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NOZICK, Robert. Anarquia, Estado e Utopia. Tradução: Ruy Jungmann.

Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, Ltda, 1991.

Resenha por: Maria Alejandra Terán Navarro da Silva

Lendo Nozick em comparativo à Locke, Mills e Berlin

Robert Nozick, filósofo norte-americano e professor da Universidade Harvard,


descreve em sua obra: Anarquia, Estado e Utopia, de forma analítica, a existência de
um “Estado mínimo” em termos tanto de moral, como de direitos, ou seja, um estado
que preserva e garante direitos individuais, e, crítica a ideia de Estado redistributivo
defendida por outro liberal, John Rawls, em seu livro “Uma teoria da Justiça”.
Esta obra, que se concentra inicialmente e em grande proporção na exploração
de argumentos acerca da real essencialidade da invenção da figura do Estado, a ideia do
“estado de natureza”, ou seja, o modo em que o Estado deveria vir a ser organizado e se
sua existência seria adequada diante dos direitos pertencentes aos indivíduos.
O estado de natureza por Nozick, aos moldes do John Locke, pressupõe a
existência do direito natural, do qual cada indivíduo é livre para determinar suas ações e
dispor de seus bens, dentro dos limites das próprias leis de natureza, ou seja, sem
infringir ou prejudicar os direitos uns dos outros. Não obstante, apesar de Nozick
construir a sua teoria de estado de natureza a partir de Locke, há uma diferença entre os
dois. Enquanto para Locke, a solução para o estado natural é a sociedade política que
regulariza os direitos que os indivíduos tinham no estado natural perante suas
propriedades, em Nozick o estado não é resultado de um contrato, mas, sim, de valores
de direitos individuais (direito a propriedade), ou seja, a criação de um estado civil que
garante os “direitos naturais” através de “associações de proteção” que se assemelham a
um sistema de justiça privado, que serve para proteger as pessoas contra as ameaças a
direitos e violações de direitos. É a partir do estado civil “ultraminimo” que começa a
existir a garantia da liberdade suprema dos indivíduos e o seguro para suas
propriedades.
Nozick também ataca bastante o utilitarismo, teoria defendida por Jhon Stuart
Mills, segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e
condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do
agente da ação, mas também a de todos afetados por ela. É como se o utilitarismo fosse
uma boa filosofia para diversas coisas, mas não quando o assunto é a utilidade geral
humana. Ele chega a dizer que o utilitarismo também não é totalmente aplicável para os
animais. Nozick chega a questionar se seria moral matar animais por prazer se a
felicidade do matador supera a dor infligida aos animais? Em decorrência dessa tese
faz-se uma hierarquização das experiências e classificam-se as espécies de vida
existentes, em função da sua capacidade ou incapacidade de experimentar felicidade e
prazer, hierarquizando-as também.
Isaiah Berlin no artigo intitulado Dois Conceitos de Liberdade, faz mais que
simplesmente conceituar liberdade. Ele aplica o conceito no estudo social e estabelece e
define dois tipos de liberdade: a negativa e a positiva. Na liberdade negativa, o
indivíduo é livre na medida em que nenhum outro indivíduo ou instituição interfira na
sua atividade. Nesta perspectiva, a liberdade individual seria simplesmente a
possiblidade de agir sem ser incomodado, desde que esta liberdade não interfira na
liberdade do outro; na liberdade positiva, o indivíduo é livre na medida em pode tornar-
se senhor de si próprio e agente ativo nas decisões que envolvem sua vida. Em sentido
político, o indivíduo exerce sua liberdade positiva ao participar ativamente da vida
social, escolhendo suas leis e governantes. Para Nozick, a liberdade negativa (direito
de não interferência) é um direito natural e inerente à própria garantia do homem
enquanto um fim em si mesmo, Desse modo, o Estado mínimo deve se limitar ao papel
de guardião do bom funcionamento do mercado e da proteção máxima da liberdade
negativa para todos os indivíduos.

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