Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Católica de São Paulo, graduada em Ciências Contábeis pela
Universidade Católica de São Paulo, licenciada pela Faculdade de Educação Campos Salles e com curso de Controladoria,
Controle de Custos e Orçamentos - Programa de Educação Continuada para Executivos - pela Fundação Getúlio
Vargas. Tem experiência na área de contabilidade societária, contabilidade tributária, custos e controladoria exercendo
diversas funções de coordenação, contadora e gerente de contabilidade em grandes grupos empresariais nacionais e
multinacionais. Experiência na área acadêmica atuando nas disciplinas de contabilidade em geral, Custos e Análise
de Balanços em diversas instituições de ensino superior. Atualmente, é professor adjunto I da UNIP - Universidade
Paulista, ministrando as disciplinas de Contabilidade Societária, Contabilidade Financeira, Contabilidade Pública e
Planejamento Contábil Tributário.
Alexandre Saramelli
Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo
e mestre profissional em Controladoria pela mesma universidade. Atuou em empresas nacionais e internacionais de
médio e grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da
desenvolvedora alemã SAP.
Cristiane Nagai
Mestre em Contabilidade pela Universidade de São Paulo (2012), especialista em controladoria pela Fundação
Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap, 2007) e em ensino a distância (2011). Graduada em Direito e em Ciências
Contábeis pela UNIP (2005).
76 p., il.
CDU 657.15
U505.70 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Carla Moro
Amanda Casale
Juliana Muscovick
Sumário
Contabilidade Financeira
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8
Unidade I
1 AJUSTES DE REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS....................................................... 11
2 ESTIMATIVAS COMO CONTAS REDUTORAS DO ATIVO CIRCULANTE........................................... 13
2.1 Estimativa para créditos de liquidação duvidosa (ECLD)...................................................... 14
2.2 Estimativa para ajuste a valor de mercado dos estoques..................................................... 24
3 ESTIMATIVAS COMO CONTAS REDUTORAS DO ATIVO NÃO CIRCULANTE............................... 28
3.1 Perdas estimadas por valor não recuperável em investimentos não
circulantes: CPC 01 (R1) - Redução do valor recuperável de ativos........................................ 28
3.2 Perdas estimadas por valor não recuperável em imobilizado:
CPC 01 (R1) – Redução ao valor recuperável de ativos................................................................ 29
3.3 Perdas estimadas por valor não recuperável em intangível:
CPC 01 (R1) – Redução ao Valor Recuperável de Ativos.............................................................. 33
4 PROVISÕES COMO EXIGÍVEIS...................................................................................................................... 33
4.1 Provisões para contingências........................................................................................................... 35
4.2 Diferença entre provisão para contingências e reservas para contingência................ 35
Unidade II
5 OPERAÇÕES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL................................................................................... 41
5.1 Arrendamento mercantil.................................................................................................................... 42
5.1.1 Alcance do pronunciamento técnico CPC 06 (R2) – Arrendamentos................................ 44
5.1.2 Classificação de arrendamento.......................................................................................................... 44
5.2 Mensuração e reconhecimento do arrendamento mercantil no arrendatário........... 45
5.2.1 Isenção de reconhecimento................................................................................................................ 46
5.2.2 Contabilização do arrendamento mercantil no arrendatário................................................ 47
5.2.3 Exemplo de contabilização de arrendamento mercantil no arrendatário........................ 48
5.3 Mensuração e reconhecimento do arrendamento mercantil no arrendador............... 49
5.3.1 Arrendamento financeiro..................................................................................................................... 50
5.3.2 Arrendamento operacional................................................................................................................. 50
5.3.3 Contabilização do arrendamento mercantil no arrendador.................................................. 51
5.4 Contratos de aluguel – Tratamento como arrendamento mercantil............................... 51
6 LEASEBACK......................................................................................................................................................... 51
Unidade III
7 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (DVA).............................................................................. 58
8 INSTRUÇÕES PARA PREENCHIMENTO..................................................................................................... 62
APRESENTAÇÃO
O objetivo traçado para esta disciplina é o de proporcionar meios ao aluno para estudar assuntos
inerentes à atividade contábil, entre eles a questão das perdas estimadas como contas redutoras do ativo e
provisões como contas de passivos, considerando-se o processo de convergência da contabilidade brasileira
aos padrões internacionais. Trata, ainda, da contabilização de operações de arrendamento mercantil e seus
reflexos nas demonstrações contábeis da empresa arrendadora e da arrendatária, sendo que traz ainda a
Demonstração do Valor Adicionado.
A contabilidade financeira, de uma forma geral, é conhecida como uma contabilidade dedicada
ao usuário externo, que vai produzir as demonstrações contábeis/financeiras. Há diversos assuntos e
temas que devem fazer parte de uma demonstração contábil/financeira e que são estudados ao longo
de algumas disciplinas dessa área.
Muitos dos termos que são utilizados já foram estudados em outras disciplinas. Aqui, introduzem‑se
outros conhecimentos, com destaque para as operações de arrendamento mercantil, que a partir
de 2019 estão sob a vigência da versão R2 do CPC 06 - Operações de arrendamento mercantil.
O objetivo é que o aluno conheça como uma empresa deve proceder, de acordo com as leis e das
normas contábeis e entenda como aplicar esse conhecimento. Para tal, inseriram‑se alguns exercícios
resolvidos, para que o aluno tenha condições de entender o como fazer, ao mesmo tempo em que
entende o por que fazer.
A maior parte do conteúdo a ser abordado aplica-se a empresas de qualquer porte e/ou ramo e,
atualmente, com as normas internacionais de contabilidade, em praticamente todos os países que
aderiram a elas.
7
INTRODUÇÃO
Olá, aluno.
