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DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n3.h432
ISSN on-line 1809-8207

Submetido: 22/07/2019 Correções: 28/09/2019 Aceite Final: 30/09/2019

GÊNERO E EDUCAÇÃO, INTERFACES COM GRAFITOS EM UMA AMBIÊNCIA ESCOLAR:


POSSIBILIDADES DE PESQUISA
Adriano Rogério Cardoso¹, Tânia Regina Zimmermann²

¹Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS,
Unidade de Paranaíba, MS. Professor da Rede Estadual de Ensino de São Paulo. E-mail: adrianor345@hotmail.com
²Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC, Florianópolis, SC. Docente do curso de
História, Amambai, MS e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Unidade de Paranaíba, MS da Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS. E-mail: taniazimmermann@gmail.com

RESUMO
Este trabalho objetiva reflexões teórico-metodológicas em relação à pesquisa relativa as representações das
sexualidades e de gênero em grafitos produzidos por adolescentes em uma Unidade Escolar no interior do
Estado de São Paulo entre os anos de 2018 e 2019. Trata-se de um objeto de estudo de caráter político-
pedagógico da educação, das relações sociais e não atrelado a questões meramente técnicas. Para a
metodologia optamos pela pesquisa descritiva-exploratória, de cunho qualitativo. Utilizamos elementos da
Análise Crítica do Discurso (ACD), pois contribuem para pensarmos o conjunto da produção dos grafitos
vistos como textos, examinarmos aspectos linguísticos, imagéticos, sociocultural, reflexões sobre o processo
da pedagogia presente nos grafitos, analisarmos as tramas discursivas do poder em nossa sociedade
patriarcal e cristã. Nos grafitos coletados em ambiente escolar buscamos identificar e analisar anseios,
dúvidas, construção de masculinidades e feminilidades, subjetividades bem como estigmas e preconceitos
de gênero. Os resultados apontam a necessidade de reflexão, discussão, visibilidade dessa temática nos
processos de formação profissional e continuada de professores, inclusão curricular, pois devido aos
interesses político-pedagógicas na educação invisibilizou de seus documentos oficiais como na Base Nacional
Comum Curricular questões de gênero e de sexualidade.
Palavras-chave: Educação. Gêneros. Sexualidade. Grafitos.

GENDER AND EDUCATION, INTERFACES WITH GRAFFITI IN A SCHOOL ENVIRONMENT: RESEARCH


POSSIBILITIES

ABSTRACT
This work aims at theoretical-methodological reflections regarding the research concerning representations
of sexualities and gender in graffiti produced by adolescents in a School Unit in the interior of the State of
São Paulo between the years 2018 and 2019. It is an object of study of the political-pedagogical nature of
education, of social relations and not linked to purely technical issues. For the methodology we opted for the
descriptive-exploratory research, of qualitative nature. We use elements of the Critical Discourse Analysis
(CDA), because they contribute to think about the production of graffiti as texts, examine linguistic, imagery,
sociocultural aspects, reflections on the pedagogy process present in graffiti, analyze the discursive plots of
power in our patriarchal and Christian society. In graffiti collected in a school environment, we seek to
identify and analyze yearnings, doubts, construction of masculinities and femininities, subjectivities as well
as gender stigmas and prejudices. The results point out the need for reflection, discussion, visibility of this
theme in the processes of professional and continuing teacher training, curricular inclusion, because due to
the political and pedagogical interests in education, it invisibilized from its official documents as in the
National Curricular Common Base questions of gender and of sexuality.
Keywords: Education. Genders. Sexuality. Graffiti.

GÉNERO Y EDUCACIÓN, INTERFACES CON GRAFITOS EN UN ENTORNO ESCOLAR: POSIBILIDADES DE


INVESTIGACIÓN

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 16, n. 3, p.47-62 jul/set 2019. DOI: 10.5747/ch.2019.v16.n3.h432
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RESUMEN
Este trabajo apunta a reflexiones teórico-metodológicas sobre la investigación sobre representaciones de
sexualidades y género en grafitos producidos por adolescentes en una Unidad Escolar del interior del Estado
de São Paulo entre los años 2018 y 2019. Es un objeto de estudio de la naturaleza político-pedagógica de la
educación, de las relaciones sociales y no vinculado a cuestiones puramente técnicas. Por la metodología
optamos por la investigación descriptiva-exploratoria, de carácter cualitativo. Utilizamos elementos del
Análisis crítico del discurso (ACD), ya que contribuyen a pensar en la producción de grafitos como textos,
examinan aspectos lingüísticos, de imágenes, socioculturales, reflexiones sobre el proceso de pedagogía en
el grafitos, analizan los argumentos discursivos del poder en Nuestra sociedad patriarcal y cristiana. En los
grafitos recopilados en un entorno escolar, buscamos identificar y analizar anhelos, dudas, construcción de
masculinidades y feminidades, subjetividades, así como estigmas y prejuicios de género. Los resultados
señalan la necesidad de reflexión, discusión, visibilidad de este tema en los procesos de capacitación
profesional y continua del profesorado, inclusión curricular, ya que debido a los intereses políticos y
pedagógicos en la educación, se invisibilizó de sus documentos oficiales como en las preguntas de la Base
Común Nacional Curricular sobre género y de la sexualidad.
Palabras clave: Educación. Géneros. Sexualidad. Grafitos.

