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Normas Internacionais

de Contabilidade
Autor: Prof. Alexandre Saramelli
Colaboradoras: Profa. Cristiane Nagai
Profa. Rachel Niza
Professor conteudista: Alexandre Saramelli

Contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, mestre profissional em
Controladoria pela mesma universidade e doutorando em Epistemologia e História da Ciência pela Universidad
Nacional Tres de Febrero – Buenos Aires, Argentina. Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio e
grande porte como contador em áreas de Custos e Orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da
desenvolvedora alemã SAP. É também autor de livros didáticos.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S243n Saramelli, Alexandre.

Normas Internacionais de Contabilidade. / Alexandre Saramelli.


– São Paulo: Editora Sol, 2021.

148 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230

1. Políticas contábeis. 2. Normas de contabilidade. 3. Elaboração das


demonstrações contábeis. I. Título.

CDU 657

U512.07 – 21

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
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Unip Interativa – EaD

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Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Carla Moro
Virgínia Bilatto
Sumário
Normas Internacionais de Contabilidade

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 ESTRUTURA CONCEITUAL PARA A ELABORAÇÃO DAS
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS....................................................................................................................... 11
1.1 Princípios de contabilidade segundo o CPC 00(R1) e NBC TG
Estrutura Conceitual.................................................................................................................................... 11
1.2 Princípios Fundamentais de Contabilidade, segundo o CFC nº 1.282/2010.................. 19
1.3 Ativo, passivo, receitas e despesas................................................................................................. 23
2 NORMAS DE CONTABILIDADE..................................................................................................................... 26
2.1 Convergência contábil......................................................................................................................... 26
2.1.1 Órgãos preocupados com a harmonização contábil................................................................. 30
2.2 Normas Internacionais de Contabilidade: NIAS e IFRS.......................................................... 36
2.3 Normas Brasileiras de Contabilidade: CPC e NBC – TG......................................................... 41
2.4 Quadro comparativo dos CPCs com as IAS/IFRS...................................................................... 45
3 POLÍTICAS CONTÁBEIS.................................................................................................................................... 48
3.1 Procedimentos de acordo com a IAS 8, CPC 23(R1) e NBC TG 23(R1)............................ 48
3.2 Políticas contábeis................................................................................................................................ 64
4 MUDANÇAS NAS ESTIMATIVAS E RETIFICAÇÃO DE ERRO............................................................... 80
4.1 Mudanças nas estimativas................................................................................................................ 80
4.2 Retificação de erro................................................................................................................................ 81

Unidade II
5 AJUSTE A VALOR PRESENTE......................................................................................................................... 95
5.1 Procedimento de acordo com a IAS 8, CPC 12 e NBC TG 12.............................................. 95
5.2 Alcance....................................................................................................................................................101
6 OPERACIONALIZANDO O AJUSTE A VALOR PRESENTE...................................................................102
6.1 Mensuração...........................................................................................................................................102
6.2 Passivos não contratuais..................................................................................................................105
Unidade III
7 EFEITOS DAS MUDANÇAS NAS TAXAS DE CÂMBIO E CONVERSÃO DE
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS.....................................................................................................................112
7.1 Procedimentos de acordo com IAS 21 (BV2010), CPC02(R2) e NBC TG02(R1)..........112
7.2 Metodologia de conversão das demonstrações contábeis.................................................119
8 APLICAÇÃO DA CONVERSÃO DE DEMONSTRAÇÕES APLICADAS...............................................123
8.1 Modelos de conversão das demonstrações contábeis.........................................................123
8.2 Conversão das demonstrações contábeis para moeda estrangeira................................125
APRESENTAÇÃO

É imprescindível ao contador estudar a Contabilidade aplicada aos ambientes internacionais e as


Normas Internacionais de Contabilidade. Contudo, esse não é um estudo de fácil absorção porque
requer, além de uma observação dos aspectos técnicos da profissão, um olhar apurado para contornos
culturais, usos e costumes e história dos povos/nações.

Exige‑se do profissional de contabilidade (assim como de qualquer outro profissional que se propõe
a trabalhar com relações internacionais) desprendimento de sua própria cultura e esforço para lidar com
problemas que não teria caso estivesse trabalhando exclusivamente em ambiente nacional.

As normas internacionais estão trazendo ao Brasil novos conceitos e mudando hábitos. A depreciação,
por exemplo. Durante muitos anos, o contador simplesmente seguia e aplicava em seu trabalho o que
estava descrito em instruções normativas que tratavam sobre a questão. A partir de agora, terá que
aplicar um julgamento para cada situação em específico. Para isso, entre outras coisas, terá que aprender
a fazer depreciação! Não aquela que vinha sendo ensinada nas faculdades, uma simples interpretação
da legislação fiscal, mas o contador deverá entender e acompanhar as teorias envolvidas para que possa
realizar um trabalho à altura das expectativas.

Conforme Niyama (2005), contabilidade internacional pode ser definida como a linguagem dos
negócios, mas que enfrenta um grande obstáculo: as diferenças normativas entre os vários países. A
harmonização surge como um meio para lidar com essa problemática, minimizando as diferenças e
deixando a contabilidade compreensível para agentes em todos os países.

Nesta disciplina teremos contato com vários assuntos importantes nas normas contábeis internacionais,
sendo que muitos deles você já teve contato em outras disciplinas. Então, se nessas outras disciplinas a
ênfase era o assunto que estava sendo estudado, nesta você irá aumentar seu conhecimento sobre as normas
internacionais em conjunto. Ou seja, irá conhecer melhor essa “linguagem”, como diz Niyama (2005).

Não é raro observarmos que, ao se depararem com questões internacionais, muitos contadores reduzam
a complexidade dessas questões, limitando‑se apenas a verificar o que está escrito em um pronunciamento
do CPC. Esse comportamento muitas vezes é influenciado pelo fato de haver cursos de formação rápida
que privilegiam, como comenta Niyama (2005), o “como fazer” (critérios de reconhecimento, mensuração
e evidenciação) e não o “por que fazer” (diferenças na forma de apresentação do balanço).

Recomenda‑se, então, a você aluno(a), que controle sua ansiedade no “como fazer”, motivando‑se a
analisar as questões do “por que fazer”.

Ao final do estudo, espera‑se que você tenha formado habilidades não apenas para interpretar as
normas contábeis, mas para efetuar julgamentos profissionais de melhor qualidade, contando inclusive
com eventuais diferenças culturais.

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INTRODUÇÃO

A disciplina Normas Internacionais de Contabilidade trata das mudanças ocorridas na contabilidade


brasileira com a convergência contábil perante as exigências impostas pelo processo de globalização.
Também se pretende capacitar os alunos à compreensão dos aspectos relacionados à estrutura
conceitual para a elaboração das demonstrações contábeis no âmbito internacional, considerando os
procedimentos adotados nas políticas contábeis, mudanças nas estimativas e retificação de erro, ajuste
a valor presente e efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis.

Nesse sentido, temos os seguintes objetivos gerais:

• apresentar uma síntese dos princípios da Teoria Contábil de um ponto de vista doutrinário;

• desenvolver o raciocínio contábil;

• compreender a construção teórica básica das principais demonstrações contábeis;

• apresentar um referencial genérico para avaliar áreas da teoria e da prática contábil em três níveis
básicos: o nível estrutural, de interpretação semântica e pragmática.

O livro‑texto tem como objetivos específicos capacitar os estudantes à compreensão dos aspectos
relacionados à estrutura conceitual para a elaboração das demonstrações contábeis, seus fundamentos
técnicos e teóricos; e à necessidade da convergência contábil perante as exigências impostas pelo
processo de globalização. Ou seja, trata‑se de um livro que auxilia os alunos a ter contato, saber usufruir
e bem utilizar as normas contábeis internacionais.

Na elaboração deste livro‑texto também se seguiu orientações da Organização das Nações


Unidas − ONU, UNCTAD; do Conselho Federal de Contabilidade e da Fundação Brasileira de
Contabilidade (Proposta Nacional de Conteúdo para os Cursos de Graduação em Ciências Contábeis),
do Ministério da Educação (Resolução CNE/CES nº 10/2004 e Parecer CNE/CES nº 269/2004) e
orientações do Prof. Jorge Katsumi Niyama aos professores do curso de Ciências Contábeis.

Sendo assim, mais do que simplesmente uma introdução às novidades das normas contábeis
internacionais, é necessário um estudo muito mais amplo, proporcionando aos alunos contato e
entendimento das normas internacionais.

É importante lembrar que, neste momento, estamos atuando como difusores de novas normas
contábeis internacionais que trazem uma série de novos conhecimentos, hábitos e conceitos.

Sabemos que nossos alunos não atuarão apenas como aprendizes, mas como agentes de mudança,
atualizando os contadores que não estão mais nos bancos escolares.

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Para atingir esses objetivos, escolhemos expor as novas teorias de forma ampla, com comparações
entre autores. Assim, optamos por uma exposição de exemplos e casos, tanto reais como fictícios, para
complementar a teoria e possibilitar uma visualização dos problemas na prática.

A combinação de exposição de um referencial teórico de forma ampla com casos reais e fictícios
para auxiliar na aprendizagem são um caminho interessante e quiçá muito agradável para o estudo da
contabilidade internacional.

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NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Unidade I
1 ESTRUTURA CONCEITUAL PARA A ELABORAÇÃO DAS
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

Durante a 23ª Bienal de São Paulo, o artista japonês Yukinori Yanagi instalou um painel de areia
colorida que representava bandeiras de todos os países interligadas por tubos. Essas bandeiras (feitas
de areia colorida) se misturavam à medida que formigas saúvas iam levando os grãos de um lado para
o outro.

A obra intitulada The World Flag, Ant Farm fez muito sucesso e atraiu a curiosidade durante a Bienal.
O artista declarou aos jornalistas que, enquanto os homens ainda acreditarem em símbolos, haverá a
necessidade de um formigueiro.

Independentemente dessa interpretação de Yanagi, essa obra nos faz pensar sobre o que significa
a globalização. Existem bandeiras, nacionalidades e fronteiras controladas, mas as pessoas estão em
constante trânsito pelo mundo, levando suas coisas e culturas de lá para cá e de cá para lá!

Como formigas, as pessoas deixam suas marcas em diversos locais no planeta. Assim, já era hora de
termos Normas Internacionais de Contabilidade.

Saiba mais

Conheça melhor essa obra de arte em:

YANAGI cria com nações e formigas. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 out.
1996. Disponível em: https://bit.ly/2U8nxo8. Acesso em: 2 jan. 2015.

Saiba mais sobre o artista em:

Disponível em: http://www.yanagistudio.net/home.html. Acesso em:


2 jan. 2015.

1.1 Princípios de contabilidade segundo o CPC 00(R1) e NBC TG


Estrutura Conceitual

Se nós tivermos uma regra que diz que “se ABC acontecer, a contabilidade
é X”, eu sei que em três minutos os bancos de investimento vão produzir
um esquema BCD que não vai ser coberto por essa regra. Então, teremos

11
Unidade I

que criar uma nova regra. Porém, se você disser que “o princípio diz que
ABC acontece e aqui está a regra contábil X”, quando eles criarem o BCD,
nós poderemos dizer: Desculpe, isso é apenas uma variação, te pegamos!

Sir David Tweedie

Saiba mais

A declaração anterior foi concedida ao jornalista Jill Treanor do jornal


The Guardian e pode ser acessada no seguinte link:

TREANOR, J. Calvinist on a clean‑up quest: Sir David Tweedie, chairman,


International Accounting Standards Board. The Guardian, 29 jun. 2002.
Disponível em: http://www.guardian.co.uk/business/2002/jun/29/worldcom.
Acesso em: 14 jul. 2014.

Iniciaremos o nosso estudo de Normas Internacionais de Contabilidade relembrando a importância


da estrutura conceitual e dos princípios contábeis.

A finalidade das demonstrações financeiras é apresentar a todos a situação econômico‑financeira


da empresa em determinado período. Deve‑se ressaltar que tais informações deverão ser prestadas
pela área contábil, levando‑se em conta a necessidade de cada usuário, ou seja, usuários internos como
proprietários, gestores e empregados terão necessidades diferentes comparadas aos usuários externos
(bancos, fornecedores, clientes, entre outros).

Para alcançar esse objetivo, os contadores precisam elaborar as demonstrações com base em normas
e princípios geralmente aceitos, ou seja, em normas que sejam conhecidas e aceitas por todo mundo,
ou pela maioria das pessoas.

Imagine, por exemplo, um contador que trabalha em uma empresa que produz algo estranho,
muitas vezes difícil de explicar até mesmo para os profissionais da área. Não raramente, é muito comum
ouvirmos as pessoas dizerem que não conseguem explicar o que fazem para os seus próprios pais, para a
família ou para as pessoas. Apesar disso, o contador precisa necessariamente explicar não apenas o que
é feito, mas como está a situação econômico‑financeira da empresa em moldes que todos entendam.

É evidente que as pessoas têm necessidades diferentes. Ao mesmo tempo em que um usuário
da contabilidade se contenta em saber que uma empresa “está dando dinheiro” e não tem nenhum
interesse em saber sequer o produto e/ou serviço que essa empresa oferece ao mercado, outros usuários
irão querer saber os detalhes da operação, como são valorizados os estoques, qual a composição dos
empréstimos e financiamentos etc.

12
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Sabe‑se que, conforme lembram Martins, Miranda e Diniz (2014, p. 6), uma boa análise depende de
dois aspectos importantes, a qualidade e a quantidade de informações disponíveis:

A quantidade de informações disponibilizadas é importante, pois quem


está de fora da empresa só poderá conhecer determinados aspectos do
empreendimento se as informações forem divulgadas. Mais importante
ainda é que as informações constantes nas demonstrações analisadas sejam
confiáveis e acuradas, caso contrário as conclusões não serão confiáveis.

Para atender a essas expectativas, tanto dos usuários internos como dos externos, os contadores
(e aqui não estamos nos referindo apenas aos contadores brasileiros, mas de todo o planeta) utilizam
normas e princípios geralmente aceitos porque, além de uma necessidade técnica contábil, eles facilitam
as empresas alcançarem um padrão mínimo de qualidade e quantidade de informações e demonstrações
financeiras que devem ser divulgadas.

Assim, cada país estabelece qual é esse conjunto de informações mínimas, sendo possível instaurar
uma verdadeira linguagem dos negócios, aceita, compreendida, praticada e incentivada por todos os
agentes no mercado.

A legislação brasileira básica que traz a estrutura conceitual das demonstrações financeiras é
a Lei nº 6.404/76, a Lei das Sociedades Anônimas, e que posteriormente foi alterada em diversos
pontos pela Lei nº 11.638/2007 e pela Lei nº 11.941/2009 (que alterou os grupos do Balanço Patrimonial
e os respectivos pronunciamentos contábeis – CPCs).

Saiba mais

O Brasil já teve várias Leis das Sociedades Anônimas. Os pesquisadores


Schmidt e Santos (2012) fizeram um interessante levantamento de todas
essas leis, desde 1850 até o CPC 26 de 2009.

SCHMIDT, P.; SANTOS, J. L. Cronologia da normatização das demonstrações


contábeis no Brasil: do Código Comercial Brasileiro de 1850 ao pronunciamento
26 do CPC de 2009. Revista Enfoque, UEM−Paraná, v. 31, n. 1, p. 27‑35,
jan./abr. 2012. Disponível em: https://doi.org/10.4025/enfoque.v31i1.15233.
Acesso em: 30 jun. 2014.

O Brasil sempre teve forte tradição em manter normas contábeis próprias, conservando uma autarquia,
o Conselho Federal de Contabilidade, para legislar sobre matéria contábil. Essas normas contábeis, no
entanto, sofreram influências e estavam alinhadas a escolas contábeis de outros países que, à época,
mostravam alta qualidade e inspiravam admiração e confiança. Na figura a seguir é possível observar
uma linha do tempo com os alinhamentos da contabilidade brasileira.

13
Unidade I

Influência
escola contábil
norte‑americana a
partir de 1976

Influência escola IFRS


contábil europeia A partir de 2008

Figura 1 − Linha do tempo das influências das escolas contábeis no Brasil

No século passado, até as décadas de 1960 e 1970, era muito comum aos contadores brasileiros
terem enorme admiração pelas escolas contábeis europeias, especialmente a italiana. De Rocchi (1998),
por exemplo, explica que o contador Francisco D’Auria não se preocupava com contabilidade gerencial,
mas era fascinado por autores italianos e franceses e, em uma atitude de contínua atualização,
costumava viajar frequentemente a países da Europa. Em 1932, encontrou‑se com Gino Zappa e pôs‑se
a elogiar com entusiasmo a cultura contábil italiana. No entanto, Zappa disse que naquele momento
a contabilidade italiana não seria o melhor exemplo, haveria muito que aprender com os americanos e
alemães em matéria de análise.

Os autores brasileiros de Ciências Contábeis normalmente não citam a existência de uma escola
contábil brasileira. Entende‑se que não é possível dizer que o Brasil teria criado uma escola genuína;
a contabilidade nacional surgiria de uma influência ou mescla de influências de escolas estrangeiras.
Sá (1997), que afirma que as principais influências de escolas contábeis estrangeiras foram da escola
patrimonialista italiana, confirma essa “mescla” de influências de escolas estrangeiras, no entanto, ele
próprio se dedicou exaustivamente durante sua vida para formar uma escola contábil genuinamente
brasileira, a escola neopatrimonialista.

No entanto, por diversos fatores, a escola contábil norte‑americana passou a influenciar


fortemente os mercados em todo o planeta, principalmente nos mercados de capitais. Isso levou o
governo brasileiro a optar por um alinhamento com a escola contábil norte‑americana, movimento
que foi acompanhado por professores da Universidade de São Paulo, uma importante doutrinadora
de Ciências Contábeis no Brasil.

A partir das décadas de 1990 e 2000, com as discussões sobre a necessidade de criação de uma
convergência internacional, professores da Universidade de São Paulo e, em especial, o prof. Dr. Eliseu
Martins, influenciam a adoção da Lei nº 11.638, iniciando oficialmente o processo de convergência
contábil internacional no Brasil.

14
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Observação

Alguns países não mantêm normas contábeis próprias ou um comitê de


pronunciamentos contábeis como no Brasil e nos EUA. A China, por exemplo,
decidiu incorporar as Normas Internacionais da IASC integralmente em sua
legislação.

As Normas Internacionais de Contabilidade, como você vai estudar nas próximas unidades, discutiu
intensamente os graves problemas que vinham assolando os mercados quanto a problemas de
informação contábil. A seguir, apresento um texto para reflexão, inspirado no caso Mercedes Benz, que
ficou muito famoso.

Exemplo de aplicação

A decepção de Gerhard Mannsieht

Gerhard Mannsieht devora um apetitoso pacote de batatas fritas e toma um refrigerante gelado
enquanto espera pacientemente o seu voo no frio e movimentado saguão do aeroporto John F. Kennedy,
em Nova York. O ano é 1999, é inverno e seu avião atrasou por motivos que não se interessava em saber.
O fato é que Mannsieht precisaria esperar muitas horas pelo voo. Com certeza não iria viajar aquela
noite, mas não estava disposto a ir a um hotel e descansar.

A última coisa que queria era dormir.

Estava particularmente furioso e, nessas horas, preferia sentar‑se e ver o movimento das pessoas
caminhando. Apesar de estar ansioso para voltar para casa e rever sua mulher, Mannsieht não estava
particularmente furioso por conta do atraso do avião. Ao contrário, de certa forma, ainda bem que esse
avião havia atrasado! Como diretor financeiro de uma grande indústria alemã, foi obrigado a viajar para
Nova York poucos dias após voltar de sua lua de mel, onde teve a oportunidade rara de conhecer as
paradisíacas ilhas da Polinésia Francesa.

A empresa que representava, com sede em Hannover, produzia lentes para câmeras fotográficas e
era uma das melhores marcas desse mercado. Após muitos anos de trabalho, decidiu finalmente fazer
um lançamento de ações na NYSE, a bolsa de valores nova‑iorquina. Entre os diversos trabalhos que
foram necessários para a abertura das ações das empresas na NYSE, foram obrigados a “traduzir” toda a
contabilidade dos últimos cinco anos para o FASB, as normas contábeis norte‑americanas.

O problema é que na Alemanha a empresa nunca relatou prejuízo em seus balanços. Estava
acostumado a ser tratado pela imprensa local como um vencedor, um profissional muito competente.
Em Nova York, no entanto, pelas regras norte‑americanas, a empresa relatava prejuízo. As mesmas
operações, as mesmas coisas que em um país eram um sucesso, em outro eram um fracasso.

15
Unidade I

Mannsieht sabia que seria difícil captar dinheiro nos Estados Unidos para financiar a expansão da
empresa. Convencer os investidores americanos até que não seria muito difícil. Mas ele não contava
era com os jornalistas. Chamaram sua empresa de insolvente sem o menor pudor. Isso o deixou
absolutamente possesso. Ele não admitia ser tratado como um fracassado. Era um vencedor! Não só ele,
mas mil e tantos funcionários que trabalhavam duro nas oficinas de sua empresa!

Felizmente soube se controlar e não provocou um vexame. Porém, esse incidente foi muito ruim para
o humor de Mannsieht. Melhor ver o movimento das pessoas para se acalmar.

Nova York não o recebeu bem!

Pergunta‑se: como explicar o fato de a empresa do Sr. Gehard Mannsieht ter ótimos resultados em
um país e em outro ter resultados ruins? É necessário “traduzir” as demonstrações contábeis?

Um caso emblemático, que ajudou a acelerar a convergência contábil internacional foi descrito na
revista Chartered Accounting, em janeiro de 2003, quando então a empresa alemã Mercedes Benz AG
obteve em 1993 um lucro de DM$ 612 milhões de acordo com as normas contábeis alemãs (German
GAAP) e, quando as demonstrações financeiras foram traduzidas e ajustadas para as normas contábeis
norte‑americanas (US GAAP), apurou‑se um prejuízo de DM$ 1,839 bilhões.

Veja que se trata de uma diferença absurda, inacreditável e que demonstrava claramente que normas
contábeis internacionais eram absolutamente necessárias em uma economia globalizada.

Lucro alemão GAAP – DM$612 milhões.

Prejuízo USGAAP – DM$1,839 bilhões.

DM$ = Marco alemão, a antiga moeda da Alemanha e que hoje utiliza o euro.

Um dos graves problemas envolvendo contabilidade que assolavam os mercados é que muitos
usuários solicitavam, seja para as pequenas e médias empresas, seja para as grandes empresas,
demonstrações financeiras ad hoc, ou seja, demonstrações preparadas sob medida para fins específicos
e muitas vezes uma única vez, para uso esporádico. Isso é muito prejudicial porque, ao mesmo tempo
em que o contador se desdobrava para ter tempo disponível para atender pedidos especiais de usuários,
trazia cada vez menos confiança. Percebeu‑se uma mania de “sempre pedir mais do que está nas
demonstrações contábeis”, que nunca satisfazem!

Assim, para evitar essa mania e valorizar o trabalho do contador, formou‑se o conceito de relatório
contábil‑financeiro de propósito geral, que como o nome já insinua é um relatório de uso geral ou
multiuso, já desenvolvido para todas as necessidades em potencial dos usuários externos, sem que estes
peçam informações adicionais ou ad hoc. Esse conceito foi definido da seguinte forma no CPC 00 (R1)
Conceitual Básico (CPC, 2011a):

16
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

OB2. O objetivo do relatório contábil‑financeiro de propósito geral é


fornecer informações contábil‑financeiras acerca da entidade que reporta
essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes
e, em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando
da tomada decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade.
Essas decisões envolvem comprar, vender ou manter participações em
instrumentos patrimoniais e em instrumentos de dívida, e a oferecer ou
disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito.

