<www.cpc.org.br>

<http://www.planalto.gov.br>

<http://www.souzacruz.com.br>

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88
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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