A. INTRODUÇÃO Parada do Orgulho LGBTQIA+


Os Parâmetros Curriculares Nacionais (lésbicas , gays , bissexuais , travestis, transexuais,
(PCNs), oriundos de 1997, propondo um trabalho transgêneros , queer, intersexo, assexual) do
transversal objetivam formação crítica para a mundo, na cidade de São Paulo. Entretanto, há no
cidadania. A diversidade sociocultural do país país uma política moral e religiosa instalada que
deve ser reconhecida. Os(as) alunos(as) devem coloca as margens comunidades minoritárias não
aprender a se posicionar contra todos os tipos de hegemônicas. Segundo o Grupo Gay da Bahia
preconceitos e discriminações. Os PCNs apontam (GGB) foram assassinadas 420 pessoas LGBTQIA+
a escola como um lugar adequado para trabalhar por “crime de ódio” no ano de 2018. O país lidera
sexualidade (Orientação Sexual), principalmente o ranking internacional nessa modalidade
devido ao tempo de permanência dos jovens na (QUINALHA, 2019, p.4).
escola, as oportunidades de trocas de convívio Em relação às mulheres no Brasil, em
social e relacionamentos amorosos ali 2017, foram registrados 61.032 estupros,
vivenciados, prevenção da gravidez na aumento de 10,1% em relação a 2016. Em 2017,
adolescência, contaminação pelo vírus da 1.113 foram vítimas de feminicídio e houve
imunodeficiência humana (HIV), que pode evoluir 221.238 registros de violência doméstica contra
para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida mulheres, corresponde a 606 casos por dia no país
(AIDS) (BRASIL, 2001), favorecem a reflexão e (FBSP, 2018, p.6).
discussões. Nas últimas décadas do século passado e
No entanto, isso parece ter tomado outro início do século XXI, a educação brasileira tem
caminho, um retrocesso. Temas que deveriam ser sido fortemente influenciada pelas discussões
trabalhados transversalmente no cotidiano sobre gênero e educação, movimentos LGBTQIA+,
escolar são vistos como temas tabus. Questões feministas e étnico-raciais têm procurado articular
referentes a gênero e sexualidade foram tais temáticas a fim de defender a formulação de
invisibilizadas ou extintas dos documentos oficiais, políticas educacionais, compreensão da
como na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) diversidade dos sujeitos que compõem o espaço
(BRASIL, 2018). educativo e, consequentemente, a prática
O Brasil é representado como nação pedagógica na educação escolar. Pensamos ser
paradisíaca que tolera e valoriza suas de grande importância sociocultural, as temáticas
diversidades. A instituição carnavalesca possibilita gênero e sexualidade em educação por estarem
que nossos desejos e identidades sejam aceitos, permeadas por uma série de preconceitos –
homens se fantasiam de mulheres e mulheres de explícitos e velados em nossa cultura, além de
homens, nesse período de festas. Temos a maior

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possibilitar reflexão para cidadãos conscientes de pesquisa, há de se


seus direitos e subjetividades. constatar um envolvimento
emocional do pesquisador
B. DELINEAMENTO METODOLÓGICO com o seu tema de
investigação. A aceitação
O nosso interesse pela temática gênero e
de tal envolvimento
sexualidade na Educação desenvolveu-se em caracterizaria a pesquisa
detrimento de observações locais sobre o elevado qualitativa. Já a intenção
número de grafitos produzidos pelos alunos em de controlá-lo, ou sua
uma ambiência escolar. Despertando-nos negação, caracterizariam a
curiosidade sobre como a política educacional e pesquisa quantitativa. Da
social tem olhado para essas questões: gêneros e mesma maneira que os
sexualidade em educação no contexto atual. valores fazem parte da vida
De acordo com Severino (2000, p. 145) a humana, o estudo das
temática do trabalho acadêmico pode ou deve ser emoções é assunto
importante da psicologia
uma problemática reflexiva de procedência
clínica e da personalidade,
pessoal, autônoma, criativa, rigorosa, vivenciada razão pela qual, mais uma
pelo pesquisador e pode fazer parte dele, não vez, volta-se à questão
apenas em nível sentimental. Mas o pesquisador mais relevante: como lidar
deve avaliar a relevância e a significação dos com esta influência no
problemas abordados inclusive para o próprio contexto da pesquisa?
pesquisador, observando as relações do universo (GÜNTHER, 2006, p. 203)
que os envolvem. Sendo assim, a escolha de um
tema de pesquisa e sua realização é um ato Pesquisar exige do pesquisador escolhas
político, isento de neutralidade, tendo uma sobre o olhar. Exige responder questões sobre: o
dimensão social. Uma vez que o pesquisador já quê? Como? Em que direção? O pesquisador deve
deve ter pensado a respeito de sua situação, direcionar seu olhar e seus esforços
mesmo no projeto e “nas tramas políticas da investigativos. Para responder a essas questões
realidade social” que se encontram inseridos, faz-se necessária a tomada de decisões teóricas e
envolvidos e concatenados (SEVERINO, 2000, p. metodológicas. Essas decisões irão servir de
146). fundamentos, orientações ao trabalho de
Percebemos que a invisibilidade de tais pesquisa e a construção dos caminhos para
temáticas reflete diretamente no currículo, nas responder aos objetivos propostos.
políticas de formação de professores, na didática No processo de pesquisa em Educação
em sala de aula, no comportamento social dos fazer as escolhas teóricas é algo desafiador.
alunos, apresentam consequências danosas que Pesquisar requer humildade para reconhecer que
refletem na sociedade, evidenciadas em casos de o conhecimento construído e as análises
violência e até morte contra mulheres e realizadas não podem ser totalmente controlados,
homossexuais. O que fazer? Como contribuir para tão pouco neutralizados. Nesse processo
evitar ou amenizar práticas de preconceito? investigativo fazemos nossas escolhas, recortes e
Imputar apenas a educação é algo prioridades para evidenciarmos o objeto de
inconcebível. Trata-se de um problema social que pesquisa. No entanto calamos muitas vozes que
envolve outros setores como a família, leis, outros poderão fazê-las ecoar em seus trabalhos
segurança, religião, estrutura social, saúde, investigativos.
educação. Compete a educação informar de modo A pesquisa que desenvolvemos é de
qualitativo, reflexivo, crítico e não ocultar, abordagem qualitativa. Ghedin e Franco (2011)
empurrar para baixo do tapete, nem deixar para argumentam que abordagem não é propriamente
depois no sentido de formar cidadãos conscientes o método. Para eles “é uma forma de, desde a
de suas subjetividades que tenham seus direitos, borda, olhar aquilo que compõe o objeto em sua
deveres respeitados e que respeitem as totalidade. Quando se fala em abordagem de
diferenças. pesquisa, está-se fazendo uma reflexão sobre
Em relação a postura do pesquisador como se deve conduzir o olhar na direção de
Günther (2006) aponta que, determinados objetos” (GHEDIN; FRANCO, 2011,
[...] além da influência de p. 28). Ao afirmarmos que nossa pesquisa é de
valores no processo de abordagem qualitativa estamos nos referindo à

