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Tópicos de Atuação

Profissional
Autores: Prof. Adalberto Oliveira da Silva
Profa. Camila Kimie Ugino
Prof. Marcos Paulo Oliveira
Colaboradores: Prof. Maurício Felippe Manzalli
Profa. Ivy Judensnaider
Professores conteudistas: Adalberto Oliveira da Silva / Camila Kimie Ugino /
Marcos Paulo Oliveira

Adalberto Oliveira da Silva Economia Internacional e Economia do Setor Público. Tem


experiência na área de Economia, com ênfase em Economia
Mestre em Economia Política pela Pontifícia dos Programas de Bem-Estar Social, Economia Política e
Universidade Católica (PUC-SP). Atualmente, é professor Políticas Públicas.
adjunto da Universidade Paulista (UNIP), no curso de
Ciências Econômicas, leciona disciplinas de Macroeconomia Atuou no mercado financeiro nos bancos Unibanco e
Aplicada, História Econômica Geral, Economia Política e Citibank nas áreas de planejamento corporativo e na área
Técnicas de Pesquisa em Economia. de risco, bem como em empresa privada em Campinas no
ramo farmacêutico veterinário.
É técnico do Departamento Intersindical de Estudos
Estatísticos e Socioeconômicos (Dieese), em que atua em Marcos Paulo Oliveira
pesquisas sobre mercado de trabalho. Suas áreas de interesse
são: teoria econômica, desenvolvimento econômico, Graduado em Ciências Econômicas pela UNIP, com
economia brasileira e políticas públicas. Também atua como mestrado em Economia Política pela PUC-SP. Leciona na
revisor técnico no projeto da Biblioteca Universitária Pearson UNIP desde o ano de 2002, nas disciplinas de Contabilidade
para a confecção de material didático de cursos superiores. Social, Elementos de Economia, Economia Brasileira,
Economia e Gestão do Setor Público, Macroeconomia
Camila Kimie Ugino Fechada, Macroeconomia Aberta, Macroeconomia Aplicada,
Desenvolvimento Econômico, dentre outras. Trabalhou no
Graduação em Ciências Econômicas pela Universidade setor privado na área de importação e exportação e no
Estadual de Campinas (2005), mestrado em Economia setor público com políticas públicas de geração de trabalho,
Política (2011) e doutorado em andamento na área de emprego e renda. Nessa área, atuou no planejamento e na
Ciências Sociais com ênfase em ciência política pela gestão pública como gerente de indicadores econômicos e
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). sociais. Ainda trabalhou como gerente de acompanhamento
Atualmente é professora da PUC-SP e da UNIP, ministrando das receitas e dos gastos públicos. Seu principal campo de
disciplinas de Introdução à Economia, Economia Política, pesquisa em Economia é a macroeconomia.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S586t Silva, Adalberto Oliveira da.

Tópicos de atuação profissional. / Adalberto Oliveira da Silva,


Camila Kimie Ugino, Marcos Paulo Oliveira. – São Paulo: Editora Sol, 2017.
136, p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-111/17, ISSN 1517-9230.

1. Atuação profissional. 2. Economia. 3. Atuação por setores. I.


Ugino, Camila Kimie. II. Oliveira, Marcos Paulo. III. Título.

681.3

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Aline Ricciardi
Vitor Andrade
Sumário
Tópicos de Atuação Profissional

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 REQUISITOS INDISPENSÁVEIS NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL......................................................... 11
1.1 Sólida formação teórica e prática, histórica e quantitativa na área das
Ciências Econômicas................................................................................................................................... 11
2 A FORMAÇÃO DA CARREIRA....................................................................................................................... 21
2.1 Introdução................................................................................................................................................ 21
2.2 Formação e competências essenciais............................................................................................ 23
2.2.1 A importância da teoria econômica................................................................................................ 23
2.2.2 A importância do pluralismo no ensino de Economia............................................................. 28
2.2.3 A possibilidade de viés ideológico.................................................................................................... 30
2.2.4 As competências essenciais................................................................................................................. 31
2.3 Pensar a ciência econômica: uma visão geral........................................................................... 32
3 A IMPORTÂNCIA DA DIMENSÃO QUANTITATIVA................................................................................. 33
3.1 Introdução................................................................................................................................................ 33
3.2 Análise de dados e estimativa de cenários................................................................................. 34
3.3 Modelos econométricos e outros instrumentos de análise de relações
econômicas...................................................................................................................................................... 41
3.4 A importância dos métodos quantitativos................................................................................. 46
4 ATUAÇÃO POR SETORES................................................................................................................................ 47
4.1 Atuação no setor público................................................................................................................... 47
4.2 Atuação por nível: requisitos de qualificação, atividades
exercidas e experiências............................................................................................................................. 54
4.2.1 Regional....................................................................................................................................................... 56
4.2.2 Nacional....................................................................................................................................................... 67

Unidade II
5 ATUAÇÃO EM NÍVEL INTERNACIONAL: REQUISITOS DE QUALIFICAÇÃO, ATIVIDADES
EXERCIDAS E EXPERIÊNCIAS........................................................................................................................... 83
6 MOBILIDADE ENTRE ALTERNATIVAS DE APERFEIÇOAMENTO E DE INSERÇÃO
NO MERCADO DE TRABALHO.......................................................................................................................... 90
6.1 Áreas interligadas com a Economia, como Ciências Sociais,
História, Geografia, Administração, Contabilidade, Engenharia etc........................................ 90
7 VARIÁVEIS GLOBAIS QUE AFETAM A SOCIEDADE E O ECONOMISTA.......................................... 93
7.1 Sociais: entender a sociedade em suas múltiplas manifestações..................................... 93
7.1.1 Desigualdade social................................................................................................................................ 93
7.1.2 Concentração de terra........................................................................................................................... 97
7.1.3 Acesso à educação.................................................................................................................................. 98
7.2 Políticas: o principal papel da economia é ser construtiva e inclusiva........................... 99
7.2.1 O papel do Estado na economia........................................................................................................ 99
7.2.2 Os regimes políticos..............................................................................................................................101
7.2.3 As políticas públicas.............................................................................................................................103
7.3 Econômicas: desenvolvimento econômico...............................................................................104
7.3.1 Crise, crescimento e seus desdobramentos.................................................................................105
8 PRINCIPAIS TENDÊNCIAS E O PODER DE PROSPECTAR A REALIDADE
SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DA REGIÃO.......................................................................................108
8.1 Principais tendências atuais da ciência econômica..............................................................108
8.2 Economia do conhecimento...........................................................................................................112
8.3 Economista do futuro........................................................................................................................115
8.4 Olhar para outros fatores.................................................................................................................116
8.5 Complexidade rítmica dos processos econômicos................................................................119
APRESENTAÇÃO

A disciplina de Tópicos de Atuação Profissional em Economia tem como objetivo proporcionar uma
visão sobre os rumos das Ciências Econômicas e da atuação do bacharel em Economia, observados
no contexto de uma sociedade moderna, que, a cada momento, cria novas demandas para esses
profissionais. Para isso, discutiremos os requisitos para o exercício profissional, dentre eles, a formação
técnica e prática, a dimensão ética, a formação crítica e a responsabilidade social do economista.

As Ciências Econômicas sofrem mudanças devido às constantes transformações do seu objeto de


análise, ou seja, dos problemas e soluções relacionados ao trato econômico-financeiro. Num contexto de
mercado globalizado, temos novos desafios quanto ao entendimento do funcionamento dos mercados
em nível local, regional, nacional e internacional, exigindo do profissional o conhecimento dos novos
esforços teóricos e a inter-relação da Economia com outras ciências, como a Geografia, Física, História,
Psicologia, entre outras.

Nesse percurso, a disciplina apresenta ao aluno a importância da formação teórica do economista, seja
na parte histórica, como em ferramentas quantitativas. Destaca ainda como requisitos para o profissional
analisar os dados econômicos e estimar possíveis cenários com base nas flutuações econômicas. Com
isso, também mostra ao aluno os requisitos necessários para a sua atuação nos diferentes setores de
atividade (Privado, Público e Terceiro Setor) ou níveis econômicos (Regional, Nacional e Internacional).

Faz‑se uma revisão sobre a relação entre a economia e os negócios, com a observação da criação de
novos mercados, novos produtos e o impacto das novas tecnologias que afetam a visão do profissional
sobre as variáveis sociais, políticas e econômicas, já que o economista tem ampliado o conjunto de
fenômenos que devem compreender e propor soluções aos problemas acentuados.

Por fim, serão apresentadas as principais tendências das Ciências Econômicas, dentre elas, a
preocupação com a realidade socioeconômica e ambiental, o impacto do conhecimento e o surgimento
de uma nova economia destacando os avanços recentes nesses novos campos de estudo à disposição
do economista moderno. .

INTRODUÇÃO

Tópicos de Atuação Profissional é uma disciplina que proporciona uma visão analítica e comparativa
das condições atuais da atuação do bacharel em Economia. Abordaremos a relevância e as características
da formação teórica e prática, bem como histórica e quantitativa, no campo das Ciências Econômicas;
além de discutirmos como esses elementos se inter-relacionam com a dimensão ética da profissão e
suas repercussões sobre questões como responsabilidade social.

No contexto de uma sociedade moderna e globalizada que necessita de profissionais capacitados


para analisar e solucionar problemas relacionados ao trato econômico-financeiro, esta disciplina é
importante para destacar os desafios da vida profissional. Os diversos elementos políticos, econômicos,
sociais e globais da sociedade precisam ser entendidos para ser possível interpretar os problemas do
mercado local, regional, nacional e internacional.
7
Para dar conta desse desafio, vamos aprofundar um pouco a discussão sobre as competências
essenciais vinculadas à formação de um economista, bem como os desafios em superar o “economês”
como língua nativa da profissão.

Sabemos que quase todos os cursos de Economia (e, atenção, não só no Brasil) propõem
uma formação relativamente ampla. Um breve exame da resolução que normatiza os cursos de
Economia no Brasil (Resolução CNE/CES nº 4/2007) apresenta desde conteúdos de formação geral,
como elementos básicos de Direito, Contabilidade e Administração, passando pelos conteúdos de
formação histórica e teórico-quantitativa até elementos mais práticos como técnicas de pesquisa,
estágio curricular e a monografia – que é um exercício prático de uma série de competências
necessárias a um economista, por exemplo, sua capacidade de desenvolver raciocínios consistentes,
de ler e compreender textos econômicos, de elaborar relatórios e pareceres econômicos e também
de utilizar métodos quantitativos.

A ciência econômica tem como característica ser uma ciência social aplicada. Ao mesmo
tempo que transita próximo de áreas como Sociologia, políticas públicas e ciências políticas. Na
universidade, os departamentos de Economia se localizam usualmente próximos (na estrutura
hierárquica) dos de Administração, Contabilidade e Ciências Atuariais. Essa característica “híbrida”
da Economia faz com que a atuação profissional do economista tenha um raio de ação bastante
amplo, seja do ponto de vista de competências, seja da mobilização de conhecimentos técnicos e
habilidades sociais específicas.

Para atingir um dos objetivos da disciplina, isto é, discutir o conjunto de requisitos indispensáveis
para a atuação profissional do economista e contextualizá-la, é imprescindível analisar a importância da
dimensão quantitativa. Ademais, um planejamento de carreira é essencial para atingir metas de médio
e longo prazo.

Diante desse quadro e dada a possibilidade de os economistas atuarem em diversas frentes


de trabalho, variando de acordo com a qualificação, com a inserção social, com as experiências
acumuladas e com o contexto histórico vivido, este livro-texto tratará principalmente dos requisitos
básicos de formação, da construção da carreira e da atuação por setores. É vital abordar a atuação
por nível, ou seja, quais os requisitos de qualificação e outros elementos para planejar sua atuação
como economista.

A interface que a Economia apresenta com outras disciplinas permite a capacidade de compilar,
trabalhar e concluir informações macro e microeconômicas de maneira heurística. Dessa forma, a
ciência econômica é capaz de fazer ciência e estar sempre em renovação com os acontecimentos em
transformação.

É preciso considerar que variáveis globais, sejam elas políticas, econômicas ou sociais, proporcionam
aos economistas em formação a habilidade de serenamente tomarem as melhores decisões em meio a
um contexto de transformações mundiais. Estar atento a essas mudanças e ter capacidade de adaptação
são quesitos necessários e cruciais para analisar as principais tendências da conjuntura econômica,
observando as fronteiras do conhecimento da ciência econômica.
8
Veja que, neste livro-texto, o objetivo é desenvolver com os alunos os conhecimentos necessários
para atingir as competências de atuação profissional do economista, reconhecendo a importância da
formação teórica e prática, histórica e quantitativa na área das Ciências Econômicas. E isso tudo no
contexto de globalização econômica e social.

9
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Unidade I
1 REQUISITOS INDISPENSÁVEIS NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL

1.1 Sólida formação teórica e prática, histórica e quantitativa na área das


Ciências Econômicas

A profissão economista é uma ocupação que apresenta em sua superfície um glamour atrelado aos
negócios do Estado e do mercado financeiro. Mas o economista é muito mais que isso, ele é um cientista
social que se debruça sobre assuntos que vão além da maximização da escassez e dos equilíbrios financeiros,
a atividade exercida pelo economista problematiza a necessidade de bem-estar econômico e social.

Figura 1 – Cálculos, gráficos e números

De forma geral, ser economista não é tarefa fácil, uma vez que ele deverá entender todo um sistema
de relações sociais composto de milhões de pessoas e instituições produtivas e governamentais dentro
de um território definido e fora desse mesmo território; assim, torna-se uma profissão que necessita de
outras áreas para evoluir. Por exemplo, o sistema de produção em que vivemos, o capitalismo, é complexo,
ou seja, apresenta um elevado número de variáveis, e a Matemática e seu poder de abstração ajudam
a compreender essas variáveis e suas relações. Leia o que disse um dos mais brilhantes economistas do
século XX, o britânico John Maynard Keynes, o grande economista:

Deve ser matemático, historiador, estadista, filósofo. Deve entender os símbolos


e falar em palavras. Deve contemplar o particular nos termos do geral e tocar
no abstrato e no concreto num mesmo voo de pensamento. Deve estudar
o presente à luz do passado para os propósitos futuros. Nenhuma parte da

11
Unidade I

natureza do homem ou de suas instituições deve ficar inteiramente fora de


suas cogitações. Ele deve ser determinado e desinteressado, simultaneamente;
alheio e incorruptível e, no entanto, por vezes, tão materialista quanto um
político (KEYNES apud SKIDELSKY, 1999, p. 21).

Veja que Keynes afirma que o economista utiliza elementos das ciências exatas e das ciências sociais
para entender o mundo e seus fenômenos, em que simplifica a realidade por meio da Matemática e seu
poder de abstração; entretanto, não deixa de voltar à realidade e levar em conta a sua complexidade
no tempo, em que busca conhecimentos históricos no passado e presente para tentar entender as
tendências do futuro. Outro brilhante economista do século XX, o brasileiro Celso Furtado (2017, p. 1),
coloca de forma menos abstrata o exercício desta profissão e suas grandes responsabilidades:

Convergem sobre os economistas de todos os lados os chamados mais


urgentes. O desenvolvimento econômico, qualificado como o problema do
século, é matéria de sua especialidade. As desigualdades entre níveis de vida
de grupos populacionais e as disparidades entre ritmos de crescimento de
sistemas econômicos também são matéria de competência do economista.
Os grandes desequilíbrios causadores de tensões político-sociais, sejam
aqueles decorrentes de desajustamentos entre a poupança e a inversão
entre a oferta de bens de consumo e o desejo dos consumidores de exercer
o seu poder de compra, entre a capacidade de pagar no exterior e a
propensão para importar, entre o que a coletividade solicita do governo e a
capacidade de pagamento desse governo, entre o desejo de desenvolver-se
economicamente e a ansiedade de gastar de imediato o disponível, sejam
aqueles de caráter mais social, como os causados pelo contraste entre os
desperdícios visíveis e as necessidades gritantes não satisfeitas, enfim, os
desequilíbrios que estão na raiz dos grandes problemas de nossa época são
de natureza econômica ou têm uma importante dimensão econômica.

Saiba mais

Consulte a obra a seguir:

FURTADO, C. A formação do economista em país subdesenvolvido.


Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento,
2017. Disponível em: <http://www.centrocelsofurtado.com.br/arquivos/
image/201108311213180.A_formacao_do_economista_em_pais_
subesenvolvido.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2017.

Diferente de Keynes, Furtado é mais direto ao relatar os objetos de estudo e os campo de atuação do
economista dentro das ciências econômicas, mas não deixa de revelar a necessidade de outras áreas que a
Economia deve abarcar para complementar o conhecimento, como ciências políticas, Sociologia, entre outras.

12
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Figura 2 – Congresso Nacional: política, economia e política econômica

Percebe-se que a profissão de economista carrega uma grande responsabilidade, pois ele tem de
estudar outros ramos do saber para contemplar questões complexas relacionadas ao bem-estar de um
grupo ou de milhões de pessoas.

No Brasil, a formação do economista sempre foi acompanhada pelo Estado por meio de marcos
legais que regulamentam o Ensino Superior de Ciências Econômicas. Segundo Ferreira (1966), o primeiro
deles foi o Decreto nº 20.158, de 30 de junho de 1931 (BRASIL, 1931), que obrigava a grade curricular
a ter as disciplinas Contabilidade de Transportes, Matemática Financeira, Geografia Econômica, Direito
Constitucional, Direito Civil, Economia Política, Contabilidade Pública, Finanças e Economia Bancária,
Direito Comercial e Internacional, Ciência da Administração, Legislação Consular, Psicologia Lógica e
Ética, Direito Administrativo, Política Comercial em Regime Aduaneiro Comparado, História Econômica
da América e Fontes da Riqueza Nacional, Direito Industrial e Operário, Direito Internacional, Diplomacia,
História dos Tratados, Correspondência Consular e Diplomática e Sociologia.

A profissão de economista já começa no Brasil com uma grade plural, entretanto, o número reduzido
de disciplinas de Economia impediam uma formação mais específica e técnica, em que a falta de clareza
das competências de um economista dificultava a inserção no mercado de trabalho. Diante desse fato,
em 22 de dezembro de 1945, foi implementado o Decreto-lei nº 7.988, que gerou grande avanço no
currículo universitário em Ciências Econômicas. Segundo Ferreira (1966, p. 32):

O novo currículo sofreu grande influência da conjuntura econômica


do período de entreguerras. É o que explica a ênfase dada à análise dos
ciclos econômicos. Infelizmente, a rigidez do programa não permitiu que
se ajustasse a formação universitária às exigências da realidade, de modo
a que se pudesse alcançar uma formação universitária mais adequada às
exigências do mercado incipiente da mão de obra especializada. Salvo raras
exceções, as disciplinas visavam analisar as técnicas do comportamento do
setor público. A lei, nesse período, pressupunha que o economista seria o
indivíduo dotado de uma formação técnica que o capacitasse a resolver os
problemas do desenvolvimento econômico. Mesmo assim, não se possuía,

13
Unidade I

ainda, uma perfeita visão dos atributos essenciais que deveriam nortear a
formação do economista.

Saiba mais

Veja o texto de Manoel Orlando Ferreira, que atuou no Conselho


Nacional de Economia:

FERREIRA, M. O. A formação do economista no Brasil. Revista Brasileira


de Economia, n. 4, 1966. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/
index.php/rbe/article/download/1770/2786>. Acesso em: 30 mar. 2017.

Um avanço alcançado para o Ensino Superior em Economia foram disciplinas com conteúdos
técnicos e teóricos, que permitem uma formação mais clara para o futuro profissional. O conteúdo
técnico passava por Matemática, estatística, econometria e pesquisa operacional. Já o conteúdo teórico
abordava a microeconomia (teorias do consumidor e da firma, estruturas de mercado, preços e custos,
entre outros) e a macroeconomia (contabilidade social, teoria da renda e do emprego, política monetária,
política fiscal, comércio exterior, programação econômica e desenvolvimento econômico).

Figura 3 – Redes Elétricas: Infraestrutura, Crescimento e Desenvolvimento Econômicos

O economista e ex-ministro da Fazenda Eugênio Gudin proferiu em 1956 uma aula inaugural na
Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Brasil, hoje, denominada Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), e o tema da aula foi a formação do economista. Gudin, engenheiro por formação,
afirmou que se tornou economista não por vocação, mas pelo espírito público e dever cívico com seu
país. Ele fez a seguinte referência:

14
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

O meu caso não é aliás singular. Para só citar outro exemplo, em plano
muito mais elevado, mencionarei a referência que se encontra na biografia
do grande Alfred Marshall, escrita por Lord Keynes. Marshall, refere Keynes,
foi levado aos estudos econômicos pelo “generoso impulso para colaborar
na grande tarefa de aliviar a miséria e a degradação das classes pobres da
Inglaterra (GUDIN, 1956, p. 54).