Imagino que você já deva estar bastante ansioso para começar a estudar esta disciplina e não é
para menos: trata-se de um dos assuntos que mais atraem a atenção dos profissionais da área. Mas
é preciso ter cuidado com o nome contabilidade financeira, pois nós não iremos tratar apenas de
assuntos financeiros, empréstimos, financiamentos, juros. O financeiro do qual estamos nos referindo
é uma contabilidade voltada a usuários externos da empresa, que mostra tópicos essenciais para a
boa administração de uma empresa. Por exemplo, será que a empresa gera valor adicionado durante o
desenvolvimento de suas atividades? Como e para quem esse valor adicionado gerado foi distribuído?
Surge aqui a necessidade de dizer a verdade, de mostrar o que realmente ocorreu na empresa. Então,
vamos estudar três tópicos que chamam a atenção para a boa execução dos negócios e geralmente
envolvem informações relevantes no processo decisório dos usuários da informação contábil: estimativas,
operações de arrendamento mercantil e demonstração do valor adicionado.
No que se refere às estimativas, sabe-se que as demonstrações contábeis das empresas devem
retratar o mais fielmente sua realidade econômico-financeira, visto que as informações servirão aos
mais diversos usuários (governo, acionistas, fornecedores, concorrentes). Os ativos da empresa devem
estar gravados no balanço patrimonial da companhia pelo seu valor de provável realização, resguardadas
suas respectivas regras, e todos os seus passivos deverão estar devidamente reconhecidos.
Em seguida, veremos o que são operações de arrendamento mercantil e seu reconhecimento nas
empresas arrendadoras e arrendatárias.
Por fim, será abordada a demonstração do valor adicionado, que se tornou obrigatória com o advento
da Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007, com efeito a partir de 2008.
Ao final deste estudo, espera-se que você tenha formado habilidades para lidar com esses três
tópicos de forma natural e saber agir, analisar, fazer julgamentos profissionais.
Todo e qualquer lugar pode ser um ambiente perfeito para estudar. Mas, para estudar da melhor
forma possível, cada um tem suas individualidades e manias. Há pessoas que conseguem absorver bem
um assunto a partir de uma simples leitura. Outros não têm muita paciência para ler e preferem fazer
exercícios. Há ainda os que têm predileção por livros coloridos, preenchidos com gráficos, elementos
visuais e resumos, ou aqueles que não gostam de teorias acadêmicas e dão preferência a livros que ilustrem
exemplos práticos e, assim, retratem o cotidiano empresarial. Desse modo, quando este trabalho foi
elaborado, pensou-se em mesclar estratégias de ensino para que ele se tornasse interessante. No entanto,
o que viria a ser um conteúdo interessante? O que seria um conteúdo chato? Essas respostas dependem
de sua postura como aluno. Por isso, a recomendação é: aproveite este livro-texto com olhos interessados.
8
É claro que você é livre para estudar da maneira que achar melhor e que acreditar ser mais eficiente.
Contudo, sugere-se que, antes de qualquer atitude, seu estudo seja iniciado pela bibliografia. Verifique
livros, artigos e referências que foram utilizados na elaboração deste livro-texto. Em seguida, percorra
as unidades, sempre fazendo as atividades propostas.
Esta disciplina vai lhe exigir bastante atenção. Como uma sugestão, recomenda‑se que você refaça
os exercícios propostos em seu caderno passo a passo, bem longe do livro-texto e depois compare o
seu exercício com o livro-texto. Recomenda‑se veementemente reservar algumas horas do seu tempo
exclusivamente para estudar contabilidade financeira. E quando eu digo exclusivamente, é exclusivamente
mesmo, não se dedique a mais nada, (evite atender ao telefone, receber mensagens, conversar com os
amigos nas redes sociais da internet, deixar a TV ligada em um noticiário, estar próximo a crianças ou
animais e a outras distrações). Isso pode parecer um absurdo para muitos, ainda mais na nossa era da
internet, mas os resultados serão satisfatórios.
Observação
Interaja sempre com os tutores, com seus colegas e com o professor nos
fóruns. Além disso, contribua com pesquisas, curiosidades e observações.
9
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Unidade I
1 AJUSTES DE REDUÇÃO AO VALOR RECUPERÁVEL DE ATIVOS
As demonstrações contábeis constituem fonte de informação da empresa para os mais diversos tipos
de interessados.
É por meio do balanço patrimonial, por exemplo, que um potencial acionista poderá constatar os
direitos e obrigações de uma empresa e o quanto esta poderá lhe render, caso se torne um acionista.
Assim, é de extrema importância que os valores constantes nesse demonstrativo não levem seus
usuários ao engano.
Tomemos como exemplo as contas patrimoniais duplicatas a receber ou clientes. Tais contas
representam valores a serem recebidos pela empresa, seja por mercadorias, produtos ou serviços
vendidos/prestados a prazo, ou ainda pela venda de qualquer outro direito ou bem vendido a prazo.
Ainda que de fato a empresa tenha esses valores a receber, representando, supostamente, ingressos
em seu caixa, a prática comercial indica que há a possibilidade de que dentro dessa conta clientes
inadimplentes estejam presentes. Em outras palavras, é possível que o valor a receber não seja
efetivamente recebido de clientes que estejam em precária situação financeira.
Conhecendo tal situação, não pode a empresa deixar de apresentar uma estimativa de modo a
corrigir tal conta ao seu provável valor de realização, de recebimento.
Observação
O mesmo ocorre quanto aos passivos da empresa. Supondo que a empresa seja parte em um processo
judicial trabalhista, em que a probabilidade de ser vencida é provável e o valor a ser despendido é mensurável
com suficiente segurança, tal valor deverá constar em seu passivo por meio de uma estimativa.
11
Unidade I
Assim, temos: estimativas de perdas que reduzem o valor do ativo, ou estimativas que aumentam as
obrigações (exigibilidades) da empresa.
À medida que deixam de ser estimativas, isto é, expectativas de perda de ativos ou expectativa de
obrigações, tornando-se totalmente definidas, o procedimento contábil correto é abandonar o conceito
de estimativa. As expectativas de obrigações, por exemplo, quando se tornam líquidas e certas, não são
estimativas e sim passivos genuínos (por exemplo, salários a pagar, ICMS a recolher).