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maneira como olhamos ou lançamos nosso olhar pesquisa. A análise dos dados não ocorre apenas
para nosso objeto de pesquisa, como o no final da pesquisa ela:
abordamos teórica e metodologicamente em [...] se inicia já na fase
todas as etapas da investigação. exploratória,
Para Bogdan e Biklen (1994, p. 11) a acompanhando toda a
investigação qualitativa contempla “uma investigação em uma
relação interativa com os
metodologia de investigação que enfatiza a
dados empíricos: à medida
descrição, a indução, a teoria fundamentada e o que os dados vão sendo
estudo das percepções pessoais”. De acordo com coletado, o pesquisador vai
Minayo e Sanches (1993, p. 245) “o trabalho procurando
qualitativo caminha sempre em duas direções: tentativamente identificar
numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus temas e relações,
princípios e estabelece seus resultados; noutra, construindo interpretações
inventa, ratifica seu caminho, abandona certas e gerando novas questões
vias e toma direções privilegiadas”. Reverberam e/ou aperfeiçoando as
ainda que a metodologia qualitativa “trabalha anteriores, o que, por sua
vez, o leva a buscar novos
com valores, crenças, representações, hábitos,
dados, complementares ou
atitudes e opiniões” (MINAYO; SANCHES, 1993, p. mais específicos, que
247). testem suas
“A pesquisa qualitativa dirige-se à análise interpretações, num
de casos concretos em suas peculiaridades locais processo de “sintonia” fina
e temporais, partindo das expressões e atividades que vai até a análise final
das pessoas em seus contextos locais [...]” (FLICK, (ALVES, 1991, p. 60).
2009, p. 37); possibilitando um deslocamento em
diferentes caminhos; em sua estrutura possui Bogdan e Biklen (1994, p. 47) apontam
rigor metodológico mantendo-se flexível e cinco características da investigação qualitativa; 1)
possibilita novas descobertas ou ampliação das “a fonte direta dos dados é o ambiente natural” e
existentes, proporcionando novos delineamentos o “investigador é o instrumento principal”, é o
que não seriam possíveis na pesquisa quantitativa pesquisador quem revisa o material coletado para
(FLICK, 2009). sua compreensão e análise futura (BOGDAN;
Ao longo do tempo foram surgindo “novas BIKLEN, 1994, p. 47); 2) “a investigação qualitativa
áreas e questões” entre elas “o sexo e o é descritiva” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 48); 3)
feminismo com a investigação qualitativa [...]” “os investigadores interessam-se mais pelo
(BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 12). Na década de processo do que simplesmente pelos resultados
oitenta a teoria e a prática feministas ou produtos”, isto é, levantam questões do tipo:
influenciaram a investigação qualitativa, em “Como é que se começaram a utilizar certos
relação ao tipo de sujeitos (feministas) estudados, termos e rótulos? Como é que determinadas
assim como “os papéis psicossexuais”, “análise de noções começaram a fazer parte daquilo que
documentos”, “história de vida e as entrevistas consideramos ser o ‘senso comum’?” (BOGDAN;
em profundidade”, colocando em evidencia os BIKLEN, 1994, p. 49-50); 4) “os investigadores
“atores sociais, categorias de comportamentos qualitativos tendem a analisar os seus dados de
previamente ignorados” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, forma indutiva”, não se presume que se sabe o
pp. 43-44). O foco de interesse de nossa pesquisa suficiente antes de realizar a investigação, colhe-
limita-se as questões de sexualidade e problemas se o material, observa-se as partes para analisá-
de gênero expressos nos grafitos por adolescentes las (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 50); 5) “o
na ambiência escolar. significado é de importância vital na abordagem
Acreditamos ser a abordagem qualitativa qualitativa” ou seja, como as pessoas dão sentido
a mais apropriada para a realização dessa as suas vidas (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 50).
pesquisa descritiva-exploratória. Afinal como Segundo Louro (2007) o olhar da
afirma Minayo (2010, p. 26) “[...] o objeto das linguagem no processo de pesquisa é considerada
ciências sociais é essencialmente qualitativo” e um meio descritivo e construtivo. O modo de
consideramos que melhor auxilia na compreensão apresentação da pesquisa pós-estruturalista se
desse fenômeno social exposto para esta orienta no questionamento ao invés de
apresentar meras conclusões ou respostas

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decisivas, possibilita a autoridade do pesquisador questão norteadora: sexualidade e gênero: o que