Gudin (1956) defende o Decreto-lei nº 7.988, de 22 de dezembro de 1945, que, pela sua ótica,
representa um dos maiores avanços para a formação e exercício da profissão de economista. Em seu
relato, destaca que seguiu o caminho árduo de autoditada em seus estudos e percebeu o quanto é
importante uma boa formação para exercer a profissão, fazendo, em alguns pontos, uma analogia com
o campo da Medicina, por exemplo:

A Ciência Econômica como a Ciência Médica, com a qual tem grandes


analogias, não pode ser condensada num manual de regras ou regulamentos
aplicáveis a qualquer caso. O que a Faculdade pode e deve dar ao economista
é uma caixa de ferramentas e ensinar-lhe a maneira de utilizá-las para a
análise dos fatos econômicos, à luz de uma soma de conhecimentos teóricos
essenciais.

Procedida a análise, feito o diagnóstico, vem então a terapêutica cuja


execução prática no plano macroeconômico já escapa, as mais das vezes, à
ação do economista.

A Ciência Econômica, talvez a mais positiva das ciências sociais, não escapa
entretanto ao grau de complexidade que as caracteriza. Quando um
astrônomo aprende uma vez a determinar uma latitude ou uma hora ou
quando um engenheiro aprende a calcular uma viga metálica de determinado
tipo, eles podem repetir a operação tantas vezes quiserem porque a solução
é sempre a mesma.

Mas quando um médico tenha estudado o complexo funcionamento do


organismo humano, ou quando um economista tenha se assenhoreado
dos fundamentos da análise e das teorias econômicas, a aplicação desses
conhecimentos exige, em cada caso especial, uma grande capacidade de
discernimento, de critério e de perspicácia para formar diagnóstico seguro e
indicar tratamento adequado em cada caso específico (GUDIN, 1956, p. 56).

A sólida formação teórica e prática, histórica e quantitativa na área das Ciências Econômicas é
necessária, pois o objeto de estudo do economista não é estático, e sim dinâmico, e, em cada caso, os
problemas econômicos apresentam singularidade. Nesse sentido, a formação em Ciências Econômicas
exige um amplo saber e domínio de ferramentas capazes de explicar o objeto de estudo por vários
ângulos e áreas como forma de entender sua origem e sua tendência no tempo. Em outro ponto, Gudin
(1956, p. 61) chama a atenção para a diferença entre um economista e um banqueiro:
15
Unidade I

O caso dos banqueiros é a esse respeito característico. Do fato de que


eles lidam com moeda, concedem crédito e recebem depósitos[,] conclui-
se que eles estão habilitados a dirigir a Economia do país. Mas acontece,
por desgraça, que dentro do próprio âmbito bancário, o funcionamento do
Sistema Bancário como um todo é muito diferente do funcionamento de
um banco isolado. Isto sem falar no desconhecimento (por nunca terem
estudado) da teoria da macro ou da microeconomia (economia de um país
ou economia de uma empresa).

Saiba mais

Veja o texto do ex-ministro da fazenda Eugênio Gudin em:

GUDIN, E. A formação do economista. Revista Brasileira de Economia, v.


10, n. 1, 1956. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rbe/article/view/1887/2660>. Acesso em: 30 mar. 2017.

Temos aqui uma analogia interessante, pois grande parte da sociedade pensa que a profissão de
economista é um ofício para ser exercido no sistema financeiro, mais exatamente, em um banco. Mas
um banqueiro entende de moeda e como acumular essa moeda. Sabe que, para elevar o lucro do banco,
há necessidade de elevar seu passivo bancário, dando condições de elevar o ativo do banco por meio
de empréstimos para os vários agentes da economia. Entretanto, o banqueiro entende apenas de uma
parte do que os economistas chamam de lado monetário e financeiro e não tem domínio do lado real
da economia e da sua dinâmica.

Lembrete

As Ciências Econômicas é uma ciência social que estuda como é formada


a organização econômica e as relações sociais entre os agentes (famílias,
empresas, Estado e governos, setor externo). Nessa organização, a forma de
produção funciona dentro de um fluxo circular da renda, que possui o lado
real (mercado de bens e serviços e mercado de trabalho) e o lado monetário
(moeda e os ativos financeiros). O banqueiro é especialista no lado monetário,
entretanto, o economista é douto nos dois lados do fluxo.

Fica claro que o sistema financeiro é um dos objetos de estudos do economista, que poderá ser um
banqueiro, mas a inversão dos papéis não ocorre caso o banqueiro não tenha se debruçado sobre os
livros de Economia, sendo uma condição sine qua non para o economista o domínio da teoria econômica
e a capacidade de análise da economia aplicada. Mesmo que em seu texto defenda a pluralidade, Gudin
chama a atenção da importância de os economistas dominarem o conhecimento além da Matemática
básica, como geometria analítica ou os fundamentos de cálculo diferencial e integral. Como Keynes

16
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

afirmou (apud SKIDELSKY, 1999), o grande economista deve ser um pouco matemático e entender
os símbolos e se expressar por palavras, o que, para Gudin, significa expressar-se com maior clareza e
precisão por meio da linguagem gráfica e matemática.

A discussão e a regulamentação da formação do economista no Brasil seguem acompanhadas pelo


Estado em pleno século XXI. O Ministério da Educação, por meio do Conselho Nacional de Educação e
da Câmara de Educação Superior, publicou a Resolução n° 4, de 13 de julho de 2007, que instituiu as
diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Ciências Econômicas em todo o país como
forma de padronizar o ensino e garantir a formação exigida em todas as instituições de Ensino Superior
públicas e privadas. Veja o que afirma em seus parágrafos 3º e 4º:

Art. 3º O curso de graduação em Ciências Econômicas deve ensejar, como


perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender
as questões científicas, técnicas, sociais e políticas relacionadas com
a economia, revelando assimilação e domínio de novas informações,
flexibilidade intelectual e adaptabilidade, bem como sólida consciência
social indispensável ao enfrentamento de situações e transformações
político-econômicas e sociais, contextualizadas na sociedade brasileira e no
conjunto das funções econômicas mundiais.

Parágrafo único. O Bacharel em Ciências Econômicas deve apresentar


um perfil centrado em sólida formação geral e com domínio técnico dos
estudos relacionados com a formação teórico-quantitativa e teórico-
prática, peculiares ao curso, além da visão histórica do pensamento
econômico aplicado à realidade brasileira e ao contexto mundial, exigidos
os seguintes pressupostos:

I – uma base cultural ampla, que possibilite o entendimento das questões


econômicas no seu contexto histórico-social;

II – capacidade de tomada de decisões e de resolução de problemas numa


realidade diversificada e em constante transformação;

III – capacidade analítica, visão crítica e competência para adquirir novos


conhecimentos; e

IV – domínio das habilidades relativas à efetiva comunicação e expressão


oral e escrita.

Art. 4º Os cursos de graduação em Ciências Econômicas devem possibilitar


a formação profissional que revele, pelo menos, as seguintes competências
e habilidades:

I – desenvolver raciocínios logicamente consistentes;


17
Unidade I

II – ler e compreender textos econômicos;

III – elaborar pareceres, relatórios, trabalhos e textos na área econômica;

IV – utilizar adequadamente conceitos teóricos fundamentais da ciência


econômica;

V – utilizar o instrumental econômico para analisar situações históricas concretas;

VI – utilizar formulações matemáticas e estatísticas na análise dos fenômenos


socioeconômicos; e

VII – diferenciar correntes teóricas a partir de distintas políticas econômicas


(BRASIL, 2007).

Saiba mais

Veja na íntegra o texto da Resolução n° 4, de 13 de julho de 2007:

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n° 4, de 13 de julho de 2007.


Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências
Econômicas, bacharelado, e dá outras providências. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/2007/rces004_07.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2017.

O professor de Economia Fernando Nogueira da Costa (2016, p. 14), em seu texto, descreve um
depoimento pessoal em que comenta o seguinte:

Estudo Economia desde 1971, quando se iniciou a massificação dos cursos superiores
e, em especial, a formação da subcasta dos economistas como sábios-tecnocratas.
Depois de todo esse tempo, cheguei à simplíssima conclusão que um bom curso
depende, fundamentalmente, do domínio da matéria e do didatismo do professor,
criando motivação para o aluno estudar sob sua orientação, em aprendizagem
ativa com seus pares. Esta área de conhecimento – Ciência Econômica – começou
de maneira multidisciplinar no século XVIII como Economia Política (período
clássico); depois, na virada do século XIX para XX, dividiu o trabalho de pesquisa
com Ciências Afins e se tornou Economia Pura (período neoclássico); agora, no
século XXI, está resgatando seu caráter interdisciplinar.

A partir de minha longa experiência profissional como docente e


pesquisador[,] acho que um bom economista é aquele capaz de fazer uma
abordagem pluralista[,] e não sectária. Possui conhecimentos e habilidades
para trabalhar nos três níveis de abstração: teoria pura, teoria aplicada e
capacitação de tomar decisões práticas.
18
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Costa (2016) apresenta dois quadros em que sintetiza o campo de atuação do economista e
suas competências no século XXI. Neles, demonstra que a formação do economista deve seguir uma
abordagem pluralista. Defende, no segundo quadro, que o estudante de Ciências Econômicas deve ter
contato com várias correntes de pensamento econômico (ortodoxas e heterodoxas) em sua graduação.

O primeiro quadro mostrado por Costa, além de acentuar os objetos econômicos, organiza o campo
de atuação do economista ao estruturar os conteúdos de forma didática, isto é, coloca o lado monetário
e financeiro da Economia; logo depois, o lado real e disciplinas que estudam a dinâmica das variáveis de
ambos os lados na economia doméstica e sua relação com o resto do mundo.

Percebe-se que os decretos de 1931 e 1945 contribuem para a Resolução nº 4 de 2007 e que, na
análise de Costa, a pluralidade é uma condição necessária na evolução do ensino de Economia e na
formação do economista. Isso se deve aos objetos de pesquisa em Economia, que, como comentamos,
são dinâmicos e singulares, exigindo desse profissional uma formação ampla e sólida, capaz de abstrair
a complexidade que o mundo real nos apresenta.

No segundo quadro, temos vários pensadores econômicos enquadrados numa escola de pensamento
com posição diferente em cada objeto. Costa faz um exercício de estabelecer a posição política de cada
escola, que podemos definir como ortodoxas, as posições de direita e centro-direita e de heterodoxas, as
de centro, centro-esquerda e esquerda.

Quadro 1 – Temas fundamentais de um curso de Economia


coerente com a abordagem pluralista

Decisões Resultantes
Preços e Moeda
Decisão de fixar a margem de lucro e/ou o preço Mercado de ativos e nível de preços
Decisão de carteira e financiamento Conceito de dinheiro
Estruturas de mercado Funcionamento do sistema bancário
Teorias da firma Criação (e multiplicação) da moeda
Inflação
Crise financeira
Produção e Emprego
Decisão de produzir: Nível de emprego e mercado de trabalho
Concepção clássica da divisão do trabalho e produtividade Teorias da determinação do salário
Teoria do valor-trabalho Teorias do desemprego
Fundamentos neoclássicos para a lei da oferta e da Funcionamento do mercado de trabalho não qualificado em
demanda uma economia atrasada
Reflexos das transformações tecnoloógicas e econômico-
Fundamentos teóricos das Contas Nacionais financeiras recentes no mundo do trabalho
Gastos, Ciclo, Tendência do Crescimento e Desenvolvimento Econômico
Decisão de gastar: Crescimento e Desenvolvimento Econômico
Teorias do consumidor Teorias do desenvolvimento

19
Unidade I

Determinantes do ciclo de investimentos Pensamento estruturalista sobre o desenvolvimento


Intervenção governamental e superávit do comércio exterior Nova teoria do crescimento endógeno
para recuparação econômica
Determinantes da tendência de crescimento em longo prazo Abordagem amigável do mercado
Enfoque neoschumpeteriano do desenvolvimento
Relações Internacionais
Decisões de Políticas Macroeconômicas em Economia Mercado de Câmbio e Balanço de Pagamentos:
Aberta:
Política monetária Conceitos e definições da taxa de câmbio
Política fiscal Cobertura do risco do câmbio
Combinação da política monetária, política fiscal e regimes Fatores determinantes da taxa de câmbio
cambiais em distintos graus de mobilidade de capital
Abordagem do balanço de pagamentos
Teoria do comércio internacional

Fonte: Costa (2016, p. 14)

Quadro 2 – Principais correntes do pensamento econômico contemporâneo

Economia Política Neokeynesiana Póskeynesiana Síntese Neoclássica Monetarista/Novoclássica


Posição política esquerda centro-esquerda centro centro-direita direita
Mandel, Sweezy, Dobb, Joan Robinson, Shackle, Welntraub, Hicks, Tobin, Samuelson, Friedman, Schultz, Stigler,
Representantes Aglietta, Brunhoff, Kaldor, Kalecki, Sraffa, Davidson, Minsky, Kregel, Solow, Blanchard, Becker, Lucas, Sargent, Barro,
Boyer Garegnani Moore Dornbusch Hayek
ênfase nas forças ênfase nas forças
forças reais e monetárias moeda importa para
Moeda reais, moeda como reais, moeda somente a moeda importa
inter-relacionadas quase tudo
instrumento de poder acomodacionista
base de extração do âncora do sistema de âncora do sistema de um entre os vários
Taxa de salário um entre os vários preços
excedente preços preços preços
Distribuição de questão mais objeto prioritário de resultante do sistema de não é objeto de exame
sem destaque
renda importante estudo equilíbrio geral científico
acumulação depende
acumulação depende teoria da escassez (quase teoria da produtividade funções de produção bem
Teoria do capital do exército industrial
do conflito distributivo rendas) marginal comportadas
de reserva
possível qualquer nível assumido o pleno- assumido o desemprego
possível qualquer nível possível qualquer nível
de emprego; ênfase no emprego; desemprego é natural a longo prazo; a curto
Teoria do emprego de emprego; pleno de emprego; pleno
crescimento com pleno situação de desequilíbrio prazo depende da ilusão
emprego é meta emprego geral crise
emprego temporário monetária
devido a choque a curto prazo, trade-off
devido ao conflito devido a expectativas
Inflação de custos e/ou de com desemprego; a
distributivo incertas
margens de lucro longo prazo, inercial
regulação do mercado laissez-faire exceto para
políticas de controle de políticas de gastos
Papel do governo ou socialização dos alguns macrocontroles laissez-faire ou livre-mercado
rendas públicos contraciclo
meios de produção ocasionais

Fonte: Costa (2016, p. 15).

No entanto, é importante afirmar que cada escola de pensamento econômico tentou descrever o
funcionamento da economia e responder a um problema econômico em um dado tempo e território. Os

20
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

vários modelos econômicos partem de pressupostos diferentes, alguns consideram que a economia está
no pleno emprego e outros que possuiu um equilíbrio abaixo do pleno emprego.

O campo de debate permanece na teoria e na retórica, em que a economia aplicada fica de lado. É
aqui que a pluralidade ganha um espaço necessário a partir da reflexão e quebra de paradigmas teóricos
e avanço das Ciências Econômicas. O debate com pluralidade leva ao avanço das Ciências Econômicas
porque a abordagem plural é intrínseca a esse tipo de conhecimento e à profissão de economista.

Os campos de atuação do profissional estão se abrindo devido à visão plural, por exemplo, a psicologia
econômica vem ajudar as Ciências Econômicas a lidar com o pressuposto de racionalidade plena em um
mundo em que milhões de pessoas pagam juros, ou seja, pagar juros não é racional, mas é resultado
de uma necessidade e decisão condicionada às necessidades ilimitadas versus os recursos limitados dos
agentes econômicos que carregam componentes emotivos, sendo exigida uma conversa entre a teoria
econômica e a psicologia.

Saiba mais

Veja o texto do economista e professor Fernando Nogueira da Costa:

COSTA, F. N. da. Formação do economista no Brasil contemporâneo.


Texto para Discussão, Unicamp – Instituto de Economia, Campinas n.
279. set. 2016. Disponível em: <www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.
php?id=3482&tp=a>. Acesso em: 31 mar. 2017.

2 A FORMAÇÃO DA CARREIRA

2.1 Introdução

Anteriormente, abordamos de forma breve a importância e as características da formação teórica


e prática, bem como histórica e quantitativa, no campo das Ciências Econômicas; além de discutirmos
como esses elementos se inter-relacionam com a dimensão ética da profissão e suas repercussões
sobre questões como responsabilidade social. Agora, iremos aprofundar um pouco a discussão sobre as
competências essenciais vinculadas à formação de um economista, bem como os desafios em superar o
“economês” como língua nativa da profissão.

Contudo, é pequena a disponibilidade de material voltado especificamente para a discussão


da atuação profissional do economista e do perfil dessa profissão. Sim, não é difícil encontrarmos
economistas narrando suas experiências ou trajetórias profissionais particulares, mas um apanhado
geral da atuação é outra história.

Mesmo fora do Brasil, são poucos os trabalhos voltados para essa tarefa. Um trabalho de
destaque e que buscou superar essa limitação é o dos economistas David Colander e Arjo Klamer,

21
Unidade I

que, no fim dos anos 1980, publicaram um artigo (COLANDER; KLAMER, 1987) sobre a profissão
de economista e que rapidamente se tornou um livro quase de leitura obrigatória para futuros
economistas estadunidenses.

Saiba mais

O livro The Making of an Economist (COLANDER; KLAMER, 1990)


apresenta uma discussão geral sobre a natureza da profissão de
economista. Alguns capítulos muito interessantes destacam os resultados
de uma pesquisa empírica com estudantes de graduação e, por fim, há
uma análise sobre a educação no Ensino Superior de Economia. Uma nova
edição atualizada, lançada nos anos de 2000 e que pode facilmente ser
encontrada na internet, oferece um panorama muito interessante sobre a
graduação em Economia no exterior:

COLANDER, D.; KLAMER, A. The making of an economist. Boulder Colo:


Westview Press, 1990.

Um aspecto curioso, e relevante, é que nos Estados Unidos da América (assim como em outros países,
por exemplo, Japão e Alemanha) não existe graduação em Administração (business), essa é apenas uma
opção na pós-graduação. É justamente por isso que Colander (2007) aponta (em particular para o
caso estadunidense) que aparentemente qualquer um pode ser um economista, afinal não existiriam
requerimentos formais muito precisos para se tornar um economista.

Além dessa característica, mais evidente fora do Brasil, mesmo se considerarmos nosso caso
doméstico, não existe um livro específico, uma prova ou mesmo um corpo de conhecimentos que uma
pessoa deveria necessariamente dominar para se intitular economista.

Uma problematização interessante colocada por Colander (2007) relaciona-se justamente com a
questão da prática dos economistas, que, dada à inexistência de um corpo de conhecimento estrito e
preciso a ser dominado, como ocorre em algumas outras formações como Medicina e Direito, a atuação
do profissional torna-se bastante ampla e diversificada (o que será discutido detalhadamente mais
adiante).

Um aluno pragmático poderia questionar então o seguinte: “se o objetivo da economia é entender
como os mercados funcionam, por que não ir para a bolsa de valores e aprender efetivamente como
se dá esse funcionamento”? Essa pergunta pode parecer bastante incisiva e crítica, mas ela carrega
alguns elementos que a própria ciência econômica se propôs a responder no decorrer da história de sua
existência como um corpo autônomo e particular de conhecimento humano.

Um professor de Economia mais cético poderia responder ao seu aluno pragmático e participativo
o seguinte: “mas se o objetivo é entender os mercados, por que escolher justamente os mercados

22
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

financeiros? Por que não ir vender sorvete na praia ou mesmo trabalhar em uma oficina mecânica, que
são dois ramos da chamada economia real?” Depois da brincadeira sobre vender sorvetes na praia, o
professor seria obrigado a responder de forma mais precisa e adequada: “infelizmente, não é apenas
mergulhando na prática, apesar de todo o afinco que tenhamos, que se aprende economia”.

Suspeitando um pouco da postura do professor, o aluno poderia reformular sua pergunta para outra
direção: “então, ler todos os grandes economistas do passado – Adam Smith, David Ricardo etc. – é a
forma correta de se aprender economia”?

O velho professor, mais uma vez, se veria obrigado a frustrar seu aluno. Como aponta Colander (2007),
a resposta poderia ser mais ou menos a seguinte: “bem, isso não vai atrapalhar, mas provavelmente
também não ajudará tanto assim”.

Após esse diálogo descontraído com seu aluno, o professor se veria na tarefa de expor e explicar um
pouco as características da formação e as competências essenciais de um economista, e é justamente
isso de que trataremos a seguir.

2.2 Formação e competências essenciais

Basta uma breve observação dos noticiários (destacadamente jornais – impressos, digitais ou
televisivos) para reconhecermos como economistas se fazem presentes. A taxa de inflação tende a cair
com a última medida do governo? Esse novo imposto terá impactos sobre o custo de vida médio dos
brasileiros? A tendência é de alta ou queda do preço do dólar?

Contudo, se seguirmos nossa observação por um pouco mais de tempo e, especialmente, se


expandirmos nossa amostra de economistas que se apresentam nas mídias, poderemos identificar
significativas diferenças entre as suas “opiniões”.

Para simplificar a argumentação, podemos tentar reduzir as origens dessas diferenças de opinião
entre economistas a três razões (todas elas envoltas em suas polêmicas específicas): a teoria econômica,
o pluralismo metodológico existente na ciência econômica e a possível existência de viés ideológico nas
análises produzidas.