Nesse sentido, para que os relatórios realmente tenham essa característica de “propósito geral”,
elegeram‑se três grupos de usuário externos que necessitam de uma sensibilidade especial:

• investidores existentes e em potencial;

• credores por empréstimos;

• outros credores.

Muito importante que o contador não dê a esse grupo “preferência”, porque todos os usuários são
importantes. Entretanto, de fato, a IASB reconhece que esses usuários têm uma relevância muito grande
e é importante que o contador seja sensível às necessidades deles.

Observação

A escolha de um grupo de usuários como um grupo que deve receber


mais atenção do contador, sem prejuízo de outros grupos de usuários,
é uma ideia muito polêmica. Qualquer pessoa que tenha a necessidade
de conhecer algum assunto sobre uma empresa e, por isso, recorra às
demonstrações contábeis é digna de atenção! No entanto, a orientação
da IASB é de bom senso dentro da necessidade profissional de aumentar a
relevância do trabalho. Os investidores, e credores, têm um especial interesse
pela empresa e o que for feito para satisfazer esses grupos é válido e será
útil aos outros grupos de usuários também!

A IASB, por meio do pronunciamento conceitual básico, reconheceu que os contadores já vinham
publicando informações quantitativas de excelente qualidade, contudo, havia deficiências quanto a
informações qualitativas.

É nesse sentido que se torna imprescindível que os contadores melhorem as informações qualitativas,
sendo que a IASB relacionou essas características, conforme podemos verificar na figura preparada por
Martins, Miranda e Diniz (2014, p. 16):

17
Unidade I

Valor preditivo
Relevância
Valor confirmatório

Fundamentais Completa
Representação Neutra
fidedigna
Características Livre de erro material
qualitativas

Compatibilidade

Verificabilidade
De melhorias Tempestividade

Compreensibilidade

Figura 2 − Características qualitativas da informação contábil

Em complemento, o CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Financeiras define o conjunto


completo de demonstrações e informações que o contador deve disponibilizar para o público, sendo
que o texto é apresentado na íntegra, a seguir:

10. O conjunto completo de demonstrações contábeis inclui:

(a) balanço patrimonial ao final do período;

(b1) demonstração do resultado do período;

(b2) demonstração do resultado abrangente do período;

(c) demonstração das mutações do patrimônio líquido do período;

(d) demonstração dos fluxos de caixa do período;

(e) notas explicativas, compreendendo um resumo das políticas contábeis


significativas e outras informações elucidativas;

(ea) informações comparativas com o período anterior, conforme especificado


nos itens 38 e 38A; (incluída pela Revisão CPC 03) (f) balanço patrimonial
do início do período mais antigo, comparativamente apresentado, quando
a entidade aplicar uma política contábil retrospectivamente ou proceder
à reapresentação retrospectiva de itens das demonstrações contábeis, ou
quando proceder à reclassificação de itens de suas demonstrações contábeis
de acordo com os itens 40A a 40D; e (Alterada pela Revisão CPC 03)

18
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

(f1) demonstração do valor adicionado do período, conforme


Pronunciamento Técnico CPC 09, se exigido legalmente ou por algum
órgão regulador ou mesmo se apresentada voluntariamente. (Alterada
pela Revisão CPC 03)

A entidade pode usar outros títulos nas demonstrações em vez daqueles


usados neste Pronunciamento Técnico, desde que não contrarie a legislação
societária brasileira vigente.

10A. A entidade pode, se permitido legalmente, apresentar uma única


demonstração do resultado do período e outros resultados abrangentes, com
a demonstração do resultado e outros resultados abrangentes apresentados
em duas seções. As seções devem ser apresentadas juntas, com o resultado
do período apresentado em primeiro lugar seguido pela seção de outros
resultados abrangentes. A entidade pode apresentar a demonstração do
resultado como uma demonstração separada. Nesse caso, a demonstração
separada do resultado do período precederá imediatamente a demonstração
que apresenta o resultado abrangente, que se inicia com o resultado do
período. (Incluído pela Revisão CPC 03)

10B. Quando da aprovação deste Pronunciamento Técnico, deve atentar‑se


para o fato importante de que a legislação societária brasileira requer que
seja apresentada a demonstração do resultado do período como uma seção
separada (Incluído pela Revisão CPC 03) (CPC, 2011c).

Saiba mais

Recomenda‑se que você leia na íntegra os pronunciamentos CPC 00 e


CPC 26, visitando o seguinte site:

Disponível em: http://www.cpc.org.br. Acesso em: 30 jun. 2014.

É sempre interessante ver também a versão em inglês da IASB em:

Disponível em: www.iasb.org. Acesso em: 30 jun. 2014..

1.2 Princípios Fundamentais de Contabilidade, segundo o CFC nº 1.282/2010

Iremos estudar e/ou relembrar alguns aspectos sobre os Princípios Fundamentais de


Contabilidade e das normas brasileiras, que são imprescindíveis como base para o estudo da
contabilidade internacional.

19
Unidade I

No Brasil, adota‑se o chamado “direito romano” e, por consequência, há uma forte orientação
legalista‑formalista, na qual as ações e procedimentos contábeis e fiscais são expressos em instrumentos
jurídicos, ao contrário do chamado “direito consuetudinário” dos países anglo‑saxões, que adotam a
commom law, na qual as ações e procedimentos contábeis emanam dos usos e costumes.

Assim, os princípios fundamentais de contabilidade são integrados ao arcabouço jurídico brasileiro e


não são apenas orientações utilizadas pela profissão de forma responsável.

Observação

O aspecto da adoção no Brasil de uma orientação jurídica


legalista‑formalista é particularmente um desafio em se tratando da
necessidade de adoção do fair value − valor justo, que tem origem na
orientação jurídica de commom law.

Os princípios fundamentais de contabilidade são dispostos na Legislação brasileira, na Resolução


nº 750/93 do Conselho Federal de Contabilidade, que, no esforço para a harmonização contábil
internacional, foi alterada pela Resolução CFC nº 1.282/10 NBC TI 1 – Estrutura Conceitual para a
Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis.

Conforme Iudícibus et al. (1990), princípios contábeis são premissas básicas sobre os fenômenos e eventos
contemplados pela contabilidade. Muitos profissionais no mercado e/ou estudantes costumam chamar os
princípios contábeis norte‑americanos de USGAAP e por analogia, os princípios brasileiros de BRGAAP.

Observação

O GAAP abrevia a expressão Generally Accepted Accounting Principles,


ou princípios contábeis geralmente aceitos.

Segundo Iudícibus et al. (1990), para um princípio ser incorporado à doutrina contábil, é necessário
que atenda a duas condições básicas:

1 − o objetivo deve ser considerado praticável pelo consenso profissional;

2 − deve ser considerado útil.

A ordem de classificação é importante porque, para muitos profissionais da contabilidade, é de


fundamental importância que um princípio seja praticável antes de ser relevante. Não basta que um
princípio seja aderente a uma realidade econômica, é necessário que tenha como ser colocado em prática
com facilidade, em uma relação de custo‑benefício. Isso não quer dizer que um potencial princípio
contábil que hoje é considerado impraticável não venha a ser considerado praticável no futuro, mas
quer dizer que a tecnologia e a cultura podem favorecer sua aceitabilidade.
20
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Observação

O fair value − valor justo – é um exemplo de praticabilidade. Por muito


tempo não foi adotado porque se julgava que não poderia ser praticável.

Nesse sentido, atualmente são aceitos os seguintes princípios contábeis:

Art. 5º. O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará


em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos
componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância.

Art. 6º. O Princípio da Oportunidade refere‑se ao processo de mensuração


e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações
íntegras e tempestivas (CFC, 2010).

Não houve novidades, comparando‑se o período anterior à convergência internacional.

Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na produção


e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua
relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e
a confiabilidade da informação (CFC, 2010).

Não houve novidades, comparando‑se o período anterior à convergência internacional.

Art. 7º. O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os


componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos
valores originais das transações, expressos em moeda nacional.

§ 1º. As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus


distintos e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas:

I – custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem


pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos
que são entregues para adquiri‑los na data da aquisição. Os passivos
são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca
da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou
equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no
curso normal das operações; e

II – variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os


componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações
decorrentes dos seguintes fatores:

21
Unidade I

a) custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou


equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou
ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações
contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes
de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação
na data ou no período das demonstrações contábeis;

b) valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou


equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em
uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e
equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para
liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações
da Entidade;

c) valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do


fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item
no curso normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo
valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se
espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações
da Entidade;

d) valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo
liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação
sem favorecimentos; e

e) atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da


moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o
ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais.

§ 2º. São resultantes da adoção da atualização monetária:

I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não


representa unidade constante em termos do poder aquisitivo;

II – para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das


transações originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda
nacional, a fim de que permaneçam substantivamente corretos os valores dos
componentes patrimoniais e, por consequência, o do Patrimônio Líquido; e

III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente
o ajustamento dos valores originais para determinada data, mediante a
aplicação de indexadores ou outros elementos aptos a traduzir a variação
do poder aquisitivo da moeda nacional em um dado período (CFC, 2010).

22
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

No artigo 7º, incorpora‑se o conceito de valor justo que estudaremos neste livro‑texto.

[...] Art. 9º. O Princípio da Competência determina que os efeitos das


transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se
referem, independentemente do recebimento ou pagamento.

Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da


confrontação de receitas e de despesas correlatas (CFC, 2010).

Não houve novidades, comparando‑se o período anterior à convergência internacional.

Art. 10. [...]

Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo


grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas
em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não
sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados,
atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação
dos componentes patrimoniais (CFC, 2010).

Não houve novidades, comparando‑se o período anterior à convergência internacional.

A condição de praticabilidade e/ou relação custo‑benefício no caso da incorporação do valor justo


não está sendo levada em conta, ou está sendo abafada. A necessidade de convergência contábil é o
argumento mais forte, mesmo que o contador enfrente dificuldades na aplicação prática do valor justo
a um ponto que impeça este de ser utilizado. Então, as recomendações são a de que o contador tome
providências para usar o valor‑justo mesmo que enfrente resistências na empresa e descentralize essa
responsabilidade para outros profissionais da empresa, como os engenheiros. O engenheiro, com base
em laudos e opiniões de corretores imobiliários, pode apresentar ao contador qual seria o valor justo de
um imóvel.

Entende‑se que o contador deve formar um sistema de informações e manter uma rede de
relacionamentos internos. Sendo assim, os impactos da convergência não ficam restritos apenas aos
contadores, mas afetam vários outros profissionais.

1.3 Ativo, passivo, receitas e despesas

Segundo o CPC 00 (2011a), o balanço patrimonial de uma empresa é composto de seu ativo, passivo
e patrimônio líquido. Na demonstração de resultados do exercício realiza‑se um confronto entre as
receitas e as despesas.

O ativo é composto por bens e direitos necessários para o desenvolvimento da atividade operacional
de quaisquer empresas e representa os recursos aplicados por ela para a sobrevivência. É dividido entre
o ativo circulante e o ativo não circulante, mostrados no quadro a seguir:
23
Unidade I

Quadro 1 − Componentes do Ativo

O Ativo Circulante (AC) é composto por bens e direitos que


serão recebidos em dinheiro num prazo de até 360 dias. O Ativo
circulante, também conhecido por ativo a curto prazo, compõe
geralmente as seguintes contas: caixa e equivalente de caixa
(contas correntes bancárias e aplicações financeiras), clientes,
estoques, entre outras, mas sempre apresentadas em ordem
de liquidez.
O Ativo Não Circulante (ANC), além de compor os bens direitos
que serão recebidos em dinheiro num prazo superior de 360 dias,
os chamados “realizáveis em longo prazo”, também comporta
os investimentos, e os mais comuns são as aquisições de
participações em outras empresas, o imobilizado, representado
pelos bens corpóreos, como máquinas, móveis, equipamentos de
informática, entre outros.

Ainda temos o intangível, bens e direitos não corpóreos, mas


que também contribuem para o desenvolvimento da atividade
empresarial, como as marcas e o capital intelectual.

O subgrupo do balanço patrimonial, chamado passivo, representa todas as dívidas contraídas pelas
empresas. Pode‑se afirmar que as dívidas registradas são contraídas com terceiros, ou seja, com pessoas
físicas e/ou jurídicas. Além de possuírem um vencimento predeterminado, essas dívidas levam a
empresa a sanções (juros e multas) no caso de não saldá‑las na data prevista, o que já não ocorre
no patrimônio líquido.

É dividido entre o passivo circulante e o passivo não circulante, mostrados no quadro a seguir:

Quadro 2 − Componentes do Ativo

As dívidas com vencimento em curto prazo, ou seja, que vencerão


em até um ano após o exercício social atual, serão classificadas como
passivo circulante, ficando as demais, aquelas com vencimento superior
a um ano, registradas como passivo não circulante.
No passivo circulante são registradas dívidas como salários a pagar,
impostos a pagar, fornecedores, entre outras. Enquanto no passivo não
circulante, as dívidas mais comuns são os financiamentos bancários e
outras com vencimento em longo prazo.

No patrimônio líquido são registradas as dívidas contraídas pela empresa, porém, junto aos seus
proprietários, como o capital social. Caso a empresa venha a pagar o capital social para os proprietários,
haverá o encerramento das atividades.

A seguir, uma rápida comparação sobre a estrutura do balanço patrimonial antes e após a
convergência internacional:

24
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Conteúdo do Balanço
Ativo Passivo
Ativo circulante Passivo circulante
Ativo realizável em longo prazo Passivo exigível em longo prazo Obrigações

Bens e
Ativo permanente, dividido em: Resultados de exercícios futuros
direitos – Investimentos Patrimônio líquido, dividido em:
– Ativo imobilizado – Capital social
– Ativo diferido – Reservas de capital
Patrimônio
– Reservas de reavaliação líquido
– Reservas de lucro
– Lucros (ou prejuízos) acumulados

Figura 3 − Conteúdo do Balanço de acordo com a Lei 6.404/76, antes das Normas Internacionais de Contabilidade

A estrutura anterior a 2007 continha, por exemplo, o ativo diferido e, no esforço de convergência, os
contadores brasileiros resolveram abandonar a amortização dos gastos pré‑operacionais.

Conteúdo do Balanço
Ativo Passivo
Ativo circulante Passivo circulante Obrigações
Ativo não circulante, dividido em: Passivo não circulante
Bens e – Realizável em longo prazo Patrimônio líquido, dividido em:
direitos
– Investimentos – Capital social
– Ativo imobilizado – Reservas de capital Patrimônio
líquido
– Ativo intangível – Reservas de avaliação patrimonial
– Reservas de lucro
– Lucros (ou prejuízos) acumulados

Figura 4 − Conteúdo do Balanço de acordo com as Leis nº 11.638/07 e nº 11.941/09, após as Normas Internacionais de Contabilidade

Observe que, se já não há o ativo diferido, agora há espaço para o tão necessário ativo intangível!

As receitas são os ganhos que a empresa pode ter no momento (receitas à vista) ou em data
predeterminada (receitas a prazo) ao revender suas mercadorias (atividade comercial) e/ou vender seus
produtos (atividade industrial), ou ainda prestar serviços (atividade prestadora de serviços). Para obter
essas receitas, a empresa precisa dispor de alguns gastos, o que chamamos de despesas. Em outras
palavras, as despesas representam o sacrifício para buscar uma receita.

Ou seja, as despesas não são um gasto sem propósito, sem sentido. Representam uma intenção de
trazer recursos para a empresa. Ou como definem Iudícibus et al. (1990, p. 66):

O consumo de bens ou serviços, que, direta ou indiretamente, ajuda a


produzir uma receita. Diminuindo o Ativo ou aumentando o Passivo, uma
despesa é realizada com a finalidade de se obter uma receita.

25
Unidade I

Antes da convergência, era comum no Brasil separar as despesas e receitas “operacionais” das “não
operacionais”, ou seja, as despesas mais corriqueiras ou que estão ligadas ao negócio das despesas
esporádicas, que não estão ligadas com as operações normais da empresa. No entanto, entendeu‑se
que mesmo as despesas mais esporádicas também são realizadas com o intuito de gerar receitas. Não
se admite que uma empresa esteja gastando dinheiro em algo que não irá trazer retorno. Assim, não há
mais separação entre despesas “operacionais” e “não operacionais”.

Outra importante mudança no patrimônio líquido e em despesas e receitas é a obrigação do lucro


acumulado receber uma destinação. Entende‑se que não se devem acumular lucros de um período para
o outro, o que não ocorre com o prejuízo, que pode ser acumulado. Não há mais “lucros acumulados”.

2 NORMAS DE CONTABILIDADE

2.1 Convergência contábil

Relacionam‑se três conceitos para entender o que significa harmonização contábil:

• convergência;

• harmonização;

• padronização.

Quando existem várias pessoas ou, como no caso da contabilidade, a mesma prática sendo realizada
em diferentes países e lugares, pelos mais diferentes profissionais que fazem “mais ou menos a mesma
coisa”, surge uma intenção ou necessidade de harmonizar, fazer com que todos sigam os mesmos
códigos e significados. Em outras palavras, que todos “falem a mesma língua”.

Entretanto, o que acontece quando esses profissionais empreendem regras e/ou normas diferentes? Logo
surge uma vontade de “padronizar” o trabalho, fazer com que todos façam exatamente do mesmo jeito.

Quando vemos, por exemplo, uma bola de futebol, é de interesse de todos que essa bola tenha os
mesmos elementos em qualquer lugar. Não é interessante que o Brasil utilize uma bola mais pesada, a
Itália uma bola mais leve e rápida ou a África do Sul uma bola mais achatada. Todos, então, devem ter
a mesma bola e, independente do lugar onde ela seja fabricada, com as mesmas características finais.

Observação

Por exemplo, em outros países é comum máquinas de autoatendimento


nos bancos serem conhecidas como ATM (Automatic Teller Machine), mas
no Brasil essa sigla não é conhecida, todos chamam esse equipamento de
caixa eletrônico.

26
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

A padronização nem sempre é fácil, mas é possível em muitos casos. Por exemplo, a organização ISO
(International Standardization Organization– Organização Internacional para a Padronização) realiza
um excelente trabalho nesse sentido.

Temos como exemplo a produção de cabos telefônicos: independentemente de uma fábrica estar no
Paquistão ou na Argentina, deve‑se aplicar as mesmas regras de qualidade. Não deve haver influência
do país e/ou da cultura do país. No entanto, em matéria contábil não é possível dar esse tratamento. Há
diversas influências na contabilidade, portanto, o uso da palavra harmonizar no sentido de padronizar,
tornar as coisas rigorosamente iguais, não é razoável.

Nesse sentido, Ikuno et al. (2010) analisaram o trabalho de Nobes (1993), que propôs 17 fatores que
causam diferenças contábeis internacionais:

• herança colonial;

• invasões;

• tributações;

• inflação;

• nível de educação;

• duração e tamanho da profissão contábil;

• estágio do desenvolvimento econômico;

• sistema legal;

• cultura;

• história;

• geografia;

• linguagem;

• influência da Teoria Contábil;

• sistema político;

• clima social;

• religião;

• acidentes de percurso.

27
Unidade I

Por outro lado, Ikuno et al. (2010) comentam também que Choi e Meek (apud SHIMA, 2007, p. 6)
apontam oito fatores que causam diferenças nas demonstrações contábeis, porque influenciam o
sistema financeiro:

• principal fonte de financiamento;

• sistema legal;

• sistema de tributos;

• relações políticas e econômicas;

• inflação;

• nível de desenvolvimento econômico;

• educação;

• cultura.

Há, no entanto, conforme relatam Ikuno et al. (2010), pesquisadores como Zarzeski (1996 apud
IKUNO et al., 2010) e Jaggi e Low (2000 apud IKUNO et al., 2010) que contestam se os aspectos culturais
são de fato tão importantes para as diferenças na contabilidade entre os diversos países. Eles lembram
que muitas empresas atualmente são multinacionais, e com isso os aspectos culturais tendem a não
ter muita importância. Aspectos como as forças de mercado e fatores institucionais seriam atualmente
mais importantes.

Sobre esse aspecto das influências culturais e do ambiente, Weffort (2005, p. 19) confirma que a
contabilidade acaba por receber de fato essas influências:

A contabilidade é moldada pelo ambiente no qual opera. Da mesma forma que


as nações têm diferentes histórias, valores e sistemas políticos, elas também
têm diferentes padrões de desenvolvimento da contabilidade financeira.
[…] Esta diversidade é resultante da variação dos ambientes de negócios ao
redor do mundo e do fato de a contabilidade ser ambientalmente sensível.

Sob o conceito de convergência, as regras e/ou procedimentos podem ser diferentes, respeitando
a cultura, língua, usos e costumes e/ou legislação local, desde que o resultado final leve ao mesmo
entendimento, ao mesmo objetivo. Essa é uma costura complexa de ser realizada. Como, por exemplo,
fazer com que um contador árabe relate a sua contabilidade de forma que um contador asiático ou
da América Central possa entender essa contabilidade, mesmo sabendo que as diferenças culturais
influenciam nos negócios?

28
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Lembrete

As características qualitativas da informação contábil também são


muito importantes nesse conceito de convergência contábil internacional.

A seguir, te convido para uma interessante comparação visual para contribuir no entendimento da
diferença entre padronização e convergência.

Figura 5 − Processo de padronização

Figura 6 − Processo de harmonização

Esse trabalho de convergência é exaustivo, no entanto, é válido porque consegue efetivamente


trazer benefícios claros para os mercados e para o trabalho do próprio contador. É o que comentam
Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 15):

Balanços de empresas […] em diversos países tinham que ser comparados


quanto a margens, retornos, custos de oportunidade, estruturas patrimoniais
e desempenhos, e havia (ainda há) enorme desperdício de tempo e dinheiro
para entender as distintas normas contábeis nacionais e reconciliá‑las para
um padrão único. Isso deixará de ser obstáculo e deixará de ser um custo
a partir das IFRS – as normas das empresas de países que as adotarem já
sairão, na origem, em IFRS e eventualmente o máximo que se exigirá será a
tradução do idioma, e não mais das práticas contábeis.

29
Unidade I

A seguir, uma dificuldade de convergência que foi enfrentada no Brasil.

Exemplo de aplicação

A convergência no Brasil

Houve uma preocupação acentuada em não aumentar os custos tributários, o que criaria resistências
para que as normas internacionais fossem adotadas no Brasil.

Segundo Plöger ([s.d.]), coordenador de relações institucionais do Comitê de Pronunciamentos


Contábeis – CPC, destinado a buscar soluções para as questões que se apresentarem, com ampla e
indiscriminada consulta a quem possa ser afetado, o comitê inova no trato de questões regulamentares
porque reúne representantes de entidades da área privada, do mundo acadêmico e do setor governamental,
sentados à mesma mesa e imbuídos de um único critério, que é a busca da modernidade.

Na verdade, estamos diante de uma dupla convergência: de um lado, a necessidade universal de


integrar regras contábeis aos padrões internacionais; de outro, a participação, no debate interno,
de representantes de todos os atores do mercado brasileiro – governo, iniciativa privada e órgãos
acadêmicos – dialogando livre e democraticamente no CPC.