e incentiva a participação ativa do leitor. O dizem os grafitos em uma ambiência escolar?
questionamento demonstra atitude de se abrir Tendo levantado a questão norteadora, o
para a diversidade. Não existe uma resposta objetivo geral consiste em refletir de modo
única, mas sim possibilidades de ver várias coisas qualitativo as representações sexuais encontradas
simultaneamente dependendo do ponto de vista nos grafitos, produzidos por adolescentes em
de quem o analisa. ambiente escolar, percebendo seus anseios,
Nossa pesquisa procura investigar o dúvidas, preconceitos sobre gênero e sexualidade;
movimento discursivo do poder, como ele questionando sobre a problemática de
acontece, como descobrir e descrever as relações sexualidade e gênero nos discursos das políticas
de poder em uma sociedade patriarcal, curriculares na Educação.
heteronormativa e cristã? Muitas vezes tomadas Definimos os seguintes objetivos
como verdades cristalizadas e inquestionáveis. específicos:
Autores como Foucault (1979), Fairclough (2001, 1. Identificar as representações sexuais dos
2016) e Teun van Dijik (1999, 2017) nos auxiliam jovens a partir do conhecimento sobre
nessa caminhada pela análise crítica discursiva. sexualidade; observando seus anseios,
Uma das indagações mais dúvidas, preconceitos sobre gênero e
frequentes no campo da sexualidade;
pesquisa é a que se refere 2. Classificar e analisar os grafitos de cunho
à representatividade da sexual, encontrados no ambiente escolar;
fala individual em relação a
3. Problematizar e refletir sobre as
um coletivo maior. Tal
indagação constituía uma
representações da sexualidade, relações
preocupação de Bourdieu de gênero, a existência do interdito no
(1972) quando este definiu ambiente escolar e apontar possíveis
o conceito de habitus, direcionamentos;
segundo o qual a 4. Contribuir para desconstrução de
identidade de condições de preconceitos, estigmas, paradoxos sobre
existência tende a produzir gênero e sexualidade entre adolescentes
sistemas de disposições e a sua atuação no ambiente escolar e ao
semelhantes, através de longo da vida.
uma harmonização
Em relação aos Procedimentos e
objetiva de práticas e obras
(MINAYO; SANCHES, 1993,
Instrumentos de Coleta de Dados esta pesquisa foi
p. 245-246). realizada em duas fases: 1- levantamento de
pesquisa bibliográfica com o objetivo de
Em outras palavras percebemos que há no encontrar trabalhos que permeiam nossa
contexto social brasileiro atual uma forte, temática de interesse, sexualidade e gênero
cristalizada e íntima “associação com uma política expressos pelos grafitos em ambientes escolares.
moral e sexual”, valores associados a defesa da 2- coleta de fotos: paralelamente foram sendo
família tradicional, heterossexualidade colhidas imagens no ambiente da escola
compulsória, religiosidade, regados com ataques pesquisada, para os procedimentos de
verbais contra comunidades não hegemônica: “ter classificação, análise e reflexão. Uma Escola
filho gay é falta de porrada” fala do ex-deputado, Estadual “EE” localizada no município “X”, Estado
atual presidente do Brasil Jair Bolsonaro antes de São Paulo, foi palco para a coleta das imagens,
mesmo de ser eleito. Esse tipo de declaração por ser o local de trabalho do pesquisador “P1”.
restringe o direito da existência de um segmento Para podermos discutir sobre a temática
da população (QUINALHA, 2019, p. 4). proposta inicialmente, realizamos uma pesquisa
O interesse por essa temática surgiu bibliográfica. Recorremos ao Catálogo de Teses e
devido as indagações pessoais e observações do Dissertações da CAPES, a Biblioteca Digital
elevado número de grafitos no ambiente escolar Brasileira de Teses e Dissertações; Scielo; livros;
acompanhadas pelo quase silenciamento dos(as) anais de eventos e repositórios de teses e
professores(as) em relação a sexualidade na dissertações de algumas universidades, que
escola. Diante do exposto, definimos a seguinte abordem essa temática na área da educação. O
recorte temporal para a realização do

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levantamento bibliográfico foi de 2008-2018, Nessa pesquisa estamos interessados nas


compreendendo, portanto, os últimos dez anos. produções dos grafitos deixados diariamente no
Para a captura das imagens foi utilizado ambiente escolar, incluindo as carteiras, cadeiras,
um aparelho celular com câmera e sensor traseiro paredes, muros, pátios, portões, banheiros entre
de 12 megapixels com abertura f/1.7 e tecnologia outros espaços. Em relação a análise de conteúdo
Dual Pixel, para melhorar o foco e deixar as a Bardin (1977) propõe: 1) a pré-análise; 2) a
imagens mais claras. Para Sontag (2004, p. 34) exploração do material; 3) o tratamento dos
“[...] a imagem fotográfica possui uma ampla e resultados, a inferência e a interpretação.
naturalizada presença no imaginário social, o que Segundo Minayo (2010), o ciclo de pesquisa,
lhe confere um poder raro e ambíguo capaz de compõe-se de três momentos: fase exploratória
suscitar impotência e agressão, tédio e da pesquisa, trabalho de campo e tratamento do
fascínio”. Bogdan e Biklen (1994, p. 190-191) material.
levantam questões interessantes sobre a Por meio da análise de conteúdo, a pré-
utilização analítica das fotografias. Questões do análise (BARDIN, 1977), de nossa investigação
tipo: “será que as fotografias tiradas por um principiou-se na escolha dos documentos a serem
investigador, ou qualquer outra pessoa, podem analisados, ou seja, o corpus de análise, sendo
captar a vida interior de, por exemplo, uma eles:
escola? [...] Será que imortalizam aquilo que é 1. Os artigos, dissertações, livros, que
apenas um momento num fluxo contínuo de abordam os temas propostos nessa
acontecimentos?” “[...] As fotografias não são as pesquisa sobre sexualidade, gênero e
respostas”, porém devem ser vistas como grafitos;
“ferramentas para chegar às repostas” (BOGDAN; 2. Trabalho de campo com a finalidade de
BIKLEN, 1994, p.191). encontrar os grafitos diariamente nos
“O próprio ato de fotografar ou filmar um ambientes escolares e fotografá-los;
determinado evento já inclui a ‘transcrição’ de 3. Realizar a classificação dos mesmos em
uma ideia em uma representação, no caso visual” categorias do tipo (corpo masculino,
(GÜNTHER, 2006, p. 205), porém não deve ser corpo feminino, xingamentos, órgãos
descartada a importância da observação do sexuais entre outros);
pesquisador que possibilita a reflexão dos dados 4. Quantificação das imagens dentro das
colhidos, uma vez que o olhar do pesquisador categorias identificadas;
poderá desvendar detalhes que poderiam estar 5. Tabulação dos dados colhidos;
oculto no recorte fotográfico, inclusive sobre o 6. Transcrição dos textos encontrados nas
ambiente (BOGDAN; BIKLEN, 1994). fotos;
Percebemos que o interesse e a 7. Análise e discussão dos dados.
exploração do uso na imagem passou a ter A partir de leituras sucessivas de cada
destaque social importante, isso nos mais conjunto de material encontrado procuramos
diferentes campos: econômicos, sociais, políticos, estabelecer alguns indicadores que expressam o
sexuais e privados. A imagem é uma espécie de essencial dos questionamentos em torno dos
decalque do real que pode ser utilizado por quais se construir a presente pesquisa. Em relação
instrumento de análise. Entende-se então que é à Análise do Discurso (AD) “o termo Discurso não
“[...] um vestígio, algo diretamente decalcado do se aplica unicamente à linguagem mas a qualquer
real, como uma pegada [...]” (SONTAG, 2004, p. padrão de significado, seja ele visual ou espacial,
86). e portanto pode referir-se a textos visuais, tais
O pesquisador com uma máquina como a televisão, o cinema, a banda desenhada,
fotográfica pode “coibir as pessoas” presentes em etc.” (WILLIG, 1999 apud NOGUEIRA, 2001, p.22).
um ambiente (BOGDAN, BIKLEN, 1994, p. 140). No Nesse viés entendemos que os grafitos são textos
entanto, as fotografias para essa pesquisa foram verbo-visuais.
tiradas em horários que não haviam alunos no “Ao analisarmos o discurso, estaremos
ambiente, portanto trata-se de uma “ideia de inevitavelmente diante da questão de como ele se
produções típicas e naturais” dentro do contexto relaciona com a situação que o criou. A análise vai
escolar, o pesquisador por não ser visto, não inibe procurar colocar em relação o campo da língua
ou interfere no ambiente nem nas produções dos (suscetível de ser estudada pela Linguística) e o
grafitos; também não é tido como um intruso ou campo da sociedade (apreendida pela história e
espião diante dos alunos ou das alunas. pela ideologia)” (GREGOLIN, 1995, p.17).