Para que a informação contábil seja relevante e, portanto, útil no processo decisório dos usuários,
ela deve ser capaz de fazer diferença em seus julgamentos, ajudando-os a avaliar o impacto de eventos
passados, presentes ou futuros, seja confirmando ou corrigindo suas avaliações anteriores ou subsidiando
o usuário de informações para que possa fazer novas avaliações.
A informação contábil para ser fidedigna precisa atender a três atributos: ser completa, neutra e
livre de erros.
Deve-se entender informação completa no sentido de incluir toda a informação necessária para que
o usuário compreenda a situação financeira e o desempenho da entidade.
A informação será neutra se for imparcial, não podendo ser otimista ou pessimista em
relação às projeções futuras. No caso da constituição da estimativa de perdas com créditos de
liquidação duvidosa, por exemplo, não devemos constituí-la por um valor menor daquele que
12
CONTABILIDADE FINANCEIRA
temos evidência de que poderemos não receber (visão otimista) ou por um valor muito maior do
que o necessário (visão pessimista ou conservadorismo em excesso). A prudência na constituição
da estimativa deve estar sempre presente.
Será livre de erro a informação isenta de omissões, sem erros propriamente ditos, refletindo com
fidedignidade as transações efetuadas pela empresa.
• Tempestividade: uma informação será mais útil se estiver disponível para o usuário a tempo de
influenciar suas decisões. É a informação prestada em tempo oportuno para o usuário.
O CPC 00 também apresenta definições sobre o regime de competência que determina que as receitas
e despesas correlatas devem ser reconhecidas nos períodos a que se referem, independentemente do
recebimento ou pagamento.
Observação
Há determinados bens ou direitos classificados no ativo cujo valor real de realização é menor do que
aquele destacado contabilmente. Daí a necessidade de se constituir uma estimativa para reduzi-lo a um
valor que efetivamente possa ser realizado.
As estimativas que reduzem o ativo são, obviamente, contas credoras, visto que corrigem o saldo do
ativo que tem natureza devedora. A contrapartida na constituição de uma estimativa ativa será sempre
13
Unidade I
uma conta de despesa ou custo, indedutível para fins de cálculo do resultado tributável de imposto de
renda e contribuição social.
Quadro 1
Essa estimativa, também denominada Estimativa para Devedores Duvidosos, é constituída em função da
expectativa de perdas que a empresa suscita que possam ocorrer em virtude de ter efetuado vendas a prazo
(fato gerador contábil) e da possibilidade de nem todos os devedores honrarem seus compromissos.
Assim, as contas a receber devem ser avaliadas por seu valor líquido de realização, ou seja, pelo
produto final em dinheiro ou equivalente que se espera obter. Para tanto, devem-se baixar as contas
prescritas e constituir uma Estimativa para Crédito de Liquidação Duvidosa para cobertura das perdas
esperadas na cobrança das contas a receber, motivo pelo qual essa estimativa é classificada como
redução das contas a receber, para serem apresentadas por seu valor líquido realizável.
É nesse sentido que o inciso I do art. 183 da Lei n. 6.404/76, com alterações introduzidas pela
Lei n. 11.638/07, estabelece os critérios de avaliação desse ativo, indicando que serão excluídos os
direitos e títulos de créditos já prescritos, sendo feitas as estimativas adequadas para ajustá-lo ao
valor provável de realização.
A empresa, para estimar o valor de perda provável na realização de suas contas a receber, duplicatas
a receber ou clientes, considera, por exemplo, aspectos peculiares de sua clientela, a conjuntura
econômica do momento em que se está estimando o risco e o ramo de negócios em que atua, entre
outras variáveis. Há que se adotar um mecanismo de cálculo para a estimativa que melhor reflita o
que realmente pode vir a ocorrer em termos de perdas no recebimento, considerando a experiência
anterior da empresa com relação a prejuízos no recebimento de seus créditos. O critério adotado
pode ser, portanto, diferente para cada empresa.
De acordo com a Lei n. 9.430/96 (IN SRF 1.700/17), a despesa oriunda da constituição da estimativa
para créditos de liquidação duvidosa não é dedutível para fins de apuração da base tributável
14
CONTABILIDADE FINANCEIRA
I. Em relação aos quais tenha havido a declaração de insolvência do devedor, mediante sentença
emanada do Poder Judiciário.
c. Superior a R$100.000,00, por operação, vencidos há mais de um ano, desde que iniciados e
mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento.
IV. Contra devedor declarado falido ou pessoa jurídica em concordata ou recuperação judicial,
relativamente à parcela que exceder o valor que esta tenha se comprometido a pagar, observado
o disposto no § 8º. Caso a pessoa jurídica concordatária ou em recuperação judicial não honre o
compromisso do pagamento de parcela do crédito, esta também poderá ser deduzida como perda,
observadas as condições gerais para dedução das perdas (IN SRF n. 1.700 de 2017).
Para efeito da legislação fiscal, entende-se por créditos com garantia aqueles provenientes de vendas
com reserva de domínio, alienação fiduciária em garantia ou de operações com outras garantias reais,
conforme dispõe o art. 347, § 4º do Regulamento do Imposto de Renda de 2018 (RIR/18).
Observação
Suponha que uma empresa utilize, como forma de estimar suas perdas, um percentual que
considera sua experiência no recebimento de créditos provenientes de vendas realizadas a prazo
durante os últimos três anos.
Lembrete
Durante X8, a empresa realizou um total de $ 100.000 de vendas a prazo. Como as vendas se referem
ao período de X8, é nesse ano que deverá ser constituída a estimativa para fazer face às perdas que
poderão ocorrer no período seguinte – X9, observando, portanto, o regime de competência.