Nós sabemos, por nossa própria experiência de vida, que nada será fácil na trajetória do CPC. O mundo
da contabilidade é complexo e sutil; as soluções buscadas devem responder às questões levantadas e aos
ambientes nos quais proliferam, mas nem sempre isso é muito fácil de identificar. Para citar um exemplo
já muito discutido, será necessário muito cuidado para verificar se alguma norma ou procedimento
adotado produzirá elevação dos custos tributários, de modo a minimizar as possíveis resistências à
adoção de procedimentos modernizantes.

São cuidados que deveremos ter, para tocar a difícil tarefa, que será gratificante, de colocar o CPC
em pleno funcionamento.

2.1.1 Órgãos preocupados com a harmonização contábil

Analisam‑se a seguir os principais organismos internacionais que influenciam a formação das


normas contábeis internacionais.

União Europeia

A formação de uma comunidade europeia foi uma mudança inimaginável em se tratando


de países que há séculos viviam em estado de guerra. Esses países formavam um ambiente de
hostilidade tão forte que foram capazes de gerar os horrores como as duas guerras mundiais e
o holocausto. Por influência de políticos e figuras políticas importantes da época, como Winston
Churchil, Jean Monnet, Robert Schuman, Paul‑Henri Spaak e Alcide de Gasperi, alcançou‑se o

30
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

entendimento de que não era inteligente continuar a manter um ambiente de hostilidade entre as
nações europeias.

O ideal era que esses países se unissem, passassem a empreender um esforço comum em prol da
melhoria de vida de suas populações. Mas como fazer isso? A solução encontrada foi a criação de um
modelo político jamais visto na história da humanidade, em que os países abriram mão de parte de suas
soberanias nacionais em prol de uma comunidade.

O resultado foi um sucesso. Por mais que se critique a União Europeia, fortemente questionada
durante a crise de 2008 a 2010 e crises de governança pública e financeira pipocando em países como
Irlanda, Portugal, Grécia, Espanha e Itália, a qualidade de vida nesses países é invejável.

Essa experiência da formação da União Europeia também teve seus reflexos na contabilidade e mais
do que isso, mostrou a possibilidade de adoção de normas comuns não só entre países europeus, mas
em todo o planeta.

A União Europeia foi um dos organismos internacionais que ajudaram a tornar a intenção das
Normas Internacionais de Contabilidade uma realidade por conta de sua missão natural, que é a de
tomar decisões para seus países membros. A União Europeia publicou a 4ª Diretiva, na qual tratava
de contabilidade e do conceito de fair value – valor justo.

Evidentemente que a União Europeia não é um órgão contábil, como é, por exemplo, a IASB, que
é mais ampla. Contudo, foi e está sendo atualmente uma das maiores incentivadoras da adoção das
normas internacionais.

Associação Interamericana de Contabilidade − AIC

A Associação Interamericana de Contabilidade é uma entidade que congrega os contadores


do continente americano. Sua missão, de acordo com Niyama (2010, p. 52), é a de “alcançar
uma profissão forte e coerente, no âmbito dos contadores das Américas (Norte, Central e Sul),
que cumpra com sua responsabilidade perante a sociedade dentro de um sincero intercâmbio e
convivência fraternal”.

Observação

A AIC conta com 23 países‑membros, sendo que entre eles está Cuba,
com o curioso nome de “Cuba em exílio”.

Iosco

A Iosco é uma entidade internacional que reúne comissões de valores mobiliários, como a brasileira
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e/ou a americana Securities and Exchange Commission (SEC).

31
Unidade I

Sua missão envolve regulação internacional para o bom funcionamento dos valores mobiliários
(operações em bolsas de valores).

FASB

A FASB é uma entidade norte‑americana que desde 1973 é a responsável pela publicação das normas
contábeis americanas. Não é um organismo internacional propriamente dito, mas, por causa da pujança
da economia americana e da obrigação de empresas de outros países que têm ações nas bolsas de
valores americanas de seguir as normas emitidas pela FASB, acabou por atuar como um verdadeiro e
influente organismo internacional.

Após anos de divergências, a FASB finalmente concordou em trabalhar em conjunto com a IASB,
firmando em 2002 um histórico entendimento chamado de Acordo de Norwalk.

Saiba mais

Você pode consultar o Acordo de Norwalk no seguinte link:

FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD (FASB). Convergence


with The International Accounting Standards Board (IASB). [s.d]. Disponível em:
http://www.fasb.org/intl/convergence_iasb.shtml. Acesso em: 27 maio 2014.

IFAC

A Federação Internacional dos Contadores, The International Federation of Accountants – IFAC, foi
criada em 1977 durante o 11º Congresso Mundial dos Contadores e desde então vem desenvolvendo
pronunciamentos sobre normas internacionais, facilitando a colaboração e a cooperação entre
suas associações‑membro e servindo como porta‑voz da profissão contábil. A IFAC, por meio da
International Accounting Standards Comittee − IASC, publicou as primeiras normas internacionais,
denominadas pela sigla IAS.

Observação

Você já notou que nas normas do CPC Brasil há sempre uma correlação
a uma norma internacional, sendo que algumas fazem menção à uma
norma IAS e outras a uma norma IFRS? Pois bem, as normas IAS são as
normas que a IFAC havia preparado já nas décadas de 1970 e 1980. Já as IFRS
são as normas mais recentes, preparadas pela IASB.

32
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

The International Accounting Standards Board – IASB (Comitê ou Colegiado de Padrões


Contábeis Internacionais)

Segundo Mourad e Paraskevopoulos (2010), a IASB foi criada em 2001, aproveitando e/ou continuando
o trabalho da IASC. As novas normas criadas pela IASC passaram a usar a sigla IFRS e, posteriormente,
IFRIC (International Financial Reporting Interpretations Committee). É o atual organismo internacional
responsável pelas publicações das normas internacionais.

Saiba mais

Consulte o documento “Quem somos e o que fazemos” da IASB:

IFRS. Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (IASB). Quem


somos e o que fazemos. Londres, jan. 2014.

Disponível em: https://bit.ly/3gp1P89. Acesso em: 30 jun. 2014.

Padoveze, Benedicto e Leite (2012, p. 11) dizem que o principal objetivo da IASB é: “promover
a convergência entre as normas contábeis locais e as Normas Internacionais de Contabilidade para
soluções de alta qualidade e transparência”.

Niyama (2010, p. 40) mostra que na constituição da IASB há os seguintes objetivos:

a) Desenvolver, no interesse público, um único conjunto de normas contábeis


globais de alta qualidade, inteligíveis, exequíveis, que exijam informações de
alta qualidade, transparentes e comparáveis nas demonstrações contábeis e
em outros relatórios financeiros, para ajudar os participantes do mercado de
capital e outros usuários em todo o mundo a tomar decisões econômicas;

b) promover o uso e a aplicação rigorosa dessas normas; e

c) promover a convergência entre as normas contábeis locais e as Normas


Internacionais de Contabilidade de alta qualidade.

É muito recomendável pesquisar na internet e conhecer um pouco sobre a impressionante biografia


do Prof. Sir David Tweedie, um homem que assumiu a presidência do IASB em 2001 e desde então
conseguiu que mais de cem países aderissem aos esforços de harmonização contábil. Embora seja raro
encontrar informações sobre o Prof. Sir David Tweedie em língua portuguesa, vale o esforço de ler em
inglês ou usar um tradutor automático.

Sir David Tweedie permaneceu à frente da IASB até junho de 2011, sendo substituído pelo holandês
Hans Hoogervorst.

33
Unidade I

Saiba mais

O Sr. Hans Hoogervorst assumiu a presidência do IASB em primeiro de


julho de 2011 e nessa data emitiu uma carta que pode ser lida (requer
conhecimentos de inglês) no seguinte link:

A WELCOME from the incoming chairman of the IASB. 1 jul. 2011.


Disponível em: https://bit.ly/3iRgB9j. Acesso em: 30 jun. 2014.

Nessa carta, Hoogervorst comenta sobre o legado que recebeu de Sir David Tweedie e que apesar
de não ser um técnico na área contábil, foi Ministro das Finanças do governo holandês e líder da
Autoridade do Mercado Financeiro desse país. Com isso, aprendeu também com a crise financeira de
2007‑2010 a importância de se manter um alto nível de transparência nas empresas, para uma efetiva
proteção ao investidor.

Hoogervorst comentou ainda que há muitas oportunidades de mudanças e que suas prioridades são
a de completar o projeto de convergência contábil internacional e preparar uma agenda para assuntos
e desenvolvimentos pós‑convergência. Em especial, trabalhar para que os Estados Unidos adotem as
normas internacionais em sua plenitude.

Por fim, Hoogervorst enfatiza o caráter internacional da IASB, que apesar de ser uma entidade
jovem, reúne uma verdadeira diversidade cultural contábil.

G20

O grupo dos vinte ministros da fazenda e presidentes de banco central (G20) das 19 maiores
economias do mundo (incluindo a brasileira) mais a União Europeia, é um órgão internacional criado como
resposta para a crise financeira mundial em 2007‑2010 e vem influenciando a contabilidade internacional.

Saiba mais

Leia o comunicado do CFC sobre as recomendações do Ifac ao G20.

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Federação Internacional de


Contadores emite recomendações ao G20. Disponível em: https://bit.ly/2U8mlkE.
Acesso em: 26 maio 2015.

34
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Tem sido frequente a IASB e a FASB norte‑americana informarem ao líder político de um país
anfitrião de uma reunião do G20 como está o processo de convergência internacional.

Saiba mais

No site da IASB é possível encontrar uma página exclusiva dedicada só


para os documentos emitidos ao G20, relatando as ações da IASB/IFAC.

IFRS. Correspondence with the G20. Disponível em: https://bit.ly/35DrR18.


Acesso em: 27 maio 2015.

Organismos ligados à Organização das Nações Unidas – ONU

Os seguintes órgãos ligados à ONU também se preocupam com a convergência internacional:

• Fundo Monetário Internacional (FMI);

• Banco Mundial;

• United Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD (Conferência das Nações Unidas
para o Comércio e Desenvolvimento);

• International Standard of Accounting and Reporting – ISAR.

É muito relevante a atuação da UNCTAD/ONU/ISAR que, entre outras coisas, editou recomendações
para o currículo dos cursos de Ciências Contábeis e documentos sobre as IFRS e governança corporativa.

Entretanto, há uma polêmica sobre a participação da ONU nesse processo, que segundo alguns
autores seria muito tímida em relação às necessidades de mercado.

Segundo Niyama (2005), a ISAR acabou por “não decolar”. Entre as causas, Niyama (2005) lista
três fatores:

• um boicote das nações desenvolvidas em revelar dados das subsidiárias;

• um questionamento se as Nações Unidas deveriam definir padrões contábeis;

• a ausência dos Estados Unidos desde 1986.

Essa ausência dos Estados Unidos é a mesma que também dificultou o processo de convergência,
sendo que a IFAC e IASB tomaram a dianteira nesse processo.

35
Unidade I

Niyama (2010, p. 40‑53) cita como importantes organismos internacionais envolvidos com a convergência:

• Organization for Economic and Devolopment − OECD (Organização para Desenvolvimento e


Cooperação Econômica);

• Banking Supervision Committee (Comitê de Supervisão Bancária do Banco de Compensações


Internacionais);

• The Confederation of Asian and Pacific Accountants – CAPA (Confederação de Contadores da Ásia
e do Pacífico).

2.2 Normas Internacionais de Contabilidade: NIAS e IFRS

Figura 7 − Representação do edifício sede da IASB – Londres

A seguir, iremos estudar o processo para a formação e publicação de uma norma internacional,
sendo que após esse processo tal norma ainda não será de uso regulamentar nos países, passando por
um segundo processo para convergência às condições locais.

Segundo a IFRS (2014), o IASB é formado por 14 membros e exige‑se que pelo menos 9 deles
aprovem a publicação de uma norma. O IASB é assessorado pelo SAC, Conselho Consultivo de Normas,
composto por quarenta membros. O processo é formal e requer ampla consulta internacional e segue os
passos a seguir, conforme IFRS (2014):

a) A equipe do IASB é solicitada a identificar, revisar, e levantar questões que possam justificar a
atenção do conselho. A discussão do IASB sobre projetos potenciais e suas decisões em adotar
novos projetos ocorre nas reuniões públicas do conselho. Antes de chegar a essas decisões, o IASB
consulta o SAC sobre os itens da agenda proposta e a definição de prioridades.

b) Ao incluir um item em sua agenda ativa, o IASB decide se conduz o projeto sozinho ou em
conjunto com outro normatizador.

c) Após considerar a natureza das questões e o nível de interesse entre os constituintes, o IASB pode
estabelecer um grupo de trabalho.

36
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

d) Embora um documento de discussão não seja um passo obrigatório em seu processo, o IASB
normalmente publica um documento de discussão como sua primeira publicação sobre qualquer
novo tópico importante.

Normalmente, um documento de discussão inclui uma visão abrangente da questão, possíveis


abordagens no tratamento da questão, pontos de vista preliminares de seus autores ou do IASB
e um convite para comentários. Se o IASB decidir omitir esse passo, ele declarará seus motivos.

e) A publicação de uma minuta de exposição é um passo obrigatório no processo requerido. O


desenvolvimento de uma minuta de exposição é realizado durante as reuniões públicas conduzidas
pelo IASB. Isso envolve a consideração e decisões do IASB sobre questões com base na pesquisa
e recomendações da equipe, bem como em comentários de qualquer documento de discussão,
sugestões feitas pela SAC, grupos de trabalho e normatizadores nacionais e resultantes de sessões
públicas de instrução conduzidas para o IASB.

Uma minuta de exposição será acompanhada de uma base para conclusões e incluirá quaisquer
pontos de vista alternativos de membros divergentes do IASB.

f) O IASB revisa as cartas‑comentário recebidas e os resultados de outras consultas. Como uma forma
de explorar mais as questões e solicitar outros comentários e sugestões, o IASB pode conduzir
visitas em campo ou providenciar audiências públicas e reuniões de mesa‑redonda.

g) O desenvolvimento de uma IFRS é realizado durante as reuniões públicas conduzidas pelo IASB.
Após resolver as questões que surgem da minuta de exposição, o IASB considera se deve expor
quaisquer propostas revisadas para comentários públicos. Quando o IASB estiver satisfeito de ter
chegado a uma conclusão sobre as questões que surgem da minuta de exposição, ele instrui a
equipe a preparar a IFRS. Uma IFRS deve ser aprovada por pelo menos nove membros do IASB. Uma
IFRS será acompanhada de uma base para conclusões e incluirá quaisquer opiniões divergentes de
membros do IASB que votem contra a norma.

Ao adotar a abordagem “cumprir ou explicar” – comply or explain, que é usada por vários órgãos
reguladores, o IASB explica seus motivos de decidir omitir qualquer passo não obrigatório de seu
processo de consulta.

Após a apreciação do IASB, o pronunciamento segue para o IFRIC, onde são desenvolvidas as
interpretações das IFRSs.

O IFRIC também segue um processo de análise, aprovação e publicação, semelhante ao que é adotado
pelo IASB.

Todas as reuniões do IASB e do IFRIC são abertas para observação pública, embora algumas discussões
possam ser realizadas de forma privada.

37
Unidade I

A cada minuta de discussão e de exposição de norma, é oferecida a possibilidade de comentários


durante o período de 120 dias, quando interessados poderão se expressar. A imagem a seguir resume o
processo de elaboração de uma norma internacional na IASB:

Definição da agenda
Pesquisa

Propostas Documento Propostas


de discussão
(opcional)

Atividades Consulta pública


extensivas de
Usuários interessados

interação com Minuta de


partes externas exposição de
pronuncia-
mento IRFS
Contribuição para
o processo de
elaboração dos Consulta
proncunciamentos pública
contábeis Publicação Relatório de
do IFRS sugestões

Processo de adoção jurisdictional


Revisão pelo IASB, dois anos após a
implantação

Figura 8 − Desenvolvimento de Normas Internacionais pela IASB

A estrutura conceitual do IASB (framework)

É muito importante estudarmos a interessante estrutura conceitual do IASB.

A IASB mantém uma estrutura conceitual, que auxilia o desenvolvimento de IFRSs futuras e suas revisões
e a promoção da harmonização de regulamentos, normas e procedimentos relacionados à apresentação das
demonstrações financeiras, conforme International Accounting Standards Committee Foundation (2008):

a) Os preparadores de demonstrações financeiras, na aplicação de IFRSs e no tratamento de tópicos


que ainda devem formar o objeto de uma norma ou uma interpretação.

b) Os auditores na formação de uma opinião sobre se as demonstrações financeiras estão de acordo


com as IFRSs.

c) Os usuários de demonstrações financeiras, na interpretação das informações contidas nas


demonstrações financeiras preparadas de acordo com as IFRSs.

d) Aqueles que estiverem interessados no trabalho do IASB, fornecendo‑lhes as informações sobre a


abordagem à formulação de normas contábeis.
38
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Quando uma entidade desenvolve uma norma contábil e há ausência de uma norma ou uma
interpretação que se aplique especificamente a um item, a administração dessa entidade é obrigada
a se referir e considerar a aplicabilidade dos conceitos dessa estrutura conceitual, de acordo com o
CPC 23 (CPC, 2009c).

É possível que surja conflito entre a estrutura conceitual e um requisito dentro uma norma ou uma
interpretação. Nesses casos, os requisitos da norma ou interpretação prevalecem sobre os da estrutura
comercial.

Lembrete

A IASB é atualmente um dos órgãos internacionais mais envolvidos


com a convergência.

Após estudar a estrutura, o framework da IASB, você deve estar se perguntando: afinal de contas,
o que é tão diferente nas normas contábeis internacionais? Por que tanta discussão? A seguir, há dois
exemplos de aplicação que vão te auxiliar a entender o que é tão diferente nas contabilidades entre os
diversos países. Um dos exemplos de aplicação é sobre usos e costumes comerciais chineses aplicados à
contabilidade. Depois, teremos a oportunidade de conhecer um dos casos mais famosos de aplicação de
normas contábeis, a chamada Hollywood Accounting.

Exemplo de aplicação

A China vem despontando como uma das maiores economias do planeta e já é um dos grandes
parceiros comerciais do Brasil. Um verdadeiro gigante econômico!

Pesquise algumas práticas, usos costumes comerciais chineses, tentando relacioná‑los com os
17 fatores que causam diferenças contábeis de Nobes (1998), que você estudou nesta unidade.

Saiba mais

Um interessante artigo que pode auxiliar nessa proposta de estudo:

MELLO, M. C. B.; SANTOS, M. J. O.; NIYAMA, J. K. A contabilidade e o meio


ambiente legal e regulamentar na China. Revista Universo Contábil, Blumenau,
v. 2, n. 2, p. 9‑23, maio/ago. 2006. Disponível em: https://bit.ly/3iDybxu.
Acesso em: 15 jul. 2014.

39
Unidade I

Na Hollywood Accounting você poderá ver como é a contabilidade aplicada ao cinema nos Estados
Unidos, ou seja, a aplicação de uma norma específica para esse segmento da economia.

Exemplo de aplicação

Segundo Cardoso e Szuster (2003), a The American Institute of Certified Public Accountants
(Instituto Americano de Contadores Públicos Cerficados – AICPA) lançou uma nova norma contábil para
a indústria cinematográfica, a FASB 139, em substituição a FASB 53, que tinha o nome de Relatório
Financeiro para Produtores e Distribuidores de Filmes.

Desde o lançamento, promoveu‑se uma grande mudança na indústria cinematográfica com o


surgimento de novas mídias como vídeos, TV a cabo, laser discs, a televisão em pay‑per‑view e, com
isso, foram necessárias mudanças nas normas contábeis.

Embora fosse do conhecimento que a FASB 53 estava desatualizada e novos procedimentos eram
necessários, a FASB não poderia lançar uma nova norma porque estava com a agenda lotada. Sendo
assim, repassou‑se excepcionalmente a tarefa de atualizar a FASB 53 para a AICPAs AcSEC, que já tinha
um histórico de serviços para normatização em ramos específicos de negócios.

As principais mudanças instituídas foram:

1 − as despesas com propaganda e promoção de filmes não podem ser capitalizadas (antes permitia‑se
a capitalização desses gastos);

2 − os estúdios têm no máximo 10 anos para amortizar filmes;

3 − projetos abandonados ou custos excessivos para a produção de filmes precisam ser demonstrados
como despesas.

Definiu‑se “filme” como recurso cinematográfico que inclui cenas de ação e argumentos animados,
especiais de televisão, séries de televisão e outros produtos que são vendidos, licenciados ou exibidos
caso sejam produzidos no formato de fitas (películas), videotapes, tecnologias digitais ou qualquer outra
forma de formato de gravação.

Especialistas previam que, com a entrada da FASB 139, os grandes estúdios iriam ser severamente
impactados, porque os gastos com promoção seriam considerados como despesas, antes mesmo de um
filme ser lançado.

Perguntas para estudo:

Por que a norma FASB 53 teve que ser revogada e substituída pela norma FASB 139?

É correto um filme ser amortizado em dez anos, como determina a norma FASB 139? Por quê?

40
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Filmes clássicos como E o Vento Levou, Tempos Modernos de Charles Chaplin, E.T., Guerra nas Estrelas
ou Titanic também devem receber esse mesmo tratamento, mesmo se tratando de filmes que continuam
a gerar faturamento para os estúdios vários anos após o seu lançamento?

Está correto que os gastos excessivos com produção de filmes sejam considerados despesas e não
amortizados junto com os filmes?

Deveria haver uma norma deste tipo no Brasil?

Tente estabelecer diferenças entre a forma como o profissional da contabilidade é orientado a agir
de acordo com a norma norte‑americana FASB 153 e com o Pronunciamento Conceitual Básico do CPC.

Observação

A FAS 153 é de uso específico nos Estados Unidos e não tem validade
no Brasil. Ainda não há uma norma específica para o audiovisual no Brasil e
também não há nas normas internacionais. A normatização contábil nos EUA
e no Brasil, como característica, é extensa. Já a Normatização Internacional
de Contabilidade e Auditoria, ao contrário, é muito menos extensa.

2.3 Normas Brasileiras de Contabilidade: CPC e NBC – TG

As Normas Brasileiras de Contabilidade, NBC, de responsabilidade do Conselho Federal de


Contabilidade – CFC, são regras e condutas para o exercício da profissão contábil, além dos conceitos
doutrinários, princípios, estrutura técnica e procedimentos para a realização de trabalhos na área
contábil. Elas abrangem o Código de Ética Profissional do Contabilista, Normas de Contabilidade,
Normas de Auditoria Independente e de Asseguração, Normas de Auditoria Interna e Normas de
Perícia. Além disso, são convergentes com as Normas Internacionais de Contabilidade.

As NBC classificam‑se em profissionais (NBC P) e técnicas (NBC T), sendo enumeradas sequencialmente.

Saiba mais

As Normas Brasileiras de Contabilidade estão em constante atualização.


Acompanhe‑as:

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resoluções, ementas e normas


do CFC. Brasília, [s.d.]a. Disponível em: https://bit.ly/2Txh31R. Acesso em:
14 jul. 2014.

41
Unidade I

Uma norma internacional não entra em vigor no Brasil a partir da sua publicação pela IASB. O
Comitê de Pronunciamentos Contábeis realiza um trabalho de análise e aprovação e, posteriormente, a
norma internacional é publicada em uma Norma Brasileira de Contabilidade, uma NBC.

Assim como a IASC, o CPC mantém um processo de análise, discussão e aprovação, no qual se prevê,
entre outras coisas, audiências públicas.