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“Segundo Althusser (s.d.), a ideologia é a de contagem. Ao elaborarmos as categorias de


representação imaginária que interpela os sujeitos análise dos dados procuramos observar
a tomarem um determinado lugar na sociedade, características encontradas para atender aos
mas que cria a ‘ilusão’ de liberdade do sujeito. A objetivos da pesquisa.
reprodução da ideologia é assegurada por Em relação aos cuidados éticos houve a
‘aparelhos ideológicos’ (religioso, político, escolar necessidade de se preservar o anonimato dos
etc.)” (GREGOLIN, 1995, p.18). dados dos produtores dos grafitos nos casos em
Optamos pelo uso da Análise Crítica do que ocorreu identificação expressa: números de
Discurso (ACD), pois pretende "aumentar a telefones ou nomes e sobrenome. Com isso
consciência de como a linguagem contribui para a preservamos os direitos dos produtores dos
dominação de umas pessoas por outras, já que grafitos mantendo o anonimato e
essa consciência é o primeiro passo para a confidencialidade dos dados.
emancipação" (FAIRCLOUGH, 1989, p. 1). Também Em relação aos princípios éticos e em
contribui para pensar elementos linguísticos, conformidade com a Resolução CNS 510/2016
imagéticos com aspectos socioculturais. como procedimentos iniciais da pesquisa foi
Las prácticas discursivas estabelecido contato com a direção da Unidade
puedem tener efectos Escolar para a realização da pesquisa; solicitou-se
ideológicos de peso, es então uma autorização para o desenvolvimento
decir, puedem ayudar a da pesquisa, bem como, acesso as salas de aulas e
producir y reproducir
ao ambiente escolar para poder produzir as fotos
relaciones de poder
desiguales entre (por
dos grafitos e utilizá-las para fins de divulgações
ejemplo) las classes acadêmicas.
sociales, las mujeres y los No primeiro contato com a direção
hombres, las mayorías e las escolar realizamos a exposição dos objetivos da
minorías culturales o pesquisa e da metodologia para a coleta de dados.
étnicas, por medio de la A direção da Unidade Escolar assinou um Termo
manera como representan de Consentimento Livre e Esclarecido e uma
los objetos y sitúan a las autorização que nos possibilitou a realizar a coleta
personas. (FAIRGLOUGH; de dados, assim como a utilização e publicação
WODAK, 2000, p. 368).
dos dados colhidos no interior da escola.
Seguimos os seguintes procedimentos:
O uso da ACD nos estudos de grafitos
1. Envio ao diretor da unidade escolar o
corrobora para perceber as construções sociais
Termo de Consentimento Livre e
sobre as sexualidades, ainda polêmicas na escola,
Esclarecido (TCLE), buscando explicitar os
principalmente pela multiplicidade de visões,
objetivos e procedimentos da pesquisa;
crenças, tabus, interditos, valores daqueles que
2. Respeitar os direitos dos envolvidos, o
nelas estão inseridos (BRASIL, 2001;
anonimato e a confidencialidade dos
SCHINDHELM, 2011; FOUCAULT, 1982). As
dados.
questões de gênero perfilam uma complexidade.
3. Antes de iniciar o processo de coleta das
Os materiais didáticos, os currículos, a linguagem,
fotos nos ambientes da escola,
imagens, organização do tempo, dos espaços
solicitamos da direção uma autorização
educativos obedecem a uma lógica generificada
por escrito para a permissão de adentrar a
de difícil percepção e escondem uma suposta
Instituição de Ensino, fotografar para
naturalidade inclusive nos corpos. Essa
posterior edições e utilização das imagens
naturalização nem sempre é problematizada e
para fins de publicações acadêmicos.
associada aos altos índices de violência contra
Nossa solicitação foi autorizada.
comunidade LGBTQIA+, mulheres e crianças pelo
país.
C. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O material para análise está organizado
Despertou-nos interesse em investigar
em unidades de registro, aglutinados em temas e
esse fenômeno devido a observação in loco da
categorias que pudessem traduzir aspectos
constante e massiva produção de grafitos nesta
essenciais no sentido de responder às questões e
ambiência escolar. Observamos uma profusão de
objetivos de pesquisa. A quantidade de aparição
pênis, xingamentos, atos sexuais, palavrões
da temática dos grafitos foi tomada como regra
contínuos, entre outros. Quais seriam os motivos?