2.2.1 A importância da teoria econômica

A primeira, e possivelmente a mais relevante, razão que explica as diferenças entre os economistas,
se refere à teoria econômica esposada por eles.

Como comenta Hal R. Varian (1993), praticamente ninguém reclama de poesia, música ou mesmo de
astronomia como sendo inúteis, mas é usual escutar reclamações sobre o esoterismo e a inutilidade da
teoria econômica. Varian destaca que o papel da teoria dentro da Economia (Economics) não é apenas
o de satisfação intelectual ou uma busca secundária de explicações meio esotéricas. A teoria é parte
essencial do ensino e da pesquisa em Economia.

23
Unidade I

Um motivo relativamente simples da importância da teoria é sua capacidade de substituir muitos


dados concretos. Não são raros os casos com que somos obrigados a trabalhar com hipóteses definidas
no âmbito teórico para analisar fenômenos altamente complexos para os quais a disponibilidade de
dados é escassa ou, quando não, inexistente.

Tomemos um exemplo oferecido por Varian (1993): suponha que queiramos determinar como o preço
de mercado de um bem vai reagir em relação a uma alteração na tributação. Nós poderíamos recorrer
às ferramentas disponíveis pelos métodos quantitativos (que veremos com mais detalhes adiante) e
estimar esse impacto através de uma análise de regressão (fique tranquilo, voltaremos a discutir isso
com calma) colocando os preços contra a taxa de imposto. A equação de regressão poderia ser usada
para examinar qual seria o impacto da variação da tributação sobre o preço de mercado do bem.

Todavia, há um problema: nós raramente dispomos de dados capazes de satisfazer nossas condições
de análise. Não que não tenhamos informações sobre preços ou sobre impostos, a questão é que as taxas
cobradas pelos impostos não mudam tanto assim no tempo e, portanto, nossa base de dados pode ser
muito limitada para dar um resultado estatisticamente confiável.

Contudo, nós sabemos, e a teoria econômica mais genérica propõe, que as pessoas se preocupam
mesmo é com o preço final (ou total) do bem (o preço do bem mais o imposto), logo, nós poderíamos
estimar, de forma muito mais simples, a elasticidade-preço e tentar prever, a partir da teoria, qual seria
a variação do preço com a alteração da taxa cobrada pelo imposto.

Como aponta Varian (1993), ao usar a elasticidade, nós também usamos uma teoria sobre o
comportamento do consumidor, segundo o qual as pessoas vão responder à alteração da taxa do mesmo
modo que elas responderiam a uma elevação do preço do bem.

Outro motivo de destaque para a teoria é que, ao contrário da empiria, ela é capaz de fornecer
previsões confiáveis sobre o comportamento futuro de fenômenos, isto é, ela permite que a análise
extrapole a simples previsão baseada nas observações já existentes (que, na verdade, são quase todas
observações provenientes do passado).

Essas breves considerações nos permitem vislumbrar por que a área de teoria econômica é, apesar
das críticas, um dos alicerces dos cursos de Economia. É ela que oferece ao estudante os principais
modos de entendimento da realidade, formas de endereçar problemas, métodos de construção de
soluções e superação de problemas enfrentados no mundo real – além de fornecer os elementos básicos
de diferenciação e debate entre as tradições de pensamento econômico.

Em linhas gerais, podemos dividir a teoria econômica em pelo menos três grandes ramos, com seus
pontos de contato, de conflito e de explicações alternativas:

Macroeconomia

A macroeconomia, com seus paradigmas de interpretação e programas de investigação científica


diferentes – como a macroeconomia de matriz neoclássica, a de matriz keynesiana original, a de
24
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

síntese neoclássica etc.; além de abordagens concorrentes dentro de um mesmo grande programa de
investigação – por exemplo, a macroeconomia nova clássica e a nova macroeconomia política.

Como aponta Varian (1993), a Economia pode sim ser vista como uma ciência política. Uma das
contribuições da teoria macroeconômica é justamente oferecer elementos de compreensão e avaliação
de políticas econômicas e mesmo de cenários macroeconômicas mais prospectivos.

Microeconomia

Usualmente ensinada a partir da tradição de pensamento neoclássico, desde seus elementos mais
básicos e tradicionais (discussão sobre utilidade e comportamento dos agentes) até suas derivações
mais modernas (escolhas sob incerteza, teoria dos jogos etc.). A microeconomia comporta também uma
visão crítica de si mesma, problematizando os limites de análise impostos pelas restrições dos próprios
modelos e a discussão da estrutura e funcionamento concreto de mercados.

Economia Política

Para além dessa divisão mais simples (macro e micro), existe um conjunto de disciplinas teóricas
responsáveis por aprofundar o conhecimento e a formação teórica do estudante de Economia e que envolve
a interação entre essas dimensões mais gerais discriminadas anteriormente. Por exemplo, há bastante
discussão no campo da Economia internacional sobre a consistência e adequação dos modelos derivados
de análises macroeconômicas, a necessidade, ou não, de fundamentação microeconômica para análises
de âmbito internacional, bem como a existência de grupos de interesse e relações de poder usualmente
ausentes do debate macroeconômico tradicional, mas que é bastante problematizado pela economia
política internacional. Ou seja, a Economia Política não está apenas na disciplina que carrega esse nome,
ela se apresenta nas discussões sobre economia e meio ambiente, nas análises sobre desenvolvimento
socioeconômico, no campo da integração da Economia com outras áreas de conhecimento etc.

Poderíamos incluir ainda a História do Pensamento Econômico, que permite ao estudante refazer,
através de uma reconstrução histórica dos debates econômicos, os desenvolvimentos e crises dos
programas de investigação teórica aprendidos no curso de Economia, bem como oferecer condições
para que o estudante compreenda os termos de debates travados nas Ciências Econômicas.

E, por fim, como parte do núcleo duro de Economia, podem-se destacar os métodos quantitativos,
particularmente a econometria, mas este é um ponto de que trataremos especificamente mais adiante.

Voltemos à importância da teoria. Os resultados alcançados com a pesquisa de Colander e Klamer


(1990) e refeita por Colander (2007) 15 anos depois (apresentada no livro The Making of an Economist)
atestaram que a maioria (68% em 1990) dos estudantes pesquisados nos Estados Unidos consideravam
um conhecimento detalhado de Economia como desimportante, bem como acreditavam mesmo que um
conhecimento mais geral da literatura econômica também era desimportante (43% em 1990). Ou seja,
essa percepção que muitos professores de Economia têm sobre o interesse dos alunos pela dimensão
teórica (e, no seu sentido mais fraco, id est, na literatura econômica) foi, pelo menos para os Estados
Unidos, relativamente confirmada pelos alunos pesquisados.
25
Unidade I

Contudo, esse não é o único dado interessante (especialmente se quisermos um panorama mais
amplo de que simplesmente satisfazer aquele professor que gostaria apenas de confirmar sua percepção
sobre aquela turma com que ele não se dá tão bem). Quando observamos as respostas para a importância
dada a “ser esperto, no sentido de ser bom em resolver problemas”, a maioria absoluta considerou ser
muito importante (65% em 1990).

Outro aspecto que torna o livro de Colander (2007) interessante é justamente o fato de ele ter
reproduzido a pesquisa um tempo depois, o que pode nos oferecer alguns insights sobre as tendências na
percepção dos próprios estudantes. Se observarmos os dados extraídos em 2005, veremos uma queda no
peso atribuído pelos alunos ao simplesmente “ser esperto, no sentido de ser bom em resolver problemas”
(o muito importante cai de 65% para 51%), e um aumento no critério “ser interessado, e bom, em
pesquisa empírica” (a resposta “muito importante” sobre de 16% para 30%, e o “desimportante” cai de
23% para 12%).

Em princípio, a pesquisa (COLANDER, 2007) apontaria no sentido de reforçar a visão de que a


formação do economista, ao menos nos Estados Unidos, acaba sendo eminentemente técnica, uma
percepção que estaria em sintonia inclusive com as expectativas e com a relevância atribuída pelos
próprios alunos; por exemplo, na pesquisa de 1990, 57% dos entrevistados consideravam a excelência
em Matemática como muito importante. Contudo, um comparativo entre as repostas em 1990 e 2005
para as questões colocadas pela pesquisa nos oferece um panorama (e uma linha de tendência, ainda
que tênue) um pouco diferente: a ampliação na compreensão da importância da capacidade de realizar
pesquisas empíricas e uma queda (dos 57%, em 1990, para 30%, em 2005) na consideração da mera
excelência matemática como algo muito importante (o que, segmentado por anos na graduação, é
ainda mais destacada no último ano, em que esse número cai para 18%).

Tudo bem, podemos fazer de conta que a pesquisa de Colander sinaliza alguma coisa também para nosso
caso aqui no Brasil (essa extrapolação não pode ser feita cientificamente, mas podemos utilizá-la como
uma referência mais informal em nossa discussão). Apesar de uma tendência de queda, ainda é grande a
quantidade de estudantes que não consideram tão importante assim o conhecimento, mais preciso ou mesmo
mais amplo, da literatura econômica (ou, mais precisamente, da teoria econômica). Não é difícil ocorrer de os
professores escutarem críticas no sentido de que o curso de Economia é muito teórico.

Essa é uma das razões pelas quais, caso façamos uma breve pesquisa na internet, não encontraremos
muito material sobre a atuação profissional do economista de uma forma sistematizada. Por outro lado,
caso façamos uma busca sobre a importância da teoria econômica, os resultados serão enormes.

Já vimos que um dos usos da teoria econômica é atuar como um substituto científico rigoroso
quando não dispomos de dados, ou quando a observação concreta da realidade for tão complexa que
não nos permitiria avançar tanto no conhecimento usando apenas ferramentas empíricas.

É possível destacar também outro elemento, que, no cotidiano de nossa formação, acabamos nem
dando tanta atenção, já que rapidamente nos habituamos com ele, mas é algo alcançado através da
teoria. Trata-se do peso e da importância dos parâmetros de análise. Para esclarecer esse ponto, sigamos
o texto de Varian (1993) um pouco mais.
26
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Tomemos a curva de Laffer. Ela apresenta de forma estilizada a relação entre receita tributária e
carga tributária; a receita tributária aumenta quando a carga tributária se expande somente até certo
ponto, a partir do qual a continuidade da elevação da carga tributária passa a reduzir a receita tributária
(o raciocínio é que um nível de impostos muito alto compromete a atividade econômica e, com isso, a
arrecadação). Para rememorar, a seguir, um desenho da curva de Laffer.

Receita tributária

0 t* 100
Carga tributária

Figura 4 – Curva de Laffer

A curva de Laffer, segundo Varian (1993), pode demonstrar tanto a boa quanto a má teoria
econômica. A sua má utilização é justamente inferir que, como o efeito de Laffer (o lado direito da
curva, em que a elevação da carga tributária reduz a receita) pode ocorrer, ele realmente ocorre, isto
é afirmar, em qualquer situação, que a elevação de impostos é prejudicial para a atividade econômica.
Uma boa utilização da teoria seria empregando a noção de elasticidade, estimar os parâmetros e, com
isso, as situações nas quais o efeito de Laffer pode efetivamente acontecer. Além disso, é indispensável
compreender como, teoricamente, é possível construir uma curva de Laffer (o que implica modelagem
prévia de situações mais amplas de equilíbrio, que aprendemos em macroeconomia – num modelo mais
simples, é necessário, com uma carga tributária na margem de 50%, que a elasticidade na oferta de
trabalho seja igual a 1).

Há ainda uma série de boas razões que denotam a importância de uma sólida formação teórica:
a teoria pode produzir boas intuições sobre fenômenos, mesmo com poucos elementos concretos
compilados para análise, pois ela oferece métodos confiáveis de resolução de problemas e obtenção de
alternativas etc. Numa situação histórica em que se tornou quase um truísmo afirmar que as mudanças
são constantes e se dão em alta velocidade, ter à sua disposição um conjunto de teorias econômicas
que possam ser utilizadas em cenários dinâmicos e com baixa disponibilidade de tempo para encontrar,
compilar e analisar um conjunto imenso de informações é algo que não pode ser considerado pouco
importante.

Na verdade, essa é uma marca de diferenciação do profissional em Economia, sua capacidade de


utilizar a abstração a seu favor com vistas a resultados razoavelmente seguros.

27
Unidade I

2.2.2 A importância do pluralismo no ensino de Economia

A questão do pluralismo metodológico no ensino de Economia é um ponto previsto inclusive na


resolução do Ministério da Educação (MEC), com o intuito de manter o ensino coerente com o caráter
plural das Ciências Econômicas (parágrafo 3, inciso 2 da resolução).

Ainda que, no Brasil, o pluralismo no ensino de Economia, isto é, a oferta de opções e conteúdos
provenientes de múltiplas tradições de pensamento econômico ocorra (pois se encontra previsto nos
normativos legais), essa afirmação não pode ser tão facilmente extrapolada, tanto no nível de pós-
graduação e mesmo de graduação em outros países.

São recorrentes as discussões, na metodologia da economia ou sobre a situação do ensino de Economia,


em defesa do pluralismo, além de manifestos e oposições organizadas, inclusive por estudantes, contra
um pensamento único, tido como exclusivamente correto e adequado para qualquer situação histórica
e espacial (a mesma teoria e suas implicações que valeriam para os Estados Unidos, valeriam para o
Brasil e mesmo para Ruanda).

Um caso que recebeu significativo destaque foi a petição on-line de um protesto de estudantes
franceses em junho de 2000 (muito antes da crise econômica de 2007-2008, em que ficou patente como
uma série de modelos teóricos falharam retumbantemente em prever e até suspeitar que poderíamos
estar à beira de uma crise de tais proporções). Essa petição não se originou de um grupo pequeno e
pouco expressivo de estudantes, mas sim das grandes escolas francesas (onde é formada parte da elite
da profissão na Europa). O protesto era contra a falta de realismo no ensino de Economia, o domínio
repressivo da teoria neoclássica e abordagens dela derivadas, o dogmatismo no estilo de ensino de
Economia (sem espaços para crítica e reflexões) e o tratamento da Matemática como um fim em si
mesmo, fazendo com que a ciência se perca em mundos imaginários, tornando-se uma “ciência autista”.
Foi justamente através dessa caracterização que o movimento assumiu o nome de Movimento Pós-
autista em Economia (FULLBROOK, 2003).

Sendo um manifesto proveniente de escolas detentoras de grande prestígio e com concorridos


e criteriosos processos seletivos, a desqualificação mais usual, que é reclamar e questionar que o
pensamento dominante se deve ao fato do pouco domínio de Matemática, não pode ser utilizada. O
problema não era não saber Matemática, mas sim o irrealismo e a formalização estéril que caracterizava
a teoria econômica dominante ensinada.

A causa desses estudantes se expandiu rapidamente, recebendo apoio de professores, economistas


proeminentes e grupos de graduandos e pós-graduandos mundo afora (FULLBROOK, 2003). De uma
petição on-line com um pequeno manifesto surgiu um movimento de resistência ao dogmatismo e a
favor do pluralismo, com variadas publicações (revistas, livros, simpósios, mesas de debate em congressos
etc.) e o engajamento de economistas de diversas partes do mundo, sendo necessário o envolvimento
inclusive de autoridades estatais (especialmente na França), responsáveis pela regulação e normatização
do ensino, com o indicativo de reformas a serem realizadas no ensino de Economia.

28
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

De uma crítica à teoria neoclássica e à formalização matemática estéril, o movimento de desdobrou


para um conjunto de reflexões propositivas, largamente orientadas pela defesa do pluralismo no ensino
de Economia.

Um livro editado por Edward Fullbrook (que se envolveu com movimento logo no seu início) aborda
os primeiros 600 dias do movimento pós-autista. Hugh Stretton (2003) apresenta sinteticamente o que
seriam os cinco passos básicos de uma teoria do pluralismo. Num tom jocoso, inspirando-se da forma
discursiva tradicional a abordagens neoclássicas, Stretton organiza seu argumento da seguinte maneira:

• Sendo a dinâmica econômica complexa, alguns elementos dela são mais fáceis de conhecer do
que outros. Ninguém é capaz de saber tudo sobre os bilhões de ações e transações diárias que
constituem tal dinâmica. Assim,

• Qualquer investigação sobre ela deve selecionar quais atividades efetivamente investigar, em
que direção e quão longe, para poder delinear as suas causas e condições necessárias. Isso
significa avaliar que linguagem, identidades, categorias e simplificações devem ser usadas. O
que se espera do conhecimento, sua utilização, também é um aspecto relevante; o que é um
modo de afirmar que valores e propósitos da investigação não são unanimidade e estão sujeitos
a controversas. Assim,

• As suas descobertas serão provavelmente tão controversas quanto aos valores e propósitos
que moldaram a pesquisa. Isso não implica que elas sejam falsas, ou mesmo que as conclusões
opostas sobre assuntos semelhantes devam necessariamente se contradizer. As contradições só
se estabelecem se uma das partes (no caso os neoclássicos) insistir que apenas a análise dela é
verdadeira ou a única política viável, estando todos os demais equivocados. Disso segue,

• Que as democracias que valorizam a liberdade de pensamento e de expressão, bem como o acesso
ao governo de interesses e opiniões conflitantes, devem encorajar uma amplitude similar para tal
acesso e para as discordâncias na sua educação econômica. E,

• Nas democracias que dão status de especialista a seus cientistas sociais, há relações críticas entre
o interesse próprio e o exercício desinteressado da especialidade, seja entre grupos conflitantes
como entre as mentes de seus membros individuais. É importante que essas relações sejam
compreendidas, reconhecidas e estudadas na educação dos economistas (STRETTON, 2003).

Esse pequeno quadro desenhado por Stretton (2003) oferece um panorama expressivo do significado
da pluralidade e dos motivos de os economistas poderem discordar em assuntos aparentemente simples.
Ele trata da complexidade de nossa área de atuação, do exercício democrático, não só fora da sala de
aula, mas também nos nossos momentos de estudos, estimula o debate entre posições diferentes e
o exercício da alteridade (um aspecto ético indispensável: reconhecer as diferenças e características
próprias dos outros) e ainda menciona como a questão do possível viés ideológico, ao invés de ser
escamoteado, como uma doença da qual não se fala e não se trata, esperando que assim ela se vá, deve
sim ser objetivo de reflexão e estudo na educação dos economistas.

29
Unidade I

2.2.3 A possibilidade de viés ideológico

Para examinarmos a próxima razão pela qual os economistas podem divergir entre si, muitas vezes,
em tópicos aparentemente simples (por exemplo: “é a taxa de inflação de 6,5% ao ano tão prejudicial
assim para a economia se comparada a uma taxa de 5%”? “Pouco mais de um ponto percentual é
motivo de preocupação e alteração da rota de política econômica”?), podemos seguir um pouco mais a
proposição de Varian (1993) de pensar a ciência econômica como uma ciência política.

Uma das razões da atratividade dos economistas e uma reivindicação e compromisso da ciência
econômica está em se propor a descrever as condições econômicas para melhoria da vida das pessoas.
São poucas as ciências que podem assumir compromissos tão nobres.

Sem embargo, por trás desses tão nobres compromissos declarados, há uma ampla discussão sobre
a influência de viés ideológico na ciência econômica. Uma colocação relativamente cética nos permite
ter um vislumbre do problema:

Ora, segundo Varian (1993) a ciência econômica pode ser vista como uma ciência política e estaria
voltada para a melhoria da vida das pessoas. Contudo, “as pessoas” é um grupo muito grande e muito
heterogêneo, que pode ser composto de subgrupos com interesses diferentes, conflitantes, concorrentes
ou mesmo antagônicos. Assim, diferente de um “dentista”, que tem um problema individual em sua
frente para o qual a resposta é impreterivelmente resolver e melhorar as condições de vida de seu
paciente particular, no caso da Economia, é sim um pouco mais complicado.

Observação

Uma boutade (tirada, brincadeira) dita por John M. Keynes era a de que
os economistas deveriam ser como dentistas. Isto é, assim como os dentistas
podem melhorar a vidas das pessoas, também poderiam e deveriam os
economistas. Essa brincadeira é resgatada no texto de Varian (1993), que
aponta como não existem tantos trabalhos de metodologia da odontologia
ou interesses de filósofos da ciência quanto há na ciência econômica.

O primeiro desafio é justamente estabelecer um conceito de ideologia. Por exemplo, se considerarmos a


ideologia como um conjunto de práticas, não necessariamente conscientes ou evidentes, mas que reproduzem
uma forma de dominação social, ou que garantem sub-repticiamente benefícios materiais para quem segue
tais práticas, seremos obrigados a reconhecer a existência de ideologia em tudo, o que significa inclusive
considerar a própria definição que estabelecemos de ideologia como uma definição ideológica.

De forma simples, como propõe Colander (2004), ao invés de tratarmos de ideologia na Economia,
podemos trabalhar com a referência a graus de viés ideológico, já que seria de pouca utilidade condenar
um campo das ciências sociais ou humanas como ideológico, na medida em que sempre haverá tensões
entre a declaração do profissional baseada em argumentos científicos e os possíveis interesses materiais
imiscuídos na sua prática.
30
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Como vimos na subseção anterior, sobre o pluralismo na Economia, uma forma de colocar a questão
de possível viés ideológico presente na teoria ou na prática de economista é expondo esse debate
através do confronto de ideias e exercício de uma formação plural.