Foi organizado o Comitê Gestor da Convergência, formalizado por meio da Resolução CFC nº 1.103,
de 28 de setembro de 2007, art. 2º. As entidades que compõem o Comitê Gestor da Convergência no
Brasil são:

• Conselho Federal de Contabilidade (CFC);

• Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON);

• Comissão de Valores Mobiliários (CVM);

• Banco Central do Brasil (BCB);

• Superintendência de Seguros Privados (Susep);

• Secretaria do Tesouro Nacional (STN).

• Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

ORG 1
ORG 2
CFC

ORG 3

Figura 9 – Situação anterior à criação do CPC: o CFC é o responsável pelas NBCs,


mas outras organizações também costumavam emitir normas com consequência contábil
de forma autônoma. Não raramente essas normas eram discordantes ou geravam dúvidas

42
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

CPC IASB

ORG 1
ORG 2
CFC

ORG 3

Figura 10 – Situação posterior à criação do CPC: a IASB, com sede em Londres, emite as
normas internacionais que, por sua vez, passam por uma análise no CPC, que depois distribui o
mesmo conteúdo para todas as organizações interessadas. Não há mais risco de conflitos e dúvidas
entre diferentes organizações. O CPC também colabora continuamente com a IASB

O processo adotado pelo CPC, de acordo com o regimento interno, para a aprovação de uma norma
internacional é demonstrado a seguir:

• o CPC reúne‑se no mínimo a cada 30 (trinta) dias;


• a aprovação dos Pronunciamentos Técnicos, das Orientações e das Interpretações dá‑se, sempre,
por no mínimo 2/3 (dois terços) dos membros do CPC;
• o CPC pode, em caráter temporário, criar comissões compostas por entidades e/ou especialistas
para assessoramento em assuntos de interesse específico;
• de acordo com a Resolução CFC nº 1.055/05, é atribuição do CPC estudar, pesquisar, discutir,
elaborar e deliberar sobre o conteúdo e a redação de pronunciamentos técnicos, podendo,
inclusive, emitir instruções e orientações;
• os pronunciamentos técnicos estabelecem conceitos doutrinários, estrutura técnica e procedimentos
a serem aplicados;
• o Pronunciamento Técnico é identificado pela sigla CPC, seguida de numeração sequencial,
seguido de hífen e denominação, por exemplo, CPC 01 – “Denominação”;
• os Pronunciamentos Técnicos, após aprovados, serão divulgados juntamente com:

— sumário;
— termo de aprovação; relatório de audiência pública.

43
Unidade I

• as Interpretações são emitidas para esclarecer, de forma mais ampla, os Pronunciamentos Técnicos;

• a Interpretação é identificada pela sigla ICPC, seguida de numeração sequencial, seguido de hífen
e denominação, por exemplo, ICPC 01 – “Denominação”;

• as Interpretações, após aprovadas, serão divulgadas juntamente com: Termo de Aprovação;


Relatório de Audiência Pública, quando houver;

• as Orientações possuem caráter transitório e informativo, destinando‑se a dar esclarecimentos


sobre a adoção dos Pronunciamentos Técnicos e/ou Interpretações.

• a Orientação é identificada pela sigla OCPC, seguida de numeração sequencial, seguido de hífen e
denominação, por exemplo, OCPC 01 – “Denominação”.

• quando houver a revogação de um Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação, sua


numeração não será reutilizada.

• o CPC dará conhecimento público da aprovação ou revogação de seus documentos, por meio dos
seguintes termos:

— Termo de Aprovação – contendo, obrigatoriamente, a informação da Ata da Reunião do CPC


em que se deu a aprovação do documento.

— Termo de Revogação – contendo, obrigatoriamente, a informação da Ata da Reunião do CPC


em que se deu a revogação do documento.

• com o objetivo de que todos os documentos emitidos pelo CPC estejam convergentes com as
Normas Internacionais de Contabilidade emitidas pelo International Accounting Standards Board
(IASB), o CPC dará conhecimento público da inclusão de aprimoramentos e de correções em
documentos já editados, por meio do documento intitulado “Revisão CPC nº ‘X’”;

• a Revisão CPC é seguida de numeração sequencial, por exemplo, Revisão CPC nº “X”;

• as Revisões CPC, após aprovadas, serão divulgadas juntamente com: Termo de Aprovação;
Relatório de Audiência Pública, se houver;

• os documentos revisados serão identificados pela sigla do documento a que se refere, seguido
da letra R, numeração sequencial, seguido de hífen e denominação, por exemplo, CPC 01 (R1) –
“Denominação”. A letra “R” identifica que aquele CPC foi revisado e o número 1 identifica que foi
realizada uma primeira revisão;

• os itens revisados serão identificados ao final do novo texto do Pronunciamento Técnico,


interpretação ou orientação, pela sigla NR, entre parênteses;

• a aprovação do documento de Revisão CPC se dará nos termos do art. 5º do Regimento Interno.
44
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Segundo Mourad e Paraskevopoulos (2010), o processo de convergência está em fase adiantada no


Brasil, sendo que já foram aprovadas várias normas e emitidos vários pronunciamentos.

2.4 Quadro comparativo dos CPCs com as IAS/IFRS

A seguir, demonstram‑se os pronunciamentos, atualizados até o mês de abril de 2015:

Tabela 1 − Pronunciamentos contábeis emitidos

Documento Título Data Aprovação Data Divulgação IASB (IAS/IFRS)


Estrutura Conceitual para
CPC 00 Elaboração e Divulgação de 02/12/2011 15/12/2011
Relatório Contábil‑Financeiro
Redução ao Valor Recuperável de
CPC 01 06/08/2010 07/10/2010 IAS 36
Ativos
Efeitos das Mudanças nas Taxas
CPC 02 de Câmbio e Conversão de 03/09/2010 07/10/2010 IAS 21
Demonstrações Contábeis
CPC 03 Demonstração dos Fluxos de Caixa 03/09/2010 07/10/2010 IAS 7
CPC 04 Ativo Intangível 05/11/2010 02/12/2010 IAS 38
Divulgação sobre Partes
CPC 05 03/09/2010 07/10/2010 IAS 24
Relacionadas
Operações de Arrendamento
CPC 06 05/11/2010 02/12/2010 IAS 17
Mercantil
Subvenção e Assistência
CPC 07 05/11/2010 02/12/2010 IAS 20
Governamentais
Custos de Transação e Prêmios
CPC 08 na Emissão de Títulos e Valores 03/12/2010 16/12/2010 IAS 39
Mobiliários
Demonstração do Valor Adicionado
CPC 09 30/10/2008 12/11/2008 ‑
(DVA)
CPC 10 Pagamento Baseado em Ações 03/12/2010 16/12/2010 IFRS 2
CPC 11 Contratos de Seguro 05/12/2008 17/12/2008 IFRS 4
CPC 12 Ajuste a Valor Presente 05/12/2008 17/12/2008 ‑
Adoção Inicial da Lei nº 11.638/07
CPC 13 05/12/2008 17/12/2008 ‑
e da Medida Provisória nº 449/08
Instrumentos Financeiros:
Reconhecimento, Mensuração
CPC 14 e Evidenciação (Fase I) –
Transformado em OCPC 03
CPC 15 Combinação de Negócios 03/06/2011 04/08/2011 IFRS 3
CPC 16 Estoques 08/05/2009 08/09/2009 IAS 2
CPC 17 Contratos de Construção 19/10/2012 08/11/2012 IAS 11
Investimento em Coligada, em
CPC 18 Controlada e em Empreendimento 07/12/2012 13/12/2012 IAS 28
Controlado em Conjunto
CPC 19 Negócios em Conjunto 09/11/2012 23/11/2012 IAS 31
CPC 20 Custos de Empréstimos 02/09/2011 20/10/2011 IAS 23

45
Unidade I

Documento Título Data Aprovação Data Divulgação IASB (IAS/IFRS)


CPC 21 Demonstração Intermediária 02/09/2011 20/10/2011 IAS 34
CPC 22 Informações por Segmento 26/06/2009 31/07/2009 IFRS 8
Políticas Contábeis, Mudança de
CPC 23 26/06/2009 16/09/2009 IAS 8
Estimativa e Retificação de Erro
CPC 24 Evento Subsequente 17/07/2009 16/09/2009 IAS 10
Provisões, Passivos Contingentes e
CPC 25 26/06/2009 16/09/2009 IAS 37
Ativos Contingentes
Apresentação das Demonstrações
CPC 26 02/12/2011 15/12/2011 IAS 1
Contábeis
CPC 27 Ativo Imobilizado 26/06/2009 31/07/2009 IAS 16
CPC 28 Propriedade para Investimento 26/06/2009 31/07/2009 IAS 40
CPC 29 Ativo Biológico e Produto Agrícola 07/08/2009 16/09/2009 IAS 41
CPC 30 Receitas 19/10/2012 08/11/2012 IAS 18
Ativo Não Circulante Mantido para
CPC 31 17/07/2009 16/09/2009 IFRS 5
Venda e Operação Descontinuada
CPC 32 Tributos sobre o Lucro 17/07/2009 16/09/2009 IAS 12
CPC 33 Benefícios a Empregados 07/12/2012 13/12/2012 IAS 19
Exploração e Avaliação de
CPC 34 Recursos Minerais
CPC 35 Demonstrações Separadas 31/10/2012 08/11/2012 IFRS 27
CPC 36 Demonstrações Consolidadas 07/12/2012 20/12/2012 IFRS 10
Adoção Inicial das Normas
CPC 37 05/11/2010 02/12/2010 IFRS 1
Internacionais de Contabilidade

Instrumentos Financeiros:
CPC 38 02/10/2009 19/11/2009 IAS 39
Reconhecimento e Mensuração
Instrumentos Financeiros:
CPC 39 02/10/2009 19/11/2009 IAS 32
Apresentação
Instrumentos Financeiros:
CPC 40 01/06/2012 30/08/2012 IFRS 7
Evidenciação
CPC 41 Resultado por Ação 08/07/2010 06/08/2010 IAS 33
Contabilidade e Evidenciação em
CPC 42 Economia Altamente Inflacionária
Adoção Inicial dos
CPC 43 Pronunciamentos Técnicos CPCs 03/12/2010 16/12/2010 IFRS 1
15 a 41
CPC 44 Demonstrações Combinadas
Divulgação de Participações em
CPC 45 07/12/2012 13/12/2012 IFRS 12
outras Entidades
CPC 46 Mensuração do Valor Justo 07/12/2012 20/12/2012 IFRS 13
Contabilidade para Pequenas e
CPC PME Médias Empresas com Glossário de 04/12/2009 16/12/2009 IFRS for SMES
Termos

Fonte: CPC ([s.d.]).

46
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Alinhada com a IASB, que reconheceu a necessidade de normas específicas para pequenas e médias
empresas, também o CFC criou normas para essas empresas: as normas NBC TG 1000 e sua simplificação,
a NBC TG 1000.

Quadro 3 − Normas contábeis brasileiras de acordo com o porte da empresa

Porte Adoção Norma CFC Comentários Extensão


+ – 3.000
Grande Compulsório NBC TG 1 a 46 Normas contábeis completas páginas
Versão simplificada + – 250
Pequenas e médias Compulsório NBC TG 1000 35 seções das normas páginas
completas
Micro e Pequenas Opção ITG 1000 Versão simplificada da NBG TG 1000 + – 13 páginas

A seguir um quadro com os critérios utilizados para a classificação do porte das empresas:

Quadro 4 − Classificação das empresas quanto ao porte, conforme legislação

Porte Adoção Norma CFC Comentários Receita Bruta

Grande Compulsório NBC TG 1 a 46 Normas contábeis completas R$ 300 milhões


Versão simplificada
Pequenas e médias Compulsório NBC TG 1000 das normas completas Até R$ 300 milhões
35 seções
PME – Pequenas e Acima de R$
Compulsório NBC TG 1000
médias 3.600.000,00
EPP – Empresa de De R$ 360.000,00
Opção ITG 1000 Versão simplificada da NBG TG 1000
Pequeno Porte até R$ 3.600.000,00
Até R$ 360.000,00
ME – Microempresa Opção ITG 1000

Saiba mais

Consulte a ITG 1000:

CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 1.418/12.


Aprova a ITG 1000 – Modelo Contábil para Microempresa e Empresa de
Pequeno Porte. Brasília, 2012. Disponível em: https://bit.ly/3glPOjR. Acesso
em: 27 maio 2015.

47
Unidade I

Exemplo de aplicação

Que tal investigar como está a convergência das normas internacionais de outros países?

Indicamos que você explore como foi o processo de convergência nos países do BRICS, ou seja:

• África do Sul.

• China.

• Índia.

• Rússia.

Além desses, um país que indicamos para pesquisa é Angola. Após uma dolorosa, sangrenta e longa
guerra civil, o país conquistou a paz. Durante algum tempo teve a presença militar de brasileiros, atuando
nas forças de paz da ONU, os famosos “capacetes azuis”.

Desde então, Angola vem experimentando um formidável e inacreditável crescimento econômico,


sendo que no ano de 2014 foi inaugurada a Bolsa de Dívidas e Valores de Angola – “BODIVA”.

Diversos profissionais e operadores para a BODIVA estão recebendo instruções aqui no Brasil, em São
Paulo, na Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais – APIMEC.

Saiba mais

Acompanhe as publicações no site da Comissão de Valores Mobiliários


de Angola:

Disponível em: https://bit.ly/3gI3GUn. Acesso em: 27 jan. 2015.

3 POLÍTICAS CONTÁBEIS

3.1 Procedimentos de acordo com a IAS 8, CPC 23(R1) e NBC TG 23(R1)

A seguir, iremos estudar o trâmite desta norma para ser incorporada nas práticas contábeis brasileiras
e suas principais implicações.

No dia 26 de junho de 2009, o CPC resolveu aprovar a IAS 8 no Brasil, com a codificação CPC23.
Nessa ocasião, CPC (2009c) redigiu o seguinte “Termo de aprovação”:

48
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

A Coordenadoria Técnica do Comitê de Pronunciamentos Contábeis


(CPC) torna pública a aprovação pelos membros do CPC, de acordo com
as disposições da Resolução CFC n.º 1.055/05 e alterações posteriores,
do Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de
Estimativa e Retificação De Erro. O Pronunciamento foi elaborado a
partir do IAS 8 – Accounting Policies, Changes in Accounting Estimates
and Errors (IASB), e sua aplicação, no julgamento do Comitê, produz
reflexos contábeis que estão em conformidade com o documento
editado pelo IASB.

A aprovação do Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis,


Mudança de Estimativa e Retificação de Erro pelo Comitê de Pronunciamentos
Contábeis está registrada na Ata da Reunião Extraordinária do Comitê de
Pronunciamentos Contábeis, realizada no dia 26 de junho de 2009.

O Comitê recomenda que o Pronunciamento, para fins de sua adoção, seja


referendado pelas entidades reguladoras brasileiras.

Brasília, 26 de junho de 2009.

Antes disso, de acordo com o procedimento, o CPC organizou uma audiência pública onde a norma
pode ser discutida. É possível observar que houve uma intensa atividade para a melhoria dessa norma
no âmbito brasileiro. É o que diz o “Relatório da Audiência Pública”, de acordo com CPC (2009c):

1. A minuta do CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa


e Retificação de Erro esteve em audiência pública conjunta com a
Comissão de Valores Mobiliários – CVM até 15/06/09. Houve sugestões
principalmente quanto à forma, e algumas quanto ao conteúdo. As
relativas à forma não serão destacadas neste relatório. A maioria das
sugestões de natureza redacional ou com característica de melhoria do
entendimento foi acatada.

Dentro do procedimento, adotado também pela IASB, de “cumprir ou explicar” (comply or explain),
o CPC justificou o motivo de não ter acatado algumas sugestões, conforme CPC (2009c):

2. As sugestões não acatadas e os motivos da não aceitação por parte do


CPC estão a seguir apresentados:

a. Sugestão de modificação de uma série de termos e expressões.

Razão: sugestão não aceita em virtude de grande parte dessas sugestões


se referir a termos e expressões que já foram ou vêm sendo utilizadas pelo
CPC em outros Pronunciamentos. Provavelmente uma revisão geral será
efetuada futuramente, quando o assunto deverá ser revisitado.
49
Unidade I

b. Sugestão de inclusão do guia de implementação.

Razão: o CPC concluiu que esse guia não traria benefícios substanciais
nesse momento, tendo em vista o Pronunciamento já ser bem conhecido e
aplicado no Brasil.

c. Sugestão de autorização para adoção antecipada.

Razão: essa matéria é de responsabilidade dos órgãos reguladores.

Como podemos ver aqui, o CPC partiu do princípio de que essa norma já trazia uma prática corrente
e comum no Brasil, por isso dispensou a elaboração de um manual. Havia, nesse momento, algumas
dificuldades quanto aos termos, que ficaram para análise posterior.

Lembrete

O Brasil já vinha realizando um esforço de convergência às normas


internacionais, não como uma exigência, mas de forma voluntária, ao
mesmo tempo em que se baseava nas normas norte‑americanas, que
tinham um mercado de capitais mais evoluído.

Por fim, o CPC (2009c) comenta que recebeu comentários e sugestões, mas sem oferecer alternativas:

3. Diversos comentários e sugestões de natureza geral ou específica foram


recebidos, mas sem oferecer alternativas.

4. O CPC agradece por todas as sugestões recebidas.

Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) Coordenadoria Técnica

A norma foi então divulgada ao mercado no dia 16 de setembro de 2009. A partir da publicação da
norma IAS 8 para o Brasil, com a codificação CPC23, outras organizações que emitem normas contábeis ou
com consequências contábeis, ou como se diz, “reguladoras”, também realizaram suas próprias publicações.

Lembrete

Uma das grandes preocupações para a publicação de normas contábeis


internacionais no Brasil é a possibilidade de criarem consequências que elevem
a carga tributária das empresas, o que fatalmente levaria a uma rejeição.

50
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

A seguir, vemos na figura quais são essas publicações:

CPC
CPC 23

IASB
IAS 8
ORG 1
ORG 2 CVM - Deliberação CVM nº 592/09
CFC BACEN/CMN - Resolução nº 4.007/11
(Banco Central do Brasil)
Aneel - 605/14 Manual
ANS - Resolução Normativa nº 322/13
Susep - Circular nº 464/13
ANTT - 3.847 e 3.848/12 Manual
ORG 3

Figura 11 – Emissão da Norma IAS 8 e sua introdução no Brasil

No Conselho Federal de Contabilidade, onde a norma recebe a nomenclatura NBC TG 23, houve a
redação da seguinte resolução:

Resolução CFC nº. 1.179/09

Aprova a NBC TG 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e


Retificação de Erro.

O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais


e regimentais,

Considerando que o Conselho Federal de Contabilidade, em conjunto com


outras entidades, é membro do Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC), criado pela Resolução CFC nº. 1.055/05;

Considerando que o CPC tem por objetivo estudar, preparar e emitir


Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de contabilidade e divulgar
informações dessa natureza, visando permitir a emissão de normas uniformes
pelas entidades‑membro, levando sempre em consideração o processo de
convergência às normas internacionais;

Considerando que o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, a partir do IAS


8 do IASB, aprovou o Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis,
Mudança de Estimativa e Retificação de Erro;

51
Unidade I

Resolve:

Art. 1º. Aprovar a NBC TG 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa


e Retificação de Erro.

Art. 2º. Esta Resolução entra em vigor nos exercícios iniciados a partir de
1º de janeiro de 2010, quando dar‑se‑á a revogação da Resolução CFC
nº 1.087/06, publicada no D.O.U., Seção I, de 12/02/07, sendo recomendada
sua adoção antecipada.

Brasília, 24 de julho de 2009.

Contadora Maria Clara Cavalcante Bugarim


Presidente

Ata CFC nº 927 (CFC, 2009).

Observe que essa resolução foi um ato cerimonial, sendo a CPC 23 publicada na íntegra. Um
comportamento coerente com a proposta do processo de convergência contábil internacional. Na
ocasião, essa resolução revogou a “NBC T 19.11– Mudanças Prát. Cont. Estimat. Correção Erros” de
12 fevereiro de 2007, a norma brasileira que vigorava até então.

Saiba mais

Compare a NBC TG 23 com a NBC T 19.11. O texto na íntegra dessas


duas resoluções pode ser encontrado em:

Disponível em: www.cfc.org.br/. Acesso em: 30 jun. 2015.

Posteriormente, em 2013, a resolução passou por uma revisão no Conselho Federal de Contabilidade,
que passou a ter em sua sigla a expressão (R1), que significa que a norma já passou por uma revisão.
Segundo CFC (2013c):

Norma Brasileira de Contabilidade – NBC TG 23 (R1), de 11 de dezembro


de 2013

Altera a NBC TG 23 que dispõe sobre políticas contábeis, mudança de


estimativa e retificação de erro.

O Conselho Federal de Contabilidade, no exercício de suas atribuições legais


e regimentais e com fundamento no disposto na alínea “f” do art. 6º do

52
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Decreto‑Lei n.º 9.295/46, alterado pela Lei n.º 12.249/10, faz saber que
foi aprovada em seu Plenário a alteração da seguinte Norma Brasileira de
Contabilidade (NBC):

1. Altera a alínea (b) do item 52 na NBC TG 23 – Políticas Contábeis, Mudança


de Estimativa e Retificação de Erro, que passa a vigorar com a seguinte
redação:

“52. (...)

(b) teria estado disponível quando as demonstrações contábeis desse período


anterior foram autorizadas para divulgação. Para alguns tipos de estimativas
(por exemplo, a mensuração do valor justo que utiliza dados significativos
não observáveis), é impraticável distinguir esses tipos de informação. Caso
a aplicação retrospectiva ou a reapresentação retrospectiva exigir que se
faça uma estimativa significativa para a qual seja impossível distinguir esses
dois tipos de informação, é impraticável aplicar a nova política contábil ou
retificar o erro de período anterior retrospectivamente.”

2. Em razão dessa alteração, as disposições não alteradas desta Norma são


mantidas e a sigla da NBC TG 23, publicada no DOU, Seção I, de 4/8/09, passa
a ser NBC TG 23 (R1).

3. A alteração desta Norma entra em vigor na data de sua publicação,


aplicando‑se aos exercícios iniciados a partir de 1º de janeiro de 2013.

Brasília, 11 de dezembro de 2013.

Contador Juarez Domingues Carneiro


Presidente

Observe então que foi modificada a alínea b do item 52, na NBC TG 23. Vamos entender o que
aconteceu? Antes a alínea b do item 52 tinha a seguinte redação (CFC, 2013c):

(b) teria estado disponível quando as demonstrações contábeis desse


período anterior foram autorizadas para divulgação. Para alguns tipos
de estimativas (por exemplo, a estimativa do valor justo não baseada
em preço observável ou em variáveis observáveis), é impraticável
distinguir esses tipos de informação. Caso a aplicação retrospectiva ou a
reapresentação retrospectiva exigir que se faça uma estimativa significativa
para a qual seja impossível distinguir esses dois tipos de informação, é
impraticável aplicar a nova política contábil ou retificar o erro de período
anterior retrospectivamente.

53
Unidade I

Agora, ela está assim:

b) teria estado disponível quando as demonstrações contábeis desse


período anterior foram autorizadas para divulgação. Para alguns tipos
de estimativas (por exemplo, a mensuração do valor justo que utiliza
dados significativos não observáveis), é impraticável distinguir esses
tipos de informação. Caso a aplicação retrospectiva ou a reapresentação
retrospectiva exigir que se faça uma estimativa significativa para a qual
seja impossível distinguir esses dois tipos de informação, é impraticável
aplicar a nova política contábil ou retificar o erro de período anterior
retrospectivamente (CFC, 2013c).

A alteração realizada foi para deixar mais adequados os procedimentos quanto ao valor justo.