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O que levaria os adolescentes a tais produções em Entendemos que o ato de grafitar é


sala de aula e em ambiência escolar? Que pulsão natural ao ser humano, deixar marcas por onde
latente é essa? passa e vive inclusive modifica, altera, ou destrói o
Procuramos realizar levantamento ambiente. Alguns indivíduos em sociedade
bibliográfico sobre pesquisas e produções sobre a constituem famílias, fazem filhos(as), deixam
temática gênero e sexualidade expressos por casas, bens materiais, escrevem e publicam livros
grafitos em ambiência escolar. No Brasil e artigos, outros desenham, deixam grafitos em
destacamos os trabalhos de Vilela (2017) que rochas, cavernas, banheiros públicos, ônibus,
pesquisou grafitos relacionados a sexualidade em muros, edifícios, monumentos, troncos de árvores
carteiras escolares no interior do estado de São e por que não na escola? Talvez essa ação esteja
Paulo. Gerbara e Souza (2016) pesquisaram 100 relacionada à inconsciência ou consciência da
grafitos de conotação sexual em uma sala de aula, finitude de cada um de nós, afinal, nascemos e
Ensino Médio e Curso Superior, nas (carteiras, caminhamos em direção ao fim, a morte.
paredes e portas) de uma instituição privada de Na pesquisa percebemos que as carteiras,
ensino no estado do Mato Grosso do Sul. cadeiras, portas, paredes e muros são espaços em
Realizaram análise discursiva das imagens, que o privado se torna público. A maioria dos
concluindo que os grafitos presentes grafitos nesta pesquisa foi produzida com uso de
simbolizavam expressões subjetivas de suas lápis ou caneta; constantemente são alterados,
sexualidades protegidos pelo anonimato. Martins refeitos, sofrem intervenções e/ou
(2010) pesquisou grafitos em três escolas de complementações por outros(as) alunos(as), além
Londrina observou paredes e carteiras, do apagamento pelos funcionários responsáveis
entrevistou alunos e diretores de escolas. A pela limpeza dos ambientes.
preocupação dos diretores estava voltada a Questões de gênero e de sexualidade
limpeza das carteiras e ao conteúdo dos grafitos, fazem parte do ser humano e não há meios de
muitas vezes pornográficos, contrários a moral e serem deixadas fora do ambiente escolar. Os
aos bons costumes. Entretanto, há outros grafitos de ordem sexual e de gênero, presentes
trabalhos sobre grafitos latrinais relacionados à em ambiência escolar, são representações
sexualidade. importantes e também meio de comunicação dos
Em nossa pesquisa a idade da clientela jovens. As temáticas, gênero e sexualidade nem
envolvida inicia-se a partir dos 11 anos e sempre podem ser verbalizadas, por serem
atualmente temos alunos(as) com 30 anos de consideradas temas tabus. Os adolescentes dão
idade no Ensino Médio. Trata-se de um grupo vasão aos anseios, angustias, dúvidas por meios
heterogêneo, há alunos(as) que possuem dos grafitos (VILELLA, 2017).
experiência sexual e outros(as) não, incluindo A instituição escolar é detentora de
alunos(as) com filhos(as) e família constituídas a poder. O poder discursivo é capaz de conduzir e
maioria não. A coleta dos grafitos foi realizada na produzir efeitos benéficos ou maléficos,
“EE”, Ensino Fundamental II e Ensino Médio, imperativo, libertário ou castrativo; pode nos
situada na mesorregião de São José do Rio Preto- proporcionar liberdade ou nos aprisionar,
SP. dependendo dos interesses de quem detém os
As fotos tiradas por celular no ambiente saberes (FOUCAULT, 1979). A escola possui papel
escolar, foram elencadas em categorias, discursivo duplo: repressora no sentido de
numeradas, analisadas, buscando compreender as manutenção da ordem “moral e dos bons
minucias, ambiguidades, tensões, preconceitos costumes”, no caso, heteronormativo dominante
existentes nas relações de gênero e sexualidade (VAN DIJK, 2017). Em casos extremos, alunos são
no cotidiano escolar por meio dos grafitos reprimidos no sentido de limpar carteiras ou
expressos. ambiente escolar por terem grafitado; por outro
Acreditamos que os grafitos são um lado, a escola desempenha papel libertário:
importante meio de comunicação dos formar cidadãos críticos, conscientes de seus
adolescentes, que circulam pela instituição, um direitos, deveres relativos às questões de gênero
meio de expressão de suas vivências, seus e de sexualidade. Conforme reza a Lei de
anseios, dúvidas, repressões, representações Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei
sociais, podendo dar vasões por meio deles nº 9.394/1996):
(FAIRCLOUGH, 2016). Artigo 1º - A educação
abrange os processos