Contudo, há um aspecto curioso, que se mantém apesar da prática ou não do pluralismo, que é
a compreensão difundida entre os economistas de que sua profissão é eminentemente técnica. Em
outras áreas próximas de conhecimento, como as Ciências Sociais, essa confiança é constantemente
problematizada e, com isso, os próprios métodos de análise e certeza no caráter científico da atividade
são também permanentemente colocados em debate.

Não é necessária muita imaginação ou esforço para percebermos que a ciência econômica e a prática
dos economistas estão constantemente envolvidas em questões políticas (seja de formulação, seja de
deliberação sobre estratégias econômicas adequadas). Como as prescrições políticas são inevitavelmente
orientadas por valores, um juízo de valor do tipo “deve ser” só pode ser derivado de outro juízo do
mesmo tipo (“deve ser”), e jamais de um juízo positivo do tipo “é”. Essa é uma discussão antiga no
campo da metodologia da ciência e com certo destaque na metodologia da economia, especialmente na
diferenciação entre economia positiva (que operaria com juízos do tipo “é”, descritivos, livres de juízos
de valor e científicos) e economia normativa (que trabalharia com juízos do tipo “deve ser”, prescritivos,
marcados por juízos normativos e muito mais próxima da arte política do que de uma ciência pura).

O desafio da atuação do economista é conseguir transitar com desenvoltura num ambiente prático
em que essas fronteiras não são tão claras como quando são apresentadas teórica e abstratamente.

Como veremos mais adiante em atuação profissional, especialmente sobre atuação no setor
público, a ideia que muitos economistas têm, quase como uma autoilusão, de que eles não se envolvem
diretamente com política (no sentido mais trivial), se vendo como analistas técnicos, têm perdido
muito força no ambiente prático. São justamente competências voltadas para questões relacionais,
de mediação e interação (política) que têm ganhado destaque – e não só no setor público. Claro, isso
não significa afirmar que o conhecimento técnico-formal perdeu sua importância, mas simplesmente
reconhecê-lo como um pré-requisito quase que obrigatório, e não como o grande diferencial. Aliás,
seguiremos com essa discussão mais adiante.

2.2.4 As competências essenciais

Dentre as competências essenciais necessárias ao estudante de Economia, podemos destacar a


capacidade de adaptação e de flexibilidade na manipulação das ferramentas intelectuais. O dogmatismo
é adversário de qualquer ciência.

Observação

Não devemos confundir a flexibilidade intelectual, que é nossa


capacidade de selecionar, manipular e aplicar um conjunto variado de
conhecimentos (que muitas vezes são apresentados separadamente), com
31
Unidade I

flexibilidade moral, que pode entrar em choque com a dimensão ética da


profissão. Uma coisa é manipular os conhecimentos com vistas a produzir
novos conhecimentos, o que é uma das características da razão, outra coisa
completamente diferente é manipular informações e/ou dados com vistas
a corroborar com uma posição questionável em uma postura antiética.

O aprendizado de paradigmas de interpretação da realidade diferentes, mesmo que de forma


secundária, permite ao estudante desenvolver outra competência importante: uma consciência social
voltada para o enfrentamento de transformações político-econômicas e seus impactos sobre as formas
de vida e interação dos nossos famigerados agentes econômicos.

2.3 Pensar a ciência econômica: uma visão geral

A questão de pensar a ciência econômica, sendo uma de suas implicações a possibilidade de pensarmos
também a prática dos economistas, não é um tópico tão novo no debate entre economistas e entre
tradições diferentes de pensamento econômico. Contudo, curiosamente, esse não é um tema tão difundido
e evidenciado, por exemplo, como as diferentes abordagens ou instrumentos de política monetária e seus
efeitos sobre variáveis econômicas que aprendemos em macroeconomia e em economia monetária.

Muito do debate sobre como pensar a teoria e a prática na ciência econômica acabou sendo
historicamente confinado a discussões sobre metodologia da economia ou simplesmente como
uma parte menor na história do pensamento econômico. Sem embargo, o exercício de (re)pensar
a ciência econômica é ainda um tema bastante atual e revisitá-lo, à luz de casos recentes, pode
contribuir significativamente para uma visão geral dos desafios e potencialidades de atuação
profissional dos economistas.

Inicialmente, voltemos um pouco na história. Afinal, essa é também uma oportunidade para revisarmos
alguns pontos importantes do que vimos até o momento na graduação em Ciências Econômicas.

John Stuart Mill (1974) é considerado como o primeiro pensador a se debruçar exaustivamente
sobre questões relacionadas ao método da economia política, além de procurar estabelecer o campo
exato da ciência econômica.

Contudo, talvez a obra de maior impacto sobre a ciência econômica tenha sido a publicação de O
Capital, por Karl Marx, ainda em 1964. A despeito de avaliações morais que possamos formar sobre
os efeitos concretos da produção teórica de Marx sobre a sociedade, não podemos simplesmente
desqualificá-lo como interlocutor, por corrermos o risco de deixarmos escapar algumas questões e
mesmo parte da capacidade de diálogo sobre a sociedade em que vivemos.

Lembremos que o subtítulo de O Capital é “crítica da economia política”. Nessa obra, o autor alemão
não apenas apresenta um novo objeto de análise, diferente daquele trabalhado tradicionalmente pela
economia política de seu tempo, como também faz duras críticas (teóricas e metodológicas) a seus
antecessores (por exemplo, David Ricardo, Jean-Baptiste Say e outros).

32
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Aliás, não é casual que, após a publicação de O Capital, a ciência econômica passaria por profundas
transformações, abandonado inclusive seu nome de batismo “Economia Política” (Political Economy)
para simplesmente “Economia” (Economics).

Como nos lembra Joseph Persky (2009), estudiosos em Sociologia, ciência política, bem como em História,
não têm grandes dificuldades em reconhecer e aceitar motivações econômicas como raízes ou fontes de
orientação de práticas individuais. Ora, como sabemos, dentre as atividades individuais, podemos encontrar
ativismo político, ganância, busca por benefícios materiais e simbólicos etc. Se motivações políticas e materiais
interferem na ação humana, como descartar a possibilidade de viés ideológico na prática de economistas?

Essa crítica foi estabelecida de maneira organizada justamente por Marx e se tornou um tópico recorrente,
ainda que nem sempre explícito, nos debates entre economistas. Pensemos, seguindo Persky, um pouco
mais na estrutura teórica de alguns modelos neoclássicos, como o modelo de concorrência perfeita entre
agentes racionais maximizadores. Essa estrutura analítica extremamente abstrata (afinal, quantos mercados
efetivamente se aproximam de uma situação de concorrência perfeita?) pode facilmente se converter em
um território tipicamente ideológico, que, por exemplo, apoia interferência estatal mínima, o livre-comércio
(independentemente das implicações geopolíticas) e ser extremamente hostis a organizações sindicais, tudo
isso sem uma razoável análise institucional e histórica capaz de oferecer elementos mais concretos.

3 A IMPORTÂNCIA DA DIMENSÃO QUANTITATIVA

3.1 Introdução

Para simplificarmos nossa discussão, vamos considerar como métodos quantitativos o conjunto de
ferramentas matemáticas e estatísticas que auxiliam os economistas a formularem hipóteses, teorizar e
analisar a realidade. Nesse sentido, quando nos referirmos à dimensão quantitativa, é preciso considerar
desde técnicas matemáticas relativamente simples (como a álgebra e a geometria que aprendemos
ainda no Ensino Médio) até modelos econométricos mais sofisticados que são desenvolvidos pelos
economistas – com análises multivariadas, testes robustos de regressão etc.

Independentemente de nossa maior ou menor afinidade com métodos quantitativos, é indispensável


reconhecermos que a linguagem matemática e a demonstração através de métodos estatísticos se
tornaram uma característica marcante da ciência econômica – seja para examinar tendências do mundo
real, seja para o desenvolvimento de modelos econômicos altamente abstratos.

É relativamente comum, para quem é completamente leigo no assunto, considerar os métodos


quantitativos como técnicas impostas por sistemas teóricos de forma quase arbitrária, o famoso “é porque
é”. Contudo, basta uma observação um pouco mais atenta para encontrarmos formulações e ideias cheias
de intuição e organização matemática. Tomemos o seguinte exemplo: “um aumento de 10% no preço da
gasolina no último mês provocou uma redução da demanda por gasolina em 2% no estado de São Paulo”.

Como podemos chegar a essa conclusão? Uma possibilidade seria realizar uma pesquisa com todos
os postos de gasolina perguntando: se e em qual medida a elevação do preço da gasolina afetou a
quantidade de demanda dela. Ora, mas qual é a viabilidade de realizar uma pesquisa desse porte, que
33
Unidade I

envolve todos os postos de gasolina do estado (em todas as cidades e estradas que cruzam São Paulo)?
Quantas pessoas seriam necessárias somente para aplicar o questionário?

Nossa intuição sugere que isso é muito pouco provável de acontecer regularmente. Mas, então, de
que maneira o jornal pode trazer a manchete de que uma elevação de 10% no preço do bem teve como
consequência 2% de redução da demanda? É aí que entram elementos que vimos ainda no começo do curso.

Existe uma expressão matemática que nos permite estabelecer a relação entre preços e quantidades de
um bem, é a função demanda. Com métodos quantitativos, podemos definir a função demanda de um bem
com uma rigorosa confiança de que ela expressa a relação “real” entre preços e quantidades encontradas
na rua. A relação empírica entre as variáveis pode ser alcançada através de técnicas estatísticas.

Ainda nesse exemplo do preço da gasolina, a reposta a que chegamos foi elaborada estabelecendo qual
é a função demanda do bem, sua consistência através de uma amostra ou de dados mais agregados (e que
muitas vezes organismos oficiais têm a tarefa de compilar e organizar) e, posteriormente, uma análise da
elasticidade preço da demanda. Isso significa que combinamos um pouco das expressões matemáticas
de microeconomia com algumas técnicas de estatística (que, para muitos autores, é também um ramo da
Matemática) e transformamos dados brutos do mundo real em ferramentas de análise.

A função mais básica dos métodos quantitativos é justamente permitir ao economista construir
redes mais complexas de relações, extrair conclusões sobre variáveis econômicas direta ou indiretamente
relacionadas etc. (SIMON; BLUME, 2004).

Além dessa função mais básica, os métodos quantitativos, particularmente a formalização matemática,
são utilizados para explorar e desenvolver novas ideias teóricas, por exemplo, através da dedução lógica
(aquele tipo de análise que constrói os argumentos a partir de premissas ou de outros argumentos para
obter uma conclusão nova). Por exemplo: mesmo sem uma expressão estatística precisa (10% de aumento
do preço provoca uma queda de 2% na quantidade demanda), sabemos que “a demanda de um bem cai
quando o seu preço sobe”. Independentemente de esse conhecimento ser, ou não, produto de uma lei (da
oferta e da demanda), ele pode ser tomado, na maioria dos casos, como um princípio (como uma premissa)
que, ainda que não possa ser testado em si (se é ou não falso), tem grande aplicabilidade à Economia.

O que foi apresentado poderia ser considerado o esboço de um modelo. E são inúmeros os modelos
de análise disponíveis na história do pensamento econômico e com grande aplicabilidade: lembre-
se, por exemplo, dos diversos modelos que aprendemos em microeconomia (modelos de escolha do
consumidor; modelos de escolha das firmas; modelos de concorrência oligopolista...), macroeconomia
(modelo IS-LM; modelo AS-AD...) etc.

3.2 Análise de dados e estimativa de cenários

“O pensamento estatístico um dia será tão necessário para a cidadania eficiente quanto a
capacidade de ler e escrever”.

H. G. Wells

34
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Eric Hobsbawn, na famosa obra A Era dos Extremos (1995), aponta como o desenvolvimento científico
e tecnológico do século XX se distanciou da experiência observada nos séculos anteriores. Enquanto
no século XVII o que governara a prática dos engenheiros fora a Física e a Matemática, em meados
do século XIX, as descobertas elétricas e químicas já se mostravam indispensáveis para a indústria, as
comunicações e para as explorações científicas mais avançadas.

Contudo, segundo o autor, mesmo no século XIX, a ciência “avançada” era uma forma de conhecimento
que não podia ser adquirida através da experiência cotidiana e tampouco praticada e compreendida
sem muitos anos de estudo, tendo ainda uma gama relativamente estreita de aplicações práticas.

Curiosamente, as tecnologias e o conhecimento formal produzido no século XX se basearam em


descobertas e teorias tão distantes do mundo dos cidadãos comuns que apenas “algumas dezenas
ou, no máximo, algumas centenas de pessoas no mundo podiam captar inicialmente que elas tinham
implicações práticas” (HOBSBAWN, 1995, p. 507). Hobsbawn narra, por exemplo, que quando se descobriu
a fissão nuclear (no início de 1939), mesmo alguns dos cientistas mais proeminentes da área, como o
físico Niels Bohr (1885-1962), duvidaram que tal descoberta teria alguma aplicação prática (para a
guerra ou durante a paz) em futuro mais ou menos previsível. No mesmo sentido, Hobsbawn (1995)
narra como o trabalho de Alan Turing (1912-1954), que viria a fornecer a base da moderna teoria do
computador, foi escrito originalmente como uma exploração especulativa para lógicos matemáticos.

Como destaca Hobsbawn (1995, p. 516): “O século XX seria o século dos teóricos dizendo aos práticos
o que deviam buscar e encontrar à luz de suas teorias; em outras palavras, o século dos matemáticos”.
Aliás, seria justamente nesse caldo cultural de conflito entre “ciência” e “anticiência”, entre aqueles que
“buscavam a verdade última pelo absurdo e os profetas de um mundo composto exclusivamente de
ficções, encontramos cada vez mais esse produto típico [...] a ficção científica” (HOBSBAWN, 1995, p.
511), gênero no qual H.G. Wells, autor da epígrafe anterior, foi um dos precursores.

Sobre essa epígrafe, ela é uma daquelas que abre outra obra bastante difundida, intitulada Como
Mentir em Estatística, publicada originalmente em 1954, nos Estados Unidos, por Darrell Huff (2016).

Huff apresenta de forma bastante acessível e descontraída, como sugere o título de seu livro, como
a previsão de H.G. Wells se realizara, mas de uma forma, poderíamos acrescentar, que acabou tornando
milhares de pessoas analfabetas funcionais, para seguirmos a analogia de Wells com a capacidade de ler
e escrever, sem que isso implique arrogância ou juízo de valor.

Entretanto, melhor do que explicar ou nos justificar acerca do que foi afirmado, podemos resgatar
um exemplo apresentado por Huff (2016) ainda na introdução de seu livro: ele afirma que algum
tempo atrás alguns cientistas (12 para sermos exatos) relataram, de forma independente, dados sobre
comprimidos anti-histamínicos, mostrando que um percentual considerável de resfriados melhorava
depois de algum tratamento. Como consequência, ocorreu um crescimento na oferta desse tipo de
medicamento. Porém, fazendo referência a um humorista de sua época, Huff resgata o chiste que esse
humorista fazia da seguinte maneira: um tratamento apropriado cura um resfriado em sete dias, mas se
deixado em paz, o resfriado vai durar uma semana.

35
Unidade I

Não é nada arriscado afirmar que o mau uso da estatística, especialmente da sua parte descritiva,
é bastante comum, mesmo após mais de meio século da publicação de Huff e de todo o avanço nas
condições de acesso a informações. Caso não acredite, observe o gráfico a seguir, elaborado com base
em dados extraídos do Ipeadata <http://ipeadata.gov.br>, em relação à evolução da carga tributária no
Brasil entre 1996 e 2007.
40%

38%

36%

34%
Percentual do PIB

32%

30%

28%

26%

24%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Período

Figura 5 – Evolução da carga tributária no Brasil 1996-2007

Qual a percepção extraída do gráfico anterior? Não é a de uma evolução impressionante da carga
tributária? Agora vejamos esses mesmos dados organizados de outra forma (as informações foram
colhidas no site do Ipeadata <http://ipeadata.gov.br>):
100%
90%
80%
Percentual do PIB

70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Período

Figura 6 – Evolução da carga tributária no Brasil 1996-2007

Tudo bem? Qual a percepção imediata que podemos ter agora? Até que a carga tributária no Brasil
não cresceu tanto nesse período de quase dez anos.

36
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Sim, são os mesmos dados, nada foi falsificado, exceto a impressão gerada ao observar
inadvertidamente os dois gráficos. Então, qual a diferença entre os gráficos? Primeiramente, o gráfico
“completo” é na verdade o segundo, no eixo vertical, que denota a carga tributária em porcentagem do
PIB, temos todo o campo de possibilidades, de 0% a 100%; no primeiro gráfico, o eixo vertical já começa
em 24% e termina em 40%. Ora, não há nenhuma regra que proíba apresentar meu gráfico iniciando a
contagem no eixo vertical fora do ponto 0 e terminando em um ponto específico. Acontece que nosso
olhar não fica procurando o que não está no gráfico, mas sim o que ele destaca.

O exemplo que podemos extrair na construção dessa figura estatística chamada de gráfico é
trabalhado em um capítulo do livro de Huff (2016) sobre como se pode “mentir” com estatística, e tudo
passa a ser uma questão de percepção e impacto visual.

Charles Wheelan (2016), por exemplo, afirma haver um paradoxo da estatística. Ela está em todo
lugar, desde pesquisas sobre estimativa de desempenho de candidatos em eleições até o futebol do
fim de semana, em que muitos narradores e comentaristas adoram mencionar o histórico passado de
confrontos entre os times, o índice de passes corretos do time da temporada etc. Contudo, ao mesmo
tempo que estamos envolvidos em estatísticas, quando vamos estudá-la ou trabalhar com ela, muitas
vezes, tendemos a achá-la de difícil compreensão ou surgem dúvidas sobre que métodos estatísticos
utilizar, dado o amplo leque de ferramentas disponível. Wheelan (2016) destaca como chega a ser curioso
como as pessoas se sentem completamente à vontade quando discutem estatísticas em esportes, sobre
o clima, ou mesmo sobre o desempenho escolar, mas quando um pesquisador apresenta o índice de Gini
– em, digamos, um gráfico –, o semblante de algumas pessoas até muda.

Esse “paradoxo da estatística”, segundo Wheelan (20016), permite afirmar duas coisas aparentemente
contraditórias: a estatística pode ser bastante acessível (e, na verdade, é, basta perguntar a um fã
de futebol sobre seu time de preferência que ele vai lhe oferecer uma variedade de dados estatísticos);
mas, chegar a resultados confiáveis não é algo tão óbvio assim; afinal, são muitos os problemas
que podem comprometer o uso de uma técnica estatística (desde dados pobres, inconsistentes, até erros
banais na seleção das informações relevantes).

Uma forma de nós, economistas, contornarmos esse aparente paradoxo é nos baseando em nossa
formação universitária, não só na destacada teoria econômica, que nos oferece as orientações mais
abstratas e formais para a escolha das variáveis adequadas, como também na história do pensamento
econômico, com seus casos e debates sobre a causalidade de fenômenos e limites de abordagens.

Outro problema recorrente com a análise de dados, mesmo com estatística descritiva, é o tal do
número semiligado. Como ironiza Huff (2016), se você não conseguir provar o que deseja, demonstre
outra coisa e finja que elas simplesmente são equivalentes, claro, fazendo uso de um pouco de estatística.

Você já deve ter visto alguma propaganda de material de limpeza doméstica afirmando que
determinado produto mata 99,9% dos germes e bactérias. Graças às maravilhas do marketing, podemos
acentuar esse dado utilizando um algum ator ou atriz portando um jaleco branco de cientista e, óbvio,
a propaganda começa com a famigerada frase “estudos comprovam que...”.

37
Unidade I

Como você fez Economia e saiu dominando um pouco de estatística através de seus estudos de
métodos quantitativos, não vai ficar muito impressionado com a propaganda. Agora imagine um surto
de dengue, no qual o produto vendido é um repelente de mosquitos em spray e a propaganda destaca
que ele mata “até o mosquito da dengue”. A depender do caso, sua posição pode balançar a favor da
empresa vendedora do produto.

Contudo, em ambos os casos (material de limpeza ou repelente), pode haver uma série de “truques”
na história. Primeiramente, em geral, os estudos de eficácia e efetividade de um produto são realizados
em laboratório – até mesmo para garantir condições idênticas para reprodução dos testes com amostras
significativas. Logo, o estudo apresenta os resultados obtidos em ambiente controlado e, além disso, ele
pode ter sido feito aplicando diretamente o princípio ativo sobre o agente causador do problema, isto é,
sem diluir o produto de forma a não ser altamente tóxico ao contato humano. E, por fim, o que é mais
comum do que muitas vezes nos damos conta, todos os produtos similares vendidos pelos concorrentes
podem ter a mesma eficácia, ou seja, todos os repelentes podem ser capazes de matar o mosquito da
dengue e todos os produtos de limpeza com composição química similar serem capazes de matar 99,9%
dos germes e bactérias... se administrados em um ambiente controlado.

Esses são apenas alguns exemplos de mau uso da estatística, que, inclusive por questões de ética
profissional, devemos sempre nos atentar.