Tabela 1
16
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Lançamento 1
Quando se torna efetiva a perda estimada dos créditos gerados no período anterior, a contabilidade
deve providenciar a baixa do título. Continuando o exemplo anterior, suponha que da estimativa
constituída em X8, no valor de $700, de fato não foram recebidos em X9, $ 300. A contabilidade deverá,
portanto, em X9 providenciar a baixa do título por meio da seguinte partida de diário:
Lançamento 2
Lançamento 3
D – Caixa 300
C – Outras receitas operacionais
(recuperação de créditos) 300
17
Unidade I
Pode ocorrer que a estimativa com perdas no recebimento de créditos tenha sido constituída
por um valor maior do que o das perdas efetivas, restando, ao final do exercício, o saldo não
utilizado. Ainda considerando o exemplo anterior, percebe-se que restou um saldo não utilizado
de $ 400 ($ 700 – $ 300).
O procedimento considerado tecnicamente o mais correto a ser adotado, neste caso, é reverter o
saldo da conta de modo a zerá-la e constituir a estimativa para o ano seguinte. O lançamento a ser
efetuado seria:
Lançamento 4
Outra tratativa possível para o saldo não utilizado seria complementá-lo com a estimativa a ser
constituída para o ano seguinte. Assim, se a estimativa para o ano seguinte fosse de $ 900, por exemplo,
haveria apenas a complementação de $ 500. E, nesse caso, o lançamento contábil a ser efetuado seria:
Lançamento 5
Entretanto, assim como pode ocorrer da estimativa de perdas ter sido constituída por um valor maior
que o suficiente para cobrir as perdas com recebimento de créditos, o contrário também é verdadeiro,
isto é, pode ocorrer de o saldo estimado ter sido insuficiente para cobrir as perdas efetivas. Desse
modo, o procedimento a ser adotado é o lançamento diretamente para despesa, que acarretará efeito
no resultado do exercício em que se observou a perda efetiva no recebimento de créditos devido à
insuficiência da estimativa. O lançamento contábil, nesse caso, será:
18
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Considerando a situação de completar a Estimativa (sendo assim, não haveria o lançamento 4),
voltaremos com o saldo da Estimativa em 400
Exercício resolvido
Foi estimado, em 31/12/X7, que os débitos incobráveis da empresa Fonte S/A, nos últimos três anos,
correspondiam a 1,5% das vendas a prazo. Nesse dia, o saldo da conta Estimativa para créditos de
liquidação duvidosa, antes de ser ajustado, era de $ 98.270. As vendas a prazo, nesse mesmo ano,
totalizaram $ 10.570.000.
Propositadamente, não informamos os saldos iniciais para as contas de Duplicatas a receber e Caixa,
uma vez que o assunto abordado é o estudo sobre a Estimativa para créditos de liquidação duvidosa.
Janeiro – Foi recebida a notícia de que a empresa Abaeté Ltda. havia falido e, portanto, não pagaria
seu débito. Abaeté Ltda. devia uma duplicata no valor de $ 13.200.
Março – A empresa Iguape Ltda. enviou um cheque no valor de $ 2.810. Sua conta havia sido
considerada incobrável e baixada em X7.
Abril – A empresa Luna Ltda. pagou $ 75.000, que foram creditados em sua conta cujo saldo
devedor era de $ 91.300. Seus negócios não iam bem e a cobrança do restante da dívida foi considerada
totalmente impraticável.
19
Unidade I
Julho – O débito da empresa Amaralina & Cia., no total de $ 6.780, foi baixado como incobrável.
Agosto – O administrador da empresa Azul Ltda. informou à empresa Fonte S/A que seu sócio fugira
com o dinheiro de sua empresa e, por conseguinte, seria forçado a encerrar seu negócio sem condições
para liquidar seu débito de $ 4.300. Investigações posteriores confirmaram tais informações.
Novembro – Foram recebidos $ 1.100 do administrador da empresa Azul Ltda. por ter sido recuperada
uma parte do dinheiro roubado por seu sócio.
Dezembro – Várias duplicatas, de diversos clientes, no total de $ 9.800, foram baixadas como
incobráveis. As vendas a prazo do exercício de X8 somaram $ 17.600.000, e será utilizado o mesmo
percentual de 1,5% para nova constituição da Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa (ECLD).
Observação
Pede-se:
I – Preparar as partidas de diário para ajustar a conta estimativa para créditos de liquidação duvidosa
em 31/12/X7.
b. Ou complementar o saldo não utilizado com a nova estimativa para o ano seguinte.
II – Fazer as partidas de diário das operações e de ajustes da conta de estimativa relativas a X8.
III – Encerrar a(s) conta(s) de resultado(s) e apurar o ARE – Apuração do Resultado do Exercício
Observação: transportar as partidas de diário para o razão.
Resolução
I – Preparar as partidas de diário para ajustar a conta estimativa para créditos de liquidação duvidosa
em 31/12/X7.
20
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Em 31/12/20X7 restava na conta ECLD um saldo não utilizado de $ 98.270. A estimativa para
as perdas que poderão ocorrer no ano seguinte sobre as vendas a prazo realizadas em 20X7 é
de $ 158.550 ($ 10.570.000 x 0,015). Os procedimentos a serem adotados quanto ao saldo não
utilizado são os seguintes:
Lançamento 1
Constituição da nova estimativa considerando as vendas a prazo realizadas em 20X7 que serão
recebidas em 20X8:
Lançamento 2
II - Fazer as partidas de diário das operações e de ajustes da conta de Estimativa relativas a X8.
Janeiro – Foi recebida a notícia de que a empresa Abaeté Ltda. havia falido e, portanto, não pagaria
seu débito. Abaeté Ltda. devia uma duplicata no valor de $ 13.200.
Lançamento 3
21
Unidade I
Março – A empresa Iguape Ltda. enviou um cheque no valor de $ 2.810. Sua conta havia sido
considerada incobrável e baixada em X7.
Lançamento 4
D – Caixa/Bancos 2.810
Comentário: nesse caso, não há que se creditar a conta Duplicatas a receber, visto que esse
procedimento já foi adotado quando o crédito foi considerado incobrável em X7.