Já na Comissão de Valores Mobiliários, que revogou a Deliberação 506, de 19 e junho de 2006, temos
a seguinte redação, segundo CVM (2009):

Deliberação CVM Nº 592, de 15 de setembro de 2009

Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 23 do Comitê de Pronunciamentos


Contábeis, que trata de políticas contábeis, mudança de estimativa e
retificação de erro.

O Presidente da Comissão de Valores Mobiliários – CVM torna público


que o Colegiado, em reunião realizada em 8 de setembro de 2009, com
fundamento nos §§ 3º e 5º do art. 177 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro
de 1976, combinados com os incisos II e IV do § 1o do art. 22 da Lei no 6.385,
de 7 de dezembro de 1976, DELIBEROU:

I – aprovar e tornar obrigatório, para as companhias abertas, o Pronunciamento


Técnico CPC 23, emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC,
anexo à presente Deliberação, que trata de políticas contábeis, mudança de
estimativa e retificação de erro;

II – revogar a Deliberação CVM nº 506, de 19 de junho de 2006; e

III – que esta Deliberação entra em vigor na data da sua publicação no Diário
Oficial da União, aplicando‑se, inclusive no que se refere à revogação de que
trata o item II, aos exercícios encerrados a partir de dezembro de 2010 e às
demonstrações financeiras de 2009 a serem divulgadas em conjunto com
as demonstrações de 2010 para fins de comparação.

Original assinado por

Marcos Barbosa Pinto


Presidente, em Exercício
54
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Também temos aqui um ato cerimonial, mas com a preocupação de alertar a entrada em vigor da
deliberação.

No Banco Central do Brasil, houve a seguinte resolução (BACEN, 2015):

Resolução nº 004007

‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑

Dispõe sobre registro contábil e evidenciação de políticas contábeis, mudança


de estimativa e retificações de erros.

O Banco Central do Brasil, na forma do art. 9º da Lei nº 4.595, de 31 de


dezembro de 1964, torna público que o Conselho Monetário Nacional, em
sessão realizada em 25 de agosto de 2011, com base no art. 4º, incisos VIII
e XII, da referida Lei, e tendo em vista o disposto no art. 61 da Lei nº 11.941,
de 27 de maio de 2009,

Resolveu:

Art. 1º. As instituições financeiras e as demais instituições autorizadas a


funcionar pelo Banco Central do Brasil devem observar o Pronunciamento
Técnico CPC 23 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de
Erro, aprovado pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), em 26 de
junho de 2009.

§ 1º. Os pronunciamentos citados no texto do CPC 23, enquanto não


referendados por ato específico do Conselho Monetário Nacional, não podem
ser aplicados.

§ 2º. As referências a “pronunciamento, interpretação e orientação”,


constantes dos parágrafos 7, 10, 11, 13, 14, 19, 20, 21, 26, 28, 30, 31 e 41
do CPC 23, devem ser entendidas como “pronunciamento, interpretação e
orientação recepcionados pelo Conselho Monetário Nacional, bem como
outros dispositivos do Plano

Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (Cosif)”.

Art. 2º. O Banco Central do Brasil disciplinará os procedimentos adicionais


a serem observados na contabilização e divulgação das informações de que
trata esta Resolução.

55
Unidade I

Art. 3º. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, produzindo
efeitos a partir de 1º de janeiro de 2012.

Brasília, 25 de agosto de 2011.

Altamir Lopes
Presidente do Banco Central, substituto

Vemos que a grande preocupação do Banco Central foi com a nomenclatura ser aderente ao plano
contábil das instituições do sistema financeiro nacional, o COSIF, e em alertar para que alguns itens
dependiam de um ato específico do Conselho Monetário Nacional.

Observação

Observe a que ponto podem chegar as consequências de uma nova


norma contábil no Brasil: alguns assuntos precisam ser aprovados pelo
Conselho Monetário Nacional, a mais alta comissão responsável por
decisões sobre a economia do país!

No âmbito da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, em 19 de março de 2014, por


meio da Resolução Normativa nº 605/2014, foi publicado o “Manual de Contabilidade do Setor
Elétrico – MCSE”, instituído pela Resolução Normativa Aneel nº 444 de 26.10.2001, que revogou
a seguinte legislação:

‑ Resolução Normativa Aneel nº 444 de 26.10.2001,

‑ Resolução Aneel nº 668 de 26.12.2001,

‑ Resolução Normativa Aneel nº 370 de 30.06.2009,

‑ Os parágrafos 1º e 2º do art. 1º, o art. 2º, o parágrafo 2º do art. 9º, e o


parágrafo único do art. 10, todos da Resolução Normativa Aneel 396,
de 23.02.2010 (ANEEL, 2014)

Devido a diversas especificidades do setor elétrico, a Aneel preferiu elaborar um manual de


contabilidade completo, com 754 páginas, ao invés de elaborar Resoluções Normativas Constantes. Este
foi o ato de aprovação desse manual, conforme Aneel (2015):

Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel

Resolução Normativa nº 605, de 11 de março de 2014

Aprova o Manual de Contabilidade do Setor Elétrico – MCSE, instituído pela


Resolução Normativa nº 444, de 26 de outubro de 2001.
56
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

O Diretor‑Geral da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, no uso


de suas atribuições regimentais, de acordo com a deliberação da Diretoria,
tendo em vista o disposto no art. 2º da Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de
1996, nos incisos IV e XXXIII do art. 4º do Anexo I do Decreto nº 2.335, de
6 de outubro de 1997, e o que consta do Processo nº 48500.004789/2011‑24,
resolve:

Art. 1º. Aprovar o Manual de Contabilidade do Setor Elétrico – MCSE,


conforme anexo.

Art. 2º. São alcançados pelo MCSE os agentes com outorgas de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica.

Parágrafo único. No caso das outorgas de geração, estão no alcance do


MCSE as de serviço público de energia elétrica e as de uso de bem público
para exploração de potencial de energia hidráulica em regime de produção
independente.

Art. 3º. Estabelecer que a implantação do plano de contas do MCSE deverá


estar respaldada na confiabilidade da informação, obedecendo a requisitos
técnicos que garantam a segurança, rastreabilidade, disponibilidade e
auditoria das informações contábeis.

§ 1º. O plano de contas da Aneel deverá estar associado diretamente aos eventos
contábeis, mesmo que a concessionária ou permissionária possua outros planos
de contas que atendam a seus controles internos ou a outros órgãos.

§ 2°. A associação entre os eventos contábeis e o plano de contas referencial


da Aneel deverá respeitar o princípio da univocidade, ou seja, a prestação
de informações deve obedecer a uma origem única aonde as regras
estabelecidas possam ser facilmente identificáveis.

Art. 4º. Serão disponibilizadas pela Aneel, anualmente, na Central


de Informações Econômico‑Financeira do Setor Elétrico – CIEFSE, as
Demonstrações Contábeis Societárias e Regulatórias das empresas obrigadas
ao envio da Prestação Anual de Contas – PAC.

Parágrafo único. O prazo para disponibilização das informações previstas no


caput considerará os prazos legais para envio das Demonstrações Contábeis
Societárias à Comissão de Valores Mobiliários – CVM.

Art. 5º. Os eventuais custos com a implementação das alterações do MCSE


nos sistemas corporativos serão tratados no Módulo 2 do PRORET.

57
Unidade I

Art. 6º. O Anexo desta Resolução encontra‑se no Processo supracitado e está


disponível no endereço SGAN – Quadra 603 – Módulo I – Brasília – DF, bem
como no endereço eletrônico www.aneel.gov.br.

Art. 7º. Revogar a Resolução Normativa nº 444, de 26 de outubro de 2001,


a Resolução nº 668, de 26 de dezembro de 2001, a Resolução Normativa
nº 370, de 30 de junho de 2009, os parágrafos 1º e 2º do art. 1º, o art. 2º,
o § 2º do art. 9º, e o parágrafo único do art. 10, todos da Resolução Normativa
nº 396, de 23 de fevereiro de 2010.

Art. 8º. Esta Resolução entra em vigor em 1º de janeiro de 2015.

Romeu Donizete Rufino

Este texto não substitui o publicado no D.O. de 19.03.2014, seção 1, p. 43,


v. 151, n. 53.

Saiba mais

O Manual de Contabilidade do Setor Elétrico – MCSE pode ser encontrado


no site da Aneel, no seguinte endereço:

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Manual de contabilidade


do setor elétrico. Versão 2015. Brasília, 2015.

Disponível em: https://bit.ly/2TsWR16. Acesso em: 11 maio 2015.

A Agência Nacional de Saúde – ANS, por meio de sua Resolução Normativa 322/13, aprovou em 27
de março de 2013 uma alteração ao seu Plano de Contas Padrão. Segundo ANS (2013):

Resolução Normativa – RN nº 322, de 27 de março de 2013

Altera o Anexo da Resolução Normativa nº 290, de 27 de fevereiro de 2012,


que dispõe sobre o Plano de Contas Padrão para as Operadoras de Planos de
Assistência à Saúde.

A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar –


ANS, em vista do que dispõe o inciso XLI do artigo 4º e o inciso II do
artigo 10, ambos da Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000; o § 3º do
artigo 1º da Lei nº 10.185, de 12 de fevereiro de 2001; o parágrafo único
do artigo 35‑A da Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998; e a alínea “a” do

58
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

inciso II do artigo 86 da Resolução Normativa – RN nº 197, de 16 de


julho de 2009, em reunião realizada em 20 de março de 2013, adotou
a seguinte Resolução Normativa e eu, Diretor‑Presidente, determino a
sua publicação.

Art. 1º. Os anexos da Resolução Normativa nº 290, de 27 de fevereiro de


2012, que dispõe sobre o Plano de Contas Padrão da ANS para as Operadoras
de Plano de Assistência à Saúde passam a ser substituídos pelo Anexo da
presente resolução.

§ 1º. Os Anexos referidos no caput ficarão disponíveis, para consulta e cópia,


no endereço eletrônico da ANS na internet (http:// www. ans. gov. br).

§ 2º .As próximas atualizações do Plano de Contas Padrão da ANS passarão


a ser promovidas por meio de Instrução Normativa da Diretoria de Normas
e Habilitação das Operadoras – DIOPE.

Art. 2º. Esta Resolução Normativa entra em vigor a partir da data de sua
publicação.

André Longo Araújo de Melo


Diretor‑Presidente

Este texto não substitui o texto normativo original e nem o de suas alterações,
caso haja, publicados no Diário Oficial.

O que a ANS denomina de “Plano de Contas Padrão” é na realidade um manual de procedimentos


contábeis, com uma preocupação de aplicar as normas internacionais ao contexto das empresas da área
da saúde. O anexo é um conjunto de orientações e, especificamente quanto a CPC 23, vemos um ato
formal de reconhecimento da norma, como vemos a seguir:

9.21 – CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação


de Erro.

9.21.1 No que não contrariem esta norma, aplicam‑se integralmente as


disposições e os critérios estabelecidos no Pronunciamento CPC 23, emitido
pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC, 2009c).

Já na Superintendência de Seguros Privados – Susep, publicou‑se a Circular Susep nº 464/13 em


1 de março de 2013, revogando a circular nº 430/12 e, por sua vez, a própria Susep nº 464/13 foi
revogada pela Resolução nº 484/13. No anexo I da Resolução Susep nº 484/13, também há um ato
formal, de reconhecimento da norma, conforme ANS (2013):

59
Unidade I

Art. 6º. Nos termos do artigo 32, inciso V, do Decreto‑Lei nº 73/1966,


combinado com o artigo 2º da Resolução CNSP nº 86/2002, por força da
delegação de competência do Conselho Nacional de Seguros Privados
– CNSP, cabe à Susep expedir as normas gerais de contabilidade a serem
observadas pelas sociedades supervisionadas.

Art. 7º. A escrituração das operações deve obedecer às normas estabelecidas


pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC e pela Resolução nº
750/93, do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, no que não contrariem
as disposições contidas neste Plano Contábil.

E finalmente, como a última entidade reguladora a abordar o CPC23, temos a Agência Nacional
de Transportes Terrestres, que em sua Resolução nº 3.847/12, de 20 de junho de 2012, aprovou a
Revisão nº 2 do Manual de Contabilidade do Serviço Público de Transporte Ferroviário de Cargas
e Passageiros e a Revisão nº 2 do Manual de Contabilidade do Serviço Público de Exploração da
Infraestrutura Rodoviária Federal Concedida. Para tal, a ANTT revogou quatro outras resoluções:
Resolução nº 1772 de 20/12/2006; Resolução nº 2492 de 13/12/2007; Resolução nº 1773 de
20/12/2006; Resolução nº 2507 de 19/12/2007.

Além da Resolução nº 3.847/12, temos também a Resolução nº 3.848/12. Em ambas resoluções,


como vimos na Aneel e na ANS, temos manuais detalhados que devem ser atendidos por empresas que
atuam no setor de transportes terrestres. Conforme ANTT (2012):

Resolução nº 3848, de 20 de junho de 2012.

Aprova a Revisão nº 2 do Manual de Contabilidade do Serviço Público de


Transporte Rodoviário Interestadual e Internacional de Passageiros, e dá
outras providências.

A Diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT, no uso das


atribuições que lhe confere o art. 25º, inciso VIII, do Anexo à Resolução ANTT
nº 3000, de 28 de janeiro de 2009, em conformidade com o disposto nos arts. 20,
inciso II, e 22, inciso III, da Lei nº 10.233, de 5 de junho de 2001, fundamentada
no Voto DAL – 026, de 14 de junho de 2012, no que consta do Processo
nº 50500.044019/2012‑47 e anexos; e

Considerando o disposto no inciso III do art. 3º da Resolução ANTT nº 1.773,


de 20 de dezembro de 2006, RESOLVE:

Art. 1º. Aprovar a revisão nº 2 do Manual de Contabilidade do Serviço Público


de Transporte Rodoviário Interestadual e Internacional de Passageiros, na
forma do anexo, disponível no sítio eletrônico da Agência Nacional de
Transportes Terrestres, a partir da data de publicação desta Resolução.

Art. 2º. Determinar que as Permissionárias e Autorizatárias em Regime


Especial adotem, em caráter obrigatório, a Revisão nº 2 do Manual de
Contabilidade a partir de 1º de janeiro de 2013.
60
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

§1º. Os Relatórios Auxiliares, conforme dispõe o item 8.3 da Revisão nº 2 do


Manual de Contabilidade deverão ser adotados a partir da data de publicação
desta Resolução.

§2º. As concessionárias poderão optar pela adoção da Revisão nº 2 do


Manual de Contabilidade – Revisão nº 2 no exercício de 2012.

Art. 3º. Sem prejuízo das demais exigências do manual a que se refere a
presente Resolução, as Demonstrações Contábeis, bem como suas Notas
Explicativas, que forem objeto de publicação deverão seguir os modelos e
informações mínimas estabelecidos no capítulo 8 da Revisão nº 2 do Manual
de Contabilidade da ANTT.

Parágrafo único. Sem prejuízo das demais exigências do manual a que


se refere a presente Resolução, a composição das contas do Balanço
Patrimonial e da Demonstração do Resultado do Exercício, para efeito de
publicação, deverá observar o estabelecido no capítulo 8.2.2.7 da Revisão nº
2 do Manual de Contabilidade da ANTT.

Art. 4º. O art. 1º da Resolução ANTT nº 233, de 25 de junho de 2003, passa a


vigorar com a seguinte redação:

Art.1º...

II –...

“r) deixar de cumprir qualquer determinação estipulada no Manual de


Contabilidade da ANTT.” (AC)

Art. 5º. O art. 2º da Resolução nº 3.075, de 26 de março de 2009, passa a


vigorar com a seguinte redação:

Art. 2º...

II –...

“q) deixar de cumprir qualquer determinação estipulada no Manual de


Contabilidade da ANTT.” (AC)

Art. 6º. O art. 1º da Resolução ANTT nº 3.524, de 26 de maio de 2010, passa


a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1º...

II ‑...

“g) Relatórios Auxiliares, definidos no capítulo 8 do Manual de


Contabilidade da ANTT.” (AC)

61
Unidade I

[...]

“§ 3º. Os Relatórios Auxiliares, o Balancete Analítico do exercício, o BP, a


DRE, a DMPL, a DFC e a DVA deverão ser enviados nos moldes do Manual
de Contabilidade instituído pela ANTT, na forma de planilha eletrônica
de dados, para o endereço eletrônico demonstrativo@antt.gov.br e,
posteriormente, por meio de sistema instituído pela ANTT, quando de sua
implementação.” (NR)

Art. 7º. O Manual de Contabilidade, na forma do anexo, deverá ser adotado


como padrão de contabilização por todas as empresas permissionárias
reguladas pela Agência.

Parágrafo único. Compete à Superintendência de Serviços de Transporte de


Passageiros promover revisões periódicas e adequações permanentes que
se fizerem necessárias no Manual de Contabilidade do Serviço Público de
Transporte Rodoviário Interestadual e Internacional de Passageiros. (Incluído
pela Resolução nº 4.532, de 19.12.14)

Art. 8º. Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação.

Art. 9º. Ficam revogadas a Resolução ANTT nº 1.771, de 13 de dezembro de


2006, e a Resolução ANTT nº 2.491, de 13 de dezembro de 2007.

Ivo Borges e Lima


Diretor‑Geral, em Exercício

Exemplo de aplicação

Um aspecto muito interessante é a forma entusiasmada como o redator do Manual de contabilidade


da ANTT trata do processo de convergência contábil internacional, sendo que é salutar reproduzir esse
texto aqui, porque nos auxilia a consolidar os conhecimentos que estudamos na unidade anterior.
Segundo a ANTT (2012, p. 7‑8):

Nesses últimos anos, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, os


órgãos reguladores, as associações de companhias abertas, de analistas
e auditores e outros profissionais direta ou indiretamente envolvidos
pesquisaram, trabalharam e discutiram de forma intensa todo esse conjunto
de novas normas.

No trecho a seguir, o manual da ANTT (2012) comenta sobre os impactos e processos de mudança pelos
quais as empresas e profissionais passaram, por conta da convergência e o significado da convergência:

62
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

A implantação das novas normas contábeis normalmente demanda


envolvimento de várias áreas de uma empresa. Podem afetar as exigências
para coleta de dados, os requisitos de sistemas de controles internos,
inclusive dos sistemas informatizados, entre outros. É importante ter
ciência de que as novas normas têm como base o princípio da essência
sobre a forma. Isso para um País de sistema jurídico romanogermânico
(codificado), baseado principalmente na normatização, é um grande
desafio. Esse desafio foi superado com a nova Lei das Sociedades Anônimas
e com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC emitindo as normas
contábeis convergentes com as normas internacionais, homologadas pelos
reguladores. Esse caminho permite agilizar a criação e a atualização das
normas de acordo com a necessidade de uma contabilidade moderna que,
por ser uma ciência social, tem necessidade de novas normas, revisões e
adaptações com muita frequência. Pelo fato de tomar por base princípios
e não normatização pura e simplesmente, as novas normas contábeis
brasileiras apontam para a necessidade de uma vasta divulgação, na
qual devem ficar claro, para o leitor das demonstrações financeiras, quais
princípios foram seguidos e como foram aplicados. Vale lembrar que,
mesmo sendo baseadas em princípios, há regras que possibilitam sua
aplicação de maneira coerente e uniforme.

E no trecho a seguir, comenta‑se sobre o outro desafio do contador moderno: o de divulgar


informações, ou melhor, divulgar a melhor informação possível (ANTT, 2012):

A empresa, após entender as mudanças internamente à luz de seu


negócio, tiveram um segundo desafio que foi o de explicá‑las de maneira
estruturada aos investidores e reguladores, distinguindo as alterações
decorrentes de impacto efetivo no seu desempenho daquelas advindas das
mudanças nas normas ou, ainda, distinguindo as variações decorrentes
de oscilações que essas normas podem gerar ao resultado. As novas
normas requerem que as companhias abertas apresentem a informação
segmentada do ponto de vista da administração, devendo seguir o
formato de apresentação utilizado pelo “principal tomador de decisões”
da empresa. O receio de divulgar informações estratégicas ao mercado e
a potenciais concorrentes, bem como a oportunidade de explicar melhor
o negócio, aparecem juntos. O desafio para os profissionais das áreas
financeiras e de relações com investidores é encontrar o equilíbrio entre
esses dois aspectos. A informação por segmento é considerada de grande
importância pelos investidores, e empresas podem se diferenciar de seus
concorrentes permitindo uma análise mais apurada.

63
Unidade I

Observação
No trecho anterior, quando se diz no manual da ANTT (2012)
que “requerem que as companhias abertas apresentem a informação
segmentada”, trata‑se de um comentário sobre o CPC 22 – Informações
por Segmento. Atualmente é muito comum uma mesma empresa ou
grupo empresarial se envolver em diversos negócios. Em um mesmo grupo
empresarial pode haver uma indústria alimentícia e uma produtora de energia.
Assim, determina‑se que cada negócio informe dados separadamente.

A seguir, iremos estudar as políticas contábeis que, dentro do ambiente de convergência contábil
internacional, onde a informação qualitativa é vista como de enorme necessidade aos usuários da
contabilidade, são imprescindíveis.

3.2 Políticas contábeis

Segundo o CVM (2009), em seu pronunciamento CPC 23: “Políticas contábeis são os princípios, as
bases, as convenções, as regras e as práticas específicas aplicados pela entidade na preparação e na
apresentação de demonstrações contábeis”.

Dessa forma, a empresa deve selecionar e aplicar as políticas contábeis de forma adequada com o
disposto nas normas, considerando também as operações comerciais, transações e eventos mais comuns.

Nesse sentido, Padoveze, Benedicto e Leite (2012, p. 245) comentam que:

quando o efeito de uma política contábil for imaterial, a entidade não precisa
aplicá‑la (princípio da relevância). Na ausência das normas contábeis que se
apliquem especificamente a uma transação, outro evento ou condição, a
administração da companhia exercerá seu julgamento no desenvolvimento
e na aplicação de política contábil que resulte em informação que seja:

a) relevante para a tomada de decisão econômica por parte dos usuários;

b) confiável, de tal modo que as demonstrações contábeis:

• representem adequadamente a posição patrimonial e financeira, o


desempenho financeiro e os fluxos de caixa da entidade;

• representem a essência econômica de transações, outros eventos e


condições, e não meramente a forma legal;

• sejam neutras, isto é, estejam isentas de viés;

• sejam prudentes;

• sejam completas em todos os aspectos materiais.

64
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Exemplo de aplicação

Observe atentamente que o contador não deve simplesmente aplicar o que está na norma, ou
mesmo na lei, representando a tradição brasileira do Direito romanogermânico (codificado, em que
só se faz algo se estiver expressamente escrito na lei), mas para fazer um trabalho qualitativamente o
mais adequado e correto possível, necessita aplicar julgamento, o que o aproxima do que vemos no
Direito anglo‑saxônico, o common law. Este ponto é que traz uma revolução no trabalho do contador,
que assume uma enorme responsabilidade sobre seus atos, e, por isso mesmo, precisa ter a habilidade
de explicar os seus atos.

Por que isso se faz necessário? Lembra‑se da epígrafe no início da unidade I? Vamos relembrá‑la:

Se nós tivermos uma regra que diz que “se ABC acontecer, a contabilidade é
X”, eu sei que em três minutos os bancos de investimento vão produzir um
esquema BCD que não vai ser coberto por essa regra. Então, teremos que
criar uma nova regra. Porém, se você disser que “o princípio diz que ABC
acontece e aqui está a regra contábil X”, quando eles criarem o BCD, nós
poderemos dizer: Desculpe, isso é apenas uma variação, te pegamos!
Sir David Tweedie.