Sigamos com outro caso. Existem dois relógios que marcam a hora perfeitamente; toda a vez que o
relógio “A” indica a hora cheia, o relógio “B” bate. Será que “A” faz “B” bater? Esse é um caso para o qual
a resposta é obviamente não. O fato de dois relógios precisos marcarem exatamente a mesma hora e
um deles bater não tem qualquer relação de causalidade, isso não passa do funcionamento correto de
ambos os aparelhos. Esse exemplo é para ilustrar que a correlação, como vimos durante o curso, pode
ser de vários tipos, inclusive produzida pelo acaso.

Saiba mais

Os casos de correlações espúrias são os mais diversos e ao mesmo


tempo curiosos, ao ponto de o autor do site Spurious Correlations ter
publicado recentemente um livro só sobre casos concretos desse tipo de
relação (VIGEN, 2015).

SPURIOUS correlations. Tylervigen.com, [s.d.]. Disponível em: <http://


www.tylervigen.com/spurious-correlations>. Acesso em: 5 abr. 2017.

Observe o caso a seguir (SPURIOUS..., [s.d.]), que tem correlação de 99,79%.

38
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Gastos dos EUA com ciência


30 bilhões 10.000 suicídios

Suicídios por enforcamento


25 bilhões 8.000 suicídios

20 bilhões 6.000 suicídios

15 bilhões 4.000 suicídios

03
99

00
01
02

04
05

06
07
08

09
20
20
20
19

20

20
20
20

20

20

20
Suicídios por enforcamento Gastos dos EUA com ciência

Figura 7 – Gráfico dos EUA com ciência, espaço e tecnologia versus suicídios por enforcamento, estrangulamento e sufocamento

Não precisamos de tempo algum para podermos afirmar seguramente que não há nenhuma relação
entre o número de suicídios relacionados a enforcamento e os gastos dos Estados Unidos com ciência,
pesquisa espacial e tecnologia, exceto a correlação espúria apontada anteriormente, mas que não
significa efetivamente nada.

Sem embargo, além desses casos que chegam a ser anedóticos, há ainda a correlação entre dois tipos de
eventos ou variáveis, que é sim uma “relação real”, mas não é possível saber qual variável é a causa e qual
é o efeito, por exemplo, na relação entre nível de renda e aplicações financeiras. Ora, quanto maior o nível
de renda, é de se esperar que sua carteira de aplicações se diversifique e, com isso, ocorra um aumento nas
aplicações financeiras; do mesmo modo, quanto maior o volume de recursos direcionados para aplicações
financeiras, maior a renda obtida; contudo, não é correto afirmar arbitrariamente que um provocou o outro. A
solução para esse problema não pode ser oferecida pela análise estatística. No limite, são métodos de análise
mais amplos os responsáveis por informar o sentido da causalidade – mais uma vez a teoria demonstra outro
potencial, ela é usualmente a responsável última por estabelecer e validar o sentido da causalidade.

Além dos cuidados com a elaboração e apresentação de gráficos, mesmo com a análise de possível
causalidade entre elementos correlacionados, há outro objeto da estatística descritiva, e que ainda por
cima está entre os mais utilizados no nosso dia a dia por economistas, que é a bendita média.

A palavra “média”, tomada isoladamente como um argumento estatístico, tem um sentido bastante
flexível e que pode produzir distorções (deliberadas ou não) e mal-entendidos. É muito comum assumir
que quando alguém se refere à “média” esteja se referindo especificamente à medida aritmética. Todavia,
há três tipos básicos de “médias” (a aritmética, a mediana e a modal) em estatística e que, assim como
o caso do gráfico, não há nada que exija que se especifique de qual média se está tratando de verdade.

Suponha que você seja o investidor e tem interesse em iniciar um empreendimento em uma cidade. Um
grupo local, interessado em participar dessa iniciativa, lhe apresenta um relatório sobre as características e
potencialidades da região e afirma que a renda média da cidade é algo em torno de 15 mil reais.

Felizmente, o relatório acentuava de forma correta a fonte do dado que sustenta essa afirmação.
Você, formado em Economia, depois de estudar estatística e ainda revisitar o assunto na disciplina
Tópicos de Atuação Profissional, resolve verificar a consistência dessa informação.

39
Unidade I

Após realizar o cálculo da média aritmética, você verifica que realmente a tal renda média é
aproximadamente 15 mil reais. Que bom, o relatório não mentiu a informação. Mas qual é a relevância
desse dado? Durante seu processo de seleção de oportunidades de investimento, você já tinha se
deparado com o fato de que essa cidade, sendo de médio porte, era a residência fiscal de algumas
famílias muito ricas, mas que praticamente nem usavam a cidade e seus recursos, tendo seu consumo
satisfeito em outros lugares.

Como você sabe que a média aritmética não é a única medida de tendência central, então, resolve
calcular a mediana (que captura a posição central da distribuição), obtendo o resultado aproximado de 5
mil reais. Isto é, ainda que a média aritmética seja três vezes maior, 50% da população da cidade recebe
menos de 5 mil reais.

Por fim, como já estava com a mão na massa, por que não calcular a moda (que é o número
encontrado com mais frequência na série)? O resultado foi algo em torno de 4.500 reais.

Observe o seguinte: quando o relatório afirmou ser a renda média da cidade aproximadamente 15 mil reais,
ele não mentiu nem cometeu nenhum desvio ético. Acontece que apenas uma medida de tendência central
costuma dizer muito pouco sobre a realidade, especialmente quando a realidade analisada é muito complexa.

E a questão da análise de dados e estimativas de cenários? Bem, a estatística e os métodos quantitativos


em geral são ferramentas poderosas que auxiliam o economista em suas variadas atividades.

Para termos uma dimensão bastante prática e próxima de experiências do cotidiano, podemos
tomar emprestado o exemplo oferecido por Charles Wheelan (2016) sobre um programa de televisão
estadunidense que teve similares no Brasil. O programa girava em torno de um apresentador que
indicava ao convidado, um cidadão comum, três portas (porta 1; porta 2 e porta 3) e explicava que havia
um prêmio atraente atrás de apenas uma delas. A ideia, como pode-se imaginar, era bastante simples e
direta: escolhendo a porta certa, o prêmio atrás dela seria dele.

Para trazer um pouco mais dinamismo ao programa, após o convidado escolher uma das portas,
o apresentador abria uma das portas não escolhidas, que tinha alguma coisa inútil. A coisa ficava
interessante, porque, supondo que o convidado escolheu a porta 3, o apresentador abria a porta 1 e
oferecia a opção ao convidado de trocar de porta (no caso trocar a porta 3 pela porta 2, ainda fechada).
Nesse caso, a única informação disponível ao convidado era que o prêmio não estava na porta 1.

A questão é: o convidado deveria trocar de porta? A resposta, como assevera Wheelan (2016),
é que sim! E a justificativa para isso é oferecida pela estatística, mais especificamente pela análise
de probabilidades.

Para ter mais valor, um relatório baseado em amostragem deve utilizar um grupo representativo, ou
seja, aquele do qual todas as fontes de tendenciosidade foram removidas.

Um psiquiatra relatou certa vez que praticamente todo mundo é neurótico. Afora o fato de que tal uso
esvazia qualquer sentido da palavra “neurótico”, dê uma olhada em sua amostra. Quem o psiquiatra vem
40
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

observando? Ele chegou a essa edificante conclusão estudando seus pacientes, que estão muito longe de
serem uma amostra da população. Se fosse um homem sadio, nosso psiquiatra jamais o conheceria.

A amostra puramente aleatória é o único tipo que pode ser examinado com total confiança
por meio da teoria estatística, mas há algo inconveniente a seu respeito. É tão difícil e caro obtê-
la para finalidades variadas que o alto custo a elimina. Uma substituta mais econômica, quase
universalmente usada em campos como pesquisas de opinião e de mercado, é a amostragem
aleatória estratificada.

Para obtê-la, deve-se dividir seu universo em vários grupos que sigam a proporção de sua prevalência
conhecida. É aí que os problemas começam: a informação colhida sobre a proporção pode não estar
correta. Você instrui seus entrevistadores a falar com o mesmo número de negros e brancos, com esses
e aqueles percentuais de pessoas em cada uma das várias faixas de renda, com um número específico
de agricultores, e por aí em diante. Enquanto isso, o grupo precisa ser dividido igualmente entre pessoas
acima e abaixo de 40 anos de idade.

Isso parece bom, mas o que acontece? Na questão de brancos e negros, o entrevistador agirá
corretamente na maioria das vezes. Com relação à renda, poderá cometer mais erros. Quanto aos
agricultores, como se classifica um homem que cultiva terras em parte do tempo, mas também trabalha
na cidade? Até mesmo a questão da idade tem chance de apresentar alguns problemas, que podem ser
mais facilmente resolvidos escolhendo-se apenas respondentes que, com certeza, têm bem menos ou
bem mais de 40 anos. Nesse caso, a amostra será tendenciosa devido à ausência dos grupos de idade de
quase 40 anos e de quarenta e poucos anos. Não tem jeito.

Além de tudo isso, como você consegue uma amostra aleatória dentro da estratificação? O óbvio é
começar com uma lista de todas as pessoas e escolher nomes de maneira randômica; mas isso é caro
demais. Então você vai para as ruas – e exclui de sua amostra as pessoas que ficam em casa. Você vai
de porta em porta durante o dia – e descarta a maioria das pessoas empregadas. Você passa a fazer
entrevistas à noite – e negligencia aquelas que vão ao cinema e a boates.

3.3 Modelos econométricos e outros instrumentos de análise de relações


econômicas

Numa interpretação literal, Gujarati e Porter (2009) apontam que econometria poderia ser lida como
algum tipo de “mensuração econômica”, contudo, os próprios autores ressaltam que a econometria tem
um escopo muito amplo.

A econometria é uma combinação particular de teoria econômica, economia matemática, estatística


econômica e estatística matemática. Inicialmente isso pode gerar calafrios em algumas pessoas, dado o
uso recorrente e intercalado de teoria, matemática e estatística. Todavia, a coisa é muito mais simples
do que muitas vezes supomos.

Primeiramente, a economia matemática nada mais é do que a tradução para linguagem matemática
(equações, etc.) de formulações estabelecidas pela teoria econômica, sem necessariamente ser obrigada
41
Unidade I

a verificar empiricamente a validade da proposição ou mesmo medi-la. A econometria entra exatamente


transformando as equações matemáticas provenientes da teoria em uma forma passível de ser testada.

A estatística econômica tem como preocupação central a coleta, processamento e apresentação de


dados econômicos sob a forma de gráficos e tabelas (ou, mais amplamente, como uma base de dados).
Esses dados brutos coletados e copilados pela estatística econômica são a matéria-prima de trabalho da
econometria, ou seja, a estatística econômica não se propõe a testar teorias econômicas ou hipóteses
de análise (fazer isso faria do profissional um econometrista).

Já a estatística matemática oferece os instrumentos e as ferramentas necessárias para que os


econometristas possam trabalhar, já que muitas vezes são exigidos métodos especiais de análise, dadas
as características únicas que os dados podem apresentar.

Como a econometria opera, como procede sua análise? Gujarati e Porter (2009) sumarizam o
procedimento metodológico da econometria (clássica ou tradicional) da seguinte forma:

• proposição da teoria ou hipótese;

• especificação do modelo matemático da teoria;

• especificação do modelo estatístico ou econométrico a ser usado;

• obtenção dos dados;

• estimativa dos parâmetros do modelo econométrico;

• teste de hipóteses;

• previsão ou predição;

• uso do modelo para fins de controle ou política (econômica, pública, etc.).

Uma ilustração desse procedimento, oferecida por Gujarati e Porter (2009), é a teoria do consumo
de Keynes.

Proposição da teoria ou hipótese

Lembrando um pouco das aulas de macroeconomia, Keynes afirma haver uma lei psicológica
fundamental, segundo a qual um aumento da renda aumenta o consumo, mas não na mesma proporção
– a chamada propensão marginal a consumir.

42
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Especificação do modelo matemático da teoria

Ainda que Keynes tenha postulado uma relação positiva entre renda e consumo, ele não especifica
em seu texto a forma precisa dessa relação. Para fins de simplificação, um economista matemático pode
sugerir a seguinte notação para a função consumo de Keynes:

C = C0 + Cy, sendo 0 < c < 1 (1)

Em que:

C = gasto com consumo;

Y = renda;

C0 e c = parâmetros do modelo, respectivamente o ponto de intercessão e a inclinação da reta.

Essa equação, como aprendemos em macroeconomia, é uma função linear que relaciona consumo
e renda (por isso é chamada de função consumo em economia). Como o modelo tem apenas uma
equação, ele é denominado modelo de equação única (bem intuitivo, não é? Se fosse um modelo com
mais de uma equação, ele seria designado como modelo de equações múltiplas).

Recordemos: a variável que aparece do lado esquerdo da equação é chamada de variável


dependente, enquanto a variável ou variáveis presentes no lado direto são as variáveis independentes
(ou explicativas). Como, segundo Keynes, o consumo depende da renda, o consumo deve estar do lado
esquerdo e a renda no lado direito.

Especificação do modelo estatístico ou econométrico

Ora, o modelo puramente matemático da função de consumo dada pela equação 1 é de interesse
limitado para a econometria. Enquanto expressão matemática, ela pressupõe que exista uma relação
exata e precisa entre renda e consumo, contudo, as variáveis econômicas observadas, quando extraídas
da realidade concreta, são geralmente inexatas (GUJARATI; PORTER, 2009).

Suponha que obtivemos dados sobre as despesas de consumo e a renda disponível de uma amostra de
mil famílias brasileiras. Se resolvermos construir um gráfico relacionando todas essas observações, vamos
perceber que uma parte expressiva delas não estaria exatamente em cima da reta da equação 1 (a equação
matemática da função consumo). Afinal, sem dúvidas, há outros elementos, que foram abstraídos pela
teoria, mas que produzem efeitos (pequenos) sobre o consumo – duas famílias com a mesma renda, mas
com tamanhos diferentes, provavelmente têm níveis de consumo um pouco diferentes.

De modo a garantir que essas relações inexatas entre as variáveis econômicas possam se
expressar, a econometria entra justamente traduzindo o modelo matemático, que pode ser expresso
da seguinte maneira:

43
Unidade I

C = β1 + β2Y + µ (2)

Em que:

µ = distúrbio ou erro, uma variável com propriedades probabilísticas definidas (ele captura aqueles
fatores considerados pelo modelo, por exemplo, efeitos que a religião pode ter sobre o consumo, etc.)

β1 e β2 = são os mesmos parâmetros e, e eles apenas foram renomeados por questão de estilo, para
ficar mais próximo da notação usual de econometria básica.

Temos agora o nosso modelo econométrico, ou, para sermos ainda mais precisos, dada a forma
como ele foi construído, temos um modelo de regressão linear. Esse modelo econométrico da função
consumo keynesiana opera a hipótese de que o consumo (C) é uma variável dependente que se relaciona
linearmente com a variável renda (Y); sendo que essa não é uma relação exata, mas sujeita a variações
em cada observação.

Segundo Gujarati e Porter (2009), uma ilustração gráfica da afirmação anterior é a seguinte:
C
Gastos com consumo

u {

Y
Renda

Figura 8 – Modelo econométrico da função keynesiana. Obtenção de dados e estimativa dos parâmetros do modelo

Estimar o modelo econométrico dado pela equação 2, isto é, obter os valores numéricos dos
parâmetros não é uma tarefa tão difícil, nós precisamos basicamente dos dados daquelas mil observações
que mencionamos anteriormente e de um software estatístico (neste caso, com poucas observações e
para uma regressão simples, o pacote do Excel dá conta).

44
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Teste de hipóteses, previsão e/ou predição

Assume-se que o modelo, com os parâmetros, é uma boa aproximação para o comportamento de
nossa amostra de mil observações. Digamos que o valor do parâmetro (a propensão marginal a consumir
do modelo matemático, que nós simplesmente mudamos de nome para fins de estilo), após o software
estatístico fazer o trabalho duro por nós, seja 0,72.

De início, 0,72 atende à proposição de Keynes, para quem a propensão marginal a consumir deveria
estar no intervalo entre 0 e 1. Contudo, aí entra a arte da estatística: 0,72 é estatisticamente menos do
que 1, ou existe a chance de que alguma ocorrência ou peculiaridade dos dados usados ter produzido
um resultado estatisticamente questionável?

A confirmação ou refutação da hipótese, a partir das evidências selecionadas, pode ser feita através
do instrumental da inferência estatística.

Esse caso apresentado da transformação de uma proposição teórica como a lei psicológica
fundamental de Keynes em um modelo econométrico é uma boa ilustração das potencialidades que a
econometria tem e de como ela pode ajudar o economista em sua atuação profissional.

A bem da verdade, o procedimento mais geral do trabalho econométrico é bastante simples. O maior
desafio no cotidiano é conseguir dados de qualidade para a finalidade que almejamos (em muitos casos,
somos obrigados a trabalhar com variáveis aproximativas daquilo que realmente desejamos), além da
constante atenção às contribuições que a estatística econômica tem a nos oferecer. Hoje em dia é
enorme a variedade de métodos que podemos empregar, a depender do tipo de variável que temos à
disposição. Mais uma vez, acompanhar as discussões no campo da teoria econômica aplicada, em que
acadêmicos trabalham e propõem métodos e formas de contornar problemas que podemos reproduzir e
nos apropriar para uso próprio, é um importante auxílio para a utilização da econometria.

Assim, não é necessário que sejamos todos bons econometristas para sermos bons economistas.
Mas, bons economistas sabem e, quando precisam, usam a econometria a seu favor para a resolução de
problemas, o monitoramento de fenômenos e para a avaliação de desempenhos.

Recapitulando, podemos estabelecer uma espécie de “anatomia da modelagem econométrica”


(GUJARATI; PORTER, 2009).

45
Unidade I

Teoria econômica

Modelo matemático da teoria

Modelo econométrico da teoria

Dados

Estimação do modelo econométrico

Teste de hipóteses

Previsão e predição

Uso do modelo para controle e análises

Figura 9 – Anatomia da modelagem econométrica

3.4 A importância dos métodos quantitativos

Como veremos adiante, uma forma de examinar a atuação do economista é compreendendo as


diferenças e proximidades existentes entre os setores dessa atuação. O profissional de Economia dispõe
de uma versatilidade que o permite atuar no setor público, no setor privado, bem como no chamado
terceiro setor.

Não raramente, o economista, independentemente do setor, pode assumir responsabilidade e


competências relacionadas à gestão (de projetos, de processos ou mesmo de serviços voltados para fora
da sua unidade de atuação – empresa, organização social ou setor da burocracia estatal).

Os métodos quantitativos desempenham um papel de destaque (e de forma crescente) como


poderosas ferramentas no auxílio da tomada de decisão ou processo de escolha.

Diferente da área contábil, que embasa suas análises em informações financeiras ou de fluxos
contábeis relacionados à organização específica em que atuam, os economistas têm como tarefa oferecer
subsídios para a tomada de decisão com base em informações mais amplas, como o quadro econômico
geral da economia nacional, a dinâmica da concorrência no setor de atuação, a estratégia adotada
por outros players (ou atores) relevantes, bem como a expectativa dos stakeholders (“acionistas”) da
atividade – sendo que esses “acionistas” podem ser os usuais acionistas de uma companhia de capital
aberto até a população interessada na ação da autoridade pública, que estabelecem expectativas e
critérios próprios de avaliação da competência da gestão e seu desempenho.

Não custa lembrar que os métodos quantitativos são compostos de dois elementos, não
necessariamente idênticos, a parte da quantificação e a parte do método (ou da metodologia adequada
a cada situação de interesse).

46
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

4 ATUAÇÃO POR SETORES

4.1 Atuação no setor público

De início, dentro do setor público, a primeira atividade que pode ser destacada, especialmente
quando ainda estamos na graduação e vivemos o ambiente universitário, é justamente a atuação
docente. Afinal, a maioria dos cursos de graduação e pós-graduação em Economia no Brasil é oferecida
por universidades públicas, em que o economista se “licencia” como um professor universitário.

Colander (2007), ao narrar o caso particular dos Estados Unidos (mas que sem grandes dificuldades
poderia ser extrapolado para o Brasil e outros países), afirma que “economistas de elite são mais propensos
a permanecer dentro de instituições acadêmicas e usar suas habilidades para avançar o conhecimento de
seus pares”. Sim, “alguns são contratados como consultores, escritores de livros didáticos, ou testemunhas
de tribunal, mas dedicar muito tempo a tais atividades é mal visto pela profissão” (COLANDER, 2007, p.
8). Uma das razões para essa postura dos economistas, ainda segundo Colander (2007), é que a maior
parte do trabalho dos economistas não é voltada para o elogio e a aprovação do público, mas para o
elogio e aprovação dos seus pares (outros economistas).

Contudo, não é apenas como professor que o economista pode atuar no setor público. Na verdade,
nas últimas décadas, a área de atuação do economista dentro do aparelho de estado se ampliou
sensivelmente, indo muito além de apenas aconselhar ou prestar consultoria para casos particulares
demandados pela autoridade pública ou atuar apenas nas áreas eminentemente estabelecidas para
serem preenchidas por profissionais com formação em Economia (por exemplo, cargos no Ministério da
Fazenda ou no Banco Central).