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formativos que se sexualidade são quesitos deixados às margens e


desenvolvem na vida tais termos são invisibilizados pela BNCC (2018).
familiar, na convivência Muitos professores por questões políticas,
humana, no trabalho, nas religiosas, sociais preferem deixar esses temas as
instituições de ensino e
margens, assim como a BNCC (2018) o fez. Essas
pesquisa, nos movimentos
sociais e organizações da
temáticas deveriam fazer parte dos processos de
sociedade civil e nas formação de todos(as) professores(as) e de forma
manifestações culturais continuada nas políticas educacionais.
(BRASIL, 1996). Em relação aos grafitos presentes em
salas de aulas, desde os sextos anos são
A LDB (1996) orienta pelos princípios encontrados grafitos de conotação sexual, afetiva
éticos, políticos e estéticos que visam à formação ou amorosa. As informações apresentam, ainda,
humana integral e à construção de uma sociedade conteúdos das disciplinas escolares, resoluções
justa, democrática e inclusiva. Dentre as 10 aritméticas, regras gramaticais, lembretes e
Competências Gerias da Educação Básica na BNCC expressões em inglês, flores, animais, corações,
(2018) destacamos a oitava: “Conhecer-se, foguetes e meios de transporte.
apreciar-se e cuidar de sua saúde física e Entretanto conforme os(as) alunos(as)
emocional, compreendendo-se na diversidade avançam em relação a idade estimulados pelas
humana e reconhecendo suas emoções e as dos influencias ambientais, sociais, familiares,
outros, com autocrítica e capacidade para lidar midiática vai aumentando o despertar para
com elas” (BRASIL, 2018, p. 10). amizades próximas, estabelecem vínculos por
As questões relativas à diversidade afinidade, afeição, sexualidade e afetividades,
humana, assim como o reconhecimento de suas como sugere a Fig. 1.
emoções e as dos outros, incluindo aqui gênero e

Figura 1. Escritas- “Meu love”

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

Os(as) alunos(as) dos sextos anos parecem Dizer que apenas os alunos grafitam seria
não estarem tão propensos(as) ou despertos(as) uma inverdade. Ambos os gêneros confeccionam
em sua totalidade para questões de sexualidade. grafitos com temáticas distintas. As alunas
No entanto, é possível observarmos elementos da geralmente são mais contidas e românticas
masculinidade e da feminilidade presentes nos conforme a Fig. 2, pois as normas e as
grafitos em todos os anos e séries. São produzidos representações sociais mantêm o padrão
elementos que indiciam o universo ao qual desde normativo esperado do comportamento e postura
cedo estão destinados homens ou mulheres. do feminino hegemônico.

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Figura 2. Desenho-Representação Feminina

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

As meninas desenham bailarinas Fig. 2, pertencente ao universo masculino ou feminino.


escrevem seus nomes e os nomes das colegas, Isso se estende aos demais anos e séries do
desenham flores, borboletas, corações, versos de Ensino Médio.
músicas. Esses grafitos indicam representações
sociais que o senso comum ensina como

Figura 3. Desenho-Representação Feminina

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

Em relação às mulheres prevalecem os de 6,1% em relação a 2016 que foram 929 casos
elementos de valorização da feminilidade registrados) (FBSP, 2018, p.6). Talvez essa
delicada, frágil, romântica na maioria dos grafitos associação discursiva consagrada contribua com
observados. A partir dos sétimos crescem os índices de feminicídios. O feminino associado à
elementos de sexualidade Fig. 3 e se intensificam fragilidade e o masculinidade a força, poder e
nos oitavos e nonos anos e nas séries posteriores. virilidade.
Cada vez mais surgem referências ao corpo nu, Os grafitos produzidos pelos meninos
partes do corpo, surgem muitos grafitos com apresentam dimensão despojada, audaciosa,
pênis, palavrões e xingamentos. continua. Os meninos desenham animais
Vale ressaltarmos nas discussões relativas selvagens, ferozes, dinossauros, dragões,
a feminilidade, no Brasil, em 2017, 4.539 monstros, touros, cavalos, além de foguetes e
mulheres foram vítimas de homicídio (aumento tanques. Há muitas representações de figuras

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masculinas, lutando, atos sexuais, pênis Fig.4


(encontrado em um muro).

Figura 4. Desenho- Pênis

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

Nesta pesquisa identificamos que a carros esportivos, armas de fogo, facas, espadas,
maioria dos grafitos são produções masculinas. As flechas, figuras masculinas fumando, grafitos
temáticas são destinadas a sexualidade, profusão representando folhas de cannabis sativa
de pênis eretos ejaculando em diversos tamanhos (maconha) em diversos locais, práticas esportivas,
e formatos, atos sexuais predominantes super-heróis masculinos: Superman e Batman
relacionados a heteronormatividade, palavrões Fig. 5.
relacionados aos órgãos genitais masculinos e
femininos, corpos masculinos musculosos, viris,

Figura 5. Desenho- Batman

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

Na sociedade em que vivemos espera-se aflorar para a sexualidade, principalmente por


que o masculino apresente características de parte dos meninos. Acreditamos que o grande
macho, ativo e viril, distanciando dos atributos de número de pênis grafitados sejam produções
feminilidade. Tais grafitos nos permitem sugerir masculinas, assim como a grande maioria dos
investigações futuras, em escolas, relacionadas a palavrões e xingamentos palavras: porra, cu,
cultura pedagógica da masculinidade e também buceta, caralho, rola grande Fig. 6, foder e etc.
nos processos de formação de professores.
Percebemos que a partir dos sétimos anos
até as terceiras séries do Ensino Médio há o

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Figura 6. Escrita- Referencia tamanho do Pênis

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

Os grafitos demonstram que as Ao masculino fazer uso de cigarros, drogas,


representações sociais observadas nesta escola consumo de bebidas etílicas, devem ser ativos
referem a valorização do masculino e do seu sexualmente, livres, xingam Fig. 7, apresentam
universo. São representações sociais relacionadas traços de violência e agressividade.
ao que o senso comum dita como norma social.