Sir David Tweedie é um contador e auditor escocês e que foi o Presidente da IASB nos primeiros
(e dificílimos) anos de operação de uma entidade responsável por normas contábeis internacionais.
Antes disso, Tweedie, que já havia presidido entidades de regulação contábil no Reino Unido, percebeu
que havia muitos abusos por parte de algumas empresas, principalmente do setor financeiro.

Notou também que as normas contábeis versavam sobre determinado assunto, de forma ampla,
até com riqueza de detalhes. Porém, havia ausência de normas quando se criava algo completamente
novo. Isso era perigoso e dava margem para que uma empresa pudesse fazer o que bem entendesse, até
o momento em que fosse emitida uma norma contábil para o assunto, o que leva tempo e dedicação.
E daí, criavam outra operação nova! Uma espécie de deboche às autoridades púbicas e contábeis. É o que
podemos ver na figura a seguir:
O que é feito no mercado A norma contábil disponível

O que for criado no mercado


após a publicação da norma Não há norma contábil

Figura 12 − Regulação e normatização anterior às Normas Internacionais de Contabilidade

65
Unidade I

Sendo assim, Sir David Tweedie propôs com base em estudos que já vinham sendo feitos na literatura
contábil e com base em sua percepção como regulador, uma outra estrutura de normas, baseadas em
princípios e na essência das coisas. É o que podemos ver nas figuras a seguir:
O que é feito no mercado A norma contábil

O que for criado no mercado


após a publicação da norma

Figura 13 − Regulação e normatização após às Normas Internacionais de Contabilidade

O que é feito no mercado A norma contábil

O que for criado no mercado


após a publicação da norma
A norma já publicada atende
também às novas situações

Figura 14 − Representação da abrangência das Normas Internacionais de Contabilidade


junto com o julgamento do profissional da área contábil

66
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Toda essa preocupação existe para informar mais adequadamente os agentes no mercado, para que
não haja, por exemplo, assimetria nas informações, ou seja, para que o investidor não confie em uma
empresa com base em algo que não existe, ou não foi sequer publicado, ou então é um blefe.

Uma curiosidade: o “Sir” na frente do nome do David Tweedie não é por acaso. Ele realmente recebeu
uma honraria de “Sir”, que é uma espécie de cavalheiro real da Rainha da Inglaterra, por conta de
excelentes serviços prestados ao Reino Unido e à humanidade.

O CPC informa que mesmo na ausência de pronunciamentos contábeis específicos, o contador


deve buscar algum guia de implementação pertinente. O CPC 23 (Sumário), define em seus itens 3 e 4
informações para preparar as políticas contábeis:

3. Quando um Pronunciamento, uma Interpretação ou uma Orientação se


aplicarem especificamente a uma transação, evento ou situação, as políticas
contábeis adotadas devem ser determinadas pela aplicação desses documentos
específicos para essa situação, juntamente com qualquer Guia de Implementação
pertinente. Na ausência de um Pronunciamento, uma Interpretação ou uma
Orientação que se aplique especificamente a uma transação, evento ou condição,
a administração deve exercer julgamento no desenvolvimento e aplicação de
uma política contábil que resulte em informação que seja relevante e confiável.

4. Nesse cenário, a seguinte hierarquia de fontes de informação para


seleção e adoção de políticas contábeis deverá ser utilizada no exercício do
julgamento referido:

(a) os requisitos e a orientação dos Pronunciamentos, Interpretações e


Orientações que tratem de assuntos semelhantes e relacionados;

(b) as definições, os critérios de reconhecimento e os conceitos de mensuração


para ativos, passivos, receitas e despesas contidos na Pronunciamento
Conceitual Básico Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação
de Demonstrações Contábeis emitido pelo CPC;

(c) adicionalmente, podem também ser consideradas as mais recentes


posições técnicas assumidas por outros órgãos normatizadores contábeis
que usem uma estrutura conceitual semelhante à do CPC para desenvolver
pronunciamentos de contabilidade, ou ainda, outra literatura contábil e
práticas geralmente aceitas do setor, até o ponto em que estas não entrem
em conflito com as fontes enunciadas nos itens anteriores (CVM, 2009).

A seguir, proponho o estudo de casos reais de políticas contábeis, preparadas e divulgadas por
algumas empresas brasileiras. Serão estudadas as políticas contábeis de diferentes setores da economia:

67
Unidade I

• Setor primário (agronegócios e mineração): Renar Maçãs.

• Setor secundário (indústrias): Embraer.

• Setor terciário (serviços): T4F (Tickets for Fun).

• Terceiro setor: (Comitê Olímpico Brasileiro).

O objetivo é o de conhecer e realizar um estudo comparativo de como os contadores de cada empresa


redigiram as políticas de cada empresa e, posteriormente, fazer uma reflexão com base na OCPC7, uma
orientação pioneira no planeta sobre como os contadores devem preparar as notas explicativas.

É importante comentar que nem sempre as notas explicativas são redigidas pelos contadores ou
apenas pelos contadores, ou mesmo se contadores são os responsáveis por esse trabalho. Em muitos
casos entende‑se que a construção das notas explicativas e das políticas contábeis são um trabalho
multidisciplinar, em que cada vez mais se envolvem administradores, corpo técnico da empresa, corpo
jurídico e relações com investidores, além de profissionais das áreas de comunicação, principalmente os
jornalistas que trabalham com relações públicas.

Observação

A menção a essas empresas está sendo realizada para fins exclusivamente


didáticos, em ambiente universitário. Não representa jamais sugestão de
consumo de bens, produtos ou serviços ou investimentos.

Exemplo de aplicação

Políticas Contábeis da Renar Maçãs

A Renar Maçãs S.A., primeira empresa do setor hortifrutigranjeiro a entrar na Bolsa de Valores de
São Paulo, fazendo parte do chamado “Novo Mercado”, publicou as seguintes Políticas Contábeis. Leia
atentamente.

3. Principais práticas contábeis

3.1 Apuração do resultado

O resultado das operações é apurado em conformidade com o regime contábil de competência de


exercício. A receita de venda de produtos é reconhecida no resultado quando todos os riscos e benefícios
inerentes ao produto são transferidos para o comprador, e é provável que os benefícios econômicos
sejam gerados a favor da companhia. Uma receita não é reconhecida se há uma incerteza significativa
da sua realização. As receitas e despesas de juros são reconhecidas pelo método da taxa efetiva de juros
na rubrica de receitas e despesas financeiras.
68
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

3.2 Instrumentos financeiros

Os instrumentos financeiros são reconhecidos a partir da data em que a companhia se torna parte
das disposições contratuais dos instrumentos financeiros. Quando reconhecidos, são inicialmente
registrados ao seu valor justo, acrescido dos custos de transação que sejam diretamente atribuíveis à
sua aquisição ou emissão. Sua mensuração subsequente ocorre a cada data de balanço, de acordo com
as regras estabelecidas para cada tipo de classificação de ativos e passivos financeiros.

3.2.1 Ativos financeiros

São mensurados ao valor justo por meio do resultado, e incluem ativos financeiros disponíveis para
negociação no curto prazo e ativos designados no reconhecimento inicial ao valor justo por meio do
resultado. A cada data de balanço são mensurados pelo seu valor justo. Os juros, correção monetária e
as variações decorrentes da avaliação ao valor justo, são reconhecidos no resultado na linha de receitas
ou despesas financeiras quando incorridos.

Os principais ativos financeiros, reconhecidos pela companhia, são caixa e equivalente de caixa,
aplicações financeiras em fundos de renda fixa com rendimento diário, contas a receber de clientes,
contas a receber por alienação de bens do ativo imobilizado. A companhia não identificou ativos
financeiros que seriam classificados na categoria de investimentos mantidos até o vencimento.

3.2.2 Passivos financeiros

Os passivos financeiros são classificados como não mensurados ao valor justo e compostos por
passivos financeiros não derivativos que não são usualmente negociados antes do vencimento. Após o
reconhecimento inicial, são mensurados pelo custo amortizado, pelo método da taxa efetiva de juros.
Os juros, atualização monetária e variação cambial, quando aplicáveis, são reconhecidos no resultado,
quando incorridos. Os principais passivos financeiros reconhecidos pela companhia são: contas a pagar
a fornecedores, empréstimos e financiamentos.

3.3 Caixa e equivalentes de caixa (disponibilidades)

Incluem: caixa, saldos positivos em conta movimento, aplicações financeiras, resgatáveis no prazo
de até 90 dias das datas dos balanços e com risco insignificante de mudança de seu valor de mercado.
As aplicações financeiras, classificadas como equivalentes de caixa, são ativos financeiros disponíveis
para negociação.

3.4 Clientes

As contas a receber de clientes são apresentadas a valores de realização, com atualização cambial,
quando denominadas em moeda estrangeira, e ajustadas por provisão para créditos de liquidação
duvidosa, constituída em montante considerado suficiente pela administração, para fazer face a
eventuais perdas na realização.

69
Unidade I

3.5 Estoques

Os estoques de mercadorias e materiais de consumo, incluindo a safra de maçãs próprias em


formação, estão demonstrados pelo custo médio de aquisição, formação ou produção, e não excedem
aos respectivos valores líquidos de realização.

3.6 Imobilizado

Na controladora o ativo imobilizado está registrado ao custo de aquisição ou construção, acrescido


de reavaliação de exercícios anteriores, incluindo os bens adquiridos por arrendamento mercantil,
deduzido da depreciação acumulada, atualizado monetariamente até 31/dez/95.

As depreciações são calculadas pelo método linear, em função da expectativa de vida útil econômica
dos bens.

A companhia optou por manter os saldos existentes da reavaliação, os quais serão realizados de
acordo com a depreciação ou baixas dos bens reavaliados. Em função da reavaliação ocorrida
em 29/dez/06, novas taxas de depreciação foram aplicadas aos pomares, edificações urbanas e rurais,
a partir de jan/07, considerando o tempo de vida útil econômica remanescente. Especificamente, aos
pomares, foram aplicadas taxas anuais de depreciação diferenciadas, considerado o período de vida útil
produtiva de cada pomar.

A reavaliação ocorrida em 2006 também contemplou ativos não depreciáveis, como terrenos. Na
época não foram contabilizados os correspondentes tributos, em atendimento à prática contábil vigente
naquele momento (Lei nº 6404/76). Contudo, em 2010, para atender a Interpretação Técnica ICPC 10 –
Interpretação sobre a Aplicação Inicial do Ativo Imobilizado, a administração efetuou registro contábil
a débito de conta retificadora da reserva de reavaliação e a crédito de provisão para imposto de renda e
contribuição social no passivo não circulante.

Em virtude dos ativos da companhia serem constituídos, principalmente, de imóveis e


implementos rurais, foi contratada a empresa Rosfil Cadastramento e Gerenciamento Patrimonial
Ltda., CNPJ 00.593.896/0001‑60, qualificada para desenvolver os trabalhos visando atender aos
CPCs 01 e 27. Em relação ao Pronunciamento CPC 01 que se refere à redução ao valor recuperável
de ativos, foram aplicados os procedimentos, e não foi constatado a necessidade do registro
de ajustes, uma vez que o valor de uma possível venda do ativo imobilizado, ultrapassa o valor
contabilizado (saldo residual) e o CPC 27 que prescreve, que o método de depreciação utilizado
pela entidade deve refletir o modelo de previsão de consumo (vida útil) dos benefícios econômicos
do ativo, foi atendido.

Em junho de 2014 a companhia contratou os serviços da empresa Ferrari Organização e Avaliações


Patrimoniais Ltda., CNPJ 93.272.003/0001‑65, com a finalidade de atender a Lei nº 11.638/07 – CPC 27 e
CPC 04 na estimativa de vida útil e determinação da taxa de depreciação contábil, nos ativos imobilizados
exceto biológicos. Foram aplicados os procedimentos e não foi constatado a necessidade de ajustes.

70
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Na controlada os bens patrimoniais estão registrados ao custo de aquisição ou construção,


complementado com o acréscimo de custo atribuído a determinadas classes de imobilizado, devidamente
suportado por laudo de avaliação patrimonial elaborado por empresa especializada e as depreciações
são calculadas pelo método linear, em função da expectativa de vida útil econômica dos bens.

Na controlada e na controladora a administração revisa, anualmente, o valor contábil líquido dos


ativos, especialmente o imobilizado, com o objetivo de avaliar eventos ou mudanças nas circunstâncias
econômicas, operacionais ou tecnológicas, que possam indicar deterioração ou perda de seu valor
recuperável. Quando tais evidências são identificadas e o valor contábil líquido excede o valor recuperável,
é constituída provisão para deterioração, ajustando o valor contábil líquido ao valor recuperável.

Essas perdas, quando necessárias, são classificadas como outras despesas operacionais. Em 31/dez/14 a
administração não identificou a necessidade do registro de provisão para desvalorização no imobilizado.

3.7 Intangível

Corresponde às marcas, registradas ao custo de aquisição e não ultrapassa o valor de realização.


Estes ativos possuem vida útil indefinida e são submetidos a teste anual para análise de perda do seu
valor recuperável.

3.8 Outros ativos e passivos

Um passivo é reconhecido no balanço quando a companhia possui uma obrigação legal ou constituída
como resultado de um evento passado, sendo provável que um recurso econômico seja requerido para
liquidá‑lo. As provisões são registradas tendo como base as melhores estimativas do risco envolvido.

Outros ativos são reconhecidos nos balanços somente quando for provável que seus benefícios
econômicos futuros serão gerados em favor da companhia e seu custo ou valor puder ser mensurado
com segurança. Ativos contingentes não são reconhecidos.

3.9 Ajuste a valor presente de ativos e passivos

Os ativos e passivos de longo prazo são atualizados monetariamente e, portanto, estão ajustados
pelo seu valor presente. O ajuste a valor presente de ativos e passivos monetários de curto prazo é
calculado e, somente, registrado se considerado relevante em relação às informações anuais tomadas
em conjunto.

Para fins de registro e determinação de relevância, o ajuste a valor presente é calculado considerando
os fluxos de caixa contratuais e a taxa de juros explícita, e em certos casos implícita, dos respectivos
ativos e passivos. Com base nas análises efetuadas e na melhor estimativa a administração concluiu
que o ajuste a valor presente de ativos e passivos monetários circulantes é irrelevante em relação às
informações anuais tomadas em conjunto e, dessa forma, não registrou nenhum ajuste.

71
Unidade I

3.10 Imposto de Renda e contribuição social sobre o lucro

A tributação sobre o lucro do exercício compreende o imposto de renda pessoa jurídica (“IRPJ”)
e a contribuição social sobre lucro líquido (“CSLL”), abrangendo imposto corrente e o diferido, que
são calculados com base nos resultados tributáveis (lucro contábil ajustado), às alíquotas vigentes nas
datas dos balanços, sendo elas: (i) Imposto de Renda – calculado à alíquota de 25% sobre o lucro
contábil ajustado (15% sobre o lucro tributável, acrescido do adicional de 10%); (ii) contribuição social
– calculada à alíquota de 9% sobre o lucro contábil ajustado. As inclusões ao lucro contábil de despesas
temporárias não dedutíveis ou exclusões de receitas temporárias não tributáveis, consideradas para
apuração do lucro tributável corrente geram créditos ou débitos tributários diferidos.

3.11 Informações da consolidação

Controlada é toda a entidade cuja política financeira e operacional pode ser conduzida pela
companhia e na qual normalmente há uma participação acionária de mais da metade dos direitos de
voto. A existência e o efeito de potenciais direitos de voto, que são atualmente exercíveis, são levados em
consideração para constatar que a companhia controla outra entidade. Uma controlada é integralmente
consolidada a partir da data em que o controle é transferido para a companhia e deixa de ser consolidada
a partir da data em que o controle cessa.

A companhia usa o método de aquisição para contabilizar as combinações de negócios.

As operações entre a companhia e sua controlada, bem como os saldos, os ganhos e as perdas
não realizados nessas operações e seus efeitos tributários, foram eliminados. As políticas contábeis
da controlada foram ajustadas para assegurar consistência com as políticas contábeis adotadas pela
companhia. As demonstrações financeiras consolidadas abrangem as demonstrações financeiras da
Renar Maçãs S.A. e sua subsidiária integral Pomifrai Fruticultura S.A. a qual também é controladora
da Pomifrai Alimentos Ltda.

Em 17 de janeiro de 2014, a Pomifrai Fruticultura S.A. incorporou 100% da Pomifrai Alimentos S.A.,
conforme protocolo de intenções de incorporação firmado em 18 de novembro de 2013, Ata da AGE
realizada em 18 de novembro de 2013 e 8ª alteração contratual da Pomifrai Alimentos S.A., todos os atos
registrados junto a JUCESC em 17 de janeiro de 2014. Com isso a empresa Pomifrai Alimentos S.A. deixa
de existir e todas as suas operações passaram a ser da Pomifrai Fruticultura S.A.

3.12 Estimativas contábeis

As estimativas contábeis são baseadas em fatores objetivos e subjetivos, com base no julgamento
da administração, para determinação do valor a ser registrado nas demonstrações financeiras. Itens
significativos sujeitos à estimativas incluem: a seleção de vida útil do ativo imobilizado e ativos
intangíveis; a provisão para créditos de liquidação duvidosa; a provisão para perdas no estoque; a
análise de recuperação dos valores dos ativos imobilizados e intangíveis; as taxas e prazos aplicados na
determinação do ajuste a valor presente de certos ativos e passivos; e a provisão para contingências. A
liquidação das transações, envolvendo essas estimativas, poderá resultar em valores significativamente
72
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

divergentes dos registrados nas demonstrações financeiras, devido às imprecisões inerentes ao processo
de sua determinação. A companhia revisa suas estimativas regularmente.

3.13 Lucro ou prejuízo por ação

O cálculo é efetuado segundo a equação “lucro líquido/prejuízo/ quantidade de ações em circulação”


no encerramento de cada exercício.

3.14 Alteração procedimento de cálculo dos custos apurados

Os estoques de mercadorias e materiais de consumo, incluindo a safra de maçãs próprias em


formação, estão demonstrados pelo custo médio de aquisição, formação ou produção, e não excedem
aos respectivos valores líquidos de realização. Sob este aspecto, anteriormente todo o montante apurado
de custos era agregado ao estoque e baixado/calculado conforme sua venda mensal, tanto o valor
apurado no pomar (formação da fruta) quanto ao valor agregado no PackingHouse (armazenagem,
classificação e embalagem).

A companhia na busca de melhoria e simplificação de seus procedimentos quanto a apuração do custo


dos produtos vendidos (fruta), entende que a melhor forma de demonstrar a apuração do CPV mensal,
calculado sobre os estoques formados (colhidos) de maçãs disponíveis para venda é, considerar que nos
primeiros seis meses do ano toda a Fruta Industrial (na sua maioria vendida diretamente do pomar para a
indústria), passa a receber somente o custo de pomar (custo agrícola) por ser uma fruta de descarte, não
contendo nenhum valor de armazenagem, classificação e embalagem agregado em seu custo.

Nos últimos seis meses do ano, a Fruta Industrial é acrescida do custo de armazenagem e classificação,
do PackingHouse em seu custo.

Para as frutas de categoria comercial, além do custo Pomar (agrícola), são acrescidos os custos
apurados no PackingHouse (armazenagem, classificação e embalagem da fruta), que são atribuídos
mensalmente ao custo da fruta classificada e embalada, vendida, ou seja, CPV.

3.15 Conversão de ações

Na AGE 59ª de 01 de outubro de 2014, aprovado, por unanimidade dos acionistas presentes, a
proposta apresentada pelo Conselho de Administração para grupamento de ações da companhia, à razão
de 20 para 1, nos termos do artigo 12 da Lei das S.A., bem como que as frações de ações detidas por
acionistas da companhia, como resultado do grupamento, sejam complementadas por frações de ações
a serem doadas direta ou indiretamente pelo acionista controlador da companhia, a EFC Participações
S.A., de forma que cada acionista da companhia recebeu a fração necessária para garantir a propriedade
do próximo número inteiro de ações após a aplicação do fator de grupamento.

A companhia possuía 151.875.000 ações ordinárias emitidas e em circulação antes do grupamento.


Após a conclusão do grupamento das ações ordinárias aprovada na AGE, ficou 7.593.750 ações ordinárias
emitidas e em circulação.
73
Unidade I

3.16 Novos Pronunciamentos do IFRS, emissões, alterações e interpretações emitidas pelo IASB
aplicável às demonstrações contábeis

As seguintes novas normas, alterações e interpretações de normas foram emitidas pelo IASB e
possuem adoção inicial em 01 de janeiro de 2014:

• IAS 32 – Compensação de ativos financeiros e passivos financeiros: em dezembro de 2011, o IASB


emitiu uma revisão da norma IAS 32. A alteração desta norma aborda aspectos relacionados à
compensação de ativos e passivos financeiros. Esta norma é efetiva desde 01 de janeiro de 2014,
a companhia analisou a revisão do pronunciamento já convertido e atualizado no CPC e não
identificou impactos para divulgações destas demonstrações contábeis.

• IFRS 10, IFRS 12 e IAS 27 – “Entidades de Investimento”, em outubro de 2012, o IASB emitiu uma revisão
das normas IFRS 10, IFRS 12 e IAS 27, as quais definem entidade de investimento e introduzem uma
exceção para consolidação de controladas por entidade de investimentos, estabelecendo o tratamento
contábil nestes casos. As alterações destas normas são efetivas para períodos anuais iniciando desde
01 de janeiro de 2014. A companhia analisou a revisão do pronunciamento já convertido e atualizado
no CPC e não identificou impactos para divulgações destas demonstrações contábeis.

• IFRIC 21 – “Impostos”, em maio de 2013, o IASB emitiu a interpretação IFRIC 21. Esta interpretação
aborda aspectos relacionados ao reconhecimento de um passivo de impostos quando esse tiver
origem em requerimento do IAS 37 – “Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes”.
Esta interpretação de norma é efetiva para períodos anuais desde 01 de janeiro de 2014. A
companhia analisou a revisão do pronunciamento já convertido e atualizado no CPC e não
identificou impactos para divulgações destas demonstrações contábeis.

• IAS 36 – “Redução ao Valor Recuperável de Ativos”, em maio de 2013, o IASB emitiu uma revisão
da norma IAS 36. A alteração desta norma requer a divulgação das taxas de desconto que foram
utilizadas na avaliação atual e anterior do valor recuperável dos ativos, se o montante recuperável
do ativo deteriorado for baseado em uma técnica de avaliação a valor presente baseada no valor
justo menos o custo da baixa. Esta norma é efetiva para períodos anuais iniciando desde 01 de
janeiro de 2014. A companhia analisou a revisão do pronunciamento já convertido e atualizado
no CPC e não identificou impactos para divulgações destas demonstrações contábeis.

• IAS 39 – “Mudanças em Derivativos e Continuidade da Contabilidade de Hedge”, em junho de 2013,


o IASB emitiu uma revisão da norma IAS 39. A alteração desta norma tem o objetivo de esclarecer
quando uma entidade é requerida a descontinuar um instrumento de hedge, em situações em que
este instrumento expirar, for vendido, terminado ou exercido. Esta norma é efetiva para períodos
anuais desde 01 de janeiro de 2014. A companhia analisou a revisão do pronunciamento já convertido
e atualizado no CPC e não identificou impactos para divulgações destas demonstrações contábeis.