Podemos destacar como raízes históricas dessa expansão de oportunidades para os economistas a
própria crise do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) nos países centrais, bem como a crise das
estratégias desenvolvimentistas nos países subdesenvolvidos ou periféricos. No bojo dessas crises, que
apresentaram como ponto comum o problema dos constrangimentos fiscais e o questionamento da
intervenção estatal na dinâmica econômica, surgiram também novas áreas relacionadas à gestão pública.

Para entendermos melhor essa dinâmica, é interessante resgatarmos um pouco das transformações
nas abordagens de gestão pública.

Uma que merece destaque é a chamada new public management (nova gestão pública), primeiramente
com um viés econômico muito forte, com a defesa do equilíbrio fiscal, do ajuste estrutural da matriz
econômica e com a agenda de privatizações para garantir a redução do tamanho do Estado.

Observação

A chamada nova gestão pública se desenvolve nos anos 1980 e 1990,


tendo se iniciado com um ideal claramente neoliberal de enxugamento,
controle e eficiência do Estado, preconizando a aplicação de tecnologias
47
Unidade I

gerenciais do setor privado no setor público, mas com o tempo se expandiu


em diversas direções, como a busca por tornar o Estado mais democrático
e cidadão, com o foco na qualidade dos serviços e das políticas públicas
(MARTINS; MARINI, 2010).

Obviamente a nova gestão pública não se manteve inalterada no tempo. Com as experiências de
implementação de outros arranjos políticos após a crise mundial dos anos 1970, a questão da qualidade dos
serviços públicos passou a ter mais destaque do que simplesmente a privatização (afinal, a figura jurídica ser
privada ou pública não é garantia alguma de qualidade de serviço), a gestão estratégica passou a ser considerada
mais relevante do que um acompanhamento contábil de perfil gerencial e de auditoria, bem como o equilíbrio
fiscal perdeu sua centralidade e prioridade a favor da transparência administrativa, formas eletrônicas de
governo e tecnologia e desenvolvimento (já que a sociedade, devidamente informada, pode muito bem fazer a
escolha política de conviver com problemas fiscais, desde que haja transparência e responsividade por parte da
autoridade na condução dos seus afazeres e maior controle e participação democrática dos cidadãos).

As transformações na gestão pública tiveram impactos significativos sobre a área e o perfil de


atuação dos economistas. Dos contribuintes, para quem o serviço deve ser eficiente – “fazer mais com
menos” –; desenvolveu-se a perspectiva voltada para cidadãos, para os quais o foco deve ser a equidade
e efetividade do serviço prestado – “fazer a diferença para os beneficiários das políticas”.

Claro que a dinâmica da gestão pública não é homogênea e processos políticos mais críticos podem alterar
e produzir efeitos profundos sobre a compreensão e a prática da gestão. Mas conceitos como efetividade
(relação entre objetivos e metas e entre os impactos e seus efeitos) e eficácia (análise do “como”, comparação
dos resultados alcançados e dos objetivos mais amplos pretendidos) passaram a ter o mesmo destaque que
outrora tivera apenas a ideia de eficiência (cumprimento de metas e redução de custos).

Aquela discussão que se restringia apenas à redução de custos, ajustes fiscais e eficiência sob
restrições, pelo menos na teoria sobre políticas públicas e sua gestão passou a ter como fundamentos
o foco no cidadão, a modernização e transparência da gestão e o controle social (dos cidadãos sobre a
autoridade estatal).

Sem embargo, há uma série de desafios colocados na gestão no setor público que, tanto no debate
público, como também na atuação concreta nesse setor, se destacam. O primeiro deles é o chamado
“mimetismo” da gestão empresarial, que é procurar aplicar sem mediações as técnicas e cases de sucesso
do setor privado no setor público. Além disso, um desafio para a atuação profissional do economista
no setor público é não se deixar levar pela solução unicamente tecnocrática. O setor público envolve
interações sociais muito mais amplas e complexas que a iniciativa privada, de modo que a gestão
apenas reativa (aos problemas elencados pela sociedade) ou a politização (incontornável em situação
de conflito de interesses entre atores sociais) podem se colocar como limites concretos à atuação, para
a qual o economista deve ter clareza de suas competências e atribuições.

Observe que, ao tratarmos da atuação no setor público, tivemos um deslocamento de nosso foco
para a gestão, o que significou introduzirmos alguns elementos de outras áreas do conhecimento que
não só a Economia.
48
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Essa é uma das características da atuação do economista (e não só no setor público, como também no
setor privado e, destacadamente, no terceiro setor). Tem-se tornado cada vez mais raro um economista
trabalhar apenas com outros economistas dentro de um departamento, repartição ou programa.

No setor público, o conhecimento do economista e sua capacidade de se relacionar com outras áreas,
através de uma formação mais ampla e plural, se tornou um ativo importante à nossa disposição. Do
mesmo modo que durante o curso de graduação somos obrigados a nos familiarizarmos com ambientes
complexos de análise e desenvolvemos competências relacionadas justamente à escolha do melhor
arsenal analítico capaz de endereçar um problema, quando nos deparamos com políticas públicas e sua
gestão e coordenação, fica muito mais simples entender, por exemplo, como os arranjos institucionais
afetam a capacidade do Estado em produzir políticas públicas.

A princípio, para alcançar os resultados desejados, a atuação na iniciativa estatal compartilha muitas
das características também necessárias na iniciativa privada. Como aponta Martins e Marini (2010),
podemos destacar:

• Consciência estratégica: envolve não apenas a comunicação da estratégia como uma formulação
compartilhada (capaz de engajar os participantes).

• Liderança: não no sentido mais formal de autoridade e hierarquia, mas sim como capacidade de
influenciar e mobilizar as pessoas com vistas ao compartilhamento da mesma consciência estratégica.

• Estrutura: não mais como espaço e requisitos formais para a execução da tarefa, mas
primordialmente com a definição clara de competências, área e níveis de responsabilidade.

• Processos: com uma definição detalhada dos procedimentos e etapas a serem desenvolvidas.

• Projetos: desdobramento dos resultados em ações que perpassam as estruturas e os processos e


submetidos a regimes de monitoramento.

• Contratualização: pactuação de resultados entre atores mediante mecanismos de monitoramento


e avaliação e de incentivos.

• Pessoas: o dimensionamento de equipes, capacitação, comprometimento e alinhamento de


valores são elementos indispensáveis para a gestão de resultados.

Além das tecnologias de informação e comunicações e dos recursos financeiros.

Ainda que, como apontam Martins e Marini (2010), a principal questão para a gestão não seja
a preocupação das lideranças, organizações e governos com o alcance dos resultados, mas sim em
como executar algo, sabemos que a produção de políticas públicas, bem como as atividades de
gestão, não se dá num espaço vazio e desprovido de direcionamento, mas sim dentro de arranjos
e ambientes institucionais.

49
Unidade I

Observação

É importante distinguir arranjos institucionais de ambientes


institucionais. Ambiente institucional se refere às regras gerais que
fundam o funcionamento dos sistemas político, econômico e social. Já os
arranjos institucionais compreendem as regras específicas que os agentes
estabelecem entre si e para si nas suas relações políticas e sociais particulares
bem como nas suas transações.

Desse modo, o ambiente institucional fornece o conjunto de parâmetros


sobre os quais operam os arranjos de políticas públicas (IPEA, 2014).

Como os nomes sugerem, arranjos e ambientes institucionais, bem como a noção de capacidades
estatais, são bastante amplos. Mas, a despeito de sua amplitude, podemos apreender as capacidades
estatais como o conjunto de competências estatais garantidas legalmente ou através do processo
político – e que vão desde a garantia da ordem e dos contratos, passando pela competência em arrecadar
impostos, até definição de objetivos e execução de políticas.

Dentro de um quadro democrático, a capacidade estatal pode ser compreendida a partir de dois
componentes principais: a dimensão técnico-administrativa e o aspecto político. A atuação profissional
do economista se dá basicamente no interior do componente técnico-administrativo, contudo, a
questão é um pouco mais complexa, na medida em que esses dois elementos não são tão facilmente
delineáveis na prática.

Para entendermos isso, podemos recorrer a uma das armas disponíveis pelo arsenal adquirido na
formação do economista: a análise teórico-histórica.

O primeiro componente da capacidade estatal, o técnico-administrativo, deriva a conceituação


weberiana (proposta originalmente por Max Weber) de burocracia. Essa compreensão originalmente
caracterizava os burocratas como engrenagens de um mecanismo hierárquico, cujo comportamento
seria orientado pela obediência a regras, normas e estruturas formais, sendo a ação predefinida pela
posição ocupada na hierarquia organizacional do Estado. Assim, esse componente diria respeito às
“competências dos agentes do Estado para levar a efeito suas políticas, produzindo ações coordenadas
e orientadas para a produção de resultados” (IPEA, 2014, p. 20).

Em oposição, poderíamos imaginar que o componente político seria de uso exclusivo daqueles
escolhidos entre os cidadãos para fazer representar seus interesses, de acordo com o sistema político,
isto é, seria exclusividade do chamado corpo político-eletivo do Estado. Porém, como apontamos, essa
divisão não se dá de forma tão simples. Na verdade, o segundo componente, associado à dimensão
política, “refere-se às habilidades da burocracia do Executivo em expandir os canais de interlocução,
negociação com os diversos atores sociais, processando conflitos e prevenindo a captura por interesses
específicos” (IPEA, 2014, p. 20).

50
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Trata-se, portanto, de uma perspectiva que se desenvolveu historicamente para a qual as capacidades
estatais são marcadas por elementos relacionais, muito mais do que simplesmente a caricatura de
burocracia (com um papel passivo) comumente atribuída pelos detratores da ação estatal.

A burocracia de Estado que, em linguagem tradicional, pode se referir a qualquer cargo fundado
na “autonomeação” (lembremos que é a burocracia de estado que estabelece os critérios de seleção –
como concurso e conteúdo previsto – para o preenchimento de suas vagas, bem como propõe ao corpo
eletivo os critérios de promoção e delimitação de tarefas), na qual estão inclusive os cargos de gestão
e análise de políticas públicas, os quais precisam, na contemporaneidade, atuar como mediadores entre
formuladores de políticas, quadros e atores implementadores (que podem ser do terceiro setor ou da
iniciativa privada) e usuários ou cidadãos. Isso exige ênfase muito maior nas suas relações, enquanto
atua com outros atores e seu entorno – tanto dentro quanto fora do Estado.

Segundo o Ipea (2014), podemos ilustrar o modelo para analisar políticas públicas da seguinte maneira:
Representação

Participação Controles
Capacidade
técnica

Objetivos Arranjo institucional Resultados

Capacidade
política

Burocracia

Figura 10 – Arranjo institucional e políticas públicas

Para fins de comparação, podemos resgatar como tradicionalmente era (e ainda costuma ser) tratado
o papel do economista no ciclo de políticas públicas, segundo Snowdon e Vane (2005):

Conselhos Formulação da Escolha de Execução de Resultado da


Economista Previsões política política política política
Prescrições

Forças centradas Forças centradas no


socialmente Estado
Classes Tecnocratas
Grupos de interesse Burocratas
Partidos políticos Interesses estatais
Eleitores

Figura 11 – A visão tradicional do papel do economista no ciclo de políticas públicas

51
Unidade I

Esse modelo linear de elaboração de políticas públicas, no qual o papel do economista é oferecer
conselhos, previsões e prescrições, com base numa análise econômica correta, não é justamente a
perspectiva que acabamos desenvolvendo intuitivamente em algumas disciplinas da graduação?

Em muitas análises, especialmente de macroeconomia, nós acabamos tratando o Estado e governo,


bem como o ambiente e os arranjos institucionais como variáveis exógenas, ou simplesmente como
dados que podem ser desconsiderados da análise.

Daí, mais uma vez, a importância do conhecimento de teorias econômicas plurais, bem como
do conhecimento de história e outras disciplinas, como Sociologia. Ora, quando nós consideramos o
governo como algo externo à análise, assumimos com isso uma série de “pressupostos”, muitas vezes,
não explícitos:

• Os políticos estariam preocupados com a resolução efetiva dos problemas econômicos com vistas
à maximização do bem-estar social geral. Contudo, não são apenas os políticos que participam
da formulação de políticas públicas, há uma série de atores que também intervêm, e isso faz parte
da democracia, no desenho e nos objetivos a serem alcançados pela política.

• O único interesse é na orientação da economia para o melhor resultado possível, isto é, de forma
mais eficiente. Contudo, sabemos que a eficiência é apenas um dos elementos à disposição para
se analisar políticas públicas; existem ainda a efetividade e mesmo a equidade da política, além de
compromissos sociais que podem ser estabelecidos, nos quais a eficiência econômica desempenha
um papel às vezes secundário.

• A análise e escolha da política adequada são reduzidas a um exercício técnico de maximização


sujeita à restrição. Contudo, existem arranjos institucionais dentro de ambientes que tornam
esse pretenso exercício técnico muito mais complexo, envolvendo competências relacionais e
capacidade de mediação de conflitos.

É, portanto, indispensável ao economista reconhecer esses elementos para capacitá-lo a atuar no


setor público, principalmente compreender a heterogeneidade do Estado e de suas capacidades, além
do caráter plural e diversificado da sociedade.

A partir do reconhecimento e exame desses elementos, podemos até mesmo formular uma ilustração
mais ampla e complexa do papel do economista no ciclo de políticas públicas.

52
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Estado

Escolha de políticas
públicas Aspectos ideológicos
uso de instrumentos de e socioculturais dos políticos
política econômica e dos grupos de interesse

Partidos e grupos
Economia políticos organizados

Avaliação política dos


Situação econômica eleitores
(nível de atividade, Múltiplos interesses
desemprego, inflação, Demandas sociais dos
desigualdades regionais, etc.) cidadãos

Cidadãos

Figura 12 – Um modelo político macroeconômico de políticas públicas

No que se refere especificamente à atuação com políticas públicas, o economista pode desempenhar
um papel relevante em quase todas as etapas do ciclo de políticas (da assessoria na elaboração até a
avaliação da política).

Definição de agenda

Avaliação Elaboração

Monitoramento Formulação

Execução Implementação

Figura 13 – O ciclo estendido de políticas públicas

53
Unidade I

Assim, a complexidade, tão destacada quando nos referimos à atuação estatal, ao mesmo tempo que
impõe certas limitações à atuação do economista, o habilita a desenvolver uma série de atividades que
não são possíveis em outras áreas de atuação. Como em todas as áreas de atuação, há seus aspectos
limitadores, mas há também uma dimensão particular de realização profissional.

Por fim, para encerrarmos essa seção, considerar o quadro ilustrativo das diferenças entre as
características da atuação no setor estatal e no setor privado.

Quadro 3 – Características dos gestores nas iniciativas pública e privada

Gestores no setor público Gestores no setor privado


Gestores devem coordenar atividades que transpõem Gestores se mantêm dentro de suas fronteiras de
suas fronteiras de autoridade autoridade
Desafios da accountability
Controle apenas pelos superiores e acionistas da
Controle por pares, por grupos de interesse e organização
organismos de controle
Diversas fontes de autoridade e legitimidade Fontes claras de autoridade e legitimidade
Avaliação de serviços é mais complexa e os fins não são Avaliação dos serviços é mais simples, na medida em
facilmente mensuráveis que a finalidade central é a rentabilidade empresa
Foco em compromisso com interesse público e Foco em salário e benefícios
sentimento de responsabilidade

Adaptado de: Lotta; Pires; Oliveira (2014, p. 476).

4.2 Atuação por nível: requisitos de qualificação, atividades exercidas e


experiências

Os economistas atuam em diversas frentes de trabalho, variando de acordo com a qualificação, com
a inserção social, com as experiências acumuladas, com o contexto histórico vivido. Os tópicos anteriores
trataram dos requisitos básicos de formação, da formação da carreira e da atuação por setores. Neste
tópico, será abordada a atuação por nível, ou seja, quais os requisitos de qualificação e outros elementos
para planejar seu exercício como economista.

O curso de Ciências Econômicas apresenta diversas vantagens em termos de formação profissional


e pessoal, podendo-se destacar, por exemplo, que se trata de uma formação que concilia a área de
ciências humanas e exatas. Isso ocorre porque, para um profissional que atua com responsabilidade, é
preciso não apenas saber lidar com os números e com os modelos, mas também interpretá-los, ou seja,
verificar se os modelos condizem com a realidade social em que se vive. Além disso, é preciso ter uma
boa percepção sobre o comportamento humano.

Além da formação básica durante a graduação, é cada vez mais exigido do mercado, seja privado,
seja público, que o economista tenha uma especialização. Aliás, a especialização não é requerida apenas
nesta área, mas é muito comum em todas as áreas profissionais. Para tanto, é exigido que o indivíduo
busque mais qualificação dependendo do interesse de atuação. Isso pode ser propiciado por um curso
de pós-graduação do tipo lato sensu ou strictu senso.

54
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

De acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2007):

As pós-graduações lato sensu compreendem programas de especialização e


incluem os cursos designados como MBA (Master in Business Administration).
Com duração mínima de 360 horas, ao final do curso, o aluno obterá
certificado[,] e não diploma. Ademais são abertos a candidatos diplomados
em cursos superiores e que atendam às exigências das instituições de ensino
– Art. 44, III, Lei nº 9.394/1996.

As pós-graduações stricto sensu compreendem programas de mestrado


e doutorado abertos a candidatos diplomados em cursos superiores de
graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino e ao
edital de seleção dos alunos (Art. 44, III, Lei nº 9.394/1996). Ao final do curso
o aluno obterá diploma.

Quanto mais qualificado, mais opções o economista tem para atuar em diversos níveis no mercado
de trabalho. A seguir, será feita uma especificação por níveis regional, nacional e internacional.

Com a maior concorrência, é cada vez mais imprescindível realizar uma pós-graduação.
É importante lembrar que os profissionais que buscam uma pós em Economia não são
necessariamente graduados em Economia, pelo contrário, há muitos profissionais de diversas
áreas que buscam um curso de pós em Economia para entenderem esses conhecimentos em
suas atividades profissionais. Há diversas opções de pós-graduações no Brasil e no mundo.
No caso brasileiro, há diversas possibilidades, que podem ser classificadas como lato sensu
e stricto sensu:

O lato sensu, comumente conhecido como especialização ou MBA, é voltado para


aqueles que buscam melhor inserção no mercado profissional. A exigência mínima para
ingresso é ter formação universitária com diploma de Ensino Superior e, a depender da
instituição, também podem selecionar os candidatos por entrevista ou análise do currículo
ou mesmo prova.

O stricto sensu se apresenta como mestrado e doutorado e tem um caráter mais


acadêmico, isto é, está voltado principalmente para aqueles que querem seguir uma
carreira docente. Porém, é bastante comum atrair alunos interessados em seguir carreira
em consultorias e bancos, pois, ao menos, o mestrado é visto atrativamente para a carreira
do profissional.

55
Unidade I

Saiba mais

A maior parte dos mestrados e doutorados stricto sensu em Ciências


Econômicas é vinculada à Associação Nacional dos Centros de Pós-
Graduação em Economia (Anpec). Portanto, caso o interessado queira
ingressar em um dos cursos, é preciso fazer a seleção, que é centralizada
pela associação. São dois dias de prova presencial cujo conteúdo envolve:
macroeconomia, microeconomia, matemática, estatística, economia
brasileira e inglês. São vários centros que utilizam a prova da Anpec para
selecionar os candidatos. Para mais detalhes, consultar:

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM


ECONOMIA (ANPEC). Exame. Niterói, 2015. Disponível em: <http://www.
anpec.org.br/novosite/br/exame>. Acesso em: 6 abr. 2017.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM


ECONOMIA (ANPEC). Centros associados. Niterói, 2015. Disponível em:
<http://www.anpec.org.br/novosite/br/centros-associados>. Acesso em: 6
abr. 2017.

4.2.1 Regional

No nível regional, o profissional consegue atuar em empresas privadas, públicas, instituições públicas,
consultorias, órgão de classe como os conselhos regionais, organizações não governamentais ou mesmo
na academia como profissional da área da educação e da pesquisa.

Entre as áreas da Economia (economia monetária e financeira, economia brasileira, econometria,


macroeconomia, microeconomia, economia do setor público, história econômica, economia internacional,
economia do trabalho, planejamento econômico, economia do meio ambiente, entre outras), pode-se
destacar no quesito regional a subárea da economia regional e urbana.

Esta área de especialização busca analisar o contexto de intensa urbanização e alterações tecnológicas
nos últimos tempos. Todas essas transformações produzem uma nova geografia de relações de poder
no mundo, em que as regiões metropolitanas e alguns grandes centros assumem crescente importância
na economia e em políticas globais. Você já se deparou com a questão pela qual os Estados Unidos da
América ou mesmo a China são hoje os grandes centros econômicos mundiais? Quando isso ocorreu? Pois
nem sempre esses países se portaram dessa maneira imperialista frente aos países em desenvolvimento,
como você bem deve lembrar-se das aulas de história econômica, não? Questões como essas podem ser
investigadas e respondidas com o conhecimento gerado pelos especialistas em economia regional e urbana.