C = Duplicatas a receber
Abril – A empresa Luna Ltda. pagou $ 75.000 dos $ 91.300 que devia à empresa Fonte Ltda. Seus
negócios não iam bem e a cobrança do restante da dívida foi considerada totalmente impraticável.
Lançamento 5
D – Caixa/Bancos 75.000
Julho – O débito da empresa Amaralina & Cia., no total de $ 6.780, foi baixado como incobrável.
Lançamento 6
Agosto – O administrador da empresa Azul Ltda. informou à empresa Fonte S/A que seu sócio fugira
com o dinheiro de sua empresa e, por conseguinte, seria forçado a encerrar seu negócio sem condições
para liquidar seu débito de $ 4.300. Investigações posteriores confirmaram tais informações.
Lançamento 7
Novembro – Foram recebidos $ 1.100 do administrador da empresa Azul Ltda. por ter sido recuperada
uma parte do dinheiro roubado por seu sócio.
Lançamento 8
D – Caixa/Bancos 1.100
Quando um crédito é considerado incobrável e a recuperação deste crédito ocorre no mesmo exercício
social, podemos creditar a conta redutora do ativo fazendo uma espécie de estorno do lançamento.
Dezembro – Várias duplicatas, de diversos clientes, no total de $ 9.800, foram baixadas como
incobráveis. As vendas a prazo do exercício de X8 somaram $ 17.600.000.
Lançamento 9
Constituição da estimativa sobre as vendas a prazo realizadas em 20X8 a serem recebidas em 20X9:
Antes de constituirmos a ECLD referente às vendas a prazo realizadas em 20X8 a serem recebidas em
20X9, há que se verificar se há saldo não utilizado de Estimativa para Créditos de Liquidação Duvidosa
em 31/12/20X8. No exemplo, o saldo não utilizado é de $ 109.270. Logo, considerando o lançamento de
reversão, temos:
Lançamento 10
23
Unidade I
Lançamento 11
264.000 (11)
264.000 (d)
O item II do art. 183 da Lei das Sociedades por Ações trata do critério básico de avaliação dos
estoques, como segue:
A estimativa para ajuste de estoque ao valor de mercado não é dedutível para fins de apuração de
lucro real e para a determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro.
24
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Lembrete
No caso de produtos adquiridos para revenda de matérias-primas ou de outros tipos de materiais utilizados
no processo de produção, tal custo é o de aquisição dos itens acrescidos dos gastos relacionados à aquisição
e excluídos os tributos recuperáveis. No caso de produtos em processo e acabados, é o custo de produção.
Contudo, conforme citado na legislação, e pelos conceitos contábeis, a regra básica de avaliação na data do
balanço é a do custo ou mercado, dos dois o menor. Quando houver a perda de utilidade ou a redução no
preço de venda ou de reposição de um item que diminua seu valor recuperável, ou seja, de mercado, a um
nível abaixo do custo, deve-se então assumir como base final de avaliação tal preço de mercado inferior ao
custo, mediante uma estimativa, mantendo-se os controles de estoques ao valor original de custo.
O método do custo ou mercado, dos dois o menor, tem como finalidade, portanto, eliminar dos estoques a
parcela dos custos que provavelmente não seja recuperável. A aplicação desse critério deve ser na avaliação dos
inventários de final de cada ano, para que as perdas resultantes de estragos, deterioração, obsolescência, redução
na estrutura de preços de venda ou de reposição sejam reconhecidas nos resultados do exercício em que tais
perdas ocorrerem e não no exercício em que a mercadoria é vendida, reposta ou transformada em sucata.
A aplicação do critério de custo ou mercado, dos dois o menor, deve ser feita separadamente para
cada subconta de estoques.
Tabela 2
Unitário
Custo Custo Valor de
Mercadoria Quantidade abaixo do
médio total mercado mercado
A 2.000 10,00 20.000,00 9,00 1,00
B 1.000 20,00 20.000,00 20,00 -
C 400 10,00 4.000,00 11,00 -
D 2.000 15,00 30.000,00 16,00 -
E 20.000 12,00 240.000,00 11,00 1,00
Conforme o exemplo acima, apenas dois dos materiais possuem valores de mercado abaixo do custo,
e, como deve prevalecer o menor, constitui-se contabilmente uma estimativa para redução ao valor de
mercado, a qual será debitada ao resultado e calculada da seguinte forma:
25
Unidade I
Tabela 3
b. Produtos acabados e mercadorias para revenda: nesse caso, o mercado representa o valor
líquido realizável de cada item, o qual, por sua vez, é apurado pelo valor líquido entre o preço de venda
do item e as despesas estimadas para vender e receber, entendendo-se como tais as despesas diretamente
relacionadas com a venda do produto e a cobrança de seu valor, tais como comissões, fretes, embalagens,
taxas e desconto das duplicatas etc. Despesas do tipo propaganda, despesas gerais, administrativas etc., que
beneficiam não diretamente um produto, mas genérica e constantemente todos os produtos da sociedade,
não devem ser incluídas nessa determinação de despesas para vender e receber.
Tabela 4
Tabela 5
A B C
1. Preço de venda 9,00 19,00 32,00
2. Despesas para vender 0,53 0,25 0,76
a) Embalagem 0,60 0,40 1,23
b) Entrega (frete) 0,80 0,75 1,76
c) Comissões 0,40 1,65 0,75
d) Despesas bancárias de cobrança 2,33 3,05 4,50
3. Valor líquido realizável (1 – 2) 6,67 15,95 27,50
4. Custo de fabricação (ou de aquisição) 5,00 17,35 26,30
5. Unitário abaixo do “mercado” x 1,40 X
26
CONTABILIDADE FINANCEIRA
A Lei das S/A determina que, nesses casos, entenda-se por valor de mercado “o preço líquido de
realização mediante venda no mercado, deduzidos os impostos e demais despesas necessárias para a
venda, e a margem de lucro” (alínea b, § 1º, art. 183).