• IAS 19 – “Benefícios a Empregados”, em novembro de 2013, o IASB emitiu uma revisão da


norma IAS 19. A alteração desta norma tem o objetivo de estabelecer aspectos relacionados
ao reconhecimento das contribuições de empregados ou terceiros e seus impactos no custo do
74
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

serviço e períodos de serviços. Esta norma é efetiva para períodos anuais desde 01 de julho de
2014. A companhia analisou a revisão do pronunciamento já convertido e atualizado no CPC e
não identificou impactos para divulgações destas demonstrações contábeis.

• IAS 27 – “Demonstrações Separadas”, em 12 de agosto de 2014, o IASB emitiu revisão da norma


IAS 27, permitirá o método de equivalência patrimonial para contabilizar os investimentos em
subsidiárias, joint ventures e associadas em suas demonstrações contábeis separadas. Esta norma
é efetiva para períodos anuais iniciando em/ou após 01 de janeiro de 2016 nas IFRS e para as
práticas contábeis adotadas no Brasil já é aceito a partir de 31 de dezembro de 2014, conforme
aprovação do Conselho Federal de Contabilidade e adoção antecipada das IFRS. A companhia não
espera ter impactos da adoção desta norma em suas demonstrações contábeis.

3.16 Normas, alterações e interpretações de normas que ainda não estão em vigor

As seguintes novas normas, alterações e interpretações de normas foram emitidas pelo IASB, mas
não foram editadas pelo CPC:

• IAS 1 – “Apresentação das Demonstrações Financeiras” – em 18 de dezembro de 2014, o IASB


publicou “Iniciativa de Divulgação” (alterações ao IAS 1). As alterações visam esclarecer o IAS 1
e direcionar os impedimentos percebidos sobre o julgamento para a preparação e apresentação
das demonstrações contábeis. Esta norma é efetiva para os períodos anuais iniciando em/ou após
01 de janeiro de 2016, com aplicação antecipadas permitida. A companhia está avaliando os
impactos da adoção desta norma em suas demonstrações contábeis.

• IFRS 9 – Instrumentos Financeiros – em julho de 2014, o IASB emitiu versão final da norma IFRS 9,
a qual tem o objetivo de substituir a norma IAS 39 – “Instrumentos financeiros: Reconhecimento
e Mensuração”. Estas alterações endereçam algumas questões sobre a aplicação da norma e
introduzem o conceito de “valor justo contra os resultados abrangentes” para a mensuração de
alguns tipos de instrumentos de dívida.

Adicionalmente, o IASB incluiu na norma IFRS 9 requerimentos de reconhecimento de perdas pela


não recuperabilidade de ativos relacionadas ao registro de perdas esperadas com créditos sobre
os ativos financeiros e compromissos de renegociação destes créditos. Esta norma é efetiva para
períodos anuais iniciando em/ou após 01/01/2018. A companhia está avaliando os impactos da
adoção desta norma em suas demonstrações contábeis.

• IFRS 14 – “Contas de Diferimento Regulatório”, em janeiro de 2014, o IASB emitiu a norma IFRS 14, a
qual tem o objetivo específico de regular o reconhecimento de ativos e passivos regulatórios quando
da primeira adoção das normas IFRS. Esta norma é efetiva para períodos anuais iniciando em/ou
após 01 de janeiro de 2016. A companhia não espera ter impactos da adoção desta norma em suas
demonstrações contábeis.

• IFRS 11 – “Acordos de Compartilhamento”, em maio de 2014, o IASB emitiu uma revisão


da norma IFRS 11. A Alteração da norma IFRS 11 aborda critérios relacionados ao tratamento
75
Unidade I

contábil para aquisições de participações em acordos de compartilhamento que constituam um


negócio de acordo com os conceitos constantes no IFRS 3. Esta alteração na norma é efetiva
para períodos anuais iniciando em/ou após 01 de janeiro de 2016. A companhia está avaliando os
impactos da adoção desta norma em suas demonstrações contábeis.

IAS 16 e IAS 38 – “Esclarecimentos sobre Métodos Aceitáveis de Depreciação e Amortização”, em


maio de 2014, o IASB emitiu revisão das normas IAS 16 e IAS 38. Esta revisão tem o objetivo de
esclarecer sobre métodos de depreciação e amortização, observando o alinhamento ao conceito
de benefícios econômicos futuros esperados pela utilização do ativo durante sua vida útil
econômica. Esta alteração na norma é efetiva para os períodos anuais iniciando em/ou após
01 de janeiro de 2016. A companhia está avaliando os impactos da adoção desta norma em suas
demonstrações contábeis.

• IFRS 15 – “Receitas de contratos com clientes”, em maio de 2014, o IASB emitiu a norma IFRS 15.
A norma substitui a IAS 18 – “Receitas” e a IAS 11 – “Contratos de construção” e uma série de
interpretações relacionadas a receitas. Esta norma é efetiva para os períodos anuais iniciando
em/ou após 01 de janeiro de 2017. A companhia não espera ter impactos da adoção desta norma em
suas demonstrações contábeis.

• IAS 16 e IAS 41 – em julho de 2014, o IASB emitiu revisão das normas IAS 16 – “Ativo Imobilizado”
e IAS 41 – “Ativo Biológico”, para incluir ativos biológicos que atendam a definição de Bearer
plants (definidos como “plantas vivas” que são usadas na produção de produtos agrícolas), essa
alteração requer que os Bearer plants sejam registrados como ativo imobilizado de acordo com
o IAS 16, registrando a custo histórico ao invés de serem mensurados ao valor justo conforme
é requerido pelo IAS 41. Esta norma é efetiva para períodos anuais iniciando em/ou após
01 de julho de 2016. A companhia não espera ter impactos da adoção desta norma em suas
demonstrações contábeis.

• IFRS 10 e IAS 28 – em 11 de setembro de 2014, o IASB emitiu revisão das normas IFRS 10 –
“Demonstrações Consolidadas” e IAS 28 – “Investimento em Coligada, em Controladas e
em Empreendimento Controlado em Conjunto”, essas alterações têm como consequência a
inconsistência reconhecida entre as exigências da IFRS 10 e aqueles na IAS 28, para lidar com
a venda ou a entrada de ativos de um investidor, coligada ou empreendimento controlado em
conjunto. A principal consequência das alterações é que o ganho ou perda é reconhecido quando
uma transação envolve um negócio (se ele está instalado em uma subsidiária ou não). Um ganho
ou perda parcial é reconhecido quando uma transação envolve ativos que não constituam um
negócio, mesmo que esses ativos estejam alocados em uma subsidiária. Esta norma é efetiva para
períodos anuais iniciando em/ou após 01 de julho de 2016. A companhia está avaliando o impacto
da adoção destas alterações em suas demonstrações contábeis.

• Melhoria anual das IFRS de setembro de 2014 – o IASB emitiu uma revisão das normas IFRS 5,
IFRS 7, IAS 19 e IAS 34. Estas normas são efetivas para os períodos anuais iniciando em/ou após
01 de janeiro de 2016. A companhia está avaliando o impacto da adoção destas alterações em
suas demonstrações contábeis.
76
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Interpretação

Após o estudo das notas explicativas sobre as políticas contábeis da Renar Maçãs, você pode optar
em conferir a análise a seguir, ou (recomendável) continuar a estudar as notas explicativas com as
políticas contábeis de outras três empresas brasileiras de outros setores, a Bardella S.A., T4F Tickets for
Fun Entretenimento S.A. e Comitê Olímpico Brasileiro, disponíveis na plataforma.

Podemos observar algumas características comuns nas políticas contábeis das quatro empresas
analisadas. Todas fazem um comentário aos principais aspectos previstos nas Normas Internacionais
de Contabilidade.

Isso é adequado e esperado de acordo com as atuais leis e normas, no entanto, cada vez mais
espera‑se que os contadores preparem políticas contábeis e notas explicativas em geral, adaptadas aos
negócios das empresas.

Selecionamos, nas políticas contábeis da empresa, um trecho no qual ocorre essa característica. Observe:

Renar Maçãs S.A.

A companhia na busca de melhoria e simplificação de seus procedimentos quanto a apuração


do custo dos produtos vendidos (fruta), entende que a melhor forma de demonstrar a apuração
do CPV mensal, calculado sobre os estoques formados (colhidos) de maçãs disponíveis para
venda é, considerar que nos primeiros seis meses do ano toda a Fruta Industrial (na sua maioria
vendida diretamente do pomar para a indústria), passa a receber somente o custo de pomar
(custo agrícola) por ser uma fruta de descarte, não contendo nenhum valor de armazenagem,
classificação e embalagem agregado em seu custo.

Nos últimos seis meses do ano a Fruta Industrial é acrescida do custo de armazenagem e
classificação, do PackingHouse em seu custo.

Para as frutas de categoria comercial, além do custo Pomar (agrícola), são acrescidos os
custos apurados no PackingHouse (armazenagem, classificação e embalagem da fruta), que são
atribuídos mensalmente ao custo da fruta classificada e embalada, vendida, ou seja, CPV.

Nesses trechos podemos ver detalhes das operações e a aplicação das normas internacionais sobre
essa operação. Muito se discute se não seria importante a formulação de políticas aplicadas, de acordo
com as operações que as empresas se envolvem.

O CPC e o CFC perceberam essa dificuldade, do “espírito de check list”, no qual os contadores se
preocupam em repassar e conferir as normas internacionais e emitiram uma orientação para a elaboração
de notas explicativas (e políticas contábeis) como iremos estudar a seguir.

77
Unidade I

Cabe uma rápida reflexão sobre a importância das notas explicativas e na exposição das politicas
contábeis em geral. Os contadores devem entender que as notas explicativas não são um mero
comentário complementando o que já está exposto por meio de números nos demonstrativos contábeis.
Muito menos uma mera formalidade.

Com as normas internacionais, como vimos anteriormente, as notas explicativas passam a ter um papel
formidável para a percepção de qualidade e confiabilidade que o usuário tanto precisa para analisar os dados
de uma empresa por meio das demonstrações contábeis. É necessário entender que as notas explicativas
devem trazer informações que não são possíveis de comunicar pelos números e que em nenhum outro lugar
o usuário irá encontrar essas informações com transparência, correção, isenção e credibilidade.

Lauretti (2003, p. 16) comentou que “quanto mais completas e detalhadas forem as notas explicativas
divulgadas, menor o número de pedidos de esclarecimento que a titular vai receber de seus leitores”.

Sendo que Martins, Miranda e Diniz (2012) foram ao seu encontro dizendo que:

A quantidade de informações disponibilizadas é importante, pois quem


está de fora da empresa só poderá conhecer determinados aspectos do
empreendimento se as informações forem divulgadas. Mais importante
ainda é que as informações constantes nas demonstrações analisadas sejam
confiáveis e acuradas, caso contrário as conclusões não serão confiáveis.

As notas explicativas são uma prática antiga na publicação de demonstrações financeiras. No entanto,
com as normas internacionais, o tema passou a ser encarado com verdadeiro pavor pelos contadores. O que
se viu foi uma dificuldade impressionante e inesperada, tanto de contadores brasileiros como de contadores
de outras várias localidades no planeta, em como preparar adequadamente as notas explicativas.

Alguns se viram na necessidade de repetir o exato conteúdo das normas, outros de detalhar dados,
e outros ainda de comentar alguma coisa sobre todos os aspectos previstos nas normas, mesmo que
para um determinado assunto não houvesse necessidade de explicar algo. Como consequência, as notas
explicativas ficaram com uma quantidade inacreditável de páginas, tornando sua leitura quase impossível.

Uma interessante crítica aos balanços com dezenas de páginas é possível de ser encontrado no comentário
de um jornalista. Segundo Torres (2012), os contadores teriam medo de preparar as notas explicativas.

Saiba mais

Acesse na íntegra o artigo em:

TORRES, F. Na briga da essência contra a forma, prevalece o “medo”.


Valor Econômico, São Paulo, set. 2012.

Disponível em: http://www.crcsc.org.br/noticia/view/1137. Acesso em:


12 maio 2015.

78
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Essa dificuldade levou as entidades contábeis e o CPC em 2014 a emitir uma orientação específica
sobre as informações que devem ser publicadas pelas empresas, a OCPC 7.

Saiba mais

Leia a OCPC07, que você pode obter em:

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Orientação. OCPC 07


– Evidenciação na Divulgação dos Relatórios Contábil‑Financeiros de
Propósito Geral. Brasília, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2U7ntoP.
Acesso em: 3 jun. 2015.

Essa orientação realiza uma análise das características qualitativas expostas no CPC00 – Conceitual
Básico e traz a seguinte minuta técnica, reproduzida em parte, a seguir (CPC, 2011a):

Orientação Técnica OCPC 07

Evidenciação na Divulgação dos Relatórios

Contábil‑Financeiros de Propósito Geral

Minuta de Orientação Técnica OCPC 07

Explicação sobre as características qualitativas das demonstrações contábeis


do CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de
Relatório Contábil‑Financeiro.

A. Todas as informações evidenciadas devem ser relevantes para os usuários


externos. E só são relevantes se influenciarem no processo de decisão dos
investidores e credores.

Consequentemente, as não relevantes não devem ser divulgadas.

B. A relevância, por sua vez, abrange os conceitos de magnitude e de natureza


da informação, olhadas sob o ponto de vista dos usuários.

C. Somente as informações relevantes e específicas à entidade devem ser


evidenciadas, tanto as relativas às políticas contábeis quanto a todas as
demais notas, inclusive aquelas relativas a prováveis efeitos de políticas
contábeis a serem adotadas no futuro.

79
Unidade I

D. A menção, em Pronunciamentos, Interpretações e Orientações do CPC


e em Lei, de exigências de divulgação deve sempre ser interpretada à luz
da relevância da informação a ser divulgada, mesmo que apareçam as
expressões “divulgação mínima”, “no mínimo” e assemelhada

E. Por outro lado, nenhuma informação relevante que possa influenciar


o usuário das demonstrações contábeis da entidade pode deixar de ser
evidenciada, mesmo que não haja explícita menção a ela em Lei ou em
documento do CPC.

F. O espírito de simples cumprimento de checklist não atende, absolutamente,


ao necessário ao atingimento dos objetivos dos relatórios contábil‑financeiros
de propósito geral.

Observe que a orientação enfatiza a relevância das informações. Uma informação somente é relevante
quando influencia no processo de decisão dos investidores e credores. O problema, que representa um
verdadeiro desafio para cada contador, é como conhecer as expectativas dos usuários da contabilidade
e preparar informações que sejam necessárias a eles.

O CPC observou que estava acontecendo um espírito de checklist, ou seja, o contador ticava todos
os aspectos que julgava necessários.

A orientação OCPC 07 enfatiza que o contador não deve seguir o “espírito de checklist”; para elaborar
as demonstrações financeiras é necessário exercitar o sentimento do mercado e imaginar o que será
importante para o usuário das demonstrações financeiras.

Enfim, trata‑se de uma tarefa difícil, mas que traz calor e perplexidade para a profissão. Assim como
um grande jornalista, o contador vai viver a emoção, nem sempre prazerosa, de ter que lidar com as
expectativas das pessoas pelo anseio à informação.

4 MUDANÇAS NAS ESTIMATIVAS E RETIFICAÇÃO DE ERRO

4.1 Mudanças nas estimativas

De acordo com Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2009c), o CPC 23, as estimativas são
essenciais no processo contábil e entende que eventuais necessidades de correção são uma espécie de
amadurecimento da empresa e dos profissionais, por isso devem ser praticadas. Também são consideradas
correções de erros. É o que podemos observar nos itens de 7 a 9 no pronunciamento referido:

7. O uso de estimativas é parte essencial da preparação de demonstrações


contábeis, não fazendo diminuir a sua confiabilidade. Uma alteração na
estimativa contábil é um ajuste no valor de um ativo, passivo ou do consumo
periódico de um ativo, que resulta da avaliação atual das obrigações e
benefícios futuros esperados associados a esses ativos e passivos.
80
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

8. As alterações nas estimativas contábeis resultam de nova informação ou


maior experiência e, portanto, não são correções de erros. São exemplos:
mudança na expectativa de vida útil econômica de um ativo imobilizado,
mudança na classificação de perda esperada de uma obrigação de provável
para possível ou remota, mudança no valor da parte não recuperável de um
ativo (impairment) etc.

9. O efeito de uma alteração numa estimativa contábil deve ser reconhecido


prospectivamente e reconhecido no resultado: (a) do período da alteração,
se a alteração afetar apenas esse período; ou (b) do período da alteração e
futuros períodos, se a alteração afetar todos (CPC, 2009c).

Assim, a prática de mudanças nas estimativas, provocando consequentemente a necessidade de


retificar erros, é saudável. A não observação ao CPC 23 é que não seria o correto.

4.2 Retificação de erro

De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2009c), o CPC 23 (CVM, 2009), em seus
itens de 10 a 13, orienta o que são erros, como identificá‑los e a maneira correta de lidar com eles, como
podemos ver a seguir:

10. Erros de períodos anteriores são omissões e incorreções nas


demonstrações contábeis da entidade de um ou mais períodos anteriores
decorrentes da falta de uso, ou uso incorreto, de informação confiável que:
(a) estava disponível quando as demonstrações contábeis desses períodos
foram autorizadas para divulgação; e (b) poderia ter sido razoavelmente
obtida e levada em consideração na preparação e apresentação dessas
demonstrações contábeis.

11. Tais erros incluem os efeitos de erros matemáticos, erros na aplicação de


políticas contábeis, descuidos ou interpretações incorretas de fatos e fraudes.

12. A não ser que seja impraticável determinar ou os efeitos específicos de


um período ou o efeito cumulativo do erro, a entidade deve corrigir os
erros materiais de períodos anteriores retrospectivamente no primeiro
conjunto de demonstrações contábeis divulgadas após a sua descoberta por:
(a) republicação comparativa para o(s) período(s) anterior(es) apresentado(s)
em que tenha ocorrido o erro; ou (b) se o erro ocorreu antes do período
anterior mais antigo apresentado, ajuste dos saldos de abertura dos
ativos, passivos e patrimônio líquido para o período anterior mais antigo
apresentado. As omissões ou declarações incorretas de itens são materiais se
puderem, individual ou coletivamente, influenciar as decisões econômicas
dos usuários tomadas com base nas demonstrações contábeis.

81
Unidade I

13. O Pronunciamento determina, resumidamente, que devem ser divulgados:


a) a natureza da política contábil que sofrer mudança, as razões da mudança,
os efeitos da mudança e outras informações pertinentes; b) a natureza
e o montante de mudança na estimativa contábil que tenha efeito no
período corrente ou se espera que tenha efeito em períodos subsequentes;
c) a natureza do erro sendo retificado, o valor dessa retificação e outras
informações também pertinentes; c) no caso de impossibilidade de
mensuração de quaisquer desses efeitos, as razões que levam a essa situação
devem também ser divulgadas.

Observe que há uma preocupação da IASB e do CPC em não envolver o contador em uma
situação insustentável, portanto, as correções devem ser realizadas apenas quando houver
praticabilidade. Isso, por outro lado, também não é um convite à desídia e à preguiça. É muito
fácil dizer que “não dá para fazer uma correção”. É necessário que o contador busque soluções,
aplique julgamento profissional, faça viabilizar. O maior exemplo recente nesse sentido é o “Caso
Petrobrás”, descrito a seguir.

Caso Petrobrás

Apesar dos acontecimentos na Petrobrás serem muito recentes e ainda não haver uma reflexão
acadêmica sobre as consequências da corrupção no patrimônio da empresa Petrobrás, é salutar
estudarmos rapidamente esse caso porque é um exemplo perfeito de ajuste por retificação de erro.

É inegável que o “caso Petrobrás”, que se junta a diversos outros que são usados para estudo nas
universidades, como os casos Nagi Nahas, Parmalat, Banco Nacional, Enron e tantos outros, traz uma
reflexão positiva que interessa ao nosso estudo.

Durante o ano de 2014, a Polícia Federal deflagrou a chamada “Investigação Lava Jato”, uma extensa
investigação que vinha mantendo desde 2009, na qual os depoimentos e evidências colhidos até então
deixavam claro que houve um esquema organizado e sofisticado de corrupção entre diretores da
Petrobrás, que durou muitos anos.

É evidente que naquele momento ainda não havia condenados na Justiça, apenas uma investigação
policial. A condenação por eventuais crimes cometidos ainda seria realizada a posteriori pela Justiça.
Porém, com os depoimentos tomados em “delação premiada”, ou seja, um tipo de confissão onde
o investigado pode se beneficiar posteriormente com reduções de pena, mas somente se disser a
verdade, indicavam que ativos estavam sendo comprados com propina embutida. A auditoria externa e
independente tomou a decisão histórica de não emitir um relatório de auditoria.

Essa decisão crucial lançou a Petrobrás, uma das maiores empresas brasileiras, em uma crise de
confiança que representava também um enorme desafio contábil, porque o ajuste das fraudes e dos
valores do ativo foram uma exigência da auditoria externa e independente para que emitisse o relatório.
E como fazer esse ajuste?

82
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Durante várias semanas, os mercados acompanharam a tentativa hercúlea de tentar “salvar a


empresa”, isolando e reconhecendo como perdas os efeitos da corrupção.

Alguns dias antes do histórico dia 22 de abril de 2015, o jornalista Fernando Torres, do Jornal Valor,
relatou que a Petrobrás deveria realizar dois tipos de ajustes em suas demonstrações contábeis, conforme
(PETROBRAS..., 2015):

A parte referente a corrupção será tratada como correção de erro, nos


termos do pronunciamento contábil CPC 23, e terá valor entre R$ 4 bilhões
e R$ 8 bilhões, segundo uma das fontes. O erro a ser corrigido se refere
ao tratamento dos gastos com corrupção como investimento, e não
como despesa indedutível. A segunda parcela de baixa contábil será fruto
de impairment, ou perda do valor recuperável de ativos, nos termos do
pronunciamento contábil CPC 01. A estatal deve manter a prática de fazer
projeções de fluxo de caixa futuro tendo como base seu parque de refino
como uma única grande unidade geradora de caixa (UGC). Isso acabou
tendo como consequência o não reconhecimento de baixas referentes às
refinarias em construção em Suape (PE) e no Rio nos últimos anos, ainda que,
numa análise individual dos ativos, houvesse sinais de que o custo desses
investimentos, ante dos estouros de orçamento, não seria todo recuperado.

De qualquer forma, os executivos da Petrobrás, auditores e profissionais em geral sabiam que estavam
envolvidos com uma situação totalmente nova, para a qual não havia um pronunciamento específico
e que demandaria então um julgamento profissional. É o que podemos ver no relato jornalístico
(PETROBRAS..., 2015):

A norma contábil estabelece como regra geral que os ajustes relativos


correção de erros sejam feitos retroativamente, no exercício em que cada
erro ocorreu, o que exigiria republicação de balanços antigos. No entanto,
a empresa deve citar literatura que trata especificamente de fraude e
argumentar que não conseguiu identificar períodos e valores precisos, de
forma que provavelmente fará o ajuste todo no exercício de 2014, quando
o problema foi descoberto.

O jornalista alerta ainda para o fato de que seria imprescindível a essa empresa ter profunda
transparência e relatar os fatos nas notas explicativas (PETROBRAS..., 2015):

A avaliação entre todos os envolvidos é que estão diante de um caso não


previsto expressamente nas normas contábeis, o que exige a aplicação de
julgamento contábil por parte da administração da companhia para mostrar a
melhor informação possível para os acionistas, credores e demais interessados.
Assim, os reguladores e auditores devem exigir que a empresa seja bastante
transparente nas notas explicativas que acompanham o balanço sobre os
critérios usados para os ajustes que serão feitos, bem como para as premissas
que vai utilizar nos testes de impairment – taxas de desconto, margens de
refino, preço de petróleo, taxa de câmbio, entre outros.