Nessa perspectiva, problemas e soluções para as questões urbanas são pensadas a partir de propostas
de gestão eficiente e sustentável. Nas universidades, há sempre especialistas nessa área. Algumas
56
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

universidades contam com um centro especializado no estudo das questões regionais e urbanas. O
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresenta uma diretoria própria para desenvolver
pesquisas nessa área, isto é, a Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur).

Saiba mais

De acordo com o próprio instituto, a partir de 2009, houve esforços


em sistematizar contribuições a respeito de economia regional e urbana
que resultou em um livro com colaboração de especialistas brasileiros e
estrangeiros. Ele conta com debates acerca dos fundamentos teóricos dessa
subárea (teorias de desenvolvimento regional, crescimento econômico e
social, geografia econômica, questão habitacional), do pensamento regional
no Brasil (evolução do pensamento regional no Brasil) e dos métodos
quantitativos aplicados à análise espacial (indicadores e modelagem
econométrica). A obra está disponível no link a seguir:

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Economia


regional e urbana: teorias e métodos com ênfase no Brasil. Brasília: Ipea, 2011.
Disponível em: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3008/1/
Livro_Economia%20regional%20e%20urbana_teorias%20e%20
m%C3%A9todos%20com%20%C3%AAnfase%20no%20Brasil.pdf>.
Acesso em: 6 abr. 2017.

São vários os temas debatidos na subárea da economia – economia regional e urbana –, ressalta-se:
desenvolvimento regional, fluxo migratório (inclui aqui a questão dos refugiados, que é um problema
social e também econômico), impacto econômico e social dos grandes eventos (como a Copa do Mundo no
Brasil em 2014 e os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016), concentração populacional, entre outros.

Um dos problemas emergentes nos últimos anos tem sido o fluxo migratório.

Figura 14

Quando se trata de empregabilidade no mercado privado, algumas competências são requeridas.


Como dito anteriormente, dada a maior concorrência de mercado, cada vez mais é exigido que o
profissional tenha uma especialização na área.
57
Unidade I

Habilidades e Peculiaridades do Economista

O perfil do economista, sua inserção no mercado de trabalho e seu papel na sociedade


são os temas centrais do artigo do economista Gilmar Mendes Lourenço. Segundo ele, “no
Brasil, o economista ostenta, de forma otimizada, algumas peculiaridades natas, dentre
as quais destacam-se o abrangente alicerce cultural, o poder analítico e a visão crítica.
Para Gilmar, “a contribuição social do economista repousa na preparação do terreno para
a diminuição dos riscos e o aumento das chances, apontando para as pessoas, empresas e
instituições os melhores caminhos para o alcance do sucesso em seus empreendimentos”.

Nestes dias de comemoração dos 55 anos de regulamentação da profissão do economista


(Lei 1.411 de 13 de agosto de 1951), valeria a pena estabelecer um breve perfil e delinear
alguns cenários de inserção no mercado de trabalho desta categoria social, que é dotada
de inúmeras habilidades para o exercício de tomada de complexas decisões voltadas ao
equacionamento de problemas em realidades em contínua mutação.

Antes de mais nada, convém recordar que os contornos científicos da economia foram
conferidos no século XVIII, com a obra A riqueza das Nações, de Adam Smith, e a construção
da escola clássica, por Smith e David Ricardo, base da doutrina liberal. A partir do século XIX,
apareceram as escolas histórica, marxista, marginalista e keynesiana, esta última ganhando
destaque entre a Grande Depressão dos anos 1930 e o fim da Segunda Guerra Mundial. A
corrente neoliberal, surgida depois da década de 1960, tentou combinar os preceitos liberais
com o capitalismo contemporâneo.

Os maiores expoentes econômicos brasileiros foram Eugênio Gudin (1886-1986),


Ignácio Rangel (1908-1994) e Celso Furtado (1920-2004). Gudin foi considerado o
criador dos Cursos de Ciências Econômicas no país, Furtado o formulador da Teoria do
Subdesenvolvimento, e Rangel o edificador, nos anos 1960, da base estatística e conceitual
para um melhor entendimento do fenômeno conhecido como estagflação (recessão com
inflação), verificado no mundo capitalista na segunda metade da década de 1970, depois do
I choque do petróleo, ocorrido em 1973.

No Brasil, o economista ostenta, de forma otimizada, algumas peculiaridades natas,


dentre as quais destacam-se o abrangente alicerce cultural, o poder analítico e a visão
crítica. Não por acidente, este profissional costuma liderar a ocupação de espaços na mídia
e a aprovação em concursos públicos. Adicionalmente, percebe-se tratar-se de um agente
social formado principalmente em instituições privadas, que trabalha durante a realização
do curso e escolhe a profissão sem a influência decisiva dos pais que, por sinal, em sua maior
proporção, não possuem curso superior completo.

A função básica do economista é elaborar estudos de viabilidade ou, mais precisamente,


calcular, antecipadamente, as possibilidades de êxito de um projeto específico ou de toda a
política econômica de um país, pois a dimensão do fato econômico a ser estudado é o que
menos importa. Seu trabalho consiste em estudar e planejar minuciosamente para que os
58
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

negócios deem certo e/ou alcancem os melhores resultados, mesmo quando os recursos são
escassos, aliás, principalmente nesses casos, dado que a economia é considerada também a
“ciência da escassez”.

Por conseguinte, a contribuição social do economista repousa na preparação do terreno


para a diminuição dos riscos e o aumento das chances, apontando para as pessoas, empresas
e instituições os melhores caminhos para o alcance do sucesso em seus empreendimentos.

Segundo pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Economia – 2ª Região (Corecon-


SP) entre outubro de 2005 e fevereiro de 2006, 85% dos profissionais formados em economia
estão, 40,6% na área de formação, caracterizada por um mercado bastante diversificado,
com a presença de segmentos de planejamento e gestão, elaboração de projetos, ensino
e treinamento e pesquisas de mercado. Frise-se que 68,7% já teriam trabalhado na área
e 45,7% fazem pós-graduação. Por um ângulo setorial, as atividades que mais absorvem
os economistas são consultoria e auditoria, instituições financeiras, administração pública,
indústria, comércio, avaliação e perícia.

A classe dos economistas assumiu papel fundamental na formulação e execução de


programas de desenvolvimento no transcorrer da etapa de constituição da industrialização
pesada brasileira, que começou no segundo governo Vargas, nos anos 1950, e encerrou na
administração Geisel, no segundo quinquênio da década de 1970, com a implantação dos
projetos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).

Nos tempos recentes, é perceptível a ampliação da preocupação das entidades dedicadas


ao ensino superior de Ciências Econômicas, e dos respectivos organismos de representação
de classe, com o declínio da demanda por profissionais da área. A redução do número
de inscrições nos concursos vestibulares, e mesmo de matrículas efetivas, em paralelo ao
expressivo avanço do raio de ação dos segmentos de administração, engenharia, ciências
contábeis e estatística, representa exemplo prático desse fenômeno, decorrente de dois
fatores articulados.

O primeiro deles corresponde à supressão do privilegiado espaço das atividades


subjacentes ao planejamento e ao poder de coordenação e de indução do estado, ou mais
precisamente à montagem de estratégias públicas e privadas com prolongado horizonte
temporal de maturação, típicas do economista.

Isso se deveu a uma sucessão de descalabros cometidos pela gestão econômica


brasileira, desde o fim dos anos 1970, em clima de autoritarismo político até 1984, incluindo
a rendição às regras neoliberais da globalização produtiva e financeira, monitorada pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI), e a aplicação do regime de metas de inflação, atual
disfarce do monetarismo.

Ao mesmo tempo, por manterem o sistema produtivo em situação de quase permanente


recessão, esses percalços inviabilizaram a criação de condições objetivas à retomada
59
Unidade I

autossustentada do crescimento e comprimiram a massa de rendimentos, inclusive da


classe média, reduto da maior densidade de oferta de matéria-prima para a aprendizagem
de nível universitário.

O segundo eixo de entendimento da menor presença do economista na operação dos


mercados equivale à ausência de aderência entre os currículos dos cursos de graduação e a
realidade da demanda, em um panorama mais concorrencial, multidisciplinar e encaixado
no paradigma da Terceira Revolução Industrial e da financeirização da riqueza.

A distorção mais relevante compreende o predomínio de disciplinas voltadas à busca


de construção de um “especialista generalista”, detentor de profundos conhecimentos em
quase todas as áreas, situação mais compatível com as etapas subsequentes da formação,
especialmente a capacitação em planos de especialização, mestrado e doutorado.

Em outros termos, as escolas de graduação em Economia praticamente abdicaram da


preparação de times com capacidade competitiva em um pedaço mais rasteiro do balcão
de oportunidades (inclusive de concursos públicos), disputado por outros entes providos
de conhecimentos mais encorpados em administração, contabilidade, legislação, finanças,
matemática financeira, dentre outras áreas.

A superação desses constrangimentos à formação e à atuação dos economistas passa,


inevitavelmente, pela flexibilização das estruturas curriculares dos cursos, na direção da
produção de um profissional mais próximo das exigências e especificações determinadas pela
radical mutação verificada no mercado de ocupações, ao longo das últimas duas décadas e
meia, alargando o terreno do segmento privado e encolhendo a demanda do setor público.

Para tanto, parece crucial a multiplicação de conteúdos multidisciplinares, devido


à ampliação e diversificação dos compartimentos de trabalho comuns e em rede entre
distintas categorias profissionais – especialmente em meio ambiente, regulação e perícia
–, e a preservação organizada dos estoques e fluxos de conhecimentos propiciados pela
retaguarda histórica, metodológica, estatística e social, característica da categoria dos
cientistas sociais, da qual o economista faz parte.

É também necessária a restauração dos alicerces de um projeto de crescimento de


longo prazo para o país, menos subordinado à poupança externa, mais voltado ao mercado
doméstico e com maior grau de distribuição de renda e de inclusão social. Frise-se que
as bases desse projeto foram perdidas em algum momento do passado, no qual o Brasil
deixou de planejar, os “olhos de águia” cederam lugar às planilhas financeiras – na busca
do robustecimento dos lucros das organizações pela impulsão da renda variável propiciada
pela hiperinflação indexada e/ou pelos juros reais elevados – e os economistas viraram
peças secundárias nas tarefas de proposição e intervenção visando à conciliação entre
maximização da eficiência produtiva e homogeneização do tecido social.

Fonte: Lourenço (2006).

60
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Quando se trata de empresa privada ou pública, em geral, dependendo da atuação do profissional,


não se exigem habilidades com línguas estrangeiras. Em muitos casos, no processo seletivo das vagas
disponíveis, exige-se essa habilidade, porém, no cotidiano das atividades, não necessariamente isso é
requerido. Muitas empresas de médio e pequeno porte atuam em nível regional. A maioria são aquelas
compostas de pequena rede ou em parceria com outros empresários. De acordo com o Cardoso (2014b,
p. 5) em publicação do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae):

A cooperação está cada vez mais presente nas discussões e debates de


alternativas para acelerar o desenvolvimento econômico e social dos países
como parte de solução para diversos problemas de uma sociedade mais
complexa.

Nesse contexto, a cooperação entre as empresas tem se destacado como


um meio capaz de torná-las mais competitivas. Fortalecer o poder de
compras, compartilhar recursos, combinar competências, dividir o ônus de
realizar pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para explorar novas
oportunidades, oferecer produtos com qualidade superior e diversificada
são estratégias cooperativas que têm sido utilizadas com mais frequência,
anunciando novas possibilidades de atuação no mercado.

Várias dessas estratégias cooperativas ganham um caráter formal de


organização e caracterizam-se como “Empreendimentos Coletivos”. Existem
muitas modalidades de formalização institucional desses empreendimentos.
Destacam-se as Associações, as Cooperativas, as Centrais de Negócios, os
Consórcios de Empresas, as Sociedades de Propósito Específicas, a Sociedade
de Garantia de Crédito, entre outras.

O site do Sebrae acrescenta:

Entretanto, ao contrário dos demais empreendimentos coletivos, o Arranjo


Produtivo Local (APL) não se constitui sob a forma de pessoa jurídica
determinada por um contrato.

Mais especificamente, o Arranjo Produtivo Local é uma aglomeração


de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam
especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação,
cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como:
governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

As principais dimensões de um APL são:

• a dimensão territorial (os atores do APL estão localizados em certa


área onde ocorre interação);

61
Unidade I

• a diversidade das atividades e dos atores (empresários, sindicatos,


governo, instituições de ensino, instituições de pesquisa e
desenvolvimento, ONGs, instituições financeiras e de apoio);

• o conhecimento tácito (conhecimento adquirido e repassado por


meio da interação, conhecimento não codificado);

• as inovações e aprendizados interativos (inovações e aprendizados


que surgem com base na interação dos atores); e

• a governança (liderança do APL, geralmente exercida por empresários


ou pelo seu conjunto representativo – sindicatos, associações)
(SEBRAE, [s.d.]).

Saiba mais

O Sebrae apresenta um manual sobre como estabelecer uma estratégia


de arranjo produtivo local. Esse manual está disponível no seguinte link:

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS


(SEBRAE). Arranjo produtivo local: série empreendimentos coletivos. [s.d.].
Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/arranjo-
produtivo-local-serie-empreendimentos-coletivos,5980ce6326c0a410Vgn
VCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em: 6 abr. 2017.

No Brasil, um dos APL desenvolvidos é o da indústria aeroespacial. A maior parte das empresas deste
setor se concentra na cidade de São José dos Campos (SP).

Figura 15

Esta estratégia de cluster, ou arranjo produtivo local, tem sido bastante incentivada por instituições
multilaterais como Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, entre outras, principalmente como
estratégia de desenvolvimento para países subdesenvolvidos.

62
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Historicamente, o Vale do Silício, nos anos 1970, era tido como o principal cluster de tecnologia
no mundo. Atualmente, existem diversos clusters de sucesso no mundo em países como Israel, China e
Rússia. Executivos no mundo salientam a necessidade de se trabalhar conjuntamente em um mesmo
lugar, pois, dessa maneira, obtêm-se ganhos de escala. É importante lembrar que um cluster pode se
desenvolver com integração entre diversas empresas de mesmo segmento ou não, mas também com
incentivos e planejamento por parte do Estado.

No caso dos profissionais que atuam no setor público, há órgãos responsáveis pelo desenvolvimento
local como companhias de energia e mineração, bancos de desenvolvimento, superintendências,
sistemas de limpeza e saneamento, institutos de pesquisa etc. No caso brasileiro, podem-se destacar
as companhias de energia que promoveram desenvolvimento regional, por exemplo, a Companhia
Energética de São Paulo (Cesp), que, antes da privatização em 1997, era uma das principais empresas
no setor elétrico e na engenharia brasileira. A seguir, algumas instituições em que um profissional de
Economia pode atuar:

• Companhias de energia, mineração, saneamento, comunicação, transporte:

— Acre – Departamento Estadual de Água e Saneamento.

— Amapá – Companhia de Eletricidade do Amapá.

— Amapá – Companhia de Água e Esgoto do Amapá.

— Ceará – TV Ceará.

— Ceará – Companhia de Água e Esgoto do Ceará.

— Espírito Santo – Companhia de Transportes Urbanos da Grande Vitória.

— Goiás – Companhia Energética de Goiás Geração e Transmissão (CELGG&T).

— Minas Gerais – Companhia Energética de Minas Gerais.

— Paraíba – A união (Jornal da Paraíba).

— Paraíba – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba.

— Paraná – Companhia Paranaense de Energia.

— Rio de Janeiro – Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae).

— Rio Grande do Sul – Companhia Riograndense de Saneamento.

— Rio Grande do Norte – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte.


63
Unidade I

— Santa Catarina – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento.

— São Paulo – Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo.

— São Paulo – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

— São Paulo – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

• Institutos de pesquisa e processamento de dados:

— Acre – Empresa de Processamento de Dados do Acre.

— Alagoas – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal).

— Amapá – Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá.

— Amazonas – Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (ADS).

— Amazonas – Processamento de Dados Amazonas (Prodam).

— Bahia – Agência de Fomento do Estado da Bahia.

— Pará – Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará.

— Rio Grande do Sul – Companhia de Processamento de Dados do Estado do Rio Grande do Sul.

— São Paulo – Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo.

— São Paulo – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

• Bancos comerciais, de fomento e de desenvolvimento regional:

— Brasília – Banco de Brasília.

— Espírito Santo – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A e Banco do Estado do Espírito
Santo S/A (Banestes).

— Minas Gerais – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.

— Pará – Banco do Estado do Pará.

— Rio Grande do Sul – Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul.

— Rio Grande do Sul – Banco do Estado do Rio Grande do Sul.


64
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

— Rio Grande do Norte – Agência de Fomento do Estado do Rio Grande do Norte.

— Santa Catarina – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina.

• Universidades estaduais e municipais:

— Alagoas – Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas.

— Alagoas – Universidade Estadual de Alagoas.

— Bahia – Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

— Bahia – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.

— Bahia – Universidade Estadual de Santa Cruz.

— Bahia – Universidade Estadual de Feira de Santana.

— Ceará – Universidade Estadual do Ceará.

— Ceará – Universidade Estadual Vale do Acaraú.

— Ceará – Universidade Regional do Cariri.

— Goiás – Universidade Estadual de Goiás.

— Maranhão – Universidade Estadual do Maranhão.

— Mato Grosso do Sul – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

— Minas Gerais – Universidade do Estado de Minas Gerais.

— Minas Gerais – Universidade Estadual de Montes Claros.

— Paraíba – Universidade Estadual da Paraíba.

— Paraná – Universidade Estadual de Londrina.

— Paraná – Universidade Estadual de Maringá.

— Paraná – Universidade Estadual do Centro-Oeste.

— Paraná – Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

65
Unidade I

— Pernambuco – Universidade de Pernambuco.

— Piauí – Universidade Estadual do Piauí.

— Rio de Janeiro – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

— Rio de Janeiro – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

— Rio Grande do Norte – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

— Rio Grande do Sul – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul.

— Santa Catarina – Universidade do Estado de Santa Catarina.

— São Paulo – Universidade de São Paulo.

— São Paulo – Universidade Estadual de Campinas.

— São Paulo – Universidade Estadual Paulista.

— São Caetano do Sul – Universidade Municipal de São Caetano do Sul.

— Taubaté – Universidade de Taubaté.

Lembrando-se que muitos desses órgãos estatais atuam juntamente com o setor privado na forma
de parcerias público-privada ou mesmo por concessões. É importante lembrar que há também diversos
órgãos municipais que não foram citados neste espaço. No caso das universidades estaduais e municipais,
não necessariamente um economista atua como docente, mas também como servidor público, pois a
formação em economia permite atuar na área administrativa de qualquer órgão público.

Outra maneira de atuação profissional em nível regional é em Organizações Não Governamentais,


as chamadas ONGs, entidades privadas sem fins lucrativos que existem sob as formas jurídicas de
associação ou fundação. Muitas ONGs operam como a chamada Organização da Sociedade Civil
de Interesse Público (Oscip) quando atuam junto a um ou mais organismos públicos, à prefeitura,
ao governo do estado ou da federação. As ONGs atuam nos seguintes divisões: assistência social,
cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico, educação, saúde, segurança
alimentar e nutricional, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável, pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos
técnicos e científicos, promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos e
em atividades religiosas.

O profissional que trabalha nesta ocupação, em geral, apresenta características distintas daquele que
opera no mercado privado, pois deve ter uma preocupação não apenas financeira, mas um olhar sobre
66
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

as carências da população menos favorecidas. Hoje os profissionais são remunerados financeiramente,


apesar de ainda existirem profissionais voluntários.

Essa área também é conhecida por terceiro setor, justamente por fazer a ponte entre o setor privado
e o público. Atualmente, há muitos especialistas em projetos sociais e gestão em terceiro setor. Como
em toda área diversificada, nesse segmento é possível encontrar não apenas economistas, mas também
sociólogos, cientistas sociais, engenheiros, contadores, administradores ou bacharéis em cursos da área
da saúde. O profissional deste segmento deve ter a característica de construir um olhar interdisciplinar
sobre a sociedade.

4.2.2 Nacional

No nível nacional, assim como no regional, o profissional consegue atuar em empresas privadas ou
públicas, instituições públicas, consultorias, órgãos de classe como os conselhos regionais, organizações
não governamentais ou mesmo na academia como profissional da área da educação e da pesquisa.

Na academia, considerando a carreira de pesquisador ou docente, é possível o profissional trabalhar em


universidades ou centros de pesquisa ou em institutos federais. Lembrando que nem sempre é necessário
ter a formação completa em Economia, podendo inclusive ter formação em áreas complementares,
como Ciências Sociais, Administração de Empresas, Ciências Contábeis, Relações Internacionais, História,
Geografia ou em engenharias.

Como docente, as universidades federais aceitam apenas os economistas com titulação de doutorado,
com raras exceções. Já os institutos federais aceitam, no quadro docente, ao menos profissionais graduados
em algum nível superior. Claro que nem todas essas instituições têm cursos de Economia, porém é possível
um graduado em Economia atuar na área administrativa desses órgãos como servidor público.

As universidades e institutos federais estão listados a seguir:

• Universidade de Brasília.