Há que se interpretar aqui o texto legal à base da técnica contábil. Não se aplica pura e
simplesmente a dedução da margem de lucro como regra, isto é, não se diminui também do preço
de venda o lucro normal, já que isso simplesmente faz voltar ao custo. A aplicação indiscriminada
desse critério acaba por fazer a empresa reconhecer prejuízo cada vez que o preço de venda cair,
para, talvez, reconhecer lucro no exercício seguinte. Por exemplo: um produto costuma ser vendido
com lucro bruto de 40% sobre o custo e tem despesas de venda de 10% do preço de venda. Assim,
se ele custar $ 1.000,00, teremos:
Subtotal 1.260,00
Nesse caso, o lucro, após o cômputo das despesas, passa a ser de $ 260,00 por unidade, ou 18,6% sobre
o preço de venda, ou ainda 26% sobre o custo. Se em certa data o preço caísse para $ 1.300,00, teríamos:
Subtotal 1.170,00
Pela regra legal, se olhada sem maior atenção, teríamos ainda que deduzir o “lucro” de $ 260,00, ou
de $ 242,00 (18,6% x $ 1.300,00), o que nos obrigaria a considerar:
Subtotal 1.170,00
(-) “Lucro” (260,00)
E, assim, teríamos de reduzir o estoque de $ 1.000,00 para esse valor, fazendo aparecer um
prejuízo nesse exercício de $ 90,00. Isso não teria sentido se o produto fosse posteriormente vendido
por $ 1.300,00, pois aí registraríamos o lucro total de $ 260,00 ($ 1.300 - $ 130,00 - $ 260,00).
27
Unidade I
A legislação, ao mencionar margem de lucro, refere-se, por exemplo, ao caso em que o preço caiu
e continuará caindo e a empresa então sabe que nem pelos $ 1.300,00 deverá conseguir vender. Se,
por exemplo, estimar que no máximo conseguirá vender pelo líquido de $ 855,00 ($ 950,00 menos
despesas de $ 95,00), deverá reduzir o estoque de $ 1.000,00 para $ 855,00, o que, comparado
com o preço de venda na data do balanço, aparenta uma redução de margem de lucro de $ 315,00
($ 1.170,00 - $ 855,00), mas que na realidade significa a antecipação do prejuízo que realmente ela
estima que ocorrerá.
Por isso, deve-se ter bastante cuidado na hora da utilização do conceito de custo ou mercado.
Produtos em processo: esses estoques também devem ser confrontados com o valor de
mercado, havendo duas alternativas para seu cálculo. Uma seria tomar seu custo já incorrido mais
uma estimativa dos custos a completar. Esse valor final seria comparado com o mercado como se
fosse um produto acabado. Por outro lado, para estoques em início do processo, a melhor forma
talvez seja decompô-los pelas matérias-primas já requisitadas, cujos custos seriam comparados
com o mercado, como se fossem matérias-primas.
A seguir serão estudadas as estimativas que reduzem as contas do ativo não circulante, que são as
que possuem prazo de realização superior a 12 meses da data do balanço patrimonial.
Os investimentos avaliados pelo método de custo devem ser ajustados ao seu valor provável de
realização, quando observadas na empresa investida evidências de que o valor de custo não será
recuperável em virtude de a investida estar operando, por exemplo, com prejuízos constantes ou por
algum evento que não seja possível sua recuperação ao longo dos períodos.
28
CONTABILIDADE FINANCEIRA
3.2 Perdas estimadas por valor não recuperável em imobilizado: CPC 01 (R1)
– Redução ao valor recuperável de ativos
O § 3º do art. 183 da Lei n. 6.404/76 determina que a companhia deverá efetuar periodicamente
a análise sobre a recuperação dos valores registrados no imobilizado e no intangível, a fim de que
sejam registradas as perdas de valor do capital investido quando comprovado que não poderão produzir
resultados suficientes para recuperação desse valor.
Por sua vez, o Pronunciamento Técnico CPC 01 (R1) – Redução ao valor recuperável de ativos
determina que se os ativos estiverem avaliados por valor superior ao valor recuperável por meio do uso
ou da venda, a entidade deverá reduzi-los a seu valor recuperável, reconhecendo no resultado a perda
referente a essa desvalorização.
Considerando que o CPC 01 (R1) é de natureza geral e aplicável a qualquer ativo, passaremos a
analisar sua aplicação especificamente aos ativos imobilizados.
Para os ativos não destinados à venda, mas a produzir benefícios à entidade a partir de seu
uso, como é o caso do ativo imobilizado, aplica-se o que costumeiramente é denominado teste de
recuperabilidade (impairment).
A aplicação desse teste consiste em verificar se um ativo está desvalorizado porque, caso existam indícios
ou evidências nesse sentido, uma estimativa de perda para deixá-lo a seu valor recuperável deverá ser efetuada.
Os seguintes itens do CPC 01 (R1) identificam quando um ativo pode estar desvalorizado:
• 8. Um ativo está desvalorizado quando o seu valor contábil excede seu valor recuperável. Os itens
12 a 14 descrevem algumas indicações de que essa perda possa ter ocorrido. Exceto conforme
descrito no item 10, este Pronunciamento Técnico não requer que a entidade faça uma estimativa
formal do valor recuperável se não houver indicação de possível desvalorização.
• 9. A entidade deve avaliar ao fim de cada período de reporte se há alguma indicação de que um
ativo possa ter sofrido desvalorização. Se houver alguma indicação, a entidade deve estimar o
valor recuperável do ativo.
Os itens abaixo descrevem algumas indicações de que um ativo possa estar desvalorizado.
• 12. Ao avaliar se há alguma indicação de que um ativo possa ter sofrido desvalorização, a entidade
deve considerar, no mínimo, as seguintes indicações:
B) Mudanças significativas com efeito adverso sobre a entidade ocorreram durante o período,
ou ocorrerão em futuro próximo, no ambiente tecnológico, de mercado, econômico ou
legal, no qual a entidade opera ou no mercado para o qual o ativo é utilizado.