83
Unidade I

De fato, dias depois, de acordo com o que relatou o jornalista, a Petrobrás explicou os procedimentos
em detalhes, em uma extensa nota explicativa denominada ‘”Operação Lava‑Jato” e seus reflexos
na companhia (PETROBRAS, 2014). Nessa nota explicativa, a empresa apontou como foi formada a
metodologia para apurar o valor estimado das perdas com a corrupção.

Na seguinte nota, a Petrobrás expõe o esquema de pagamentos indevidos e reconhece a necessidade


de ajustes:

3.2.1. O esquema de pagamentos indevidos e a necessidade de ajustar o


valor contábil de determinados ativos imobilizados

De acordo com as informações disponíveis à companhia descritas acima, no


esquema de pagamentos indevidos, diversas empreiteiras e fornecedores se
organizaram em conluio com ex‑empregados da Petrobras para impor gastos
adicionais no âmbito de contratos para a construção de ativos e fornecimento
de bens e serviços à companhia e utilizaram os valores pagos a mais pela
Petrobras para fazer pagamentos indevidos a partidos políticos, políticos
em exercício e outros agentes políticos, empregados de empreiteiras e
fornecedores, além de ex‑empregados da Petrobras. Em particular, o ex‑diretor
de abastecimento, o ex‑diretor de serviços e um ex‑gerente executivo da área
de serviços estavam envolvidos no esquema. Todos eles ocupavam posições de
liderança na Petrobras e, além de omitirem a existência do cartel, utilizaram
sua influência para possibilitar os objetivos do esquema de pagamentos
indevidos, principalmente garantindo que os membros do cartel participassem
de licitações para a compra de bens e serviços pela Petrobras e, dessa forma,
obtivessem contratos com a companhia. Não há, no entanto, informações
que indiquem que eles controlassem ou direcionassem o uso dos pagamentos
indevidos quando os recursos saíam da Petrobras. Além disso, as investigações
também identificaram outras ocorrências específicas em que empresas
impuseram gastos adicionais à Petrobras na aquisição de ativos imobilizados.
Estes valores também foram utilizados para financiar pagamentos indevidos
feitos por fornecedores e empreiteiras a ex‑empregados da Petrobras, não
relacionados ao esquema de pagamentos indevidos, descrito acima.

Já na nota 3.2.3, a empresa definiu como lidou com a situação e efetuou os cálculos das perdas a
serem corrigidas:

3.2.3. Abordagem adotada para ajuste de ativos afetados pelos gastos adicionais

Devido à impraticabilidade de identificação dos períodos e montantes de


gastos adicionais incorridos pela companhia, a Petrobras utilizou todo
o conjunto de informações disponíveis (descrito anteriormente) para
quantificar o impacto do esquema de pagamentos indevidos. Quando a
companhia divulgou suas demonstrações contábeis intermediárias do
84
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

terceiro trimestre de 2014, não revisadas pelos auditores independentes,


ainda não tinha informações com suficiente robustez para embasar os
ajustes em suas demonstrações contábeis. Isso ocorreu em função de
diversos documentos, cuja existência era de conhecimento da companhia,
porém ainda não haviam sido tornados públicos, com destaque para os
depoimentos prestados no âmbito dos acordos de colaboração premiada de
Pedro José Barusco Filho, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef.

A partir de 28 de janeiro de 2015, evidências adicionais relevantes


foram tornadas públicas, corroborando e amplificando as informações
anteriormente disponíveis:

• depoimentos de Pedro José Barusco Filho;

• depoimentos prestados no âmbito do acordo de colaboração de Paulo


Roberto Costa e Alberto Youssef, que estavam mantidos em sigilo;

• uma parte dos depoimentos de Shinko Nakandakari;

• o Ministério Público Federal ajuizou ações de improbidade


administrativa contra membros do cartel pelos danos materiais
atribuíveis ao esquema de pagamentos indevidos;

• o Ministério Público Federal instaurou outras ações criminais contra


indivíduos envolvidos no esquema de pagamentos indevidos, como
representantes das empreiteiras, intermediários ou ex‑empregados
da Petrobras;

• acordo de leniência da empresa Setal Engenharia e Construções,


participante do cartel, com as autoridades brasileiras.

Os valores pagos pela Petrobras no âmbito dos contratos junto aos


fornecedores e empreiteiras envolvidos no esquema descrito anteriormente
foram integralmente incluídos no custo histórico dos respectivos ativos
imobilizados da companhia. No entanto, a administração entende que
a parcela dos pagamentos que realizou a essas empresas que representa
gastos adicionais incorridos em decorrência do esquema de pagamentos
indevidos não deveria ter sido capitalizada.

Os depoimentos identificaram 27 membros do cartel (fornecedores


e empreiteiras brasileiras que pertenceriam ao esquema) e diversos
fornecedores e empreiteiras que teriam atuado de forma isolada, também
cobrando valores adicionais da companhia que eram utilizados para realizar
pagamentos indevidos, porém fora do escopo do cartel.
85
Unidade I

Com relação ao período de atuação do cartel, os depoimentos esclarecem que


o esquema de pagamentos indevidos teria ocorrido entre 2004 e abril de 2012.
A companhia também avaliou a possibilidade de o esquema ter impactado
períodos anteriores a 2004. No entanto, além dos depoimentos não sugerirem
que o esquema acontecesse antes de 2004, o impacto de eventuais valores
adicionais cobrados na aquisição de bens e serviços anteriormente a 2004 não
seria material, uma vez que a maior parte do saldo atual do ativo imobilizado
da companhia foi construída entre 2004 e 2014 (o saldo do ativo imobilizado
era de R$ 67 bilhões em 31 de dezembro de 2003) e que os ativos existentes
em 2003 estão substancialmente depreciados em 2014.

Em suma, com base nas informações descritas anteriormente, a companhia


concluiu que a parcela dos gastos incorridos na construção de seus ativos
imobilizados como resultado da atuação de empreiteiras e fornecedores no
cartel para cobrar valores adicionais e utilizar esses valores para realizar
pagamentos indevidos não deveria ter sido capitalizada. A fim de contabilizar
o impacto dos referidos gastos adicionais, foi desenvolvida uma metodologia
para estimar o ajuste que deveria ser feito no ativo imobilizado, que envolve
os cinco passos descritos a seguir:

1) Identificação da contraparte do contrato: foram listadas todas as


companhias citadas como membros do cartel nos depoimentos tornados
públicos e com base nessa informação, foram levantadas as empresas
envolvidas e as entidades a elas relacionadas.

2) Identificação do período: foi concluído, com base nos depoimentos, que


o período de atuação do esquema de pagamentos indevidos foi de 2004 a
abril de 2012.

3) Identificação dos contratos: foram identificados todos os contratos


assinados com as contrapartes mencionadas no passo (1) durante o período
do passo (2), incluindo também os aditivos aos contratos originalmente
assinados entre 2004 e abril de 2012. Em seguida, foram identificados os
ativos imobilizados aos quais estes contratos se relacionam.

4) Identificação dos pagamentos: foi calculado o valor total dos contratos


referidos no passo (3).

5) Aplicação de um percentual fixo sobre o valor total de contratos definido


no passo (4): o percentual de 3%, indicado nos depoimentos, foi utilizado
para estimar os gastos adicionais impostos sobre o montante total dos
contratos identificados.

O cálculo considerou todos os valores registrados nos registros contábeis


da companhia entre 2004 e setembro de 2014, referentes aos contratos
86
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

inicialmente firmados entre 2004 e abril de 2012, bem como quaisquer


aditivos firmados entre as empresas do sistema Petrobras e os membros do
cartel (individualmente ou em consórcio).

Esse escopo amplo de contratos foi adotado para gerar a melhor estimativa dos
gastos adicionais, mesmo não havendo evidência de que todos os contratos
assinados com as empresas em questão tivessem sido alvo do esquema de
pagamentos indevidos. A companhia também identificou montantes verificados
em seus registros contábeis, referentes aos contratos e projetos específicos com
empresas que não eram membros do cartel para contabilizar os gastos adicionais
impostos por essas empresas para financiar pagamentos indevidos, realizados
por elas, não relacionados ao esquema de pagamentos indevidos ou ao cartel.

No caso específico de valores cobrados adicionalmente por empresas fora do


escopo do cartel, a companhia considerou como parte da baixa de gastos adicionais
capitalizados indevidamente os valores específicos de pagamentos indevidos
ou o percentual sobre o contrato citados nos depoimentos, pois também foram
utilizados por essas empresas para financiar pagamentos indevidos.

A companhia possui diversos projetos em construção cujo contrato


original foi assinado entre 2004 e abril de 2012. A abordagem adotada
para realizar os ajustes considera que os valores cobrados adicionalmente
pelas empreiteiras e fornecedores foram aplicados sobre o valor total do
contrato, ou seja, incluindo pagamentos que ainda serão incorridos em
períodos futuros. Como é impraticável alocar os gastos adicionais impostos
por essas empresas a períodos específicos no tempo, a parcela de gastos
adicionais referentes a pagamentos que serão realizados no futuro pela
companhia já pode ter sido cobrada antecipadamente. Dessa forma, a baixa
de gastos adicionais capitalizados indevidamente incorpora o valor total dos
contratos assinados e não apenas os valores referentes a pagamentos já
efetuados. Contudo, conforme mencionado anteriormente, com base nas
informações disponíveis, a companhia acredita que a atuação do cartel tenha
sido interrompida após abril de 2012 e que, considerando os andamentos
recentes das investigações criminais, os pagamentos indevidos relacionados
ao esquema de pagamentos indevidos tenham sido interrompidos.

A companhia considera ter adotado uma metodologia que produz a melhor


estimativa de quanto seus ativos imobilizados estão superavaliados como
resultado do esquema de pagamentos indevidos, uma vez que utilizou como base
um valor limítrofe dentre as estimativas consideradas razoáveis. Em sua estimativa,
a companhia considerou que todos os contratos com as contrapartes identificadas
foram impactados e o percentual de 3% representa os valores adicionais impostos
pelas empreiteiras e fornecedores, utilizados por essas empresas para realizar
pagamentos indevidos. As duas premissas são corroboradas pelos depoimentos,
87
Unidade I

porém alguns depoimentos indicam percentuais inferiores com relação a certos


contratos, períodos menores de atuação do cartel (2006 a 2011), bem como o
envolvimento de um número menor de fornecedores e empreiteiras.

Além das baixas no ativo imobilizado, os impactos no resultado do período


incluem a baixa de créditos fiscais existentes e uma provisão para os créditos
já utilizados com relação aos ativos em questão, além da reversão de parte
da depreciação dos referidos ativos, a partir de suas respectivas datas de
entrada em operação.

Conforme indicado anteriormente, os depoimentos não fornecem informações


suficientes para permitir que a companhia determine o período específico no
qual cada valor gasto adicionalmente foi incorrido. Dessa forma, a baixa de
gastos adicionais capitalizados indevidamente foi reconhecida no resultado do
terceiro trimestre de 2014, em função da impraticabilidade de se determinar
os efeitos específicos em cada período no passado. A companhia acredita que
essa abordagem é a mais adequada no âmbito dos padrões internacionais de
contabilidade (IFRS) para a correção do erro.

Além disso, a companhia avaliou, através de duas hipóteses, a materialidade


do impacto do esquema de pagamentos indevidos em informações financeiras
de períodos anteriores que são apresentadas para fins comparativos. Uma das
hipóteses foi considerar que a alocação dos gastos adicionais impostos pelos
fornecedores tivesse sido ao longo do tempo e, consequentemente, capitalizada, na
mesma proporção em que a companhia pagou os valores no âmbito dos contratos
impactados, ou seja, como se ocorressem em uma base pro rata. A outra hipótese
foi considerar que os pagamentos indevidos fossem realizados de forma integral
no momento em que os contratos foram assinados. Em nenhum dos casos, realizar
a baixa dos gastos adicionais capitalizados indevidamente impactaria de forma
material os períodos anteriores apresentados para fins comparativos.

A companhia ainda não recuperou nenhum valor referente aos pagamentos


indevidos feitos por fornecedores e não pode estimar de forma confiável
qualquer valor recuperável nesse momento. Qualquer valor recuperável será
reconhecido como resultado quando recebido (ou quando sua realização se
tornar praticamente certa).

Conforme mencionado anteriormente, a Petrobras acredita que, de acordo


com o IAS 16, os valores que foram pagos a mais em decorrência do referido
esquema de pagamentos indevidos não deveriam ter sido incluídos no custo
histórico do seu ativo imobilizado. Assim, nos termos da legislação tributária
brasileira, esta baixa é considerada uma perda resultante de uma atividade
ilícita e sujeita ao andamento das investigações a fim de determinar a
extensão real das perdas antes que possam ser consideradas despesas
dedutíveis para fins de imposto de renda e contribuição social.
88
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Como resultado, em 30 de setembro de 2014, não era possível para a


companhia estimar os valores que poderiam ser considerados como despesas
dedutíveis ou o prazo em que poderiam ser compensados. Desta forma, não
foi constituído imposto de renda diferido sobre os pagamentos indevidos.

A companhia considerou cuidadosamente todas as informações disponíveis


e, conforme indicado anteriormente, não acredita que novas informações
oriundas das investigações pelas autoridades brasileiras, da investigação
interna independente por escritórios de advocacia, ou de novas comissões
internas de apuração que venham a ser constituídas (ou revisões das comissões
internas já concluídas) poderão impactar ou mudar de forma relevante a
metodologia adotada. Não obstante esta expectativa, a companhia monitorará
continuamente as investigações para obter informações adicionais e avaliará
seu potencial impacto sobre os ajustes realizados.

O efeito total dos ajustes apurados, conforme descrito acima, por área de
negócio, é apresentado a seguir:

Tabela 2

Consolidado
“Baixa de gastos adicionais Gás & Valor
E&P Abastecimento Distribuição Internacional Corporativo
capitalizados indevidamente” Energia total
Esquema de pagamentos
indevidos: 62.679 110.867 21.233 757 752 3.322 199.610
Valor total dos contratos (*)
Estimativa do valor total de
1.880 3.326 637 23 23 99 5.988
gastos adicionais (3%)
Pagamentos não relacionados
ao esquema de pagamentos 139 1 10 - - - 150
indevidos (fora do cartel)
2.019 3.327 647 23 23 99 6.138
Reversão da depreciação dos
(87) (198) (52) - - (9) (346)
referidos ativos
Impacto no ativo imobilizado 1.932 3.129 595 23 23 90 5.792
Baixa de créditos fiscais
referentes aos ativos 37 298 57 - - 10 402
impactados (**)
Baixa de créditos adicionais
1.969 3.427 652 23 23 100 6.194
capitalizados indevidamente
(*) Inclui R$ 44.115 referentes a valores de contrato cujos pagamentos serão realizados após 30 de setembro de 2014.
(**) Baixa de créditos ue não serão aproveitados.

89
Unidade I

A companhia fez uma análise de sensibilidade, considerando que


aproximadamente 26% das baixas de gastos adicionais capitalizados
indevidamente estão relacionadas a ativos que sofreram baixas por
impairment no quarto trimestre de 2014. Excluindo esses ativos, um
aumento ou redução de 1% no percentual aplicável de gastos adicionais
impostos pelos fornecedores ocasionaria um aumento ou redução de
R$ 1.479 nos valores das baixas.

No entanto, conforme indicado anteriormente, a companhia entende


que utilizou as premissas mais adequadas à apuração dos impactos do
esquema de pagamentos indevidos e não tem evidências que indiquem
a possibilidade de qualquer diferença material com relação aos valores
que foram baixados.

Dessa forma, o “Caso Petrobrás” evidencia, acima de tudo, que apenas a verdade deve ser informada
nas demonstrações contábeis e que, em casos onde não haja essa verdade, é preciso fazer uma correção.

A correção, se necessária, não deve jamais ser entendida como algo dispendioso e que por isso
não deveria ser praticada em uma análise custo x benefício simples. É imprescindível encontrar uma
metodologia e utilizar. Não se tem aqui uma preocupação com a acurácia dos valores, que talvez seja
mesmo impossível de encontrar, mas sim com a credibilidade.

É esse o principal aspecto a ser observado por todos os contadores, principalmente porque um caso
isolado acaba por atingir a todos os contadores.

Observações

A menção e o uso das demonstrações financeiras da empresa Petrobrás


S.A. está sendo realizada exclusivamente para fins didáticos, em ambiente
universitário. Não deve jamais ser entendido como sugestão de compra de
produtos ou serviços, realização de investimentos ou ainda elogio, crítica
ou comentário político.

Exemplo de aplicação

Nos próximos anos, pesquisas relacionadas com a divulgação das políticas contábeis e notas
explicativas das empresas serão cada vez mais relevantes. Por isso, a sugestão é a de que você pesquise
sobre notas explicativas e a OCPC 7, que veio trazer mais orientações sobre esse aspecto.

90
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

Resumo
Esta unidade foi uma sólida preparação para entrar no estudo das normas
internacionais e dos pronunciamentos do CPC e as Resoluções do Conselho
Federal de Contabilidade com as Normas Brasileiras de Contabilidade.

Vimos a atuação dos principais organismos internacionais que editam


normas contábeis, dos quais a FASB, o órgão norte‑americano que publica
os pronunciamentos nos EUA e que funcionava na prática como um
verdadeiro organismo internacional, concordou em colaborar com a IASB, o
órgão internacional que atualmente é responsável pelas normas contábeis.
Vimos também o papel das Nações Unidas, principalmente com a ISAR/
UNCTAD que, segundo alguns autores como Niyama (2005), deveria ter um
papel mais relevante. Atualmente, temos o G20 como um incentivador à
adoção e uso das normas internacionais.

Aprendemos o significado do processo de harmonização contábil


e o complexo processo de convergência, que não se confunde com
uma padronização, mas sim diz respeito a uma maneira sofisticada de
traduzir procedimentos nacionais que podem ser diferentes, mas que
são convergentes.

Conhecendo os principais organismos internacionais e o significado


do processo de convergência, vimos o processo de formação de uma
norma internacional, os ritos e procedimentos e a estrutura conceitual
que a IASB adota.

Em seguida, estudamos a IAS 08 /CPC 23 e NBC TG (R1) – “Políticas


Contábeis e Retificações de Erros e Estimativas” em seus detalhes.
Basicamente, de acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(2009c), CPC 23, “Políticas contábeis são os princípios, as bases, as
convenções, as regras e as práticas específicas aplicados pela entidade
na preparação e na apresentação de demonstrações contábeis”. Há
situações em que se faz necessário alterar estimativas e retificar erros.
Nesse sentido, essa alteração precisa ser realizada levando‑se em conta
o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (2009c), na Norma CPC 23,
que diz que “erros de períodos anteriores são omissões e incorreções nas
demonstrações contábeis da entidade de um ou mais períodos anteriores
decorrentes da falta de uso, ou uso incorreto, de informação confiável que:
(a) estava disponível quando as demonstrações contábeis desses períodos
foram autorizadas para divulgação; e (b) poderia ter sido razoavelmente
obtida e levada em consideração na preparação e apresentação dessas
demonstrações contábeis”.

91
Unidade I

Vimos políticas contábeis de algumas empresas brasileiras que atuam em


diferentes setores da economia e aprendemos sobre a imensa necessidade
de se refletir nas políticas transparência – o que é importantíssimo para os
usuários. Dito isso, vimos rapidamente a OCPC 07 – uma orientação para a
melhoria das notas explicativas.

Espera‑se que, ao final desta unidade, você tenha condições não só de


interpretar uma norma contábil, mas também de fazer melhores julgamentos
profissionais. Em especial com as normas contábeis internacionais, não
basta dar atenção quantitativa (números) às demonstrações contábeis,
conferir exatidão e/ou acurácia, a qualidade do julgamento profissional e
dos assuntos que o contador relata são igualmente importantes. Ou seja,
não é mais possível ser apenas correto, é necessário ser convergente.

Exercícios

Questão 1. (Enade, 2006) A observância dos Princípios Fundamentais de Contabilidade emanadas


pelo Conselho Federal de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de
legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade.

A norma contábil que determina a inclusão das receitas e despesas na apuração do resultado do
período a que pertencerem, de forma simultânea quando se correlacionarem, independentemente de
ter havido recebimento no caso de receita, ou pagamento, no caso de despesa, está contida no Princípio
Fundamental de Contabilidade da:

A) Competência.

B) Continuidade.

C) Oportunidade.

D) Tempestividade.

E) Uniformidade.

Resposta correta: alternativa A.

Análise das alternativas

A) Alternativa correta.

Justificativa: o sincronismo entre os períodos de ocorrências de receitas e de despesas é tratado pelo


princípio da competência.
92
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o princípio da continuidade estabelece que a empresa tem duração ilimitada,


independentemente de seus sócios ou acionistas.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: o princípio da oportunidade considera que os valores devem ser contabilizados nos
momentos em que ocorrem os eventos ou fatos econômicos.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o princípio da tempestividade refere‑se ao processo de imediato reconhecimento dos


ativos e dos passivos contábeis.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o princípio da uniformidade considera a manutenção de determinado critério ou


princípio nos processos executados em vários períodos, de forma a permitir a comparação entre valores
e resultados.

Questão 2. (Enade, 2009) Em função da crise econômica internacional, a empresa Patativa


passou por dificuldades econômico‑financeiras, o que provocou um processo de descontinuidade
e, consequentemente, está sendo obrigada a vender ativos para pagar dívidas com empregados,
fornecedores e credores.

Sendo assim, os ativos devem ser avaliados pelo:

A) Custo corrente.

B) Custo histórico.

C) Fluxo de caixa descontado.

D) Preço corrente de venda.

E) Valor de liquidação.

Resposta correta: alternativa E.

93
Unidade I

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o custo corrente refere-se ao estado atual de manutenção e conservação, mas


normalmente não é assim validado no mercado. Segundo a alínea “A” do inciso II do § 1° do art. 7°
da Resolução CFC n° 750/93, “os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes
de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na
data ou no período das demonstrações contábeis”.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o custo histórico é o praticado no momento da incorporação do bem ao patrimônio


da empresa, o que normalmente difere daquele praticado no mercado. Segundo o inciso I do § 1°
do art. 7° da Resolução CFC n° 750/93, “os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem
pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para
adquiri-los na data da aquisição”

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse método visa a trazer, a valor presente, os fluxos de caixa dos benefícios
futuros possíveis de serem obtidos com esses bens, de maneira a determinar o seu montante
atual. A quantificação desse valor depende do estabelecimento de uma taxa de desconto que seja
compatível com a realidade do mercado. Segundo a alínea “C” do inciso II do § 1° do art. 7° da
Resolução CFC n° 750/93, “os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro
de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da
Entidade” (grifo nosso).

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o preço corrente de venda, também conhecido como valor realizável líquido,
é utilizado quando o produto da empresa for vendido em mercado organizado ou em situação
de inventário de produtos para venda ou, ainda, para produtos próximos do estágio final de
acabamento. Segundo a alínea “B” do inciso II do § 1° do art. 7° da Resolução CFC n° 750/93, “os
ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos
pela venda em uma forma ordenada (...) no curso normal das operações da Entidade”.

E) Alternativa correta.

Justificativa: essa é a hipótese extrema para valores de saída por presumir venda forçada.
O valor de liquidação é utilizado quando mercadorias ou outros ativos tornam-se obsoletos ou
quando a empresa não espera continuar o empreendimento em futuro próximo. É, portanto, uma
hipótese de descontinuidade.

94

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