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EDUCAÇÃO

Racismo influencia
Notícias

BR
gros, que é maior entre ricos do que
entre pobres, aponta a pesquisa.
Sendo assim, mais do que às dife-
renças socioeconômicas, o baixo
do Brasil

dos tende a negar que há diferenças


no desempenho escolar entre alunos
brancos e negros. Para as pesquisa-
doras, essa negação está relacionada
desempenho escolar desempenho dos alunos negros se a uma “ideologia da igualdade na es-
deve às práticas discriminatórias na cola” que a exime de responsabilida-
As escolas brasileiras não estão aten- escola, muitas vezes veladas. Essas de sobre as diferenças de desempe-
tas para as práticas sutis de racismo conclusões foram obtidas a partir da nho escolar, atribuindo-as ao empe-
existentes entre alunos e professo- análise das provas do Saeb de 2003 nho pessoal dos próprios alunos, ou
res, prejudicando, assim, a mobili- aplicadas, pelo Ministério da Edu- às suas famílias.
dade educacional e social de crian- cação, junto aos alunos da 4-ª e 8-ª sé- Nesse sentido, professores, pais e
ças e jovens negros. Esse é o princi- rie do ensino fundamental e da 3-ª alunos tendem a negar que existam
pal argumento da pesquisa “Rela- série do ensino médio. práticas racistas nas escolas. Xinga-
ções raciais na escola: reprodução de mentos e apelidos de cunho racista
desigualdades em nome da igualda- FATOR SOCIAL Nos estratos sociais são justificados como “brincadei-
de”, resultado de um convênio en- mais altos, os índices de desempe- ras”. Professores silenciam e se omi-
tre o Instituto Nacional de Pesqui- nho dos alunos são menos críticos, tem, preferindo não tratar do assun-
sas Educacionais Anísio Teixeira o que reforçaria a tese de que aque- to em sala de aula para “não levantar
(Inep), órgão do Ministério da Edu- les que possuem um desempenho o problema” ou mesmo deixando de
cação, e a Unesco. Coordenado pe- escolar mais baixo são os alunos intervir nos casos de discriminação
las sociólogas Mary Garcia Castro e mais pobres. Mas quando se cruzam racial. “Todos tendem a se declarar
Miriam Abramovay, a pesquisa os dados socioeconômicos com a contra racismo, o que de alguma
combina técnicas qualitativas – co- variável raça/cor dos alunos, a con- forma colabora para que não se dis-
mo entrevistas, grupos focais e ob- clusão é que “a pobreza iguala por cutam formas de identificar sutis
servações em sala de aula – com aná- baixo”, ou seja, brancos e negros discriminações, ou a reconhecer
lises quantitativas tais como os da- possuem as notas mais baixas, es- que os apelidos de teor racista, mes-
dos do Sistema Nacional de Avalia- tando mais próximos. Já os alunos mo que aceitos pelos vitimizados,
ção da Educação Básica (Saeb). brancos e negros de estrato socioe- doem e causam sequelas identitá-
Realizado nas cidades de Belém, conômico superior, ainda que apre- rias”, diz a pesquisa.
Salvador, São Paulo, Porto Alegre e sentem as notas mais altas, se dis- A questão racial tende, assim, a ser
no Distrito Federal, o estudo é tanciam mais entre si: os alunos ne- tratada pelas escolas de modo cir-
abrangente e focaliza crianças, alu- gros apresentam notas bem mais cunstancial – como o Dia da Cons-
nos das últimas séries do ensino baixas do que os alunos brancos da ciência Negra. Para as autoras, é
fundamental e do ensino médio, as- mesma classe social. fundamental instituir-se novas
sim como pais, professores, direto- Os dados do Saeb foram compara- práticas pedagógicas, que contem-
res e funcionários de 25 escolas par- dos com as percepções de pais, pro- plem as relações entre todos os alu-
ticulares e públicas. fessores, diretores e alunos. Segundo nos, brancos e negros, no ambien-
Existe um desempenho escolar de- as pesquisadoras, adveio daí uma te escolar.
sigual entre alunos brancos e ne- surpresa: a maioria dos entrevista- Carolina Cantarino

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