D) O valor contábil do patrimônio líquido da entidade é maior do que o valor de suas ações
no mercado.
F) Mudanças significativas, com efeito adverso sobre a entidade, ocorreram durante o período,
ou devem ocorrer em futuro próximo, na extensão pela qual, ou na maneira na qual, um
ativo é ou será utilizado. Essas mudanças incluem o ativo que se torna inativo ou ocioso,
planos para descontinuidade ou reestruturação da operação à qual um ativo pertence, planos
para baixa de ativo antes da data anteriormente esperada e reavaliação da vida útil de ativo
como finita ao invés de indefinida.
Em resumo, para aplicar esse teste de recuperabilidade no ativo imobilizado e concluir se é necessária
a constituição de uma estimativa de perda, recomenda-se seguir três etapas.
De acordo com o CPC 01 (R1), valor contábil é o montante pelo qual o ativo está reconhecido no
balanço depois da dedução de toda respectiva depreciação, amortização ou exaustão acumulada
e ajuste para perdas.
30
CONTABILIDADE FINANCEIRA
O valor recuperável de um ativo ou de uma unidade geradora de caixa é o maior montante entre
o seu valor justo líquido de despesas de venda, e o seu valor em uso.
O valor justo líquido de despesas de venda é o montante a ser obtido pela venda de um ativo ou de
uma unidade geradora de caixa em transações em bases cumulativas, entre partes conhecedoras e
interessadas, menos as despesas estimadas de venda.
O valor em uso é o valor presente de fluxos de caixa futuros estimados, que devem advir de um
ativo ou de unidade geradora de caixa.
O valor em uso é o valor presente de fluxos de caixa futuros estimados. Estamos diante, portanto,
de duas tarefas árduas: estimar fluxos de caixa futuros e, ainda, trazê-los a valor presente, o que
nos faz depender de uma taxa de desconto.
Item 30. a. Estimativa dos fluxos de caixa futuros que a entidade espera
obter com esse ativo;
c. O valor do dinheiro no tempo, representado pela atual taxa de juros livre de risco;
Se o valor contábil do bem, registrado no balanço patrimonial, for maior que seu valor recuperável,
constitui-se uma perda estimada, conta redutora do imobilizado, que em contrapartida afetará
diretamente o resultado do exercício.
31
Unidade I
Exemplo de aplicação
2. Calcular o valor recuperável do equipamento que será o maior entre o valor líquido de venda do
equipamento e seu valor em uso.
Como o valor em uso é maior que o valor líquido de vendas, o valor recuperável será dos dois o
maior, portanto o valor em uso: 49.737,05.
O valor contábil do bem está por um valor maior do que se pode recuperar por seu uso ou venda
(neste caso, por seu uso). Desse modo, a empresa deverá constituir uma estimativa de perda por
desvalorização do imobilizado no valor de $10.262,95 ($60.000,00 – $49.737,05).
Contabilização
3.3 Perdas estimadas por valor não recuperável em intangível: CPC 01 (R1) –
Redução ao Valor Recuperável de Ativos
De acordo com o CPC 04 (R1) – Ativo Intangível, os intangíveis, de modo geral, tenham vida útil
definida ou indefinida, devem se submeter ao disposto no Pronunciamento Técnico CPC 01 (R1) – Redução
ao Valor Recuperável do Ativo, ou seja, devem ser avaliados periodicamente quanto à sua capacidade de
gerar benefícios econômicos para a entidade (teste de impairment).
O CPC 01 (R1) determina que, independentemente de existir ou não qualquer indício de desvalorização,
a entidade deverá testar, no mínimo anualmente, a redução ao valor recuperável de um ativo intangível
com vida útil indefinida ou de um ativo intangível ainda não disponível para uso, comparando seu
valor contábil com seu valor recuperável, e testar, também anualmente, o ágio pago por expectativa de
rentabilidade futura (goodwill) em uma aquisição de entidades.
O termo provisão, como tratado no item 10 do Pronunciamento Técnico CPC 25 - Provisões, passivos
contingentes e ativos contingentes, refere-se apenas aos passivos de prazo ou valor incertos.
Ainda, diferencia as provisões propriamente ditas daquelas derivadas de apropriações por competência.
Estas são caracterizadas como obrigações já existentes, registradas no período de competência, sendo
muito menor o grau de incerteza que as envolve, não devendo ser reconhecidas como provisões (exemplos:
férias, 13º salário e respectivos encargos sociais, dividendos propostos etc.).
De acordo com o CPC 25, uma provisão somente deve ser reconhecida quando atender,
cumulativamente, às seguintes condições:
1. A entidade tem uma obrigação legal ou não formalizada presente como consequência de um
evento passado.
Obrigação legal: é aquela que deriva de um contrato (por meio de termos explícitos ou implícitos),
de uma lei ou de outro instrumento fundamentado em lei.
Obrigação não formalizada: é aquela que surge quando uma entidade, mediante práticas do
passado, políticas divulgadas ou declarações feitas, cria uma expectativa válida por parte de terceiros e,
por conta disso, assume um compromisso.
Quando um passivo deixa de atender às condições acima, são tratados na norma como passivos
contingentes. A definição, na norma, de passivo contingente é:
1. Uma possível obrigação presente, cuja existência seja confirmada somente pela ocorrência ou não
de um ou mais eventos futuros que não estejam totalmente sob o controle da entidade; ou
2. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, mas que não é reconhecida porque:
3. Quanto à probabilidade de saída de recursos, os passivos devem ser avaliados e classificados em:
a. praticamente certo;
b. provável;
c. possível;
d. remoto.
34
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Quadro 2
Tal classificação deve ser reavaliada periodicamente e, em caso de mudança, deve-se alterar o
procedimento contábil adotado.