• Universidade Federal da Grande Dourados.

• Universidade Federal de Goiás.

• Universidade Federal de Mato Grosso.

• Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

• Universidade Federal da Bahia.

• Universidade Federal do Sul da Bahia.

• Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.


67
Unidade I

• Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira.

• Universidade Federal da Paraíba.

• Universidade Federal do Cariri.

• Universidade Federal de Alagoas.

• Universidade Federal de Campina Grande.

• Universidade Federal de Pernambuco.

• Universidade Federal de Sergipe.

• Universidade Federal do Ceará.

• Universidade Federal do Maranhão.

• Universidade Federal do Oeste da Bahia.

• Universidade Federal do Piauí.

• Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

• Universidade Federal do Vale do São Francisco.

• Universidade Federal Rural de Pernambuco.

• Universidade Federal Rural do Semi-Árido.

• Universidade Federal de Rondônia.

• Universidade Federal de Roraima.

• Universidade Federal do Acre.

• Universidade Federal do Amapá.

• Universidade Federal do Amazonas.

• Universidade Federal do Oeste do Pará.

• Universidade Federal do Pará.

68
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

• Universidade Federal do Tocantins.

• Universidade Federal Rural da Amazônia.

• Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará.

• Universidade Federal de Alfenas.

• Universidade Federal de Itajubá.

• Universidade Federal de Juiz de Fora.

• Universidade Federal de Lavras.

• Universidade Federal de Minas Gerais.

• Universidade Federal de Ouro Preto.

• Universidade Federal de São Carlos.

• Universidade Federal de São João del-Rei.

• Universidade Federal de Uberlândia.

• Universidade Federal de Viçosa.

• Universidade Federal do ABC.

• Universidade Federal do Espírito Santo.

• Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

• Universidade Federal do Rio de Janeiro.

• Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

• Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.

• Universidade Federal Fluminense.

• Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

• Universidade Federal da Fronteira Sul.

69
Unidade I

• Universidade Federal da Integração Latino-Americana.

• Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

• Universidade Federal de Pelotas.

• Universidade Federal de Santa Catarina.

• Universidade Federal de Santa Maria.

• Universidade Federal do Pampa.

• Universidade Federal do Paraná.

• Universidade Federal do Rio Grande.

• Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

• Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

• Instituto Federal de Brasília.

• Instituto Federal de Goiás.

• Instituto Federal Goiano.

• Instituto Federal de Mato Grosso.

• Instituto Federal de Mato Grosso do Sul.

• Instituto Federal de Alagoas.

• Instituto Federal da Bahia.

• Instituto Federal Baiano.

• Instituto Federal do Ceará.

• Instituto Federal do Maranhão.

• Instituto Federal da Paraíba.

• Instituto Federal de Pernambuco.

70
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

• Instituto Federal do Sertão Pernambucano.

• Instituto Federal do Piauí.

• Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

• Instituto Federal de Sergipe.

• Instituto Federal do Acre.

• Instituto Federal do Amapá.

• Instituto Federal do Amazonas.

• Instituto Federal do Pará.

• Instituto Federal de Rondônia.

• Instituto Federal de Roraima.

• Instituto Federal do Tocantins.

• Instituto Federal do Espírito Santo.

• Instituto Federal de Minas Gerais.

• Instituto Federal do Norte de Minas Gerais.

• Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais.

• Instituto Federal do Sul de Minas.

• Instituto Federal do Triângulo Mineiro.

• Instituto Federal do Rio de Janeiro.

• Instituto Federal Fluminense.

• Colégio Pedro II.

• Instituto Federal de São Paulo.

• Instituto Federal do Paraná.

71
Unidade I

• Instituto Federal do Rio Grande do Sul.

• Instituto Federal Farroupilha.

• Instituto Federal Sul-rio-grandense.

• Instituto Federal de Santa Catarina.

• Instituto Federal Catarinense.

Saiba mais

Além dessas instituições de ensino, há também centros de pesquisa como


o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em que o profissional de
Economia atua como pesquisador para outros órgãos do poder público:

<http://www.ipea.gov.br/portal/>.

Ainda no setor público, é possível atuar no Banco Central do Brasil:

<http://www.bcb.gov.br/pt-br/#!/home>.

E também no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social


(BNDES):

<http://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home>.

Lembrando que para essas instituições o canal de entrada é via concurso


público, que costuma ser bastante concorrido. Por outro lado, o salário
mensal é bastante alto frente a algumas ocupações no mercado privado.

72
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Figura 16 – Banco Central do Brasil

Figura 17 – BNDES

Há também outras empresas estatais como Furnas, uma das maiores hidrelétricas do mundo. De
acordo com Furnas [s.d.], a empresa está:

Presente em 15 estados e no Distrito Federal, opera e mantém um sistema


por onde passa cerca de 40% da energia que move o Brasil, atuando no
abastecimento a regiões onde estão situados 63% dos domicílios e 81% do
Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

Furnas possui empreendimentos (próprios ou em parceria com outras


empresas) responsáveis por quase 10% da energia produzida no país. São
20 usinas hidrelétricas, sendo seis próprias, seis sob administração especial
(Lei nº 12.783/2013), duas em parceria com a iniciativa privada e nove em
Sociedades de Propósito Específico (SPEs), duas termelétricas e três parques
eólicos. Esse complexo supre o mercado brasileiro com 17,3 mil MW de
potência instalada, dos quais Furnas detém 11,6 mil MW.

73
Unidade I

Apesar de ter o caráter de binacionalidade, outra empresa gigante pública é a Itaipu Binacional.
Atualmente, é a maior usina hidrelétrica do mundo em produção de energia.

Figura 18 – Itaipu binacional

Conforme já levantado, há diversas empresas estatais em nível de atuação nacional, como a Petrobras,
o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Em todas, há vagas para economistas atuarem. Lembrando
que os concursos públicos são extremamente concorridos e é preciso preparo para conseguir uma vaga.

Além das empresas estatais, há empresas, consultorias e corretoras privadas. Dada a formação bem
ampla, o economista pode atuar conjuntamente em diversos setores ou departamentos de uma empresa,
tais como marketing, produção, recursos humanos, administração e compras, finanças e controle ou no
departamento comercial. É evidente que o mais comum é que um recém-economista queira trabalhar
com finanças, mas isso tem se tornado cada vez menos recorrente. Além disso, é importante lembrar que,
numa instituição, os economistas acabam atuando com diversos profissionais, e não necessariamente
com outros economistas. Diga-se de passagem, muitas companhias contam com um departamento
econômico, porém, no geral, são áreas extremamente enxutas.

Como forma de valorizar a carreira, muitos especialistas em recursos humanos indicam uma
especialização na área de atuação. É bastante comum economistas buscarem cursos de gestão em
organizações para aprimorarem a prática cotidiana numa empresa, uma vez que um curso de graduação
não prioriza esse tipo de aprendizado.

Na página eletrônica do Programa de Apoio aos Egressos de Economia (Paece) da Universidade


Estadual de Santa Catarina, o depoimento de um ex-aluno chama a atenção pela estratégia adotada
desde a graduação, quando despertou o interesse pelo mundo dos negócios. Para adquirir conhecimento
prático, atuou na empresa júnior do curso de Economia e Administração da universidade que cursava.
O ex-aluno destaca que:

Ao finalizar a Universidade me voltei à procura de oportunidades de trabalho


e observei o quão versátil é o Economista e a importância da minha busca por
conhecimento durante a faculdade. Percebi que poderia atuar em diversos
setores, mas, logicamente, já havia criado afinidade por um: Logística. Logo
verifiquei a oportunidade em uma média empresa de varejo de autopeças e

74
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

me dediquei. A fim de me capacitar constantemente enviei meu Currículo,


juntamente com a ficha de inscrição, para o MBA em Logística e Supply
Chain Management na FGV – Fundação Getúlio Vargas. Eram somente trinta
vagas e a seleção seria por triagem curricular. Fui aprovado e hoje tenho
absoluta certeza de não somente ter conquistado o grau de Bacharel em
Economia, mas somado a ele todas as experiências e desafios que abracei,
ainda como graduando, foram diferenciais notados para meu sucesso
enquanto profissional (BALDO, 2015).

Especialistas em carreira recomendam que cada um estabeleça um planejamento. Se a dúvida é


em qual carreira se especializar, Mariana Bomfim, em reportagem para o site UOL, aponta que pós-
graduações stricto sensu (mestrado e doutorado) são mais valorizadas que as de lato sensu.

MBA ou mestrado?

Planejamento de carreira é fundamental

Defina sua meta profissional antes de fazer cursos. Só então decida qual pós-graduação
– MBA, especialização, mestrado ou doutorado – vai ajudá-lo a chegar lá.

Curso deve ser renomado

Fazer diversos cursos de MBA em escolas sem prestígio não vai alavancar sua carreira.
Se você decidiu que a pós-graduação “lato sensu” atende melhor às suas expectativas
profissionais, não jogue dinheiro fora. Escolha instituições de ponta, valorizadas pelo mercado.

Maioria faz MBA

A pesquisa da Produtive mostrou que a maioria dos executivos entrevistados já tem um


MBA ou especialização. Se você fizer um curso do tipo, vai engrossar a estatística e pode
não se diferenciar no mercado.

Empresas começam a valorizar mestrado

Apenas 9% dos entrevistados para o estudo fizeram mestrado ou doutorado. De acordo


com Souto, as empresas estão vendo com bons olhos esses profissionais. “Antigamente, elas
achavam que a pessoa que voltava à sala de aula para pesquisar estava perdendo tempo”,
diz. “Hoje, entendem que, para aumentar sua competitividade, necessitam de profissionais
diferenciados, que seguem se atualizando.”

Adaptado de: Bomfim (2014).

A pesquisa Great Place do Work (2016) apontou as melhores empresas para trabalhar no Brasil. Entre
as grandes empresas, destacam-se:
75
Unidade I

• Elektro Eletricidade e Serviços S.A.

• Caterpillar.

• Kimberly-Clark Brasil.

• Laboratório Sabin.

• Gazin.

• Magazine Luiza.

• Dell Computadores do Brasil Ltda.

• Tokio Marine Seguradora.

• AccorHotels.

• Losango.

• Cemar.

• Mars Brasil.

• Unidas.

• Embraer.

• John Deere.

• AstraZeneca.

• Monsanto do Brasil.

• Itaú Unibanco.

• Novartis – Divisão Farma.

• McDonald’s.

• Grupo Rio Quente.

• Ancar Ivanhoe.

76
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

• Pinheiro supermercado – o bom vizinho.

• Roche Farmacêutica.

• Cooperativa de Crédito Vale do Itajaí – Viacredi.

O alcance na carreira de economia vai depender se o profissional tiver uma boa capacidade analítica,
conciliando teoria e sensibilidade nas tomadas de decisão, considerando a concorrência de outras
empresas, ações dos consumidores, dos governos e dos países. Também é crucial contemplar a dinâmica
da própria economia, pois em situações de crises econômicas mais longas é provável que a ascensão na
carreira sofra alguns problemas.

Justamente pela formação acadêmica do economista, ele pode atuar em diversas áreas como
auditoria e consultoria, comércio internacional, economia agroindustrial, economia ambiental, mercado
financeiro, perícia, pesquisa, planejamento estratégico e políticas públicas.

Figura 19 – O desafio de estudar economia

O economista Luiz Alberto Machado apresenta alguns elementos importantes tanto para a formação
quanto para o exercício da profissão do economista:

1ª. Uma sólida formação decorrente de um curso que alia em suas diretrizes
curriculares conteúdos relacionados à história (História Econômica
Geral, História do Pensamento Econômico, Formação Econômica do
Brasil e Economia Brasileira Contemporânea), aos métodos quantitativos
(Matemática, Estatística e Econometria), e à teoria econômica (Teoria
Econômica, Economia Política, Macroeconomia, Microeconomia, Economia
Internacional, Desenvolvimento Socioeconômico e Economia Monetária).
Além desses conteúdos, de caráter compulsório e que correspondem a 50%
da carga mínima obrigatória, as instituições de ensino podem acrescentar
outros conteúdos, divididos entre disciplinas complementares e eletivas, e
que vão explorar as especificidades e vocações regionais de cada curso.

2ª. Sem deixar de reconhecer que esse tipo de formação exige muito dos
estudantes, razão pela qual não são muitos os que se interessam pelo curso,

77
Unidade I

sem contar outros tantos que o abandonam antes de concluí-lo, há também


que reconhecer que aqueles que enfrentam o desafio e seguem até o final
do curso, saem com uma formação diferenciada, que lhes fornece um amplo
repertório que, se bem aproveitado, transforma-os em profissionais super
requisitados.

3ª. Essa formação sólida e esse repertório abrangente permitem que os


Economistas possam optar por atuar em muitas áreas, bastante diversificadas
entre si, o que gera amplas oportunidades para que encontrem ocupações
em atividades que lhes trazem satisfação. Estudo realizado pelo Prof. Roberto
Macedo dá ênfase a esse ecletismo da profissão de Economista, que fazem
com que ele seja um dos profissionais capazes de atuar num volume mais
amplo de ocupações (MACHADO, 2016).

Uma importante pesquisa sobre o profissional de economia e o mercado de trabalho, a partir dos
dados do Censo de 2010, foi realizada e publicada pelo professor Roberto Macedo, da Universidade
de São Paulo (USP). Nesse estudo, o autor destaca que, entre os graduados em Economia, há ainda
predominância de homens e é uma profissão em que a faixa etária média é de pessoas mais maduras
(concentração na faixa etária entre 35 e 65 anos). Cada vez mais os profissionais dessa área buscam
qualificar-se com mestrado e doutorado logo após a graduação. Talvez esteja aí a explicação de o
porquê ser uma profissão com média de idade maior comparativamente a outras profissões. Quanto ao
rendimento médio, entre graduados, a média mensal foi de 5.904,00 reais; entre mestres, 11.885,00 reais
e, entre doutores, 12.569,00 reais (MACEDO, 2016).

78
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Professores do Ensino
Fundamental: 1,23%
Agentes e
Dirigentes e superiores da corretores de
administração pública: 1,24% bolsa, câmbio e
outros serviços Economistas: 11,16%
Dirigentes financeiros: 1,27% financeiros: 1,15%

Agentes imobiliários: 1,37%

Dirigentes da indústria de
transformação: 1,64%
Secretários (geral): 1,74%

Supervisores de secretaria: 1,75% Outras: 38,36%

Representantes
comerciais: 1,79%
Balconistas e vendedores
de lojas: 1,99%

Trabalhadores de servs. estatísticos,


financeiros e de seguros: 2,42%

Analistas financeiros: 2,74%


Dirigentes de vendas e
comercialização: 2,80%
Dirigentes de ADM e de serviços
não classificados: 2,86%

Gerentes de comércio, Serviços de escritório


atacadistas e varejistas: 3,13% em geral: 5,72%

Comerciantes: 3,18% Gerentes de bancos, serviços


Analistas de gestão e financeiros e seguros: 4,46%
administração: 3,66%
Contadores: 4,34%

Figura 20 – Ocupação dos economistas graduados – 2010

Pelo gráfico anterior, é possível verificar que há inúmeras possibilidades de atuação para um
economista. Evidentemente, como já apontado, a carreira de economista num departamento econômico
é muito restrita. No gráfico, apenas 11,16% dos economistas graduados atuam enquanto tal. A grande
maioria atua em diversas áreas em instituições privadas ou públicas.

O cargo de economista-chefe de departamento econômico de uma instituição financeira é


predominantemente ocupado por doutores em Economia. Por um lado, esse estudo aponta que
há decréscimo na procura por graduações em Economia; por outro lado, aqueles graduados em
Economia buscam se aprimorar com mestrado e doutorado, devido, entre motivos de concorrência
de mercado, a obterem melhores posições no mercado de trabalho. A carreira de economista
valoriza bastante este tipo de formação, que não pode ser considerada estritamente acadêmica, ou
seja, voltada para formar professores.

79
Unidade I

Resumo

Assim como outras diversas formações profissionais, a atuação de um


graduado em Economia tem apresentado uma concorrência enorme no
mercado de trabalho.

Muitas competências são exigidas para este profissional, que tem uma
formação ampla entre as chamadas ciências humanas e exatas. Justamente
pelas características da formação básica em Economia, o profissional
consegue atuar em diversas áreas, numa empresa privada ou mesmo
pública, passando pelas diferentes áreas de competência.

A conjuntura econômica também é importante para pensar o sucesso


na carreira, pois, principalmente em tempos de crise, é bastante comum a
carreira estagnar. Veja que não é nenhuma particularidade da carreira de
um economista, mas de todas as profissões.

Em nível regional ou nacional, as competências requeridas para um


economista são bem exigentes, o que requer capacitação contínua para
enfrentar os desafios conjunturais e as mudanças de cenário, capacidade
de enfrentar mudanças, dada a instabilidade da economia nacional e
internacional. É necessário ele sempre se manter atualizado, com assídua
leitura ou acompanhamento de notícias.

Para quem quer atuar em empresas privadas, é essencial tentar desde a


graduação um estágio para ganhar experiência de mercado, uma vez que o
curso não exige estágio obrigatório e é bastante teórico.

Para os que querem seguir carreira acadêmica, é preciso buscar uma


pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).

É imperioso lembrar que, dada a complexidade de atuar como economista


diante das mudanças globais da economia e da sociedade, é cada vez mais
comum os economistas buscarem mestrado e doutorado para agirem no
mercado, independentemente se escolherão a carreira acadêmica.

Para um profissional atuar no mercado internacional, é importante


considerar que a globalização tornou o mercado de trabalho mais
competitivo em nível internacional. Diante desse contexto, deve
investir numa boa formação acadêmica e também em línguas
estrangeiras.

80
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Há um campo bastante diversificado para a atuação do economista,


tanto em empresas privadas como em instituições multilaterais, passando
pelos órgãos públicos e ONG’s.

Dada a maior instabilidade da economia e as transformações mais


recentes, é crucial que o profissional tenha habilidade de se adaptar a
cenários que se modificam rapidamente. Para tanto, diversas características
são requeridas para profissionais atuarem no mercado internacional, como
capacidade de se adaptar a culturas e línguas diferentes e serenidade para
tomar as melhores decisões.

Exercícios

Questão 1. Considere as seguintes proposições e a relação existente entre elas.

A ciência econômica tem como característica ser uma ciência social aplicada, mas, ao mesmo
tempo, transita próximo de áreas como Sociologia, políticas públicas e ciências políticas, Administração,
Contabilidade e Ciências Atuariais.

PORQUE

A atuação profissional do economista tem um raio de ação bastante amplo, seja do ponto de vista
de competências, seja da mobilização de conhecimentos técnicos e habilidades específicas.

Com base nas informações dadas e na relação proposta entre essas proposições, é correto afirmar que:

A) A primeira proposição é falsa e a segunda é verdadeira.

B) A primeira proposição é verdadeira e a segunda é falsa.

C) As duas proposições são falsas.

D) As duas proposições são verdadeiras e a segunda explica a primeira.

E) As duas proposições são verdadeiras, mas a segunda não explica a primeira.

Resposta correta: alternativa E.

Análise da questão

A lógica da questão proposta (“X” porque “Y”) requer que a segunda proposição tenha condições
de explicar a primeira. Segundo essa formulação, “X” deve ser consequência e “Y,” a causa. Vejamos:
as duas proposições são verdadeiras. De fato, as Ciências Econômicas são “híbridas” no sentido de que
81
Unidade I

incorporam conhecimentos de várias áreas do saber. Também é verdadeiro o fato de o economista ter
inúmeras oportunidades de trabalho e em diferentes segmentos de mercado. No entanto, as proposições
apresentam uma relação oposta do que seria o correto: segundo o que o texto da questão propõe, as
Ciências Econômicas têm essa característica de hibridismo porque o economista tem várias alternativas
de trabalho. Na verdade, o que ocorre é que o economista tem várias alternativas em razão de as
Ciências Econômicas dialogarem com diversas áreas. Assim, as duas proposições estão corretas, mas a
segunda não explica a primeira.

Questão 2. Como comenta Hal R. Varian (1993), praticamente ninguém reclama de poesia, música
ou mesmo de astronomia como sendo inúteis, mas é usual escutar reclamações sobre o esoterismo e a
inutilidade da teoria econômica. Varian destaca que o papel da teoria dentro da economia (Economics)
não é apenas o de satisfação intelectual ou uma busca secundária de explicações meio esotéricas. A
teoria é uma parte essencial do ensino e da pesquisa em Economia.

A respeito da importância da formulação teórica nas Ciências Econômicas, considere as


seguintes afirmativas:

I – A elaboração teórica dá sentido a formulações realizadas com base em dados escassos ou insuficientes.

II – Como a teoria prescinde do subsídio de dados, ela não pode ser utilizada como instrumento para
previsão de fenômenos futuros, tampouco para explicar o passado; sua função, portanto, é a de indicar
hipotéticas relações entre as variáveis.

III – A teoria auxilia o trabalho de análise do economista, bem como colabora para a elaboração de
soluções para os inúmeros problemas apresentados pela realidade.

Está correto o que se afirma em:

A) I, apenas.

B) II, apenas.

C) III, apenas.

D) I e III, apenas.

E) I e II, apenas.

Resolução desta questão na plataforma.

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