Figura 7. Escrita- Xingamento “viado”

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

Muitos grafitos trazem nomes masculinos ser macho e viril, atributos esperados em uma
acrescidos com adjetivo “viado” como forma sociedade patriarcal, heteronormativa e cristã.
depreciativa, ofensiva, preconceituosa; na parte No universo masculino, elementos e
de traz de algumas cadeiras escolares há escritas práticas homoafetivas são pouco expressas nessa
dos termos “viado” (Fig.7); em outras cadeiras ambiência escolar como práticas naturais e
encontramos os dizeres “pega na minha bunda, cu aceitáveis. Na maioria das vezes apresentam
grátis” seguidas por setas indicativas de onde se caráter depreciativo aos movimentos LGBTQIA+ e
deve pegar. Há uma valorização do pênis que, na feministas, ou seja, raras são as expressões não
maioria das vezes, são desenhados eretos, com hegemônicas como a Fig. 8 que resistem e
duas bolas grandes simbolizando os testículos insistem em se erguerem nesse universo
sugestionando a importância em se ter culhões, hegemônico heteronormativo.

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Figura 8. Desenho- Relação sexual homossexualidade

Fonte: Acervo fotográfico do pesquisador

A ONG Mães pela Diversidade “acreditam São palavras que deveriam ser entendidas
que o que fomenta o preconceito é a falta de com maior comprometimento no processo
informação e a ignorância” e que lendas do tipo educacional e nas políticas educacionais vigente
que LGBTQIA+ são opções, pois muitos(as) do país, no entanto pelo noticiário e pelas práxis
filhos(as) expressam sexualidade e identidade de educacionais em nosso recorte, estão distantes da
gênero desde a primeira infância. Pais não são realidade igualitária que preze pelo respeito às
culpados pela “orientação sexual e identidade de diferenças e subjetividades de cada indivíduo
gênero dos filhos”, pois nem todos(as) os(as) LGBTQIA+ e feministas.
filhos(as) de uma mesma família são gays e Os grafitos refletem a sociedade no
lésbicas. A erotização de crianças e a pedofilia contexto escolar, os estigmas de preconceitos
devem ser combatidas uma vez que o desejo relativos a gênero, sexualidade, posturas,
sexual surge na adolescência para todos(as). Os preconceitos, comportamentos esperado ao
rótulos de promiscuidade, marginalidade, o masculino e ao feminino são fortemente
bullying, práticas preconceituosas presentes na representados nos grafitos encontrados.
sociedade devem ser destruídos (GIORGI, 2019,
p.6). CONCLUSÕES
Entre as Competências Gerais da Estamos longe de decifrar os enigmas que
Educação Básica da (BNCC, 2018) destacamos: motivam os adolescentes dessa Unidade Escolar a
“9. Exercitar a empatia, o essa profusão de grafitos, nesse continuo
diálogo, a resolução de processo de grafitagem em ambiência escolar.
conflitos e a cooperação, Começamos a desenhar possíveis causas
fazendo-se respeitar e motivacionais, mas sabemos que estamos
promovendo o respeito ao
distantes da(s) resposta(s) definitiva(s).
outro e aos direitos
humanos, com
A pesquisa exige reflexão sobre questões
acolhimento e valorização teórico-metodológicas: O quê? Como? Em que
da diversidade de direção devemos direcionar nossos esforços
indivíduos e de grupos investigativos? Questionando sobre a
sociais, seus saberes, problemática de sexualidade e gênero nos
identidades, culturas e discursos das políticas curriculares na Educação.
potencialidades, sem Como é que começaram a utilizar certos rótulos e
preconceitos de qualquer cristalizá-los? Como determinadas noções
natureza.” (BRASIL, 2018, começaram a fazer parte do “senso comum”?
p.10).
Como movimenta o discursivo do poder? Como
ele acontece? Como descobrir as relações de
poder em uma sociedade patriarcal,

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heteronormativa e cristã? Outras questões BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.


deverão surgir como possibilidades investigativas. Secretaria de Ensino. Base Nacional Curricular
Os grafitos de ordem sexual encontrados Comum. Brasília: MEC. 2018. Disponível em:
na ambiência escolar são vistos como em locais http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/B
inadequados pelos professores e direção. Talvez, NCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Acesso
o que esteja inadequado seja o processo de em: 7 jul. 2019.
formação dos professores que não foram
contemplados com tal temática (gênero e BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.
sexualidade) em seu processo de formação e por Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros
conta disso não se sentem aptos(as) a abordar Curriculares Nacionais: Pluralidade Cultural:
essa temática em sala de aula. Assim, como orientação sexual. Brasília: MEC, 2001.
políticas curriculares educacionais que
invisibilizam de seus documentos oficiais as BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
questões de gênero e de sexualidade, contribuem Estabelece as diretrizes e bases da educação
para manutenção de tais temáticas as margens, nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de
por serem temas tabus. dezembro de 1996. Disponível em:
Diante desse panorama, os alunos por não http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.h
terem locais e momentos de fala sobre seus tm. Acesso em: 07 jul. 2019.
anseios, dúvidas, questionamentos sobre
questões de gênero e sexualidade tendem a BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução
utilizar os grafitos como meio de expressões e nº 510 de 7 de abril de 2016. Trata das
representação social. especificidades éticas das pesquisas nas ciências
Advogamos a necessidade de humanas e sociais e de outras que utilizam
problematizar questões de gênero e sexualidades metodologias próprias dessas áreas. Diário
nos discursos das políticas curriculares e nos Oficial, 24 de maio de 2016. Brasília, 2016
processos de formação de educadores(as).
Compete a escola a função de esclarecer, divulgar, FAIRCLOUGH, N. Discurso e Mudança Social.
ampliar a noção de conhecimento de todos a Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
respeito do mundo que vivem, disseminando
valores e hábitos de coexistência, urbanidade e FAIRCLOUGH, N.; WODAK, R. Análisis crítico del
acolhimento das diferenças, fazendo seu papel discurso. In: VAN DIJK, T. A. El discurso como
formativo institucional, mas imputar à escola a interacción social. Estudios sobre el discurso II:
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