Saiba mais
Contingência é uma situação de risco existente, cujo resultado final, favorável ou desfavorável,
depende de eventos futuros e incertos. É constituída para prevenir contra um prejuízo futuro
provável de acontecer em razão de fatos gerados já ocorridos.
Há, no entanto, situações em que o aplicável é uma reserva para contingência e não a provisão para
contingências. O que diferencia uma da outra é o fato gerador. Se o fato gerador já ocorreu, têm-se a
figura da provisão, caso ainda não tenha ocorrido, têm-se a reserva.
Com o intuito de dissipar eventuais dúvidas quanto à constituição de uma Reserva ou de uma
provisão para contingências, a CVM, por meio de nota explicativa à instrução n. 59, estabeleceu as
seguintes características para a aplicabilidade da provisão para contingências:
• Tem por finalidade dar cobertura a perdas ou despesas, cujo fato gerador já ocorreu, mas não tendo
havido, ainda, o correspondente desembolso ou perda. Em atenção ao princípio da competência,
entretanto, há necessidade de se efetuar o registro contábil.
35
Unidade I
• Visto que o evento que serviu de base à sua constituição já ocorreu, não há, em princípio, reversão
dos valores registrados nessa provisão. A pequena sobre ou insuficiência é decorrente do cálculo
estimativo feito à época da constituição.
• Se a probabilidade for difícil de calcular ou se o valor não for mensurável, há necessidade de uma
nota explicativa esclarecendo o fato e mencionando tais impossibilidades.
Exemplo de aplicação
Em novembro de X1, a direção apresentou um plano formal e detalhado para encerrar as atividades
de uma divisão. Em reunião, o conselho da entidade decidiu encerrar as atividades dessa divisão, logo
no exercício seguinte, e estima-se um custo de $ 200.000,00.
Contabilização
(Passivo) 200.000,00
Saiba mais
36
CONTABILIDADE FINANCEIRA
Resumo
Exercícios
Questão 1. Precatórios são requisições de pagamento expedidas pelo Judiciário para cobrar de
municípios, estados ou da União, assim como de autarquias, fundações e universidades, o pagamento
de valores devidos após condenação judicial definitiva. O precatório é expedido pelo presidente do
tribunal onde o processo tramitou, após solicitação do juiz responsável pela condenação.
Cabe aos tribunais de justiça estaduais organizar e manter as filas de precatórios devidos pelo
estado e pelos municípios que estão sob sua jurisdição. Ao expedir a ordem de pagamento contra a
Fazenda Pública, o tribunal dá início a um processo de precatório, que recebe numeração própria e
é incluído em lista organizada de acordo com a ordem cronológica e prioridades, seguindo as normas legais.
37
Unidade I
No estado de São Paulo, esse trabalho é realizado pela Diretoria de Execuções de Precatórios e Cálculos
do TJSP (Depare).
SÃO PAULO (Estado). Tribunal de Justiça. Precatórios, [s.d.]. Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/Precatorios.
Acesso em: 13 fev. 2020.
Nos orçamentos públicos, os entes são obrigados a provisionar um volume de recursos (passivos
contingentes) para eventuais necessidades de desembolso em função dos precatórios. Pelo volume
de ações que tramitam no judiciário, essa reserva constitui risco fiscal, constante na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).
Na iniciativa privada, esse provisionamento feito pelo poder público seria o equivalente a:
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: não diminui o ativo porque mesmo em caso de vitória do poder público sobre a empresa
ou pessoa física que esteja movendo a ação, isso não se configura em mais recursos para o governo.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a estimativa de perda de recursos com despesas extras não podem aumentar o ativo
do governo.
38
CONTABILIDADE FINANCEIRA
C) Alternativa correta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: emolumentos são ganhos casuais, e os precatórios são perdas quase certas do
poder público.
Questão 2. Em uma economia hipotética, algumas razões levaram à aplicação de uma política
monetária contracionista, isto é, a autoridade monetária foi obrigada a aumentar a taxa básica de juros
e aumentar o percentual dos depósitos compulsórios dos bancos comerciais. Essa decisão de aumentar
a taxa de juros terá um efeito secundário que é o encarecimento do crédito para pessoas e empresas.
Todo esse desdobramento pode ter como consequência:
B) Diminuição do passivo circulante da companhia, que deverá optar por diminuir seus gastos diante
do aumento do índice de preços.
C) Aumento da estimativa de contas redutoras do ativo circulante, uma vez que o aumento de
preços deve trazer compressão dos lucros da companhia.
E) Melhora dos ganhos de empresas com juros ligados ao processo de compras a prazo.
A) Alternativa correta.
Justificativa: o aumento do custo do crédito pode trazer problemas para empresas cujo capital de
giro, investimento e outros, são, por vezes, provenientes de empréstimos bancários. Um custo mais do
crédito pode inviabilizar a tomada de empréstimos ou comprometer, devido ao aumento dos custos com
juros, a capacidade de pagamento do cliente. Neste sentido, pode haver aumento da estimativa para
crédito de liquidação duvidosa (ECLD).
39
Unidade I
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: o aumento do nível de preços pode significar grade oportunidade de ganho para
empresas dos mais variados setores, seria equivocado creditar a diminuição do passivo em decorrência
do aumento da inflação.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: um aumento de preços generalizada não trará necessariamente uma compressão das
margens de lucro das empresas. Além de ser muito relativo, o processo inflacionário pode trazer, no
limite, mais lucros para alguns segmentos da economia.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o aumento da inflação não deve trazer uma mudança autônoma relevante que permita
a empresa a reduzir as estimativas de perdas com clientes inadimplentes.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: para que isso ocorra a empresa tem que estar diretamente ligada à concessão de
empréstimos ou, ter nos juros, mora e multa por atraso, por exemplo, um grande componente das
receitas totais. Ainda assim, o aumento dos ganhos estão mais ligados a outros fatores, como propensão
marginal a consumir, elasticidade-preço da demanda em função da taxa de juros, entre outros.
40